O Setubalense, o seu diário da região nº 900 de 29 de Julho de 2022

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contactos: 800 217 217 / 265 523 515 / www.funeraria - armindo.com O SEU DIÁRIO DA REGIÃO DIRECTOR FRANCISCO ALVES RITO SEXTA-FEIRA, 29 DE JULHO DE 2022 PREÇO 0,80€ | N.º 900 | ANO V | 5.ª SÉRIE EDIÇÃO FIM-DE-SEMANA contactos: 800 217 217 / 265 523 515 / www.funeraria - armindo.com conta 1392 PUBLICIDADE PUBLICIDADE Jovens talentos da região Edição especial de aniversário Descubra uma centena de jovens que todos devemos conhecer 167 ANOS PUBLICID GRÁTIS Revista da Feira de Sant'Iago

Aniversário

Os jovens talentos da região que nos fazem acreditar num mundo melhor

Esperança, confiança e carinho. São bons os sentimentos que esta centena de jovens nos despertam. Com o seu exemplo, dedicamos esta edição de aniversário d’O SETUBALENSE à juventude

associações e outras entidades, para identificar jovens que, apesar da idade, são já valores promissores.

São, no nosso entender, jovens a quem devemos estar atentos porque, muito provavelmente, a construção do nosso futuro colectivo, enquanto comunidade e região, passará muito por eles.

Os critérios que usámos foram terem até 30 anos de idade e serem naturais ou residentes num dos 13 concelhos do distrito de Setúbal. Fixámos 10 categorias – Ambiente, Associativismo, Artes e Espectáculos, Ciência e Inovação, Educação e Ensino, Empreendedorismo, Desporto, Política, Saúde e Jovens com Deficiência – e descobrimos jovens simplesmente maravilhosos.

Evidentemente, esta não é uma lista exaustiva e, muito menos, um ranking, porque não os ordenamos por graus. Além desta centena que apresentamos, existem na região muitos outros jovens talentosos que, ou não conseguimos descobrir ou que simplesmente não conseguimos incluir (alguns não responderam às tentativas de contacto e outros não quiseram dar a entrevista).

Com esta edição especial, com que celebramos o 167.º Aniversário do jornal O SETUBALENSE, queremos mostrar alguns dos bons filhos desta nossa região. Campeões, olímpico, do mundo, europeus e nacionais, cientistas que estão a investigar (a covid, por exemplo) nos Estados Unidos da América, bons alunos, profissionais de saúde, empreendedores, jovens preocupados em melhorar o mundo através da sua participação nas associações ou da luta pela preservação do ambiente.

Nestas quase 200 páginas, encontra mais de uma centena de jovens que todos devemos conhecer. Pelo meio, entre os jovens talentos, em cada categoria, apresentamos reportagens sobre outros jovens que, apesar de não cumprirem o critério da idade para estas nossas escolhas, também fazem coisas que merecem aparecer.

A redacção do jornal fez uma intensa pesquisa, com colaboração de universidades, politécnico e outros institutos de ensino superior, escolas, municípios da região, clubes,

Desde artistas a cientistas, os concelhos individualmente, e a região como um todo, podem orgulhar-se de terem uma geração de rapazes e raparigas de grande valor – alguns deles com carreiras já bastante lançadas, inclusive no estrangeiro – que, pela sua ligação, e mesmo o amor, que demonstram pela terra, certamente vão partilhar os benefícios dos seus resultados com a comunidade.

É por tudo isto, e por ser um acto de justiça e um gesto de incentivo, que O SETUBALENSE decidiu dedicar esta edição especial aos jovens.

Grátis Revista A REGIÃO dedicada à Feira de Sant’Iago

Além do caderno principal do jornal, com 192 páginas, esta edição inclui a revista

A REGIÃO, num número inteiramente dedicado à Feira de Sant’Iago, que começa hoje nas Manteigadas, em Setúbal.

A revista é gratuita na compra do jornal em banca, em qualquer ponto de venda do distrito de

Setúbal, e para quem o adquirir directamente a um ardina. O preço de capa é o habitual, 80 cêntimos.

As 44 páginas desta edição da revista incluem o programa completo da feira assim como textos de apresentação e entrevistas à generalidade dos artistas que vão passar pelo palco principal.

Entre muitos que poderiam constar nesta edição inclui-se, por exemplo, o jovem montijense João Correia da Silva Dias Alão, nascido em Mons, na Bélgica, a 20/11/2001, que fez o ensino primário na Bélgica e Portugal, o secundário em Portugal e que concluiu agora, há menos de duas semanas, a licenciatura em Engenharia Aeroespacial na Brunel University, em Londres. João Dias Alão foi aceite para o mestrado em Aeronáutica e Engenharia Espacial na Cranfield University, no Reino Unido, a iniciar em Outubro próximo.

Fica a referência específica como um exemplo de jovens que não constam destas páginas apenas porque só os descobrimos quando já não era possível integrá-los (por falta de tempo e espaço).

Esperamos que, enquanto leitor, possa ter o mesmo prazer em conhecer estes jovens que nós tive-

mos ao descobri-los, entrevistá-los e apresentá-los hoje.

Aproveitamos a oportunidade para agradecer a todas as pessoas e instituições que colaboraram com o jornal nesta pesquisa. Sem essas ajudas, esta edição seria mais pobre, sem muitos destes jovens que a integram.

O SETUBALENSE completou 167 anos no dia 1 deste mês de Julho, sendo o jornal mais antigo de Portugal continental. O primeiro número foi publicado a 1 de Julho de 1855.

Actualmente é diário regional, com circulação em todos os 13 concelhos do distrito de Setúbal. Além de diário em papel (único do distrito), O SETUBALENSE está disponível nas diversas redes sociais, nomeadamente no Facebook, Instagram, Twitter, Linkedin e YouTube. Director

2 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
EDITORIAL
Nestas quase 200 páginas, encontra mais de uma centena de jovens que todos devemos conhecer
Desde artistas a cientistas, os concelhos individualmente, e a região como um todo, podem orgulhar-se de terem uma geração de rapazes e raparigas de grande valor
Entrevistas serão publicadas no online a partir de 8 de Agosto

dois ou três por dia – em vez de todos ao mesmo tempo – de forma a dar o devido tempo à propagação de cada uma destas histórias nas várias redes sociais. Além do site do jornal – ww.osetubalense.com –, os conteúdos vão ficar disponíveis nas páginas oficiais do jornal nas

redes sociais, como o Facebook e o Instagram. Os conteúdos serão publicados também no Google News. Agradecemos que nos ajude a dar força a estas publicações, partilhando-as e fazendo like na página d’O SETUBALENSE no Facebook.

Sumário

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Rita Patrício p6 p20 p54 p34

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Érica Ribeirinho

Tiago Sousa Santos

18 ENSINO E EDUCAÇÃO AMBIENTE

42 Diogo Santos 43 Helena Simão 44 Duarte Mayer 46 João Pedro Alves Silva 48 Fábio Rodrigues 50 Marta Canilhas 51 Ricardo Margal 52 Susana Santos 54 André Gonçalves 55 Kelly Alberto 56 André Maciel 58 Carina Sobrinho 60 Carolina Nunes 61 Carlos Miguel 62 Carolina Almeida 64 Matilde Alvim 66 Mourana Monteiro 67 Sara Cabral

29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 3
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6 André Ramos 7 David Dores 8 Helena David 10 Ângelo Pais 12 Ricardo Monis 13 Beatriz Bastos 14 Dylan Santos 16 Filipe Marques 17 Raquel Micano JOVENS COM DEFICIÊNCIA SAÚDE POLÍTICA
Ana Luísa Pereira
Diogo Aurélio
Luís Paulino
Luísa Andrade Silva
João Pedro Leitão
Rita Matias
As entrevistas com os jovens talentos que integram esta edição, assim como os demais conteúdos, serão publicados na edição online do jornal O SETUBALENSE a partir do dia 8 de Agosto. A ideia é valorizar ao máximo cada um dos jovens, publicando os artigos aos poucos, à média de

José Pedro Ferreira

Mafalda De Arrábida Farelo

Tiago Quendera

Afonso Costa

Alícia Correia 126 Inês Grácio 128 Inês Martins 129 João Miguel Santos 130 Leonor Medeiros 132 Marco Palma 133 Mariana Serrão 134 Miguel Oliveira 136 Neemias Queta 137 Patrícia Dias 138 Pedro Casinha 140 Pedro Pichardo 141 Rafael Reis 142 Rita Machita Santos 144 Rúben Guerreiro 145 Rita Maló 146 Micael Santos

Andreia Fortuna 148 Benedita Formosinho 150 Catarina Santos 152 Cláudia Silva 154 João Lopes 156 Ana Catarina Gonçalves 158 Gonçalo Ambrósio 160 Bernardo Santos

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108 António Casimiro 110 Diogo Ferreira 112 Hernâni Bento 114 João Santos
ASSOCIATIVISMO ARTES E ESPETÁCULOS CIÊNCIA E INOVAÇÃO DESPORTO EMPREENDEDORISMO p68 p124 p84 p147 p108
Sumário
Filipa Bento
Vanessa Amorim
Cátia Godoroja
André Antunes
Constança Seborro
Daniel Silva
João Brás
Mariana Carrajola
Rogério Conceição
Simão Calixto
Bernardo Botelho
André Moniz
Inês Gaspar
Jéssica Pina
João Coelho- Slow J
Lara Matos
Matilde Santos
Micaela Castanheira
Ricardo Guerreiro Campos
Ricardo Piedade
Tiago Correia
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JOVENS TALENTOS DA REGIÃO

Uma centena de jovens que você tem de conhecer. Encontre-os nestas páginas

Encontre também O SETUBALENSE na Feira de Sant'Iago 167.º Aniversário

Jovens com deficiência

ANDRÉ RAMOS

Terceiro melhor do mundo em Boccia garante que em 2024 vai chegar ao pódio

DR

Jovem de 26 anos diz que com “força de vontade e visão estratégica” conseguirá chegar à medalha olímpica em Paris

André Ramos já ‘voou’ para Inglaterra, Canadá, Finlândia, Itália e Espanha, entre tantos outros países, para participar em competições de Boccia, mas foi no Japão que “o terceiro melhor atleta do mundo na modalidade” se sentiu verdadeiramente desafiado.

É que em Tóquio, na sua primeira participação nos Jogos Paralímpicos, o atleta da Associação de Paralisia Cerebral Almada Seixal (APCAS) foi o único português que competiu nos torneios individuais a passar aos quartos de final, tendo alcançado o 4.º lugar, posição que conquistou também em equipa, “apesar de ter havido hipóteses de chegar à medalha olímpica”.

“Graças à minha força de vontade, à minha visão estratégica e ao meu querer consegui um lugar em Tóquio, até porque em 2021 estive um bocado em baixo, mas rapidamente melhorei. Não cheguei o ano passado à medalha, mas vai ser em Paris 2024”, ambiciona o jovem de Almada.

Foi a médica fisiatra que, “em 2012/13”, o introduziu no mundo do Boccia. “Indicou-me a APCAS. Um dia fui assistir e gostei, mas até atingir idade para competir era só numa vertente recreativa. Um ano depois comecei a competir a nível nacional”.

Contudo, a forma como joga acabou por ir mudando por ter vindo a perder “alguma motricidade fina”. “Ao início jogava com a mão. Depois pedi para ser reclassificado e consegui em 2015 trocar de BC2 para BC1, na qual já posso jogar com o pé”.

Durante dois anos foi-lhe possível jogar apenas com uma meia, o que “melhorou a capacidade de jogo”, até que se viu ‘obrigado’ a procurar “um

sapateiro artesanal para construir um sapato adaptado, para que o lançamento se tornasse quase perfeito”.

A partir daí, tem sido sempre a somar. Em 2018, foi chamado “ao primeiro estágio na Selecção Nacional”, oportunidade que agarrou “com unhas e dentes”. “Tenho dado frutos. Sempre tive o objectivo de representar o meu país. É um grande orgulho estar entre os melhores”.

Paralisia cerebral resultante do parto “só afecta parte motora” Com a gravidez a ser “sempre saudável”, nada previa que "viria a haver complicações”. Contudo, “o problema que resultou na paralisia cerebral aconteceu durante o parto”. “Estive muito tempo à espera para nascer.

A estrutura óssea da minha mãe não permitiu que fizesse uma dilatação completa, o que fez com que ficasse sem oxigénio no cérebro”, explica o jovem, que completou a 22 de Fevereiro o seu 26.º aniversário.

“Felizmente – porque há casos bem piores que o meu – só afectou a parte motora, o que quer dizer que as minhas células motoras estão mortas. Por isso é que tenho muitos movimentos involuntários e dificuldade em falar”, acrescenta.

O diagnóstico surgiu “passados alguns meses” e, a partir daí, “abriu-se um novo mundo” para os pais de André. “Não é fácil para uns pais perceberem que o seu filho tem uma deficiência. Hoje falo nisto de uma forma natural. Foram muitos anos de terapia,

fisioterapia, natação e ginástica”.

A mãe acabou por deixar de trabalhar, tendo sempre apostado no seu desenvolvimento. “Talvez se não tivesse nascido nesta família não seria quem sou hoje. Não tinha as capacidades que tenho. A minha família investiu muito em mim. Hoje, graças à minha mãe, consigo andar”.

Já com a irmã, garante ter uma “ligação inexplicável”. “Sou muito ligado a ela e aos meus três sobrinhos. É difícil de explicar. Adoro tê-los comigo nas competições, porque são o meu pilar”.

No momento de ir para o jardim de infância, André conta que “apenas um colégio privado aceitou a candidatura devido à deficiência”. “Tive uma boa educadora e fiz tudo como as outras crianças”.

O ensino, por sua vez, foi “todo completo no público”, com recurso a um portátil. “A única diferença que tinha era ter mais tempo para os testes e exames”. Terminado o secundário, decidiu tirar um curso profissional como técnico de informática, estando actualmente a trabalhar numa associação de advogados, a dar apoio informático e a fazer a gestão das redes sociais.

No seu dia-a-dia, conta com a ajuda de Ana Mira, sua assistente pessoal através do projecto CAVI. “Hoje já posso ir onde quero e estar com quem quero a qualquer hora do dia. A Ana está comigo desde Fevereiro de 2022, 40 horas por semana”.

Vasto currículo desportivo inclui equitação e natação adaptada Quando começou a praticar Boccia, o jovem já contava com um vasto currículo na prática desportiva, que incluía equitação e natação adaptada. “Adoro praticar desporto e competir. O meu objectivo é sempre ganhar. Sou bastante competitivo”, confessa.

Em 2018, quando entrou para a Selecção Nacional, o atleta teve “de passar várias temporadas no Porto, sem a família ou assistente”. “Tive de me sujeitar, porque no Porto há mais condições para treinarmos. Não foi fácil porque tive de crescer à pressa, mas não me arrependo”.

Até porque foi graças a oportunidades como esta que hoje é “um atleta de alto rendimento”, estatuto que diz manter “com muito trabalho”. “Treino ao final da tarde, depois do trabalho. Além disso, vou dois dias por semana ao ginásio”.

“Persistente e resiliente” foram os adjectivos utilizados pelo atleta para se definir. “Nunca desisto. Gosto de potenciar a minha capacidade ao máximo. Pode parecer que não, mas o Boccia é bastante exigente. Cada competição demora à volta de dez dias”.

Depois dos Jogos Paralímpicos, a função de assistente de jogo, ou seja, a pessoa que o ajuda “em tudo o que precisar”, foi assumida pelo pai. “É o atleta que nomeia o auxiliar. Tem de ser alguém com quem temos uma relação. Escolhi o meu pai, Manuel Ramos, que está reformado. Já estava pensado há muito tempo”.

O Boccia é, para o jovem, “como se estivesse a escrever uma história”. “Já deixei algumas marcas, mas tenciono deixar muitas mais. O ano passado fui também campeão europeu em equipa e alcancei o 3.º lugar a nível individual. Mais recentemente fui à Taça do Mundo, no Rio de Janeiro, Brasil, onde alcancei a prata a nível de equipas e bronze a nível individual”, descreve.

Nos tempos livres, por sua vez, André gosta de “passear ao ar livre, viajar e andar de bicicleta”. “Quero muito tirar a carta de condução e também quero ir este ano saltar de paraquedas. Gosto de experimentar tudo”.

André Ramos à queima-roupa

Idade 26 anos

Naturalidade Almada Residência Almada Área Desporto (Boccia)

Persistente e resiliente são os adjectivos que se encaixam na perfeição para descrever o jovem que ambiciona tirar a carta de condução e saltar de paraquedas

6 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
Graças ao empenho da mãe, André Ramos consegue hoje andar Maria Carolina Coelho
Tenho dado frutos. Sempre tive o objectivo de representar o meu país. É um grande orgulho estar entre os melhores

primeiro conhecimento que tive para fotografar foi de uma menina, enquanto trabalhava como ardina. Curiosamente, fui premiado com o trabalho que fiz dessa rapariga

O fotógrafo sadino que encara a câmara como a paixão da sua vida

Autor do livro ‘Intocável no Tempo’ garante que as palavras “deficiência mental” nunca vão limitar os seus objectivos

David Dores foi diagnosticado com epilepsia com apenas um ano de idade. A morar desde sempre na zona das Pontes, o jovem de 28 anos relembra a sua infância com alguma amargura. “A minha infância até aos 12 anos foi muito má. Era uma pessoa limitada e inconsciente devido à epilepsia. Foi uma altura difícil e de muita luta com os meus pais”, conta.

Com o diagnóstico mais aprofundado, veio a necessidade de David ser operado para retirar um osso da

cabeça. Numa fase em que chegou a ter “mais de vinte crises por dia”, o jovem refere que, até então, era tratado como “um objecto de permanente vigilância”, a quem faltou liberdade para se “desenvolver como pessoa”.

No entanto, no dia da cirurgia nasceu “um novo David”. Apesar dos limites impostos pelos pais, o fotógrafo reconhece que “teve de ser assim.” “Durante muito tempo fui uma pessoa revoltada com os meus pais. A protecção a que me sujeitaram durante tanto tempo fez com que a minha mente atrofiasse”, confessa. “Hoje não gosto de obrigações. Ainda noto um bocado de pouca confiança perante os desafios que tenho de enfrentar, mas gosto de pensar em fazer e faço à minha maneira".

No que diz respeito ao ensino, David teve acesso a uma educação especial. Com o fim do ensino básico, veio a

decisão do curso que deveria seguir. Apesar de ter ponderado escolher algo relacionado com o desenho, foi aconselhado por uma professora a ingressar no curso de fotografia.

“Não estava muito certo, mas decidi arriscar. Na altura, era só mesmo para terminar o 12.º ano”, revela o jovem, que acabou por entrar no Curso Técnico de Fotografia na Escola Secundária D. João II.

Salto em comprimento ‘de lado’ para dar lugar à fotografia

Antes de assumir o meio fotográfico como a sua grande paixão, David chegou a ter um percurso relevante no desporto. “Entre os 6 e os 7 anos”, o setubalense foi atleta na modalidade de salto em comprimento pelo desporto escolar, até chegar ao Vitória Futebol Clube, onde “havia a expectativa de ser profissional”.

No entanto, aos 15 anos acabou por deixar o atletismo quando iniciou o estágio do curso de fotografia no clube. “Comprei a minha primeira máquina em 2011, quando comecei a estagiar. Fotografava diversas modalidades e alguns jogos de futebol. Comecei a sentir um formigueiro e no fim do estágio surgiu o gosto a sério pela fotografia e tive de optar por sair do desporto”, diz.

Foi numa herdade abandonada perto de casa que David desenvolveu as suas técnicas de fotografia. “Aquilo era uma quinta onde moravam e trabalhavam algumas pessoas. Passava lá imenso tempo e aprendi muito”. Em 2018, decide mudar o seu tipo de fotografia, que, até então, se focava nas paisagens e na natureza.

Antes disso, o jovem já havia ingressado no mundo profissional como ardina d’O SETUBALENSE, local onde adquiriu alguns contactos para o meio fotográfico. “O primeiro conhecimento que tive para fotografar foi de uma menina, enquanto trabalhava como ardina. Curiosamente, fui premiado com o trabalho que fiz dessa rapariga”. À época, David oferecia os seus serviços para aumentar o portefólio. Actualmente, o jovem já realiza sessões “a cobrar”, mas admite ter de se organizar um pouco mais para mostrar “a sua experiência e um portefólio detalhado”.

De uma exposição no Moinho da Mourisca para dois livros em 2021 Os frutos do seu trabalho fotográfico vieram um ano antes, em 2017, quando viu as suas fotografias expostas no Moinho de Maré da Mourisca. “Realizei uma exposição, com a ajuda dos meus pais, dedicada à herdade”.

Dois anos depois, realizava duas exposições, sendo que a reviravolta na sua vida chega em 2021, quando decide divulgar o seu trabalho num site galeria, o ‘Olhares’.

“Decidi ir divulgando as minhas fotografias nesse site, até que recebi uma mensagem de uma senhora que me perguntou se queria participar no livro ‘Pandemic’. Seleccionei uma imagem que tirei durante a pandemia

e apareci num livro com outros 99 fotógrafos”, refere.

A obra foi editada pela AlmaLusa, que, mais tarde, ficou interessada em trabalhar com o jovem. Do interesse nasceu o livro ‘Intocável no Tempo’, publicado em Março do presente ano. Na obra estão várias fotografias tiradas pelo jovem, num trabalho realizado desde 2013 na mesma herdade.

Do seu percurso destacam-se igualmente as publicações que fez nas revistas Mundo Digital e Zoom.

Para David, o diagnóstico de 66% de incapacidade não definem quem é, assim como as palavras “deficiência mental” nunca vão limitar os seus objectivos. Já a fotografia resume a sua vida. “Às vezes ando de cabeça no ar só a pensar nisto. Eu faço o melhor que posso em tudo, no trabalho e fora dele, mas a fotografia é a minha grande paixão”.

Hoje, é empregado de armazém numa empresa de materiais de construção. Trabalha oito horas por dia, deixando a fotografia para os seus tempos livres. Além disso, é na Associação Cultural de Novas Ideias que garante ter vindo a evoluir e onde tem realizado alguns projectos.

“Desde que integrei na associação que me sinto mais positivo e desenvolvido. Eles ajudam-me muito a arranjar mais trabalho e sabem puxar por mim”, refere o jovem, que tem agora como principal objectivo fidelizar alguns clientes e construir uma carreira sólida no meio.

David Dores à queima-roupa

Idade 28 anos

Naturalidade Pontes, Setúbal Residência Pontes, Setúbal Área Fotografia

Com um livro já publicado e diversas exposições realizadas, sonho passa agora por fidelizar clientes e construir carreira sólida no meio fotográfico

29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 7
O
Foi numa herdade perto de casa que David Dores desenvolveu as técnicas de fotografia
DR

Reportagem

A almadense que encontrou na arte o desbloqueio que precisava para a sua vida

De gargalhada fácil e boa disposição contagiante, é entre pincéis e telas que a jovem de 36 anos se sente realizada

Numa primeira análise, o espaço da AlmaSã parece estar calmo. No entanto, atravessados os portões do Centro de Educação Especial de Almada, começam a ecoar umas gargalhadas que parecem acompanhar o ritmo dos passos até à sala-de-aula.

As mesmas pertencem a Helena David, jovem de 36 anos que erradia alegria e boa disposição. Mas quem lhe vê o sorriso nos lábios não imagina a infância difícil que teve. Quando veio ao mundo, a avó materna chegou a dizer que a jovem nunca deveria de ter nascido, palavras que a mãe ainda hoje guarda. Diagnosticada com uma perturbação num cromossoma, que lhe fez perder capacidades a nível motor, Helena, natural da Cova da Piedade, aprendeu a andar mais tarde e tem surdez quase total.

Chegada a idade de começar a ter aulas, a jovem foi colocada numa escola de freiras em Lisboa para aprender língua gestual, onde esteve dos 10 aos 18 anos. “Não gostava nada”, confessa. Apenas vinha a casa aos fins-de-semana, enquanto no resto dos dias “cosia”. “Não era fácil. Queria pintar e não me deixavam”, conta.

Quando atingiu a maioridade, voltou para a Margem Sul do Tejo para entrar na APPACDM de Almada. Contudo, os cursos disponíveis, como de cozinha, lavagem de carros ou trabalhar na horta, eram “limitados” e não correspondiam ao que queria: ser artista.

Certo dia, a mãe “viu as carrinhas da AlmaSã” e decidiu ir falar com os responsáveis do centro, descreve Luísa Bexo, actual presidente da associação que aposta no bem-estar e felicidade dos jovens.

“A mãe veio falar connosco acompanhada da avó, que veio triste e não queria que a Helena viesse para cá. A primeira reunião foi horrível pela

forma como a avó falou comigo. Foi ríspida e numa tristeza por a Helena não estar num curso”, continua.

No entanto, era certo que a jovem de 36 anos não poderia continuar na anterior instituição, para onde ia “todos os dias a chorar”. “Quando estes jovens terminam os cursos não vão para lado nenhum. As empresas querem é produtividade, ou seja, terem de dispor de um funcionário para acompanhar o jovem com deficiência não é rentável. A sociedade não estava, e ainda não está, preparada para estes jovens”, comenta a professora.

Adaptação foi rápida, ao deslumbrar com o seu talento

Ao contrário do desejo da avó, que foi professora do 1.º ciclo, a família de Helena tomou a decisão de inscrever a jovem na AlmaSã. O processo de

adaptação foi rápido, ao ter chegado e encantado. “Veio e começou a pintar esta malta toda. Começou a deslumbrar as pessoas com o seu talento”, revela Luísa Bexo, que acompanha a jovem desde que esta tinha 18 anos. Criada numa família que lhe conseguiu proporcionar tudo o que precisava, Helena é hoje reconhecida como pintora. Foi, inclusive, na associação que começou a ganhar a atenção dos dois irmãos mais novos. “Passava-lhes um bocado ao lado, mas agora têm um orgulho tremendo e mostram o seu trabalho. Toda esta valorização que conseguiu pela actividade artística tem promovido a jovem na família”, conta a presidente.

Nem as dificuldades que tem em pegar no pincel impedem a jovem de ser “a mais rápida a pintar”. O que mais gosta de eternizar na tela são rostos.

“Gosto muito de pintar pessoas e caras. Chateados, tristes ou alegres. Da família ou artistas. Gosto de pintar tudo”, revela a jovem.

Como exemplo dá “o quadro feito para os primos que casaram em Viana do Castelo” ou o da “irmã que participa nas Festas da Nossa d’Agonia”. Com os seus trabalhos a ganharem destaque com o passar dos anos, em 2020 foi convidada a expor no Solar dos Zagallos, da Câmara de Almada.

Quando soube da notícia, ficou “tão contente” que começou “a chorar”. No espaço, mostrou os seus trabalhos em três salas: “uma dedicada ao fado, onde estiveram músicos a tocar, outra dedicada à sua inspiração, Frida Kahlo, e uma terceira com as obras de todos os artistas que já pintou”.

“A avó no fim da exposição veio ter comigo e disse-me ‘os meus outros

dois netos são licenciados e eu nunca fui a tanta coisa como tenho ido com a minha Helena”, confidencia a professora.

“A Helena tem uma série de artistas representados que quer que os quadros lhes cheguem e tem tantos outros que querem ser pintados por ela. A presidente da Câmara de Almada, por exemplo, tem uma Frida Kahlo exposta no gabinete pintada pela Helena”, acrescenta.

Na altura das férias escolares, revela Luísa Bexo que a mãe diz que “quando os outros filhos acabavam as férias acabavam a chorar, enquanto a Helena chora é no início”. Além disso, hoje é a jovem que “leva conhecimento para casa”, até porque “os pais não tinham muito conhecimento em termos artísticos”. “A arte desbloqueou a vida desta miúda. Sou uma orgulhosa da Helena”.

Teatro também apaixona, a par das aulas de karaté Além de se sentir feliz entre tintas e pincéis, Helena tem também uma grande paixão pelo teatro. Na última peça realizada no âmbito da associação e integrada no Festival de Teatro de Almada, a jovem ficou com o papel principal numa peça inspirada n’O Principezinho.

“A família veio do Alentejo porque hoje onde está a Helena está a família. Ver aqueles pais completamente derretidos foi comovente”, refere a professora.

Também o karaté faz parte do dia-a-dia da pintora, assim como a dança e a ginástica. Com o mestre Chagas, professor voluntário há cerca de seis anos, a jovem já teve oportunidade “de abrir o europeu no MEO Arena e o mundial no Pavilhão do Feijó”.

“A Helena é o ser-humano mais completo que alguma vez conheci. Toca muitos instrumentos, todos virados para a arte”, descreve a professora, para em seguida caracterizar a jovem: “Tem o coração do tamanho do mundo, é brincalhona e maravilhosa”.

Estar parada não faz parte do vocabulário de Helena, que “não se contenta”. “Não é de pintar um quadro e ficar por ali. Já tem uma série de quadros que quer fazer, mas eu é que lhe vou metendo um travão”. “A artista da família sou eu”, assegura Helena com convicção.

8 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
A grande inspiração de Helena David é a Frida Kahlo, com a jovem a preferir "pintar pessoas e caras" DR Maria Carolina Coelho

Lidl está na região há 27 anos com 31 lojas e 800 colaboradores

JOÃO DUARTE

“Os números espelham o nosso investimento no

Distrito”

Director regional do Lidl Portugal para a Zona Sul

Responsável destaca esforço da empresa, com quantidade de lojas e entreposto na Marateca, para responder às necessidades da população do distrito Que balanço faz da presença do Lidl no distrito de Setúbal e que planos tem para o futuro? A presença do Lidl a Sul do país tem vindo a expandir-se desde as nossas primeiras aberturas em 1995. Os portugueses hoje contam com quase 60 lojas nesta vasta região, das quais cerca de

metade no distrito de Setúbal, assim como um dos nossos 4 entrepostos em Portugal, situado na Marateca, que abastece todas as lojas desta área. Estes números espelham o investimento contínuo da nossa empresa no país e na região, com uma preocupação acrescida com a comunidade. Para nós, servir a população é mais do que disponibilizar uma oferta de produtos da máxima qualidade ao melhor preço, mas conseguir também responder da melhor forma às necessidades dos cidadãos locais.

Distrito de Setúbal é aposta desde que a marca chegou a Portugal, em 1995. Apoio à comunidade tem sido preocupação com apoio a instituições sociais e envolvimento de escolas

O distrito de Setúbal é, sem dúvida, um distrito vital para o Lidl na sua presença em Portugal. É-o

desde o primeiro dia, pois as lojas de Barreiro/Lavradio e Grândola faziam parte do grupo inicial das primeiras 13 lojas com que a empresa marcou a sua estreia em Portugal, a 19 de Julho de 1995.

A presença do retalhista evoluiu ao longo destes 27 anos, não só com a inauguração de um dos seus quatro centros de distribuição nacionais – na Marateca, no ano 2000, que abastece toda a zona Sul do país, até ao Algarve. O distrito conta hoje com 31 lojas, onde os setubalenses podem encontrar uma oferta variada e de máxima qualidade ao melhor preço, usufruindo de uma experiência de compra simples e rápida. No total, é

uma equipa com mais de 800 colaboradores, todos com contrato sem termo desde o primeiro dia e formação contínua.

Para além disso, a aposta na ajuda à comunidade é fundamental. Por exemplo, desde 2011, que o Lidl desenvolve programas com o apoio da Direcção Geral da Educação (DGE) e a Direcção Geral da Saúde (DGS), nas escolas de 1.º Ciclo de todo o país, com o objectivo de sensibilizar os mais novos para a importância de estilos de vida sustentáveis e saudáveis – nomeadamente, o projecto Turma Imbatível, que promove o conhecimento da Cadeia Alimentar e aborda temas como a sustentabilidade, a alimentação saudável, a economia circular e o consumo responsável. Nos últimos 6 anos, este projecto marcou presença em 31 escolas só no do distrito de Setúbal, tendo ensinado quase 3.400 alunos.

Também o projecto Realimenta, que visa apoiar quem mais precisa, ajudando em simultâneo a diminuir o desperdício alimentar. O projecto colabora com mais de 18 instituições sociais do distrito, entre as quais a PACCF – Associação de Professores e Amigos das Crianças do Casal da Figueira, a Casa do Povo de Azeitão ou a Obra da Rua – Casa do Gaiato de Setúbal, impactando positivamente quase 2.000 pessoas, só no distrito de Setúbal.

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DISTRIBUIÇÃO
Loja do Lidl do Barreiro, renovada em 2015
PUBLIREPORTAGEM
Loja original do Lidl do Barreiro. Abertura no concelho foi em 1995 João Duarte, diretor regional do Lidl Portugal para a Zona Sul

Jovens com deficiência

Atleta setubalense sonha competir no maior evento desportivo do Mundo

Jovem que já arrecadou várias medalhas em modalidades como o andebol, atletismo e equitação diz ter nascido “para o desporto”

Ângelo Pais foi diagnosticado com deficiência intelectual. Aos 29 anos não sabe ler nem escrever, mas com “disciplina e força de vontade” o jovem tem estado em destaque no desporto nos últimos anos.

Residente no Bairro da Bela Vista, entrou aos sete anos na Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) de Setúbal, instituição que procura dar resposta às necessidades, potencialidades e expectativas da pessoa com deficiência. O jovem tentou ainda frequentar o ensino regular, mas “não se adaptou”. Já quando entrou na associação, sentiu que “além de uma escola, aquela era uma segunda casa”.

“Quando entrei, foi um pouco difícil adaptar-me à vida fora dali. Sofria bullying. Tive também fases complicadas com a minha família, que à excepção dos meus irmãos e mãe, não me apoiavam muito”, refere Ângelo, revelando que, apesar dos períodos difíceis, acredita que “se não passasse por esta experiência, não tinha alcançado” o que tem hoje.

O jovem setubalense recorda que foi a instituição que o integrou no mercado de trabalho e que o ajudou a iniciar-se no desporto. “A APPACDM tem várias modalidades de desporto disponíveis para os alunos. Foi por volta dos dez anos que iniciei a actividade desportiva”, conta.

Com diversas medalhas conquistadas no andebol, foi através da União Desportiva para a Inclusão (UDI), clube da APPACDM, que Ângelo começou a praticar a modalidade aos 18 anos, onde permanece até hoje.

Na época 2016/2017 foi convocado para a Selecção Nacional de Andebol Adaptado, tendo-se sagrado campeão europeu e bicampeão da Zona Sul. “Esta conquista representou um orgulho por toda a caminhada e por todos os

momentos em que as pessoas achavam que eu não iria ser nada na vida,” sublinha o jovem.

“Acho que isto pode ter sido um exemplo para os outros e uma prova em como não são apenas os profissionais que têm o direito a sonhar. Esta foi a recompensa por todo o meu trabalho”. Desde então, Ângelo tem

vestido todas as épocas a camisola de Portugal.

Andebol não é sucesso único, com pódios no pentatlo e equitação No mesmo ano, o atleta foi convidado a ser embaixador de ‘Setúbal Cidade Europeia do Desporto’, além de ter sido considerado o melhor atleta

masculino de desporto adaptado de Setúbal. Já em 2018/2019, voltou a sagrar-se campeão europeu de andebol adaptado.

Contudo, Ângelo já havia arrecadado medalhas em outras modalidades. Em 2014/2015 foi campeão mundial de pentatlo, nos Jogos Especiais Olímpicos, em Los Angeles. Ao alcançar a vitória nas cinco provas da modalidade, o jovem diz que a conquista “foi uma emoção autêntica” e, mais uma vez, fruto do seu trabalho.

“Na altura, várias pessoas depositaram muitas expectativas em mim e, se o fizeram, eu tinha de superar aquilo. Fui sem prometer que conseguiria, mas consegui”, confessa.

Já na equitação, venceu, por duas vezes, o Campeonato Nacional de Equitação ‘Special Olympic Portugal’, no escalão A, e alcançou o primeiro lugar nas Olimpíadas da Equitação Adaptada, em Ponte de Lima, nas provas de gincana e volteio, no escalão mais alto.

Desporto adaptado está “apagado” e com “falta de apoios” Apesar do sucesso, o atleta confirma que o desporto adaptado está “um pouco apagado” e com “falta de apoios”. “Se tivéssemos um bocadinho mais de apoio acredito que este tipo de desporto estava um pouco mais evoluído”, sublinha.

Ainda assim, garante que “a forma como se pensa influencia bastante os resultados”. “Se eu cheguei até aqui tenho a certeza de que consigo chegar mais longe. Depende tudo da força de vontade e do quanto puxamos pelas nossas capacidades”, refere.

Com resultados à vista, o atleta diz ter aprendido de que “por vezes, não se pode ligar ao que as pessoas dizem”. “Sofri um bocado na vida para mostrar que não são só as pessoas ‘normais’ que têm capacidades. Os miúdos com ‘problemas’ também as têm para subir na vida”, assegura.

Por morar num bairro social, Ângelo afirma sentir a responsabilidade de ajudar os mais novos. “Pouco a pouco, tenho vindo a conduzir e orientar algumas crianças que foram entrando na APPACDM. Costumo dizer-lhes para serem elas próprias e que não podem ficar tristes com o que as pessoas pensam delas. Devem é de tirar proveito do que têm. Não podemos

mudar quem somos por atitudes das outras pessoas”, conta.

Com o papel representativo que possui na vida destas crianças, o atleta diz sentir-se “muito feliz por os ver sorrir” e garante fazer “o que pode” por elas. “Se todos pensassem desta forma éramos um pouco mais felizes. Acho que ainda temos uma sociedade que não aceita totalmente estes miúdos”.

Para contrariar este pensamento, Ângelo ambiciona dar “pequenas palestras” em algumas escolas. “Gostava de partilhar um bocadinho da minha experiência como trabalhador e atleta, até porque posso vir a inspirar alguma criança a prosseguir com os seus sonhos”, refere.

Rotina divide-se entre o trabalho na APPACDM e os treinos Hoje, trabalha numa empresa que pertence à APPACDM. A ‘Flores da Arrábida’ foi criada pela associação para dar trabalho a pessoas com deficiência mental. “A minha rotina resume-se a trabalhar e a treinar. Quando saio do trabalho, vou para o treino. Trabalho oito horas por dia, das 07h30 às 12h00 e das 13h00 às 16h30. Depois vou treinar andebol para o Vitória Futebol Clube ou realizar treinos de preparação física no ginásio ‘Supera’”. O jovem confirma que “o difícil é gerir tudo isto”, ao mesmo tempo que explica que não tem resposta para as pessoas que lhe perguntam com que idade tenciona parar. “Vejo-me a fazer isto por muitos anos, até conseguir. O último objectivo que quero alcançar é ir aos Jogos Paralímpicos, quer seja com o andebol, a natação ou o atletismo”.

Apesar de ter consciência de que é “um caminho bastante difícil”, acredita que “a confiança própria e o saber daquilo que cada um é capaz” são a chave para alcançar o sucesso.

Ângelo Pais à queima-roupa

Idade: 29 anos

Naturalidade: Setúbal Residência: Setúbal Área Desporto (Andebol) Qualificação para os próximos Jogos Paralímpicos é o actual desafio do jovem atleta

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Ângelo Pais foi em 2016 embaixador de ‘Setúbal Cidade Europeia do Desporto'
DR
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Jovens com deficiência

O sociólogo que pretende criar um mundo inclusivo através da educação

Autor e protagonista do livro ‘Ricky’, o jovem descreve-se como “uma pessoa que nasceu com características diferentes, mas que nunca se deixou ficar”

À nascença foi-lhe dada uma esperança média de vida de apenas dez anos, mas Ricardo Monis conseguiu mostrar desde cedo resiliência e força de vontade e superou todas as previsões.

O jovem de 23 anos foi diagnosticado, ainda em bebé, com Atrofia Muscular Espinhal Tipo 2, patologia progressiva neuromuscular que provoca o enfraquecimento dos músculos e o condiciona a uma cadeira de rodas.

Foi no seu primo, Lucas Chipenda, de igual idade, que Ricardo encontrou um dos seus principais pilares e é com quem partilha aventuras e problemas. A partir da cumplicidade de ambos, e da vontade de contar as histórias vividas, surgiu o livro ‘Ricky’, obra que pretende “dar alguma representatividade às pessoas com deficiência” e sensibilizar as crianças para esta condição.

“Na minha infância reparava que não havia muitas personagens, ou até mesmo nenhumas, em que eu me pudesse identificar com elas”, explica o jovem de Setúbal. Foi esta a principal razão que levou os primos a avançarem com o livro. “É um retrato da minha infância com o Lucas e da adaptação das nossas brincadeiras à minha condição”.

Para o jovem, “é muito importante estar junto das crianças, consciencializá-las sobre isto e deixar que perguntem o que quiserem”. “Muitas vezes, quando vêem a cadeira de rodas, acham engraçado o facto de esta andar sozinha e fazem perguntas aos pais, que ficam atrapalhados e até dizem ‘não olhes, não interajas’”, confessa.

Este tipo de situações cria, segundo o jovem, "barreiras" nos mais novos, que, na sua visão, acabam por não ser educados a lidar com estas realidades. Por este motivo, o autor do livro lançado no início deste ano pretende visitar

“o máximo de escolas e bibliotecas”.

“Nós queremos ir ter directamente com estas crianças e mostrar que eu não sou assim tão diferente delas. Acho que o segredo para o mundo inclusivo está na educação”.

A obra, escrita em “encontros semanais, por partes”, contou com a “ajuda de Carlos Luís, que faz parte da direcção da Fundação Gil”. “Tenho fisioterapia uma vez por semana em casa e ele, numa dessas visitas, acompanhou a fisioterapeuta e achou muita piada às minhas ideias e características. Tem puxado bastante por mim”.

Mãe é “uma guerreira”

e pai

que, basicamente, era estar comigo 24 horas por dia. Nesse sentido, ela é uma guerreira”.

Já o pai “teve de continuar a trabalhar para sustentar a família”, enquanto os dois irmãos mais velhos de Ricardo nasceram “sem qualquer tipo de patologias semelhantes”. Recentemente, o jovem começou a “tomar um xarope inovador, que tem vindo a travar o progresso da doença”. “Tomo desde Fevereiro e já noto algumas diferenças. Por exemplo, já consigo estar sentado sem apoio”.

as pessoas certas”, garante.

O primo, a companhia da vida de Ricardo, de quem tem apenas dez dias de diferença de idade, descreve o jovem de Setúbal como alguém “bem-humorado, bastante brincalhão e que procura estar sempre activo.” “Tem o espírito de lutador e, acima de tudo, é muito ambicioso”, revela Lucas.

Ricardo Monis à queima-roupa

o pilar da família

A residir em Pinhal Novo, Palmela, Ricardo conta que a recepção do diagnóstico na infância exigiu algumas mudanças por parte da família ao nível da organização. “A minha mãe tomou a decisão de deixar de trabalhar. Abdicou do mundo laboral para me dar as condições necessárias,

No que toca à educação, afirma sempre ter sido “uma pessoa muito sortuda” com as pessoas com quem teve oportunidade de privar na escola. “Uma das grandes paixões que tenho é o futebol, o que é algo engraçado porque nem todos imaginam uma pessoa de cadeira de rodas a jogar à bola”.

Contudo foi, “de facto, possível porque as crianças conseguiram adaptar-se às características” do jovem ao longo do seu percurso. “Apanhei sempre

Ambição leva jovem a licenciar-se em Sociologia É o espírito ambicioso que leva Ricardo a procurar sempre atingir os seus objectivos. Recentemente licenciado em Sociologia pelo ISCTE, o que acabou por se tornar “um azar feliz”, uma vez que a sua primeira opção era Psicologia, o jovem diz ter escolhido a área para poder “perceber de que forma é possível construir uma sociedade mais inclusiva”.

Apesar de ter a intenção de “continuar a estudar e tirar mestrado”, Ricardo quer agora parar “um ou dois anos para decidir o que fazer da vida”.

No que diz respeito à sua recente obra, escrita em “cerca de quatro meses, fora as ilustrações, que demoraram outros quatro meses”, a opinião tem sido “muito positiva” e as suas expectativas foram excedidas. “Conseguimos vender a primeira edição em cerca de três meses. No fim desta edição, também tivemos a oportunidade de ir a uma escola em Almada. Estávamos com receio, por serem miúdos do 1.º ao 4.º ano, mas foi incrível. Parecíamos dois heróis, com toda a gente a gritar os nossos nomes”.

Desde o momento em que a ideia passou para o papel, o livro demorou cerca de um ano a ser escrito e colocado à venda. “Vendemos 500 exemplares na primeira edição. Na segunda, que está a ser apoiada pelo grupo Roche, colocámos mais 500 livros à venda”.

Actualmente com actividade aberta como autor, Ricardo tem como objectivo principal “percorrer o país todo”. “Queremos ir ao máximo de escolas possível. O sonho também é pôr o nosso livro lá fora”. Para tal, os primos estão já “em conversações com algumas editoras americanas”.

“Além disso, quero desenvolver a minha competência como narrador e dar palestras a empresas com tópicos como a inclusão e a motivação. Acho que facilmente posso contemplar um futuro nessa área”, assegura.

Em mente, o sociólogo tem a intenção de continuar a escrever livros e, quem sabe, até dedicar-se a algo “mais pessoal”. “Gostava de escrever algo mais direccionado para a minha condição. Uma coisa mais biográfica. Criei recentemente um blog para testar este meu lado e, até agora, as respostas têm sido muito positivas”.

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Com o livro ‘Ricky’, Ricardo Monis pretende “dar representatividade às pessoas com deficiência” Idade 23 anos Naturalidade Setúbal Residência Pinhal Novo, Palmela Área Escrita e Sociologia Com um livro já publicado, o objectivo é continuar a escrever e “percorrer todo o país”
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BEATRIZ BASTOS

A basquetebolista que veste com orgulho a camisola de Portugal há cinco épocas

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Aos 23 anos, a atleta com trissomia 21 espera vir a conseguir “ser campeã” na modalidade e levar a sua equipa ao pódio

Mundo de Síndrome de Down, em 2018, mas quero mais. É um objectivo que gostava muito de alcançar. Ainda não consegui levar a minha equipa ao pódio, mas sei que vou conseguir um dia. É uma coisa que requer muito trabalho, mas estou focada nisso”. Para tal, garante que tem trabalhado arduamente.

Passado muito feliz inclui Boccia na Secundária de Palmela

Natural de Abrantes, cidade onde ainda vai com frequência visitar a família, a atleta, que completa mais um aniversário a 31 de Dezembro, veio para Palmela aos quatro anos.

Beatriz “Competitiva” Bastos. Este nome, por si só, revela muito sobre quem é a jovem de 23 anos que há cinco épocas é convocada para a selecção nacional de basquetebol. A atleta, com trissomia 21, vestiu pela primeira vez a camisola de Portugal em 2017/2018, tendo-se tornado presença assídua no conjunto luso, até à data.

O escalão onde treina actualmente não é o correspondente à sua idade, mas Beatriz garante que tal situação não a desmoraliza. “Sou a mais velha do grupo. Até me sinto mais desafiada e brinco muito com as minhas colegas e divirto-me muito”, garante.

O basquetebol entrou na vida de Beatriz quando esta tinha apenas oito anos, na altura por mera brincadeira. Começou por “jogar em casa”, onde “dava uns pontapés na bola e driblava”, até que os pais “viram que gostava de jogar” e inscreveram-na no Scalipus Clube de Setúbal.

“Sempre gostei de basquetebol. Tem um papel muito importante na minha vida. A jogar sinto-me com paixão e sinto que é o meu futuro, porque me leva a competições. Quando estou a jogar dou tudo de mim. É a minha segunda casa”, conta a jovem, enquanto expressa um sorriso de orelha a orelha.

Passados 15 anos, a atleta já representou Portugal “em Itália, onde foi muito divertido e a equipa ficou em terceiro lugar, assim como em Guimarães e Vila Nova de Gaia”. “Adoro a sensação de ganhar. É boa. Por isso é que no desporto sou competitiva”.

Apesar de garantir que agora já se sente “confortável em ser convocada”, Beatriz confessa que “na primeira vez não estava nada à espera”. “Mas fiquei muito feliz. Gosto

muito de representar o meu país”. Este ano, “mesmo não tendo havido fases de jogos, os treinos continuaram sempre”.

Mãe é principal ‘culpada’ pelo sucesso da basquetebolista É à mãe quem Beatriz dedica o sucesso que tem tido. “A minha família e amigos sempre me apoiaram, sou muito ligada a eles, mas em especial à minha mãe, que foi quem sempre me ajudou e incentivou a prosseguir no desporto. Sempre

trabalhou e fez questão que eu estivesse integrada no contexto regular, quer na escola quer no desporto”.

Além disso, “quando há jogos pela selecção nacional”, Beatriz diz adorar que a mãe esteja sempre presente. “Vai, apoia-me e grita imenso por mim. É muito giro”.

É também a pensar na mãe que a jovem quer continuar a trabalhar para vir a “ser campeã de basquetebol”. “Já fui vice-campeã mundial de basquetebol 3x3, nos Campeonatos do

“Treino três dias por semana. Treino às segundas-feiras na Escola Secundária Sebastião da Gama, das 19h00 às 20h30. Depois tenho treino às quartas e sextas-feiras, das 20h00 às 21h15 no Pavilhão da Aranguez. É o clube que decide onde se realizam os treinos”.

Semanas na APPACDM são muito preenchidas com actividades diárias Também utente da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) de Setúbal há vários anos, a jovem revela que o seu dia-a-dia, fora os treinos, é “muito preenchido”.

“Às segundas-feiras de manhã recolhemos materiais para a actividade da tarde, que passa pela jardinagem, enquanto à terça-feira de manhã tenho grupo de teatro na União Setubalense, que eu acho muito divertido, e à tarde temos jogos que nos fazem puxar pela cabeça, nomeadamente pela concentração”, revela.

Já às quartas-feiras “há uma sessão de grupo com todos os colegas no período da manhã”, sendo a parte da tarde dedicada a outro grupo de teatro, com as “conversas estranhas à séria”. “No dia a seguir a manhã é novamente na União Setubalense e a tarde é a fazer jardinagem. Durante o dia de sexta-feira fazemos ginástica. É uma semana muito completa”.

Nos tempos livres, quando os tem, diz gostar de “jogar futsal, por diversão, e de dançar, cantar e ir passear com a família e amigos”. “Meto-me a gritar no quarto, com as janelas abertas, a cantar bem alto com um microfone”, confessa.

Aos fins-de-semana, aproveita igualmente para “ver televisão e jogar no tablet ou telemóvel”, assim como gosta muito “de ir à rua brincar com o cão”. “Sou muito brincalhona e alegre. Adoro brincar com os animais e com os meus amigos”.

“Vamos lá comemorar o Natal, na altura da Páscoa ou quando alguém da família da parte da minha mãe faz anos. Gosto muito de lá ir. Tenho ligação com todos e falamos com frequência”.

Sobre a infância, diz que a mesma “foi muito feliz”. “Lembro-me de comemorar os dois anos em Espanha. Depois vim para Algeruz e comecei a andar no Infantário do Rouxinol”. O 1.º ciclo foi feito na Escola Básica de Aires, sendo que do 5.º ao 8.º ano transitou para a Escola Básica Luísa Todi.

Para completar o 9.º ano, a jovem regressou à vila palmelense, onde frequentou a Escola Básica 2,3 Hermenegildo Capelo, tendo sido o secundário feito na Escola Secundária de Palmela. “Em todas as escolas que andei correu tudo super bem. Passei todos os anos, sem nunca reprovar, e completei o 12.º ano”, explica, visivelmente orgulhosa.

Enquanto estudava, fez também parte do desporto escolar, no qual praticou Boccia. “Na Escola Secundária de Palmela levava sempre uma equipa de Boccia às finais das regionais e nacionais. Gostei muito, mas agora já não pratico”.

Do que tem saudades, admite, é de fazer canoagem. “Gostava de fazer novamente, além de querer experimentar padel e surf. Adoro praticar desporto”.

Beatriz Bastos à queima-roupa

Idade 23 anos

Naturalidade Abrantes

Residência Algeruz, Palmela Área Basquetebol

O que começou por mera brincadeira, rapidamente se transformou na segunda casa da jovem, que representa como atleta o Scalipus Clube de Setúbal

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Beatriz Bastos sente que o basquetebol é a sua "segunda casa" Maria Carolina Coelho

Jovens com deficiência

Jogador de andebol dá tudo em campo para um dia ser “o melhor do mundo”

Em duas épocas, foi campeão e bicampeão europeu, o que contraria quem não acreditava nas suas potencialidades

“No andebol somos todos uma família. O apoio entre todos é essencial”.

Foi esta a forma que Dylan Santos encontrou para descrever a sua equipa da União Desportiva para a Inclusão (UDI), da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) de Setúbal.

Apesar de não saber ao certo há quantos anos joga, o jovem de 25 anos diz ter “a noção de que é já há algum tempo”. “Devia de ter uns 18 ou 19 anos, talvez. Comecei por brincadeira, por sugestão do Miguel Veiga e do Marinho, dois colegas. Fui experimentar, num jogo normal, e não parei mais”, revela.

Em cerca de sete anos, evoluiu de tal forma que tem sido, desde 2016/2017, convocado todas as épocas para a selecção nacional de andebol adaptado. “Além disso, também já fui campeão e bicampeão europeu de andebol adaptado. Eu e a minha equipa sentimo-nos muito felizes. Damos tudo por tudo. Quando ganhamos comemoramos à séria”, descreve.

Para atingir esses resultados, e com a ambição de se tornar “o melhor do mundo”, Dylan, diagnosticado com deficiência intelectual, explica que teve de “treinar muito, assim como os colegas o tiveram de fazer, com o apoio do professor da UDI”.

“Só a prática nos faz alcançar estes resultados”, sublinha, sendo que, para tal, faz “questão de ir a todos os treinos”, mesmo que por vezes “seja complicado conciliar com o trabalho”.

“Temos treinos às segundas, às 19 horas, nas Manteigadas, às quintas, às 17h30, e às sextas-feiras, também às 19 horas, no Clube Naval Setubalense. Antes, cumpro o meu horário no Montado Hotel & Golf Resort, onde faço várias coisas, como aparar a relva e apanhar o lixo. Depois vou

para o ginásio, fico lá uma ou duas horas, e, nos dias em que há treino, vou treinar”.

Selecção portuguesa leva jovem a revisitar país onde nasceu O que surgiu por mero acaso, já levou o jovem de 25 anos à Polónia e a França, país que tem especial significado para Dylan. “Fui a França pela selecção nacional e senti-me muito bem porque é o país onde nasci. Foi duplamente bom, jogar por Portugal no meu país de origem”.

Sobre ter sido escolhido para vestir as cores de Portugal, o atleta confessa que “não estava nada à espera”. “Fiquei em choque. Percebi nesta altura que o andebol se estava a tornar numa coisa séria”.

Até porque, sublinha, “nunca tinha imaginado que o percurso seria neste desporto”. “Quando fui àquele jogo por brincadeira, nem sequer pensei nisso. Só joguei. Aliás, foi a primeira

vez que joguei andebol. Nem sequer sabia como se jogava. Do nada comecei a gostar daquilo e a coisa foi acontecendo”, confessa.

Foi com tempo e prática que foi “aprendendo todas as técnicas”. “No andebol as jogadas são difíceis. Quando o colega faz o passe, temos de estar com muita atenção. A intenção é não perder a bola. É um desporto que requer muita atenção e estratégia”.

Competitivo por natureza, além de “trabalhador e esforçado”, o jovem garante que “faz de tudo para ganhar”. “Vamos sempre para os jogos com o pensamento de que vamos vencer. Tem de se lutar pela equipa e fazer de tudo para ganhar o jogo. Adoro ganhar. É uma sensação indescritível”.

No entanto, se a equipa perder, “é continuar a trabalhar”. “Ficamos mal, mas depois passa-nos. É puxarmos mais por nós para melhorarmos”.

Reconhecimento é ‘chapada de luva branca’ em quem duvidou Para Dylan, o sucesso que tem tido é como que uma ‘chapada de luva branca’ naqueles que lhe foram dizendo “que não conseguiria nada na vida”. “A minha infância foi boa e má ao mesmo tempo. Foi má porque os professores não me davam muita atenção e não me explicavam quase nada, e até por causa dos colegas”.

Em 2014, explica, teve uma professora que lhe chegou a dizer que “não valia a pena continuar na escola, porque não iria conseguir aprender mais nada”.

Foi nessa altura que entrou no mercado de trabalho. “Devia de ter uns 17 ou 18 anos. Fui para o café Manaites, em Palmela. Depois trabalhei na Câmara Municipal de Palmela, com os electricistas. Não tinha experiência nenhuma, mas fui aprender. Entretanto passei para a SUMA, a apanhar lixo da rua, e segui

Dylan Santos à queima-roupa

Idade 25 anos Naturalidade França Residência Algeruz, Palmela Área Desporto (andebol)

Competitivo por natureza, além de trabalhador e esforçado, ganhar é o que lhe dá vida e uma sensação indescritível

para o Montado Hotel & Golf Resort, onde estou actualmente, desde há seis meses”.

Já jogava andebol quando tentou ainda tirar um curso de jardinagem, no Viso, que acabou por não concluir. “Houve problemas por lá. Fiquei então com o 9.º ano adaptado. Nem sequer penso, por enquanto, em continuar a escola. Estou bem no meu actual trabalho”.

Família dá apoio, mas não acompanha tanto quanto o desejado Foi em Algeruz, concelho de Palmela, que a família de Dylan se instalou depois de imigrar. “Vim para cá muito pequenino. Viemos para Algeruz e já estive em Brejos do Assa. Entretanto também morámos no Lau e acabámos por regresso a Algeruz. Tenho um irmão, o Alexandre, e ainda moro com ele e com os meus pais”.

Nas competições, é da família que Dylan diz sentir mais saudades. “Acompanham o meu percurso e dizem-me que tenho de ter paciência, mas não me acompanham tanto quando eu gostaria. Não o fazem porque têm de trabalhar”.

Apesar de ser “uma pessoa que prefere não sair”, em casa o atleta opta por fugir um pouco à rotina. “Gosto de jogar PlayStation e PS4. Também adoro dançar, tocar flauta e principalmente pintar. Normalmente desenho em papel o que me vem à cabeça, mas quando não tenho ideais vou ao Youtube, faço alguma pesquisa e pinto o que me interessar”.

As excepções são a praia ou a piscina, onde gosta de ir “nos tempos livres”, a par do basquete, que pratica “só por diversão”.

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Dylan Santos joga andebol na União Desportiva para a Inclusão da APPACDM e descreve a sua equipa como "uma família" Maria Carolina Coelho
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REGIÃO

Mercadona chega ao distrito de Setúbal

A empresa escolheu a região para a primeira fase da expansão no sul do País. Abriu duas lojas, em Setúbal e no Montijo

A cadeia de supermercados Mercadona chegou no passado dia 28 de junho a Setúbal, Av. Mestre Lima de Freitas, tendo assinalado assim uma nova fase no seu projeto em Portugal que começou no Norte do país. Semanas depois foi a vez do Montijo, a 15 de julho, receber uma nova loja, na Rua do Laboratório, 250.

A Mercadona abriu a sua primeira loja em Portugal, em julho de 2019, e desde então conta já com mais de 30 lojas nos distritos de Aveiro, Braga, Porto, Setúbal, Viana do Castelo e, a partir do dia 2 de agosto, chegará também a Santarém. A empresa continua a apostar na criação de emprego estável e de qualidade, tendo já cerca de 2500 colaboradores portugueses, dos quais 130 são do distrito de Setúbal.

Responsabilidade Social em Setúbal

Um dos compromissos que a Mercadona mantém com a Sociedade é partilhar parte do que dela recebe. Com este objetivo, a empresa desenvolve o seu Plano de Responsabilidade Social, no qual estão inseridas as doações alimentares a partir de cada uma das suas lojas.

No distrito de Setúbal, a empresa, além do protocolo que estabeleceu com o Banco Alimentar da Península de Setúbal, que presta apoio a mais de 50 Famílias Carenciadas, a Mercadona colabora também com a ACBF- Associação Caminho do Bem Fazer, a partir da loja do Montijo, e com a APACCF – Associação de Professores e Amigos das Crianças do Casal das Figueiras, a partir da loja de Setúbal. A estas duas instituições a Mercadona realiza doações diárias de bens alimentares.

Quais são as primeiras impressões que retira da abertura a sul do Tejo?

As primeiras impressões são muito positivas. Havia muita expectativa da nossa chegada a Setúbal e isso refletiu-se na adesão dos setubalenses e montijenses que nos têm ido visitar.

Como classifica o acolhimento que os consumidores desta região estão a dar à Mercadona?

O acolhimento tem sido bastante positivo. Os supermercados Mercadona fazem parte de muitos portugueses que cruzavam a fronteira para ir de férias ou passear até Espanha, há aqui uma relação próxima de anos. Existindo já este histórico com os que conhecem, adicionando a curiosidade dos que não nos conhecem acreditamos que as nossas lojas no distrito de Setúbal continuarão a ter boa recetividade. Estamos muito satisfeitos.

Encontra diferenças entre Setúbal e Montijo? Quais?

As lojas da Mercadona cumprem o Modelo de Loja Eficiente, pelo que não existem diferenças entre lojas, têm a mesma dimensão, cerca de 1.900 metros quadrados, e a oferta de produtos também é idêntica.

Além disso, todos os trabalhadores da Mercadona passam por um período prévio de formação, por forma a estarem dotados do know-how necessário para o desempenho das suas tarefas, mas também para que os “Chefes” (como chamamos aos

nossos clientes) sintam e tenham o mesmo nível de qualidade no atendimento independentemente da loja Mercadona em que façam as suas compras.

A Qualidade é, atualmente, o maior

foco da Mercadona. Assim, procuramos garantir a máxima Qualidade dos nossos produtos. Apostamos nas nossas marcas próprias, que são muito referenciadas pelos clientes pela sua excelente relação qualidade-preço. Temos o exemplo dos produtos da secção da Perfumaria, os cremes de beleza que são muito procurados, ou os detergentes para a roupa, entre tantos outros produtos que já conquistaram os portugueses. Sem esquecer os frescos e o Pronto a Comer, que também apresentam uma excelente qualidade. Por outro lado, temos uma estratégia comercial de SPB – Sempre Preços Baixos e, portanto, não fazemos promoções.

Os planos de expansão da marca passam por mais lojas no distrito de Setúbal?

A Mercadona encontra-se em processo de expansão em Portugal continuando em prospeção em vários municípios de todo o país e no distrito de Setúbal não é exceção.

29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 15 PUBLIREPORTAGEM
Quais são os argumentos com que a Mercadona espera distinguir-se das outras cadeias de distribuição?
DR
Ana Carreto, Diretora de Relações Externas Centro-Sul de Portugal As novas lojs da Mercadona na região têm tido grande afluência desde que abriram

Jovens com deficiência

FILIPE MARQUES

Atleta do Sporting de olhos postos em Paris ambiciona medalha olímpica

dar a volta por cima. Não tive os resultados que queria e não desanimei. Isso fez com que chegasse até onde estou hoje. Este foi o meu melhor ano”, reconhece.

Depois de experimentar vários desportos, foi no triatlo que Filipe Marques se sentiu verdadeiramente bem, por ser “a junção perfeita”. “Tem três modalidades – natação, ciclismo e corrida –, logo não há aquela monotonia de ser praticar só uma coisa”, revela o jovem de 23 anos.

Tinha 11 anos quando foi desafiado, por aquele que viria a ser o seu primeiro treinador, a experimentar triatlo. “Veio falar comigo e perguntou se queria tentar. Falou um bocado comigo, a explicar o que era o triatlo e eu gostei da ideia”. Tanto que nunca mais parou.

Entrou nessa altura para a Associação Naval Amorense e, desde aí, o tempo tem sido o seu maior aliado. “Estive nove anos na associação e, em termos de triatlo, fui progredindo com o passar dos anos”.

Já em 2018, ainda na mesma colectividade, o atleta de Almada é convidado a integrar o paratriatlo na sequência de um problema que tem na perna. “Nasci com pouca mobilidade na tibiotársica, o que faz com que tenha pouca flexibilidade e também menos força na perna esquerda. Além disso, o meu pé é cavo, de forma muito acentuada, o que agrava um pouco a situação. Foi algo que se foi acentuando ao longo da adolescência”.

Aceitou então o desafio, mesmo sabendo que “o triatlo e o paratriatlo têm algumas diferenças”. “Na bicicleta, por exemplo, é sem drafting, ou seja, não podemos andar juntos, o que acaba por ser um bocado em contra-relógio. Além disso, tive de me habituar a treinar sozinho, mas isso foi algo motivante. Fez-me melhorar”.

Numa fase inicial, confessa que “não estava tão forte”, mas conseguiu “progredir com algum trabalho”. De tal forma que, em 2021, dois anos após “sair do Amorense e passar para o Sporting Clube de Portugal”, alcançou o seu “primeiro pódio internacional, ao

conquistar o bronze no Campeonato da Europa, em Valência”.

“Fui para o Sporting porque o clube tem outros meios e proporciona outras oportunidades. Umas semanas depois tive nova vitória, na Taça do Mundo, realizada em Alhandra”, conta.

Ponto forte é natação, depois de futebol desiludir

Das três modalidades que compõem o paratriatlo, Filipe diz seguramente que é mais forte na natação, até por já estar habituado dos tempos de miúdo. “Comecei a nadar com nove anos. Aliás, até foi nas aulas que fui desafiado a experimentar o triatlo. Treinava na Piscina Municipal de Amora e, como tenho essa experiência, é mais fácil a natação”.

No entanto, não foi dentro de água que Filipe se estreou na prática desportiva. Começou no futebol, com “6

ou 7 anos”, por influência do irmão, que jogava nos juniores do Seixal. “Comecei no Seixal Futebol Clube, por iniciativa própria, ao ver meu irmão a jogar. Também quis experimentar”. No entanto, a determinada altura explica ter-se apercebido “que não

Filipe Marques à

queima-roupa

Idade 23 anos Naturalidade Almada Residência Fernão Ferro, Seixal Área Triatlo Mesmo tendo ficado ‘às portas’ da qualificação para Tóquio, desistir nunca foi opção, com foco a ser agora trazer medalha olímpica em 2024

queria continuar”. “Gostava muito, mas comecei a achar que aquilo não era para mim e fui para a natação”.

Selecção surge em 2018 e medalha olímpica está para vir Há quatro épocas que o jovem de Almada está ao ‘serviço’ da selecção nacional, camisola que vestiu “com orgulho”. Já alcançar uma medalha olímpica é o próximo objectivo que quer alcançar, depois de ter ficado ‘às portas’ da qualificação para Tóquio na categoria PTS5, para atletas com deficiências leves.

“Não só quero ir a Paris 2024, como quero fazer um grande resultado. Ser o melhor é o meu objectivo, assim como o é alcançar sempre melhores resultados”, ambiciona o jovem, que diz ser “muito resiliente e um exemplo para muitos”.

“Que o início da minha carreira sirva de exemplo. Tenho a capacidade de

Ciências do Desporto não são prioridade, mas são salvaguarda Em simultâneo, Filipe está no segundo ano da Licenciatura em Ciências do Desporto na Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa, apesar de o curso “não ser a prioridade”.

“O meu foco são os treinos. Aos poucos vou evoluindo no curso. Enquanto o paratriatlo durar, é o que quero fazer. A longo prazo, quando deixar de competir, quero que a minha carreira continue ligada ao desporto, daí ter escolhido este curso. Talvez vá para treinador da modalidade ou professor. Quando chegar a altura escolho o que for melhor”.

Na faculdade, apesar de ter o estatuto de alto rendimento, Filipe confessa que é “um pouco difícil conciliar as duas coisas, mas é tentar arranjar tempo para tudo”. Sobre a preparação física, realça que treina todos os dias, “entre duas a três horas”. “De manhã dedico-me à corrida e bicicleta, em Fernão Ferro, e à tarde vou para as aulas, no Jamor, onde tenho o treino de natação”.

No entanto, o jovem chega também a ir treinar a Lisboa, que é onde está a sua equipa. “Também pode haver dias em que vou ao Multidesportivo do Sporting”, acrescenta.

Em retrospectiva, Filipe confessa que “não mudava em nada” o seu percurso. “É o que mais gosto de fazer. Para mim, competir é a justificação para o treino, que representa a força com que vou conseguir atingir os meus objectivos”.

E como é nas competições que diz mostrar as suas valências, Filipe enumera os locais onde já esteve a lutar por um lugar de destaque: “Já estive duas vezes em Yokohama, no Japão, estive na Estónia, duas vezes em Valência e duas em Corunha. Fui a França, estive em Abu Dhabi no ano passado, para o Campeonato do Mundo, e em Inglaterra. Já corri parte do Mundo”.

As próximas paragens vão acontecer no País de Gales, Turquia, em Outubro, e Abu Dhabi novamente, “em finais de Novembro, para terminar a época”.

16 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
Jovem de 23 anos tem na natação o seu ponto mais forte para a competição no paratriatlo
Primeiro pódio internacional foi alcançado por Filipe Marques em 2021, dois anos após passar para o Sporting Maria Carolina Coelho
DR

Artista pinta para inspirar outras crianças a seguirem os seus sonhos

Jovem de 16 anos encontrou nas telas o alívio que precisava, numa altura em que as “crises do autismo e epilepsia estavam muito acentuadas”

É de pincel na mão, entre florestas e paisagens, que Raquel Micano diz estar completa. Enquanto desenha, a jovem de 16 anos ‘viaja’ para um mundo só dela, onde encontra paz de espírito e alívio. “Gosto de pintar para me distrair, principalmente quando estou muito chateada”, conta.

A pintura surgiu de forma espontânea em 2017, numa altura em que Raquel “estava com crises muito acentuadas do autismo e da epilepsia”. Um dia, chegou a casa, pegou num papel e começou a “descarregar toda a raiva que sentia” num desenho, como se uma parte de si, que estava adormecida, tivesse despertado.

A mãe, Cátia Palma, e o padrasto, a quem chama pai, aproveitaram a oportunidade e inscreverem-na de imediato em aulas de pintura. “Pinto na Fátima Romão, a minha professora de pintura, na casa dela, duas vezes por semana, até porque a minha casa não tem muito espaço. Ela é muito fixe”, explica.

Hoje, a jovem, que nasceu no Centro Hospitalar Universitário do Algarve, mas veio morar com sete anos para o Pinhal Novo, Palmela, sabe de cor e salteado as técnicas que deve utilizar. “Nunca se deve misturar tinta óleo com tinta acrílica. Faz uma coisa estranha. Fica peganhoso e não dá para pintar”.

Já o barro “é perfeito para compor a tela”. “Quando acho que o quadro não está bom o suficiente, faço a figura que quero acrescentar, como pássaros ou joaninhas, moldo, deixo secar e pinto. Depois é colar directamente no desenho”.

Também o relevo é algo que fascina a jovem. “Gosto, por exemplo, de fazer revelo nas árvores ou nos rios. Dá-me a sensação de vida”. As ideias surgem “da própria cabeça”, de paisa-

gens que vê nos passeios em família ou da internet, “mas nunca copiadas”. “Só me inspiro, mas nunca copio nada igual. Pinto sempre à minha maneira”.

Sobre os tamanhos das telas, gosta de ir variando. “Ainda não fiz, mas hei-de fazer um grande quadro com um reino, do Harry Potter, cheio de magia e de feiticeiros”. Quando não está nas aulas de pintura, vai experimentando novas técnicas. “Em casa gosto de desenhar rostos. Pinto com lápis próprios, com canetas e também já experimentei giz e fiz uma tela em carvão, mas não gostei muito do resultado”.

Com mais de 50 telas finalizadas, Raquel tem já uma opinião formada: “O bom da pintura é que em caso de engano dá para disfarçar”.

Objectivo da pintura passa por ajudar e motivar outros jovens

Com a pintura, Raquel ambiciona vir a ajudar “outros jovens” na mesma

situação, no sentido em que pretende que também estes se venham a sentir “compreendidos e aceites”. “Quero motivar outras crianças, para não desistirem dos seus sonhos, apesar dos problemas que têm”.

Além disso, a jovem espera também um dia vir a ser conhecida, começando já a dar cartas nesse sentido. Em 2019, viu os seus quadros expostos na Biblioteca de Pinhal Novo, por iniciativa da professora de pintura e da mãe.

A segunda exposição, inicialmente agendada para o mesmo ano, acabou por ter de ser adiada para 2022, devido à pandemia. Em Abril último, e depois de ter sido infectada com covid-19, Raquel perdeu audição. A mãe, que começou a perceber que a jovem estava a entrar em depressão, decidiu avançar com a mostra para lhe dar um ânimo.

No entanto, Cátia Palma, que dedicou toda a sua vida à Raquel, não

esperava tamanho sucesso. As obras da jovem, que estiveram patentes na ASL Tomé Sociedade Vinícola de 8 de Abril a 7 de Maio, ‘desapareceram’ rapidamente e mereceram inclusive a visita da secretária de Estado da Inclusão, Ana Sofia Antunes, à região.

“Gostei muito. Veio mais gente do que eu pensei e adoraram os meus quadros. Acho que as pessoas gostam dos quadros porque são alegres”, afirma.

Apoio da família tem sido “muito importante”

A jovem tinha já falta de audição moderada à direita e grave à esquerda, provocada pela síndrome brânquio-otorrenal, tendo a covid-19 agravado a situação. No passado mês de Maio, com o objectivo de reverter parte do problema, Raquel foi operada e passou de duas próteses auditivas com sistema de FM para dois implantes cocleares.

Raquel Micano à queima-roupa

Diagnosticada igualmente com Síndrome de Asperger e epilepsia de ausência, a jovem tem ainda problemas reumáticos, artrite reumática, escoliose com cifose torácica e um atraso cognitivo no desenvolvimento, que lhe apanha a fala.

O apoio da família, descreve a jovem, tem sido “muito importante”. “O meu padrasto é muito bom pai. Cuida e ama-me muito. A minha mãe também sempre me ajudou, ao procurar respostas para os meus problemas”. Foi então na pintura que Raquel encontrou uma forma de comunicar com o mundo que a rodeia. Para a mãe, “é como se todos lhe dissessem que é capaz de tudo”.

Futuro ainda não está escolhido, mas intenção é acabar a escola Profissionalmente, a jovem, que começa no próximo ano lectivo a frequentar o 9.º ano, confessa ainda não saber ao certo o que quer seguir, mas tem já uma certeza: “tem de ser algo que goste”. “A minha intenção agora é acabar a escola até ao 12.º ano. Depois, gostava de ser presidente de um país, professora de artes, médica dos ossos ou médica dos animais, porque adoro cães, gatos e corujas”, enumera.

Em mente tem ainda a ambição “de ser modelo e de lançar uma linha própria de maquilhagem. A nível pessoal, sonha em “ter uma quinta, com uma casa grande”. “Quero ter um jardim, para plantar as minhas flores preferidas, mas sei que tenho de trabalhar para isso. Aquilo que me ensinaram foi que se quero alguma coisa, tenho de trabalhar”.

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Raquel Micano ambiciona vir a ser conhecida pela sua arte, tendo já exposto os seus trabalhos em duas mostras Maria Carolina Coelho Idade 16 anos Naturalidade Faro Residência Pinhal Novo, Palmela Área Pintura Contra as expectativas dos médicos, jovem encanta com os seus desenhos e sonha em tornar-se presidente de um país DR

RITA PATRÍCIO

Professora de História sonha ganhar medalha nos Jogos Paralímpicos

O segredo da jovem de 25 anos, com paralisia cerebral, para conseguir desenvolver as suas duas grandes paixões é simples: dividir bem o tempo

Desde cedo que Rita Patrício, natural do Pragal, soube que o seu futuro seria dividido entre as suas duas grandes paixões: o Boccia e a disciplina de História. A paralisia cerebral nunca foi um impedimento para a jovem de 25 anos, que está empenhada em chegar aos Jogos Paralímpicos. “Só tinha duas opções. Ou ficava a lamentar-me porque estou numa cadeira de rodas ou trabalhava para aquilo que quero. Optei pela segunda opção”, conta.

O percurso académico “foi sempre no ensino normal, incluindo na faculdade”. “Estive em turmas regulares. Nunca tive qualquer problema nesse aspecto. A única diferença é que escrevia no computador e tinha mais tempo para realizar os testes”.

Já para o ensino superior, optou pela Licenciatura em História na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde também se tornou mestre em Ensino de História. “Acabei a faculdade e parei um ano. O ano lectivo passado foi o meu primeiro a dar aulas, a 7.º e 8.º anos, na Escola Básica e Secundária Santo António da Charneca, no Barreiro”.

A experiência, descreve, “foi boa”, até porque está “a fazer aquilo que sempre quis”. “Não podia ter corrido melhor. Obviamente que encontramos sempre desafios, mas foi uma questão de encontrarmos a melhor maneira para os ultrapassarmos”.

Sobre a recção dos alunos, a jovem explica que “ao início estranharam um bocado”. “Acredito que tenham pensado ‘o que é que esta está a aqui a fazer’, até porque não é comum terem um professor com paralisia cerebral. Mas disse-lhes como é que iria acontecer o processo e que eles tinham de se habituar a mim. A partir daí foi tranquilo”.

Na grande estreia enquanto docente, Rita leccionou a disciplina de História, assim como Oferta Curricular, apesar de não ser da sua área. “É uma disciplina mais artística, na qual os miúdos podem realizar peças de teatro, por exemplo”, esclarece.

Ao longo das duas décadas e meia de vida, a jovem, a morar actualmente na Amora, Seixal, garante ter tido “as mesmas experiências que os outros”. “Aprendi desde cedo que podia fazer as mesmas coisas, ainda que de forma diferente e adaptada”.

Boccia chegou aos oito anos e conquistou para sempre Sem se aperceber, Rita foi traçando o seu futuro até chegar aos dez anos.

“Desde o 5.º ano que digo que quero ser professora. Já o Boccia, pratico desde que tenho oito anos. Soube que havia essa modalidade na Escola Básica 2/3 Dr. º Augusto Louro, fui experimentar e gostei”.

Apesar de “demorar um pouco a aprender a jogar”, revela ter gostado tanto que joga “até hoje”. “É compli-

cado fazer a gestão das duas. É cansativo e tem de haver muito jogo de cintura, mas dá perfeitamente para o fazer. O segredo é dividir bem o tempo”.

A jovem, uma das atletas mais experientes da Associação de Paralisia Cerebral Almada Seixal (APCAS), foi em 2016 chamada “pela primeira vez a jogar pela Selecção Nacional”. “Fiquei nervosa, mas orgulhosa por ter a hipótese de representar Portugal. É um sonho tornado realidade, até porque não é qualquer um que tem a oportunidade”.

Desde então, conta já ter ido a Espanha e ao Brasil vestida com as cores portuguesas. “No nosso país já consegui o 2.º lugar no Campeonato Nacional de Boccia, enquanto em termos internacionais ainda não consegui nenhum”.

No entanto, é precisamente para alcançar esse objectivo que a almadense diz treinar quatro dias por semana. “Espero conseguir participar nos Jogos Paralímpicos e, se conseguir de lá trazer uma medalha, tanto melhor. Sei que com trabalho, esforço

e dedicação, um dia hei-de conseguir. A prática faz a perfeição. Estou a caminhar para lá”.

Para tal, a preparação física passa também por levantar pesos e sessões de fisioterapia. “Em casa gosto de levantar pesos, porque me ajuda bastante a ganhar força para as jogadas. Além disso, tenho acompanhamento de uma fisioterapeuta, em que fazemos planos de treino personalizados”.

Já como passatempo, a jovem es-

Rita Patrício à queima-roupa

Idade 25 anos Naturalidade Almada Residência Seixal Área História e Boccia Ambiciosa por natureza e teimosa de feitio, próximos objectivos passam por tirar doutoramento e trazer uma medalha olímpica para Portugal

tá igualmente na dança inclusiva. “É também na Augusto Louro, uma vez por semana. Adoro porque acredito que é através da música e da dança que a pessoa consegue-se expressar totalmente”.

Família tem “papel central” na vida da pessoa com deficiência Sobre a importância da família na vida da pessoa com deficiência, Rita é directa: “tem o papel central”. No caso da jovem, os dois irmãos gémeos e os pais “sempre fomentaram tudo o que fosse independência e ajudaram a alcançar os sonhos que tinha”. “Sempre me disseram que se não conseguia da forma A, para fazer da B ou C, mas que ia conseguir fazer. A família tem muita influência”.

Além disso, Rita faz questão de agradecer aos pais a ajuda que lhe deram. “Se não fossem eles, não teria ido para o ensino superior. Os transportes em Lisboa não são adaptados, assim como a cidade universitária não o é. Eles levavam-me todos os dias às seis da manhã e iam-me buscar ao final do dia, muitas vezes por volta das 20 horas”.

Hoje, conta também com o apoio de uma assistente pessoal, no âmbito do projecto CAVI. “Tenho assistente há cerca de quatro anos. Basicamente ajuda-me nas tarefas que não consigo fazer sozinha, como tomar banho e levar-me para a escola, onde fica comigo para me ajudar a ir à casa-de-banho”.

Futuro passa pelo doutoramento, com segundo mestrado na mente Ambiciosa e trabalhadora por natureza, “em todas as áreas” da sua vida, e teimosa de feitio, Rita explica ter uma “vontade constante” de estar a aprender. Para o futuro, são já vários os objectivos que tem traçados. “No Boccia é chegar aos Paralímpicos. No ensino, é tirar o doutoramento, ou em História Antiga ou Contemporânea, e ter a experiência de dar aulas ao secundário”.

Antes, não exclui a hipótese de tirar um segundo mestrado em História Antiga. “Ainda não tenho bem definido como vai ser, mas tenho a certeza de que quero voltar para a faculdade. Sempre fui extremamente estudiosa. Adoro aprofundar temas sobre os quais ainda não sei muito”.

Jovens
deficiência 18 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
com
Objectivos de Rita Patrício passam também por dar aulas ao secundário, sem excluir segundo mestrado Maria Carolina Coelho
DR
29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 19

ANA LUÍSA PEREIRA

Médica concilia profissão, empreendedorismo e família na vila que lhe corre nas veias

DR

Escolheu Grândola para tudo. Constituir família, trabalhar como dentista e investir numa clínica polivalente

Para Ana Luísa Pereira, seguir profissão no sector da Saúde nunca foi uma dúvida. “Sempre soube que queria esta área”, afirma. O que não tinha certeza era sobre a via médica que iria exercer, e acabou por ser na República Checa que começou a decidir-se depois de fazer testes para tirar medicina.

“Percebi, rapidamente, que uma vida a fazer turnos não seria para mim. Então a segunda opção foi a medicina dentária”, conta. O passo seguinte, e por opção pessoal, e também conselho do seu próprio dentista, acabou por se inscrever-se e formar-se na CESPU – Cooperativa de Ensino Superior, Politécnico e Universitário, na zona norte de Portugal.

E foi na mesma faculdade que estagiou durante o 5.º ano do curso. “Quando terminamos o estágio estamos aptos para trabalhar”, comenta. Entretanto, tirou a especialidade de ortodontia e harmonização orofacial.

Natural de Grândola, esta terra alentejana nunca lhe saiu do coração, por isso diz que “sempre quis trabalhar e viver em Grândola”, e decidiu abrir ali uma clínica dentária que fosse “polivalente: saúde e bem-estar e que não transmitisse os receios que tantas pessoas sentem a entrar numa clínica”. E assim nasceu a “bonita” Clínica da Vila de Grândola.

Um espaço de Saúde, que comemorou um ano em Maio deste ano, constituído por várias especialidades, como medicina dentária, osteopatia, medicina geral, psicologia, medicina tradicional chinesa, coaching, hipnose e nutrição. “Tencio-

Ana Luísa

Pereira

à queima-roupa

Idade 28 anos

Naturalidade Grândola Residência Grândola

Área Médica Dentista

Tem por objectivo fazer com que a saúde dentária entre no hábito regular da população

no que cresçamos mais e ter mais especialidades”, ambiciona.

Na escolha pela ‘Vila Morena’ importavam ainda outras razões para o estilo de vida que Ana Luísa Pereira pretendia para si mesma; “constituir família, ter tempo, conseguir manter uma vida profissional e, ao mesmo tempo, conseguir aproveitar as avós presentes”. E isso sublinha, “sem elas não seria possível trabalhar e viver no mesmo local”.

Há ainda outros motivos, a sua filha Maria Carminda, o namorado Nuno, uma relação de três anos, e, ainda, como diz: “três filhas caninas”. E também pelo apoio que recebe das avós. “São elas que me ajudam quando saio mais tarde da clínica ou se tenho formações fora de Grândola”.

Apesar de notar que, “ao longo dos anos, tem havido melhorias visíveis nos cuidados que as pessoas têm quanto aos cuidados de saúde oral”, lamenta que ainda “exista alguma desinformação” nesta área. “Ainda se desvaloriza muito os cuidados de higiene, as consultas de rotina e a relação do médico dentista continua a ser questionada por parte de alguns pacientes”.

Com actividade intensa na clínica, Ana Luísa Pereira encontra na praia um meio para carregar energias. “Assim que começa o bom tempo, e até ao Inverno, vou regularmente à praia”. Mas também diz que, actualmente, “não tem tempo para muito mais”.

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Saúde
Ana Luísa Pereira fala do seu empenho para levar mais longe a sua clínica, um esforço que consegue com o carinho da família Humberto Lameiras
Ao longo dos anos tem havido melhorias visíveis nos cuidados que as pessoas têm quanto aos cuidados de saúde oral, mas ainda há alguma desinformação nesta área

DIOGO AURÉLIO

Uma lesão levou-o a descobrir a fisioterapia, hoje tem uma clínica no Litoral Alentejano

Formou-se em Setúbal e passou por Inglaterra. Fazer das contrariedades oportunidades é o seu estilo de vida. Quando tudo parecia torto, ‘endireitou o esqueleto’ e decidiu o seu sucesso

Quando algo corre mal, em momentos pode ser um aperto; uma revolta, ou, por que não uma oportunidade. Foi assim que Diogo Aurélio, hoje com 27 anos, despertou para a profissão de Fisioterapeuta e teve a coragem, em tempo de pandemia, de abrir um gabinete, agora clínica, da especialidade. Foi em Setembro de 2020, em Vila Nova de Santo André, concelho de Santiago do Cacém, durante plena crise covid-19. “Assumo que foi um risco a vários níveis, mas foram ponderados, e o resultado tem sido muito positivo”, afirma. Voltando à época em que tudo começou, contada pelo próprio. “Quando tinha 15 anos lesionei-me no joelho a praticar desporto, fui operado e tive de fazer fisioterapia, uma ‘coisa’ que desconhecia. Estava no 10.º ano em Ciências, e ‘preso’ a uma recuperação longa, foi nessa altura que senti interesse para estudar esta área, e seguir carreira”.

Assim que terminou o 12.º ano entrou no Instituto Politécnico de Setúbal (IPS) onde se licenciou em Fisioterapia, entre 2012 e 2016. Quis regressar às suas origens, Vila Nova de Santo André, mas não lhe foi fácil conseguir o primeiro emprego. “Se a nível nacional, em 2016, as oportunidades de emprego na minha área não eram muitas, aqui era pior. Não havia clínicas privadas com fisioterapia, e em hospitais poucos entravam”. Só passados quatro meses conseguiu um trabalho através de estágio profissional.

Terminado o estágio, “as oportunidades continuavam a ser muito poucas”. Diogo Aurélio namorava então com uma enfermeira de Setúbal que tinha terminado o curso também no IPS em 2017. “Decidimos ir para o estrangeiro”, e escolheram Inglaterra para trabalhar e fazer formação contínua. Entrou numa clínica privada e, além do ordenado, ainda recebia 500 euros para investir em formação. “Isto é raro acontecer em Portugal”, comenta.

Em Março de 2020 regressa a Por-

tugal e, em Setembro do mesmo ano, decide abrir o seu próprio gabinete de fisioterapia que, entretanto, ampliou especialidades. A agora clínica Fisio Move proporciona consultas por um médico de clínica geral, uma psicóloga e uma terapeuta da fala. A parte da fisioterapia está unicamente a cargo de Diogo Aurélio que, essencialmente, trata as áreas neuro-músculo-esqueléticas, onde tem uma formação mais ‘consistente’.

Assume que foi um risco, quer por se instalar numa zona do Alentejo on-

de a fisioterapia ainda era pouco divulgada, e mais ainda em plena fase alta da propagação da infecção covid-19. “Foi uma decisão pessoal e com dificuldade acrescida, mas ponderada”. Mais uma vez, perante um quadro de contrariedades viu oportunidades. “Esta região não está muito desenvolvida na área de fisioterapia, não há muitos gabinetes como o meu, mas existem muitos casos de lesões ocupacionais ou em pessoas que fazem trabalhos repetitivos em fábricas”.

O certo é que a sua perspectiva

mostrou estar correcta e, em Março deste ano, mudou a clínica para um novo espaço e começou a implementar novas áreas de saúde. “Está a correr muito bem, e tenho a agenda cheia”, a ponto de estar a considerar contratar mais um fisioterapeuta.

“A media de horas semanais que passo na clínica com clientes é sempre acima das 50 horas. Apenas guardo para mim a tarde de sábado e o domingo, mesmo assim, há sempre qualquer coisa para fazer na clínica. Não tem sido fácil, mas não há crescimento sem dores. Está tudo a correr bem, felizmente”, afirma.

Ao mesmo tempo, antevê que a profissão de Fisioterapia venha a ter agora um maior crescimento, não só porque a população começa a ficar mais desperta para este tipo de cuidados de saúde, mas também porque neste momento está constituída a Ordem dos Fisioterapeutas que, em cerca de ano e meio de actividade, tem estabelecido acordos com outras Ordens profissionais. “É um grande passo na nossa profissão”, considera Diogo Aurélio.

Quanto a tempos livres, “são muito poucos”, e o seu ‘escape’ é a actividade desportiva, dedicando-se ao paddle. “Se estiver stressado, dá para dar ali umas belas pancadas com a raquete, o que é muito bom para aliviar”. De resto, é estar com a família, os amigos e, no Verão, praia.

Diogo

Aurélio à queima-roupa

Idade 27 anos

Naturalidade Vila Nova de Santo André, Santiago do Cacém

Residência Vila Nova de Santo

André

Área Fisioterapeuta

Assume que estabelecer-se no Alentejo, onde a fisioterapia ainda era pouco divulgada, e quando a pandemia estava no pico, foi um risco. “Foi uma decisão difícil, mas ponderada”

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Em plena pandemia covid-19, Diogo Aurélio não exitou e abriu a sua clínica de Fisioterapia. E deu certo Humberto Lameiras DR
Quando tinha 15 anos lesionei-me no joelho, fui operado e tive de fazer fisioterapia, uma ‘coisa’ que desconhecia (...) foi nessa altura que senti interesse para estudar esta área

LUÍS PAULINO

Psiquiatra no Hospital de São Bernardo investiga AVC com o Politécnico de Setúbal

A saúde mental “não é um problema só das grandes cidades”, mas em Setúbal esta patologia “tem uma forte expressão”, avalia

na Faculdade da Universidade Nova de Lisboa nas áreas de Anatomia e Neuroanatomia e, também, investigador num projecto sobre o AVC onde participa o Instituto Politécnico de Setúbal.

Primeiro quis ser professor, depois optou pela medicina onde a cadeira que mais o cativou foi a Psiquiatria. Hoje, Luís Paulino é interno dessa especialidade no Hospital de São Bernardo, em Setúbal, e assistente

A Psiquiatria, que ainda está a descobrir o cérebro, obriga-o a estudo constante para se actualizar e, ‘entre horas’ e o trabalho no Hospital de Setúbal, prepara trabalhos para congressos e publicações em revistas da especialidade. Diz que os seus dias são mesmo o cliché “casa-trabalho, trabalho-casa”, e quando consegue uma oportunidade-escape, viaja. Foi precisamente na véspera de viajar que encontrou tempo para falar com O SETUBALENSE.

Revela que a cidade de Setúbal surgiu no seu caminho quase por um acaso. Natural de Vila Real, sempre estudou em Lisboa, mas tinha na mira trabalhar fora do rebuliço da capital num hospital distrital numa zona não muito distante de Lisboa. “Vamos tentar Setúbal”, - onde nunca tinha estado -, lembra-se de ter dito para si mesmo. “Fiquei cativado à primeira vista”, e descreve:

“Foi amor à primeira vista. A Serra da Arrábida, ter o rio e mar próximo do centro da cidade. Uma cidade bonita e simpática”. E também o hospital onde encontrou um ambiente onde “todos se dão bem”. Chegou ao São Bernardo em 2019, fez a formação geral e, em 2020, entrou para a especialidade de Psiquiatria, onde presentemente continua.

Sobre o porquê de ter enveredado pela área da Psiquiatria, conta que a opção surgiu ao longo do curso de Medicina. “Sabia que queria ajudar as pessoas e estudar diversas patologias, mas a cadeira que mais interesse me suscitou, e também aquela de que mais gostei, foi a de Psiquiatria”. E, a meio do curso, já tinha decidido que, no fim do mesmo, era esta a especialidade que queria seguir.

“É fascinante, porque o cérebro é um órgão em que ainda há muito por descobrir. É este misto, entre uma área com muito para aprender e o ter de ajudar as pessoas, que me desafia. Podemos fazer a diferença. E foi por isso, aliado ao gosto pessoal, que optei por Psiquiatria”, revela.

Sobre a saúde mental, comenta que não é só um problema comum das grandes cidades, mas também de meios mais rurais ou semi-rurais.

Luís Paulino à queima-roupa

Idade 27 anos

Naturalidade Vila Real Residência Setúbal

Área Psiquiatra no Hospital de São Bernardo

“O cérebro é um órgão que tem ainda há muito por descobrir. É este misto entre o muito para aprender e ajudar as pessoas, que me desafia”

Contudo, “o contexto social em Setúbal anda muito de mãos dadas com a saúde mental. Infelizmente muitas vezes”. Mas também diz que há espaço para melhorar ao se “minimizar o isolamento social” e “prestar mais apoio à comunidade”. Ao mesmo tempo observa: “Sabemos que os contextos mais desfavorecidos são aqueles onde a patologia mental tem uma expressão maior”.

A esta área da saúde o Hospital de São Bernardo tem de dar resposta, em urgência, consultas e acompanhamento, o que admite nem sempre ser fácil porque tem de cobrir um espaço geográfico muito grande. Além da população de Setúbal, Palmela e Sesimbra, tem de acorrer à do Litoral Alentejano que não tem esta especialidade na sua unidade hospitalar. “Temos uma boa equipa, e conseguido responder, mesmo sabendo que não é possível chegar a todo o lado”.

Entre a actividade clínica durante o dia-a-dia, em contexto de internamento, consulta e urgência de doze horas, formação constante como obriga a especialidade, trabalho de pesquisa científica e formador – não professor porque não tem doutoramento -, Luís Paulino ainda encontrou tempo para, recentemente, se envolver num projecto de investigação aprovado pela Fundação de Ciência e Tecnologia em parceria com o Instituto Politécnico de Setúbal.

“Ainda estamos na fase de recrutamento, mas já foi aprovado. É um projecto de investigação na área da saúde ligada ao Acidente Vascular Cerebral. Funciona em várias áreas, quer seja com cuidadores, com pacientes que foram vítimas de AVC, e reabilitação. E também tem a vertente da saúde mental, que será uma das minhas áreas de contributo”.

Luís Paulino, aos 27, que assume procurar sempre mais conhecimento, o que o levou ainda durante o curso a fazer Erasmus em França, “para aprender como trabalha um país de referência na prestação de cuidados no sistema de organização de saúde”, ri-se quando questionado sobre como passa os tempos livres. “Boa pergunta”, responde, daí o cliché casa-trabalho, trabalho-casa; “por vezes consigo estar um pouco com amigos” e, por vezes, “tirar um fim-de-semana prolongado para viajar”.

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Luís Paulino afirma que o que o motivou na Psicologia foi a investigação e o querer ajudar as pessoas Humberto Lameiras
O contexto social em Setúbal anda muito de mãos dadas com a saúde mental. Infelizmente muitas vezes
DR
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“Se os utentes não estiverem bem informados a comunicação com o médico é muito difícil”

A sua actividade médica envolve o raciocínio em consulta e em cirurgia, duas áreas que a motivam, assim como o comportamento social

A trabalhar no Hospital de São Bernardo no serviço de Ginecologia e Obstetrícia, Luísa Andrade Silva integra também uma equipa nesta unidade hospitalar de Setúbal que organiza sessões de esclarecimento à população sobre a gravidez, e questões associadas. “Se os utentes não estiverem bem informados, a comunicação entre eles e o médico é muito difícil”, diz. “Temos de trabalhar em conjunto”, acrescenta sobre esta experiência de envolvimento clínico e social.

Foi a primeira da família a licenciar-se em medicina, e nem era profissão para a qual tivesse despertado muito cedo. Só no secundário, quando cativada pela biologia, vontade de compreender o funcionamento do corpo humano, curiosidade pela cirurgia e psicologia começou o interesse por seguir a área médica. Assim o fez e, quando chegou a altura de optar por uma especialidade, Luísa Andrade Silva decidiu-se pela Obstetrícia e Ginecologia.

A isto juntou-se o interesse em perceber o comportamento das pessoas na sua realidade de vida, e dar-lhes respostas. No caso da sua especialidade, pela mulher e todo o contexto da gravidez. “Por vezes temos de resolver situações um pouco difíceis do ponto de vista psicológico e emocional”, conta. E sendo a psicologia uma área da saúde também do seu interesse, consegue completar um trabalho onde afirma: “considero que faço alguma diferença”.

“Quando há que escolher uma especialidade, temos que dividir entre especialidades médicas que são mais relacionadas com o raciocínio clínico e como tratar doentes internados e em consulta, ou então

a parte cirúrgica, que passa pelo bloco operatório; usar as mãos.

A minha especialidade tem precisamente as duas vertentes muito presentes: a parte médica mais na obstetrícia, e a parte cirúrgica mais na ginecologia”.

Interna no Hospital de São Bernardo, em Setúbal, desde 2020, e atendendo à realidade social no concelho onde “há uma baixa literacia em saúde e onde a gravidez apa-

rece muito cedo”, decidiu participar num projecto que está a ser desenvolvido pelo serviço de Ginecologia e Obstetrícia em colaboração com a Pediatria e a Psicologia.

“Temos de ter em consideração a realidade das pessoas que tratamos, por isso, o serviço onde estou está a organizar sessões de formação e esclarecimento à população relacionada com a gravidez e com os cuidados com o recém-nascido e as

alterações emocionais no pós-parto, com o objectivo de colmatar um pouco as falhas de conhecimento”. Natural de Évora, formou-se em Lisboa na Universidade Clássica, esteve no Hospital Garcia de Orta, em Almada, Hospital de Évora, Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e agora, aos 27 anos, está a trabalhar no Hospital de São Bernardo. Todo este corredor hospitalar deu-lhe experiência para seleccionar a co-

municação conforme a realidade da população.

“As coisas têm de ser explicadas aos utentes mesmo quando, pela sua literacia na saúde, é difícil, como acontece em Almada e Setúbal. É preciso acabar com o paternalismo na medicina, é preciso explicar aos utentes que têm de cumprir as terapêuticas e vigilância. Temos de dizer porquê e fazê-los entender a importância de cumprirem as indicações do médico”, é sobre este ciclo de relacionamento que Luísa Andrade Silva fala de uma “clara diferença” entre a população de cada cidade.

A residir em Lisboa, queixa-se da falta de transportes entre a capital e Setúbal. “Entrava no comboio em Campolide e saía em Setúbal, é directo, o problema é que nesta linha há muito poucos horários, são de hora em hora, e gastava cerca de duas horas, e por vezes três horas, por dia na deslocação”, conta. A opção foi usar o carro. “Gasto muito dinheiro em gasolina, mas consegui mais tempo para mim”.

Por vezes, para carregar energias, no Verão em vez de seguir directamente para Lisboa faz um desvio e vai até à praia da Costa de Caparica. Outro dos seus escapes dos “dias intensos e cansativos de trabalho” é a prática de uma espécie de boxe. “Não é um hobby específico, as minhas aulas no ginásio são a bater num saco, carregar energias e, muitas vezes, descarregar frustrações”. De resto, diz: “Apenas hobbies comuns a toda a gente”, e ri.

Luísa Andrade Silva à queima-roupa

Idade 27 anos

Naturalidade Évora

Residência Lisboa

Área Ginecologia e Obstetrícia no Hospital de São Bernardo “É preciso acabar com o paternalismo na medicina, é preciso explicar aos utentes que têm de cumprir as terapêuticas e vigilância”

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Saúde
LUÍSA ANDRADE SILVA Luísa Andrade Silva está envolvida num projecto que visa dar formação aos utentes DR Humberto Lameiras
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Saúde

A enfermeira que foi cativada pela geriatria e em Setúbal descobriu o gosto pelas urgências

O estágio no Hospital de São Bernardo fez Leonor Pereira repensar, e hoje combina a geriatria com o serviço de doentes críticos

Na cidade de Setúbal, a enfermeira Leonor Pereira encontrou a boa conjugação entre a o espaço urbano e o verde da Serra da Arrábida. “Uma cidade acolhedora”, diz. Foi o que sentiu quando estagiou no Hospital de São Bernardo, em Setúbal. “Estamos no meio citadino e logo, facilmente, também perto do mar e da serra”.

Para si, por agora, é dado como certo que não moraria na capital. “Neste momento não me imaginava a viver em Lisboa”. Mais ainda, quando consegue o bem-estar que recebe da cidade sadina, “onde há abertura de mentalidades”, e também “acessibilidade até mesmo para conviver com o meio rural”.

Enfermeira generalista, tem combinado o serviço de urgência no Hospital de São Bernardo com o trabalho com a população idosa na Santa Casa da Misericórdia de Canha, no Montijo. Duas funções na saúde que a completam profissionalmente.

“Tinha 12 anos quando decidi que queria ser enfermeira”, conta. Uma das avós de Leonor Pereira ficou dependente de uma cadeira de rodas, entretanto o avô morreu e a ainda menina Leonor assumiu por “vontade própria” cuidar da avó. “Havia uma enfermeira que lá ia a casa tratar dela, e foi desse contacto que descobri que era aquele trabalho que queria fazer”.

Quando chegou a altura de ingressar no ensino superior veio do Porto para a Universidade de Évora, uma experiência que diz ter sido “fantástica”, mas até lá teve de vencer um percurso que não foi fácil. “Por ter dislexia, tive de fazer terapia da fala até ao 12.º ano, foi um envolvimento que me impediu de ter media suficiente para entrar na Faculdade do Porto”, mesmo assim, colocou esta Faculda-

de como primeira opção e, como o ranking das escolas de enfermagem posicionava a de Évora em bom lugar, escolheu a da cidade alentejana como segunda opção. E acabou por viajar para estudar em Évora.

É a partir daqui que começa a estabelecer-se a ligação de Leonor Pereira com Setúbal. “No 4.º ano do curso, um dos estágios foi sobre ensino clínico na urgência do Hospital de Setúbal, e adorei, mesmo sendo um serviço complicado e exigente que obriga a muito conhecimento e resistência a nível físico e psicológico”.

Entretanto volta ao Porto para

Leonor Pereira à queima-roupa

Idade 23 anos

Naturalidade Porto Residência Setúbal Área Saúde, Enfermeira Quando cheguei ao serviço de urgência percebi que o doente crítico é aquele que mais me cativa trabalhar, é o inesperado, o não haver uma rotina

terminar o segundo semestre do 4.º ano; “por uma questão de mobilidade”, diz. Mas Setúbal já a cativara e, quando terminou a formação académica, voltou para trabalhar no hospital da cidade do Sado. “Entreguei o meu currículo espontaneamente e fui aceite”. Isto em 2020.

A área da geriatria foi o ‘chamamento’ para ingressar em enfermagem, mas a passagem pelo serviço de urgência do São Bernardo mostrou-lhe outros horizontes. “Pensei que ira gostar mais dos cuidados de geriatria, mas quando estive nos serviços clínicos do Hospital de Setúbal come-

cei a ter dúvidas sobre qual a área de que mais gosto. Quando cheguei ao serviço de urgência percebi que o doente crítico é aquele que mais me cativa trabalhar, é o inesperado, o não haver uma rotina. Por isso, quando comecei a trabalhar, optei pelo serviço de urgência”.

Para complementar conhecimentos, Leonor Pereira esteve no serviço de urgência no privado: “Estou numa fase em que quero investir no doente crítico, mas sinto que estou também a precisar de uma coisa diferente, e decidi trabalhar na Santa Casa da Misericórdia de Canha. No fundo, sinto que vou complementar as duas áreas, geriatria e serviço de urgência doentes críticos”.

A enfermeira nascida no Porto, que estudou em Évora e que escolheu Setúbal e o Montijo para trabalhar, hoje com 23 anos, esclarece sobre o sentimento de algumas pessoas sobre os enfermeiros do serviço de urgência aparentarem, por vezes, serem frios no relacionamento: “Isso não é verdade”, afirma e explica: “Fazemos tudo com muita intensidade, temos de escolher rapidamente e com eficácia sobre o que é prioritário naquele momento para salvar um doente crítico”. É toda uma carga de adrenalina, um stress necessário e positivo que a leva a “gostar tanto do serviço de urgência”.

Depois da velocidade, exigência e responsabilidade do dia-a-dia de trabalho, Leonor Pereira, que se qualifica como “uma guerreira, teimosa e frontal que quando decide que quer uma coisa tem de a conseguir”, encontra na cidade de Setúbal, onde reside, o conforto para carregar energias.

“Gosto muito da natureza, e esse foi um dos motivos para vir para Setúbal. Aqui é fácil encontrar um escape para desanuviar da vida profissional”, e dá um exemplo: “Quando tenho turnos de trabalho mais difíceis, em vez de ir logo para casa vou até à Serra da Arrábida para respirar natureza”. Outros escapes são a leitura e também pintar; “não é que saiba pintar, é o que me vem à mente, e com isso não penso e nada mais”. Nesta lista inclui ainda o gosto por cozinhar – há cinco anos que sou vegetariana -, e também prática desportiva que, entretanto, deixou de lado por falta de tempo para a coordenar em relação ao trabalho.

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Na urgências, Leonor Pereira percebeu que o doente crítico é aquele que mais a cativa, pelo inesperado, a ausência de rotina Humberto Lameiras DR
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Saúde

MARGARIDA PAVÃO

A obstetra que quer identificar o motivo de as mulheres em Setúbal serem mães mais cedo

Depois de ter passado por hospitais de Lisboa, Loures e Estocolmo, diz ter ficado surpreendida com a juventude das grávidas em Setúbal

Depois de estudar medicina em Lisboa e Estocolmo, Margarida Pavão, 28 anos, veio para o Hospital de São Bernardo, em Setúbal, onde está a completar a especialidade de Ginecologia e Obstetrícia.

Quando chegou à cidade do Sado, encontrou uma realidade diferente da que estava habituada. “Uma surpresa”, diz, e não muito pela positiva. “Não pelo hospital em si”, onde o ambiente entre médicos “é excelente”, e tem feito amizades, mas pela realidade social relacionada com a idade das

parturientes. Esta uma matéria que quer aprofundar.

O Bloco de Partos do Hospital de São Bernardo “não reflecte a realidade do que acontece em Portugal, particularmente em Lisboa, onde as mulheres têm filhos cada vez mais tarde”. Em Setúbal, “chegam-nos mulheres muito novas, muitas vezes na casa dos 25 anos e já no segundo ou mesmo terceiro filho.

Na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, a média de idades anda nos 30 e 40 anos”, avalia Margarida Pavão, que no segundo ano de Obstetrícia no Hospital de Setúbal, se interroga sobre o porquê desta diferença de idades.

Neste momento também a fazer estágio na Maternidade Alfredo da Costa, esta diferença de idades das parturientes apresenta-se-lhe ainda mais evidente, por isso está interessada em perceber os motivos desta realidade entre duas cidades relativamente próximas, mas já vai tirando primeiras conclusões:

“O índice de pobreza em Setúbal é maior, e isso implique menos literacia das pessoas”. O que tem mais em concreto é existir “um bocadinho de mais dificuldade em explicar às grávidas certos exames que têm de fazer, e também o resultado desses exames”. Mas obviamente, “que não são todas assim”, infere.

Outra observação é serem “muitas as mulheres que não procuram cuidados de saúde na especialidade de Ginecologia e Obstetrícia, nem usam método contraceptivos”. Pelo que interpreta, isto acrescentado com a juventude das grávidas, “pode estar relacionado por não terem uma visão sobre carreira profissional”, e complementa o seu raciocínio: “Actualmente, são muitas as mulheres que apostam fortemente na carreira

Margarida Pavão à queima-roupa

profissional, ou prolongam os estudos, por isso atrasam cada vez mais a gravidez”.

Por outro lado, o facto de existirem grávidas mais novas também tem as suas vantagens. “Em Setúbal temos menos mulheres doentes a engravidarem, logo a apresentarem menor risco, o que implica a maternidade do distrital Hospital de São Bernardo “não receber muito bebés prematuros”. Mais uma vez, “uma realidade diferente do que acontece em Lisboa”.

Mas também detecta outra questão: “O planeamento familiar em Setúbal, tanto nos centros de saúde como no hospital são insuficientes”, e apesar de todos os esforços do hospital, “neste momento há muito poucas consultas de planeamento familiar”, um problema que não afecta só o concelho, mas “a região”.

Chegada ao Hospital de São Bernardo em 2021, Margarida Pavão está no segundo ano da especialidade de Obstetrícia e para o ano começa em Ginecologia, no total, são seis anos de especialidade, e considera a possibilidade de continuar em Setúbal, mas certezas não tem. “Nem sei, dentro da Ginecologia/Obstetrícia, qual a área em que me quero mesmo especializar”, ou seja, uma especialização dentro de uma área maior desta especialização médica. Apesar de reafirmar que gosta do serviço em Setúbal, também diz que a mobilidade médica é grande e “alguns médicos mais novos têm saído”.

Mas para já, a clínica Margarida Pavão, que já passou pelo Conservatório Nacional de Música, como estudante de oboé e canto, que foi cativada para a especialidade de Ginecologia e Obstetrícia em Estocolmo, já passou por hospitais em Lisboa e pelo multivalente Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, sente-se cativada por Setúbal.

Depois de muitas horas passadas no hospital, inclusivamente em serviços de 24 horas, diz que o tempo de descanso são mesmo passados em Lisboa, onde reside, mas consegue sempre tempo para algumas vezes jantar com os amigos na terra do Sado. “Adoro jantar em Setúbal; o peixinho. E até amigos de Lisboa vêm ter comigo para jantarmos”, conta.

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Chegada ao Hospital de São Bernardo em 2021, Margarida Pavão está no segundo ano da especialidade de Obstetrícia Idade 28 anos Naturalidade Lisboa Residência Lisboa Médica Ginecologia/Obstetrícia no Hospital de São Bernardo Humberto Lameiras DR
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Política

BÁRBARA DIAS

De pespineta em pequenina a presidente de junta e deputada

Estava escrito nas estrelas que viria a enveredar pela política. Os sinais foram dados em casa e reconhecidos na catequese. Carlos Albino fez o resto

último, foi eleita deputada à Assembleia da República. Foi na catequese que lhe reconheceram qualidades para ingressar no mundo da política. Mas a queda para a coisa foi detectada muito antes, logo em tenra idade, sem causar surpresa a quem melhor a conhece. Estava escrito nas estrelas.

recandidatou-se mas não foi reeleita. Mestre em Engenharia do Ambiente pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa,

Aos 29 anos – completa 30 no dia 9 de Setembro –, Bárbara Dias conquistou a presidência da Junta da União das Freguesias de Baixa da Banheira e Vale da Amoreira, na Moita, e cerca de quatro meses depois, em Janeiro

“Sempre gostei muito da política. Em pequenina já dizia que queria ser política, já reivindicava sobre tudo e não aceitava, nem do meu pai, um 'porque sim' ou um 'porque não' como justificação de algo. A minha mãe até costumava dizer que eu era muito pespineta”, conta Bárbara Dias, que liderou a Juventude Socialista (JS) a nível concelhio e, mais recentemente, a nível distrital – exerceu um mandato, que terminou em Março passado,

Bárbara Dias à queima-roupa

Idade: 29 anos

Naturalidade: Baixa da Banheira

Residência: Baixa da Banheira

Área: Política

Mestre em Engenharia do Ambiente, confessa-se apaixonada desde criança pela política e não esconde o sonho de vir a ser ministra na sua área de formação.

onde também concluiu a respectiva licenciatura e onde foi vice-presidente da Associação de Estudantes em 2016, actualmente a socialista acumula ainda funções de secretária nacional na JS, para a área ambiental, e integra a Comissão Política Nacional do PS. E para explicar como aqui chegou é preciso recuar mais de uma década.

“Em 2010 a minha catequista, dona Antónia, disse-me: 'Tu eras boa para ir para a JS'. Sempre senti uma afinidade pelo PS e achei boa ideia. Mas não fui logo. Em 2013, ela falou de mim a Carlos Albino, então líder da JS e hoje presidente da Câmara da Moita, e ele abordou-me para entrar na lista do PS (em lugar não elegível) para a Assembleia Municipal, liderada por Luís Chula. Se hoje estou aqui, foi também

pela dona Antónia e por Carlos Albino.” Curioso, destaca, foi o destino cruzado com Luís Chula, que em 2017 foi cabeça-de-lista à Câmara da Moita. “Ele foi eleito vereador, tendo aceitado o pelouro da Protecção Civil, e convidou-me para assessora. Coisas do destino”, recorda, para voltar de novo atrás e salientar que a adesão ao PS não teve influências caseiras.

“Na altura, ninguém da minha família era militante em partidos. Tenho memória do meu avô materno debater política com o meu pai e sei que ele chegou a ser autarca em Covas do Douro, Sabrosa. Chegou a ser filiado no PS e acabou por se desfiliar, mas não sei os motivos. Só soube desta história há pouco tempo. A minha mãe também chegou a ser militante

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Mário Rui Sobral
DR
Escuteira desde tenra idade, ingressou na política em 2013. Mestre em Engenharia do Ambiente pela FCT da Universidade Nova, gostava de um dia ser ministra do Ambiente

do partido, mas nunca activa. Nada disto, porém, influenciou a minha escolha, entrei no PS apenas por me identificar com o partido”, frisa.

A máxima de Baden-Powell

A célebre frase “Procurai deixar o mundo um pouco melhor do que o encontraste”, escrita por Baden-Powell, fundador do escutismo, é uma máxima que carrega e tenta seguir todos os dias, admite a jovem socialista, que até há pouco tempo era dirigente no Corpo Nacional de Escutas 371 (ver caixa). Uma máxima que se reflecte na forma como olha para a participação na vida política. “O que mais me atrai na política é o poder transformador das nossas acções, para mudar para melhor a vida das pessoas. O mais bonito é podermos ser agentes transformadores da sociedade”, afirma, ao mesmo tempo que assume, sem pruridos e em tom sincero e humilde, o sonho que tem em termos de carreira política.

“Nunca apontei como objectivos os cargos que tenho hoje (presidente da Junta e deputada parlamentar), apenas fui aproveitando, com muito trabalho, as oportunidades que me foram proporcionadas. Não tinha a perspectiva de ser cabeça-de-lista à Junta, até estava na altura a preparar a minha estreia profissional no sector privado. Mas confesso que um dia gostaria de ser ministra do Ambiente, que é a minha área.”

Para já, realça, é a Junta da Baixa da Banheira e Vale da Amoreira que lhe absorve toda a atenção e emoção. “Tem sido bastante desafiante, porque esteve sob gestão do PCP/CDU durante 47 anos. Estamos a tentar transformar a Junta de acordo com o que propusemos ao eleitorado. Tem sido um verdadeiro desafio, mas está a correr muito bem, porque estamos a realizar um bom trabalho”, analisa. A falta de recursos humanos nas ofi-

cinas da Junta, lamenta, é exemplo dos vários obstáculos com que diz se ter deparado desde que assumiu funções. “Temos três funcionários nas oficinas. Mesmo assim temos dado conta do recado”, afiança. Até porque, ressalva, tem tido na equipa que lidera um suporte enorme. “Tenho a sorte de ter neste executivo uma equipa muito experiente, dinâmica e multifacetada.”

Foi já depois de conquistar a pre-

Escuteiros Baptizaram-na de 'Abelha Tagarela'

Se há coisa que não falta a Bárbara Dias é assunto. É boa conversadora e fala pelos cotovelos. Por aí, e não só, se explica o totem que recebeu no Corpo Nacional de Escutas (CNE) 371, da Baixa da Banheira, ao qual aderiu aos 9 anos. “Bá ou Babá é como, num círculo íntimo, alguns me tratam há

longa data. Nos escuteiros foi-me atribuído o totem pessoal de 'Abelha Tagarela', pela veia comunicadora, depois de sugerirem 'Abelha Enciclopédica', pela capacidade que tenho em memorizar datas históricas. Para datas de aniversário sou horrível”, confessa. O escutismo, de resto,

ficou de lado com a eleição para a Junta. “Decidi não continuar, para ter um posicionamento imparcial em relação à instituição, mas também por falta de disponibilidade, porque ser dirigente do CNE não é só aparecer aos sábados, implica muito trabalho de preparação com os jovens”, remata.

sidência da Junta que Bárbara Dias viu abrirem-se-lhe as portas da Assembleia da República, eleita que foi deputada pelo círculo de Setúbal – indicada para a lista pela JS. Ainda admitiu desempenhar em simultâneo os dois cargos, mas à última hora optou por suspender o mandato no parlamento, para se dedicar de corpo e alma à União das Freguesias. Todavia, não esconde que o pressuposto “é acumular as duas funções”. “Decidi abdicar para me focar a 100% na Junta. Daqui a cerca de um ano farei uma avaliação, porque a responsabilidade em relação à Junta e a ambos os eleitorados é enorme”, adianta, para deixar de seguida uma confissão. “Nunca imaginei que aos 29 anos seria presidente da Junta e deputada à Assembleia da República”, atira a jovem, que, a concluir, se define como “uma pessoa muito genuína, alegre, solidária, exigente consigo e com os outros, com sentido de justiça aguçado e sempre com muitas ideias”.

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Nunca apontei como objectivos os cargos que tenho hoje, apenas aproveitei as oportunidades, com muito trabalho

Política

EUNICE PRATAS

Autarca em dose dupla em Setúbal e deputada de corpo inteiro no hemiciclo

Jovem aposta do PS destaca-se com tripla função, mas recusa o epíteto de 'superdeputada'. “São as pessoas que fazem os cargos e não o contrário”, defende

A ascensão foi “meteórica”. Ainda nem se completaram seis anos desde que decidiu militar no Partido Socialista (PS) e hoje já é caso singular no panorama político do Distrito de Setúbal – e muito provavelmente do País – ao congregar tripla função enquanto eleita: é deputada à Assembleia da República e membro da Assembleia Municipal de Setúbal e da Assembleia de Freguesia de Gâmbia, Pontes e Alto da Guerra. Em Março deste ano, pouco antes de tomar posse no parlamento, O SETUBALENSE qualificava Eunice Pratas, 30 anos, como “superdeputada”. Entre pares, dentro do partido na região, a designação “colou” e juntou-se a uma outra: “deputada ao cubo”, o que traduz não só a confiança que recolhe no seio dos socialistas como também a capacidade de trabalho.

Apesar disso, o epíteto está longe de agradar à jovem licenciada em Ciências Biomédicas pela Universidade do Algarve, mais parecendo que lhe causa uma espécie de 'urticária'. “Não quero ser tratada por 'superdeputada'. Devemos ter muito cuidado com os rótulos, sobretudo quando aplicados a pessoas, desviam-nos facilmente do que é essencial. É que não são os cargos que fazem as pessoas, mas sim as pessoas que fazem os cargos”, atira Eunice Pratas, num tom afável, mas peremptório. E justifica: “A avaliação de um político, neste caso de uma deputada, deve ser feita em função do trabalho que desenvolve no exercício das suas funções, e não apenas pelo número de cargos que acumula. E não sou caso único, ao ser deputada em mais do que um órgão.”

Diferente é se a tratarem pelo di-

minutivo 'Nice'. “É a minha alcunha oficial e a mais utilizada”, admite a jovem, que confessa ter recebido “convites de outros partidos”, preferindo ingressar no PS.

“Foi em 2016, após reflectir bastante. Aceitei o convite do então presidente da Juventude Socialista (JS) de Setúbal, Emanuel Campos, para ser militante. Mas só decidi militar activamente em Setembro desse ano, após participar numa iniciativa política da JS de Setúbal. Nessa altura achei que já tinha a maturidade suficiente e a estabilidade pessoal necessária”, revela a socialista, entretanto eleita para a presidência daquela estrutura jovem do partido, onde cumpre actualmente um segundo mandato.

A sua ligação à política, de resto, dá continuidade a um trajecto familiar, no feminino. “A minha avó materna foi militante activa do PCP no pós-25 de Abril. Em 1997, a minha mãe in-

tegrou, como independente, a lista autárquica do PS para a freguesia de Gâmbia, Pontes e Alto da Guerra, que ganhou a Junta. Sempre tive uma família muito atenta à actualidade política nacional. E habituei-me a seguir a política desde cedo”, conta.

Uma referência política desde os tempos de infância Eunice recorda uma “infância feliz”, de “brincar diariamente na rua”, tempos de que guarda igualmente memórias... políticas. “Lembro-me de ver os programas políticos com os meus pais. Lembro-me do dia em que Jorge Sampaio ganhou as Presidenciais. Embora não tivesse ainda idade para compreender exactamente o que significava, percebia que tinha sido um momento importante e de alegria em casa. Mas nem sonhava que alguma vez poderia vir a ser política, isso foi algo que não se

manifestou na infância, mas sim já mais tarde, no início da juventude.” E a lembrança não surge ao acaso. É que Jorge Sampaio é a sua referência política. Por todo um percurso activo que o socialista começou por encetar logo como estudante, em Coimbra, contra o Estado Novo, até chegar a “Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações” e “ao projecto humanista a que [Sampaio] se dedicou nos últimos anos, com a fundação da Plataforma Global para Estudantes sírios, que apoiou centenas de refugiados e cujo modelo está já a ser replicado em mais de 10 países”.

O futuro entronca agora naquilo que a geração de Eunice poderá aportar ao centro da decisão política, algo que não escapa ao olhar atento da jovem. “Ter uma voz activa na sociedade e ajudar a melhorá-la é algo que me atrai imenso”, afirma, para de seguida apresentar exemplos de

Eunice Pratas à queima-roupa

Idade: 30 anos

Naturalidade: S. Sebastião, Setúbal

Residência: Pontes, Setúbal

Área: Política

Licenciada em Ciências Biomédicas, pela Universidade do Algarve, a jovem assume-se como “progressista, activista da juventude e das novas gerações”

“medidas que realmente mudam positivamente a vida da população”. “A luta contínua como autarca da freguesia pela conclusão do saneamento básico. A aprovação recente na Assembleia Municipal da descida do IMI em Setúbal. Votar favoravelmente o Orçamento do Estado 2022, que permite aplicar medidas, como as creches gratuitas, o alargamento do IRS jovem e o aumento extraordinário das pensões”, destaca, sobre acções desenvolvidas em cada uma das três funções que desempenha. E assume, sem rodeios, que são as tarefas no hemiciclo as mais exigentes.

“Mais do que trabalho, todas elas me dão uma enorme satisfação. São funções diferentes. A Assembleia Municipal e a Assembleia de Freguesia são órgãos autárquicos onde estou como deputada pela oposição. A Assembleia da República é uma função nova e, das três, a mais desafiante, à qual dedico mais tempo, pois é aquela em que estou a tempo inteiro e em exclusividade, não como oposição, mas integrando o grupo parlamentar que suporta o Governo”, faz notar a jovem que, enquanto política, se define como “uma progressista, activista da juventude e das novas gerações”. E quanto a metas a alcançar no futuro, em termos de carreira, comenta: “É importante sonhar, mas sempre com os pés bem assentes no chão e sendo fiel aos nossos valores e princípios. Sonho, acima de tudo, corresponder à confiança depositada em mim e em poder conseguir deixar a minha freguesia, a minha cidade, e o meu País pelo menos um pouco melhores do que aqueles que me antecederam e do que quando iniciei a minha carreira política”, conclui.

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Eunice Pratas junto ao Moinho de Maré da Mourisca, perto das Pontes, onde vive TIAGO JESUS
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Política

ÉRICA RIBEIRINHO

Menina do PCP já é mulher de futuro no partido

Apesar dos 21 anos, já se senta como gente grande na Assembleia Municipal de Palmela. Assume a igualdade como desígnio de uma luta por uma sociedade mais justa

“Os meus avós costumam dizer: 'a menina do PCP chegou'. No IPS também já utilizam, de quando em vez, essa expressão carinhosa, mas são pessoas que me são muito próximas. Gosto de ser assim tratada, consoante o contexto e desde que por aqueles que me são mais próximos. Por esses, está tudo bem. Não há problema”, admite, por entre sorrisos prolongados e acomodados num discurso de simpatia.

Conheceu a Juventude Comunista Portuguesa (JCP) e iniciou os primeiros contactos com o PCP em 2016.

Tinha completado 16 Primaveras e frequentava o 10.º ano na Escola Secundária de Palmela. Cerca de meia-dúzia de anos volvidos, Érica Ribeirinho admite ser tratada – mas apenas por aqueles que lhe são mais próximos – pelo epíteto de “menina do PCP”, pela dedicação à causa partidária. Ela que, apesar de eleita nas últimas autárquicas como suplente na lista da CDU candidata à Assembleia Municipal de Palmela, tem sido chamada frequentemente a integrar a bancada desta força política nas reuniões do órgão.

É vista no interior do colectivo comunista como um dos vários talentos emergentes do partido. Mas prefere contrariar essa ideia e contrapõe com uma visão diferente, humilde e respaldada num espírito de equipa. “Não se trata de talento. Tem a ver com o contributo que cada um de nós vai dando, conforme a sua disponibilidade, para ajudar nas tarefas que há para executar no partido. Pelo contributo na luta pelas causas que defendemos”, faz questão de corrigir a jovem, que não esconde a forma ternurenta como amiúde é tratada por familiares ou até por colegas da Escola Superior de Educação, do Instituto Politécnico de Setúbal (IPS), onde está a tirar a licenciatura em Educação Básica.

A “menina-mulher” do PCP vai desempenhando tarefas, no âmbito da JCP, na região. Acompanha a par e passo o concelho de Setúbal e, revela, não deixa de dar enfoque “às questões ligadas à igualdade”, a nível regional. E puxa a fita atrás para lembrar como tudo começou.

“Contactei pela primeira vez com o partido em 2016, quando estava no 10.º ano. Foi à porta da escola que fui abordada por dois camaradas da JCP. Estavam a realizar uma acção de contacto, a distribuir folhetos e perguntaram-me sobre os problemas que sentia, enquanto estudante na escola e enquanto jovem. Até então, nunca tinha parado para pensar sobre esses assuntos. E isso fez-me pensar”, conta. Estava dado o clique e apenas 24 horas depois Érica iniciava o seu trajecto político. “Passado um dia, um desses camaradas que me tinham abordado voltou a encon-

Érica Ribeirinho à queima-roupa

Idade: 21 anos

Residência: Aires, Palmela Área: Educação Básica Não dispensa o convívio com os amigos e dedica os tempos livres ao estudo e às actividades da Juventude Comunista e do PCP. Pertence ao Movimento Democrático de Mulheres (MDM)

trar-me, explicou-me os objectivos da JCP e decidi inscrever-me nesse próprio dia na Juventude Comunista, em Palmela”, junta, para de seguida adiantar: “Foi mesmo por essa acção de contacto na Escola Secundária de Palmela que acabei por me filiar. Não tive influências, até porque não tinha nem familiares nem amigos filiados no PCP.”

Luta pela igualdade

Hoje, a caminho da meia-dúzia de anos de actividade no partido, confessa que se sente mais comunista do que nunca. “Sim, de certa forma. Cresci muito como militante ao longo deste tempo, pelas experiências, pelas reuniões, sinto que tive uma evolução. Não tinha então um conhecimento tão aprofundado sobre

o partido como tenho hoje e isso fez crescer o amor imenso que sinto pelo PCP”, revela. E reforça de pronto: “Já sentia muito o que o partido defende, enquanto estudante e jovem, e agora ainda mais.”

Das causas que o partido defende e que mais a atraem no desenvolvimento da acção político-partidária, destaca “a igualdade de oportunidades para todos” nos vários domínios. “Para que possamos ter uma sociedade mais justa, ao longo da vida, no acesso ao trabalho, à educação, à saúde, nas condições de vida... que, infelizmente, não temos”, aponta, de forma generalizada, sem deixar de detalhar mais à frente: “Temos dado alguns passos, como na redução do preço dos manuais escolares, mas há a questão das propinas, do salário

mínimo, da habitação, da educação gratuita e pública, do investimento necessário no Serviço Nacional de Saúde, a paz... tudo questões prementes e para as quais há ainda um longo caminho a percorrer”.

Érica Ribeirinho define-se como “uma jovem estudante, mulher, defensora da igualdade que permita uma vida melhor para todos” e afasta ambições pessoais, no que toca ao seu futuro político. “Quem se inscreve no PCP não o faz com objectivos de chegar a qualquer posto ou cargo, de ser presidente de junta ou de câmara ou outro. Inscrevemo-nos com o intuito de dar o nosso contributo para a luta por melhores condições de vida para todos na nossa sociedade”, sublinha a 'menina-mulher' do PCP, a finalizar.

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Érica Ribeirinho está a licenciar-se em Educação Básica no Instituto Politécnico de Setúbal Mário Rui Sobral
O SETUBALENSE
29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 35

Política

Mais jovem presidente de assembleia de freguesia do País mora em Quinta do Anjo

Escrita Dar resposta a lacunas da sociedade

Só iniciou o percurso na área política em finais de 2019 e, aos olhos dos amigos, essa é a sua imagem de marca. Confessa que é conhecido por “João Político”, até porque, justifica, “a política é tema que nunca falta na ementa” quando está entre aqueles que lhe são mais próximos. Trata-se de João Pedro Leitão, 22 anos, o mais jovem presidente de uma assembleia de freguesia em Portugal.

Apesar da tenra idade foi o escolhido, após as autárquicas realizadas em 26 de Setembro de 2021, para liderar o órgão deliberativo da Quinta do Anjo, concelho de Palmela, onde reside actualmente. “Comecei como militante de base da Juventude Socialista [JS] em finais de 2019 e foi a partir daí que passei a estar mais activo na política”, revela João Pedro Leitão, que nasceu na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, e cresceu em Setúbal até se ter mudado, há cerca de um par de anos, para a freguesia quintajense.

E o abraço à actividade política foi apertado com espírito de missão. “Missão de servir o povo, de ajudar o próximo, de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, mais igual, mais fraterna e que responda aos anseios da juventude”, explica, para vincar de seguida: “Não gosto de ficar sentado a relatar problemas e não ajudar a superá-los. Não gosto de ser treinador de bancada.”

Fundamental, considera, é lançar mão da bússola de princípios que deve nortear a rota a seguir pelas mais ou menos agitadas águas da política, em particular, e também em todas as dimensões da vida, em geral. “Entrei no Instituto dos Pupilos do Exército com 13 anos e saí com 18 e aí absorvi valores e princípios fundamentais e indissociáveis daquela que deve ser a conduta humana em sociedade, como igualdade, liberdade e fraternidade”, sublinha o jovem autarca, que re-

conhece ter adoptado um papel mais interventivo depois de ter entrado, em 2018, na Universidade Europeia para frequentar Direito. “Entre o 2.º e o 3.º ano tornei-me vice-presidente da direcção da Associação de Estudantes, o que me fez sempre querer ajudar o próximo e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, mais igual, que responda aos anseios dos estudantes”, frisa sobre o passado mais recente, agora que se

João Pedro Leitão à queima-roupa

Idade: 22 anos

Naturalidade: Lisboa

Residência: Quinta do Anjo

Área: Política, Direito e literatura Diz abraçar a política com espírito de missão, assente em valores e princípios. E destaca a meritocracia

encontra a tirar o Mestrado em Direito Internacional e Europeu na Nova School of Law e para trás que ficou uma infância académica com passagens por St. Peter's School, Colégio de S. Filipe, Escola du Bocage e liceu de Setúbal.

Mais um amor do que Marco Paulo Ter sido escolhido para presidir à Assembleia de Freguesia de Quinta do Anjo foi “fruto do trabalho, da confiança, daquilo que foram as acções quotidianas de alguém que quer fazer a diferença na vida dos fregueses”, defende. E admite que, face à idade, ficou surpreendido, mas não totalmente. Até porque, o PS em Palmela “tem apostado nos jovens, na sua vontade de transformar e contribuir para a sociedade”. Tinha 21 anos quando assumiu a função. Mas rejeita que isso possa ser encarado com uma desvantagem.

“Os jovens têm muita qualidade. A experiência adquire-se no terreno. Essencial é a aposta em pessoas que têm vontade de ajudar e contribuir.

É este o activo mais importante em algo que se queira fazer na vida. Devemos ouvir os que têm mais experiência e a tenra idade não é nem pode ser um obstáculo porque ninguém nasce ensinado”, argumenta.

A meritocracia, junta, é que “tem de ser condição sine qua non” para o desempenho, sobretudo, de cargos públicos. Todavia, nos dias que correm, João Pedro Leitão crê que essa ainda “é uma miragem” nos vários sectores da sociedade. Por isso, acrescenta, “deve constituir uma luta diária” que a sua geração “terá de implementar para que de futuro seja definitivamente o ADN de todas as instituições democráticas”, pois há que “valorizar todos pelo mérito”.

Além da política, o autarca – que cumpre também um primeiro mandato na presidência da JS de Palmela – tem abertos mais dois outros capítulos no livro da vida: o Direito e a escrita. E na hora de apontar uma predilecção mostra-se mais indeciso do que Marco Paulo com o sucesso musical lançado nos inícios da déca-

A importância da integração dos refugiados, o lenocínio, a saúde mental, a eutanásia, e o combate às alterações climáticas são apenas alguns dos temas abordados por João Pedro Leitão em “Crónicas do Mundo e da Actualidade”.

E a entrada no mundo dos autores, nas estantes literárias, é justificada com o anseio de “dar voz a temas mais e menos mediatizados”. “Quis dar resposta a lacunas que observava quotidianamente, combater a abstenção, com uma linguagem dirigida aos jovens”, aponta. E acrescenta a finalizar: “Que os jovens entrem em comunhão com este livro, que visa combater também a descredibilização do sistema político através de uma opinião isenta e com base em muita investigação e naquilo que é a lente de um jovem.”

da de 80. É que João Pedro também não tem a certeza de qual dos seus amores gosta mais.

“Não consigo eleger uma destas paixões, todas interligam-se. A escrita e a oralidade são importantes para comunicar em política. O Direito regula-nos e a política é indissociável do Direito.”

E foi através da escrita que em Maio deste ano trouxe para cima da mesa uma abordagem, em livro, sobre 60 temas pertinentes que ajuda a reflectir e a clarificar a acção política e o seu impacto na sociedade. “Crónicas do Mundo e da Actualidade” intitula esta obra que marca a sua estreia enquanto autor a solo.

Quanto a anseios futuros, João Pedro Leitão não abre muito o jogo. “O meu sonho é ajudar o meu País e a minha freguesia o melhor que puder, dentro das minhas competências profissionais, pessoais e intelectuais”, conclui.

36 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
Às funções de autarca alia formação académica em Direito e a vertente de escritor, recém-iniciada
“Crónicas do Mundo e da Actualidade” é o primeiro livro de João Leitão, que entrou na política há três anos Mário Rui Sobral O SETUBALENSE
29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 37

Política

“Governação PS de Sócrates foi o gatilho para a minha entrada no PSD”

Sentimento de futuro hipotecado levou-o a aderir à política. Hoje é líder distrital da JSD e membro da Assembleia de Freguesia de Barreiro e Lavradio

Tem 27 anos e é o único membro eleito pelo PSD na Assembleia de Freguesia de Barreiro e Lavradio, depois de ter sido cabeça-de-lista a esta Junta nas últimas autárquicas. Já vai num segundo mandato como presidente da distrital de Setúbal da Juventude Social Democrata (JSD) e é coordenador nacional do Gabinete Digital desta estrutura do partido laranja, além de ocupar a vice-presidência na concelhia do Barreiro do PSD. Tiago Sousa Santos é já mais do que apenas um promissor quadro político dos social-democratas.

Tem sido um dos jovens em quem o partido tem depositado maior confiança e a primeira experiência autárquica surgiu cedo, apesar de se ter visto impossibilitado de a desenvolver e concretizar como pretendia. “Em 2017, com 22 anos, fui eleito membro da Assembleia Municipal do Barreiro pelo PSD, mas tive de abdicar ao fim de cerca de cinco meses por motivos profissionais”, lembra Tiago Sousa Santos que, dois anos mais tarde, foi “pela primeira vez candidato à Assembleia da República, pelo círculo de Setúbal, no 5.º lugar” da lista social-democrata.

Ainda hoje é “carinhosamente” apelidado de “jotinha” ou “o político” por alguns dos amigos, apesar de o arranque na jornada partidária ter ficado para trás vai para uma década.

“Iniciei-me na política em 2013, com apenas 18 anos”, revela, sem esconder que os motivos vieram do outro lado da barricada, fruto do sentimento de um futuro geracional hipotecado. “Entrei na JSD já depois de estar a tirar a licenciatura, muito impulsionado pela governação de Sócrates, porque, do que tenho memória, foi a pior da história do País, deixando-nos

na bancarrota e afectando a minha e futuras gerações”, atira de rompante o jovem pós-graduado em Gestão e Políticas Públicas pelo ISCSP, onde está a ultimar o Mestrado na mesma área e onde concluiu a licenciatura em Ciência Política. “Sou o primeiro da família a militar activamente num partido político. Em casa tinha atenção à política nacional, mas ninguém filiado. O gatilho foi mesmo a governação do PS com José Sócrates”, reforça.

Da infância recorda que os seus pais “sempre tiveram o hábito de estar atentos” à actualidade noticiosa. “E eu cresci com esse interesse, mas não era participativo na vida política ou cívica. Esse interesse só foi crescendo com a adolescência. Até aí considerava-me apenas um jovem informado. Identifiquei-me com o PSD a partir do mo-

mento em que passei ter consciência”, conta. E o momento-chave para mudar de paradigma não mais deixou de lhe estar gravado na memória. Foi rápido. “Tive um conjunto de conversas políticas sobre o estado do País com amigos e decidi entregar a ficha de inscrição na JSD e no PSD, na concelhia do Barreiro. Estava decidido a dar o meu modesto contributo para tentar melhorar o concelho, a região e o País.”

Plano autárquico no pensamento Ao projectar o seu futuro na vida político-partidária, prefere jogar à defesa, não obstante ainda trazer consigo as rotinas de avançado. “Nos meus tempos desportivos, de futebolista, era conhecido pelo meu apelido, Sousa. Mas não era médio, era um promissor ponta-de-lança, afectado apenas pela

falta de qualidade”, remata por entre sorrisos, sem esquecer por onde evoluiu enquanto atleta: “Comecei na extinta Academia Jorge Cadete, depois joguei no Recreio e Instrução de Alhos Vedros e fui juvenil de 2.º ano no Barreirense. Depois fui para a faculdade...”, detalha. Feito o parêntesis e voltando às ambições, Tiago Sousa Santos fica-se pelo plano autárquico. “O meu maior sonho é poder contribuir para melhorar a qualidade de vida da minha freguesia e do concelho, das pessoas que aqui vivem e para que o PSD possa, num futuro próximo, conquistar freguesias e câmaras municipais no distrito. O que pode ser alcançado através de uma Junta, da Câmara ou da Assembleia Municipal”, assume.

A conversa resvalou assim para o

Tiago Sousa Santos à queima-roupa

Idade: 27 anos Naturalidade: Barreiro Residência: Barreiro Área: Consultadoria e política A ultimar o Mestrado em Gestão e Políticas Públicas pelo ISCSP, diz querer fazer a diferença no plano autárquico e contribuir para o reforço do PSD no distrito

plano local e o jovem não enjeitou a oportunidade de fazer “um balanço muito positivo” ao mandato que está a cumprir na Assembleia de Freguesia de Barreiro e Lavradio. “Por proposta nossa, conseguiu-se aprovar uma recomendação ao executivo da Junta para que fosse transferido para o regimento a transmissão on-line das reuniões desta assembleia. A proposta passou com o meu voto e os da CDU favoráveis, e as abstenções do PS”, sublinha. Ao mesmo tempo destaca a apresentação de “um conjunto de propostas, não incorporadas pelo PS, como a construção de um parque infantil na Quinta dos Loios, no Lavradio, a aquisição de equipamento de remoção de graffitis considerados actos de vandalismo, a requalificação de vários jardins e largos, além de uma moção no sentido de que a Assembleia de Freguesia recomende a remoção de uma via ciclável pelo perigo que a mesma representa para os transeuntes”.

E a concluir realça ainda o trabalho desenvolvido ao serviço da distrital da JSD. “Logo em 2019, produzimos um estudo e uma proposta para que fosse criada a NUT II Península de Setúbal, que foi enviada na altura ao ministro do Planeamento, Nelson Sousa, e ao primeiro-ministro, António Costa, aos eurodeputados Paulo Rangel e Carlos Coelho e distribuída a nível interno no partido. Puxámos o tema para a agenda política – a AISET já o tinha feito – e hoje vemos com bons olhos que esteja na actualidade para a região de Setúbal”, finalizou.

38 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
TIAGO Além de presidente da JSD distrital, Tiago Santos é também coordenador do Gabinete Digital da JSD nacional
DR

Seixalense é a mais nova entre o grupo dos 230 com assento parlamentar

Seguiu as pisadas do irmão mais velho e iniciou-se no CDS.

Saltou para o Chega e teve ascensão meteórica no cenário político

É do Seixal, trocou o CDS pelo Chega e foi eleita deputada à Assembleia da República, pelo círculo de Lisboa, nas últimas legislativas. Com apenas 23 anos – comemora mais uma Primavera em 17 de Outubro –, Rita Matias é o elemento mais novinho (leia-se mais jovem) entre os 230 parlamentares que compõem o hemiciclo. Teve uma ascensão meteórica na política e é como que... a “deputada bebé” do parlamento.

Formada em Ciência Política, a jovem confessa ter partido de “uma vida cívica activa” para o mundo político. “Fui escuteira, fazia voluntariado nas associações e Organizações Não Governamentais locais e, por isso, o envolvimento político foi apenas mais um passo natural de quem cresceu rodeada de exemplos que se dedicam à causa pública, à comunidade local e ao seu País”, explica Rita Matias, que em casa encontrou um azimute. “Seguindo o exemplo do meu irmão mais velho, quis militar ao seu lado na Juventude Popular. Na altura, estava no início da minha licenciatura e, na ausência de outras forças políticas,

Rita Matias à queima-roupa

Idade: 23 (17/10/1998)

Naturalidade:Arrentela, Seixal

Residência: Lisboa

Curso: Ciência Política

Foi escuteira e em casa, confessa, cedo foi imbuída de espírito altruísta. Perseguição a cristãos da China foi o momento-chave para a sua entrada na política activa

via este caminho como única via para expressar as minhas posições políticas.”

Porém, houve um “momento-chave” que a levou a envolver-se de forma activa na vida política. E teve contornos asiáticos. “Foi após travar conhecimento com cristãos perseguidos da China, no âmbito das Jornadas Mundiais da Juventude, na Polónia. A experiência de conhecer alguém perseguido pela sua fé fez-me desejar ter uma voz activa para denunciar estas situações e lutar pela liberdade, um dos valores mais apregoados, mas mais atentados nos nossos tempos”, revela.

O altruísmo familiar, porém, já lhe reservara de certa forma o trilho a seguir. “Desde os pais, ao irmão e avós, cresci com o testemunho de quem, se for preciso, tira do seu para dar ao outro. Isso foi tão enriquecedor que vejo neste caminho político a opor-

tunidade de dar de graça todos os exemplos que de graça recebi”, admite, sem complexos em destacar a acção dos seus. “Vi o meu pai dedicar a sua vida aos toxicodependentes, aos marginalizados da sociedade, aos órfãos e às vítimas de violência doméstica. Cresci com os meus avós sempre com a porta de casa aberta e mais um lugar na mesa para quem passasse. Vi desde novo o meu irmão militar de forma desinteressada e desassombrada. Neste contexto, todo o [meu] interesse pela vida política ocorreu de forma muito natural.”

Do CDS ao Chega E se tudo começou pelos centristas, mais rapidamente “acabou”, e com protagonismo, noutra doutrina partidária – no Chega. “O CDS foi uma escola de institucionalismo e de aprendizagem do que é pertencer a

uma estrutura. No entanto, e apesar do legado desse partido, tendo nascido no Seixal, não conseguia compreender a falta de realismo político da estrutura do Caldas, onde por pouco tempo militei. A realidade de Lisboa era muito diferente das necessidades que via diariamente na terra onde cresci”, justifica a deputada, que reforça de seguida: “Sentia que nesta instituição havia muito espaço à formação e ao debate político, mas que se revertia em poucas soluções para os problemas que existem para lá do Príncipe Real e da baixa lisboeta. Este desfasamento fez-me por algum tempo desacreditar dos partidos políticos existentes.”

E eis que chegou André Ventura, líder do Chega, que elege como “referência” política. “Fez-me acreditar novamente na militância partidária pela capacidade de reconhecer que as elites de Lisboa, por demasiado tempo, esqueceram as periferias suburbanas”, afirma. “Sem complexos de inferioridade e sem receio de rótulos bacocos, André Ventura foi desde a primeira hora o megafone das conversas de surdina, de café, ou daqueles pensamentos que não ousávamos exprimir. Foi esta 'abertura do Mar Vermelho' que me inspirou e fez querer estar ao seu lado no combate pela verdadeira liberdade e no reconhecimento da importância de Portugal e dos portugueses, no dia-a-dia e não apenas nos períodos eleitorais”, argumenta.

Até porque, garante Rita, o que mais a atrai neste percurso “é a possibilidade de mudar a vida das pessoas para melhor”, mesmo quando as propostas do Chega acabam vetadas. “O tempo de desenho dessas propostas, muita das vezes em conjunto com parceiros sociais, cidadãos, associações, permite-nos que os nossos caminhos se cruzem com a vida de muitas pessoas. E a maior sede que as pessoas demonstram é de serem escutadas e verem alguém na classe política preocupar-se com as suas dores. Podemos não ter capacidade ainda de mudar as suas vidas, mas estamos ao seu lado, escutamos os seus desafios e fazemos tudo ao nosso alcance para levar as suas questões às instituições democráticas”, defende a jovem formada em Ciência Política.

Solidariedade Começou a ajudar com tampinhas

Foi cedo que Rita Matias diz ter começado a intervir em causas sociais. “Aos 10 anos decidi criar uma organização para recolha de tampas plásticas. Essas tampas eram entregues à Amarsul, que por sua vez financiava próteses e cadeiras de rodas. Mobilizei a minha família, amigos, vizinhos, cafés e lojas nas redondezas. A casa dos meus avós tornou-se um autêntico armazém de tampinhas”, conta. E o resultado, adianta a jovem, foi recompensador. “A verdade é que ajudámos o Hospital Garcia da Orta e algumas das crianças que acompanhavam, como o Fábio ou o Gabriel, a conseguirem os desejados e necessários meios de mobilidade.”

O suporte académico que detém, assume, “prepara alguém para ser politólogo e não para ser político”. Ainda assim, reconhece que “a capacidade de interpretação de fenómenos políticos e o tempo dedicado ao estudo das instituições democráticas no âmbito curricular são uma mais-valia para a compreensão das dinâmicas e desafios parlamentares”. Ao mesmo tempo confidencia o sonho que tem, não para a sua carreira política, mas para Portugal. “Que o nosso País se liberte das amarras do socialismo que o mantém estagnado a nível social, económico e cultural. Mudam-se os argumentos, os figurinos políticos, mas a verdade é que nas últimas décadas Portugal só consolidou o seu lugar na cauda da Europa. A IV República ou o V Império, o que o País necessita é de um projecto de longo prazo que o reafirme no quadro mundial e valorize o nosso passado, multiplique as riquezas do nosso presente e o direccione para o futuro”, frisa, a concluir.

29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 39
Rita Matias é formada em Ciência Política e elege André Ventura como referência Mário Rui Sobral
DR

Reportagem

A PARTIR DE ALMADA E SETÚBAL

Associação Faísca Voadora trabalha interculturalidade em várias frentes

Actividades que dinamiza pretendem “juntar pessoas e derrubar barreiras em torno das diferenças culturais”. Este ano estreia-se nos intercâmbios de Verão para jovens entre os 12 e os 30 anos

Criada em 2018, “muito pela cabeça, coração e experiência de Morgane Masterman”, a associação Faísca Voadora organiza actividades interculturais locais, europeias e internacionais. Na margem sul do Tejo, dinamiza eventos culturais, oficinas criativas e intervenções em escolas e espaços pedagógicos sobre vários temas relacionados com interculturalidade e identidades.

“Sempre com criatividade, abertura e alegria, queremos que as nossas actividades sejam activamente inclusivas e acessíveis a quaisquer pessoas, independentemente da sua identidade ou expressão de género, nacionalidade, orientação sexual, religião, idade, racialização, situação financeira, educação ou outro critério semelhante”, começa por dizer Susana Costa, da equipa Faísca Voadora, a O SETUBALENSE. “Os objectivos são sobretudo trabalhar em torno da interculturalidade. Pretendemos juntar pessoas e derrubar aquilo que são as barreiras em torno das diferenças culturais, da forma como entendemos o mundo ou como nos relacionamos”, adianta.

A partir de eventos, workshops e formações, promove “esta ideia mais desconstruída do conceito de cultura, não só a partir de um país ou de uma língua, mas também a partir da forma como nos construímos enquanto pessoas. Não vemos cultura como uma caixa fechada, mas sim como uma coisa dinâmica, em constante dinamismo”.

Nesta linha, a Faísca Voadora tem assim vários projectos, a nível internacional, uma vez que faz parte de uma rede, sobretudo europeia, mas também muito relacionada com África, e também no âmbito local, centrando-se na margem sul do Tejo, com especial enfoque nos concelhos de Setúbal e Almada. “Trabalhamos a interculturalidade, o anti-racismo, as alterações climáticas, diversidades de género e em torno disto existem várias possibilidades, que integram sempre pedagogias criativas. Pode ser teatro, desenho, rádio, animação linguística ou outros”, explica, frisando que “entendemos também o processo de aprendizagem como uma coisa não formal, experimental e criativa sempre”.

A associação trabalha com vários públicos, entre crianças, jovens e adultos e este Verão lança-se na “grande aventura” dos intercâmbios para jovens dos 12 aos 30 anos em

Espanha, França, Alemanha. Para Setembro, está marcado o acolhimento de um outro, dedicado à arte e à ecologia, na Quinta Maravilha, em Palmela, e a realização de um workshop, com o projecto “Sem In Diferenças”, na Bela Vista, ao abrigo do Programa Escolas, gerido pela APPACDM de Setúbal. “Vamos lá estar com uma equipa da Faísca Voadora, uma associação parceira da Alemanha e outra de Itália, para um encontro com os jovens deste projecto. A ideia será recolher tradição oral e a partir das histórias recolhidas criar pequenas histórias animadas em stop-motion”, conta Susana Costa. “Procuramos que estas duas dimensões da associação, o trabalho internacional e o trabalho local, possam interagir e possamos trazer pessoas de fora que interajam com Setúbal e ao mesmo tempo possamos levar pessoas de Setúbal e de toda a margem sul para fora”, acrescenta.

Espaço

de

actividades na Fonte Nova está “aberto à cidade” Neste momento, para além das duas trabalhadoras a tempo integral, Morgane e Susana, a equipa conta com um estagiário e está a prever novas contratações. “Está a ser superpositivo, para além de conseguirmos garantir esta equipa base, estamos também a contratar animadores e animadoras para trabalhar nos nossos intercâmbios de Verão”, partilha, para depois referir que “temos esta ideia de multiplicar, de poder dar oportunidade e trabalho a outros jovens e outras pessoas para além da associação”.

Também ao maior número de pessoas possível pretendem levar as suas actividades. “Queremos que sejam inclusivas e que cheguem a toda a gente, sobretudo a públicos que dificilmente teriam acesso. Vamos ao contacto com projectos base, em bairros prioritários ou sociais, que interagem com jovens que não teriam

tanto acesso a esta informação e fazemos chegar. Queremos dar estas possibilidades”, afirma. “Por considerarmos que existe já muita oferta em Lisboa, é sobretudo na margem sul que queremos trabalhar e em Setúbal, por exemplo, é sempre muito importante o apoio que o Gabinete da Juventude da Câmara Municipal nos dá a nível de divulgação”, acrescenta. Com sede administrativa em Almada, é no Largo António Joaquim Correia, na Fonte Nova, em Setúbal, que tem o seu “espaço de actividades. É a nossa base de trabalho e a ideia é que seja um espaço para que a associação se relacione com as pessoas, com a cidade, e que receba e acolha propostas e outros projectos”. Nas palavras de Susana Costa, “o nosso espaço está aberto à cidade e quem precise de um espaço para trabalhar ou tenha uma ideia de uma actividade para realizar, pode sentir-se à vontade para entrar em contacto connosco”.

40 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
Equipa pretende chegar ao maior número de pessoas possível e está disponível para acolher outros projectos Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografia)
29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 41

Educação e Ensino

No Colégio St. Peter's International School de Palmela existe um trabalho contínuo entre professores e pais

O professor de Português que tem como fixação o sucesso dos alunos

Questiona-se e actualiza-se diariamente para aperfeiçoar continuamente a forma de transmitir conhecimento aos estudantes

Que disciplina leccionar? Essa foi a primeira dúvida de Diogo Santos quanto ao que seria a sua vida profissional, porque ser docente era vontade desde criança. “O que mudou consoante a idade foi simplesmente a disciplina que pretendia leccionar”, relembra. Hoje, diz-se cativado por uma carreira com “impacto na vida dos alunos”, e pelo “constante desafio de encontrar estratégias para melhorar as suas aprendizagens”.

Natural de Coimbra, foi na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra que se formou, e na mesma localidade estagiou, no Colégio Bissaya Barreto, por ser o mais perto do local onde então residia. Já estava então decidida a disciplina que iria leccionar: Português. Mas também tem habilitações para exercer como professor de línguas clássicas.

Diogo

Santos

à queima-roupa

Área: Ensino

Defende que a chave para um melhor desempenho académico é a relação entre professor e aluno, caso contrário, a aprendizagem não é profícua e tudo o que foi arquitectado não se executa

Com cerca de seis anos de serviço, passou o mesmo que muitos, e muitos outros professores até fazer parte do quadro, há dois anos, do Colégio St. Peter's International School de Palmela, onde se encontra há cinco. Antes disso, leccionou na Escola Básica São Gonçalo, em Torres Vedras e na Escola Secundária Pedro Alexandrino, em Odivelas.

Defende que a chave para “um melhor desempenho académico é a relação entre professor e aluno”, isto porque “um professor pode pensar e idealizar as melhores estratégias e elaborar o melhor plano de aula, mas, caso não haja uma boa relação entre ele e os seus alunos, a aprendizagem não é profícua e tudo o que foi arquitectado não se executa”.

Por isso desafia-se e questiona-se a si próprio para se tentar colocar no lugar dos alunos: “Como seria se eu

estivesse a ouvir alguém a dizer isto desta forma? Aprenderia? Enfadava-me?”. “Este é um exercício que realizo com bastante regularidade, pois, automaticamente, ajuda-me a excluir algumas abordagens”, revela concluindo: “Assim, eles também sentem que caminhamos na mesma direcção e temos o mesmo objectivo em comum - o sucesso deles”.

Este é um caminho que tem encontrado no Colégio St. Peter's International School de Palmela, onde “existe um trabalho contínuo entre professores e pais, e as expectativas dos encarregados de educação dos alunos vão ao encontro das do colégio, verificando-se uma priorização do empenho escolar das crianças”, diz, destacando no entanto, “que as estratégias são sempre definidas conforme o aluno, as suas dificuldades, concebendo-se para cada qual

um caminho específico que permita conduzi-lo à excelência”.

Para esta metodologia e atingir objectivos, o professor Diogo Santos afirma que impõe a si mesmo “empenho” e a “ambição diária” de “estar informado”, isto porque as metas “reformulam-se” constantemente. “Um professor hoje em dia tem de saber inovar, pois com o avanço da internet, o acesso à informação tornou-se muito facilitado, o que se pretende é explorar o espírito crítico, ir além das capacidades de memorização que foram tão aclamadas no passado, no ensino português”.

Lembrando que o sistema de ensino foi “durante muitos anos, direccionado para a memorização de factos”, a realidade actual, com a evolução das tecnologias, permite que qualquer um tenha acesso a conteúdos, de forma quase instantânea. “A maior

questão, neste caso, prende-se com a necessidade de se ensinar, tendo em conta a evolução global, actual”, diz. “Ensinamos crianças que serão o futuro deste País, mas que futuro é esse? É necessário ter-se em conta que, cada vez mais, é necessário aprender a saber fazer, aplicar conhecimentos, trabalhar em equipa, desenvolver o espírito crítico, procurando, eventualmente, identificar aquilo que será o mercado de trabalho futuro, que, tendencionalmente, não será idêntico ao de hoje em dia. A aplicação prática de conhecimentos parece estar a tornar-se, sem dúvida, mais importante, do que o sistema de avaliação que detemos actualmente”.

Quanto às suas perspectivas na carreira de professor, Diogo Santos confia que tem futuro nesta carreira, a questão é que “nesta profissão a estabilidade de emprego não é garantida para se ter um futuro melhor”, comenta. “Trabalhamos muitas horas por dia, dedicamo-nos aos nossos alunos, com alma, e, apesar disso, no fim da carreira recebemos o equivalente ao início, percorremos quilómetros para ter lugar num estabelecimento, e verificamos, cada vez mais, com o menor número de pessoas que ingressam nesta carreira, que é uma profissão pouco compensada, já dizia Camões “quem não sabe arte, não a estima”.

A grande carga horária a que, tal como os outros docentes, está sujeito, obrigou-o a encontrar estratégias para compatibilizar a vida profissional com a pessoal. “Não é fácil”, afirma, já que ser professor implica ocupar muitas horas em trabalho de casa, desde a preparação das aulas à correcção das fichas de avaliação dos alunos. Mas sente-se recompensado: “Na verdade, adoro o que faço e nem me vejo a fazer outra coisa qualquer na vida”, afirma.

E ainda encontra tempo para hobbies como patinar. “Adoro a adrenalina e os constantes desafios. Verdadeiramente, apesar de perigoso, assume-se como um processo no qual me tento superar a cada sessão”.

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DIOGO Diogo Santos afirma que impõe a si mesmo empenho e a ambição diária de estar informado Idade 30 anos Naturalidade Coimbra Residência Quinta do Conde, Sesimbra. DR Humberto Lameiras

HELENA SIMÃO

“O que me encanta na logística é que há sempre algo a aprender”

Natural de Palmela e formada em Gestão da Distribuição Logística, a jovem trabalha actualmente na empresa Magjacol, onde pretende ficar enquanto sentir que faz a diferença

profissional bem como posteriormente para uma especialização numa das áreas. Esse foi um dos principais factores que motivou a minha escola, aliado ao facto de ter um estágio curricular e um projecto aplicado”.

De um projecto de curso ao início de uma carreira profissional Actualmente, colabora com a Magjacol, empresa sediada no Pinhal Novo que se dedica à indústria dos revestimentos, contando com várias décadas de experiência no fabrico e comercialização de tintas aquosas.

Mestrado que estou neste momento a frequentar, realizo também alguma gestão das redes sociais da Magjacol, criando conteúdo para as mesmas. O que mais me encanta neste mundo é que não há dois dias iguais, não é um trabalho rotativo em que se faz todos os dias o mesmo, pelo que há sempre algo a aprender”.

Filha e neta de pinhalnovenses de gema, “nascidos e criados, caramelos com orgulho”, Helena Simão tem 24 anos e trabalha na empresa Magjacol, no Pinhal Novo, depois de se ter licenciado no Instituto Politécnico de Setúbal em Gestão da Distribuição Logística.

“Tenho a felicidade de poder afirmar que todo o meu percurso de educação e formação até ao momento foi realizado no distrito de Setúbal, no qual sempre fui residente. Até ao 12.º ano estudei sempre em Palmela, tendo posteriormente passado por um Curso Técnico Superior Profissional em Logística no Instituto Politécnico de Setúbal (IPS)”, começa por contar. “Mais tarde, licenciei-me no IPS em Gestão da Distribuição Logística (GDL) e neste momento estou a frequentar o mestrado em Gestão de Marketing na mesma instituição”, adianta.

A escolha pelo IPS foi fruto de “testemunhos de familiares e amigos, da elevada taxa de empregabilidade que a generalidade dos cursos tem, e do facto de querer ingressar num curso e numa instituição com uma componente prática bastante forte”. A cereja no topo do bolo foi, segundo a jovem, “o facto de ser um curso leccionado numa instituição localizada na minha área de residência”.

Enquanto aluna, define-se como “muito trabalhadora, persistente e muito exigente comigo” e considera que o curso de Gestão da Distribuição Logística “abre muitas portas a nível

“Tive oportunidade de ingressar na Magjacol no seguimento de um projecto em distribuição e logística, elaborado por mim e por mais três colegas, no âmbito de uma unidade curricular que faz parte do programa do último ano do curso”, refere. “É proposto aos alunos o desenvolvimento de um projecto para colmatar ou melhorar alguma necessidade ou lacuna sentida por determinada empresa, disposta a acolher os alunos para tal. Como tal, eu e o meu grupo de colegas contactámos a Magjacol, que prontamente se demonstrou disponível em dar-nos todo o auxílio necessário”.

Agora exerce funções relacionadas com a gestão de aprovisionamento e compras, nomeadamente classificação e codificação de artigos, gestão de encomendas, gestão das plataformas de concursos públicos e ainda, “já mais relacionado com o

Helena Simão à queima-roupa

Idade: 24 anos

Naturalidade: Palmela

Residência: Lagoa da Palha, Pinhal Novo

Área: Gestão Logística

Na hora de alcançar os seus objectivos define-se como “muito trabalhadora, persistente e exigente”

Trabalhar e ao mesmo tempo frequentar o mestrado tem sido “bastante desafiante e tem testado sobretudo as minhas capacidades de organização”. Ainda assim “tem estado a correr muito bem e melhor até do que o que esperava. Já até consegui aplicar na Magjacol alguns conhecimentos que tenho vindo a adquirir no mestrado sobretudo na

área do marketing digital”. Neste sentido, encontra-se agora “a iniciar um estudo sobre o comportamento do consumidor em relação ao mercado das tintas e vernizes, que espero que se venha a revelar uma ferramenta útil a todos os intervenientes neste sector, sempre com o foco de atingir da forma mais eficaz e eficiente as necessidades dos consumidores”.

No que diz respeito a planos, o principal objectivo por agora é terminar o mestrado, “contudo reconheço que sou uma académica e já estou a namorar algumas pós-graduações. Em termos profissionais o meu foco é a Magjacol, enquanto me sentir estimulada, reconhecida e que sinta que faça a diferença”.

A viver no campo, dedica a maior parte do seu tempo livre a cuidar dos seus animais. Entre cães, gatos, ovelhas e galinhas, soma no total cerca de 20. “Como qualquer outra pessoa, também gosto muito do convívio entre amigos, de simplesmente não fazer nada, tendo em conta que o meu dia-a-dia é tão agitado, de e pintar. É uma actividade muito calmante e que me dá bastante prazer”, partilha.

Residente na Lagoa da Palha, encontra no Pinhal Novo uma vila que está a tornar-se “cada vez mais moderna, porém sem nunca esquecer as suas raízes e tradições. Sempre foi uma vila de passagem e agora cada vez mais é um sítio onde as pessoas querem permanecer”.

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A jovem está já a aplicar no trabalho conhecimentos adquiridos no mestrado na área do marketing digital
DR
Inês Antunes Malta
Por agora o objectivo é terminar o mestrado em Gestão de Marketing mas reconheço que já estou a namorar algumas pós-graduações

Educação e Ensino

“Integrar o programa Erasmus foi uma das experiências mais enriquecedoras de sempre”

Aluno de mérito da Escola D. João II no secundário, o projecto de intercâmbios European School Network abriu-lhe as portas para viagens que moldaram o seu percurso até hoje

Duarte Mayer nasceu em Lisboa, mas o facto de ter crescido em Setúbal, onde vive até agora, fá-lo sentir-se “inegavelmente setubalense”. Estudou sempre em escolas da cidade, com destaque para a Escola Secundária D. João II, onde começou “a participar mais activamente na vida da comunidade escolar”. Ao integrar o European School Network, programa internacional de intercâmbio entre escolas secundárias europeias que haveria de mudar a sua vida, viajou até França, Holanda e Itália.

“Com coordenação da professora Adelaide Botelho, fazíamos vários projectos de intercâmbio e todos os anos recebíamos alunos de mais de 25 escolas da Europa. Cada escola tem o seu projecto e na D. João II, na Open Air Activities Week, que ajudava sempre a organizar, praticávamos actividades náuticas, desportos e mostrávamos a cidade a todos os estudantes”, refere. "Recebíamos os jovens em nossa casa tal como depois também ficávamos

Duarte Mayer à queima-roupa

Tendo línguas, geografia e história como áreas onde seria feliz, mantém por agora o seu futuro em aberto

nas suas e visitávamos os projectos das respectivas escolas. Neste meu percurso tive professores que me inspiraram mesmo e foram um apoio incrível”, continua.

Nestes projectos de intercâmbio, que lhe trouxeram amigos que mantém até hoje, “ia para a escola com eles, estava em casa deles, contactava com as famílias e isso foi muito enriquecedor. Permitiu-me conhecer outras culturas e aperfeiçoar algumas línguas, o que para a minha formação e área de interesses foi uma oportunidade mesmo maravilhosa”.

Gosto pelas temáticas trabalhadas tornou-o num aluno de mérito Neste mesmo período, “por ter entrado numa área de que gosto realmente, Línguas e Humanidades, comecei a ter um grande interesse por praticamente todas as cadeiras e isso fez com que me dedicasse mais. Adoro história, línguas, arte também”. Duarte Mayer conta ainda que ao longo do seu percurso académico nunca foi “um aluno marrão. Trabalhava e era organizado. No secundário, com o objectivo de entrar naquela licenciatura bem definido, estava a estudar algo de que gostava

mesmo e por isso aconteceu tudo de uma forma natural”.

No decorrer da licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, que terminou recentemente, o jovem participou no Programa Erasmus. “Efectivamente trouxe uma bagagem muito forte do secundário. Tenho um grande interesse pela história, arqueologia, geografia e especialmente pelas línguas e esse foi um grande trunfo, especialmente para Erasmus, que foi na minha opinião uma das experiên-

cias mais enriquecedoras de sempre”, partilha. “Estive em Itália, em Trieste, e mergulhei mesmo muito. Não tive tanto aquela experiência de estar com outros alunos estrangeiros, foi mais entrar mesmo na cultura e foi fantástico, dos melhores momentos da minha licenciatura”, adianta.

Fez amigos italianos, aprendeu a língua muito rapidamente e considera que em Itália teve “algumas das cadeiras” e leu “dos livros mais interessantes” da sua vida. A licenciatura, no seu todo, foi “uma excelente oportunidade para conhecer pessoas novas, alargar alguns horizontes, aperfeiçoar algumas competências que tinha e estudar uma série de coisas diferentes, e que acho interessantes, juntas no mesmo espaço”.

Entre planos para o futuro, encontra-se a preparar as candidaturas a mestrado, “deixando algumas opções em aberto porque há várias coisas que não me importava de estudar e que me vejo a fazer”. Nesta fase, considera ainda que “por ter conhecido tantas pessoas, realidades diferentes e opções fantásticas, são tantas áreas de que gosto imenso que acho que qualquer uma dessas áreas, línguas, geografia ou história, me faria feliz”.

Com gosto por ler, estar com os amigos, ir à praia e viajar, o jovem define a fotografia como o seu hobbie “mais interessante”, ainda que muito pessoal. No presente, tem o objectivo de certificar os seus níveis linguísticos e “apoiar ou candidatar-me ao Erasmus Student Network ou a algo semelhante. Gosto muito deste tipo de projectos e penso investir nisso”.

Nas suas palavras, Setúbal, por cuja história tem também um gosto enorme, “é uma cidade fascinante. Acho que não valorizamos tanto até sairmos daqui e entendi muito isso quando fui para Lisboa. Quando me perguntam fico sempre com um sorriso na cara e gosto de explicar todas as vicissitudes e coisas interessantes que Setúbal tem”. Neste sentido, tem trazido amigos para conhecer a cidade, vindos de Lisboa e de outros pontos do país e do mundo. “Fico triste por às vezes não ser valorizada, mas tem mesmo imensas possibilidades. Para onde for direi sempre que sou setubalense, com mesmo muito carinho pela cidade”, remata.

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Apesar de ter nascido em Lisboa, sente-se setubalense e considera que a cidade tem "imensas possibilidades" Idade 20 anos Naturalidade Lisboa Residência Setúbal Área Ciência Política e Relações Internacionais Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografia)
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Educação e Ensino

JOÃO PEDRO ALVES SILVA

“As crianças precisam de construir as suas aprendizagens também através da presença masculina”

Educador de Infância, integrado num meio ainda muito ligado ao universo profissional feminino, João Silva contesta espartilhos sociais

“Que skills devemos ter à saída de um mestrado ou de uma licenciatura que visa mediar e ensinar crianças? Que postura devemos adoptar perante as nossas práticas?”. São questões que se colocaram, e ainda se mantém, a João Pedro Alves Silva, educador de infância; num contexto profissional ainda muito conotado no domínio de mulheres.

A exercer profissão no ambiente da escola Superior de Educação do Instituto Piaget de Almada, diz que esta instituição lhe está no ‘sangue’. Uma escola que conhece desde tenra idade, que frequentou numa IPSS, e que por coincidência é a mesma em que desempenha funções de educador de infância. Aos 25 anos, não tem dúvidas de que os homens também são fundamentais no ensino das primeiras idades.

O que o motivou a seguir o ensino Superior de Educação do Instituto Piaget de Almada?

É uma escola que conheço desde tenra idade. Em pequeno frequentei uma IPSS que, por coincidência, é a mesma em que desempenho as minhas funções de educador de infância e que realiza algumas das suas festas na aula magna do Campus de Almada do Instituto Piaget.

Orgulho-me imenso por ter escolhido o Instituto Piaget de Almada para realizar a minha formação académica, pois tive a oportunidade, em conjunto com os meus colegas, de dar início a um conjunto de novas directrizes,

novos olhares sobre o que deve ser a formação de professores e educadores de infância.

A que oportunidades se refere? Que skills devemos ter à saída de um mestrado ou de uma licenciatura que visa mediar e ensinar crianças? Que postura devemos adoptar perante as nossas práticas? Estas foram algumas das relevantes questões que, ao longo dos cinco anos em que frequentei a instituição, me foram colocadas. Além do mais,

pude desfrutar de aprendizagens activas, em que, em conjunto com os professores, construímos projectos magníficos que marcaram a instituição e a todos nós. Uma visão holística sobre a educação, em que a transdisciplinaridade tenta ultrapassar as barreiras e muros que costumam ser apanágio no ensino em Portugal. Foi todo esse ‘encaixe’ que o motivou a licenciar-se na área de Educação Básica e, posteriormente, fazer mestrado

em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico?

Cresci na escola e literalmente quase que lá vivia. Na minha família sempre houve muitas pessoas a trabalhar em escolas, nas mais variadas funções. Portanto, para mim é um ambiente em que me sinto bem e seguro.

Estimulado pelos professores, auxiliares e outros intervenientes do meio educativo, posso dizer que talvez a minha curiosidade, gosto

pela partilha de experiências e, incessante vontade de conhecer e descobrir, proporcionaram a oportunidade de seguir o caminho da educação.

Directa ou indirectamente, a escola tinha algum tipo de influência em mim. Desde que me lembro, que me fascina o facto de poder ajudar alguém a aprender. Poder mostrar aos outros aquilo que ainda não viram ou não fizeram. Há sempre algo a acrescentar a cada pessoa, algo de diferente, alguma magia que [transpira] para a minha vida e para a de quem ensino; tal como devem fazer os professores e educadores de infância, na sua busca incansável por conhecimento e novas aprendizagens.

Caso não tivesse seguido esta via de licenciatura e mestrado que outra seria?

Ponderei, seriamente, a licenciatura em Animação Socio Cultural. Revejo-me em muitas das coisas que fomentam nesta área, que tem tudo a ver com educação. A área social tem que ter a ver com educação. Aliás, nas minhas práticas, os valores que tento transmitir, são sempre voltados para as necessidades inerentes que a sociedade vai requerer obrigatoriamente às crianças. Elas são os futuros adultos. Tomarão decisões importantes, que com certeza irão ter influência em vários paramentos da sociedade e na vida de alguém. A nova educação, tem muito a ver com a consciencialização participativa. Ensinar a pensar, a reflectir, a ter opinião própria. Sobretudo a ter voz activa, que possa influenciar positivamente, com ideias que visem principalmente o bem comum.

O que o fez escolher a Escola Superior de Educação Jean Piaget de Almada?

Em primeiro lugar o facto de já conhecer as instalações. É muito importante para mim estar onde me sinto bem. Sou assim em tudo na minha vida. Tal como as crianças, para aprendermos

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Depois de ter investigado, concluiu que os homens docentes desempenham as suas funções com a mesma competência que as mulheres Humberto Lameiras DR

qualquer coisa, em primeiro lugar, é importante sentir segurança e bem-estar no sítio onde estamos, no espaço que frequentamos e que experienciamos a aprendizagem. Também ajudou a simpatia e empatia do pessoal docente e não docente que lá trabalha. Acima de tudo, a qualidade dos professores e a experiência que sabia que iria adquirir. Quase todos os professores e educadores que conhecia, até ingressar na licenciatura, eram formados no Instituto Piaget, muitos deles meus professores e educadores, portanto, era a escolha mais lógica para mim.

Actualmente, é Educador na Nuclisol Jean Piaget do Bairro do Condado na sala dos 3 anos. Que motivação lhe dá esta função?

Neste momento desempenho funções como educador de infância numa sala com crianças de 3 anos de idade. Das duas vertentes a que estou habilitado, ser educador de infância e trabalhar com crianças com idades entre os 3 e os 5 anos, tem sido o meio mais familiar a nível profissional. Não que os estudantes mais velhos não me inspirem também, pelo contrário. O facto de darmos a conhecer pela primeira vez, ajudarmos a delinear a personalidade, a formar as primeiras opiniões sobre coisas simples, mas que são a base para aprendizagens mais profundas, encanta-me e motiva-me todos os dias.

Não há maior motivação para um mediador de aprendizagens do que pensar que as crianças que ajudamos hoje e que desempenham um papel imprescindível na sociedade actual, irão desempenhar e decidir amanhã, enquanto adultos. O contexto profissional, Educador de Infância, é muito conotado com o universo feminino. Como vê este facto? Tenho-me debruçado sobre esse tema ao longo do meu percurso. Não só por ser homem, mas por ser sobretudo alguém que pretende entender a razão pela qual as coisas acontecem e são, ou não, de uma determinada maneira. Neste caso, perceber o porquê de existir uma esmagadora maioria de mulheres a desempenhar funções como docentes nas primeiras idades. Nunca pretendi provar que os homens devem, ou são urgentemente necessários no ambiente educativo, mas é facto que são! A presença masculina nas crianças é muito menos activa do que a feminina? As crianças precisam de ter contacto com o

masculino, de construir as suas aprendizagens também através da presença masculina e é nosso dever dar-lhes também essa oportunidade. O nosso papel enquanto profissionais docentes deve ser sempre o de apoiar, mediar, educar, desenvolver, cuidar e estimular as crianças para as aprendizagens, sejamos nós mulheres ou homens. Tem vindo a aprofundar esse tema.

A decalagem que existe no número de pessoas do género masculino e feminino a nível da docência nas primeiras idades, deve-se ao facto do envolvimento social, que em pleno seculo XXI, ainda exige do homem um comportamento profissional mais “empenhado” ao nível do que achamos que é obrigação do homem ou da mulher.

Ainda é imposto ao homem um certo distanciamento ao nível familiar e um apropriamento da responsabilidade de ser aquele a quem recaem as maiores

responsabilidades, e que nada têm a ver com a família e neste caso as crianças.

Considera que ainda é essa a visão da sociedade?

Esta postura tem vindo a alterarse, tanto na sociedade em geral, que tem alterado as suas opiniões, como na sociedade política que tem tomado algumas medidas que permitem modificar este paradigma: A implementação de medidas de organização e definição do trabalho dos professores e educadores de infância, a implementação de um determinado nível de ensino para exercer funções docentes, o alargamento das licenças parentais, a valorização eminente da diferenciação de género… Penso que todos estes temas têm contribuído para voltar a motivar o género masculino a envergar pela docência, e pelo desempenho e envolvimento na vida familiar. Como comenta o que escreveu sobre “o exercício da profissionalidade docente e o género masculino, focado nas práticas educativas com as primeiras idades”. Foi exactamente o tema da investigação que escolhi para a obtenção do grau de Mestre e que visava, sobretudo, perceber em que medida o género do educador de infância/professor, influencia a sua prática profissional, debruçandome sobre algumas questões: Será que pelo facto de ser homem, não posso desempenhar a profissão de educador/professor, com a mesma, ou melhor competência que as

mulheres? Será que a relação entre um educador do género masculino e as crianças pode ser tão boa, ou melhor do que com as docentes do género feminino?

A que conclusão chegou? Concluída a investigação e sendo que antes de a realizar já tinha vivenciado experiências em contextos reais, que me permitiam ter formada uma opinião pessoal sobre o tema, foi possível constatar, que o género do educador não influencia negativamente as suas práticas, as suas atitudes e a qualidade da sua profissionalidade. Apesar de existirem autores que afirmam que, há mais de quarenta anos atrás, quando se formou o primeiro educador de infância, a sociedade pensava que a profissão se destinava a jovens do género feminino, que estariam à espera de criar a sua própria família ou que não sabiam fazer mais nada, neste estudo, concluímos que o género do docente, não tem qualquer influência na qualidade de desempenho das funções, sendo que estas englobam também a relação com as crianças.

Deste modo, e em concordância com a minha opinião préinvestigação, confirmou-se que os homens docentes, podem desempenhar as suas funções com a mesma ou melhor competência que as mulheres, e que podem, de igual modo, criar o mesmo tipo de relação com as crianças que uma profissional docente do género feminino. Aliás, como disse anteriormente, os processos de educação e de socialização das crianças, a formação da sua identidade e dos seus comportamentos, ganham num ambiente que seja mais próximo dos ambientes familiares, onde as diferenças de género estão presentes.

Sente que a sua vocação é continuar profissionalmente neste domínio do ensino/ educação?

Nunca nego que tenho ambição de ter outras experiências. Mas todas elas recaem sobre o ambiente educativo. A organização do ambiente educativo, a gestão dos recursos materiais e humanos, a coordenação pedagógica, a presidência de uma instituição. Todas estas são hipóteses muito válidas para mim e que ambiciono para o meu futuro. Contudo, sou feliz neste contexto directo do ensino com crianças, que aliás, confesso ser o que me dá mais gozo e que acredito que dará a todos os docentes.

Como compatibiliza a sua

actividade profissional com a sua vida pessoal?

Nem sempre é fácil. A realidade da actividade profissional docente nas IPSS e nas escolas privadas, está repleta de burocracias. Mais ainda, a falta de pessoal competente que existe, causada pela diferenciação ao nível de salários que se praticam nos contextos públicos e privados, desmotivam os profissionais que aqui trabalham. As horas extraordinárias não remuneradas, a diminuição de apoios do Estado, o decréscimo do número de crianças, tudo isto dificulta e faz com que tenhamos de trabalhar muito mais para fazer a diferença, ocupando mais horas da nossa vida e do nosso quotidiano, em detrimento claro da nossa vida pessoal.

Pratica algum tipo de desporto, ou tem alguns hobbies?

Não é fácil ter tempo livre. A carga horária profissional é muito grande. Quase todos os dias, depois de sair da escola, preciso de preparar e planear as próximas actividades, rever algum processo, responder a e-mails dos encarregados de educação ou da direcção da escola. Contudo, consigo ter a noção de quando parar, respirar um pouco e pensar nas prioridades. É importante perceber e organizar o tempo que temos. Só assim os docentes em Portugal conseguem sobreviver às burocracias impostas pelo estado, segurança social e instituições que supervisionam o que fazemos na escola.

Em relação a isso, gostaria de apelar ao Ministério da Educação, à Segurança Social e/ou a algum outro órgão que tenha poder de decisão nestas matérias, para observarem que nem sempre as bonitas planificações, decoradas e enfeitadas com mil e uma intencionalidades, são realmente aquilo que as crianças precisam. O grupo e os estudantes ganham muito mais com experiências e dinâmicas diárias, que surgem das suas vivências pessoais e sociais. O trabalho por projecto, as aprendizagens activas, o foco nas aprendizagens integrais, são aquilo que realmente importa, mas que precisam de tempo para ser postas em prática. Tempo esse que passamos a preencher papelada, por vezes desnecessária e sem finalidade prática.

Voltado ao cerne da questão, tenho um certo fascínio por automóveis, pela bricolage e também pela decoração. Pensar como as coisas são feitas, construídas e montadas. Planear onde colocar os objectos e utensílios, de forma a parecerem bem e servirem da melhor maneira.

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25 anos Naturalidade
Idade
Almada Residência Lisboa Área Educação de Infância “Sou feliz neste contexto directo do ensino com crianças”
DR
João Pedro Alves Silva à queima-roupa

Educação e Ensino

FÁBIO RODRIGUES

Professor do Piaget de Almada já presidiu ao Gestão Summit

Licenciado em Gestão no ISEIT do Piaget de Almada, é aqui que também actualmente ensina sobre os desafios dos mercados e inovação

O percurso académico de Fábio Rodrigues decorreu em Lisboa, mas quando chegou a altura da formação Superior escolheu o ISEIT - Instituto de Estudos Interculturais e Transdisciplinares no Instituto Piaget de Almada para se licenciar em Gestão. E nesta ‘casa’ chegou a ser presidente do prestigiado Gestão Summit.

Terminada a licenciatura, foi convidado para ser Professor Assistente Estagiário – “um orgulho enorme”, diz – passando a leccionar as Unidades Curriculares de Estatística I e II na Licenciatura de Gestão, e pouco depois, foi convidado para ser professor na Escola Profissional Jean Piaget, que pertence também ao Instituto Piaget, para leccionar as disciplinas de Matemática e Economia.

Mas até chegar aqui ultrapassou várias etapas. Foi no Secundário, onde tirou o curso de Ciências Económicas que o “bichinho” da Gestão entrou na sua vida. “A máxima de ‘fazer mais com menos’ sempre foi algo que me cativou, e esse deve ser o papel fundamental do gestor”, sublinha.

Com este objectivo, começou por tirar o Curso Técnico Superior Profissional no Instituto Superior de Tecnologias Avançadas (ISTEC) em Informática e Gestão para “ter contacto mais específico com a área da Gestão, e também ter alguns conhecimentos de Informática”.

“Considero que um gestor deve ter conhecimentos transversais que lhe permitam tomar a melhor decisão possível, e sendo a Informática cada vez mais o futuro, quis aprender nestas duas áreas, percebendo como se podiam interligar”. “Assim, consegui ter completa noção que o que gosto e o que queria para o meu futuro era estar ligado à Gestão”. Nesta altura, o

Piaget de Almada ainda não estava no seu caminho.

Com consciência de que o mercado é cada vez mais competitivo, e a certeza que era Gestão que queria seguir, havia que optar por uma Faculdade. Após pesquisas e reuniões com os coordenadores das licenciaturas de várias instituições, uma delas foi com o Professor Doutor João Geraldes, coordenador da Licenciatura de Gestão do ISEIT do Instituto Piaget de Almada, que lhe deu a saber o que ali era feito, e como. “Esta conversa deixou-me muito motivado e entusiasmado”, conta.

E foi no ISEIT que veio a encontrar “docentes altamente qualificados e com experiência profissional na área, além dos protocolos existentes e a metodologia de proximidade entre professores-alunos que “facilitam a aprendizagem”.

Neste momento, Fábio Rodrigues que, aos 23 anos é licenciado em Gestão, e professor, está a aprofundar os seus conhecimentos através do Mes-

trado em Gestão na ISCTE Business School.

Com a via da Gestão a marcar o seu percurso, revela que se o caminho não fosse este estaria ligado à actividade desportiva. “Fui jogador de futsal e árbitro de futebol, por isso o desporto sempre esteve presente na minha vida, e confesso que sou apaixonado pelo mesmo. Por isso, se não fosse a Gestão, teria de ser o desporto”.

Mas a Gestão venceu, e do desporto ter-lhe-á ficado a faceta de ser actuante e activo. “É uma pessoa extremamente dinâmica e com uma maturidade e inteligência acima da média”, diz quem o conhece. E o jovem que aos 14 anos já era árbitro de futebol, o que o fez “crescer muito rápido” e lhe deu “sentido de responsabilidade, organização, saber na resolução de problemas e capacidade organizacional”, veio a tomar a responsabilidade liderar a organização do Gestão Summit, um evento anual que marca o dia da Licenciatura de Gestão do Instituto Piaget

DR

Fábio Rodrigues à queima-roupa

Idade 23 anos

Naturalidade Vila Franca de Xira Residência Vialonga Área Ensino e Educação

“As aulas são de aprendizagem mútua. Vocês aprendem comigo, mas eu aprendo muito convosco também”

conhecer as empresas parceiras e as suas melhores práticas de Gestão”.

No ano seguinte, 2021, foi eleito presidente do Gestão Summit e liderou uma equipa de 23 pessoas, organizada em cinco departamentos, que contou com o apoio de mais de 60 empresas. “Foi uma edição histórica, principalmente por ter sido a primeira em regime híbrido, e também a mais vista”, lembra. “Foi um orgulho para mim ter deixado essa marca. Foi, sem dúvida, a experiência mais desafiante e, ao mesmo tempo, a mais enriquecedora de todo o meu percurso até hoje”, acrescenta.

de Almada, e é ‘construído’ integralmente pelos alunos dos três anos da licenciatura.

“Sou dedicado e apaixonado pelos projectos em que me envolvo. Se estou envolvido em algo, não posso dar menos que o meu melhor”, afirma.

A sua participação no Gestão Summit, evento de referência que aborda as mudanças, desafios e exigências da gestão no mundo empresarial, e que conta com oradores de excelência e várias empresas parceiras, começou logo no seu 1.º ano de Licenciatura (2019) como membro da Comissão Executiva onde esteve até à edição de 2020.

“Nestes anos fui responsável pela angariação de parceiros e patrocinadores - inclusive media partner's -, contacto com oradores e moderadores, e contámos com mais de 30 empresas parceiras em cada edição.

Foram dois anos de muita aprendizagem o que me possibilitou ter um contacto real com o mercado de trabalho,

A experiência agora é como professor na ‘casa’ que diz ter sido para si “muito especial” e, passado um ano lectivo, afirma que foi “uma caminhada muito entusiasmante e desafiadora”, e onde tem “aprendido imenso”. “É como digo aos meus alunos “as aulas são de aprendizagem mútua. Vocês aprendem comigo, mas eu aprendo muito convosco também”.

A docência é algo que vê como profissão a tempo inteiro. “Uma paixão”, afirma. No entanto, a curto prazo, também tem na mira novas experiências no mercado de trabalho. “Com dedicação e uma boa gestão de tempo, é sempre possível conciliar ambas as coisas”, considera.

Além da sua formação académica, Fábio Rodrigues, fez os cursos de Liderança Académica, Felicidade Organizacional, Public Speaking, Falar em Público, Competências Pedagógicas e Soft Skills. Conta que já praticou natação, surf, futebol, futsal, karaté, teatro e voluntariado (que ainda faz quando pode), mas hoje os seus principais hobbies são o futebol, ler e estar com os amigos.

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Fábio diz ser dedicado e apaixonado pelos projectos em que se envolve, e que não pode dar menos que o seu melhor Humberto Lameiras
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Ensino e Educação

A Quadro de Mérito que se sente atraída pela política e sonha vir a ser governante

Estudante de Almada, de 16 anos, quer ver os jovens ouvidos e reconhecidos.

Considera que muitos políticos estão desactualizados

ramente, num lugar entre governantes. “Gostaria de um dia estar no Parlamento Europeu, ou no governo em Portugal. Quando temos ambições, têm de ser altas”, afirma.

Na primeira semana deste mês de Julho, era possível encontrar Marta Canilhas a fazer voluntariado numa associação em Lisboa que cuida de pessoas sem-abrigo, na semana seguinte, a frequentar um programa de Verão na Universidade de Lisboa, na área de Direito. Hoje, talvez tenha regressado ao voluntariado, ou esteja na Universidade de Verão em Coimbra, a que se candidatou.

Não é fácil acompanhar a velocidade em que vive esta jovem de 16 anos, que no ano lectivo 2022/2023 vai estar a frequentar o 11.º ano do Curso de Línguas e Humanidades, e tem o nome inscrito no Quadro de Mérito da Escola Fernão Mendes Pinto, em Almada. Daqui a uns bons anos, depois de terminar o Curso Superior de Relações Internacionais, que quer seguir, talvez a encontremos no Parlamento Europeu, ou na governação de Portugal.

“Sinto-me muito orgulhosa dela”, diz a mãe de Marta, entre algum embaraço na voz a denotar também um sorriso de conforto. O mais certo, é ter a filha envolvida na política ou numa área social a vincar ideias, o que não se sabe é se em Portugal ou no estrangeiro. É que além do objectivo de Marta Canilhas em ter voz no mundo da política, também está decidida a descobrir outros países.

“Gosto de conhecer outros países e de saber como funcionam. Gosto de trabalhar com pessoas de diferentes lugares e perceber como vivem”, diz Marta; e por isso tem em vista a formação Superior em Relações Internacionais. “Quero ir para fora de Portugal e ficar algum tempo, e se conseguir emprego por lá, vou agarrá-lo; adquirir mais conhecimentos e, depois, obviamente voltar ao meu País”, projecta. É neste ciclo de vida que se vê, futu-

Já conhece as cadeiras da Assembleia da República através dos dois anos em que participou no Parlamento dos Jovens, primeiro ainda no 8.ºano em que o tema desta iniciativa da Assembleia da República e acompanhada pelo Instituto Português do Desporto e Juventude, foi sobre a violência doméstica, e agora no 10.º ano sobre informação em democracia e medidas para combater as Fake News.

“É muito importante os jovens participarem e debaterem este tipo de projectos. Definirem, entre si, propostas para a solução de problemas que existem na sociedade”. Um debate que diz ser importante para desenvolver a sua intelectualidade, conhecer novas ideias e também pessoas de outras escolas. E, para quem gosta de política, “é muito bom participar nestes projectos”, afirma.

Ao mesmo tempo, também forma o seu pensamento político ouvindo e analisando debates. “Gosto de acompanhar debates da Assembleia da República, e ouvir os comentadores a avaliarem políticos e políticas”; e já consegue tirar algumas conclusões: “Por vezes, parece que os políticos não vivem na nossa era”.

E o mesmo diz ser válido para a sociedade comum dos adultos, pelo que não tem dúvidas de que os jovens deviam ser chamados mais vezes a pronunciarem-se, nomeadamente quanto a assuntos relacionados com os direitos humanos que “não são respeitados”.

Marta Canilhas à queima-roupa

Idade: 16 anos Naturalidade: Almada Residência: Corroios, Seixal Área: Línguas e Humanidades “Gostaria de um dia estar no Parlamento Europeu, ou no governo em Portugal. Quando temos ambições, têm de ser altas”

“É pouco inteligente não prestar atenção às ideias dos jovens. Nós estamos a crescer e temos conhecimento de muita coisa. Estamos a crescer numa era diferente daquela em que cresceram os adultos. Os jovens que se interessam pelos problemas da sociedade têm muita coisa a dizer, e não podemos ser inferiorizados pela nossa idade”.

A jovem, que diz ver o mundo “muito desequilibrado”, em que o dinheiro está “na frente de tudo” e que as causas sociais “ficam para trás”, mostra ter já as suas ideias para que o País cresça de acordo com as necessidades de cada região.

“É preciso começar pela base. Se as regiões definirem objectivos de crescimento conjuntos, podem fazer-se ouvir melhor pelo Estado”. E aqui envolve também os jovens; “juntos temos poder e podemos ajudar a mover um sistema que está um bocado parado”. Vai mais longe: “Se os jovens da Europa se juntarem em volta de algumas questões, podem até conseguir que as suas ideias cheguem à União Europeia”, e acrescenta: “Podemos fazer muita coisa, basta querer, este é o poder do ser humano”.

Não admira assim que Marta Canilhas, ainda no início da sua juventude, projecte já o seu caminho para se afirmar na política. “Gosto de política, gosto das pessoas, gosto de contribuir para resolver os problemas sociais e participar activamente naquilo que posso ajudar”. Daí que, mal teve idade para participar em voluntariado, ‘meteu-se a caminho’.

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É pouco inteligente não prestar atenção às ideias dos jovens. Nós estamos a crescer numa era diferente
Marta Canilhas tem a noção de que os jovens têm o poder de mudar o mundo Humberto Lameiras DR

O aluno cheio de ideias que “representa” o ensino básico da região

O seu dinamismo levou a Escola Básica D. Manuel I, de Alcochete à Assembleia da República. Ricardo não foi o único aluno do distrito na sessão Nacional, mas o seu papel destaca-se no grupo

informação que não é mesmo informação, mas coisas inventadas”.

Interessado por questões sociais, Ricardo, com 15 anos, que tem participado em debates, fala na necessidade de existirem ferramentas que “ajudem as pessoas a perceber o que é mesmo verdade”, por isso, viu uma oportunidade quando o tema deste ano da edição 2021/2022 do Parlamento dos Jovens, uma iniciativa da Assembleia da República e organizada pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), era precisamente encontrar estratégias para combater a desinformação, em boa parte nas redes sociais.

“As inscrições estavam mesmo a terminar quando, na aula de Cidadania, surgiu, por conversa, a possibilidade de se criar um projecto. Eu tinha muita vontade de participar, e como a minha turma era muito capacitada nestes temas, decidimos avançar”.

Com as candidaturas a funcionarem por turmas, e muitas delas já com um “avanço de três meses de preparação de projectos”, o grupo onde Ricardo Margal estava integrado teve de lutar contra o tempo.

“Cada projecto tinha de propor três medidas, as nossas eram criar um site com ferramentas para denunciar as Fake News; definir multas para empresas ou pessoas singulares que criem notícias falsas e criar campanhas de sensibilização em escolas, lares e também reforçar o tema das Fake News na disciplina de Cidadania. “Tivemos de estudar muitos para que as ideias que propusemos fossem possíveis de aplicar”.

Discursou na Assembleia da República, mas o seu grupo não foi escolhido para fazer a pergunta aos deputados: “Era sobre a falta de professores, mas outra comissão fez pergunta idêntica”, e também as medidas do projecto que representou não entraram no projecto de recomendação entregue aos deputados.

Em Junho, Ricardo Margal, ainda no 9.º ano da escolaridade, esteve na Assembleia da República conjuntamente com vários outros alunos do Distrito de Setúbal e do País, na sessão Nacional do Parlamento dos Jovens para debaterem e apresentarem ideias sobre o ensino e também propostas para denunciar e consciencializar as pessoas sobre o perigo das Fake News que, em crescendo, proliferam nas redes sociais.

“É preciso saber distinguir entre o que é falso e o que é verdade”, diz. “É perigoso se as pessoas forem manipuladas”, comenta e aponta que, actualmente, “nem é preciso um computador; basta um telemóvel para se ter acesso a um [mundo] de

Em representação da Escola Básica 2,3 D. Manuel I, de Alcochete, acabou por ser um dos alunos deste nível de ensino escolhido para apresentar propostas aos deputados da Nação, apesar de nem tudo ter corrido como desejava, mas o importante “foi o desafio de fazer um projecto e definir propostas”, afirma.

Quando falou com O SETUBALENSE, Ricardo Margal era ainda aluno do 9.º G, uma turma que os professores “consideravam ser muito criativa nas apresentações de trabalhos”, comenta. “Uma boa razão para aceitar o desafio de estar no Parlamento dos Jovens”, o problema é que a decisão de participar ‘caiu’ muito em cima do fim do prazo de candidatura.

Gosta de jogar futebol, apesar de “não ser grande coisa a jogar”, mas teve de pôr a bola de lado e, com os colegas, “passar muitas tardes e noites, por altura do Natal” para preparar o projecto até Janeiro. A seguir, a luta foi a semana da campanha para conquistar votos para as ideias do projecto. “Correu muito bem, fomos elogiados pelo que apresentámos”, e quando chegou a eleição do melhor projecto, aquele onde estava Ricardo Margal saiu vencedor.

As fases seguintes passaram por sessões distritais e regionais, participou na reunião distrital do Parlamento dos Jovens, que este ano decorreu na Câmara do Seixal, e dias depois estava entre alunos na sessão Nacional na Assembleia da República a representar, com outra colega, o Ensino Básico do Distrito de Setúbal, para apresentar ideias aos deputados.

O que correu menos bem é que o projecto de recomendação da escola, que depois passou para o Distrito de Setúbal, na sessão Nacional, a 10 de Junho, acabou por não ter a visibilidade que Ricardo Margal queria.

Ricardo Margal à queima-roupa

Idade 15 anos

Naturalidade Alcochete

Residência Alcochete

Área Aluno da Escola Básica D.

Manuel I

Com pouca inclinação para as ciências exactas e sem vocação para as artes, o caminho que já definiu é o das Humanidades

Nada de lamentos. “Para o próximo ano lectivo, no 10.º ano, quero voltar a participar no Parlamento dos Jovens”, afirma já. Também decidida está a opção pela área de Línguas e Humanidades. Aliás, é essa a via que lhe foi indicada pelos testes do programa de vertente profissional.

“Gosto de falar com as pessoas e de escrever”, diz Ricardo, quanto a disciplinas, a preferida é a de Português. “Não gosto muito de Ciências ou Físico-Química, nem me vejo a fazer nada relacionado com isso”. Quanto a Matemática, admite que até gosta, mas também lhe diz pouco, e na área de Artes; “sou um zero à esquerda”, confessa. O caminho é mesmo pela via das Humanidades, embora ainda não se tenha focado em qual curso seguir no ensino Superior. “Espero que o 10.º ano me abra horizontes, para depois decidir”.

Quanto a novos projectos, por agora nada tem definido; “jogar futebol e estar com os amigos, porque durante o tempo de aulas tenho pouco tempo”.

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Com apenas 15 anos, Ricardo já participou em vários debates e outras iniciativas. Interessa-se pelas questões sociais e defende a importância da transparência e da verdade Humberto Lameiras
DR

Ensino e Educação

A estudante da Secundária de Alcochete que quer ser ministra das Finanças

Matemática é a sua disciplina preferida, mas os números não a afastam do pulsar das questões sociais. Fez parte do Parlamento dos Jovens e quer soluções

Aos 17 anos, feitos em Abril, Susana Santos, estudante na Escola Secundária de Alcochete, perspectiva já que no futuro quer ser ministra das Finanças, entretanto vai forjando conhecimentos entre o ensino lectivo, participação em projectos da escola e a acompanhar fóruns de debate locais. “Gosto de saber sobre o que se está a passar em Alcochete e nas freguesias do concelho”, diz.

A sua preferência vai para as actividades intelectuais; desporto diz que gosta de ver, mas praticar nem por isso, só mesmo nas aulas de Educação Física.

Senhora de um espírito crítico, defende que a escola deveria reconhecer aos alunos mais do que o conhecimento aferido em testes ou participação em aula: “Não somos apenas uma nota; um número, só isso não reflecte, nem avalia o que somos. Somos muito mais do que isso. Também deveria ser considerada a nossa participação em projectos e interesses na sociedade”, afirma.

Na altura em que Susana falou com O SETUBALENSE, em Junho deste ano, estava a frequentar o 11.º ano na área das Ciências Socioeconómicas, com as disciplinas de Economia e Geografia. Diz ser boa aluna, e define já que quando terminar o 12.º ano quer seguir Economia ou Marketing, a dúvida está em qual Universidade; uma questão de médias a que os alunos estão sujeitos e, casos há, em que leva a uma concorrência entre colegas que diz ser pouco benéfica. “Por vezes cria-se um ambiente mais pesado”, comenta.

O certo é que quer seguir um curso que tenha Matemática. “É a minha disciplina preferida”; e aqui, contas feitas,

bate certo com a vocação que sente pela área financeira. “A minha mãe contou-me que, era eu ainda pequenina, já dizia que ia ser ministra das Finanças, gostava de controlar o dinheiro”; (risos da mãe e de Susana). E ao vincar a questão: ministra das Finanças?, a resposta é: “Era bom, não é”.

Este ano foi uma das representantes da Escola Secundária de Alcochete na iniciativa Parlamento dos Jovem, pelo secundário, um fórum em que alunos, acompanhados por professores e outras entidades, debatem assuntos prementes relacionados

com a sociedade, e posteriormente levam propostas à Assembleia da República. Este ano o Parlamento dos Jovem reuniu 20 escolas do Distrito de Setúbal num debate na Câmara do Seixal, de onde saíram propostas de solução de combate à desinformação provocada pelas “Fake News”.

O Parlamento dos Jovens, criado em 1995, é uma iniciativa da Assembleia da República Portuguesa com o objectivo de promover e incentivar o trabalho democrático aos alunos do Ensino Básico e Secundário, simulando o processo das Eleições Legislati-

vas de Portugal.

“O objectivo é consciencializar as pessoas sobre problemas actuais que se lhe colocam, e pensar em como vamos ajudá-las. É uma forma de darmos a nossa opinião e fazermos parte de um processo”, interpreta.

Além deste projecto, Susana Santos envolveu-se este ano num outro, desta vez na área da Geografia proposto pelo professor da disciplina. O “Nós propomos”, desenvolvido no âmbito da área ‘específica’, envolve a participação de vários alunos com o objectivo de melhorar a localidade

onde residem, neste caso de Alcochete. “Cada turma foi dividida em grupos, com um máximo de cinco alunos, e o grupo vencedor apresenta a sua ideia à Câmara Municipal de Alcochete”. Este é o caso local para o território alcochetano, porque este projecto passa por um âmbito mais alargado com alunos do País a debaterem ideias e reunirem com o IGOT - Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa, para seleccionarem ideias.

“Considero importante estar conectada com o local onde vivo, e por isso quero participar nos projectos que entendo serem relevantes, e onde também se aprende-se sempre”, infere Susana Santos.

Além destes projectos e assistir a debates sobre o contexto social, e também político, Susana gostaria de ter tempo para muito mais, mas é-lhe difícil conseguir mais horas. “Este ano tive um horário complicado a sair da escola todos os dias às 18h30. Aproveitei as manhãs para estudar e ter ainda tempo para participar e ajudar a fazer coisas em casa”. Mesmo assim, encontra esforço para se envolver em projectos.

“Queria que o mundo fosse de oportunidades e permitisse que as pessoas se envolvessem em acções para se ajudarem umas às outras. “Se todas as pessoas forem tolerantes, e se se tentarem entender, o mundo seria muito melhor”, esta é a visão de Susana Santos que, um dia, quer chegar a ministra das Finanças.

Susana Santos à queima-roupa

Idade 17 anos

Naturalidade Alcochete

Residência Alcochete

Área Aluna da Escola Secundária de Alcochete

Os alunos não são apenas uma nota; um número, só isso não reflecte, nem avalia o que somos. Também deveria ser considerada a nossa participação em projectos e interesses na sociedade

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A tolerância, a igualdade de oportunidades, a cidadania e a solidariedade são valores de Susana Humberto Lameiras DR
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Ambiente

Um cenário pacífico. Um grupo de adultos em retiro espiritual em busca de tranquilidade e equilíbrio com o mundo em seu redor. Entre os presentes, salta à vista a presença de um adolescente de 13 anos que deixou de parte as brincadeiras da juventude para questionar o sentido da vida.

Para uns, um episódio peculiar, para André Gonçalves, um dia habitual no seu crescimento. Afinal, aos 10 anos foi apresentado ao Yoga pelo irmão mais velho e não tardou a que o seguisse para retiros de meditação.

vontade de fazer mais pelo planeta. Tornar-se um género de “guardião da natureza”, como lhe chama.

Já com uma Licenciatura em Gestão de Recursos Humanos, encheu-se de coragem e contou aos pais que não planeava seguir para Mestrado. “Um momento marcante”, lembra. Abraçou uma decisão mais verde e envergou por uma Pós-Graduação em Gestão de Sustentabilidade na Universidade de Lisboa.

ANDRÉ GONÇALVES

O

Rodeado de pessoas mais velhas, o jovem foi amadurecendo a visão que tinha do mundo até se tornar na pessoa calma e ponderada que hoje se senta à conversa na Praça do Quebedo, em Setúbal.

O discurso é bem preparado, fluído e revela facilidade em comunicar, não fosse fundador de uma organização de consultoria ambiental.

“Não consigo reter em mim o conhecimento”, começa por explicar. “Desde miúdo me apercebi que estava a par de coisas que as pessoas da minha idade não estavam, o que me deu uma vontade muito grande de transmitir o que sei”.

Construir “ferramentas para o bem” Inspirar os outros é o seu trabalho, mas não quer ser uma inspiração qualquer. Quer mostrar que a saúde mental em bom estado é uma alavanca para um planeta saudável.

“Queremos descarbonizar para quê? Para termos uma sociedade cada vez mais viciada em tecnologia que perde a capacidade de se conectar? Não, andamos à procura da felicidade e temos de perceber que as respostas estão menos lá fora e mais cá dentro”, afirma.

Foi com esses valores em mente que, em 2021, decidiu criar a ‘Tools for good’, Ferramentas para o bem, em português, uma organização onde desenvolve formações e workshop para pessoas individuais ou empresas que queiram apostar numa transição para a sustentabilidade.

Como ‘o saber não ocupa espaço’, não ficou por aí. Fez mais de 400h em Design Social, Ecológico e Económico com a Gaia Education, uma organização não governamental internacional (ONG) e tornou-se copywriter de empresas internacionais, escrevendo sobre os fenómenos ambientais que estão a afectar o mundo.

Num dos artigos por si escritos, alcançou um milhão de visualizações e aí se fez o “clique”: “As pessoas querem saber mais sobre isto”. Foram os primeiros indícios para a criação da ‘Tools for good’.

De Setúbal para a Comissão Europeia

“Não faças planos para a vida para não estragares os planos que a vida tem para ti”, cita o jovem. A verdade é que, há um ano, André tentou contrariar o que lhe estava reservado. Candidatou-se à unidade de ‘Biodiversidade’ do ‘Joint Research Centre’, o pilar da Comissão Europeia responsável por produzir artigos científicos, mas a candidatura perdeu-se e não foi seleccionado.

“Não fiquei contente, mas tal como na natureza, tudo acontece no momento certo”. Há cinco meses, recebeu um telefonema que fez a espera compensar. Foi seleccionado para a unidade de ‘Desastres e Riscos’ do ‘Joint Research Centre’, onde pode escrever sobre o que sabe e garantir que a mensagem chega a um número mais alargado de pessoas.

Aos 27 anos orgulha-se de escrever artigos científicos para a Comissão Europeia, mas o que ninguém sabe é que as respostas que hoje tem para a vida foram conseguidas na meditação que iniciou aos 10 anos.

Auxilia-se dos “milhentos” livros que leu ao longo da vida, dos autores que cita de cor e mostra que é possível ir construindo um futuro optimista. “Isto é feito para pessoas que não falam destes temas no dia a dia. No final da formação, cada pessoa percebe o que se está a passar no planeta e sabe que pode fazer a diferença”.

A escolha de um percurso verde

A conexão com a natureza começou nas sessões de meditação, mas só mais tarde é que André sentiu

André Gonçalves à queima-roupa

Idade: 27 anos

Naturalidade: Setúbal

Residência: Setúbal

Área: Ambiente

A transição para um planeta saudável passa por uma saúde mental equilibrada. Uma descoberta precoce que é a sua orientação

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de vida
Mariana Pombo (Texto) Mário Romão (Fotografia)
Desde miúdo, percebi que estava a par de coisas que as pessoas da minha idade não estavam, o que me deu uma vontade muito grande de transmitir o que sei
clarividente de Setúbal

Ambiciono que cheque o dia em qua a magia aconteça. Que apareça o gato Felis Silvestris numa das câmaras. Nesse dia toda a equipa corta o cabelo

“A natureza está cá para nos dar a vida, é a nossa casa”

Da Suíça relembra a infância, do Alentejo as primeiras passadas na área da monitorização ambiental e no Seixal impôs a missão de se tornar “protectora da natureza”

Aos 29 anos, Kelly Alberto não tem dúvidas do que é: uma protectora da natureza. Faça chuva ou sol, seja terreno montanhoso ou planície, a jovem seixalense está por perto, não fosse membro vigilante do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Há já cinco anos que faz das áreas verdes o seu habitat natural e quanto ao que encontra no “escritório de trabalho”, garante ser insubstituível: “Um corço com as suas crias, uma galinhola ao pôr-do-sol, um javali sob lua-cheia. Pode ser indescritível”, assegura. Os mais próximos garantem que tem “bichos carpinteiros ao invés de células”, mas Kelly argumenta que apenas é uma “criatura dedicada” com “muito amor à camisola”.

Por esse motivo, em 2021, foi convidada a integrar o ‘Grupo de Monitorização de Mamíferos da Direcção Regional da Conservação da Natureza e Florestas de Lisboa e Vale do Tejo’ do ICNF que controla a presença de espécies no território, recorrendo à técnica de armadilhagem fotográfica.

Da lista de capturas fotográficas fazem parte centenas de animais, mas ainda há um espaço especial destinado à observação de uma espécie em extinção.

“Ambiciono que chegue o dia em que a magia aconteça. Que apareça o gato Felis Silvestris numa das câmaras por nós montada. Ficou estabelecido entre os elementos do Grupo que, se tal feito ocorresse, toda a equipa cortaria o cabelo a pente zero”, conta.

A vontade de explorar a natureza não engana. Até aos 10 anos de idade, a jovem viveu em Martigny, uma pequena cidade suíça, rodeada pelas montanhas alpinas, e é a esta paisagem que remontam as primeiras memórias de infância.

Os passeios com a mãe junto ao Rio Rhône, entre as vinhas e os pomares, as “longas passeatas” de bicicleta com o pai até ao Lac du Rosel, onde aprendeu a nadar, e os domingos reservados a saborear crepes de queijo.

Em 2004, a paisagem mudou. Trocou os Alpes Suíços pelo calor do Baixo

Alentejo, onde, além dos montados de azinho e das “práticas agrícolas sustentáveis” encontrou “paz e calmaria”.

Foi precisamente no sul de Portugal que teve o primeiro trabalho na área, numa Zona de Caça Turística, em que, ao comando do Guarda dos Recursos Florestais da Herdade, acompanhava caçadas de diferentes espécies, até ter “despertado o bichinho da monitorização”.

Desses tempos guarda no coração a madrugada e o anoitecer no campo. “Um acontecimento sem precedentes”, afirma. Convida qualquer um a fechar os olhos e a imaginar um

montado imenso num final de tarde ao som de um veado a bramar. “Arrepiante”, relembra.

“Tenho imenso gosto naquilo que faço”

Encantada pelas bonitas paisagens que lhe foram moldando o crescimento, soube que era ao ar livre que se sentia “em casa”. Aos 20 anos, “com muito sangue na guelra e igual curiosidade” concluiu uma formação técnica em Conservação da Natureza e não tardou a embarcar em projectos na área.

Fez parte de um projecto do ‘Programa Eco Escolas’ que previa construir e

Kelly Alberto à queima-roupa

Idade: 29 anos

Naturalidade: Martigny, Suíça Residência: Seixal

Área: Ambiente

Há cinco anos que assumiu a missão de proteger os pequenos episódios ocorridos na natureza que encara como ex-libris.

controlar habitats para os morcegos-anões encontrados nas caixas-estores de várias salas de aula e trabalhou como voluntária na Liga para a Protecção da Natureza, onde enriqueceu o seu conhecimento sobre aves.

“Numa viagem até Castro Verde imagine uma abetarda [ave] em parada nupcial. Uma postura imponente, gigantesca e distinta. O macho dança perante as pretendentes, eleva a cauda, curva as asas, incha o peito e desenrola as penas até ficar uma bola de penas brancas. Toda esta magia numa estepe dourada, 42 graus, ar pesado e de difícil respiração”, conta.

Para cada momento da vida, descreve episódios com o rigor de quem não só os presenciou como os viveu de perto. “Tenho imenso gosto naquilo que faço, tento fazê-lo bem e com amor. A natureza assim o merece, está cá para nós, para nos dar vida, é a nossa casa”, assegura.

Fez do Seixal sua mais recente casa e é na Margem Sul do Tejo que pretende continuar a garantir a sobrevivência da biodiversidade que a área tem para oferecer, apelando ao comportamento responsável de cada pessoa.

“Quero ver o gato-bravo, mas não quero só um”, declara. “Quero que todas as espécies da nossa fauna que, de momento apresentam um défice na sua representação populacional, apareçam em força nas imagens por nós captadas. Depende de todos nós, das nossas acções e escolhas, por mais insignificantes que nos pareçam”.

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Kelly Alberto, de 29 anos, é 'polícia da natureza'. Trabalha como vigilante do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) Dos Alpes Suíços para o Alentejo
ICNF

Ambiente

O agricultor de varandas, na cidade

Cedo descobriu que o seu futuro passava pela natureza. Transformou a casa da família num “oásis” auto-sustentável e hoje adoptou um estilo de vida que é também um negócio

Há quem sonhe ser bombeiro, astronauta ou super-herói. Mas já em pequeno, André Maciel tinha os pés bem assentes na terra. “Sempre quis ser agricultor”, confessa. E não restam dúvidas: a paixão pela natureza nasceu com o André.

Natural de Setúbal, cresceu num ambiente citadino, rodeado pelas quatro paredes do seu apartamento, onde a natureza não era convidada a entrar. “De quatro irmãos era o único que queria levar plantas e bichos para casa”, conta.

Longe de ter tido uma educação sustentável, recorda as viagens a Barcelos, de visita às primas, como o único contacto que tinha com o campo: horta, animais e ar puro. Tudo o que o pequeno André poderia querer.

Foi esse pequeno estímulo que o fez tornar-se agricultor e criar o projecto ‘Hortas LX’, em 2020, onde tem trabalhado na instalação de hortas urbanas e encontra soluções para todos os que, tal como ele, fantasiam com um estilo de vida sustentável.

“Não criei este projecto como modelo de negócio, mas sim como missão”, diz. “Preocupa-me muito o tipo de alimentos que as pessoas colocam no organismo e o ‘Hortas’ [LX] é uma janela de oportunidades para quem quer cultivar em casa”.

A verdade é que a página de Instagram assinala 18 mil seguidores que se deliciam com as dicas para viver de acordo com uma agricultura biológica. Quanto ao espaço disponível, nada que o jovem agricultor não resolva.

“Já ajudei a construir hortas em telhados e varandas. Com vontade, não há nada que não se faça”, frisa.

A descoberta da permacultura Mas o percurso ecológico começou muito antes. A “bênção” com que afirma ter nascido fê-lo integrar o curso

de Design e Equipamento, na Escola Secundária de Bocage, em Setúbal, e dedicar todo o seu trabalho à área da sustentabilidade. “Cheguei a fazer um abajur com embalagens de detergente da roupa”, lembra.

Aos 21 anos embarcou na aventura de restaurar a casa de infância da mãe com a intenção de a transformar num atelier de trabalho. Mas, com a semente ecológica a ser regada de dia para dia, acabou por tornar o espaço num ecossistema de biodiversidade, em plena cidade de Setúbal.

“Criei um pequeno oásis com uma horta, um galinheiro, uma estufa e um lago. Alimentava as galinhas com o que produzia e fertilizava a terra da horta com o estrume dos animais. Aos poucos, percebi que conseguia fechar um ciclo e tornar-me auto-sustentável no meio da cidade”.

Ao projecto deu o nome ‘PuriSimpl’, uma forma de homenagear a mãe, Pu-

rificação, associando-a à simplicidade da natureza. Estava descoberta a essência da permacultura que, nos dias de hoje, guia a vida de André: “Trabalhar com a natureza e não contra ela”.

Um estilo de vida ainda em construção

Irradiado pela “leveza de espírito” que o oásis lhe dava, o setubalense ambicionava partilhar o sentimento com o mundo, mas os “alimentos rápidos do supermercado” continuavam a ser mais tentadores para as restantes pessoas e o ‘PuriSimpl’ acabou por se tornar bastante “solitário”.

“Para os meus pais e amigos não passava de uma brincadeira do André”, recorda. “Sentia-me muito isolado e a acreditar nisto sozinho. Não duvidava do estilo de vida, mas sim que as pessoas o pudessem adoptar”. Durante uns tempos deixou o projecto a germinar e dedicou-se a co-

nhecer os contornos do que acreditava. Foi estudar Agricultura Biológica e Produção Vegetal, na Escola Superior Agrária de Coimbra, em 2017, e participou em actividades de voluntariado em quintas biológicas, até se lembrar de criar o ‘Hortas LX by PuriSimpl’.

Hoje, a realidade dá-lhe provas de que é possível ensinar os outros a viver em permacultura e acredita

André Maciel à queima-roupa

Idade: 30 anos Naturalidade: Setúbal Residência: Lisboa Área: Agricultura Acredita que é a “bênção” com que nasceu que o faz desafiar a lógica e levar um pouco do campo para a cidade.

que o ‘Hortas LX’ é uma boa forma de começar a despertar a semente.

“Um dia estava a beber café em Setúbal e uma senhora veio ter comigo e disse-me: ‘André, muito obrigada. Graças a ti, a minha varanda está cheia de verduras’. Receber esta mensagem de pessoas que não conhecemos prova que o meu trabalho tem sentido”, orgulha-se.

Para um idealizador como o André, o caminho para uma vida em comunhão com a natureza desenha-se através da educação e, por esse motivo, deseja construir uma escola de artes para crianças que contribua para o desenvolvimento sustentável.

Com ideias que parecem dar frutos, o jovem agricultor é feliz a contemplar os morangueiros e tomateiros que lhe crescem na varanda. “A minha ideia nunca foi mudar o mundo, mas se existirem mais ‘Andrézinhos’ por aí espalhados é possível”, realça.

A permacultura, que André pratica, tem um principio simples: “Trabalhar com a natureza e não contra ela”

56 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
MARTIM VIDIGAL
29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 57

Ambiente

Uma sombra contra o desperdício

É empreendedora, auxiliar infantil e já foi actriz. Mas, acima de tudo, preocupa-se com o que a rodeia e foi isso que a fez descobrir uma forma colorida de reavivar os guarda-sóis abandonados

O relógio marca as 12h e o Parque Urbano de Albarquel, em Setúbal, cumprimenta os visitantes com um dia de sol caloroso. Há mergulhos na água salgada, passeios ao longo da baía e música ambiente que escapa dos pequenos bares de praia.

Ao longe, a silhueta descontraída de Carina Sobrinho surge na multidão. Enquanto se desloca para o carro, confessa não se ter maquilhado para as fotografias, mas o sorriso que traz vestido dispensa camuflagens. Na mala do porta-bagagens nasce um monte de padrões coloridos. São bolsas e almofadas costuradas à mão com tecidos de guarda-sóis abandonados na praia. É a isto que Carina se tem dedicado nos últimos dois anos. “Dar vida ao desperdício”, explica.

Enquanto limpava a Serra da Arrábida e as praias do concelho, em 2020, reparou nas “dezenas e dezenas” de pedaços de guarda-sóis esquecidos na areia. “Era muito assustador”, conta a setubalense. “Limpávamos a praia e no dia seguinte estava tudo igual”.

O golpe final

Ainda sem saber o que fazer com o material, foi recolhendo o que encontrava ao longo de várias semanas. “Na hora do lanche, os meus colegas estavam a descansar e eu estava feita louca a tirar o tecido dos guarda-sóis”, lembra a rir.

No final do dia de trabalho, montava-se na bicicleta eléctrica com os tecidos a esvoaçar na mochila que levava às costas e seguia para a lavandaria.

Certo dia, descobriu o ‘R-Coat’, o projecto que transforma guarda-chuvas estragados em roupa sustentável e quis fazer o mesmo com as “cente-

nas” de tecidos que já coleccionava em casa.

Inscreveu-se num curso de costura, frequentou uma formação de marketing e começou a confeccionar as primeiras peças: sacolas e almofadas impermeáveis. Estava criado o ‘Final Blow’, Golpe final, em português.

“Sou toda natureza”

Escuteira desde miúda, é a ligação que sente a tudo o que é orgânico que a leva a afirmar que é “toda natureza”.

“Não consigo estar muito tempo na cidade. Tenho sempre a tendência para fugir ou ir viver temporadas para o campo”.

Não sabe se é pela veia rebelde que acredita ter atormentado os pais na adolescência, mas está sempre pronta a aventurar-se em projectos comunitários onde se sinta “verdadeiramente conectada” com as pessoas e o mundo à sua volta.

“Acredito que o ritmo que vivemos na cidade não é o ritmo orgânico do

ser humano e nesses ambientes estamos mais ligados ao ritmo da natureza que, de certa forma, é o nosso ritmo porque fazemos parte dela”, defende.

Estudou Agricultura Biológica, em Coimbra, trabalhou em quintas auto-sustentáveis em vários pontos do país e frequentou um minicurso de bio construção numa comunidade israelita. O currículo é do mais vasto que pode existir e a jovem não contesta: “Tenho dificuldade em ficar parada”.

Na sua mais recente aventura, deixou o conforto sadino para viver 6 meses na cidade de Mértola, integrando o projecto da Associação Terra Sintrópica que previa regenerar a terra ao criar uma rede alimentar local no concelho.

Hoje, trabalha com uma das suas grandes paixões: crianças. Desenvolve actividades lúdico criativas com os mais novos, na Escola Básica da Azeda, mas não garante que seja uma “profissão para a vida”, pois das rotinas só quer distanciamento.

Uma artista completa “Sou uma pessoa bastante tímida”, revela. Quando vê o que espanto que a afirmação causa, apressa-se a explicar: “Sei apenas disfarçar bem”. E foi a longa estadia no Teatro que lhe permitiu criar tal camuflagem.

Ao crescer num ambiente de expo-

Carina Sobrinho à queima-roupa

Idade: 29 anos

Naturalidade: Setúbal

Residência: Setúbal

Área: Ambiente Vive na cidade desde que se lembra, mas é em ambientes rurais que se sente “verdadeiramente conectada” com o mundo.

sição, com a mãe ligada à produção de moda, recusou-se a pisar as pegadas da progenitora. “Ganhei aversão a todo esse mundo”, declara.

Tirou um curso profissional de Artes Performativas e refugiou-se na arte de representar, onde ainda trabalhou largos anos. Mas, mais do que representar, Carina gosta da sensação de “criar”, o que a levou a trabalhar na produção de duas peças de teatro que estiveram em digressão.

“Criar” faz parte da sua essência e a prova disso são as almofadas que traz debaixo do braço. A caminho da praia há quem se impressione com a ideia de que as peças vistosas possam ser feitas com desperdício.

“Tenho um guarda-sol que não utilizo em casa. O material está como novo”, conta-lhe uma senhora. “Tire-lhe as varetas e faz uma toalha de mesa para exterior”, explica Carina. “Olhe, que bela ideia”, houve como resposta. E com este episódio, a jovem revela que ganhou o dia.

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Escuteira desde miúda, Carina é "toda natureza" e muito tímida. Não parece porque aprendeu a "disfarçar muito bem" Mariana Pombo (Texto) Mário Romão (Fotografia)
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Ambiente

CAROLINA NUNES

A rapariga que não deixa “pontas soltas”

Sente-se “uma gota no oceano” com o trabalho de recolha de beatas e preservação da cidade sadina, mas a Medalha Honorífica com que foi reconhecida contradizem-na

De beatas percebe Carolina Nunes. Não é fumadora, nem nunca o foi, mas isso não a impede de saber que um cigarro tem cerca de quatro mil compostos químicos que ameaçam o planeta que tem tentado preservar. “Não sou contra os fumadores”, esclarece. “Sou contra o acto de atirar uma beata para o chão”.

Nem sempre foi assim. Há seis anos estava tranquila a recolher lixo das praias de Setúbal com uma amiga quando o “contraste das beatas com a suavidade do areal” a despertou para a realidade.

“Levávamos muita coisa nos sacos, mas os pequenos resíduos, como as beatas, ficavam para trás e isso deixou-me a remoer”. Com a exigência natural por respostas que a levou a seguir um Mestrado em Biologia Humana e Ambiente, começou a pesquisar sobre o tema e a descoberta deixou-a alarmada.

“São o lixo número um encontrado em todo o mundo. Em Portugal, estima-se que sejam atiradas para o chão cerca de sete mil beatas por minuto. Era preciso fazer alguma coisa”, salienta.

Setúbal sem pontas

Tem uma aparência decidida e prima essa atitude para a vida. “Não gosto de pontas soltas”, desvenda. Não gosta mesmo ou não tinha criado, em conjunto com três colegas, a ‘Feel4Planet’, uma associação sem fins lucrativos que, mais do que recolher as beatas esquecidas pelos setubalenses, tem trabalhado na sensibilização ambiental, nos últimos cinco anos.

Inaugurou a campanha ‘#STBSEMPONTAS’ em 2017 e a primeira vez que reuniu voluntários para ajudar na recolha de beatas contou milhares de resíduos encontrados.

“Fomos para a garagem do meu pai, espalhámos as beatas no chão e até fizemos uma brincadeira entre as quatro. Ganhava quem acertasse na quantidade de beatas apanhadas. 400, 500, pensávamos nós”.

40 minutos depois, Carolina e as

Carolina Nunes à queima-roupa

Idade: 30 anos

Residência: Setúbal

Naturalidade: Setúbal

Área: Ambiente

Propõe-se a tornar Setúbal uma cidade livre de beatas de cigarro e desde 2017 que trabalha para que isso aconteça.

colegas olhavam perplexas para o chão: “Eram mais de quatro mil”, afirma. Hoje em dia, tenta não se espantar tanto com o que encontra, mas a falta de conhecimento com que se depara continua a preocupar.

“Uma vez, um senhor muito querido esteve a ouvir-me imenso tempo a falar sobre as componentes de um cigarro e assim que terminei disse-me: «Ah, não se preocupe, menina. Eu deito-o sempre no sítio certo». Quando perguntei onde era, mostrou-me a sarjeta”, relembra.

Uma mulher no poder Não tem problemas em reconhecer que o “sentido de justiça” é o que melhor a define e admite não se privar de ajudar quem pode. “Gosto de sentir que o que fiz teve impacto e fez a diferença na vida de alguém”.

Por esse motivo se sente tão en-

tusiasmada com o cargo profissional que conseguiu, em 2020. Faz parte da Divisão da Juventude da Câmara Municipal de Setúbal, onde garante que temas como a saúde mental e preservação ambiental são trabalhados com os jovens.

O hábito de comunicar com gerações mais novas já vem de trás, dos tempos de monitora de crianças na ‘Ocean Alive’, a reconhecida cooperativa setubalense de protecção marinha, onde dava aulas de educação marinha aos mais pequenos.

A dedicação com que se entrega ao que acredita não passa despercebida no concelho e, para sua surpresa, em 2021, alcançou uma Medalha Honorífica na área do Associativismo e Sindicalismo pelo trabalho desempenhado na ‘Feel4Planet’.

“Não estava nada à espera. Estava à procura do nome de um amigo na lista e encontrei o meu”, conta. Agradece

o reconhecimento, mas a humildade acaba por falar mais alto: “Tenho um problema muito grande que é pensar que existem sempre pessoas a fazer mais. Então fico muito surpreendida com este tipo de coisas”.

A verdade é que não são todos os que se propõem a ocupar o tempo livre de luvas na mão, a arrecadar o que é deixado para trás por terceiros ou a expor-se em conferências nacionais de protecção ambiental.

Humildade à parte, não consegue deixar de sentir que está também a ter influência na forma como as “grandes entidades ligadas ao Ambiente” começaram a ter uma preocupação mais acentuada em recolher os pequenos resíduos do chão.

“Podemos ser apenas uma gota de água no oceano, mas o oceano é feito de muitas gotas e se conseguirmos mudar alguma coisa já estamos a ter algum impacto”, remata.

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Mestre em Biologia Humana e Ambiente, declarou guerra aos pequenos resíduos. Não pode ver beatas e outros lixos no chão e está a consciencializar outros Mariana Pombo (Texto) Mário Romão (Fotografia)

O observador que aprendeu a voar com as aves

É o “número um de Setúbal” a identificar espécies de aves exóticas no país. O nome consta na Lista Nacional de Anilhadores e prepara-se para construir o terceiro Abrigo Fotográfico que encanta apaixonados por aves

Felosa calçada ou felosa pálida? Foi esta a questão que assaltou o observador de aves Carlos Miguel no fatídico dia 24 de Setembro de 2019.

Preparava-se para mais um dia de fotografia a aves, perto do terreno da casa dos pais, na Mourisca, quando um pequeno animal lhe despertou a atenção.

“Vi um passarinho a dar pequenas corridas no chão e a voar para um arbusto no solo”, narra. “Estranhei o comportamento porque um passeriforme normalmente saltita, não corre”.

O instinto fê-lo regressar a casa, revelar as fotografias e partilhar as dúvidas com outros admiradores de aves. Em menos de um minuto, choviam mensagens de todos os pontos do país a confirmar a sua intuição: avistou uma Felosa Calçada, registada somente uma vez em Portugal.

“No dia seguinte, veio pessoal do Algarve, Lisboa e Porto. Eram à volta de 30 pessoas com tripés e máquinas fotográficas. Houve quem estivesse desde o nascer ao pôr do sol, mas a ave não apareceu mais”, relembra.

Um feito quase inédito que lhe conferiu o registo do segundo avistamento no país. Mas está habituado a estas ‘andanças’, pois não é a primeira vez que vê o seu nome associado a avistamentos raros. Desde 2019 que procura espécies raras em todo o concelho e já perdeu a conta das observações feitas.

“Sou o número um de Setúbal”, afirma em tom de brincadeira. A verdade é que é mesmo. Escrevedeira Pigmeia, Pato Rabilongo, Mobelha Árctica são algumas das espécies pouco frequentes no país que Carlos Miguel fotografou em primeira mão.

‘Filho de peixe sabe nadar’

Um simples bater de asas é suficiente para Carlos Miguel perceber o que se aproxima. A habilidade veio no ADN.

Provém de uma família de caçadores, onde um dia habitual passava por acompanhar o pai em longas temporadas no campo. Admite ser “contraditório”, mas eram estes momentos que o faziam chegar a casa mais curioso do que saía.

“Sentava-me à mesa com livro de identificação de aves e ficava a decorar os nomes. Gostava da textura das penas e principalmente adorava a sensação de liberdade que tinham”.

Também ele próprio se sentia livre no meio onde cresceu. Filho de pais mariscadores fez do Estuário do Sado o seu habitat natural e não estranhou quando, em 2015, os pais fundaram a ‘MiraSado’, empresa organizadora de passeios de barco na Reserva Natural do Estuário, à qual acabaria por se juntar quatro anos depois.

Demorou a perceber que este era o seu destino e optou por seguir Automação Robótica e Controlo Industrial, mas bastou trabalhar na área para perceber que sentia falta do ar livre. “Aquela vida não era para mim”, garante.

A ideia de fotografar a liberdade Demitiu-se a um fim de semana e na segunda-feira seguinte já estava

inscrito no curso de Turismo ao Ar Livre da Escola de Hotelaria de Setúbal. Estagiou na Estação Ornitológica do Monte do Outeirão, em Santiago do Cacém, onde a destreza com que manuseava os pássaros não passou despercebida.

Vítor Encarnação, uma referência no ramo, convidou-o a formar uma estação de anilhagem na Mourisca, convite ao qual “era impossível recusar”. Actualmente, faz parte da Lista Nacional de Anilhadores e também é guia turístico nos passeios da ‘MiraSado’.

Mais recentemente, percebeu que podia dar uma nova função à máquina fotográfica que o persegue para todo o lado. Lembrou-se de criar abrigos fotográficos para todos os apaixonados por aves e começou o teste no jardim dos pais.

“Construí um charco, um abrigo móvel com uma camuflável e ficava a manhã toda lá dentro, sentado num

banco a espreitar pela máquina. Ainda fotografei 40 espécies”, conta. O sucesso do negócio era evidente para o jovem e contra os lamentos do pai que considerava um “desperdício de tempo e dinheiro”, montou o primeiro abrigo na Mourisca, em 2021. Dois dias após a inauguração tinha quem quisesse experimentar o espaço e, recorrendo à memória, conta mais de 300 pessoas que já passaram pelo abrigo do Montado.

“Hoje, é o meu pai que me pergunta se eu quero criar novos abrigos”, ri. A verdade é que criou mais um, o abrigo do Silvado, para passeriformes e no próximo Inverno tenciona presentear os amantes de Limícolas com o abrigo da Mourisca. E não deve ficar por aí.

Para os curiosos, pode ser encontrado nos terrenos da Mourisca, sempre atento ao bater de asas mais próximo e, tal como uma Flosa Calçada, escondido atrás de um “arbusto”, a fotografar.

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O jovem da Mourisca conta no
seu portefólio com vários avistamentos muito raros
Idade: 29 anos Residência: Mourisca, Setúbal Naturalidade: Setúbal Área: Ornitologia As aves são o ponto forte de Carlos Miguel, sente-se livre a seguir o voo das pequenas criaturas.
queima-roupa
Mariana Pombo (Texto) Mário Romão (Fotografia)
Carlos Miguel à

Ambiente

CAROLINA ALMEIDA

Quando a Arte e a Ciência se encontram

Desde pequena que sabe o que quer e não tem medo de experimentar até conseguir criar um mundo onde criatividade e exactidão se unem num futuro verde

e girafas”, lembra. Uma realidade que escapava a tudo o que tinha conhecido até então na pacata vila do Zambujal, em Sesimbra, onde pertence.

Fantasiava com as estórias da mãe madeirense e do pai angolano que sempre viveram rodeados de natureza e idealizou um futuro semelhante: “Soube que, quando 'fosse grande' queria trabalhar com e para a natureza”.

Hoje, com 22 anos, não sabe se já é grande como imaginava, mas está cada vez mais perto de concretizar o desejo de pequena. Junto à Fortaleza de Santiago, mostra-se alegre e muito confiante no percurso que tem feito.

Umas jardineiras que lhe seguem os movimentos com um lenço verde atado à cintura, escolhido pelo seu lado mais criativo.

A curiosidade aguçada está à vista de qualquer um, embora em tempos tenha pensado não bastar para seguir Biologia: “Cheguei a pensar que não era inteligente o suficiente. A área

Carolina

Almeida

à queima-roupa

A primeira vez que Carolina Almeida viu National Geographic não conseguiu desviar os olhos do ecrã da televisão. Tinha seis anos quando o mundo se expandiu além da floresta atrás de casa onde costumava brincar e da horta dos vizinhos onde ajudava a apanhar feijões.

“De repente, existiam tigres, leões

“Já trabalhei aqui”, diz a apontar para o Museu Marítimo de Sesimbra onde foi guia. “Tem um aquário digital com todas as espécies de peixe que existem na costa de Sesimbra. Quando não existiam visitas, passava o meu tempo a descobrir novas espécies”, relembra.

Define-se como uma rapariga prática e isso revela-se no que traz vestido.

Idade: 22 anos

Residência: Sesimbra Naturalidade: Sesimbra Área: Ambiente Não sabia se era “inteligente” para seguir Biologia, mas arriscou. Hoje, quer tornar a Ciência uma área de todos e para todos.

da Ciência parecia-me muito assustadora”.

Duas paixões, uma só Carolina Amparou-se na sua segunda paixão, a Arte, que descomplicou o que a primeira escondia. “Para mim, a Arte sempre foi um meio de tornar a Ciência acessível a um maior número de pessoas. Quando começas a ver Ciência em museus percebes que é tão preponderante ao ponto de moldar o mundo, o que também traz inspiração à Arte”.

Não só a Ciência deixou de ser assustadora como, terminada a Licenciatura em Biologia Ambiental, em 2021, percebeu que o caminho não passava por aí. “As coisas em Ciência são muito vagarosas e eu sou uma pessoa com pressa”, garante.

Aos poucos, a veia de artista exigia mais atenção, mas a sesimbrense recusava-se a deixar Biologia para trás. "Sou uma pessoa de muitos interesses. O ideal seria juntar Biologia e Arte numa só”.

Foi o que pensou quando seguiu

para o curso de Ilustração Científica, no Museu de História Natural de Lisboa. Passava os dias a desenhar seres vivos marinhos, os quais estava habituada a ver nas praias de Sesimbra, mas ainda não se sentia satisfeita.

“Estava frustrada. Faltava a parte social e de envolvência da sociedade. Quero trazer algo palpável para o mundo”, conta. Habituou-se a ter um contributo activo ao participar em diversas acções de voluntariado e não lhe fazia sentido não fazer o mesmo na área das ciências exactas.

“É muito difícil fazer omeletes quando não tens uma frigideira” O momento ‘Eureca’ deu-se num estágio no Instituto Gulbenkian de Ciência, onde se envolveu no projecto ‘Lab in a suitcase’, que cedia kits com materiais indispensáveis à investigação por um custo mais reduzido, a países parceiros de origem africana.

“Foi das melhores experiências de sempre”, revela. “Isso é tornar a ciência acessível a todos. É muito difícil fazer omeletes quando não tens uma frigideira ou um fogão e foi assim que percebi como a Biologia pode ter uma função mais utilitária, além da investigação científica”.

Depois de tomar o gosto de “descomplicar a Ciência”, não quis parar. Voluntariou-se para o cargo de copywriter na ‘Reboot’, uma Organização Não Governamental (ONG) portuguesa, onde está actualmente a escrever sobre sustentabilidade.

“Podemos ser sustentáveis a todos os níveis, basta termos o conhecimento certo. Já escrevi um artigo sobre como ter sexo sustentável. É possível”, exclama a rir.

O passo seguinte é largar a terra que a viu nascer e rumar a terrenos espanhóis. Está a preparar-se para iniciar um Mestrado em Design de Futuros Emergentes, no Instituto de Arquitectura Avançada da Catalunha e as expectativas não poderiam ser mais elevadas.

“Estou super entusiasmada”, refere. Vai estudar para desenvolver protótipos de edifícios simbióticos que combinam a arquitectura moderna com matérias naturais. “A ideia é criar cidades onde a relação com a natureza não seja feita de partes. É como um todo, onde não se consegue identificar onde termina uma e acaba outra”.

No fundo, é o contributo que queria dar: preparar-se para criar “algo palpável”, como tem ambicionado nestes longos 22 anos.

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Bióloga é copywriter na ‘Reboot’, uma Organização Não Governamental (ONG) portuguesa, onde escreve sobre sustentabilidade Mariana Pombo (Texto) Mário Romão (Fotografia)
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Ambiente

Uma montanhoa “na frente da batalha”

Aos 17 anos inspirou milhares de jovens portugueses a faltar às aulas para exigirem justiça climática. Hoje, vive para o activismo e encara o que faz como uma “necessidade existencial”

“Activista ambiental portuguesa, uma das responsáveis por organizar a greve climática estudantil em Portugal”. É o que uma pesquisa rápida no Google diz acerca de Matilde Alvim. Uma descrição breve e concisa que esconde as horas de trabalho e a dedicação com que a jovem se entrega, há mais de dois anos, à luta pela justiça climática.

No coração da vila de Palmela, Matilde faz-se acompanhar do ar tímido quando se senta à mesa da antiga adega ‘Casa Mãe Rota dos Vinhos’. O som de loiça contra loiça invade o espaço e confere algum dramatismo às palavras escolhidas pela rapariga.

Está a sorrir, mas fala a sério quando frisa que é necessário “parar de pôr paninhos quentes. É para agir já”. A timidez com que se apresentou desapareceu para dar lugar à jovem que, com apenas 17 anos, se propôs a organizar uma das primeiras greves climáticas estudantis que viria a mobilizar milhares de estudantes em todo o país.

Foi em 2019, ainda aluna de ensino secundário, quando trocou ideias com amigos que partilhavam a mesma “dose de urgência”, que nasceu a vontade de fundar a Greve Climática Estudantil (GCE). Acima de tudo, queriam justiça. “Justiça climática”, sublinha Matilde. Mobilizados pelas acções climáticas a acontecer por todo o globo e encorajados pela atitude da activista sueca Greta Thunberg, criaram um grupo no WhatsApp, ao qual se foi juntando cada vez mais jovens com um propósito em comum: assegurar a vida.

“Não foi um motivo para faltar às aulas”, explica a activista. “Foi uma necessidade existencial”. Para dar resposta a essa necessidade, no decorrer dos últimos anos, criaram mais dez greves e manifestações, cuja fre-

quência Matilde não tem dúvidas que aumentará no futuro. “Vai ser a maior revolução que a humanidade alguma vez viu”, remata.

“O que é uma licenciatura (…) num planeta morto?”

Cresceu em plena Serra do Louro, Palmela, lugar verde onde encontra “serenidade” para o rebuliço do dia a dia. A moldura verde que lhe cobriu os olhos ao longo da infância foi mais do que suficiente para activar a preocupação com a preservação do ambiente.

Mas, do passado pouco conta, pois é no presente que os seus olhos estão postos. Revela que os pais se “habituaram bem” ao facto de terem uma filha activista e encorajam-na a “lutar pelo que acredita”, mesmo que isso implique abdicar de algumas aulas.

A terminar o 3º ano da Licenciatura em Antropologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, a palmelense não imagina outro cenário pos-

sível. “A minha prioridade é a sobrevivência. O que é uma Licenciatura ou um grau de Doutoramento num planeta morto? Não valem nada”, afirma. Contudo, não esconde que a “compreensão” dos professores tem sido um elemento fundamental para concluir os estudos com sucesso. “Já tive professores a participarem em acções da CGE. É muito giro”, deixa escapar.

Do “lado certo da história”

A ideia de que os jovens portugueses estariam a abdicar da sua educação em prol da sustentabilidade correu os meios de comunicação social de todo o país e, em menos de nada, todos queriam conhecer os responsáveis pelo início do movimento.

O nome da jovem de 20 anos começou a correr os quatro cantos de Portugal e, hoje em dia, admite viver para o activismo. Além das acções da CGE, faz questão de estar presente em conferências internacionais de defesa

ambiental e escreve regularmente para a rubrica P3 do jornal Público, onde manifesta a urgência de se agir.

Nunca sofreu “de forma física” as complicações que uma vida “na frente da batalha” possa trazer, mas assistiu a episódios que a marcaram. Um deles após um protesto na Rotunda do Aeroporto de Lisboa, em Maio de

Matilde Alvim à queima-roupa

Idade: 20 anos

Localidade: Quinta do Anjo, Palmela

Residência: Quinta do Anjo, Palmela

Área: Activismo Ambiental Experimentou o activismo há três anos e, desde então, não imagina uma vida em que não lute pelo que acredita.

2021, em que presenciou a detenção de vários manifestantes.

“Muitas pessoas foram detidas e levadas para a Esquadra dos Olivais. Principalmente mulheres que, assim que chegaram, foram maltratadas e tiveram de se despir. Uma humilhação”, condena.

Também já esteve perto de ser detida, mas o medo não a detém. “Há sempre forças contra”, diz. “Mas quando muitas pessoas se juntam para desobedecer a uma lei injusta, sabemos que estamos do lado certo da história”.

As palavras escasseiam quando reflecte sobre o futuro da vida como a conhece. “Tenho uma perspectiva optimista porque sei que é possível. Está a acontecer. Mas também sou realista e sei que temos de lutar com todas as forças nos próximos anos”.

O futuro é uma incógnita, mas se há algo que tem como certo é o facto de continuar a manifestar-se. “Não há outra opção”, frisa.

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Natural e residente na Quinta do Anjo (cujos habitantes são montanhões), Matilde sente o combate pelo clima como uma urgência Mariana Pombo (Texto) Carlota Pais (Fotografia)
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Ambiente

MOURANA MONTEIRO

Activista pelo ambiente sente que carrega o futuro às costas

Luta diariamente para “construir um futuro bonito”. Sofreu de ‘Eco Ansiedade’ até descobrir o activismo. Hoje é uma das referências ao nível do activismo ambiental, em Portugal

Paleio acelerado, ar decidido e sorriso no rosto. É desta forma que Mourana Monteiro se dá a conhecer. Sentada num banco de jardim, enumera os compromissos que refletem a agenda preenchida. Aos 25 anos, entre as atividades de escutismo, o voluntariado em associações e os três empregos, a jovem é activista ambiental.

Rodeada de enxadas e oliveiras, no quintal da avó, em Palmela, aprendeu o verdadeiro significado da palavra ‘sustentabilidade’. “A minha ‘avozinha’ era a pessoa mais inteligente que conheço”, revela orgulhosa. “Trabalhava muito no campo e tudo era aproveitado o máximo possível. Fui educada a não ser consumista e a valorizar o que a natureza nos dá”, relembra.

Com as lições da avó presentes, Mourana foi crescendo e fazendo o que estava ao seu alcance para garantir o futuro de todos. Voluntariado, recolhas de lixo e reciclagem já faziam parte da rotina. Chegou mesmo a entrar para Engenharia do Ambiente na Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), apesar de, após seis meses de curso, ter saído ao perceber que “era mais matemática e física do que preocupação com o ambiente”.

Em 2018, o discurso da activista Greta Thunberg que invalidava as ações sustentáveis individuais trocou-lhe as voltas. “A partir desse momento percebi que o que fiz toda a vida não chegava. É preciso uma mudança política”, afirma.

A estudar Psicologia na Universidade do Algarve, a jovem ativista começou a recear o futuro das próximas gerações, ao ponto de desenvolver o que se en-

Exploração de petróleo “A Bajouca nunca tinha visto uma ‘manif’ na vida”

“Australis desiste de explorar gás na Bajouca e em Aljubarrota”. É assim que é noticiado o episódio que Mourana guarda no coração e no pódio dos troféus alcançados, enquanto activista.

Em 2012, a empresa australiana ‘Australis Oil & Gas’ e o Estado português assinaram um contrato de exploração de petróleo desde Peniche até à Figueira da Foz. Três anos depois, o terreno na Bajouca, Leiria, estava comprado para

se iniciar uma prospeção de gás natural.

“A empresa financiou muita desinformação junto da população local. Fizeram imensas reuniões a garantir que iriam ter o gás mais barato. E nós [GCE] fomos lá e fizemos igual. Só que, desta vez, com ciência, com verdade”, admite Mourana.

A atitude dos activistas mobilizou actores locais, associações e autarquia que identificaram lacunas, ao nível do impacto ambiental,

no contrato celebrado com a ‘Australis Oil & Gas’.

“Chegámos a fazer uma manifestação. Éramos 400 pessoas a marchar. A Bajouca nunca tinha visto uma ‘manif’ na vida”, conta, animada.

Uma vitória para o grupo de manifestantes, pois, ainda em 2019, o Parlamento recomendou a suspensão da prospeção de petróleo em Alcobaça e Pombal e a empresa australiana apresentou a desistência de prosseguimento dos projetos.

Mourana Monteiro à queima-roupa

Idade: 25 anos

Naturalidade: Setúbal Residência: Palmela Área: Activismo ambiental Abraça todas as causas como se fossem suas e não desiste de lutar pelo futuro do planeta.

contra atualmente diagnosticado como “Eco Ansiedade”.

“Se alguém colocava uma beata no chão, à minha frente, eu tinha de ir apanhar. Depois, vieram os pesadelos. Sonhava com crise nas colheitas, guerra civil, destruição. Acordava mais cansada do que me deitava”, revela.

Uma forma de “construir um futuro bonito”

Mergulhada em sentimentos depressivos, foi nesse período que Mourana conheceu membros da Greve Climática Estudantil (GCE), um coletivo de estudantes responsável pela organização de intervenções sustentáveis, em todo o país, que lhe mostraram uma forma “não formal de fazer política”: o ativismo.

Actualmente, não só integra a GCE e outros movimentos ambientalistas internacionais que a ajudam a “construir um futuro bonito” como é um dos nomes mais sonantes do ativismo ambiental em Portugal. Não se deixa iludir pelas conquistas. Do reconhecimento, só quer a “oportunidade de ser ouvida”.

Lutar por aquilo em que acredita está-lhe no sangue e a jovem não se deixa vergar pelas consequências que essa luta possa criar. Está a ser constituída arguida num processo que condena o bloqueio feito à Rotunda do Relógio, Lisboa, em maio de 2021, por um grupo de ambientalistas, no qual Mourana se encontrava, que protestavam por menos aviação e mais ferrovias.

“Não consigo ficar parada. Parar é deixar que roubem o meu futuro. E eu não vou deixar”, remata. “Nós não vamos deixar”, corrige. A hora arrasta-se e os compromissos não podem esperar. A jovem levanta-se e segue com a urgência de quem carrega o futuro às costas.

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Da obsessão com o lixo no chão aos pesadelos com a catástrofe climática, Mourana Monteiro sofre pelo ambiente

Bióloga marinha vive como um peixe na água

e areia, amêijoas e mexilhões. São estes tesouros que animam os dias da jovem doutoranda em Ciências do Mar e que a tornam numa protectora da biodiversidade sadina

“Tudo o que vem à rede é peixe”, diz-se. Mas Sara Cabral não leva à letra os provérbios portugueses. Desde pequena que trata o mar por ‘tu’ e é na água salgada que descobre as espécies consideradas vulgares ao olho comum, mas que não passam despercebidas ao olhar atento de uma bióloga marinha.

De sorriso fácil e ar ternurento, caminha ao longo da baía com a ligação que sente espelhada no corpo. Traz vestida uma camisola azul com uma embarcação representada, escolhida a dedo para a ocasião.

“Sou sedenta de conhecimento”, confessa Sara. “Desde pequena que gosto de saber o que é cada espécie, onde vive e como age. Nunca deixei morrer essa criança em mim”.

A curiosidade aliada à paixão pelo mar arrastaram-na para o mundo da investigação e actualmente trabalha como investigadora do MARE- Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, onde está também a terminar o Doutoramento em Ciências do Mar.

O seu estudo mais recente, realizado para a tese de Doutoramento, pode ajudar a compreender se as espécies bivalves nativas em Portugal, nomeadamente, amêijoas, ostras e mexilhão, estão em risco de extinção, ameaçadas por espécies exóticas, trazidas nas embarcações.

Os dias são passados entre o trabalho no laboratório e as pesquisas feitas junto da água salgada, da qual não consegue ficar muito tempo longe. “Ando sempre com um fato de banho, uma toalha e uns ‘frasquinhos’ no porta-bagagens do carro”, revela. Não vá dar-se o caso de encontrar um ser vivo digno de registo.

Setúbal, a ponte entre Sara e o mar Vive em Azeitão desde que se recorda, mas reserva a Setúbal as memó-

rias especiais do primeiro contacto com a água. Se tivesse de atribuir um responsável pela sua adição ao mar seria o pequeno barco dos pais.

“Cresci ao lado de uma das baías mais belas do mundo [Setúbal], onde costumava passear de barco com os meus pais. Praia, mar e os golfinhos do Estuário [do Sado]. Era difícil não gostar”, admite.

Sara Cabral à queima-roupa

Idade: 30 anos

Naturalidade: Lisboa Residência: Azeitão, Setúbal Área: Biologia Marinha Uma jovem da ciência que, ao nunca se esquecer de onde vem, ambiciona aproximar a comunidade local da biodiversidade marinha.

A ligação com a região estava criada e é aqui que sonha um dia fazer parte de uma equipa de investigação com sede no Sado que aproveite o melhor que a diversidade sadina tem para oferecer.

Da sua “rede” de investigações académicas, fazem parte pesquisas levadas a cabo em países estrangeiros. Holanda, Irlanda e, mais recentemente, Canadá. Embora admita ser tentador integrar uma equipa internacional, a jovem guarda no coração a cidade berço.

“Por mim, vivia sempre em Azeitão. O melhor dos dois mundos seria ir para fora, adquirir conhecimento e, mais tarde, aplicá-lo cá”.

profissão altamente pesada”, é expressa através dos contributos que o seu trabalho enquanto investigadora pode dar.

“A comunidade piscatória vive o seu dia a dia na lama, de manhã, de noite, durante horas e horas. A classe política não conhece esta realidade e não consegue desenvolver medidas que cheguem até ela. Os investigadores têm o papel importante de fazer a ponte entre os dois”, sublinha.

enterrou e tive de a puxar, o meu pé veio e a bota ficou no fundo. Se não fosse o senhor a puxar-me, tinha lá ficado. Devo-lhe a minha vida”, brinca. Com a proximidade que foi estabelecendo com os ‘homens do mar’, a azeitonense acredita que já é reconhecida no meio. “Calma lá que esta não é uma ‘doutora’ qualquer. Ela não tem medo de vir connosco”, habitou-se a ouvir.

Uma

investigadora que ‘veste a camisola’

Sara sente que nasceu para preservar a vida dos que vivem do oceano e, como tal, a admiração que sente pelo trabalho dos pescadores, “uma

Grande parte dos projectos que desenvolve são em parceria com pescadores e mariscadores e não se limita a “tirar apontamentos e ir embora”. Gosta de ‘colocar as mãos na massa’, mesmo que isso implique ir para alto mar de madrugada ou afundar os pés na lama, à procura de isco.

“Já fui apanhar isco no Seixal com um pescador. Fui muito giro”, conta. “Fui com ele para o meio da lama, mas tinha umas botas demasiado grandes para o meu número. Quando a bota

Ainda que se considere uma mulher da ciência, deixar o seu nome associado a um feito grandioso não é o que a motiva. Com a simplicidade que a caracteriza afirma que quer trabalhar para preservar a biodiversidade da sua terra, aquela que não se cansa de gabar de ser “uma das mais belas baías do mundo”.

“Quero ter um papel activo na comunidade agora”, vinca. “Quero trabalhar no Estuário onde cresci e despertar o interesse das pessoas para o que o mar nos dá”.

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Água
Apaixonada pelo mar, a jovem, de 30 anos, dedicou a tese de doutoramento aos efeitos das espécies invasoras sobre os bivalves nativos em Portugal Mariana Pombo (Texto) Mário Romão (Fotografia)

Associativismo

no All.aBoard”, continua.

“Sempre vesti a camisola em muitas coisas”

Responsável pela comunicação, a sua área de formação, e pela gestão das redes sociais do Projecto Estrelinha, é igualmente co-criadora do projecto de skate inclusivo All aBoard

em comunicação social.

Depois da experiência na Escola Superior de Educação, rumou até Lisboa, para um mestrado em Audiovisual e Multimédia na Escola Superior de Comunicação Social, e hoje é técnica superior na Divisão de Juventude da Câmara Municipal de Setúbal.

Filipa Bento, de 27 anos, nasceu, cresceu e viveu sempre na cidade do Sado. Passou pelas escolas do Monte Belo, Luísa Todi, D. João II e D. Manuel Martins até chegar ao Instituto Politécnico de Setúbal, onde se licenciou

Quando questionada sobre como surge o associativismo no seu caminho, Filipa Bento responde que “de alguma forma sempre estive envolvida em várias coisas, a fazer muita coisa. Acontecia, às vezes, de repente conhecer alguém, uma causa ou projecto e quando dava por mim já estava a vestir a camisola, já estava envolvida a fundo. Sempre tive este perfil”.

Neste momento, faz parte de dois projectos “de áreas e causas diferentes”. Faz voluntariado no Projecto Estrelinha - Equação Relâmpago, associação que tem como objectivo

o resgaste, reabilitação e adopção de animais errantes, na qual é responsável pela comunicação e gestão de redes sociais. “É nesse sentido que dou mais a minha ajuda e onde acabo por dedicar um pouco mais do meu tempo. Existimos desde 2017 enquanto associação”, conta. “Temos um espaço físico em Setúbal, onde acolhemos animais que são muitas vezes alvo de negligência por parte

Filipa Bento à queima-roupa

Idade 27 anos

Naturalidade Setúbal Residência Setúbal Área Comunicação Divide actualmente a sua missão no associativismo entre a causa animal e o desporto inclusivo

de quem deveria cuidar deles e são resgatados por nós. O objectivo é que sejam adoptados por famílias que queiram um companheiro de quatro patas para a vida”, adianta.

Skate para todos sem excepção A par disso, é co-criadora de um projecto de skate inclusivo, criado em Maio de 2021, onde também mantém a sua ligação com a comunicação e o mundo audiovisual. “Eu e a Rita, que foi quem teve a ideia, por ter voltado a andar de skate durante a pandemia, fomos construindo o que queríamos para o projecto, inclusivo, também muito ligado à área dela”, partilha. “Uma coisa fantástica do processo foi começar a trazer pessoas para junto de nós que também com as suas valências e conhecimentos acabam por ir dando de si e do seu tempo. Neste momento somos um grupo de sete pessoas envolvido de corpo e alma

Filipa sempre gostou deste tipo de desportos e explica que “todos, independentemente do factor idade, género, condição física, social e/ou financeira, podem subir para cima do skate com a devida segurança e acompanhamento”.

De acordo com a All aBoard, “não há barreiras que possam impossibilitar. É possível adaptar em todos os sentidos e é com este chapéu de inclusão que surgimos. O nosso slogan, ‘Inclusão a 360.º’, fazendo referência a uma manobra de skate, é mesmo por ser transversal a tudo e o objectivo é mesmo incluir todos”.

A actuar em diversas vertentes, a equipa All aBoard participa em vários eventos, dá aulas de experimentação e também se encontra a actuar junto das escolas, através das Actividades de Enriquecimento Curricular, “Contamos a história do skate, como se constrói um, fazemos preparação física e abordamos todos esses assuntos importantes na prática do skate que muitas vezes não são exploradas porque este é visto como um desporto urbano sem regras”, considera, assegurando que “efectivamente a segurança importa e a modalidade, para além da componente urbana, tem também a olímpica. Há dois pólos opostos e muita coisa pelo meio. Interessa é que a pessoa se sinta bem em cima da tábua, autêntica, sem pressões”.

Por estar sempre de alguma forma ligada a vários projectos, Filipa Bento foi conhecendo outros tantos e a visão que tem do associativismo juvenil “é de que hoje existem muitos projectos. Por vezes achamos que os jovens estão muito parados ou só querem estar agarrados às tecnologias, mas acho que isso não reflecte tanto assim a realidade”, diz.

“Existem muitos jovens e projectos de valor que às vezes precisam de ter a oportunidade certa para aparecer ou a pessoa certa a olhar para eles. Por vezes têm a ideia, mas depois sentem não ter poder na voz que têm. Não acreditam na capacidade da ideia e sentem-se um bocadinho perdidos, por não saberem como fazer, a que portas bater”, acrescenta.

Filipa Bento encontra, assim, na burocratização um impedimento para “que a ideia saia da gaveta e isso tem de ser trabalhado” e deixa um conselho: “se existir uma ideia que querem ver concretizada não se deixem abater pela ideia pré-concebida de que dá muito trabalho ou é muito caro. Há sempre formas de fazer acontecer e vai valer a pena”.

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FILIPA BENTO Além do que faz na associação "All.aBoard”, com os skates, Filipa Bento é voluntária no Projecto Estrelinha, que resgata animais abandonados Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografia)
Por vezes achamos que os jovens estão muito parados ou só querem estar agarrados às tecnologias, mas isso não reflecte a realidade
29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 69

Associativismo

“O nosso associativismo é muito quotidiano e informal”

Filha de Setúbal e do Bairro dos Pescadores, para onde foi morar quando tinha apenas cinco anos, Vanessa Amorim percorre o território desde que se lembra e conhece-o como a palma da sua mão. “Tinha dificuldade em estabelecer fronteiras entre bairros. Estava tudo ligado, mas ao mesmo tempo cada um tinha uma identidade própria, o que despertou o meu interesse e me fez questionar: mas eu sou de onde? Sou um bocadinho disto tudo”, começa por dizer.

No ensino secundário, fez o curso de Línguas e Humanidades, igualmente “determinante” no seu percurso. A escola foi “um grande escape e motivo de inspiração”. Os interesses de Vanessa Amorim não se centravam numa área apenas: “gostava muito de história, literatura e escrita e sobretudo tinha já um grande sentido de justiça social, que herdei da minha mãe”. Um livro de antropologia havia de lhe dar a descobrir que caminho seguir.

Entrou para o Iscte - Instituto Universitário de Lisboa em 2010 para fazer uma licenciatura em antropologia e logo nas primeiras aulas percebeu “que era isto que queria fazer. Antropologia conjuga uma série de áreas e permite compreender a condição humana, que era o que me fascinava. Antropologia ajudou-me a pensar, é sobretudo um modo de pensar”. Seguiu-se um mestrado na mesma área e na mesma instituição, que a trouxe de volta às raízes. “Cresci a ouvir conversas sobre pesca e mar, a perceber que havia sempre uma incerteza e instabilidade fruto dessa vida e essas histórias fantásticas ficaram em mim”, par-

tilha. “Escrevi a minha tese sobre a comunidade piscatória de Setúbal, com foco nesta incerteza. Até então não existia nada em antropologia ligado à pesca na cidade e quero que de alguma forma a minha formação se repercuta no meio onde cresci”, justifica.

Nesta linha, tem desenvolvido trabalho em torno dos assuntos do mar e da pesca, também no domínio do teatro. “Pelos que andam sobre as águas do mar” e “A céu aberto”, com Raquel Belchior, “A Casa de Emília” e “À flor das águas”, com o Teatro Estúdio Fontenova, são alguns dos espectáculos em que participou na

investigação e dramaturgia, e dos quais resultaram também livros.

Ligada à pesca pessoal e profissionalmente, está no presente a terminar o seu doutoramento em antropologia e é membro do Conselho de Administração da Mútua dos Pescadores.

Moradores querem voltar a situar os bairros na cidade Desde cedo notou que “não havia grande organização de moradores” no sítio onde vivia. Quando em 2015, a Câmara Municipal de Setúbal decidiu reunir com os moradores do Bairro dos Pescadores, Vanessa não he-

sitou em participar. Com a continuidade destas reuniões, em 2017 nasce o Grupo de Oficinas Colaborativas (GO), projecto da autarquia implementado no território da Anunciada, onde se inclui o Bairro Grito do Povo e o Bairro dos Pescadores, no qual Vanessa Amorim se inclui até agora. “Desde logo começámos a pensar em formas de intervir no território, como é que as nossas ideias podiam de facto ter uma consequência, que vivências queríamos para os vários locais dos bairros”, partilha.

Para além da participação nas obras realizadas no âmbito do Plano Estratégico de Desenvolvimento

Vanessa Amorim à queima-roupa

Idade 30 anos

Naturalidade Setúbal Residência Setúbal Área Antropologia Discreta por natureza, nunca hesita em defender os valores da justiça, igualdade e solidariedade

Urbano, ao longo do tempo o grupo foi desenvolvendo um conjunto de iniciativas que visava projectar os espaços dos bairros e com a sua organização em colectivo já alcançou várias mudanças na vida de quem lá vive.

O livro “Caminhos com História - Memórias dos Bairros dos Pescadores e do Grito do Povo”, que Vanessa Amorim assina com a irmã Joana Amorim, é exemplo disto. Criado de forma colaborativa com os moradores participantes nas oficinas, faz-se de memórias sobre estes bairros, “de forma a registar quem são as pessoas que aqui vivem e têm tanto para dar”.

O GO assume, nas palavras da antropóloga, elevada importância enquanto “espaço e forma de organização que nos permite intervir e ter espaço para trabalhar em conjunto. É um compromisso colectivo, as coisas têm vindo a melhorar, o grupo mais fixo tem cerca de 20 elementos e o grande objectivo é conseguir envolver mais moradores”. Não integra o associativismo “no sentido clássico do termo”, mas não deixam de ser “uma forma de acção colectiva sobre um território”.

Para Vanessa Amorim, “o nosso associativismo acaba por ser uma coisa muito mais quotidiana e informal com uma força motora muito importante. Intervimos nos territórios onde moramos, tentando encontrar soluções e tendo uma visão crítica sobre o que nos rodeia e o que queremos fazer”, afirma, destacando “a vontade dos moradores de voltar a situar os bairros enquanto parte da cidade. Nem mais nem menos do que outros”.

70 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
A antropóloga faz parte do Grupo de Oficinas Colaborativas, que permite a concretização de “uma acção colectiva sobre o território” com que sonhava desde muito jovem
A comunidade piscatória em Setúbal tem norteado os seus trabalhos de investigação Inês Antunes Malta (Texto)

“A participação dos jovens nas associações faz muito pela democracia"

Além de participante nas actividades da Lifeshaker Associação e elemento da equipa técnica, a jovem do Monte da Caparica é também presidente do projecto Multiplicar Opiniões, que criou em nome próprio

Cátia Godoroja nasceu em Lisboa, mas reside actualmente no Monte da Caparica. Tem 20 anos e está a tirar um curso superior de Estudos Gerais, “que permite escolher áreas que consideramos mais importantes para o nosso currículo”, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Em 2016, começou como participante nas actividades da Lifeshaker Associação, sedeada em Almada, e desde Abril faz parte da equipa técnica, assumindo “um papel cada vez mais activo nos projectos”.

“Comecei a ir aos treinos de Rugby, mas atinei com a modalidade. No entanto, quando quis deixar, já estava envolvida noutras actividades da associação”, começa por dizer. “Foi também no Rugby que aprendi os valores que faziam parte das raízes da organização: a cooperação, o respeito, a solidariedade, a transparência e o rigor. Foi nessa altura que o associativismo apareceu na minha vida e esses os motivos que me fizeram ficar”, adianta, sem esquecer “o sentimento de família, pertença, compromisso e propósito, que também me foram motivando”.

Na associação, fez voluntariado desde 2016 até ao ano passado, altura em que surgiu a oportunidade de fazer um estágio profissional, que lhe trouxe “uma perspectiva diferente. Com mais responsabilidade, percebi que quanto melhor fizermos o que fazemos mais impacto tem na comunidade e melhor será o futuro dos participantes dos nossos projectos”. Até esse ponto já fazia parte da acção associativa da Lifeshaker

Cátia Godoroja à queima-roupa

Idade 20 anos

Naturalidade Lisboa

Residência Monte da Caparica

Área Estudos Gerais

O interesse pela igualdade de género e participação política dos jovens levaram-na a criar uma associação

“mas não via o resultado. Fazia pelo sentimento de pertença, mas não percebia bem o impacto que tínhamos. Sabia que estávamos a fazer alguma coisa de bom, mas não sabia tão grande que era”.

A Lifeshaker, cuja área de actuação se encontra compreendida entre a Caparica, a Trafaria e o Laranjeiro, acredita que “cada jovem tem em si o talento, a energia e a criatividade necessários para ultrapassar situações desvantajosas, sendo capazes de transformar as suas ideias em mudanças positivas para a sociedade” e tem como objectivo “o reforço da

educação de qualidade e a promoção do trabalho digno e do crescimento económico”.

Esta é, assim, a base para todo o trabalho que tem vindo a desenvolver, com principal destaque para os projectos “Este país é para ciganos”, “Laboratório do amanhã”, “Bairros saudáveis, “Flight simulator” e “Jobs airport”, que segundo Cátia, “têm sempre um resultado bastante visível, na comunidade e na escola é notório o desenvolvimento de competências e isso é muito motivador para quem o faz. Sente que faz a diferença na vida daquelas pessoas”.

Também a equipa com que se leva a cabo este trabalho é importante nesta equação e sente que o facto de todos fazerem um pouco de tudo “dá-nos uma capacidade de resolução de problemas e de adaptabilidade muito grande”.

Igualdade de género e participação política juvenil norteiam associação

Em simultâneo, percebeu que o seu interesse “pela igualdade de género e pela participação política dos jovens era grande” e que “na associação tinha contacto com muitas pessoas com interesse nestas temáticas, mas depois fora dessa esfera muitas não tinham”.

Ser “participante, estagiária e depois trabalhadora” fez com que a Lifeshaker a ajudasse a criar um espaço seu, a Multiplicar Opiniões - Associação, onde é agora presidente associativa. Esta experiência traduz, nas suas palavras, “este interesse que tenho. As actividades têm sempre a ver com estes temas e a associação tem muito a ver com a ideia que tenho do associativismo. Imagino-o como uma casinha confortável, um espaço organizado, seguro e pessoal. Foi assim que o conheci através da Lifeshaker”.

Cátia Godoroja considera, neste sentido, “que o associativismo faz muito pela democracia, pela participação dos jovens e por quase todas as áreas da nossa vida. Sentir que temos um espaço onde podemos expressar as nossas convicções, opiniões e ouvir os outros é muito importante, assim como sentir que independentemente de tudo o que diga ninguém me vai julgar”. É este o sentimento que guarda fruto da sua experiência na Lifeshaker e que quer replicar para passar ao próximo. “Quis criar um espaço onde as pessoas também se sentissem confortáveis para falar sobre os mais variados temas. Muitas vezes querem fazê-lo e não encontram esse espaço”, afirma.

A participação jovem é, no seu entender, “muito baixa e acho que juntando ao associativismo temas de que os jovens gostem é sempre mais fácil de os trazer e aumentar essa participação. Participação política não tem de ser apenas uma participação formal”, conclui.

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Pela sua experiência conclui que "quanto melhor fizermos o nosso trabalho mais impacto terá na comunidade" Inês Antunes Malta
DR

Associativismo

ANDRÉ ANTUNES

O presidente do grupo folclórico que pensa o associativismo em grande

Conseguiu reerguer o Grupo Folclórico e Humanitário de Sesimbra, que estava em estado de necessidade, e acabou envolvido no mundo das associações, no concelho e no país

Nascido em Évora, André Antunes veio, aos seis anos, morar para a Quinta do Conde onde continua a viver. Estudou no concelho de Sesimbra, entre a Quinta do Conde e a Escola Secundária de Sampaio, e manifestou sempre interesse pelas ciências humanas e sociais.

“Sempre tive esse gosto e talvez tenha delineado o percurso que fiz até à faculdade, onde me licenciei em Ciência Política, no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, e que exerço até profissionalmente, no Instituto de Segurança Social de Setúbal”, começa por contar.

Questionado sobre quando o associativismo começa a fazer parte da sua vida, o jovem de 25 anos partilha que a resposta pode assumir dois caminhos diferentes. “Às vezes digo que dei o pontapé de partida no movimento associativo na universidade, mas se for criterioso foi até antes, no 9.º ano, quando reunimos um grupo de alunos e criámos uma comissão de finalistas para organizar a nossa viagem de finalistas”, diz. “Na faculdade, recebi um convite de uma colega para ser parte da lista que ela encabeçaria e fui durante dois anos vice-presidente do Núcleo de Estudantes de Ciência Política”, adianta.

Em 2018, surge “a necessidade de ir para a frente com o Grupo Folclórico e Humanitário do Concelho de Sesimbra, que esteve mesmo para fechar portas. Não tinha experiência nesse sentido, e fez-me reflectir, mas também não queria deixar de dançar”. André já era bailarino de folclore desde 2007, completando agora os seus 15 anos deste feito.

“Era uma pena ficarmos sem rancho folclórico no concelho de Sesimbra. Aceitei e de imediato reuni com todos

André Antunes à queima-roupa

Com vontade de aprender, move-o o facto de poder contribuir para fazer a diferença na comunidade

os elementos do grupo para avaliar disponibilidades”, continua.

A 17 de Março recebe “um voto de confiança”, com oito pares a actuar na Casa do Alentejo. “Fiquei surpreendido. Meses antes tínhamos actuado com três pares e para mim foi uma prova de que o grupo não era para acabar. Ficou claro que temos capacidade e havíamos de avançar. Auscultei os elementos do grupo e num abrir e fechar de olhos compus os corpos sociais, fomos para eleições e fui eleito com oito votos”, refere.

O grupo, que divide a sua actividade entre o folclore e as dádivas de sangue, soma hoje perto de 80 sócios. No presente, “já estamos a pensar em grande. Como as coisas são demoradas e queremo-las para ontem, vamos delinear um projec-

to, um objectivo, de daqui a três anos estarmos a lançar a primeira pedra da nossa sede. Vamos construir com as nossas mãos”. O plano passa por um espaço museológico que sirva a população e inclua em simultâneo a sede do Grupo Folclórico e Humanitário onde este realiza os seus ensaios.

Tornar o grupo numa referência é objectivo para o futuro Com os olhos postos no futuro, o presente tem vindo a ser risonho e André Antunes partilha com orgulho: “Quem diria que passados dois anos de pandemia estávamos a fazer seis deslocações para fora do concelho?”.

Tal é, no seu entender, “resultante de um trabalho e esforço grande, não dependendo do financiamento das autarquias para desenvolver as nos-

O associativismo no distrito é fundamental e a força do povo faz com que nunca vá morrer

sas actividades. Somos uma associação que pode ter bastante progressão e ser uma referência no distrito de Setúbal a nível do folclore e das dádivas de sangue também”.

O grupo tem tido muitos jovens a aderir e André Antunes sente-se “um privilegiado. Esta experiência e o sucesso que vim a ter com o desempenho dessas tarefas abriu-me outras portas e deu-me algum reconhecimento por parte da população e de outras entidades que começaram a chamar-me para outros projectos”.

Fez parte da Comissão Organizadora da Feira Festa, em representação do grupo, e através desta experiência foi convidado para pertencer à direcção da Federação das Colectividades do distrito de Setúbal, da qual é vice-presidente há dois anos.

É também tesoureiro no Centro Cultural, Social e Recreativo A Voz do Alentejo e integra o conselho fiscal da Associação para o Desenvolvimento da Quinta do Conde, sem esquecer a mesa da assembleia geral da Federação Portuguesa de Dadores Benévolos de Sangue. “Tenho aproveitado todas as oportunidades para adquirir competências e conhecimentos e também ser útil à comunidade, dar o meu contributo, fazer as coisas acontecer e a verdade é que já não sei estar de outra forma”.

Define o movimento associativo do distrito de Setúbal como “fundamental, muito forte e dinâmico e a força do povo faz com que nunca vá morrer. Podemos até um dia mais tarde chamar-lhe outra coisa, mas será sempre um movimento onde as pessoas se interligam”, remata.

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O jovem tem vindo a aproveitar "todas as oportunidades para adquirir competências e ser útil à comunidade"
Idade 25 anos Naturalidade Évora Residência Quinta do Conde Área Associativismo
Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografia)

CONSTANÇA SEBORRO

“Colaborar com a Experimentáculo mudou mesmo a minha vida”

Começou por fazer voluntariado na Roménia através da Experimentáculo, associação na qual é hoje facilitadora de projectos internacionais que trazem jovens europeus a conhecer Setúbal

Constança Seborro é associada, youth worker e facilitadora dos projectos internacionais da Experimentáculo Associação Cultural, com a qual estabeleceu o seu primeiro contacto no início de 2018. Setubalense de gema, vive actualmente na Ericeira e é recém-licenciada em Relações Internacionais e Estudos Europeus.

“Conheci a Experimentáculo através de um amigo que me deu a conhecer esta organização que promovia intercâmbios de jovens e cursos de treino, incluindo o programa Erasmus, o que me interessou. De imediato contactei o Pedro Soares, responsável pela Experimentáculo”, começa por dizer. “Estava marcado para essa altura um treino sobre diversidade cultural na Roménia, durante dez dias. Eu fui e fiquei maravilhada. No regresso a Portugal passei a colaborar frequentemente com a Experimentáculo, mais conectada à vertente da juventude e a uma vertente muito internacional”, continua.

Com a Experimentáculo, também foi até à Roménia para integrar um projecto de voluntariado europeu, entre 2018 e 2019. “Fiz os meus estudos lá e colaborei com a associação durante todo esse tempo, à distância, em visitas a Portugal e também a receber visitas de elementos da Experimentáculo”, partilha. “Durante um ano estive mesmo num ambiente profissional. Apesar de ser voluntariado era como se fosse um trabalho e foi uma preparação muito importante para mim”, adianta.

Para além de voluntária também já desempenhou funções de mentoria com voluntários da associação e de

coordenadora de projectos adjunta. “Implementámos projectos em Setúbal, sobre empreendedorismo e reciclagem, tendo sempre por base assuntos interessantes, relevantes e da actualidade”, explica, adiantando que colaboraram igualmente com outros projectos fora de Setúbal e até do país, por toda a Europa.

Associação juvenil apresenta a cidade a partir dos seus projectos “A Experimentáculo, e eu tenho colaborado nesse processo, tem recebido vários jovens estrangeiros de toda a Europa para fazerem também o que fui fazer à Roménia, ficar um período mais longo, não necessariamente um ano, mas alguns meses, a trabalhar em Setúbal, onde a Experimentáculo actua, em iniciativas bastante diversificadas”, refere. “Através de um programa de mentoria, ajudo a lidar com estas pessoas, que estão num país novo. É sempre um processo de muitos altos e baixos e ajudo a integrá-los. Não

trazemos apenas as pessoas para cá, integramo-las na comunidade, apresentamo-las a Setúbal”, acrescenta, frisando que o facto de “também tem sido muito interessante que a maioria das pessoas não conhecia e foi embora de Portugal a ter Setúbal como a cidade de referência”.

Tendo a promoção da diversidade

Constança Seborro à queima-roupa

Idade 24 anos

Naturalidade Setúbal Residência Ericeira

Área Relações Internacionais e Estudos Europeus

A experiência no associativismo trouxe-lhe “grande crescimento pessoal e profissional”

e da multiculturalidade como ponto de partida, Constança partilha que “é um grande objectivo para nós, e acho que vai ser sempre, dar oportunidade aos jovens de conhecer pessoas de outras culturas, viajar para outros países e conhecer a nossa cidade, o nosso país. Esta é uma parte muito importante do meu trabalho na Experimentáculo e da associação em si e na qual todos podem participar”.

Entre os planos para o futuro está a continuação destes projectos e a criação de tantos outros “para poder receber e enviar muitas mais pessoas do que já enviámos e recebemos”.

No que diz respeito à importância que o associativismo assume no seu caminho, Constança Seborro afirma que “ter a oportunidade de colaborar com a Experimentáculo mudou mesmo a minha vida, assim como ter as experiências que tive e que sei que não teria se não fosse aquele primeiro contacto com o Pedro”.

Constança era uma pessoa “muito

mais tímida” e o trabalho feito até agora permitiu-lhe desenvolver as competências ao nível da língua inglesa e não só: “qualquer experiência que permita a socialização e a aprendizagem é sempre um bónus. Há uma grande vertente de crescimento pessoal e profissional no que toca à minha colaboração com a associação”. Na sua perspectiva, todos os treinos que realizou e todos os projectos em que participou deram-lhe esse crescimento, “não só enquanto participante, mas também a implementar os projectos e a coordená-los”. Foram, nas suas palavras, “momentos de crescimento pessoal”, em que estabeleceu contacto com muitas pessoas. “Trabalho em equipa nem sempre é fácil, principalmente quando envolve pessoas de muitos países e de culturas diferentes, e sinto que me permitiu crescer a nível profissional, porque esta é uma área de trabalho e é sempre uma nova experiência para adicionar ao currículo”. finda.

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Para a jovem setubalense, “qualquer experiência que permita a socialização e a aprendizagem é sempre um bónus” Inês Antunes Malta
DR

Associativismo

“Trabalho em parceria dá força e qualidade ao associativismo”

Presidente da associação juvenil Odisseia há onze anos, foi a 1 de Junho galardoado com a Medalha Municipal de Mérito - Grau Cobre, por ocasião do Dia do Concelho de Palmela

Daniel Silva tem 29 anos e reside no concelho de Palmela, mais precisamente no Pinhal Novo, desde sempre. Estudou sempre na freguesia até ao décimo ano, onde rumou até à Escola Secundária de Palmela para se formar em informática. Mais tarde, mudou-se para o ramo da produção de eventos, no qual tem vindo a trabalhar nos últimos anos.

Ligado ao movimento associativo juvenil, com e para outros jovens, dirige a associação Odisseia há onze anos, participa e assiste na produção desde as primeiras edições do Mercado Caramelo do Pinhal Novo, do Concurso de Bandas Amadoras de Palmela, da Feira Medieval de Palmela e do Festival Liberdade. É igualmente parte do Grupo de Trabalho do Março a Partir desde 2012. Por tudo isto e muito mais, foi, no passado dia 1 de Junho, galardoado com a Medalha Municipal de Mérito - Grau Cobre, no Dia do Concelho de Palmela.

“No final de 2009 fui convidado para integrar a associação Odisseia, em 2010 entrei para os corpos gerentes e em 2011 passei a presidente, até ao momento. Já completei dez anos de presidência, este ano é a minha recta final, estou a chegar aos 30”, começa por dizer Daniel Silva, para depois acrescentar que “o balanço tem sido positivo, no que diz respeito ao trabalho desenvolvido e também às ligações que estabelecemos entre nós. Todos estes anos foram uma constante aprendizagem para mim”.

Por considerar que “quanto mais gente entrar mais coisas, e com mais qualidade, se conseguem fazer”, Daniel Silva tratou de alinhar ideias e ob-

jectivos e angariar jovens para integrar este projecto. A associação juvenil Odisseia, fundada em 1998, conta actualmente com cerca de 15 elementos que desenvolvem projectos artísticos, educativos e sociais, “implementados a nível local, no Pinhal Novo, para a comunidade, não apenas a jovem como também a sénior”.

Dentro do leque de projectos dinamizados pela associação pinhalnovense, a mostra “Arte à janela”, patente na janela da sede da associação, apresenta projectos de artesanato, pintura ou fotografia de jovens ar-

tistas da freguesia ou do concelho e o Cineclube Odisseia prende-se na criação de públicos de cinema no Auditório do Pinhal Novo, enquanto a Mostra Internacional de Cinema Alternativo - Cão Amarelo está prevista para Novembro.

Também o “Talk Show Caramelo: Duas e um quarto”, adaptado às vivências e origens da terra, integra o rol das iniciativas de que Daniel Silva fala com o maior entusiasmo. “Entrevistamos pessoas com algum relevo, por vezes contamos com momentos musicais e divulgamos a agenda cul-

tural da freguesia”, conta. “A nível educativo, temos ainda a câmara escura, que pretendemos abrir para a comunidade para que os jovens possam perceber como acontece todo o processo e estamos a preparar-nos para lançar. Depois da fase de teste estamos a dar formação para que todos possamos fazer”, adianta, sem esquecer as “Quizz Nights”, um jogo de perguntas e respostas que é “um sucesso garantido que em menos de 24 horas consegue esgotar uma sala”.

Constante dinâmica caracteriza associativismo juvenil Sobre o movimento associativo na região, considera que o mesmo “tem força porque se consegue unir entre todos. Conseguimos trabalhar em conjunto e se precisarmos de ajuda temos outras associações que dão apoio, tal como nós também o fazemos”. Nas palavras de Daniel Silva, “esta ligação de parceria também faz com que a força do associativismo seja cada vez melhor e maior e isso é bom para todos”. Demonstração desta força é o Mercado Caramelo do Pinhal Novo “onde estão todas as associações da vila e todos nos entreajudamos”.

Os seus objectivos “até ao fim” alicerçam-se na continuação do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido. “Estamos também a desenvolver com as IPSS do concelho um trabalho que tem a ver com as histórias e memórias das pessoas mais idosas, numa lógica intergeracional, com os mais novos também a fazer parte do projecto e gostava que esse projecto continuasse e crescesse ainda mais”, confessa.

Também a produção de uma Novela Caramela da autoria da Odisseia, em formato radiofónico, fotográfico e televisivo, é um projecto a que Daniel Silva deseja continuidade. “No futuro, mesmo não estando como presidente, estas são iniciativas que irei acompanhar de perto, bem como todas as outras que possam surgir”, assegura. “Queremos também aumentar o número de jovens que fazem parte desta equipa. Este é um projecto juvenil, que tem inerente uma constante dinâmica. É sempre uma coisa diferente, nunca permanece o mesmo. Fazemos muita questão de realizar brainstormings e estão sempre a chover ideias”, remata.

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DANIEL SILVA
A associação é, nas suas palavras, "um projecto juvenil, que tem inerente uma constante dinâmica" Idade 29 anos Naturalidade Pinhal Novo Residência Pinhal Novo Área Produção de eventos Mesmo depois de terminar a presidência, garante acompanhar a associação de forma activa e inspiradora Daniel Silva à queima-roupa
Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografia)
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Associativismo

JOÃO BRÁS

“Estou feliz por fazer a minha parte para mudar o mundo”

Parte integrante da Associação Cultural Novas Ideias - Setúbal Academy, colabora igualmente no projecto CTRL+Estudo, com o Clube Intercultural Europeu e com o YMCA

João Brás tem 18 anos, dividiu a sua infância entre Oeiras, Azeitão e Quinta do Anjo, onde vive actualmente. Terminou recentemente o 12.º ano de escolaridade no curso de Ciências e Tecnologias na Escola Básica e Secundária Michel Giacometti e é parte da Associação Cultural Novas Ideias - Setúbal Academy (ACNI), onde faz “coisas que me parecem muito úteis e importantes” e por isso gosta de estar.

Ao longo do tempo, já fez voluntariado por diversas vezes, com destaque para uma viagem a Marrocos há três anos, que realizou com a sua tia e define como “a experiência maior” que teve neste sentido até ao momento. Esta viagem havia de ser o despertar para o associativismo, para a vontade de fazer e ser parte de algo maior.

“No início deste ano, devido ao falecimento da minha avó, estive muito triste. Quando consegui começar a recompor-me, passei cerca de 40 horas a pesquisar no país tudo o que havia de voluntariado para fazer”, começa por dizer. “Pensei que, entre outros motivos, por a minha avó gostar muito de ajudar os outros era importante começar a fazer voluntariado, para espairecer a cabeça e contribuir para o bem-estar de outras pessoas”, justifica.

Logo contactou a Bolsa de Voluntariado de Setúbal e começou a colaborar no projecto CTRL+Estudo, dinamizado pela Divisão de Juventude do município setubalense. Mais tarde, foi precisamente numa actividade da Divisão de Juventude que João conheceu a ACNI.

Depois de um primeiro encontro

adiado por um teste positivo à Covid, “assim que saí do isolamento vim de comboio até Setúbal, encontrar-me com o Fernando Cruz, o presidente da associação, que tem como principal objectivo formar jovens para serem líderes. Achei muito interessante o trabalho que estavam a fazer e decidi colaborar com eles”.

Determinado em fazer a sua parte para mudar o mundo

Juntou-se de imediato a todos os projectos e a ACNI tornou-se a sua

principal associação. “Já estava a colaborar com várias, para além da Divisão de Juventude estou no Clube Intercultural Europeu e com o YMCA, mas nem de perto ao nível do que estou com a ACNI, onde passo várias horas por dia em alguns dias e gosto muito do que faço. Estou aqui quase como se fosse um trabalho e com muito gosto”.

Neste momento, João Brás, que Fernando Cruz define como “um dos pilares de liderança da associação”, está a ajudar a concretizar o projecto social e ambiental “As Traseiras”. Com

o objectivo de criar um dos primeiros jardins sustentáveis do país inserido num bairro social através da recuperação de um espaço verde existente nas traseiras do Centro Sociocultural Elmano Sadino, no Bairro 2 de Abril, venceu em Fevereiro a 11.ª edição do Prémio Voluntariado Jovem Montepio, que estimula acções inovadoras a nível nacional. Integra igualmente outros projectos e outras actividades e também a música é uma área de interesse de João e de outros jovens que integram a associação. “Temos um grande trabalho desenvolvido

João Brás à queima-roupa

Idade 18 anos

Naturalidade Lisboa

Residência Quinta do Anjo Área Ciências e Tecnologias Define um maior reconhecimento pelo trabalho voluntário como a sua maior luta pessoal

com artistas de música. Já dei apoio a outros músicos e já actuaram no festival Troino ao Léu, organizado pela Bairro Cool”, diz. “O que fiz até agora, a dar explicações ou a entregar comida a sem-abrigos, nada tem a ver com o trabalho que realizo na ACNI. Estou a dar a cara, mas também estou no back office, a liderar projectos, a ajudar na gestão”, continua, frisando que “poucas associações punham um jovem de 18 anos sem experiência a liderar projectos. Aqui puseram e gostei muito disso. É importante dar aos jovens oportunidade de liderarem e o trabalho que estamos a fazer mostra que os jovens também são capazes”. Com o desejo de conseguir “melhorar o grupo onde se insere e o mundo como um todo” através das suas acções, João Brás define como a sua luta pessoal o reconhecimento pelo trabalho dinamizado enquanto elemento de uma associação.

“Ao estar aqui, não estou a brincar, estou a trabalhar muito, a esforçar-me e a aprender. A participar em eventos, falto a testes, perco tempo de estudo, prejudico o meu desempenho escolar, mas vou levar esta bagagem para a minha vida. É a minha maior luta fazer com que nos sejam dadas oportunidades”, refere. “Para o acesso à faculdade para nada conta se estou aqui a trabalhar ou as minhas experiências e isso deixa-me triste. O sistema nacional de ensino deveria ter essa abertura. O que fazemos devia ter muito mais reconhecimento, a nível de progressão de estudos e também de encontrar trabalho”, continua, para depois rematar: “ao fazer estes projectos todos, estou a fazer a minha parte para mudar o mundo e é isso que me deixa feliz”.

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João está a participar no projecto “As Traseiras”, que venceu em Fevereiro o Prémio Voluntariado Jovem Montepio Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografia)
29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 77

Associativismo

“As nossas acções mostram aos jovens do Montijo que são parte da mudança”

Com formação em Sociologia e em Crise e Acção Humanitária, é técnica na Omnis Factum Associação, onde trabalha para o desenvolvimento da comunidade

A ligação de Mariana Carrajola ao Montijo acontece através da Omnis Factum Associação, à qual chega em Setembro de 2021. À procura de trabalho, encontrou um estágio curricular na associação juvenil que lhe fez de imediato “todo o sentido”.

Estudou Sociologia, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. “No início, ambicionava seguir a vertente ambiental. Pensava que queria mudar o mundo a partir daí até perceber que em Portugal seria algo difícil”, começa por dizer.

Optou então por fazer uma pós-graduação em Crise e Acção Humanitária, seguida de um mestrado na mesma área “para conseguir trabalhar profissionalmente a longo termo nesta parte de desenvolvimento da comunidade. Considero que é mesmo uma das vertentes mais importantes e se ninguém se focar nisso a sociedade não funciona como deve ser”, prossegue.

Na universidade, fez parte do Núcleo de Estudantes de Sociologia, onde chegou mesmo a ser presidente, e é a partir desta experiência que se estabelece a sua ligação com o associativismo. Passou pela associação de estudantes do mesmo estabelecimento de ensino e integrou mais tarde uma equipa da AIESEC, onde percebeu “que o associativismo pode realmente desenvolver coisas em nós, que estamos a trabalhar nele, mas também nos outros, com quem estamos a interagir”.

A sua experiência na Omnis Factum Associação, na qual é técnica desde Junho, passa pela gestão e realização de projectos: “entendemos o que se está a passar a nível local, procuramos

perceber o que podemos fazer para melhorar, discutimos ideias e formulamos projectos para conseguirmos implementar e mudar algo na comunidade”. Para a jovem, “é realmente associativismo a sério, muito diferente das restantes experiências. Lida com os jovens do Montijo, mas também tenta chegar a todo o distrito de Setúbal”.

Mariana Carrajola à queima-roupa

Idade 23 anos

No que diz respeito aos projectos que desenvolve na área do voluntariado e da participação juvenil, neste momento têm dois grandes a decorrer: a Brigada Ambiental do Montijo, “a parte mais ecológica do nosso associativismo”, na qual, atendendo à fase de crescimento em que se encontram, tencionam dar o passo seguinte e iniciar a realização de workshops. “Não se salva o mundo a apanhar lixo do chão, é preciso consciencializar as pessoas, percebermos que há acções individuais que podemos fazer e é muito com essas acções que queremos empoderar os jovens”, declara.

culturalidade existente no território e desenvolver a integração de todas as pessoas.

De estagiária a técnica, vê no associativismo forma de indicar caminhos aos jovens e gerar mudança

Também a Escola da Interculturalidade Global é um projecto com assinatura Omnis Factum, que pretende “juntar todas as culturas do Montijo, tendo em conta as 72 nacionalidades existentes no concelho, para que este seja um espaço mais integrador”. Uma vez por mês tem assim lugar uma sessão com o objectivo de desconstruir preconceitos, abordar a multi-

Depois do desafio inicial, um processo de crescimento Para Mariana Carrajola, que iniciou o seu percurso na Omnis Factum enquanto estagiária e é, desde 7 de Junho, técnica na associação, “a experiência foi inicialmente um desafio e no presente é mesmo de crescimento. Estou mesmo super feliz de ter feito este estágio e desejosa de dar continuidade”. Foi, assim, “fundamental” para si fazer parte do associativismo, que lhe permite “conhecer muita gente e ganhar capacidades que de outra forma talvez não as desenvolvesse.

Isso foi muito importante para me tornar a pessoa que sou hoje”.

“Quando passamos por esta experiência queremos também passá-la ao próximo e eu acho que é muito disso que se faz o associativismo. É querermos que outros jovens sintam o mes-

mo que sentimos, que têm um espaço onde podem crescer, desenvolver as suas capacidades e realmente ver que caminho querem seguir entre os mil que nos são apresentados quando somos jovens”, considera.

O associativismo traz, assim, a Mariana Carrajola uma possibilidade de experimentação desses caminhos e dá a perspectiva de que “nós, jovens, podemos fazer algo e com as nossas acções é mesmo isso que estamos a tentar fazer, mostrar aos jovens do Montijo que são parte de uma mudança”. O Montijo é, no seu entender, terra rica em associações, “todas importantes e a fazer o seu trabalho. Neste momento, juvenis, que eu tenha conhecimento, só existimos nós, o que torna ainda mais importante puxarmos para cima o nosso território e as nossas gentes. É muito importante perceber-se que no associativismo não estamos uns contra os outros mas trabalhamos em conjunto para que a sociedade se torne realmente num sítio melhor”, termina.

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O associativismo deu a Mariana a oportunidade de “ganhar capacidades que de outra forma talvez não desenvolvesse”
Naturalidade Cascais Residência Montijo Área Associativismo
Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografia)

ROGÉRIO CONCEIÇÃO

O serralheiro civil a quem o avô transmitiu o ‘bichinho’ do associativismo

Aos 23 anos é presidente da assembleia-geral dos Ídolos do Chinquilho da Anunciada. “Sem os mais velhos não existiriam as colectividades, mas agora é a juventude que tem de dar força aos projectos”, diz

Rogério Conceição vive desde sempre no Bairro Grito do Povo, em Setúbal, onde gosta de estar e se sente verdadeiramente em casa. Com 23 anos, é serralheiro civil na Câmara Municipal de Setúbal e presidente da mesa da assembleia da associação Ídolos do Chinquilho da Anunciada.

Estudou até ao nono ano nas escolas da Anunciada, primeiramente do primeiro ao quarto na Escola n.º 9 do Casal das Figueiras e depois na Escola Secundária Lima de Freitas, até ao nono ano. Seguiu-se uma experiência no Centro de Formação Profissional Solisform, na Lisnave, onde tirou o seu curso de Técnico de Manutenção Industrial, 12.º ano, nível quatro.

Em 2014, a então presidente do município setubalense, Maria das Dores Meira, dinamiza uma reunião com os moradores no Bairro Grito do Povo. “Começou por formar grupos de moradores para ajudar a melhorar o bairro e entre estes surge um grupo informal, ‘Luta pela Juventude’, que marca o nascimento do meu percurso no associativismo e no qual trabalhámos com os jovens do bairro e fizemos muitas actividades envolvendo miúdos e graúdos”, começa por dizer Rogério Conceição. “Sempre gostei de bairros, Setúbal é composta por bairros e eu gosto disso. Sou filho de um e não gosto de ver os bairros mortos, quero vê-los vivos”, afirma.

Quem o motivou a participar foi o seu avô, uma das pessoas que esteve à frente da construção do Bairro Grito do Povo, em 1974, e que o levou a esta

reunião inicial. “O meu avô foi director da associação de moradores daquela altura e deixou-me o ‘bichinho’. Transmitiu-me o gosto pelo associativismo e por esta vontade de fazer acontecer”, continua.

Oficinas colaborativas marcam arranque no movimento associativo Depois do “Luta pela Juventude”, forma-se então o GO - Grupo Oficinas Colaborativas, projecto da autarquia implementado no território da Anunciada, onde se inclui o Bairro Grito do Povo e o Bairro dos Pescadores.

Nestas oficinas, dinamizadas em conjunto com técnicas municipais, foi desenvolvido trabalho para alcançar melhoramentos nos bairros.

“Juntávamo-nos aos sábados à tarde e discutíamos vários assuntos dos bairros, que, entretanto, receberam a intervenção do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano. Acompanhámos as obras, éramos uma parte do processo, ouvidos e olhos para que os trabalhos andassem e corressem bem.

Escolhemos como o bairro tinha de ser e tínhamos de estar ali prontos para trabalhar também”, partilha, adiantando que “quisemos ainda chamar a população de Setúbal aos Bairros dos Pescadores e do Grito do Povo, que sempre estiveram muito esquecidos e muitas pessoas não conhecem”.

As oficinas, na sua opinião, também vieram alterar esta situação, trazendo “pessoas de outros pontos da cidade a conhecer os nossos bairros, a nossa tradição, porque somos filhos e netos de pescadores e conserveiras”.

Entre as actividades realizadas por este grupo, do qual fez parte até meados de 2021, Rogério Conceição destaca, entre outras, “uma caminhada, um circuito entre os bairros, todos ligados por escadas, e o livro ‘Caminhos com História’, onde consta também o meu testemunho e os de vários elementos do GO e de moradores dos bairros sobre a história dos mesmos”.

Em Setúbal, existem, no seu entender, “muitas associações e os jovens

deviam olhar para tal e juntarem-se. Os fundadores e sócios mais antigos precisam que seja dada continuidade ao que iniciaram. Estas colectividades hoje se não tiverem jovens com ideias novas e frescas acabam por fechar portas”.

Neste sentido, entende que a sua “função passa por puxar mais jovens para as colectividades, não deixando

Rogério Conceição à

queima-roupa

Idade 23 anos

Naturalidade Setúbal

Residência Setúbal

Área Associativismo

Com orgulho nas suas origens e tradições, tem muitos sonhos para os bairros e vontade de os cumprir

os mais velhos, que são a pedra fundamental. Sem eles não existiriam as colectividades, mas agora é a juventude que tem de trabalhar nestas iniciativas e de dar força aos projectos. Tem de haver força e é isso que me move mais para o associativismo”.

Em Fevereiro deste ano, foi convidado para integrar a direcção dos Ídolos do Chinquilho da Anunciada, da qual já é sócio há algum tempo. “Foi um novo desafio. A colectividade estava para fechar, mas agora retomou e está a funcionar bem. É um ambiente familiar, uma casa animadora e vamos estar cá de pedra e cal para que a casa levante”, diz. “As colectividades fazem-se de muito trabalho, com as direcções e os sócios. As direcções passam e a história das casas fica. Não podemos deixar morrer as nossas colectividades e nos Ídolos do Chinquilho da Anunciada temos muitos projectos para o futuro, para juntar sócios e amigos nesta casa para que seja ainda mais forte do que é”, remata.

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Com vontade de fazer acontecer, entende que tem como função puxar mais jovens para as colectividades Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografia)

Associativismo

“Associados e em conjunto temos muito mais poder do que sozinhos"

Presidente do Projecto Ruído, estreou-se enquanto dirigente associativo na Escola Secundária Sebastião da Gama e hoje é presença assídua no comité organizador do Festival Liberdade

Nascido no Barreiro, Simão Calixto cresceu e vive actualmente na Quinta do Conde, onde também estudou até ao seu nono ano. No arranque de uma nova fase, chegou à Escola Secundária Sebastião da Gama, em Setúbal, para integrar o curso de Ciências e Tecnologias.

Foi neste momento que iniciou o seu percurso enquanto dirigente associativo, ao criar, com duas amigas, a rádio da escola, que até então não existia e não demorou a ser um projecto bem-sucedido.

Passou também pela Associação de Estudantes da mesma instituição de ensino, onde “sempre tivemos uma postura muito reivindicativa no sentido da resolução de problemas que identificávamos na escola” e percebeu que “associados e em conjunto temos muito mais poder do que sozinhos”, começa por contar.

No decorrer deste processo, tomou conhecimento do Festival Liberdade, no qual participa desde 2015, “um formato sem igual e uma marca grande” na sua experiência associativa.

“Os encontros do movimento associativo sempre foram, para mim, muito enriquecedores, enquanto dirigente e na perspectiva de troca de experiências e de conhecer outras realidades que também enriquecem a nossa”, considera. “Aprendi muito com o festival e foi a partir daí que tomei conhecimento do Projecto Ruído. Depois de sair da Associação de Estudantes, fui envolvendo-me mais, por concordar com todas as coisas que faziam. Em 2017, entro para o projecto e sou dirigente associativo desde 2019”, conta, acrescentando

que, no Festival Liberdade, o Projecto Ruído participa desde o seu início, de diversas formas, mas sempre enquanto parte integrante do comité organizador do festival e impulsionador do Encontro do Movimento Associativo da região.

O desarmamento nuclear, a paz, o racismo e as questões da igualdade são alguns dos temas que norteiam a actividade da associação que, apesar de não ter ainda sede física, desenvolve diversas iniciativas no concelho do Seixal.

Nos últimos dois anos, o projec-

to “Faz ruído pela igualdade”, que passou pela Moita, Montijo, Seixal e Setúbal, tem procurado "alertar para as questões da igualdade nas várias fases e nos vários aspectos e ambientes da vida”.

Para Simão Calixto, importa ainda destacar o trabalho feito no âmbito do desarmamento nuclear, com a campanha "Desarma a bomba", que em 2018 percorreu as escolas da região e do país. “Recolhemos assinaturas para Portugal aderir ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares e foi uma experiência incrível, com a

qual chegámos a milhares de jovens estudantes, muito concordantes com a ideia do fim das armas nucleares e da luta pela paz”, partilha, frisando que “hoje, com a questão do conflito da Ucrânia, estamos a tentar retomar nesse sentido, dada a experiência muito positiva que temos. De repente tornou-se mais actual, parece que nada mais importa senão a paz”. Com o percurso académico "sempre muito ligado à região e à cidade de Setúbal", no presente encontra-se a terminar a licenciatura em Tecnologias do Ambiente e do Mar, no Instituto Politécnico de Setúbal, onde também já dirigiu o núcleo do seu curso.

Associativismo enriquece experiência pessoal

O associativismo assume na sua vida elevada importância por permitir “desenvolver actividades com outras pessoas em áreas de interesse para além da escola ou do trabalho. Juntos, duas cabeças pensam melhor do que uma e assim sucessivamente. Às vezes falta-nos esse tempo livre para pensar e fazer mais, mas tentamos sempre dar um bocadinho mais de nós para concretizar”. O Projecto Ruído fá-lo, precisamente, concretizar, “ir à procura de participar mais, em novas iniciativas e adquirir novas experiências que, se não fizesse parte, não seria possível”.

O movimento associativo juvenil da região é, segundo Simão, caracterizado pela sua variedade, "de concelho para concelho, há coisas completamente diferentes, nas mais variadas áreas”. Verifica igualmente "muita disponibilidade e o Festival Liberdade é a prova disso. Todos os anos dezenas de associações e centenas de jovens participam na sua construção e realização e isso é valiosíssimo”.

Já fez parte de várias associações e a necessidade de mais apoios e menos burocracia é, no seu entender, um aspecto comum porque “o movimento associativo todo precisa de mais apoio”. Regista “uma dificuldade muito grande, principalmente para aceder aos apoios do Instituto Português do Desporto e da Juventude, que devia aprender mais com os municípios no aspecto da proximidade, envolvimento e apoio", que nem sempre é financeiro. Por vezes é somente necessária "ajuda ou apoio logístico".

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SIMÃO CALIXTO
movimento associativo juvenil da região é, no seu entender, caracterizado pela sua variedade e disponibilidade Idade 24 anos Naturalidade Barreiro Residência Quinta do Conde Área Tecnologias do Ambiente e do Mar Já tendo feito parte de várias associações, acredita no poder de pensar e transformar em colectivo Simão Calixto à queima-roupa
O
Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografia)
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Reportagem

A revista que deu lugar à associação que fomenta a criação artística emergente

Este ano dão continuidade ao projecto

“Caleidoscópio”, apoiado pela Direcção Geral das Artes, têm exposições e workshops agendados e já pensam em novos projectos para 2023

A ideia de criar uma revista de arte passa a realidade em Julho de 2018 pelas mãos de Margarida Mata e Pedro Cunha. Margarida é formada em Belas Artes e em Museologia e trabalha desde sempre na área cultural, no campo da mediação e produção. Pedro é designer gráfico e antes da criação da FOmE trabalhava enquanto freelancer e realizava outros trabalhos fora da sua área de formação. Quando no Verão de 2018 ficou sem trabalho, logo encontrou na Margarida a vontade de abraçarem novos projectos em conjunto. Em Dezembro do mesmo ano lançam o primeiro volume.

“Pensámos criar uma empresa de design com uma vertente cultural forte, mas seria importante haver algo que distinguiria essa empresa. Tínhamos detectado que seria interessante haver um projecto como a FOmE, que unisse vários projectos artísticos emergentes em Setúbal, Pinhal Novo, Barreiro, etc.”, recordam. “Entre Julho e Agosto de 2018 planeámos o que seria a FOmE, em Setembro começámos a fazer contactos concretos e em Dezembro, sem apoios, recorrendo apenas a investimento pessoal, lançámos o primeiro volume”, adiantam.

Mais de três anos depois, a revista FOmE deu lugar a “uma associação cultural que através de vários projectos, e tendo a revista como núcleo, se dedica a fomentar a criação artística emergente na Margem Sul do Tejo”. Trabalham “em duas vias que se misturam” com artistas locais e não locais, em projectos no território, mas também além dele, “acreditando que são esses fluxos que podem contribuir

para um crescimento mais concreto e consequente”.

Neste momento, a FOmE não é o seu trabalho a full time “pois ainda não temos as condições financeiras que o permitam”. O Pedro é designer freelancer e a Margarida trabalha enquanto assistente curatorial e produtora de artes visuais do Festival Iminente.

A mistura de artistas, geográfica e de expressão, é a marca do projecto Cada volume da revista apresenta, por norma, cerca de oito artistas, um artigo sobre música, outro sobre um projecto artístico e os restantes mais ligados às artes visuais.

“Nunca imaginámos que o projecto

pudesse ter tantas derivações com a revista como núcleo. Neste momento, produzimos exposições, concertos, peças de arte pública, entre outros, e cremos que essa evolução é sintomática de que de facto seria muito necessário um projecto como o nosso”, consideram. “Queremos sempre dar destaque a artistas da região, mas não queremos criar uma bolha, queremos sim que as bolhas rebentem. Fazemos sempre misturas de artistas, tanto geográficas como de expressão, e achamos que essa é a marca da FOmE. Vemos esta mistura como uma missão que acaba por contribuir para um maior acesso às expressões emergentes”, continuam.

Neste mês de Julho, sai mais um no-

vo volume, inserido no projecto “Caleidoscópio”, que agrega os lançamentos de 2022, sempre acompanhados de concerto, exposição e obra de arte pública. “A nossa lógica é que a revista seja o núcleo a partir do qual nascem esses projectos. Além de contribuírem para uma maior visibilidade da FOmE, estes projectos são também uma forma de sustentar a FOmE e trazer mais trabalho aos artistas”, explicam. “Este ano vamos dar continuidade ao projecto ‘Caleidoscópio’, apoiado pela Direcção Geral das Artes e que contempla um ciclo de programação cuja primeira edição aconteceu no Pinhal Novo, com passagens pelo Barreiro e por Setúbal, realizar exposições,

alguns projectos ligados à formação através de workshops e, entretanto, estamos a pensar em novos projectos já para 2023”, continuam.

Na hora de fazer um retrato do panorama cultural da região, Margarida Mata e Pedro Cunha reconhecem-no “vibrante, mas fragmentado”. Registam “diferenças muito acentuadas entre as várias localidades, tanto na quantidade como no género de programação e criação cultural”, sentindo igualmente que “os projectos circulam pouco entre municípios, assim como os públicos. Cabe-nos a nós, agentes culturais, tentar alterar esse panorama e criar redes entre nós que acabem por contaminar as instituições”.

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FOME
Pedro Cunha e Margarida Mata, os responsáveis pelo projecto, consideram que o panorama cultural da região é "vibrante mas fragmentado" Inês Antunes Malta
DR

NOVAS IDEIAS SETÚBAL ACADEMY

Associação liderada por jovem torna as boas ideias realidade

Fernando Cruz é o presidente da Associação Cultural Novas Ideias Setúbal Academy há quase seis anos, cargo que muito o tem estimulado e colocado em contacto com os jovens locais

Vestido de t-shirt, calças de ganga e com um boné na cabeça, Fernando Cruz entra na Casa da Baía com um sorriso no rosto e vai cumprimentando jovialmente quem com ele se cruza, no meio do clima de agitação do Dia da Cultura Húngara. Promovido pela Associação Cultural Novas Ideias (ACNI) Setúbal Academy – da qual é presidente – em parceria com a Embaixada da Hungria e a Câmara de Setúbal, este é um evento especial, pois representa bem o trabalho que a associação tem vindo a desenvolver nos últimos tempos.

Enquanto os representantes da Hungria, entre os quais o embaixador em Lisboa e o vice-presidente da Câmara de Debrecen (a segunda maior cidade daquele país), e a vice-presidente da autarquia setubalense se juntam no pátio interior da Casa da Baía, o público em geral e os voluntários da associação vão convivendo alegremente. No compasso de espera, Fernando aproveita para vestir uma camisa e um blazer mais adequados ao momento dos discursos, para depois reforçar a importância da criação de “pontes culturais”.

A tarde é preenchida com uma programação diversificada, em torno das tradições e costumes húngaros, com demonstrações de música, dança e trajes tradicionais, gastronomia e workshops de diferentes artes. À conversa com O SETUBALENSE, Fernando Cruz, 33 anos, destaca o Dia da Cultura Húngara como uma das facetas visíveis do trabalho da ACNI, e de caminho recorda um pouco do seu percurso pessoal e profissional, iniciado na Escola EB 2/3 de Aranguez

e que passou também pela escola da Bela Vista.

No final do secundário, Fernando Cruz escolheu seguir o curso de Marketing e Comunicação da Escola Profissional de Setúbal, mas desistiu e foi para o Conservatório de Música da Jobra, em Aveiro, estudar piano e música clássica durante três anos.

“Para um miúdo do bairro, que só vivia a música do hip hop, a oportunidade de conhecer músicos de topo foi uma transformação radical, e isso também me motivou a criar a associação”, recorda ao jornal, enquanto a festa húngara enche a Casa da Baía de cor e movimento.

“Quando regressei a Setúbal senti que havia falta de oportunidades para os jovens que, como eu, queriam

desenvolver as suas actividades culturais. Não havia oportunidades, e eu queria profissionalizar-me como músico”, conta o presidente da ACNI, que também tem experiência como DJ e produtor musical. “Entretanto comecei a trabalhar na Casa da Cultura e percebi que podia fazer mais, mas fora da música, criando uma associação que desse oportunidades as jovens para desenvolverem os seus talentos”.

Com vontade de fazer acontecer, Fernando Cruz uniu-se ao seu amigo de longa data João Patronilo e assim nasceu a Setúbal Academy, a 17 de Outubro de 2016. O projecto era então “uma espécie de academia onde os jovens setubalenses podiam descobrir aquilo que realmente os mo-

tivava, consoante os seus talentos e aptidões” – “porque muitos saem da escola sem saber para onde ir”, comenta Fernando. As actividades estavam muito ligadas à música e ao desporto e permitiram criar, até, uma equipa de basquete feminino.

O salto para a actual versão da Associação Cultural Novas Ideias deu-se mais recentemente, quando a associação se lançou na organização do Cine Play, um festival ligado ao cinema, cosplay e gaming (videojogos), com o apoio da autarquia. “A partir desse evento percebemos que tínhamos oportunidade de trabalhar com embaixadas de diferentes países (já reunimos com as embaixadas da Palestina, Japão, Colômbia, Coreia do Sul e Hungria), e aí abriu-se uma

porta enorme de contactos”, conta Fernando Cruz.

Actualmente, a ACNI mobiliza “mais de 20 jovens voluntários da região de Setúbal e Palmela, com idades entre os 17 e os 27 anos”. Além de liderar os destinos da associação de forma enérgica e carismática, Fernando Cruz também dá “formação de liderança” aos jovens. No histórico da Setúbal Academy conta-se também o lugar cimeiro na 11.ª edição do Prémio Voluntariado Jovem Montepio, que promove acções inovadoras a nível nacional. A ACNI venceu este prémio com o projecto “As Traseiras”, que uniu as vertentes social e ambiental na transformação de um terreno abandonado num jardim sustentável, num bairro social da cidade.

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Associação fundada e dirigida por Fernando Cruz envolve duas dezenas de voluntários de Setúbal e Palmela André Rosa (Texto) Mário Romão (Fotografia)

Artes e Espectáculos

“A arquitectura é uma paixão que quero manter o resto da vida”

Com apenas 18 anos, o jovem aluno setubalense tem já um percurso artístico vincado, com várias obras, e muito surpreendente

Bernardo Botelho estudou sempre em Setúbal, entre a Escola das Areias, a Escola Básica du Bocage e mais recentemente a Escola Secundária du Bocage. No que diz respeito à sua educação e formação nas artes visuais, estas decorreram quase em ziguezague, apesar de o gosto pelas mesmas se manter inalterado.

“No quinto ano, tive Educação Visual, mas entrei no Conservatório para estudar violino e as outras disciplinas da instituição. Quando fui para o sétimo ano, deixei de ter Educação Visual na escola e só mais tarde, no décimo, quando entrei para Artes, continuei a estudar na área de que gostava”, começa por dizer.

O desenho existe na sua vida desde criança e já nesses tempos os seus pais notavam algo diferenciador nos rabiscos e desenhos que então fazia. “Adorava replicar desenhos, sempre fui muito atento a tudo o que estava à minha volta. No primeiro ciclo, por exemplo, tive uma grande fixação pelas marchas populares. Obrigava os meus pais a irmos e depois estava meses a desenhar aquilo de que me lembrava, das roupas e de toda a envolvência”, partilha.

O interesse e a produção cresceram quando, no decorrer do seu décimo ano de escolaridade, se dá o primeiro confinamento. “Como gosto imenso de sair de casa e ir por exemplo à Praça de Bocage e à baixa, em visitas em que acabo também por absorver inspiração, obrigado a estar em casa comecei a produzir mais”, diz. “Ainda antes de começar, não sa-

bia bem por que linha ir, se fazia algo mais cubista, mais geometrizado ou muito realista”, acrescenta.

Depois de uma árdua pesquisa para conhecer artistas e procurar inspiração, pediu emprestado à tia o DVD do documentário “Paula Rego, histórias & segredos”. Ao ver, “achei que a forma de ela contar histórias clássicas de uma maneira tão actual e agressiva era o ideal para também eu passar a mensagem que queria”.

Tendo o método de Paula Rego como inspiração, mobilizou os familiares para posar para si e “resultou. Aprendi muito, desde estética a fazer figura humana, tudo realista. Aperfeiçoei muito a técnica do pastel seco, foi uma pintora que me marcou muito”.

Neste período, “Os Lusíadas”, obra que há dois anos se encontrava a ler e a estudar, ganharam final-

Bernardo Botelho à queima-roupa

Idade 18 anos Naturalidade Setúbal Residência Setúbal Área Artes visuais O amor incondicional pelas artes vai estar sempre presente na arquitectura que vier a fazer

mente nova forma, das páginas do livro para a tela, com assinatura de Bernardo Botelho. “No secundário, tive um professor de português que despertou o grande interesse em mim pela literatura portuguesa e pela cultura portuguesa em si. Eu não dava valor nenhum ao que temos e sempre disse que gostava de ir estudar para Londres na faculdade e trabalhar para fora”, confessa. “Ele fez-me ver que temos coisas do melhor cá e a minha aposta nesta obra vem também no sentido de mostrar isso”, adianta, para depois explicar que “apesar de ser uma obra muito antiga dos descobrimentos, estou a fazer os quadros muito afastados disso. Utilizo mais as metáforas para

mostrar a verdadeira mensagem por trás da epopeia, que é a mesma da ‘Mensagem’ de Fernando Pessoa”.

Foi precisamente a Fernando Pessoa que dedicou uma escultura, que hoje decora a sala de sua casa, na hora de escolher um tema para um trabalho da escola. “Sou fascinado pelas artes no geral, mas se não tivesse sido desafiado não teria feito escultura e agora dá-me muita vontade de fazer mais”, conta.

Pegar no passado para construir o presente

Encantado por história de arte e história em si, “pego em eventos passados muito marcantes que de certa forma têm uma moral e trago-os para agora. As mensagens continuam muito actuais e gosto imenso de pegar na mensagem de pinturas antigas e fazê-las de forma completamente diferente”. Bernardo Botelho é, no fundo, “fascinado por contar histórias. Gosto sempre de ver quadros que me contam uma história e nos quais consigo identificar algo mais, sentir os sentimentos das figuras representadas como um filme feito no quadro”.

Também a partir de histórias e figuras do universo Disney, o jovem setubalense lançou recentemente uma colecção de seis tote bags pintadas por si.

Completou neste ano lectivo o ensino secundário e projecta o seu futuro na arquitectura, área na qual ingressará em breve no ensino superior, mantendo sempre as restantes artes por perto. “No décimo ano, a disciplina de geometria descritiva despertou-me muito o gosto pela arquitectura. Comecei a pesquisar, a ficar completamente rendido e a investir tudo o que podia em livros sobre o tema”, afirma. “Realmente foi uma paixão vinda do nada, mas é o que quero fazer para o resto da vida. Arquitectura fascina-me bastante mais do que pintar, apesar de ter um fascínio incondicional pelas artes e acho que isso vai estar sempre presente na arquitectura que eu vier a fazer”, termina.

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Desde
sempre
muito atento
a tudo o que rodeia, o encanto e aptidão natural pelas artes visuais levaram-no a lançar-se na pintura
Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografia)
Sou fascinado por contar histórias. Gosto sempre de ver quadros que me contam uma história e nos quais consigo identificar algo mais
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Artes e Espectáculos

“A arte e as viagens são as melhores ferramentas para fugir da rotina”

O rapper setubalense prepara-se para lançar ainda este ano o primeiro disco, “Plateia”, fonte de inovação no universo do hip-hop nacional e espelho da força que as viagens lhe transmitem

André Moniz nasceu em 1994, em Setúbal. Começou a fazer teatro no grupo “Os Metáforas”, em 2008, e foi actor no Teatro Animação de Setúbal entre 2014 e 2020. Ao longo do caminho, realizou trabalhos a nível independente e deu aulas de teatro a adultos e a crianças.

Na sua perspectiva, “há todo esse universo paralelo que acaba por ser uma complementaridade natural. São muito poucos os artistas que só fazem música ou só fazem teatro e obviamente eu não sou um deles”.

Também em 2014 juntou-se ao colectivo “Moços do Bêco” e entrou para o curso de Musicologia, na Universidade Nova de Lisboa, onde esteve apenas um mês. O projecto Moniztico marca o arranque enquanto músico. Em 2015 o primeiro trabalho discográfico “Boca de cena” foi considerado pela BandCom um dos melhores discos do ano em Portugal e deu origem a um musical que integrou o XVII Festival Internacional de Teatro de Setúbal.

Com 14 anos de experiência enquanto músico independente e actor, no presente ao serviço da Câmara Municipal de Setúbal como programador cultural, André Moniz considera que foi “parar à música a partir da escrita. Gostava muito de escrever”. Em tempos, costumava trazer consigo um dicionário de sinónimos, que talvez seja a explicação para a confiança com que hoje agarra as palavras.

Onde o sangue ferve, o amor se exalta e a vida é leve

Viveu alguns meses na Grécia, passou por Aljezur e realizou diversas viagens

que haviam de lhe abrir, ainda mais, os horizontes. “Rodrigo Amarante diz que uma das coisas mais interessantes de viajar é teres um quarto vazio, acordares e não teres todos aqueles objectos que te identificam e relembram quem tu és. A partir daí és como uma folha branca e tens todo o livre arbítrio para fazeres o que quiseres dela”, partilha.

Desde 2020 responde por Ohmonizciente e é precisamente sobre viagens o seu primeiro disco, “Plateia”, que há-de sair até final do ano. Lançou recentemente o primeiro single “Onde o sangue ferve”, onde a cantautora a garota não participa a interpretar o refrão. “A primeira coisa que preciso de sublinhar é a importância da Cátia Oliveira para mim, a nível artístico, mas também humano. Sempre me deu muita força e me chamou para trabalharmos juntos”,

conta. “Essa é uma das linhas mais admiráveis do trabalho dela, mesmo estando numa fase crescente e pulsante da carreira não prescinde de ter à volta as pessoas em que acredita genuinamente”, adianta.

Nas palavras de André Moniz, “sendo um álbum sobre viagens, fazia

André Moniz à queima-roupa

Idade 28 anos Naturalidade Setúbal Residência Palmela Área Música e teatro Rapper e actor numa complementaridade que diz ser natural, tem um papel interventivo na cidade

sentido começar com este som e esta mescla de sítios que me moldaram muito. É uma nota introdutória para o meu processo e para aquilo que considero o âmago do disco. É sempre perigoso dizer isto, mas, para aquele que é o panorama hip-hop nacional, acho que o álbum é uma cena inovadora. Foi para aí que apontámos”.

Segue-se “Planisfério”, single igualmente parte de um disco “onde já tocaram mais de 20 músicos, alguns dos melhores do país com quem nunca sonhei ter oportunidade de trabalhar”.

Amor com amor se paga e no mais recente disco de ‘a garota não’, 2 de Abril, Ohmonizciente adiciona o seu contributo à canção “Mediterrâneo”: “Foi para mim muito interessante explorar este tema da crise humanitária no Mediterrâneo e é das poucas canções em que está o meu nome

e já chorei a ouvir. Aquela música é mesmo uma bala no peito, uma masterpiece”.

Enquanto Ohmonizciente, “nesta fase a minha missão tem a ver com criar um imaginário às pessoas que lhes permita fugir da rotina, dos grilhões do dia-a-dia”. Por vezes, “precisamos de ter ferramentas para fugir disso e acho que se calhar as duas formas mais claras de fazer isso é viajar e é a arte, é os artistas entregarem-te qualquer coisa que possibilite isso. Gostava de conseguir fazer isso, não sei se consigo, mas pelo menos tento”.

Também a questão do altruísmo entra nesta equação, e “a verdade é que as coisas que fazemos exclusivamente para nós são as coisas que asseguram a nossa sobrevivência. Tudo o resto é muito para os outros porque somos bichos sociais”. Quando lemos um livro, "estamos a tirar prazer e é um acto individual, mas tens uma sede de poder conversar. As pessoas falam do 1984 e tu queres dar a tua opinião", exemplifica.

André Moniz tenta, assim, que o que escreve e a mensagem que entrega às pessoas “também seja nesse sentido de cultivar esta ideia de que a melhor forma de sermos bem tratados pelos outros é tratarmos bem os outros também. Depois, o caminho é perceber como podemos fazer isso, ultrapassando as nossas limitações, sobretudo emocionais, que todos temos”, termina.

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Com 14 anos de experiência como músico independente, Ohmonizciente chegou à música a partir da escrita Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografia)
No disco já tocaram mais de 20 músicos, alguns dos melhores do país com quem nunca sonhei ter oportunidade de trabalhar
29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 87

Artes e Espectáculos

INÊS GASPAR

“O palco é o meu lugar e a música vai continuar na minha vida”

Jovem de Corroios venceu, em 2019, o Festival da Canção Moinho d’Ouro, com o tema “Meu amor de longe”, e tem como sonho cantar numa casa de fados

ano na Escola Secundária Daniel Sampaio, na Sobreda, e é parte integrante da Classe “Talentos sem fronteiras”, do Centro Cultural e Recreativo do Alto do Moinho (CCRAM).

“No final do 4.º ano, a minha professora de arte musical, Ana Cristina Videira, ouviu-me a cantar e incentivou-me a entrar no grupo ‘Talentos sem fronteiras’, onde comecei a cantar e do qual sou aluna até hoje. Tenho aprendido bastante”, começa por contar Inês Gaspar, adiantando que tal lhe tem vindo a possibilitar “várias coisas” e a abrir “várias portas”.

amor de longe”. Em 2020, mesmo antes de a pandemia começar, também participou num concurso internacional, em Itália, onde ganhou o segundo lugar. “Para além da convivência com os outros candidatos, foram experiências interessantes e das quais gostei bastante”, refere.

Inês Gaspar à queima-roupa

Inês Gaspar nasceu em Almada, cresceu na Charneca da Caparica e vive actualmente em Corroios. Com 13 anos, encontra-se a frequentar o 7.º

Em 2019, participa no XVI Festival Internacional de Canção Infantil e Juvenil Moinho d’Ouro, organizado pelo CCRAM em parceria com a Junta de Freguesia de Corroios, no qual alcança o primeiro lugar na categoria Infantil Versões com a canção “Meu

Idade 13 anos

Naturalidade Almada Residência Corroios Área Música

Normalmente tímida no seu quotidiano, quando sobe ao palco solta-se e sente-se em casa

No grupo, “muito unido e com grande espírito de entreajuda”, os elementos, de faixa etária entre os 12 e os 20 anos, participam habitualmente em vários concursos e eventos por todo o concelho e até além-fronteiras. Ensaiam todas as sextas-feiras e “os mais velhos puxam pelos mais novos e ensinam-nos como respirar, entre outras coisas. Ajudamo-nos sempre mutuamente. É o grupo ideal”, considera Inês.

Neste momento, encontram-se a participar no novo musical “Talentos sem fronteiras”, denominado “Feitos de amor”, no qual Inês Gaspar participa em várias músicas e canta a música principal, que dá o nome ao espectáculo, na qual tem ainda uma parte individual.

“Em termos musicais, aprendo muito com as professoras Joana Vi-

deira e Ana Cristina Videira. Os ‘Talentos sem fronteiras’ já me abriram muitas portas, é lá que eu treino e é muito importante para mim”, partilha.

Para Inês Gaspar, “a música permite-nos exprimirmos os nossos sentimentos e também o nosso estado de espírito e é muito importante para mim também por isso. Quando estamos felizes costumamos cantar coisas mais alegres e quando estamos tristes acabamos por escolher músicas com uma melodia mais triste”. No topo das suas preferências, está o fado, “estilo que gosta mais de cantar”, tendo a Mariza como a sua principal referência, mas mantém vários estilos em opção na hora de escolher o que cantar.

Já concorreu a programas de televisão como o The Voice Kids, da RTP, e Uma Canção Para Ti, da TVI, e apesar de ainda não ter conseguido alcançar esse objectivo mantém esse feito como um sonho seu, sem esquecer “a força de tentar e acreditar que existirão mais oportunidades”.

Aposta na formação musical faz parte dos planos para o futuro Nos tempos livres, gosta de realizar trabalhos manuais e dedica-se à escrita de poemas, textos e algumas músicas. No futuro, pretende continuar a cantar, apostar na formação musical e tem como objectivo manter a participação em concursos, rumo ao sonho que tem de cantar numa casa de fados.

“Gostava de aprender mais coisas na música, ter aulas para poder aperfeiçoar o meu canto, as técnicas musicais, e de aprender a tocar um instrumento”, diz. “No futuro vou tentar melhorar alguns aspectos, como as notas mais altas, que são mais difíceis para mim. Acredito que com treino tudo se consegue. É preciso ter vontade e persistência”, adianta. Está, assim, certa de que “o palco é o meu sítio e a música vai continuar a estar sempre presente na minha vida. Tem um papel importante e, portanto, vai continuar certamente a ser parte dos meus dias”.

Os pais de Inês, apesar de conhecerem e acompanharem de perto o gosto da filha pela música, não esperavam o sucesso alcançado na sua participação no festival da canção nem a forma rápida como tudo aconteceu a seguir. “Tiveram receio de que eu chegasse, ficasse com vergonha e não fosse ao palco, mas foi precisamente o contrário. Dizem que cheguei, cantei e brilhei”, partilha. “Quando subo a um palco tudo passa, esqueço tudo à minha vida e começo a ser uma Inês diferente. Toda esta experiência tem-me ajudado muito, mesmo na escola, nas apresentações orais, por exemplo”, conclui.

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Aos 13 anos, a jovem aluna da Secundária da Sobreda, integra a Classe “Talentos sem fronteiras” do Centro Cultural e Recreativo do Alto do Moinho (CCRAM) Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografia)

JÉSSICA PINA

“A Madonna inspirou-me muito para arriscar e juntar a minha voz ao trompete”

Jovem natural de Alcácer descobriu o trompete aos oitos anos. Em 2019, foi a estrela da pop que a descobriu. Resultou em “Vento Novo”, o seu mais recente EP, que apresenta neste 30 de Julho no EDP Cool Jazz

Natural de Alcácer do Sal e com raízes angolanas e cabo-verdianas, Jéssica Pina começou a tocar trompete aos oito anos, na Sociedade Filarmónica Amizade Visconde de Alcácer. Estava, nessa altura, ainda muito longe de perceber que iria fazer da música a sua vida, mas com o passar dos anos, as pessoas que a rodeavam começaram a notar-lhe o talento para o instrumento e para a música em geral.

“Começaram a puxar mais por mim. Eu já tocava trompete com muita dedicação, muito amor e sempre com muita curiosidade. Continuei a fazer o meu percurso na banda filarmónica e foi quando terminei o secundário, na hora de escolher um curso, que decidi que queria fazer da música a minha vida”, começa por dizer a trompetista e cantora.

Fez a licenciatura em Trompete Jazz na Universidade de Évora, seguida de um mestrado na mesma área, desta vez em Lisboa. No decorrer do mestrado, começou a receber convites para tocar com alguns artistas e foi com o Projecto Kaya que se estreou enquanto trompetista.

A sua paixão pela música africana está presente desde sempre e neste sentido tocou, entretanto com artistas como Bonga, Don Kikas, Karyna Gomes, entre outros. Tocou com HMB, em Portugal, e participou em alguns discos de Orquestras de Jazz. Quando terminou o mestrado, sentiu vontade de se estrear a solo. Em 2019, lança assim o álbum “Essência”, que foi também o seu projecto final

de mestrado, onde compôs pela primeira vez originais. Preparava-se para apresentar este novo álbum quando surge a oportunidade de integrar a tournée Madame X Tour da Madonna.

Tour com Madonna trouxe “clique” que faltava para juntar a sua voz ao trompete

“O convite surge no decorrer da estadia da Madonna em Lisboa, na altura fez um álbum muito inspirado na música que sentiu na nossa capital, não só a música portuguesa, como o fado, mas também a mistura de culturas que temos em Lisboa, todas essas in-

fluências da lusofonia com que ficou muito admirada”, partilha. “Acabou por conhecer vários músicos e cantores. O Dino D’Santiago apresentou muita gente dessa comunidade, incluindo-me a mim também e uns tempos depois recebi o convite para trabalhar com ela, primeiramente para a Eurovisão em Tel Aviv e depois então para fazer parte da tournée mundial”, continua.

Esta foi, nas palavras de Jéssica Pina, “uma experiência mesmo muito enriquecedora, que claramente vou levar para o resto da minha vida e que mudou também a minha forma

de pensar a música e sair da zona de conforto”.

Durante nove meses, em mais de 80 concertos em diversos palcos internacionais, “consegui absorver tudo o que estava a viver, perceber como se trabalha lá fora, com uma artista com a grandeza que tem a Madonna, e tentei trazer o máximo possível para o meu projecto”.

A participação nesta tour acabou, assim, por encorajar Jéssica Pina, que “já tinha o bichinho, mas não tinha tanta confiança para me jogar de cabeça como fiz dessa vez. Ajudou-me muito nesse sentido. A Madonna inspirou-

Jéssica Pina à queima-roupa

Idade 29 anos

Naturalidade Alcácer do Sal Residência Lisboa

Área Música

A paixão que nutre desde a infância pela música levou-a a pisar diversos palcos por todo o mundo

-me muito para arriscar começar a cantar e juntar a minha voz ao trompete, a assumir a voz como instrumento também principal no meu projecto”.

Fruto de toda esta experiência, nasce “Vento Novo”, o seu mais recente EP, composto pelas faixas “Vento Novo”, “Romeu”, “Drama Queen” e “What if”, que está agora a apresentar pelo país, com destaque para o EDP Cool Jazz, onde marcará presença neste 30 de Julho.

“Quando terminei a tournée, em 2020, vinha com muitas ideias para o meu projecto. De repente, vemo-nos obrigados a ficar em casa e resolvi começar a dar letras, voz e melodias a essas ideias”, recorda.

“Vento Novo” tem, assim, “vários significados e um deles é mesmo a minha apresentação como artista nova, a fazer algo novo, numa nova fase em que mostro coisas diferentes, com um estilo diferente, mais R&B e mais electrónico, e onde a voz também está presente”.

No futuro, pretende “continuar a fazer músicas novas, expressando estas diferentes fases por que passamos através da música”.

No que toca à ligação com as origens, esta “continua a ser muito forte. Vou a Alcácer do Sal muito regularmente. Continuo a frequentar a filarmónica, faço parte da banda e toco sempre que posso. Alcácer é casa, é mesmo o sítio onde sinto apoio. As pessoas mimam-me muito e é muito bom sentir esse apoio e carinho, sabendo que também foram em parte ‘culpadas’ por este meu processo. Foram as primeiras a perceber o talento, a apoiarem-me, a fazerem-me andar para a frente”. Por isso, “tenho muito a agradecer a Alcácer e foi muito importante ter começado na filarmónica. De certo modo mudou a forma como vejo a música”.

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Volta várias vezes a Alcácer do Sal, terra que sente como casa e à qual agradece pela forma como vê a música Inês Antunes Malta (Texto) Pedro Mkk (Fotografia)

“Temos um tempo limitado nesta vida e coisas que só nós viemos cá fazer”

Slow J tem Setúbal como ponto de partida da viagem que é a sua vida, com a música sempre presente e o verbo “fazer” como lema para quebrar barreiras na cultura portuguesa

João Coelho nasceu em Setúbal, filho de mãe portuguesa e pai angolano. Enquanto músico, assina como Slow J, uma mistura entre a calma que lhe é característica e a inicial do seu nome.

No tema “Vida boa”, canta “não quero uma boa vida, quero uma vida boa, nada do que a minha sina diz foi escrito à toa”. O interesse em fazer música surge na adolescência. Sempre que conhecia pessoas que tocavam guitarra, pedia-lhes que o ensinassem. No entanto, até ao ensino secundário, que fez no Liceu em Setúbal, acreditava que seria programador.

“A um certo ponto, eu e os meus pais encontrámos um curso de Engenharia de Som, em Londres, que acabou por me encaminhar para uma profissão na música”, começa por dizer. “Fazia música todos os dias, desde o 11.º ano e acho que há um lado de dedicação e amor pelo que fazemos que é muito importante para construir qualquer tipo de carreira”, considera.

No seu percurso, destaca os tempos que passou a tirar cafés e a receber pessoas nos estúdios BigBit, em Lisboa, depois de voltar da universidade. “Acho que a disposição para fazer o trabalho mais ‘abaixo’ no estúdio, com um sorriso na cara e orgulho de fazer bem feito, foi das coisas que mais me deu um empurrão inicial para conhecer músicos e produtores, aprender a maneira como trabalhavam e aplicar isso no meu trabalho”, partilha o músico de Setúbal, acrescentando que “foi assim que conheci o Valete e tive oportunidade de substituir o técnico de som

dele durante uns meses quando ele partiu o pé. Foi uma experiência inesquecível”.

Trabalhos editados de forma independente reflectem vontade de fazer acontecer

Produziu, escreveu e interpretou as suas duas primeiras obras: o EP The Free Food Tape, em 2015, e o álbum The Art Of Slowing Down, em 2017. Em 2018, fundou, com amigos, uma editora independente. “Todos os meus trabalhos até agora foram independentes, sendo que a certo ponto criámos a nossa editora, ‘Sente Isto’, para podermos editar outros trabalhos além do meu”, diz. “Ser um artista independente não é uma bandeira que levante, é mais reflexo do sentido prático de não ficar sentado à espera que os outros acreditem em nós”, adianta.

Para o João, “o espírito é fazer, foi para isso que estudei, para conse-

guir fazer um álbum do início ao fim só com um portátil e um microfone e na prática consigo fazê-lo”.

Nas suas músicas e nas mensagens que através delas pretende passar, fala, com a sua singularidade, sobre a sua vida e sobre aquilo em que acredita, "para me motivar, a mim e aos outros, a seguir o caminho que sabemos que é o nosso, mesmo que às vezes nos tentemos enganar a nós próprios ou vender-nos barato. Temos um tempo limitado nesta vida e coisas que só nós viemos cá fazer, mãos à obra!”.

O segundo projecto “You are forgiven” nasce em 2019 e em 2020, durante a quarentena, Slow J lança sLo-Fi, um projecto de instrumentais. Todos estes elementos colocam o artista “na vanguarda da nova geração de artistas portugueses que estão a quebrar barreiras e preconceitos da música e identidade cultural portuguesa”.

João Coelho | Slow J à queima-roupa

Idade 29 anos Naturalidade Setúbal Residência Cascais Área Música

Por todos os sítios por onde passou, a música foi sempre “uma íntima companheira de viagens”

Quer que a sua geração deixe à próxima “uma música a desenvolver como um estilo só nosso, que curtimos nas festas, ouvimos em casa e apreciamos independentemente do que as pessoas ouvem fora de Portugal”.

Esta “nossa música” tem, no seu entender, “de nos representar a todos, cores, origens, tamanho de sobrancelha, etc. Na verdade, já anda aí, mesmo que algumas pessoas ainda não se tenham apercebido”. Acrescenta ainda que “a nossa música não pode ser só importar o que se faz lá fora todos os anos”, manifestando o desejo de “voltar a ter capacidade de levar a nossa música para fora, que os nossos jovens músicos sejam incentivados a sonhar mais alto e seja natural querermos ser ouvidos por pessoas de todo o mundo”.

Na ligação às suas origens, diz vestir “a camisola de setubalense como símbolo de trabalho e humildade”. Foi precisamente em Setúbal que “tudo começou, para onde os meus avós foram viver quando chegaram de Angola, onde nasci e vivi alguns dos anos mais importantes de formação pessoal” e é ao rio azul que dedica uma canção.

“Quando escrevi ‘Sado’ tinha a sensação que não ia ter muito mais tempo para passar por Setúbal. A olhar para o rio, veio-me essa ideia de que ele não nos vai julgar, quer estejamos ao lado dele a vida toda, quer vamos embora e só voltemos no fim. Ele só corre e, tal como canto na música, olha sempre de lado”, refere, com um sorriso, o mesmo que solta quando questionado sobre planos para o futuro: “é tudo segredo”.

Artes
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e Espectáculos
Tem uma canção dedicada ao Sado e veste “a camisola de setubalense como símbolo de trabalho e humildade” Inês Antunes Malta (Texto) Filipe Feio (Fotografia)
Ser um artista independente é reflexo do sentido prático de não ficar à espera que os outros acreditem em nós
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“Não é justo as pessoas terem que sair da sua terra para terem acesso à cultura”

Para além da criação artística, a actriz e cofundadora da estrutura artística Sui Generis diz estar neste momento a descobrir a mediação cultural, um lugar onde também quer estar

Nascida em Lisboa, Lara Matos cresceu na Quinta do Conde, para onde voltou recentemente para viver depois de um período em Almada. Em criança, participava em várias actividades ao mesmo tempo, desde o desporto às artes. Hoje, quando questionada sobre o que faz, percebe que todas as suas áreas de actuação estão de alguma forma ligadas à vertente artística.

Licenciou-se em Teatro pela Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa (ESTC), frequentou a Real Escuela Superior de Arte Dramático de Madrid, no ramo de Teatro Físico, e mais recentemente regressou à ESTC para a realização de um mestrado em Produção. Tem ainda formação em dança e em canto lírico pela Escola de Música do Conservatório Nacional. “Não soube desde sempre que queria ser actriz nem que viria a ter esta ligação com o teatro, quase que fui descobrindo. Quando, ainda antes do secundário, tive de decidir com mais certeza o que queria fazer percebi que tudo o que queria relacionava-se com a arte, onde me sentia bem, onde queria investir”, começa por dizer. “Sair da Quinta do Conde para ir para Lisboa estudar teatro foi um passo importante. Estava numa zona de conforto muito grande, há nove anos na mesma escola e esta saída foi um desafio”, continua, partilhando que “também quando fui para Madrid, queria conhecer outras linguagens. Todos estes momentos em que rasguei com o que tinha foram importantes, permitiram-me descobrir outras coisas”.

Neste seu percurso, encontrou a

professora Estrela Novais, “uma figura importante na minha relação com o teatro que me inspirou e ensinou muito e ainda hoje temos uma relação muito de confiança, de partilha”.

No teatro, já trabalhou enquanto actriz com João Brites, Miguel Fragata, Tiago Rodrigues, Bruno Bravo, Miguel Jesus, Joaquim Benite, Carlos Pessoa, Ana Palma, Jorge Silva Melo, Wagner Borges, Tiago Bôto, João Cachola, e com estruturas como o Teatro Nacional D. Maria II, Teatro O Bando, Teatro da Garagem, Teatro de Almada, Artistas Unidos, CCB e Crianças Loucas, entre outros.

Criação da Sui Generis é marco importante no caminho Quando terminou a licenciatura, Lara Matos sentiu, a par de alguns colegas, necessidade de criar o seu próprio

espaço de trabalho, “uma estrutura sólida por trás das nossas ideias, para podermos reinventar, criar, falar sobre os temas que queríamos”. Nasce, assim, em 2018, a Sui Generis, que “cada vez mais tem um papel importante para o território da Quinta do Conde. Há muito poucas companhias profissionais de teatro no concelho de Sesimbra”, declara.

A desenvolver trabalho enquanto companhia de teatro e a dinamizar a sua Oficina de Teatro, na Junta de Freguesia da Quinta do Conde, a Sui Generis tem vindo a trilhar igualmente um caminho relacionado com as pessoas, a comunidade e o território.

“Estamos a descobrir esta zona de mediação cultural, onde descobri que também quero estar, de poder criar relação com os públicos, com a comunidade, de poder mediar, levar as

Lara Matos à queima-roupa

Idade 27 anos

Naturalidade Quinta do Conde Residência Quinta do Conde Área Teatro

Enquanto actriz, já trabalhou com algumas das maiores referências do teatro nacional

pessoas a ver outras coisas”, partilha. "Sentimos que temos uma missão muito importante com a comunidade de criar momentos de acesso à cultura”, afirma.

Nas palavras da actriz, criadora e responsável pela produção e gestão da Sui Generis, “neste momento estou também a descobrir que quero voltar à minha terra, ao meu território. Se queremos ter acesso à cultura devíamos conseguir fazê-lo aqui. Não acho mesmo justo que as pessoas tenham de sair do nosso território para ter acesso à cultura”.

Neste sentido, Lara está também a desenvolver trabalhos com a Câmara Municipal de Sesimbra, com o objectivo de “fazer com que as pessoas tenham acesso a outros projectos ligados à cultura e de trabalhar com os criadores locais, também porque temos de valorizar aquilo que é nosso”.

A sua tese surge também neste âmbito, sobre a participação cultural, o desenvolvimento cultural do território e de que modo projectos participativos podem criar ligação das pessoas com a arte e a cultura. “Temos de desconstruir a barreira de entrar no teatro. As pessoas acham muito que não é para elas, que não vão perceber. Quando vamos ao teatro, dança, cinema, música, não temos de nos relacionar todos da mesma forma com o que vemos”, considera, para depois concluir que “cada um de nós tem as suas referências e a partir daí vai criar uma relação diferente com os objectos artísticos. Sinto que estou nesta missão de desbloquear isto e começar no concelho de Sesimbra. Enquanto Sui Generis, não nos sentimos só uma companhia de teatro. Somos uma estrutura artística, um colectivo com várias frentes”.

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Artes e Espectáculos
LARA MATOS Actriz entende a companhia que criou como uma estrutura artística para chegar ao público e à comunidade Inês Antunes Malta
da Quinta do Conde para
para Lisboa estudar teatro
um passo importante. Estava numa zona de conforto muito grande
Sair
ir
foi
ALIPIOPADILHA
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MATILDE SANTOS

"Quero fazer carreira na dança até que o corpo deixe e depois seguir o ensino"

Bailarina setubalense, que está na escola Martha Graham School, em Nova Iorque, não esquece os tempos na Academia de Dança Contemporânea de Setúbal, “onde não se importava de voltar”

Nascida e criada em Setúbal, Matilde Santos viveu na cidade até aos 18 anos, altura em que fez as malas rumo a um sonho: estudar para ser bailarina profissional em Nova Iorque.

Quando tinha seis anos, a Academia de Dança Contemporânea de Setúbal mudou as suas instalações para perto da sua casa, nas Manteigadas. Repetia vezes sem conta que queria ser bailarina e um dia o pai decidiu inscrevê-la, e à sua irmã, nessa escola. Esteve lá durante dois anos e decidiu parar.

Havia de voltar mais tarde, por culpa da irmã, dois anos mais velha, “que entrou no curso de formação de bailarinos e estava sempre a contar-me histórias giras sobre o que fazia e aprendia. Fiz uma audição, entrei no 5.º ano e fiz o processo todo até ao 12.º ano. A partir do momento em que entrei soube de imediato que era isto que queria fazer”, começa por dizer.

Essa experiência foi, nas suas palavras, “muito difícil, olhando para trás”, mas ainda assim “bastante boa, dá-nos estaleca para o mundo profissional e ainda bem que tive aquele treino porque sinto que estou muito mais preparada agora. No geral, foram anos bastante bons e não me importava de voltar atrás, sinceramente”.

Aos 14 anos, disse aos pais que queria ir a Nova Iorque. “A escola onde estou agora, a Martha Graham School, sempre foi a escola para onde quis ir, sempre foi a minha primeira escolha, mas como era Nova Iorque sempre pareceu um pouco distante da realidade”, partilha.

Quando terminou a faculdade, fez várias audições, mas não conseguiu entrar em nenhuma das alternativas. Optou então por fazer um gap year e aos 18 anos voltou a questionar os pais sobre uma ida a Nova Iorque para fazer uma audição para a escola onde estuda agora. “Continuei a insistir e acabei por vir. Fiz um curso de três semanas na minha escola e depois uma audição. Já estava em Portugal

Matilde Santos à queima-roupa

há cerca de três semanas quando recebi um e-mail da escola a dizer que tinha sido aceite”, conta.

Quando o sonho se torna realidade

A história do sonho tornado realidade começava, assim, em 2019, ano em que se mudou para “o sítio onde são feitos os sonhos”. A experiência até agora “tem sido bastante boa. É exactamente o que estava à espera e sinto que está a ajudar-me, não só com o meu treino agora mas também com potenciais ofertas de trabalho. Prepara-nos para o mundo mais profissional”, refere.

Na pandemia voltou a Portugal durante cerca de dez meses, onde esteve até ao ano passado. “Estava a ter aulas no Zoom, pelo que de qualquer forma não valia a pena ficar em Nova Iorque”. Também no ano passado acabou o curso que fez inicialmente, “mais abrangente, sobre música, anatomia, teatro” e no mês de Junho terminou “o de formação para profes-

sores”, área na qual pretende seguir caminho. “Sem dúvida gosto bastante de ensinar e quero muito seguir a veia de professora, tanto aqui como em Portugal. A técnica que estudo na minha escola não existe muito em Portugal e gostava de levar também o meu treino para o meu país, um dia mais tarde talvez”, revela. “Neste momento estou mais interessada em efectivamente dançar, fazer uma carreira e quando o meu corpo já não der mais depois então investir mais no ensino. Já tenho até algumas ofertas de trabalho”, adianta.

No que diz respeito ao seu trabalho recente, destaca a participação, enquanto bailarina solista e de grupo, em “Emotions Physical Theatre”, “de uma companhia de dança moderna e contemporânea, de um dos professores da minha escola, que me convidou e prontamente disse que sim”.

Não está, por isso, nos seus planos regressar a Portugal num futuro breve. “É um país maravilhoso, mas

na área em que estou sinto que aqui tenho muitas mais oportunidades. Se trabalhasse em Portugal, poderia ser bailarina, mas teria de ter outra coisa para conseguir sustentar-me. Aqui os bailarinos efectivamente ganham salários”, afirma.

Matilde Santos considera, assim, necessário “investir mais nas artes e na cultura em Portugal. Há pessoas, nomeadamente colegas meus, que infelizmente não tiveram os mesmos meios que eu e em Portugal não conseguem fazer vida sendo bailarinos porque não há oportunidades. Temos de trabalhar mais neste sentido para todos conseguirem fazer um percurso enquanto bailarinos. Não falta talento”.

Sobre a ligação que mantém com a sua cidade natal, partilha que “sempre que vou de férias, gosto muito de ir jantar à baixa com os meus pais e de toda a zona ribeirinha. Deixa-me sempre relaxada, assim como ir à serra só passear. Setúbal é uma cidade maravilhosa”.

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Artes e Espectáculos
Matilde Santos está em Nova Iorque desde 2019 e diz que a experiencia tem sido "bastante boa" tanto em termos técnicos como de saídas profissionais Inês Antunes Malta Idade 21 anos Naturalidade Setúbal Residência Nova Iorque Área Dança Aos 14 anos pediu aos pais para ir a Nova Iorque, já decidida sobre o caminho que queria seguir
DR
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“AO VIVO”

Tenor setubalense João Mendonza dedica primeiro disco a solo ao povo ucraniano

Verbas resultantes da venda do álbum e dos concertos realizados têm revertido nesse sentido. Está neste momento a gravar um novo álbum com Jorge Fernando, que sairá no final do ano

Nascido em Setúbal, João Mendonza recorda os tempos de infância passados na baixa da cidade e a catequese que fez na Igreja de São Julião, onde também cantou no coro. Com ligação à música desde sempre, logo em criança disse aos pais que queria ser cantor de ópera.

“Um dia descobri um disco de Luciano Pavarotti lá em casa. Comecei a ouvir e a imitar e até soava bem. Na altura já dizia que era mesmo isto que queria fazer. Os meus pais riam-se muito, achavam graça”, recorda.

Foi tendo aulas de piano e com 14 anos entrou no Conservatório Regional, em Setúbal, onde teve a sua primeira aproximação séria com a música. “O talento trabalha-se, mas nascemos com a voz que temos e eu considero-me um sortudo por ter um timbre indicado para

96 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022 Reportagem
Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografia)

o canto lírico”, refere. “De Setúbal fui para Lisboa para o Conservatório Nacional, com a mesma professora, Filomena Amaro, grande soprano portuguesa”, adianta.

Durante a estadia em Lisboa, estudou canto durante dois anos e foi aí que “realmente dei o salto, a minha voz evoluiu bastante e fui até convidado para fazer uma ópera no CCB, a minha primeira estreia profissional, com 17 anos. Para mim foi um grande impulso na minha vida e na minha carreira”. No mesmo período, licenciou-se em Comunicação Social. “Ajudou-me muito, até porque cantar é comunicar, as áreas estão muito interligadas”, refere.

Em 2015, é co-fundador do grupo Passione, “que surgiram através de um desejo meu antigo de juntar o canto lírico à canção portuguesa e ao fado. Fizemos o ‘Avé Maria’ para o Papa e o projecto ganhou uma dimensão nacional”, declara. Em Maio do mesmo ano, o tema original “Ave Maria” é entregue em mão como "Oferenda Ofi cial do Estado Português", pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a sua Santidade Papa Francisco, em

Fátima. Um ano mais tarde, o Santo Padre agradece o tema editado em sua homenagem e abençoa os artistas com uma Bênção Apostólica. Em 2018, são recebidos no Vaticano, pelo Papa Francisco, a quem oferecem o seu álbum e de quem recebem a sua bênção. “Foi o momento alto da minha vida espiritual e profissional, sem dúvida, ouvir do Papa um ‘obrigado’ e poder agradecer-lhe, senti-lo, abraçá-lo, foi muito intenso, uma experiência que guardarei para sempre”, partilha.

Em Setembro de 2019, foi agraciado com o título de Embaixador de Setúbal, título que recebeu “com muito orgulho. Gosto muito de viver aqui e quando vou lá fora levo muito Setúbal comigo e digo com todo o orgulho que sou de cá”.

Em 2021, participa no programa "All Together Now", na TVI, que “correu muito bem. Fui de coração e peito aberto e acabei por homenagear o meu avô que tinha partido”. Esta experiência abriu-lhe “portas para um projecto que tinha em mente, a minha carreira a solo, que comecei em 2021. Começar a solo é começar do zero mas sempre com pés

e cabeça”, afi rma. “Tem sido uma aventura e ao mesmo tempo uma experiência positiva. Tenho tocado e trabalhado muito com o guitarrista Renato Sousa, também de Setúbal, que conheci o ano passado, ainda em pandemia”, acrescenta.

“Senti que tinha a missão de usar este disco como veículo de entreajuda” “Acabei por dedicar o disco que lancei este ano à Ucrânia porque no momento em que tenho o disco pronto a guerra começa e pensei que a melhor maneira que tenho de homenagear estas pessoas e apoiá-las é usar este disco como ferramenta para ajudar financeiramente e logisticamente”, explica. “Senti que tinha a missão de usar este disco como veículo de entreajuda. Os concertos que damos são as canções do disco e muitas vezes a entrada é um valor ou a entrega de bens essenciais”, acrescenta. Em Maio, foi recebido pela Embaixadora da Ucrânia, “que me agradeceu por estar envolvido numa acção destas de solidariedade e entreajuda, na qual quero continuar até a guerra acabar e depois na

reconstrução e me convidou para dar um concerto na Ucrânia quando a guerra terminar”.

O disco “Ao Vivo”, apresentado no “Concerto a Maria”, é uma edição de autor composta por 13 canções. “Sou crente, sou um grande seguidor e então dediquei todos os temas a Nossa Senhora de Fátima, canções como Ave Maria, Recado e Aleluia, que canto já há muito tempo e quis voltar a cantar, gravadas na Igreja da Anunciada”.

Neste momento, está em estúdio a gravar um novo disco de originais, com o músico e produtor Jorge Fernando, que será lançado no fi nal deste ano e “ainda não tem nome”.

No que diz respeito ao panorama cultural setubalense, João Mendonza considera que “estão a aparecer novos talentos, novos músicos. Setúbal está a ficar mais cosmopolita, conseguimos trazer artistas de fora para cá e levar os nossos artistas para fora e é importante haver esse intercâmbio. Setúbal nunca teve uma cultura tão aberta como tem hoje e ainda bem, porque também me sinto incluído nisso e espero que perdure”.

29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 97 PUBLICIDADE
Setúbal nunca teve uma cultura tão aberta e ainda bem, também me sinto incluído nisso e espero que perdure

Artes e Espectáculos

A cineasta que teve de sair de Portugal para dar início ao sonho da sua vida

Do teatro à realização cinematográfica, voou de Setúbal para o Reino Unido, onde venceu em Abril o “Student Television Awards 2022” na categoria “Documentário”

A jovem setubalense Micaela Castanheira viu, no mês de Abril, o seu trabalho “Para Reminiscência” ser galardoado com o prémio “Student Television Awards 2022” pela Royal Television Society (RTS) Cymru. Em Junho, apresentou o projecto “The Youth”, dedicado à juventude e para o futuro soma planos no âmbito da realização cinematográfica, sem esquecer as suas demais áreas de interesse.

Viveu sempre em Setúbal até ir para a universidade. Licenciou-se em Artes e Humanidades na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Durante um semestre, no âmbito do programa Erasmus, esteve no Norte de Inglaterra a estudar Literatura inglesa, história e cultura. No regresso a Portugal, em 2019, inicia em Setúbal o seu percurso profissional, com o Teatro Estúdio Fontenova.

É durante esse período que decide apostar na sua formação em cinema e “não podia ficar em Portugal, por diversos motivos, especialmente monetários”. Rumou a Cardiff, capital do País de Gales, no Reino Unido, onde neste momento se encontra a terminar a licenciatura em Film, na University of South Wales.

“Especializei-me, dentro da licenciatura, em cinematografia e em realização, apesar de praticar também argumento, escrita e produção nos meus projectos. Sempre estive envolvida em tantas coisas que não conseguia escolher apenas uma”, refere. “Nutro interesse por música, teatro, fotografia, escrita e houve um momento em que percebi que o cinema tem tudo isto, tudo o que gosto. Porque tenho de escolher só uma coisa? Não tenho”, afirma.

Sobre a experiência que tem vivi-

do até ao presente, considera que “o mundo é diferente de Setúbal e Portugal e não é assim tão difícil sair e fazer outra coisa. Sempre soube que queria fazer isto, mas faltou-me este sair para perceber que realmente é possível”.

Atenção a objectos que habitualmente ninguém estima valeram-lhe um prémio “Para Reminiscência” foi o seu primeiro projecto, no segundo ano de licenciatura. “O primeiro ano foi estranho, o Covid surgiu e tivemos de parar. Quando regressei tínhamos de fazer um documentário, o trabalho do semestre, completamente à nossa escolha”, conta, adiantando que foi numa visita ao primeiro mercado de antiguidades de Cardiff que encontrou o tema que lhe havia de valer reconhecimento.

“Tenho um fascínio pelo passado e ao estar no local e falar com as pessoas, comecei a perguntar porque é que aquele espaço é um mercado. Porque é que as pessoas se importam com aquele espaço e aqueles objectos? As pessoas vão ao Ikea todos os dias, compram coisas, desfazem-se de outras, ninguém quer saber de nada. Porque é que estas pessoas protegem estes objectos?”, partilha a responsável pela pesquisa, pós-produção, edição e montagem do projecto. “Claro que uma distinção assim sabe sempre bem. É uma alegria, uma felicidade, senti-me orgulhosa”, confessa.

Seguiu-se “The Youth”, também escrito, realizado e produzido por Micaela Castanheira. Trata-se de uma curta-metragem, com cerca de 20 minutos, que se foca na forma como os jovens, nos dias de hoje, lidam

Micaela Castanheira à queima-roupa

Idade 25 anos

Naturalidade Setúbal Residência Cardiff, Reino Unido Área Realização

A “dar cartas” a nível internacional no cinema, não exclui a música e a interpretação no seu futuro

como aspectos da vida como o luto, o amor e a amizade, entre outros, e com a qual se candidatará a mestrado na National Film and Television School.

Se entrar, irá para Londres daqui a dois anos. Se não, continuará em Cardiff, “onde neste momento está tudo a acontecer, Netflix, Amazon, Disney. É uma fonte de trabalho incrível”. Não está nos seus planos voltar a Portugal, “a menos que as coisas mudem radicalmente e passe a haver investimento na área da cultura. Não pretendo viver num país que não reconhece o talento, esforço e sacrifício das pessoas que têm que trabalhar nestas áreas”.

Setúbal, Lisboa e Portugal ficam, assim, para “matar a saudade, ir a casa e conectar-me com as raízes, mais do que qualquer outra coisa. Construir vida acredito que será cá fora”.

É, assim, a estes projectos que tem vindo a dedicar o seu tempo ultimamente. Trabalhar em cinema “é um sacrifício imenso, as pessoas não fazem ideia, mas no fim do dia, para mim, vale a pena. Tenho o produto final e sei que fiz o que tinha que fazer para que ficasse assim”.

Mantém, no entanto, o interesse pela música e representação, que, nas suas palavras, lhe “fazem falta”. Começou a tocar piano aos seis anos e fez o conservatório até ao oitavo grau em música clássica. “Cheguei até a pensar que a música era a minha vida e que seria instrumentista. Neste momento, era bom tentar arranjar projectos que juntem estas vertentes, sinto que é importantíssimo para mim manter estas ligações”, remata.

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Com gosto por teatro, música, fotografia e escrita, encontrou no cinema "tudo isto" Inês Antunes Malta
Se não entrar em mestrado, vou continuar em Cardiff, onde está tudo a acontecer. É uma fonte de trabalho incrível
DR
29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 99

Artes e Espectáculos

"Trabalhar o sentido crítico é criar lugares de reflexão e democracia"

As suas criações e interpretações giram sempre em torno de lugares e pessoas. No presente, está em digressão com “Corpo pequenino, olhos de gigante” e a preparar o próximo espectáculo d’As Avózinhas

afectivo tem cada vez mais força e só lhe faz sentido “abraçar projectos nos quais conseguisse estar de forma inteira, e não para agradar a um nicho ou a um mercado”, começa por dizer.

performativa e criar os meus próprios espectáculos”.

Nascido em Almada, mas a viver desde sempre no concelho de Setúbal, Ricardo Guerreiro Campos é artista visual, performer, arte-educador, professor e investigador e tem vindo a desenvolver o seu trabalho entre as artes visuais, o teatro e a educação.

Em 2014, terminou os estudos em pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Ainda no mesmo ano, na criação do espectáculo “Bom dia e outros pensamentos”, com Miguel Reis, percebe que o lugar

Entre 2015 e 2017, fez mestrado em Educação Artística, na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal. No domínio dos projectos educativos e pedagógicos, passou pelo Agrupamento de Escolas de Azeitão, Agrupamento da Ordem de Sant’Iago, Museu Colecção Berardo, Cultivamos Cultura, Academia de Dança Contemporânea de Setúbal, Agrupamento de Escolas Sebastião da Gama e serviço educativo da Casa da Avenida, sem esquecer de “Ir e vir e voltar com livros”, programa municipal de educação pela arte e ciências experimentais. "A dar aulas, a abraçar vários projectos pedagógicos e no teatro também, no meu processo de trabalho olho o outro nos olhos, para mim o mais importante em educação - a relação, esse lugar, tempo e espaço olhos nos olhos com quem está ali contigo”, partilha.

Paralelamente, foi colaborando com algumas estruturas e "ganhando espaço para transformar questões, temas ou inquietações numa proposta

Trabalhar a infância a partir do universo de Almada Negreiros Surge assim o “Lugar Abrigo”, sobre ser e estar em comunidade, “A metade que falta”, um espectáculo para a infância que é um jogo, com a Casa da Avenida, e este ano o “Corpo pequenino, olhos de gigante”, com o Teatro Estúdio Fontenova, agora em digressão. Criado a partir do universo de Almada Negreiros, mais especificamente do poema “O Menino d'Olhos de Gigante”, conta a história de um menino a quem

Ricardo Guerreiro Campos à queima-roupa

Idade 29 anos Naturalidade Setúbal Residência Azeitão Área Arte e educação Tem desenvolvido o seu trabalho em vários contextos de intervenção, educação e criação

um gigante tenta roubar os olhos, maiores que o corpo, e permite, de acordo com Ricardo Guerreiro Campos, “pensar sobre o posicionamento do grande e do pequeno, fazer relações com a idade adulta e a infância, com o que envolve roubar-te a tua forma de ver o mundo, num caminho que me interessa muito de olhar e pensar a criação artística para a infância”.

Para si, este é um “espectáculo-manifesto sobre a infância para todas as infâncias, um processo participativo com vários grupos de crianças”, que lhes dá voz, questionando igualmente “como os poderes respeitam ou não o olhar da criança na construção do nosso espaço comum, em sociedade”.

Em Janeiro de 2020, recebe “um dos convites mais surpreendentes”, para assumir a direcção artística do Teatro As Avózinhas, grupo satélite do Festival Internacional de Artes de Rua de Palmela (Fiar), criado pela Dolores de Matos, que faleceu em Agosto de 2019.

“Abracei esse desafio e para mim é muito bonito poder dar continuidade a esse trabalho”. No período de pós primeiro confinamento, criou o espectáculo Pele. Agora preparam o próximo, “a partir da relação d'As Avózinhas com a dança, a estrear no final de Setembro, início de Outubro. Para mim é absolutamente

maravilhoso dar voz a estas mulheres nesta fase da vida”.

Ano passado, foi convidado a integrar a equipa da Academia de Música e Belas Artes Luísa Todi, “uma estrutura com peso grande na cidade, mas com vontade de fazer diferente, pensar as práticas, numa relação muito forte com a música e as belas artes. É um sítio onde sinto que posso experimentar muita coisa e é bom ter um lugar assim”.

Para Ricardo Guerreiro Campos, “a investigação é um acto contínuo e acontece também todos os dias na nossa própria prática. Nesta amálgama de papéis, ora artista, educador, pai ou activista, acho impossível dialogarmos e estarmos olhos nos olhos com pares sem querermos lutar por um lugar justo”.

“Se a educação e este estar olhos nos olhos é um veículo para dar força e luz a algumas questões que existem, acredito que devem ser postas em cima da mesa, independentemente da idade das crianças, que vão ser futuros cidadãos e seres do mundo”, refere, defendendo ainda “o trabalho na base do sentido crítico, sobre a forma de olhar, e o dar ferramentas para que possamos criar lugares democráticos de conversa e reflexão. É muito fundamental”.

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Artista visual, performer, arte-educador, professor e investigador, Ricardo tem vindo a desenvolver o seu trabalho entre as artes visuais, o teatro e a educação Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografia)
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CONSTANÇA QUINTEIRO

“Quero aproveitar a voz que tenho para fazer mais do que só música bonita”

Este ano, encontra-se a apresentar ao vivo o seu EP de estreia a solo, “Aventurina”, um mix de canções na qual traduz “a sua forma de ver a vida: de pés na terra e coração na lua”

Constança Quinteiro é uma das novas vozes femininas do panorama musical nacional, situada entre a suavidade com que canta e as canções que escreve. “Miúda”, “Corpo a Corpo”, “Dança” e mais recentemente “Aquária” e “Mil maneiras” compõem o seu primeiro trabalho de originais, “Aventurina”, que se encontra a apresentar ao vivo este ano.

Natural de Sesimbra, já com oito anos tinha aulas de música para aprender a tocar guitarra e piano. Depois de um período de interrupção, o gosto pela música fê-la voltar, em 2008, quando já estava no 12.º ano de escolaridade, a tocar guitarra de forma autodidacta, numa primeira fase, e mais tarde em aulas com a mesma professora com que tinha tido em criança. Na universidade, estudou Ciências da Comunicação, mas nunca deixou a música de parte.

“Percebi que estava mesmo a gostar daquilo e que até tinha algum jeito. Fui continuando nas aulas privadas e como estava a viver em Lisboa inscrevi-me em aulas de canto no Conservatório, onde estudei também música jazz”, começa por dizer a O SETUBALENSE.

Nessa altura, começou a compor, a escrever e a criar as suas músicas. Deu alguns concertos em Sesimbra, em nome próprio, até surgir o projecto Medvsa, com Ricardo Gonçalves, com o qual editou um EP e foi finalista do EDP Live Bands 2018.

“Ganhei imensa experiência, mas não me sentia 100 por cento satisfeita e ainda em 2018 decidi ir para Londres estudar música. Fiz um curso em Music Performance, mais focado em canto e a seguir outro em

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Reportagem
Num futuro breve, pretende continuar a lançar novos singles. Um álbum faz parte do plano mas não para já Inês Antunes Malta (Texto) Joanna Correia (Fotografia)

composição e produção”, conta. “Ao mesmo tempo desse segundo curso, já de 2019 para 2020, a pessoa que produziu o EP do Medvsa, o Miguel Ferrador, também estava em Londres e decidimos encontrarmo-nos porque eu ganhei a vontade de começar a fazer algo a solo”, adianta.

No fi nal de 2019, começaram a trabalhar as primeiras músicas. Em 2020, Constança terminou o segundo curso e dedicou-se à composição e produção das músicas do EP. “Em Setembro, descobri que estava grávida e questionei-me se seria boa ideia nessa altura lançar uma carreira a solo mas decidi arriscar e ainda bem que o fiz. Aconteceu tudo no momento certo, pelas razões certas”, partilha.

“Miúda” é o primeiro single, lançado em Fevereiro de 2021, seguido de “Corpo a Corpo” e de “Dança”, lançado a par do EP, em Outubro. “Dança” é uma música “sobre uma mulher que sabe bem o que quer e que vai atrás, nesta lógica de incluir o empowerment feminino na mensagem”. Também enquanto artista, Constança pretende actuar neste sentido. “Neste momento, tenho

realmente fazer alguma diferença”, afirma. Já este ano chegam os visualizers da “Aquária”, em Abril, e da “Mil maneiras”, no mês de Maio.

Planos para 2022: marcar mais concertos e lançar mais músicas Em “Aventurina”, EP que tem vindo a apresentar em concertos desde Fevereiro deste ano, reúne assim um conjunto de canções pop marcado pela forte influência das sonoridades lusófonas, da R&B e da Soul. “O EP foi muito pessoal, reflectiu muito os meus últimos anos de vida. Todas as músicas falam um bocadinho da minha história, ainda que sinta que acabo sempre por ter mensagens para motivar as pessoas. Quero sempre passar uma energia boa, inspirar as pessoas a fazer, a ir atrás dos seus sonhos”, diz. Para além das mensagens positivas, sente também necessidade de incluir nas canções “problemas que não são só os meus, coisas mais sérias, como a saúde mental ou a justiça. É importante falar sobre amor, mas sou muito mais do que isso no meu dia a dia e acho importante também passar isso para as pessoas, dar-lhes uma voz e também não ter

medo de passar os meus valores e o modo como vejo o mundo”.

Para Constança Quinteiro, “por vezes sentimos que não conseguimos fazer grande diferença neste mundo, mas a música acaba sempre por ter um impacto e se isso é possível eu quero aproveitar a voz que tenho para uma coisa melhor, fazer mais do que só música bonita”.

No que diz respeito ao futuro, pretende “continuar a trabalhar e lançar novos singles. Sonoramente a onda vai andar no mesmo estilo, nesta mesclagem de música pop com influências mais lusófonas”.

O lançamento de um álbum faz parte dos planos, “mas não para já. Deve ser uma coisa muito bem feita, pensada e coesa e que faça muito sentido. Apesar de hoje sentir que estou a ganhar uma voz mais definida enquanto artista, não só a nível sonoro, mas também da mensagem que quero passar, acho que faz falta trabalhar ainda mais”. Este compasso de espera será, na sua opinião, “importante para perceber se realmente me identifico com as coisas e receber também o feedback do público, que também nos inspira e motiva”.

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duas pessoas, o Miguel Ferrador e o Vinicius, que trabalham comigo, mas tento ter uma equipa superfeminina. Na parte visual e dos videoclipes, só trabalho com mulheres e acho que é super importante se queremos

Artes e Espectáculos

O escultor nascido na arte urbana que quebra padrões com a madeira

A pintura e o desenho também fazem parte do seu trabalho, que no Vale da Amoreira pode ser visto ao ar livre no mural Identitário, no Centro Comunitário Multiserviços

O projecto Blac Dwelle, que trabalha escultura em madeira, nasce da paixão pelo desenho e pela pintura aliada a um grande fascínio pela máscara africana. É uma parte da identidade profissional de Ricardo Piedade, escultor português com raízes cabo-verdianas, que cresceu e vive no Vale da Amoreira, mais precisamente nas Fontaínhas, sob influência de grafitters e artistas locais e do irmão, Paulo Piedade.

“Percebi que o meu caminho era nas artes desde criança. Por influência do meu irmão, que também estudou na ETIC - Escola de Tecnologias, Inovação e Criação e fazia muitos trabalhos em casa, como pintura, bonecos de pano e de barro. Eu achava aquilo divertido, sentava-me ao lado dele e ficava a copiar o que ele fazia. Acho que ele até tem desenhos meus guardados dessa altura”, começa por contar.

Estudou na Escola Secundária da Baixa da Banheira, no Vale da Amoreira. Nessa altura, “já sabia o que queria ser. Queria ser designer, queria ser artista, apesar de não gostar muito do nome artista. Gosto de dizer que tenho o projecto Blac Dwelle e sou escultor”, refere.

Mais tarde forma-se em Design Gráfico na ETIC e ao mesmo tempo começa a fazer ilustração, pintura, stencil, “muito ainda em experiência, a descobrir o que queria fazer”.

Em 2014, percebe que “queria mais do que pintura”. Começa a trabalhar na empresa Lindo Serviço, “conhecida por fazer coisas impossíveis”, onde esteve cerca de cinco anos. “Muitas pessoas recorriam a essa empresa para poder fazer trabalhos em ferro, madeira, esferovite, resina, acrílico,

diversas coisas”, explica. Fez grandes amizades com as pessoas com quem trabalhava neste momento e com quem mantém ligação até agora e por influência destas mesmas pessoas descobriu o interesse por trabalhar madeira.

Ainda nesse ano, recebe um convite da galeria Underdogs para fazer parte de uma exposição colectiva, onde participa com peças em madeira, pintura e desenho, e que lhe abre portas para convites para projectos e para o facto de as pessoas começarem a conhecer o seu trabalho.

Integrou igualmente exposições colectivas no Museu de Sintra, na ADAO, no Barreiro, e agora está no MAAT, até 5 de Setembro, a integrar a mostra “Interferências”, a par de Fidel Évora, com quem partilha estúdio, e de diversos artistas da Área Metropolitana de Lisboa.

No Vale da Amoreira, a sua arte pode ser vista, ao ar livre, numa das paredes do Centro Comunitário Multiserviços, no mural Identitário, um projecto que desenvolveu em Junho de 2021 com António Rocha, a.k.a. Growone.

Ricardo Piedade à

queima-roupa

Idade 29 anos

Naturalidade Vale da Amoreira Residência Vale da Amoreira Área Escultura

Inspirado pela ancestralidade, dedica-se à arte de esculpir máscaras africanas em madeira

africana homenageia raízes

Máscara

Talvez se possa afirmar que as máscaras africanas são as personagens principais do trabalho de Blac Dwelle. Os pais são cabo-verdianos e Ricardo Piedade tem “tanto sangue português quanto sangue cabo-verdiano e um grande fascínio pelas máscaras e pela cultura africana”.

A ideologia da máscara africana é para si fonte de inspiração e por isso começou a transpô-la para a madeira, em peças que não replica. “Para mim, a máscara é quase uma segunda personagem de nós mesmos, que pretende quebrar regras e padrões. Acho que todo o ser humano tem sempre uma outra personagem. Quando vais trabalhar, fazes parte de um padrão e quando estás com os teus amigos és outra pessoa, mas isso não é uma coisa negativa, isso é o ser humano”, declara.

O desejo da criança torna-se a realidade do adulto

Para além do seu projecto, Ricardo Piedade trabalha com Alexandre Farto, por todos conhecido enquanto Vhils. “Sou assistente de produção, fazemos variadas coisas, também inspiradoras para o meu trabalho, mesmo que tente sempre separar as duas vertentes”, afirma. “O meu irmão Paulo também trabalhou com o Alexandre durante alguns anos, por isso já me conhecia desde miúdo. Sempre fui um grande apreciador do trabalho do Alexandre e sempre tive curiosidade e o desejo de um dia poder trabalhar com ele”, confidencia.

O convite surge em 2018 e desde aí tenta “conciliar os dois trabalhos. Tentar balançar as duas partes requer muito esforço, dedicação e concentração. É um trabalho muito árduo, mas no final é compensado. Como miúdos sonhamos sempre e eu já desde miúdo sabia o que queria fazer”. Este seu sonho de criança tornou-se, com os anos, um objectivo e hoje é a realidade. “Sonho bastante, mas também tenho muita força de vontade e dedicação, essenciais para o que faço. Ainda há muito por fazer, muitos sonhos por concretizar. Não falo no futuro, falo sempre no presente. O futuro não sabemos, temos de lutar pelo presente para que as coisas aconteçam”, remata.

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No projecto Blac Dwelle, trabalha esculturas em madeira, inspirado pela máscara e cultura africanas Inês Antunes Malta
DR

ITR assegura curto e médio prazo com contratos assinados para lá de 2022

dos como igual”.

A ITR, empresa especializada no revestimento de materiais refractários, constituiu uma das novidades no ranking das 250 Maiores Empresas Exportadoras do Distrito de Setúbal com uma fulgurante entrada directa para o 175º lugar.

Com segundo semestre a iniciar-se, as previsões, depois de um início de ano atribulado, são bastantes positivas até final do ano. “Tendo em conta o histórico, esperamos conseguir um volume de negócios equivalente ao ano anterior e assim prosseguir o crescimento habitual e sustentado. Já temos a carteira de encomendas totalmente preenchida até final do ano e para 2023 já temos contratos assinados. Assim sendo, as perspectivas são excelentes”, diz João Neves a O SETUBALENSE.

Num sector altamente especializado, o director geral da ITR, revela os principais argumentos para a empresa alcançar a competitividade. “A nossa principal qualidade, enquanto prestadores de serviços é a confiança, segurança e qualidade dos nossos trabalhadores. Não somos uma empresa grande, mas sim um grupo coeso que valoriza os princípios, respeitando to-

Para o responsável este resultado não significa que a ITR tenha alcançado a capacidade de resposta da empresa, nem em quantidade ou em qualidade.

“Todos os dias trabalhamos para ultrapassar as diversas dificuldades inerentes ao negócio. Ainda assim, o nosso objectivo passa por melhorar e consolidar resultados ano após ano”.

A meta da entidade consiste em ser reconhecida como uma empresa de classe mundial que executa projectos com segurança e com os mais altos padrões de qualidade, dentro do orçamento e do cronograma.

Nesta primeira fase do ano os resultados operacionais sofreram um impacto enorme a todos os níveis.

Não só porque a pandemia ainda não terminou, mas porque a guerra trouxe um clima de incerteza “complicado de gerir”. “Se compararmos o primeiro trimestre com o período homólogo temos uma quebra que felizmente será atenuada nos próximos meses”, revela João Neves.

Experiência Mais de 20 anos no mercado fazem toda a diferença

Com sede em Lisboa, Portugal, a ITR é uma empresa especializada no revestimento de materiais refractários, operando a nível mundial em diferentes indústrias, tais como: ferro e aço, vidro, química e petroquímica, Não Ferrosos, Cimento, Energia e Ambiente. As principais ofertas são: serviços de manutenção: desligamento anual com planeamento e construção. Reparos de manutenção completos com presença contínua nas plantas do cliente. Projectos de

desligamento de emergência. "Pronto para ir", segurança e reparos duradouros.

Fundada em 2015, a ITR foi pensada para suprir algumas lacunas do mercado. Composta por 50 trabalhadores, a equipa da ITR conta com pessoas com mais de 20 anos de experiência no mercado de refractários e é o parceiro certo.

A meta é ser sempre reconhecida como uma empresa de classe mundial, que executa projectos com segurança e com os mais altos padrões de qualidade.

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Empresa especializada em soluções refractárias, pese embora as limitações do mercado global, consegue crescimento apreciável
PUBLIREPORTAGEM

“Sou muito feliz no fado, anda comigo sempre, lado a lado”

Artista montijense descobriu o gosto pela música com os avós e desde cedo se interessou pela história do fado. Em 2021, lançou o primeiro trabalho discográfico “E decididamente”

Tiago Correia considera que a música chegou a si por herança familiar e confessa que não se lembra de existir “Tiago sem música”. Viveu desde sempre com os seus avós maternos, vindos de Beja, na década de 70, para o Montijo.

“Sempre tiveram um lado muito musical e cantavam muito, desde música tradicional portuguesa a músicas de intervenção. Com cinco anos cantava a ‘Grândola, vila morena’, ‘Uma gaivota voava, voava’ e a ‘Tourada’ com eles”, começa por contar. “Na altura, não percebia a mensagem, mas sempre valorizei tanto a palavra e aquilo parecia-me muito interessante e dinâmico. Quando mais tarde compreendi tornou-se ainda mais especial”, continua.

Estudou piano, entre os oito e os dez anos, na Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro no Montijo e haveria de descobrir o fado aos 12 anos. “O meu avô, o meu grande mestre e referência de vida, dá-me a conhecer o Fernando Farinha, fadista da velha guarda, e aquela música soou-me a casa. Perguntei ao meu avô se havia quem fizesse vida do fado e logo afirmei que então eu também queria”, partilha. “Encantei-me por aquela musicalidade antes de conhecer as palavras e compreender a mensagem e senti que aquilo me era muito próprio, que era a minha identidade”, adianta.

Em 2009 destaca-se no programa “Uma canção para ti”, da TVI, e em 2010 com o prémio “Nasci para o fado”, da RTP, que lhe abriu portas à participação no musical “Fado História de um Povo”, de Filipe La Féria. É

então depois desta experiência que descobre que esta seria a sua vida profissional “para sempre”.

Aos 16 anos estreou-se nas casas de fado em Lisboa e quase em simultâneo começa a realizar concertos por todo o país. Também nesse tempo conhece referências como Celeste Rodrigues e António Rocha, “que participa no meu álbum, um sonho concretizado, e trabalha ainda no Faia no Bairro Alto, os únicos dois fadistas por quem chorei a ouvir cantar”.

As grandes referências e a história do fado como ponto de partida Na perspectiva do fadista, “quando pensamos em construir um futuro, temos de perceber onde está a raiz e o que já foi feito para podermos então fazer algo novo”. Sentiu por isso necessidade de estudar os fadistas mais antigos e saber mais sobre a história do fado e decidiu pôr mãos à obra.

No domínio da formação musical, afirma que a sua verdadeira escola “foram as pessoas que me rodearam

e as ideias que me transmitiram. É a elas que devo aquilo que tenho vivido até hoje na música”.

Em 2018, licenciou-se em comunicação social no Instituto Politécnico de Setúbal. “Queria descobrir de que forma me poderia posicionar no mundo e tinha uma grande paixão pela comunicação desde que me lembro, sobretudo pelo valor da palavra”, justifica.

Estreia-se a solo, em 2021, com o álbum “E decididamente", com produção musical de Ângelo Freire, abrindo o seu próprio caminho enquanto fadista, letrista e compositor.

“Tinha 16 anos quando um dos grandes poetas do fado me escreveu um tema chamado ‘E decididamente’, uma abordagem a tudo o que sou que viria a dar nome ao disco”, conta. “As pessoas dizem, prefiro que sejam as pessoas a dizer, mas de facto às vezes sinto algo muito antigo em mim, muito ligado às raízes e aos sentimentos mais bonitos do passado, que não consigo explicar”, revela. Neste poe-

ma, pode ler-se “e decididamente não pertenço aqui, não sou dos dias de hoje e de ontem também não. Nem sou um grão de gente que ainda não nasci, só que o futuro foge de mim como um ladrão”.

O disco tem, assim, o objectivo de “contar quem sou, com a certeza de que estudei e compreendo quem foram os outros. É também uma forma de os homenagear e decididamente sou dos fados, desta

Tiago Correia à queima-roupa

Idade 25 anos

Naturalidade Montijo Residência Montijo Área Música

Enquanto fadista canta “quem é, certo de que estudou, compreende e assim homenageia quem foram os outros”

gente e das raízes”. Tendo os seus amores e saudades como inspiração, sem esquecer o que vê e sente nos sítios por onde passa, conta com o tema “Simples lamento”, que Tiago escreveu, letra e música, para homenagear o avô.

Tem feito, nas suas palavras, a vida toda a cantar. “Com a idade, fui-me profissionalizando no sentido de trabalhar, dedicar e descobrir mais, mas a música esteve permanentemente comigo de forma muito natural. Sou muito feliz no fado, anda comigo sempre, lado a lado”, refere. No que diz respeito ao futuro, confessa que sonha mais do que vive e que já tem na cabeça projectos para seis ou sete discos, “assim como aos 16 tive logo a certeza de que a história do primeiro disco tinha que dizer qual é a minha identidade e a quem devo o que sou”. Está neste momento a apresentar o disco por todo o país, continua a cantar nas casas de fado e a 1 de Novembro pisa o palco da Casa da Música do Porto.

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Artes e Espectáculos
Aos 12 anos, encantou-se pela musicalidade do fado que logo sentiu como a sua identidade Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografia)
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Ciência e Inovação

ANTÓNIO CASIMIRO

Futuro engenheiro físico com os pés bem assentes na terra

Gosta de viver Lisboa a par tir de Alcochete. E está na vida como na ciência. Aos 20 anos, concilia o gosto pelo conhecimento com a frugalidade, sem grandes metas e projectos. O único sonho, para já, é ser feliz

António Pedro da Silva Alves Freitas

Casimiro, de 20 anos, será um futuro engenheiro, na complexa área da Física, dentro de poucos anos. Para já é um promissor estudante em Engenharia Física na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Está no segundo ano da licenciatura, com uma média de 16,5 valores que já lhe valeu o Diploma de Mérito Académico. Tem sido sempre aluno dos quadros de mérito, nos diferentes níveis de ensino. Tenciona fazer também o mestrado, mas, para o que se seguirá, ainda não faz planos.

Fez o ensino básico e o secundário em Alcochete, sempre com bons

resultados, tendo recebido sempre, desde o 4.º até ao 12.º anos, diplomas de mérito. A única excepção foi o 6.º ano. “Diria que os resultados que alcancei acabam por ser a minha maior conquista ao longo do meu percurso como estudante”, conta ao jornal O SETUBALENSE.

“Nasci em Lisboa onde vivi durante os meus primeiros 4/5 anos de vida. Depois mudei-me para Alcochete e cá fiquei desde então. Fiz toda a minha escolaridade cá e apenas quando fui para a universidade é que acabei por estudar fora de Alcochete, mais especificamente na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.”, relata

António Casimiro.

Encontrou-se com O SETUBALENSE numa quente tarde de Maio. Um sábado, e o local que escolheu condiz, como é natural, com a pessoa. A Biblioteca Municipal, com o seu recato e silêncio envolto numa arquitectura moderna, revela-nos um jovem reservado, que se mostra promissor, não só nas notas escolares, mas também na maturidade precoce.

Filho de um funcionário da Marinha e de uma administrativa, nunca deu muito trabalho nem preocupações aos pais no que diz respeito à escola, porque sempre se dedicou muito ao estudo.

“Tenho de dar o meu melhor”, justifica. Mas não que alguém o exija. O compromisso é consigo próprio. Em casa, nunca houve essa imposição, até porque também nunca houve essa necessidade. “Sempre veio tudo de mim. Sempre tive gosto em tirar boas notas e mesmo em estudar, aprender novas coisas.”, explica. A família não obriga, mas pode haver alguma influência, genética ou outra, porque o irmão mais novo de António, estudante do 11.º ano, também está no curso de Ciências.

Apesar de estar na área da Engenharia Física, a sua verdadeira paixão, “desde sempre”, é a Matemática.

“Sou apaixonado pela matemática. Gosto muito de trabalhar com os números. Na Física gosto sobretudo da parte das forças.” As forças são a mecânica da física. Imagina-se a trabalhar em Portugal, pelas raízes que ganhou durante a vida e por feitio. “Batalhar com um exercício até perceber uma coisa é, no final, muito satisfatório”, diz António.

Na Física, em geral, cativa-o a percepção científica da realidade. “Gosto muito de como podemos descrever boa parte da realidade que conhecemos com algum tipo de fórmula, bem como de todo o processo matemático que está por trás. Acho também muito interessante e satisfatório apren-

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Francisco Alves Rito
Sou apaixonado pela matemática. Gosto muito de trabalhar com os números. Na Física gosto sobretudo da parte das forças
Apesar de ambicionar apenas "uma vida confortável" António admite que seja pedir muito, face à situação do planeta O SETUBALENSE

António Casimiro à queima-roupa

quantidade de saídas que a Engenharia Física tem, o que não me falta são escolhas.”, diz o futuro engenheiro.

“Nunca fui uma pessoa muito sonhadora. Diria que o único sonho que tenho é ser feliz e viver uma vida confortável, o que com o estado actual do planeta vamos ver se não é pedir muito.”, acrescenta.

Reservado e optimista

Reservado, as voltas, na infância e adolescência, foram sempre na vila. “Sou uma pessoa muito conformada. No futuro talvez mude”.

der mais sobre diversos efeitos físicos que existem à nossa volta.”, refere. Na física pode trabalhar-se em várias áreas, como Economia ou Robótica, mas António ainda não sabe qual será o caminho. “Ainda não me vejo a fazer nada em específico, digamos que estou ainda à procura da minha vocação. No entanto, com a

Quando foi para a faculdade, começou a explorar Lisboa, a zona da baixa e o Campo Grande. Gosta do cosmopolitismo da cidade, mas não para viver. “Viver em Lisboa talvez seja caótico demais, mas ter Lisboa perto, para ter essas vivencias sem grandes deslocações”, é uma ideia que lhe agrada.

A exigência com os estudos torna difícil conciliar a universidade com

os hobbys, como os jogos electrónicos, que adora, mas, ainda assim, não dispensa a leitura. Sobretudo de romances. Livros técnicos, relacionados com física, é que não, quando se trata de lazer. Gosta de contos, por exemplo, de Edgar Allan Poe, o romântico autor, poeta, editor e crítico

literário norte-americano, e Sherlok Holmes, a personagem criada por Arthur Conan Doyle. Quando fizemos esta entrevista estava a ler ‘A Little Life’, de Yanagihara Hanya. Um ‘calhamaço’ de 700 páginas que assusta muitos jovens.

Além da leitura, mantém alguns

passeios solitários e saídas com amigos. Até porque, por vezes, “os estudos também obrigam a algumas pausas”.

Reconhece que não é muito ligado às tradições de Alcochete, como os toiros e as Festas do Barrete Verde, mas gosta de acompanhar. Outra área do conhecimento de que gosta é a História, sobretudo de Portugal, e nessa área, valoriza o facto de D. Manuel I ter nascido em Alcochete. Ocorre-lhe, frequentemente, que está a viver no local que um dos reis mais grandiosos de Portugal conheceu bem, há mais de 500 anos.

A política é “um tema importante” a que não se dedica tanto quanto gostaria. Mas vai sempre votar. “É importante votarmos. Todos temos esse dever. É o mínimo que devemos fazer uma vez que se lutou tanto pela democracia”.

Optimista. Tenta sempre “ver o lado bom das coisas, ou, pelo menos, retirar os aspectos positivos”.

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Idade 20 anos Naturalidade Lisboa Residência Alcochete Área Engenharia Física Apaixonado pela matemática, prepara-se para terminar a licenciatura com notas de mérito. Para já, não se vê a trabalhar no estrangeiro.
Quando fizemos esta entrevista estava a ler ‘A Little Life’, de Yanagihara Hanya. Um ‘calhamaço’ de 700 páginas que assusta muitos jovens
O SETUBALENSE António Casimiro falou com O SETUBALENSE na Biblioteca de Alcochete

Ciência e Inovação

“Vim ao mundo para ser historiador local”

Dedicado à investigação da história local, em particular a de Setúbal e a do século XX, Diogo Ferreira é um dos jovens setubalenses mais promissores. Olha para a História como um edifício em permanente reconstrução e defende o conhecimento informado sobre o passado como base para decisões acertadas sobre o futuro, numa altura de grandes convulsões. Eis o seu percurso e algumas notas de reflexão, que podem servir a todos

de diferentes níveis sociais, cores e etnias”. Seguiram-se os videojogos, depois a mudança para a Escola Básica de Aranguez e o ensino secundário na Escola Secundária D. Manuel Martins. “Os meus pais sempre me deram liberdade, talvez por eu ser muito bom menino e ter sempre boas notas. Nunca fiz avarias”, relata, com sentido de humor.

Diogo Ferreira nasceu em Setúbal a 28 de Julho de 1991. Licenciado em História (2013) e mestre em História Contemporânea (2015) pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, é um dos jovens setubalenses mais promissores quando o assunto é a história local. Neste momento, além de colaborar com o recém-criado Gabinete de Promoção e Divulgação do Património Histórico e Cultural, na

autarquia setubalense, está a desenvolver a sua tese de doutoramento intitulada “Setúbal no Entre Guerras (1919-1945): Um itinerário de história local”, com a qual dá continuidade à sua especialização.

Desengane-se quem pensa que Diogo é um “rato de biblioteca”. Igual a tantos outros jovens da sua idade, mantém uma relação há 13 anos, joga futebol com os amigos e gosta de se divertir com eles. Nascido e criado em Setúbal, é com propriedade que fala das suas raízes profundamente sadinas. “O meu pai veio de Grândola para Setúbal com 12 anos, no contexto da

Diogo Ferreira à queima-roupa

Idade: 31 Anos (feitos ontem)

Naturalidade: Setúbal Residência: Setúbal Área: História

Está a trabalhar na tese de doutoramento intitulada “Setúbal no Entre Guerras (1919-1945): Um itinerário de história local”

segunda industrialização de Setúbal, nos anos 1960/70, mas do lado da minha mãe foi diferente. A minha avó materna foi operária latoeira numa fábrica de latas de conservas de peixe”, conta, revelando que já o seu trisavô morara no bairro de Troino, no século XIX.

Segundo conta, teve uma infância feliz. Até ao quarto ano do ensino básico, feito na escola dos Pinheirinhos, brincou muito no exterior, morava então na Rua Camilo Castelo Branco. “Brincava às escondidas e jogava muito futebol - a minha segunda paixão - com amigos e vizinhos

História tornara-se, desde cedo, a sua disciplina favorita – de tal forma que num dos aniversários pediu como presente que o levassem a conhecer o Castelo de Palmela, que fitava da janela, e o irmão mais velho lá o levou num Renault 5. “De Educação Física também sempre gostei. Era bom a todas as disciplinas (menos a matemática)”. No 10.º ano Diogo escolheu o curso de Línguas e Humanidades, “não para fugir à Matemática”, assegura, mas “por gostar”. Havia, porém, quem o aconselhasse a seguir Ciências e Tecnologias “porque tinha cinco valores a tudo, menos a EVT e a Matemática”. Os pais sempre se mantiveram ao lado das suas escolhas pessoais.

“O secundário, na fase da adolescência, não foi tão fácil. Comecei a tocar guitarra e a vestir camisolas dos Nirvana e dos Foo Fighters, tive uma banda. Estava a descobrir-me e foi quando comecei a namorar. Apesar desta tendência para o rock e para sair à noite, a escola sempre foi a prioridade”. E em 2010, quando se assinalou o centenário da instauração

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André Rosa (Texto) Mário Romão (Fotografia)

da República, Diogo teve 19,5 valores no exame de História. A escolha do curso superior afigurou-se como “o momento mais difícil” do seu percurso escolar. O país atravessava a crise económica (de 2008/2009) e História era apontado como um dos cursos com pior expectativa de emprego.

“Houve quem me dissesse para ir para Direito, apesar de os testes psicotécnicos que fiz na altura, por minha iniciativa, darem um pico em História. Os meus pais sempre me disseram para estudar o que eu queria, mas optei por Direito, por ter várias saídas profissionais, e entrei na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde estive três semanas. A minha mãe comprou-me os livros, eu comecei a lê-los, mas aquilo não me dizia nada. Não gostei do ambiente, das pessoas nem do formalismo do curso”, nota.

Diogo Ferreira recorda a seguinte história. “Houve um dia em que cheguei cinco minutos atrasado a uma aula de Direito Romano. Sentei-me, comecei a tirar apontamentos e senti uma epifania, uma espécie de revelação que me atingiu e pensei ‘O que é que estás aqui a fazer? Isto não és

tu’. E fui-me embora”. Aproveitando a terceira fase de ingresso, Diogo entrou em História na FCSH, onde a namorada estudava. Proactivo, ofereceu-se para um primeiro estágio não remunerado no Museu do Trabalho, durante o Verão, onde teve “o primeiro contacto com fontes documentais sobre Setúbal” e percebeu que havia muito a contar.

No terceiro ano do curso fez o seu primeiro trabalho “a sério” sobre a História de Setúbal, contactando com os livros do professor Albérico Afonso Costa, que não hesita em apontar como o “mestre” nesta área. Durante o mestrado em História Contemporânea, focou-se ainda mais na consulta de arquivos e imprensa coeva sobre Setúbal para escrever a dissertação sobre os impactos da Primeira Guerra Mundial na cidade, que viria a publicar em livro. “Na faculdade ensinam-nos como é que se faz, mas é o contacto directo e exaustivo que nos dá experiência”, conta. “História de Portugal - O que todos precisamos de saber” (em co-autoria) foi o seu primeiro livro publicado.

Seguir-se-iam outros seis, dois dos quais publicados a solo – sendo o mais recente “Breve História da Freguesia de São Sebastião – Setúbal”. No seu percurso conta também com vários artigos na imprensa, em revistas locais e académicas e com a participação em quase uma centena de conferências e palestras, assim como a colaboração em projectos universitários ligados à investigação científica. “Tenho a sensação de estar

a cumprir uma missão que está dentro de mim, mas não consigo explicar por palavras. Sinto um ímpeto permanente e não me canso de querer saber mais, de contribuir com ideias para novos livros em torno da história da cidade”, confessa.

“Quando contactei com o arquivo da Liga dos Combatentes percebi que a história da cidade tem muita coisa que se sabe, mas que há ainda mais que está por ser estudada. Isto é de tal maneira fascinante que, quanto mais penso que sei, mais percebo que não sei e que há muito por fazer. É bom dizer que eu não vim descobrir a pólvora. Os professores Albérico Afonso, Maria Conceição Quintas e outros historiadores e investigadores foram quem me fez apaixonar por isto. A partir deles percebi que há muito trabalho por fazer, e é por isso que sinto que tenho obrigação moral de, enquanto profi ssional, dar continuidade ao trabalho feito”, diz.

Diogo Ferreira chama a si, ainda, uma missão como historiador local: “Dar voz e rosto às figuras anónimas, muitas vezes marginalizadas”, considera. “A história do país versa quase

sempre sobre as grandes figuras e a história local tem a componente de trazer à luz histórias que estão perdidas no limbo colectivo”. Para o jovem, “tornar a História mais concreta, próxima e palpável pode ajudar a combater os malefícios da globalização, que tenta uniformizar conceitos generalistas, como o da aldeia global”. É preciso fomentar o sentimento de pertença ao lugar, para ajudar a reflectir sobre o futuro da cidade e do concelho, defende.

“Estamos a passar uma fase difícil em relação à informação. Nunca houve tanto acesso a informação, mas tão falsa. Até jornalistas cometem erros com interesses políticos, e isso é perigoso. Uma mentira repetida até à exaustão torna-se verdade e o historiador tem o papel decisivo de trazer à tona a sua consciência, metodologia de crítica e análise de fontes e o olhar do passado para o presente”, reflecte. Pela forma apaixonada como fala da profissão, Diogo Ferreira transparece satisfação plena com as suas escolhas, e admite, com o optimismo humilde que o caracteriza, que pode ser olhado como uma referência por futuros jovens historiadores.

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A história local tem a componente de trazer à luz histórias que estão perdidas no limbo colectivo

Ciência e Inovação

HERNÂNI BENTO

O hacker bom, disposto a combater a actividade maliciosa no digital

Jovem barreirense

aposta

numa carreira de combate

ao cibercrime. A empresa do Facebook já reparou nas suas capacidades

Hernâni José Furtado Bento, estudante da licenciatura de Engenharia Informática na Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) do Instituto Piaget de Almada, foi um dos 200 jovens seleccionados no continente europeu pela Meta (ex-Facebook) para um grande evento e concurso internacional sobre cibersegurança.

Com apenas 22 anos, é já um especialista em temas de hacking e segurança informática. Começou o percurso académico, no Piaget, por um curso técnico superior profissional (CTEsP) em Cibersegurança, Redes e Sistemas Informáticos, e só depois ingressou na licenciatura.

Nasceu no dia 02 de Abril de 2000, no barreiro, e tem vivido sempre neste concelho e na mesma localidade, em Vila Chã, com a família. Tem um irmão mais velho, a mãe é administrativa num escritório de advogados e o pai administrador de obra.

Agora que já conhece um pouco mais, do país e do mundo, continua a gostar de estar na sua terra. “A Margem Sul é uma zona óptima para viver. O barreiro é tranquilo, tem todos os acessos e até um operador de transportes próprio e está muito próximo de Lisboa.”, explica.

Na primária já tinha curiosidade, gostava de entender tudo. “Na minha área é muito importante ser curioso, querer saber como as coisas funcionam.”, refere. Católico, fez a primeira comunhão logo em pequeno.

Na infância brincava muito na rua, mas depois, na adolescência, passou a agarrar-se às tecnologias. “Sempre me disseram que ‘é o futuro’ e, entretanto, despertou um bichinho dentro de mim”, diz. Durante a adolescência praticava futsal, em vila Chã. “Hoje é mais ginásio, ler, conviver com os amigos e jogar videojogos”.

Na primária era um aluno médio,

que “estudava apenas na véspera” dos testes.

No secundário já foi um pouco diferente. “Não diria acima da média, mas melhor do que na primária, e, no ensino superior é que surgiram as boas notas. Foi quando descobri a minha

Hernâni Bento à queima-roupa

Idade 22 anos Naturalidade Barreiro Residência Barreiro

Área Engenharia Informática Gostava de ajudar ao crescimento do sector da cibersegurança em Portugal

área, que é a Cibersegurança.”, conta Hernâni.

Escolheu o Instituto Piaget porque “é uma das poucas escolas do país que tem Cibersegurança” e tem-se especializado em hacking, que pode traduzir basicamente como “combate” aos hackers “maus”. Um dos trabalhos académicos que o tornou conhecido dos responsáveis pelo instituto foi hackear (encontrar vulnerabilidades) no sistema da escola.

“O director de cibersegurança da EDP depois contactou comigo e fiz o estágio na equipa de segurança da EDP” relata.

Seguiu-se o convite para o primeiro encontro internacional organizado pela Meta, a empresa dona da rede social Facebook, sobre hacking, em Madrid, de 28 de Abril a 2 de Maio deste ano.

“A Meta contactou-me, fiz uma prova de seis horas, e seleccionaram-me. Fiquei muito contente, porque é

uma das cinco maiores empresas do mundo e só o saberem que eu existo, é muito bom.”.

A equipa em que Hernâni Bento participou ficou em sexto lugar no concurso que a Meta organizou para essa conferencia.

Embora se encontre ainda a concluir a licenciatura em Engenharia Informática, o jovem barreirense já está aberto e atento a alguma oportunidade profissional que possa surgir. Mas, pelo menos por enanto, só está interessado se for em Portugal.

Até agora só apareceram convites para fora do país, que não aproveitou porque pretende primeiro concluir a licenciatura. “A Meta ofereceu-me um estágio em Inglaterra, que não aceitei por causa dos estudos”.

Mais tarde, não coloca de parte a hipótese de trabalhar no estrangeiro, mas gostava de começar em Portugal, até porque “gostava de ajudar ao

crescimento da cibersegurança no nosso país”.

Não tem dúvidas de que se trata de uma das áreas do futuro porque “onde existe negócio existe tecnologia e onde existe tecnologia existem vulnerabilidades” e essas vulnerabilidades podem ser atacadas. No entender de Hernâni, “os ataques, que são cada vez mais frequentes, devem-se muito à falta de sensibilização”. Considera, por isso, que “é preciso sensibilizar os responsáveis e colaboradores das empresas” para a importância da segurança informática.

O jovem avisa que “é mais fácil atacar as organizações através das pessoas, porque as pessoas cometem mais erros”.

“E sensibilizar os jovens para não atacarem?”, perguntamos. “Isso é mais difícil, é como tentar sensibilizar terroristas, porque há muitas motivações, económicas, e ambição de notoriedade”, responde.

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Aos 22 anos de idade, Hernâni Bento sonha encontrar espaço, em Portugal, para ajudar ao desenvolvimento da segurança informática Francisco Alves Rito
DR
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Ciência e Inovação

JOÃO SANTOS

O engenheiro informático que faz acontecer investimentos de milhões

Jovem azeitonense tem dado provas de grande valor na criação de software. Na Power Dot, empresa com uma rede de carregamento de carros eléctricos, lidera uma equipa de engenheiros que foi determinante na captação de 150 milhões

João Pedro Jesus Costa Santos, apesar do perfil de informático, não deixa de ser um praticante de actividades físicas mais exigentes. Apresenta-se, para esta entrevista a O SETUBALENSE, de muletas, com um tornozelo magoado num jogo de futebol, entre amigos.

Aos 27 anos de idade, que completou a 23 de Maio, é um mais do que promissor talento da programação informática. Mais do que promissor, porque já tem “obra” feita. Trabalha em software há dois anos e as suas qualidades despertaram o interesse de uma tecnológica maior, onde lida agora com projectos de milhões de euros.

Começou numa empresa de software house, em Lisboa, para onde se mudou precisamente por razões profissionais. Apesar de ainda curta, a jornada profissional já teve “imensas mudanças”, mas só de empresa, porque a área é sempre o software, área com muitas vertentes onde João faz quase tudo. Neste momento lidera uma equipa de quatro engenheiros, na empresa Power Dot, detentora de uma rede de carregamento de carros eléctricos.

“A Power Dot era cliente da outra empresa onde trabalhava. Comecei a envolver-me nos projectos, passei a ser responsável a 100% e em Janeiro de 2022 integrei os quadros da Power Dot. Começámos a olhar para a empresa numa óptica de crescimento, no produto e na engenharia, criámos uma e quipá, e continuamos a contratar, e, em Maio recebemos uma ronda de investimento de 150 milhões da Antin.

É um grande orgulho para mim porque é um dos maiores investidores europeus de infra-estruturas e olharam para a Power Dot como uma boa oportunidade.”, conta João Santos.

O conceito que está a desenvolver é o destination charging em que as pessoas não se deslocam de propósito para recarregar o carro, mas integram o abastecimento no circuito normal diário da sua vida.

Natural de Lisboa, João viveu quase sempre em Azeitão, no concelho de Setúbal, onde chegou com 6 anos, quando os pais se mudaram. São ambos professores no Instituto Politécnico de Setúbal (IPS). O pai de engenharia electrotécnica (potencia

e energias) e a mãe, arquitecta, dá aulas ao curso de construção civil, sobre reabilitação, de imóveis, fachadas, etc.

O percurso académico foi invulgar. A seguir ao ensino preparatório, optou pela via profissional e só depois fez a licenciatura. Ingressou no CTeSP em Automação, Robótica e Controlo Industrial, e integrou, depois, o IPS onde fez a licenciatura em Engenharia Electrotécnica e de Computadores. É mestrando em Engenharia Informática no ISCTE, mas pouco dedicado nos últimos meses devido ao trabalho. “O semestre passado consegui fazer tudo, mas neste semestre ainda não meti lá os pés”, revela. Garante que “não é por falta de gosto”, mas porque o trabalho

o absorve demasiado.

Além de diplomado no IPS, foi também, até há cerca de um ano, docente da Escola Superior de Tecnologia de Setúbal (ESTSetúbal/IPS). Quando estava no Politécnico, integrou a equipa que venceu a 17ª edição do Poliempreende com a ideia inovadora Menu.AI, que usava a Inteligência Artificial (AI, no acrónimo em inglês) para melhorar o sistema de entregas na restauração. Quando saiu da anterior empresa, o projecto ficou na gaveta, mas João ainda tenciona aproveitar o conceito e a tecnologia para outros fins.

Desde que fez Erasmus, tem ganho imensos concursos de empreendedo-

João Santos à queima-roupa

Idade 20 anos

Naturalidade Lisboa Residência Lisboa/Azeitão Área Engenharia Electrotécnica e de Computadores Apaixonado pela área técnica, partiu do ensino profissional para a licenciatura. Acredita na Inteligência Artificial como uma vantagem para a humanidade

rismo. Já vai em oito. O último foi o Gcloud da Devoteam, em Maio deste ano. Recomenda a participação neste género de desafios porque enriquece e mostra o valor dos jovens. “Todos os trabalhos que já tive vieram através destes concursos”, diz.

No mundo da informática, a sua paixão é a Inteligência Artificial, que não vê como uma ameaça ao emprego, mas como uma vantagem”..

“Há imenso mercado. Todos os dias são procurados profissionais da área das Tecnologias de Informação (TI), há imenso espaço para crescer. Por outro lado, a AI vai automatizar muito o nosso trabalho. Hoje já utilizo muito as ferramentas da Open AI, que é das plataformas mais avançadas em AI, que multiplicam o meu trabalho de programador duas a três vezes.”, defende.

Apesar de residir agora em Lisboa, não perde a ligação à região, de que gosta muito. “Sou fã da Arrábida. Já estive em muitos países e conheci muitas praias, mas ainda não conheci nenhuma melhor que Galapinhos. A costa podia ser mais bem aproveitada, o que iria favorecer imenso a região a nível económico, mas percebo o porquê de não ser, pela necessidade de preservação ambiental.”, explica.

Da infância e juventude em Azeitão recorda a liberdade de correr pelos campos. “Erámos quatro amigos, estávamos sempre na rua. Andávamos de skate, construímos rampas, casas nas árvores, também a jogávamos online. Acho que foi muito equilibrado. Se soubesse o que sei hoje teria começado a tecnologia (a programar, interessado em robótica e software) mais cedo e talvez o que atingi ao 27 tivesse alcançado aos 17 anos.”, conclui.

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João Santos é diplomado pelo IPS e foi, até há cerca de um ano, docente da Escola Superior de Tecnologia de Setúbal Francisco Alves Rito DR
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Ciência e Inovação

O engenheiro aeroespacial que estuda a desintegração dos detritos na atmosfera

Já foi docente do Politécnico de Setúbal, colaborou na criação do primeiro micro-satélite português e agora está a fazer o doutoramento em Los Angeles

José Pedro de Sousa Ferreira, de 28 anos de idade, nasceu no Hospital do Barreiro a 23 de Março de 1994 e licenciou-se no Instituto Superior Técnico em Engenharia Aeroespacial com 17 valores.

Ainda foi docente do Instituto Politécnico de Setúbal (IPS), onde lecionou as Unidades Curriculares de Fundamentos de Aeronáutica e Mecânica, na Escola Superior de Tecnologia (EST), mas, entretanto, deixou o país para rumar aos Estados Unidos da América, onde está a fazer o doutoramento na University of Southern Califórnia, em Los Angeles.

Uma aventura que começou em Janeiro deste ano, pelo, como diz o próprio, está ainda “numa fase bastante inicial” do percurso dominada pela parte curricular.

“Como investigador do departamento de engenharia astronáutica, estou interessado em aferir o impacto ambiental da desintegração e incineração de detritos espaciais durante a reentrada na atmosfera terrestre. Esta é uma fase pela qual os satélites em fim de vida perto da Terra terão quase obrigatoriamente que passar de modo a limpar a órbita para que outros possam ocupar o seu lugar. Compreender em detalhe este processo permitirá descortinar a influência do mesmo em mecanismos críticos para a regulação da temperatura no planeta, como a camada de Ozono.”, explica.

José Pedro Ferreira colaborou em investigações na Agência Espacial Europeia (ESA), na agência espacial indiana (ISRO) e na agência espacial norte-americana (NASA) e integrou a equipa que liderou o projeto INFANTE, um esforço repartido por um consórcio de 19 entidades nacionais entre empresas, universidades e centros

de investigação, que criou o primeiro micro-satélite pensado, desenvolvido, produzido e testado em Portugal.

“Juntei-me à equipa como engenheiro de sistemas em 2018 e, a partir de 2020, assumi a liderança técnica da parte de engenharia do projecto, que terminou no final de 2021”, refere.

A investigação continua a ser a sua única ocupação pelo que já considera que é essa a sua profissão.

“Eu costumo afirmar que realizar um doutoramento é um desafio suficientemente grande a ponto de considerar a minha profissão actual a de investigador, sendo esta a minha única ocupação. Quanto ao futuro, tenciono ficar nos EUA a finalizar os meus estu-

dos que durarão seguramente mais alguns anos.”, disse a O SETUBALENSE.

Filho de dois engenheiros, que “claramente” lhe despertaram o gosto pela área, e nascido de uma família que se fixou na região há duas gerações, José Pedro sente-se muito próximo do Barreiro e, sobretudo, de Alhos Vedros.

“O meu percurso académico foi todo realizado no distrito de Setúbal até ao ingresso no ensino superior. Até ao ensino secundário frequentei escolas na freguesia de Alhos Vedros, terra onde cresci e à qual chamo casa. A partir do 10º ano mudei-me para o concelho do Barreiro, e assim mudou também a minha afiliação escolar.”, conta o agora doutorando. E faz questão de

nomear as escolas por onde passou “por reconhecer a importância destas instituições de ensino e das pessoas que as representam”, não só no seu percurso em particular, mas “também do ensino público na formação dos jovens em geral”: Escola Básica nº2 de Alhos Vedros, Escola Básica 2º e 3º Ciclos José Afonso e Escola Secundária Alfredo da Silva.

“A minha relação com este distrito é quase embrionária, uma vez que nele cresci e me formei. Para além da minha recente ligação ao IPS enquanto docente, a minha juventude foi indelevelmente marcada, na região, pela minha formação enquanto pessoa.”, continua.

Praticou futebol em competições

José Ferreira à queima-roupa

Idade 28 anos

Naturalidade Barreiro Residência Los Angeles, EUA

da Associação de Futebol de Setúbal dos 8 aos 24 anos de idade, tendo envergado maioritariamente as cores do Clube Recreio e Instrução e ainda do Grupo Desportivo e Recreativo “Portugal”. Além do desportivo, teve um percurso artístico, em que frequentou o Conservatório Regional de Setúbal, entre 2005 e 2013, onde integrou o Coro de Câmara e concluiu. Uma fase da vida que lhe deixa a memória de ter actuado “em várias salas emblemáticas da região”.

José Pedro Ferreira acredita num futuro auspicioso para a Margem Sul.

“Vejo a região de Setúbal com um potencial tremendo na era pós-pandemia ao conciliar uma boa qualidade de vida com a integração numa grande área metropolitana. Com o advento do trabalho remoto e aumento significativo do custo de vida a Norte do Tejo, vejo como cada vez mais natural a expansão da massa populacional de Lisboa para a região de Setúbal. É precisamente nessa fase que a região terá que saber cativar talento e valorizar a indústria que tanto fez por esta região no passado. Vejo com bons olhos projetos recentemente anunciados de investimento em modernização e alargamento de unidades de investigação, bem como a aposta na internacionalização, de modo a capacitar a região com as ferramentas que lhe permitam diferenciar-se pela inovação e não pelo reduzido custo laboral. Existem porém outros vetores que necessitam ser constantemente monitorizados, como a inclusão social ou o acesso equitativo a serviços primários, de modo a garantir a harmonia na região e permitir receber os recém-chegados de braços abertos, de modo a que estes estejam na sua melhor versão ao acrescentar valor.”

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O projecto de José Pedro Ferreira, para os próximos anos, é continuar os estudos nos EUA Área Engenharia Aeroespacial Quer perceber o processo de desintegração e inceneração dos satélites que regressam à Terra, do ponto de vista do impacto ambiental Francisco Alves Rito DR
29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 117

Ciência e Inovação

A cientista azeitonense que estuda o vírus da covid-19 nos EUA

Tem Arrábida no nome e a região de Setúbal no coração. Está empenhada em perceber como a proteína do vírus é capaz de manipular a nossa resposta antiviral

Mafalda de Arrábida Farelo, de 30 anos, é virologista e trabalha como investigadora post-doc na University of California Riverside, nos EUA.

Doutorada em interacções vírus-hospedeiro pela Universidade de Surrey, onde estudou como os vírus modulam a célula para ludibriar a resposta antiviral celular, a bióloga azeitonense é apaixonada pela divulgação científi ca.

Acredita nas vantagens da popularização da ciência e, para tornar o conhecimento acessível a todos, partilha a sua vida como jovem cientista, e a sua pesquisa, nas redes sociais, tanto em inglês como em português.

Nascida a 14 de Dezembro de 1991, viveu em Vila Nogueira de Azeitão, concelho de Azeitão, até aos meus 24 anos. Actualmente vive em Los Angeles, na Califórnia, mas não esquece a infância “muito

feliz” em Azeitão.

“Toda a minha família é de Azeitão e eu vivia também muito perto de todos os meus colegas de escola. Muitos destes colegas acompanhara-me até ao ensino secundário, com fortes amizades que ainda hoje mantenho. Os Verões eram passados nas praias da Arrábida no barco dos meus pais e em casa de amigas. Em criança os meus avós tinham uma propriedade nos Picheleiros com videiras e lembro-me de todos os anos a família se reunir para vindimar.”, conta a O SETUBALENSE.

Acha que o seu nome, Arrábida, tem a ver com a serra, berço de toda a família. “Cresci a ouvir o meu avô materno dizer que a lenda do pinheiro da velha se tinha passado

numa das propriedades da sua família (conhecida como família dos Candinhos, pois todos se chamavam Cândido/Cândida), mas não sei a veracidade desta história”, partilha.

“Setúbal, e mais precisamente Azeitão e a Arrábida, é onde me sinto em casa”, diz Mafalda. “É onde tenho a minha família e os meus amigos de infância, e por isso tenho sempre um pedaço de mim em Setúbal”, acrescenta.

Fez o ensino secundário na Escola Secundária Sebastião da Gama, na área de ciências, que terminou com média de 14 valores. A licenciatura em Biologia Celular e Molecular, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, acabou com 13 valores.

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MAFALDA DE ARRÁBIDA FARELO
Toda a minha família é de Azeitão e eu vivia muito perto dos colegas de escola. Os Verões eram passados nas praias da Arrábida
FOTOS: DR

Mafalda Farelo à queima-roupa

Idade 30 anos

Naturalidade Azeitão Residência Los Angeles, Califórnia (EUA)

Área Investigação, Virologia Acredita que uma ciência acessível torna a população mais educada, mais confiante nos cientistas e mais bem preparada para as ameaças

No mestrado em Ciências Biofarmacêuticas, na Faculdade de Farmácia de Lisboa, obteve 18 valores e, em 2016, mudou-se para Inglaterra para fazer o doutoramento em Virologia na Universidade de Surrey, que concluiu em 2020. Após uma breve experiência como docente no Instituto Politécnico de Setúbal, rumou aos EUA onde hoje é investigadora.

A jovem azeitonense escolheu esta área da ciência por paixão. “Fascina-me perceber como o nosso organismo funciona a nível molecular e como coisas tão pequeninas como bactérias, vírus, ou mutações genéticas são capazes de alterar e manipular o nosso organismo fazendo com que fi quemos doentes. Investigar os mecanismos que nos fazem estar saudáveis ou doentes é bastante desafi ador, mas também muito gratifi cante quando descobrimos algo novo e somos a única

pessoa do mundo a saber aquele segredo da natureza.”, afi rma.

Nos últimos seis anos, a sua investigação centrou-se nas infecções virais e, neste momento, está a estudar o SARS-CoV-2, o vírus responsável pela COVID-19. “Este vírus é constituído por várias proteínas virais e eu foco-me apenas numa delas. Investigo como esta proteína do vírus é capaz de manipular a nossa resposta antiviral, para que o vírus seja capaz de escapar às nossas de-

Discurso directo Mafalda avalia a forma como lidámos com a covid-19

Acho que o mundo lidou bem com a pandemia. A esmagadora maioria da população fez um enorme esforço para se proteger a si e aos outros. Ao mesmo tempo a comunidade científica conseguiu aproveitar o conhecimento que já tinha sobre outros coronavirus e vacinas, e o utilizar o novo que foi adquirindo sobre este vírus para produzir vacinas eficazes em tempo recorde. A maior falha foi (e continua a ser) a falta de ajuda a países mais pobres que ainda hoje estão à espera de vacinas para protegerem a sua população.

Outra desilusão foi a onda de desinformação e de cepticismo que se desenvolveu à volta da pandemia e das vacinas. A comunidade científica por vezes falhou uma vez que nem sempre foi clara a comunicar com a população. Por outro lado, a pandemia também revelou haver uma grande falta de literacia científica na população e desconfiança na ciência e nos cientistas. Isto só poderá será colmatado com mais educação científica e com uma aproximação dos cientistas à sociedade em geral.

fesas e consiga continuar a infectar outras células do nosso organismo e multiplicar-se. Conhecendo estes mecanismos é possível desenvolver medicamentos que impeçam que o vírus escape às nossas defesas e ajudem o nosso organismo a combater a infecção.”, explica.

Diz que a pandemia serviu para relembrar-nos que o aparecimento de uma doença que ponha a humanidade em risco não é fi cção científi ca. Em Novembro de 2020

publicou um artigo no Diário de Notícias, que actualizou no seu site (mafaldafarelo.com) em Maio de 2021, sobre a Doença X, que “vai existir e será uma emergência de saúde pública mundial”. Como não sabemos onde começará e qual será a próxima doença infecciosa a emergir, a melhor defesa é aumentar o investimento no desenvolvimento de vacinas.

Considera que, em Portugal temos “óptima investigação e óptimos investigadores” mas falta investimento. “Os investigadores são na maioria precários, não tendo direito a fundo de desemprego ou a reforma. Vivem de bolsa em bolsa, e é difícil uma pessoa focar-se no seu trabalho e ser criativa se não sabe se terá salário nos meses seguintes.” No seu tipo de investigação, que é “bastante dispendioso, uma vez que as instalações, aparelhos, e reagentes necessários são bastante caros, a falta de financiamento é um entrave para muitos laboratórios”. Com tantas limitações, económicas e burocráticas, Mafalda acha “incrível a boa ciência que se faz” no nosso País. Chegou à conclusão de que em Portugal existem “poucas oportunidades para doutorados”, porque as posições de investigação em universidades “são precárias e as oportunidades na indústria são escassas”. Percebeu, também que a diferença, para o estrangeiro, não é apenas nos salários, mas também de carreira. “Gostava muito de voltar a Portugal, mas só voltarei quando conseguir uma posição e salário que correspondam às minhas capacidades e que me dê oportunidade de crescer profissionalmente”, conclui.

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Em Portugal há óptima investigação mas falta investimento
Mafalda Farelo estuda uma proteína do SARS-CoV-2, para perceber como consegue escapar aos medicamentos
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Ciência e Inovação

“A mente humana é dos mistérios mais interessantes que existem”

Neurocientista montijense investiga, na Fundação Champalimaud, o processamento das decisões no nosso cérebro e como as patologias afectam esse processo

Tiago Quendera, jovem do Montijo, nascido em 19 de Março de 1993, responde a todas as perguntas com um humor e boa-disposição que fazem parecer banais as coisas mais difíceis. Brinca sobretudo sobre si próprio, como quando diz que não sabe como é um dos poucos que conseguiram entrar no programa internacional de neurociências da Fundação Champalimaud. Este centro admite apenas oito de 400 candidatos, por ano. O jovem cientista já participou em várias investigações, sendo que a mais mediática, considerada muito promissora, estudou o uso de substâncias psicadélicas no tratamento de transtornos mentais. Também já foi notícia na televisão por integrar um grupo de cientistas, portugueses e norte-americanos, que criou um jogo para testar a inteligência humana. O jogo, para telemóvel, consiste numa série de puzzles e permite perceber como funciona a mente humana e o que tem de especial.

Actualmente está a fazer doutoramento em Neurociências com uma tese em que investiga os mecanismos cerebrais de tomadas de decisões e como esse sistema é afectado por patologias como a depressão.

Em que fase está o seu doutoramento? E porque escolheu esta área?

Neste momento, sou aluno doutoral do programa internacional de neurociências da Fundação Champalimaud. O Champalimaud

Centre for the Unknown [Centro Champalimaud para o Desconhecido] é o local onde desenvolvo a minha investigação. Na minha opinião, existem poucos mistérios mais interessantes que o funcionamento da mente humana, pelo que acho o nome do instituto muito apropriado. Aqui, investigo como as decisões que tomamos todos os dias são codificadas nos nossos cérebros e, em particular, como é que determinadas psicopatologias, como a depressão ou a perturbação obsessivacompulsiva, perturbam o processo de tomarmos estas decisões. A minha tese incide exactamente sobre estes temas. Não sei muito bem como vim aqui parar, mas quando era criança dizia que queria ser médico das crianças para elas não ficarem tristes. Talvez tenha algo a ver com isso.

Em que investigações tem participado?

Trabalho na área de investigação faz agora 10 anos! Comecei no ISPAIU [Instituto Superior de Psicologia Aplicada – Instituto Universitário], onde estudei Psicologia, bem no centro de Alfama. No início, como a grande maioria das pessoas na minha área, tinha um trabalho técnico. Comecei por aprender técnicas e protocolos, mas acho que o que mais aprendi nesta altura foi como funciona um laboratório de investigação. Digamos que tomei o gosto e, desde aí, tenho trabalhado em vários laboratórios, até que encontrei o laboratório

actual, onde trabalho - o Laboratório de Neurociência de Sistemas - liderado pelo Professor - e que hoje posso chamar amigoZachary Mainen.

De todas as investigações em que participou, qual acha mais promissora?

Gosto de pensar que a que trabalho

mais recentemente é sempre a mais promissora! [Risos]. Acredito que com um maior entendimento dos circuitos e sistemas que regem a forma como tomamos decisões podemos realmente revolucionar a forma como aprendemos, como ensinamos, a forma como tratamos a doença mental, a forma como

fazemos política, etc. Planeia trabalhar em Portugal ou ir para o estrangeiro?

A longo prazo, gostaria de trabalhar em Portugal. Um dos meus sonhos é ter uma pequena oficina, quem sabe na Margem Sul, onde possa ensinar e ajudar jovens a descobrirem aquilo que os fascina

122 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
Francisco Alves Rito
A coisa que mais gosto, e sempre gostei, é estudar. No entanto, nunca gostei muito da escola
DR
O plano imediato de Tiago Quendera é trabalhar no estrangeiro, mas depois gostava de voltar à investigação em Portugal

e que querem ser. Por enquanto, quero amadurecer mais na área da investigação. Para tal, na minha área, é imperativo passar um tempo fora, pelo que esse será o meu plano mais imediato. No passado, já trabalhei num laboratório na Alemanha e tenho algum carinho por esse país, talvez lá acabe daqui a uns tempos, quem sabe... Onde e como foi a sua infância? A minha infância foi passada no Montijo! Em grande, no Pavilhão Municipal - onde tantos anos tive o prazer de jogar pelo Montijo Basket (MBA), nas pirâmides do Saldanha - onde dei o meu primeiro beijinho, na Bella Pizza (ou pizzaria do Sr. Virgílio). Quem lá foi sabe porquê. [Risos].

Durante toda a infância tive notas excelentes. Tive a grande sorte do meu avô materno ter sido professor primário, o que me ajudou imenso. Com os "cincos a tudo", vinham também as cadernetas cheias! A coisa que mais gosto, e sempre gostei, é estudar. No entanto, nunca gostei muito da escola e acho que se notava na quantidade de recados que levei ao longo da

infância! [Risos]. Também tinha na altura uma grande ligação à cena musical do Montijo, Barreiro, Moita, Setúbal, etc. Algumas das minhas memórias favoritas são

que médias?

No secundário eu queria estudar filosofia e letras, mas a minha mãe obrigou-me a ir para a área de ciências - tinha mais saída profissional... Será caso para dizer que além de nerd, sou também uma pessoa muito teimosa! Estudar físico-química e matemática quando não era a área que queria não foi nada agradável, mas hoje estou feliz de ter seguido essa área. O meu trabalho de dia-a-dia acaba por ser, em grande parte, baseado em coisas que aprendi nessa altura! No final de contas acabei por estudar no mestrado em Ciência Cognitiva na Universidade de Lisboa e aí foquei-me muito em filosofia. Caso para dizer que todos os caminhos vão dar a Roma! Quanto às minhas notas, sempre tive média de 15. Mas olhando com mais atenção, sempre fui aluno ou de "dezanoves" ou de "onzes", dependendo do meu gosto pela disciplina, por quem a ensinava, por como me sentia na altura, etc... Como vê o estado da arte na sua área em Portugal? A investigação na minha área em

Portugal está em crescimento. A par do programa de neurociências da Fundação Champalimaud, existe o IMM [Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes], o ITQB [Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier, da Universidade Nova], o ISPA-IU, entre outros. O programa doutoral da Fundação Champalimaud é altamente competitivo. Anualmente há cerca de 400 candidatos para apenas oito vagas. Como eu sou uma delas, até hoje não sei muito bem. [Risos]. O meu maior conselho para quem quer seguir algo assim é nunca menosprezar os seus interesses. Acredito mesmo que o que me trouxe até onde estou foi, em partes-iguais, a vida escolar e a minha vida pessoal: aprendi a lidar com a derrota a perder repetidamente contra o Barreirense Basket, a lidar com a frustração ao perder o barco vezes sem conta, a sorrir ao brincar com os aspersores no parque, a economizar para poder ir ver o próximo concerto... Qual a importância da região de Setúbal para si e para a sua vida?

A região de Setúbal é a grande maioria de todas as minhas memórias formativas. É de onde digo que sou, quando me perguntam se sou de Lisboa e respondo que não. É onde procuro metáforas para basear o meu trabalho e onde vou descansar quando preciso de recarregar baterias. É onde me sinto em casa. Actualmente, por motivos profissionais, e a contar as horas para voltar à Margem Sul, resido em Lisboa.

Tiago Quendera à queima-roupa

Idade 29 anos

Naturalidade Montijo Residência Lisboa

Área Neurociências “O meu maior conselho para quem quer seguir algo assim é nunca menosprezar os seus interesses, incluindo os da vida pessoal”

29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 123 PUBLICIDADE
dos
na banda e na Ti-Mília das Meias a ver concertos de hardcore. Acho que ainda existem fotos por aí! O ensino secundário e o superior foram onde e em que áreas? Com
secundário queria estudar filosofia e letras, mas a minha mãe obrigou-me a ir para a área de ciências. Hoje estou feliz
tempos que passei
No

Desporto

O atleta olímpico que quer qualificar-se com o irmão em memória da mãe

Depois de ser o primeiro atleta do Naval Setubalense nos Jogos Olímpicos de Tóquio, que a mãe já não viu, Afonso Costa quer estar com o irmão em Paris, em 2024

Afonso Costa tem 26 anos, é professor de Geografia de formação, mas não está a exercer, ou seja, é atleta de Remo a tempo inteiro. Nasceu em lisboa e passou toda a sua vida em setúbal, até que, recentemente, se mudou para Coimbra. Mas continua afectivamente ligado á capital do Sado. “É a melhor cidade do mundo, só quero que os setubalenses fiquem orgulhosos de mim e do meu irmão, de estarmos a representar Setúbal e que a autarquia apoie e acredite mesmo nos atletas de gema”, diz.

O desporto faz parte da vida do atleta desde os 3 anos de idade. Tem praticado vários, como Natação, Aikido, Atletismo e Remo, porque a mãe sempre acreditou que a actividade desportiva faz parte da educação de uma criança

Afonso Costa pratica Remo no Clube Naval Setubalense (CNS) há 17 anos e é onde pretende acabar a sua carreira porque é o clube da sua terra e que sempre o apoiou. “O meu treinador, Filipe Chagas, sempre me apoiou, principalmente nos momentos mais difíceis, sempre acreditou em mim e no meu irmão e acho que tenho uma divida para com o clube.”

Como atleta de remo nunca conheceu outro emblema.

Decidiu experimentar esta modalidade porque queria um desporto aquático, e, gostou tanto que nunca mais parou de remar. Apesar da modalidade tanto poder ser praticada em equipa como individualmente, Afonso sempre encarou o desporto como uma actividade de equipa.

Valoriza muito a confiança que está na base de uma verdadeira equipa.

Tem um regime de treino muito intenso, de quase seis horas por dia, num total de cerca de 15 sessões por semana e a preparação, enquanto atleta profissional, vai muito para além dos treinos. Implica uma dedicação de 24 horas por dia.

“O treinador vai com os atletas para a água, num barco a motor, de onde vai dando o treino. Antes disso, fixa os objectivos, e, após o treino, falamos sobre o que correu bem e o que correu mal.”, explica.

Para ir aos Jogos Olímpicos, é preciso talento, mas não só, sublinha o atleta. “Por trás do talento há muito trabalho, porque não basta só talento. Jovens talentos há muitos, mas

pessoas que trabalham com o talento há poucas.”, refere.

A vida de atleta não é fácil de gerir, mas Afonso Costa conta com o apoio da mulher. “A maior dificuldade é ab-

Afonso Costa à queima-roupa

Idade: 26 anos

Naturalidade: Lisboa

Residência: Coimbra

Modalidade: Remo

“Ter dois atletas do Clube Naval Setubalense e de Setúbal nos Jogos Olímpicos de Paris ia ser um orgulho”

dicar da vida normal de um cidadão comum e ter de ser um atleta a tempo inteiro, mas, felizmente, tenho uma companheira que compreende, acredita em mim e sonha comigo nos meus objectivos. Este apoio é meio caminho andado para consegui ter algum sucesso. É essencial. Sem esse apoio e compreensão e respeito, mútuos, duvido que fosse possível conciliar a vida comum com os Jogos Olímpicos.”, afirma.

Competição começou logo que entrou na modalidade Com apenas três meses de Remo, competiu pela primeira vez no Campeonato Nacional, onde ficou em 8º lugar. A partir dai foi só somar, provas e prémios.

Antes de uma competição, o atleta sente muita adrenalina, mas procura manter-se calmo e agarrar-se à confiança no seu parceiro de equipa.

Em 2021, no dia 8 de Abril, em Itália na cidade de Varese, Afonso Costa garantiu, pela primeira vez na história centenária do Naval, a presença de um atleta do clube nos Jogos Olímpicos, na modalidade de Remo. Competiu, no Campeonato da Europa, com o seu colega de embarcação, Pedro Fraga (39 anos), em representação da Selecção Nacional de Remo, tendo alcançado o segundo lugar, e respectiva medalha de prata, na categoria de Seniores Ligeiros Masculinos. Este resultado garantiu a presença da dupla nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

No Japão, a dupla dominou de forma clara a final C, do princípio ao fim, depois de ter sido repescada. Os dois remadores consideraram terem provado na água que o seu lugar não era o 13.º no double-scull que obtiveram antes da repescagem.

Actualmente, Afonso Costa faz equipa com o seu irmão, Dinis Costa, também atleta do CNS, e estão a tentar qualificar-se para os Jogos Olímpicos de Paris de 2024. “Ter dois atletas do Clube Naval Setubalense e de Setúbal em Paris ia ser um orgulho”, sonha o jovem.

Afonso Costa lamenta que a mãe, entretanto falecida, não tenha chegado a vê-lo no ponto mais alto da competição. “A minha mãe não me chegou a ver nos Jogos Olímpicos, mas sempre foi o sonho dela. A pessoa que mais contribuiu para estes resultados, até mais que treinadores, amigos e resto da família, foi a minha mãe.”, afirma.

“O esforço que ela fez para que nós praticássemos desporto, para que sempre fizéssemos actividades, estivéssemos sempre ocupados, e conseguíssemos boas notas, é quase tudo”, acrescenta.

Afonso Costa presta tributo à memória da mãe quando recorda a final em Tóquio. “Esteve sempre comigo naquele barco dos Jogos Olímpicos”, conclui.

124 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
AFONSO COSTA Atleta pratica Remo no Clube Naval Setubalense há 17 anos e é onde pretende acabar a carreira DR

ALÍCIA CORREIA

A jogadora de futebol que aos 19 anos já representa a Selecção Nacional

Começou como construtora de jogo, mas actua como lateral no Sporting CP enquanto se mostra ao mais alto nível pelo seu país

Uma jogadora que sabe construir jogo, mas que actua como lateral, muito por culpa de ter iniciado a carreira como médio. Alicia Correia é um dos nomes que salta à vista quando se fala do futuro do futebol feminino português. A lateral esquerdo de 19 anos está vinculada contratualmente ao Sporting Clube de Portugal, marcando já presença na selecção principal de Portugal, após se ter destacada nas camadas mais jovens da equipa das quinas.

Natural do Barreiro, Alícia Correia deu os primeiros passos no futebol na academia Playhouse, do Pinhal Novo. Em 2011 mudou-se para o FC Barreirense onde evoluiu num contexto diferente, treinando e jogando com rapazes até à temporada de 2015/2016.

Na época seguinte (2016/2017), ingressou no Sporting Clube de Portugal e os sucessos surgiram de forma consecutiva. Tornou-se jovem internacional portuguesa em Dezembro de 2017, faz parte de uma geração que chegou às meias-finais do Europeu de sub-17, é campeã nacional de juniores pelas leoas e tem evoluído entre os escalões de juniores e seniores, actuando pela equipa B. Estreou-se na equipa principal do conjunto leonino em Setembro de 2020 e em Outubro já se estreava na principal selecção portuguesa. Conseguiu alcançar todas estas proezas naquela que foi a temporada de estreia ao mais alto nível.

Com apenas 19 anos até podia estar nas sub-19, mas Alícia Correia integra o grupo principal da equipa das quinas, comandado por Francis-

co Neto. Estar na Selecção principal, tão jovem, é um sonho para a jovem atleta: “Sempre foi um sonho, e julgo que o seja para todas as jogadoras, chegar à Selecção e representar o nosso país ao mais alto nível. Sinceramente, nunca julguei que fosse um sonho que se pudesse realizar tão cedo, mas é mesmo um privilégio poder estar aqui, tão nova”, confessou em entrevista ao Lado F.

Apesar de ter pouca experiência na equipa principal das quinas, a jovem jogadora assegura que está pronta para assumir o seu papel e ajudar sempre o seu país. “Claro que é um

objectivo e continuo a trabalhar para isso. A minha integração vai ser feita ao longo dos anos. Cheguei aqui o ano passado. Por isso, vou continuar a trabalhar para, acima de tudo, poder a ajudar a equipa”, concretizou em conversa com o Lado F.

O sonho de participar no Campeonato da Europa Alicia Correia é a futebolista mais nova da selecção portuguesa, e afirma que participar no Campeonato da Europa de 2022, em Inglaterra, "é o concretizar de um sonho".

"É muito bom estarmos já cá. É um

ambiente a que estamos a adaptar-nos, as instalações são incríveis, não podíamos pedir melhor. Agora sim, estamos mesmo dentro do torneio, é o concretizar de um sonho", confessou a defesa. No entender da jovem atleta "é normal uma pequena ansiedade", sendo que espera que a mesma desapareça com o passar do tempo. "Estarmos neste ambiente vai-nos ajudando a sentir mais as coisas e acima de tudo a ansiedade vai desaparecendo aos poucos e o foco é mesmo o jogo", afirmou a jogadora do Sporting CP, em declarações à Federação Portuguesa de Futebol.

Alícia Correia à queima-roupa

Idade: 19 anos

Naturalidade: Barreiro

Modalidade: Futebol

Quer alcançar o patamar mais alto do futebol feminino ao serviço da Selecção Nacional

Quem é Alícia dentro de campo Na hora de defender, Alicia Correia é uma jogadora em quem se pode confiar a protecção da ala esquerda da defesa. A jovem apresenta-se inteligente ao nível táctico e com uma boa capacidade de ler o jogo, conseguindo dessa forma posicionar-se de forma adequada e isso confere-lhe uma forte vantagem para abordar os lances, sobretudo na antecipação. Uma jogadora que fecha muito bem o espaço entre si mesma e a defesa central, sendo que dessa forma leva a equipa adversária a colocar a bola no espaço exterior para depois recuperar terreno com a sua velocidade. Trata-se de uma jogadora com bom timing de desarme, também pelo facto de ser competente a fazer a contenção perante as adversárias em situações de um contra um e de evitar abordar o lance de primeira.

A nível ofensivo, a sua qualidade técnica destaca-se das demais. O facto de ter começado a carreira no centro do terreno nota-se quando olhamos para a internacional jovem portuguesa e a vemos, qual construtora de jogo, sempre de cabeça levantada, à procura da melhor solução para sair a jogar e a dar prioridade à saída apoiada. A tranquilidade com que a jogadora não cede à tentação de esticar o jogo em situações, onde outras atletas o fariam, também se revela de uma jogadora de alta qualidade. É uma jovem com visão de jogo, que procura muito o passe interior e nesse aspecto, é uma jogadora muito competente, cujo pé esquerdo é capaz de colocar sempre a bola em qualquer lado e sempre “redondinha”.

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Estar no Campeonato da Europa de 2022, em Inglaterra, é o concretizar de um sonho Alícia Correia, a barreirense que joga como lateral esquerda, é a jogadora mais jovem da selecção principal Tiago Jesus DR

Desporto

INÊS GRÁCIO

Ginasta sadina de apenas 16 anos já sobe ao pódio na Europa

Atleta de tumbling do Vitória já foi bronze no Campeonato da Europa e 25.ª no Campeonato do Mundo. Neste momento está a lutar pelo apuramento para o próximo mundial

Inês Grácio, de 16 anos, adora ginástica e está completamente encantada com a modalidade de tumbling. Aos 7 anos de idade entrou para o mundo do desporto com uma amiga, começou por experimentar o trampolim, mas quando viu que havia sarau de tumbling ficou com curiosidade de experimentar. Aos 8 anos entrou para o tumbling e a curiosidade levou-a à paixão pela modalidade aos elevados patamares onde está agora.

Nascida em Setúbal, filha de pai do Barreiro e mãe de Setúbal, a jovem tem uma profunda ligação à cidade sadina, onde sempre viveu e estudou. “Acho que Setúbal é uma cidade grande, com um grande clube e muito potencial”, disse ao jornal O SETUBALENSE.

O desporto é muito importante na vida na sua. Gosta de desafios e de chegar mais além, ainda tem um longo percurso, mas não pensa em desistir. Tem muito orgulho em ver que os pais estão sempre a apoiá-la e que a treinadora nunca desiste de a ajudar a melhorar.

O Vitória FC, foi o primeiro e tem sido o seu único clube. É onde se sente livre e bem treinada pela técnica Margarida Maia. Apesar da confiança e determinação a atleta reconhece que também tem momentos de dúvida. “às vezes penso que não estou a dar o meu máximo, mas com o tempo tudo se recompõe”, revela.

Refere que a pior parte de ser uma atleta é quando não consegue fazer bem algum tipo de exercício. “Fico rapidamente frustrada” diz. A parte boa é que gosta imenso de fazer exercícios novos e diferentes e esse prazer compensa todo o resto.

A exigência de Inês Grácio consigo própria vai para além da activi-

dade desportiva. Os estudos, que tem de conciliar com os treinos e a competição, são também uma grande preocupação. Entre as muitas coisas que lhe tomam o tempo e a atenção, geralmente são os amigos e até a família que são penalizados quando chega a hora de ter que fazer opções.

Inês Grácio à

queima-roupa

Idade 16 anos

Naturalidade Setúbal

Residência Setúbal

Modalidade Ginástica, Tumbling

Conhecedora do seu talento e digna dos seus títulos a atleta quer agarrar o seu futuro para mais títulos vir a ganhar

Mundo da competição

A vida de competição, no tumbling, iniciou-se quando Inês Grácio tinha apenas 10 anos. Entrou nesse mundo pelo desafio. “Queria ter um pouco mais de desafio, então surgiu a oportunidade de ir ao Campeonato do Mundo e ao Campeonato da Europa”, conta.

Outro grande desafio com que teve de conviver foi a pandemia. Os hábitos e os treinos sofreram grandes alterações, mas essas mudanças não afectaram o percurso da atleta.

No ritmo de competição, a jovem treina intensivamente, três vezes por semana, duas horas por dia, mas, mesmo assim, não consegue deixar de sentir-se muito nervosa antes das provas. Mas já arranjou uma forma de lidar com ansiedade. “Sento-me, foco-me e corre tudo bem”, diz.

Apesar dos altos e baixos do percurso, Inês Grácio afirma que, hoje,

pode dizer que está “super orgulhosa” do trabalho que tem feito e vê as conquistas como um sinal de que pode ir muito mais longe, uma vez que ainda tem apenas 16 anos de idade.

Em 2021 ficou em 25ª lugar no Campeonato do Mundo por idades, ganhou a medalha de bronze por equipas no Campeonato da Europa de trampolins e foi vice-campeã nacional Elite. No mesmo ano sagrou-se campeã nacional em diversos escalões. Em 2022 ficou em terceiro lugar do Campeonato Nacional já entre os seniores femininos, Elite, o que mostra as potencialidades da jovem sadina.

Ainda recentemente, no início do mês passado, no Campeonato da Europa, que decorreu de 29 de Maio a 6 de Junho, em Rimini, em Itália, foi a melhor portuguesa em termos individuais, tendo alcançado o 19.º lugar em Tumbling Feminino, em seniores.

Apesar de já ter conquistado todos estes títulos, Inês Grácio mantém o foco e quer muito mais. Para já, o objectivo imediato é conseguir um lugar no próximo Campeonato do Mundo e, para isso, o plano é treinar bastante, analisar os treinos e fazer tudo para ficar entre as quatro primeiras concorrentes nacionais para garantir o apuramento.

A jovem sadina confessa que a sua vontade é maior só de saber que os seus pais estão lá a apoiá-la e que vão sempre que podem às competições. “Fico muito feliz porque sei que há pais que não apoiam os filhos”, partilha.

“Queria agradecer à minha treinadora, que está sempre presente e ao longo de todos os anos nunca desistiu de mim, mesmo quando eu estava sempre em baixo ou com menos vontade de treinar. Sempre esteve presente para mim.”, agradece a atleta Inês Grácio

126 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
Além de vários títulos de Campeã Nacional, a atleta setubalense já ficou em 25.º no Campeonato do Mundo e ganhou a medalha de bronze por equipas nos europeus
O SETUBALENSE
29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 127

Desporto

INÊS MARTINS

Campeã já brilha na Europa mas sonha e luta para voar mais alto

Sente que se não tivesse entrado na competição tinha-se arrependido. Gosta de desafios e confia nas suas capacidades desportivas, fazendo todos os possíveis para somar mais vitórias

Apaixonada por Taekwondo e determinada. Inês Martins faz do mundo do desporto também a sua casa há algum tempo. Aos 6 anos entrou nele e experimentou um pouco de tudo, mas confessa que nada é como o Taekwondo. “Sempre foi aquela paixão, aquele desporto que eu senti que era para a vida se pudesse”.

A tenra idade não defi ne o seu pensamento e, com apenas 13 anos, a atleta tem a certeza do que a modalidade significa para si. “Liberdade, libertar todas as minhas raivas, tudo. A união com os nossos colegas. Sentimo-nos bem, com mais segurança”.

É no pavilhão Portugal, Cultura e Recreio que Inês se sente livre e treina intensivamente, com os ensinamentos do mestre Abílio Costa, para ser cada vez melhor. Apesar de ser destemida e enfrentar todos os desafios, a jovem adolescente confessa que ainda existem momentos em que questiona as suas capacidades.

Explica que a sua maior difi culdade é a concentração. “Às vezes é difícil concentrar-me porque temos aqueles dias em que não estamos com tantas capacidades”, diz. Nessas alturas, o equilíbrio também se torna um pesadelo “porque é difícil uma determinada técnica que precisa de muito equilíbrio e com o nervosismo normalmente nunca corre bem”.

A força de vontade para ser melhor é superior e rapidamente o único pensamento existente é “estamos aqui para treinar, para conseguirmos alcançar os nossos objetivos”, conta a atleta. Também o apoio dos pais é essencial na motivação e Inês mostra-se contente

por os ter bastante presentes no seu percurso.

Uma jovem desportista que também é estudante e tenta ao máximo conciliar as duas áreas, e, embora seja um pouco difícil, vai conseguindo. O tempo social é, por enquanto, quase que apenas uma curiosidade que tem. “Normalmente via os meus amigos a saírem e também queria ter a vida deles”, mas, geralmente, apetece-lhe simplesmente “ir para casa vestir o pijama”, confessa.

Nos caminhos do mundo competitivo

Foi com apenas 8 anos que Inês Martins deu entrada na vida de competição de Taekwondo. “Tinha uma colega que fazia competições, sempre gostei de ver. Decidi entrar, ver como era este novo mundo”, explica. Embora a adaptação tenha sido um pouco difícil devido aos nervos, a adolescente aprendeu a contornar os pensamentos mais negativos.

“Como se estivesse num treino,

mas a dar o meu melhor e assim não sinto tanta a pressão dos árbitros, dos pais, dos atletas que estão a ver, tudo”, é este o truque utilizado para que tudo corra bem na hora decisiva. Com o reforço de dias de treino em que aperfeiçoa “os erros, as técnicas, a potência” e uma entrega de corpo e alma ao Taekwondo, as vitórias acontecem.

Campeã da Europa em Pares Mistos escalão Cadetes e 7º lugar Individual Cadete Feminina no 15º

Inês Martins à queima-roupa

Idade 13 anos

Naturalidade Sampaio, Sesimbra

Residência Sesimbra

Modalidade Taekwondo

Consciente do que quer para o futuro, mantém-se focada na preparação. Com treino e força de vontade, acrescenta vitórias ao seu percurso e prepara-se para concretizar mais objetivos

Campeonato da Europa de Poomsae. Vencedora dos Campeonatos de Portugal 2021 Cadetes Femininos. Campeã da Europa de Clubes 2018 em Pares Mistos Infantis. São títulos que Inês já conquistou e sobre os quais guarda sentimentos fortes. “Foi muita emoção ter deixado os outros orgulhosos, deixar-me orgulhosa”, revela.

Acrescenta ainda que o trabalho efetuado e as suas capacidades refletem-se nas vitórias e que leva consigo um pensamento motivador para os momentos que antecedem as competições. “Estou aqui para dar o meu melhor, para me divertir e para tentar alcançar o meu máximo que é o primeiro lugar”. Assume um compromisso consigo própria e dá asas à sua força interior.

Os pais são a sua maior motivação, e, logo a seguir, o mestre. “Os meus pais porque são eles que me incentivam, que me ajudam bastante nas competições, que me levam para os treinos, fazem tudo para eu conseguir alcançar os meus objetivos”, explica a atleta.

Grata por todos os que a ajudaram até momento deixa o seu maior agradecimento ao mestre, “por tudo o que ele fez por mim, pelo que me apoiou”, não deixando de parte a “selecionadora que nos ajudou bastante a chegar até aqui e a todos os que nos apoiaram também”.

Com esperança no seu percurso desportivo faz planos que prometem sucesso para o futuro. Espera “principalmente ir ao Mundial, alcançar mais medalhas e continuar no Taekwondo o máximo que puder”, refere a adolescente.

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Com apenas 13 anos, a jovem pexita (natural de Sesimbra) já tem vários títulos de campeã nacional e europeia DR

JOÃO MIGUEL SANTOS

Campeão nacional no Taekwondo já ganha na Europa e espera mais no futuro

Treina intensivamente para aumentar o número de vitórias e continuar a sentir orgulho na sua caminhada desportiva. Só desiste quando o corpo não deixar mais

Há 12 anos que o Taekwondo faz parte da vida de João Miguel Santos, que já antes tinha contacto com o desporto através da família. “O meu pai fez Taekwondo, uma pessoa muito activa sempre a experimentar todo o tipo de desporto. Ele apaixonou-se pela ginástica, eu apaixonei-me pelo Taekwondo”, revela.

Em 2010, o jovem que hoje tem 24 anos de idade, iniciou a prática da modalidade e desde aí tem construído, de corpo e alma, a continuação da história. “É um modo de vida, os ensinamentos que nos são dados são intrínsecos”, explica João. Actualmente, é no pavilhão Portugal, Cultura e Recreio que têm lugar os treinos.

Confessa que nem sempre é fácil manter a segurança nas próprias capacidades, especialmente antes de pisar o recinto de competição. Ainda assim, mostra ter controlo dos pensamentos mais negativos e tenta pensar que tem apenas de competir e provar o seu valor.

A vida é feita de sacrifícios e, para chegar mais longe João precisa de os fazer. “Houve muitos eventos familiares e de amigos em que não pude comparecer porque às vezes temos de optar e a prioridade é o treino. ‘Aquela é a hora do treino e não podemos faltar’”, conta.

O desejo de João é continuar a competir e para ele o céu é o limite, embora “sempre com gestão de tempo, mas o objectivo é continuar porque depois de se começar é quase impossível parar, até o corpo não deixar mais”, diz o próprio.

Uma caminhada desportiva de vitórias e orgulho

“Estamos sempre perdidos”, é como João descreve a sua primeira impressão da vida de competição. A fase inicial pode ser complicada,

“não sabemos quando é que temos de vestir-nos, preparar-nos, aquecer”, mas “é para isso que está lá a nossa equipa, os nossos treinadores para nos guiarem e mostrarem o caminho”, conta o jovem atleta.

Caminho que contém no seu interior etapas concluídas gradualmente que contam a história de João enquanto competidor. No seu percurso, destaca Bruno Fidalgo, compa-

nheiro de treino e que tem estado presente durante todos estes anos, deixando-lhe um agradecimento especial.

As competições requerem preparação diária e força de vontade. Com o alargamento das horas de treino e o foco na especialização, as vitórias aproximam-se. Treina intensivamente e durante mais tempo, mas o jovem adulto confessa que “não damos

por elas [as horas] passarem porque temos um objectivo a cumprir”.

E as metas foram alcançadas com foco total no que é preciso fazer e com confiança no treino realizado. Bronze, na categoria Mais de 17 anos, de Freestyle Masculino, no 15º Campeonato da Europa de Poomsae. Vencedor do Campeonato de Portugal 2022 em Poomsae Freestyle e Bronze em Poomsae Tradicional

Sub30 Masculino. Campeão Nacional Universitário em Poomsae Tradicional e Poomsae Freestyle.

“Quando se ganha é a recompensa de todo o trabalho, de todo o tempo que investimos e o agradecimento de todo o apoio que tivemos”. João diz também que todas as vitórias reflectem as suas capacidades e mostram que não há limites, sendo exemplo disso a convocação para representar Portugal nos próximos Jogos Mundiais Universitários.

O orgulho não advém apenas das vitórias, mas também das derrotas. O desportista explica que “às vezes temos de dar um passo atrás e reconhecer a nossa progressão, dá-nos azo a reflectir um pouco sobre o que temos de melhorar e a sermos mais fortes”. Uma lição que acompanha João sempre que algo corre mal.

As horas passam e para o atleta a gestão de tempo é uma das maiores dificuldades porque “cada vez mais é preciso tempo para treinar e cada vez mais esse tempo encolhe”. Contudo, a paixão por Taekwondo é superior, chegando a dizer que “nada é mais terapêutico do que, após um dia mau, desligar o cérebro, treinar e focar-nos apenas naquilo que temos de fazer”.

É com a ajuda do Mestre Abílio Costa que os treinos e esse foco são possíveis. João destaca-o nos agradecimentos, juntamente com os pais e o Mestre Sérgio Ramos que o acompanha frequentemente. O apoio dos pais é motivador e, embora se encontrem fora de Portugal, o atleta sabe “que no sentimento estão lá sempre”.

João Miguel Santos à queima-roupa

Idade 24 anos

Naturalidade Almada Residência Charneca da Caparica Modalidade Taekwondo Cortesia, integridade, perseverança, espírito indomável e autodomínio são princípios de Taekwondo que João tenta aplicar na vida. Espera continuar a caminhada por muitos anos

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Aos 24 anos já tem os títulos de Campeão Nacional e Campeão Universitário em Poomsae Tradicional e Poomsae Freestyle
DR

Desporto

LEONOR MEDEIROS

“Viver nos Estados Unidos está a ser a melhor experiência da minha vida”

Jovem golfista

atravessou o Oceano Atlântico em busca de um sonho após alcançar o topo em terras lusas

A jovem golfista cedo se apaixonou pela modalidade, contando com a ajuda do pai na criação deste amor. Nascida a 25 de Junho de 2003, Leonor Medeiros já alcançou o patamar mais alto no golfe amador em Portugal, estando agora a vivenciar a “experiência de uma vida” nos Estados Unidos da América, onde estuda Gestão e cresce como atleta de golfe.

Leonor Medeiros fez um balanço muito positivo da experiência que está a ter no seu primeiro ano na University of South Florida, em Tampa Bay. A golfista, que alcançou o estatuto de uma das melhores amadoras nacionais, sente que mudar-se para os Estados Unidos da América foi o passo certo para se tornar jogadora profissional, conseguindo facilmente conciliar os estudos com o golfe ao mais alto nível.

Os seus primeiros anos no golfe não foram fáceis, devido à conciliação com os estudos. “Enquanto estudava cá em Portugal era muito complicado conseguir conciliar a escola com o golfe, talvez se jogasse futebol era mais fácil”, confessou em entrevista a O SETUBALENSE.

Tudo mudou quando estava mais perto de terminar o secundário, vendo o seu sonho a estar perto de se tornar realidade. “No 11.º ano tive várias ofertas de diversas faculdades, que me davam bolsas de estudo com tudo incluído, e foi aí vi que os meus objectivos estavam a começar a concretizar-se”, referiu.

Com o sonho mais perto, a escolha de Leonor Medeiros não se revelou fácil, mas a atleta está bastante agradada com a sua opção: “A faculdade de Tampa Bay pareceu-me ser a ideal para o meu percurso, não me arrependo em nada da escolha que fiz, não só a nível das condições que lá encontrei, mas também das pessoas que me receberam e me ajudaram a enquadrar”. “Estou a estudar busi-

ness manager, que é o equivalente a gestão. Já fiz o meu primeiro ano, faltam-me quatro e espero conseguir fazer tudo com boas notas”.

A importância da família para além do golfe.

Leonor Medeiros teve de fazer certas escolhas quando percebeu que queria levar o golfe mais a sério, mas hoje percebe que tudo valeu a pena. “Tive que abdicar de parte da minha vida social,

Leonor Medeiros à queima-roupa

Idade: 19 anos

Naturalidade: Setúbal

Residência: Florida, EUA

Modalidade: Golfe

Tem como objectivo chegar a profissional no golfe, mas não estabelece data para o alcançar, preferindo trabalhar de forma constante e confiar no processo

se quero levar esta vida de atleta/estudante tenho que fazer sacrifícios, mas vale a pena porque quero concretizar os meus objectivos”.

Na sua primeira visita a Portugal, após se mudar para os Estados Unidos da América, os seus avós faleceram, motivo que a podia fazer querer ficar por Portugal, mas a atleta teve de ser mais forte. “A morte dos meus avós, que aconteceu num intervalo de quatro dias, custou-me mesmo muito, mas senti que tinha de manter o meu percurso e fazer esse esforço, que me custou bastante”.

Para lá do golfe, Leonor Medeiros considera-se “uma jovem super animada, extrovertida que dá imenso valor à família e aos amigos chegados”. Nos tempos livres a atleta diz gostar muito de passar tempo com os seus “amigos chegados”, garantindo ser “uma pessoa que não gosta de estar em casa sem fazer nada”.

Quanto aos seus objectivos, a jovem atleta não estabelece “datas para alcançar os objectivos”, preferindo “trabalhar de forma constante e confiar no processo”. Mesmo que não

prossiga carreira nesta modalidade, a jovem mostra-se confiante no seu futuro. “Se não correr bem no golfe tenho a certeza que vai correr bem noutra coisa qualquer”, refutou.

A golfista revela que está a viver uma grande experiência na sua vida, e só quer continuar o seu percurso. “Poder estudar nos Estados Unidos da América e estar a praticar golfe tem sido fantástico para mim, diria mesmo que está a ser a melhor experiência da minha vida”.

Um

palmarés de fazer inveja

a muitos profissionais

O seu percurso no golfe começou em Setembro de 2009, quando começou a ter aulas com João Pedro Carvalhosa, num protocolo com o Clube Juvegolfe. Ainda antes de completar os sete anos começou a participar em torneios, no circuito Drive da Federação Portuguesa de Golfe, sendo que em 2012, já com noves anos, participou em todas as competições possíveis, perfazendo um total de 23.

No ano de 2014 sagra-se campeã

nacional de sub-12, e vence novamente o Oceânico World Kids Golf Girls Under 12. Em 2015 vence pela terceira vez consecutiva o Oceânico World Kids Under 12, tendo ainda obtido um 2º lugar no Open Drive E Leclerc em Toulouse. Já em 2016 vence o campeonato nacional de sub-14 e vence pela 4.ª vez consecutiva o World Kids. É em 2017 que se torna bicampeã nacional de sub-14, vencendo também o campeonato internacional juvenil da Áustria.

Foi em 2018 que entra no World Amatour Golf Ranking (WAGR), tendo jogado o The Júnior Open (U-16) em St. Andrews. Já em 2019 sobe no ranking mundial após jogar várias provas em representação da selecção nacional, vencendo também o campeonato nacional absoluto feminino no Montado, sendo o melhor registo de sempre na prova feminina. Em Julho do mesmo ano termina no quinto lugar do Campeonato da Europa de sub-16 (EYM) em Praga, na República Checa com cinco pancadas abaixo do par, sendo a melhor participação de sempre de uma golfista portuguesa na prova.

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A jovem setubalense alcançou o topo no golfe amador em Portugal. Agora está a licenciar-se em Gestão, na University of South Florida, em Tampa Bay Tiago Jesus
DR
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Desporto

Gosto de vencer na Europa alimenta sonho de crescer campeão

Desde os 5 anos que pratica Taekwondo e continua apaixonado. Não conhece limites que o impeçam de voltar a conquistar títulos europeus

Marco Palma, de 14 anos, é um jovem desportista apaixonado por Taekwondo. Aos 5 anos abriu portas à modalidade que veio para ficar. “Comecei a gostar de Taekwondo quando o Mestre foi à minha escola. Deu umas aulas experimentais, eu gostei e entrei”, explica o jovem.

“Eu já estive em três [espaços], que foi no Pinhal de Frades, depois os Redondos e aqui”, refere. É no pavilhão Portugal Cultural e Recreio que Marco treina actualmente e continua a dar o seu melhor, mesmo que às vezes não seja fácil. “Há dias em que tudo corre bem e há outros em que o dia não correu bem e aqui também não corre”, confessa.

A chegada à competição teve origem nas palavras de uma pessoa importante para o desportista, o atual Mestre Abílio Costa. Com confiança de que era possível, Marco acabou por aceitar entrar nesse mundo, enfrentando desde então os possíveis obstáculos e superando-os todos os dias.

Com a responsabilidade de terminar os estudos com sucesso é normal que nem sempre a conciliação dos dois mundos seja fácil. O jovem adolescente confessa que “houve uma vez que não consegui, estava demasiado nervoso e frustrado com isto e pensei em desistir, só que dei uma semana de descanso e a partir daí continuei sempre”. A paixão por Taekwondo falou mais alto.

O apoio dos pais tem uma grande importância na vida do atleta que lhes deixa um especial agradecimento por reconhecer vivamente o seu apoio desde o início da prática da modalidade. Ausentes em competições no estrangeiro devido à profissão, mas sempre presentes no coração e pensamento do filho.

O passo em frente no percurso de desportista suscitou difi culdades. “No início senti a barriga a mexer,

as mãos a tremer, mas depois ao longo do tempo foi passando. Foi um bocado difícil, na minha altura a competição era muito alta, era muito complicado ganhar”.

Uma força jovem e promissora Marco vê no Taekwondo respeito e esforço. É optimista e não deixa que lhe seja tirado o valor que tem, admitindo que “eu penso sempre que não existem

limites para mim”. Acrescenta ainda que antes das competições “na minha cabeça vai sempre que eu quero ganhar e vou para me divertir, mas sobretudo para ganhar”.

Marco Palma à queima-roupa

Idade 14 anos

Naturalidade Lisboa

Residência Fernão Ferro, Seixal

Modalidade Taekwondo

Tem vontade de continuar a competir e espera somar vitórias às que já tem. É grato a quem o apoia e não deixa de acreditar nas suas capacidades

A autoconfiança reflete-se nas vitórias que tanto o orgulham a si como aos pais, ao mestre e a todos os que nunca deixaram de acreditar nas suas capacidades. Com o reforço de horário e frequência de treinos perto das competições e com dedicação à “condição física, parte técnica e força”, o esforço é recompensado com a alegria de poder dizer que venceu.

Campeão da Europa em Pares Mistos escalão Cadete e Vice-campeão da Europa Individual Cadete Masculino, no 15º Campeonato da Europa de Poomsae, em 2021. Vencedor dos Campeonatos de Portugal 2022 nas categorias de juniores masculino e em Pares Mistos Juniores. Campeão da Europa de Clubes 2018 em Infantis Individual Masculino e em Pares Mistos Infantis.

São vitórias que já ninguém tira a Marco e são reflexo do trabalho árduo e da força de vontade em querer ser melhor. O atleta diz ser “difícil explicar, senti que estava noutro mundo, não esperava”, em relação ao momento em que soube que era digno desses títulos.

Apesar das dificuldades sentidas, como o equilíbrio e a flexibilidade que, por vezes, tornam o processo complicado, explica que todas as suas vitórias significam que continua a ser o melhor, sendo precisamente esse o futuro que vê para o seu percurso, “continuar a ser um campeão”.

É o mestre Abílio Costa a pessoa identificada como a maior motivação do jovem atleta no seu percurso de estrelato desportivo. “Quando vejo o meu mestre penso que ele me pode ensinar tudo e é aí que eu me foco e fico motivado”, confessa Marco. É também a ele que deixa seu o último agradecimento especial, admitindo que “sem eu ter treinado com ele não estaria aqui”.

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MARCO PALMA Marco treina no pavilhão Portugal Cultural e Recreio. Já foi Campeão da Europa em Pares Mistos, em infantis e cadetes DR

MARIANA SERRÃO

A judoca que quer ser polícia sonha com o campeonato da Europa

Campeã montijense deseja conciliar os mundos da academia e do desporto e continuar no caminho das vitórias

“A minha mãe deu a ideia de eu e a minha irmã experimentarmos o Judo porque ela já tinha praticado quando era pequena”, foi assim que a modalidade entrou na vida de Mariana Serrão, sem data de partida. Desde os 7 anos que a atleta deixa a sua marca desportiva e actualmente, com 17 anos, tem total noção do que o Judo significa para si.

“É como se fosse uma parte de mim. Não me vejo a fazer outro desporto e acho que me definiu como pessoa até hoje”, sublinha Mariana. Fiel ao local de treino, desde sempre pisou o chão do Clube de Judo Montijo e é aí que se dedica bastante à competição.

A mudança de realidade, para o mundo competitivo, provocou mudanças na vida da atleta, mas nada que a impedisse de dar o seu me-

lhor. “Houve a mudança dos hábitos alimentares, tive de fazer algumas dietas, controlar o que comia, treinar mais, mas não foi uma grande diferença. Adaptei-me facilmente”, revela.

Também a conciliação entre o lado pessoal e o lado desportivo gera dificuldades, que são ultrapassadas pela força de vontade, que fala mais alto. “Nunca é fácil, mas não é impossível. Há tempo para tudo, é só uma questão de organização e de querer realmente fazer as coisas”.

Mariana não se limita pela quantidade de compromissos que tem e conta, ainda, que quando não está presente num treino sente que “falta qualquer coisa naquele dia, fica um vazio e perco a rotina”. Além disso, tanto é focada naquilo que quer para a sua caminhada desportiva, como para a académica.

“O meu sonho é ir para a Escola Superior de Polícia e tornar-me polícia um dia”, é um sonho que a adolescente tem há uns anos e pretende concretizá-lo. Contudo, confessa que “não me vejo num mundo em que não esteja a fazer Judo. Vai ser difícil conciliar, mas não significa que

eu vá deixar o Judo. Sempre que eu puder vou continuar a treinar e fazer Campeonatos Nacionais”.

O mundo de quem compete

Mariana quer treinar o máximo que puder e sente que quanto mais o fizer mais confortável está. Torna-se mais fácil devido ao grande apoio que a atleta recebe por parte dos familiares. “Sinto que nunca estou sozinha, o apoio da minha família faz-me querer continuar”.

Embora nem sempre tenha sido a realidade, a adolescente confia em si própria e pensa que “quanto mais descontraída e mais focada estiver corre sempre melhor”. Nas competições, Mariana direciona o seu foco para a vitória e sente “a adrenalina a correr por todo o lado”. São essas vitórias que a deixam orgulhosa do seu percurso, bem como suscitam “aquele prazer de praticar Judo”.

Com preparação das partes física e técnica, tendo sempre algo pensado antes de competir, a atleta mostra o seu valor no momento decisivo e alcança as metas desejadas, que para si significam bastante. Conseguiu, este

ano, conquistar os títulos de Campeã Nacional e Vice-Campeã Nacional e mais feliz não podia estar.

“Quando consegui senti um alívio, que este capítulo estava concluído, que consegui chegar lá”, confessa, acrescentando que “foi um objetivo que eu já tinha em mente há muito tempo e a minha família sempre me apoiou”. Embora já some algumas vitórias, nunca participou no Campeonato da Europa e espera que “talvez um dia haja essa oportunidade”.

Mariana

Serrão à queima-roupa

Apesar de todas as alegrias que o Judo já trouxe a Mariana, nem tudo é um mar de rosas e as dificuldades existem. “Eu sinto que no dia antes da competição há um bloqueio e parece que não sei fazer nada”, dizendo que o seu medo é acontecer o mesmo no dia da competição. Contudo, mostra saber controlar os pensamentos negativos e “o que faço é parar, respirar e tentar outra vez”.

Ouve muito a sua força interior e admite que é uma das suas próprias motivações. “Olhava-me ao espelho e dizia ‘porque não ir treinar mais hoje? Porque não fazer mais?’”, revela Mariana. Também o seu mestre e a família, principalmente a irmã que é a sua parceira no Judo, incentivam a atleta a chegar mais longe e estão bastante presentes na sua caminhada desportiva.

Quando chega o momento importante, “a melhor parte é próprio dia que é para desfrutar, em que já não se pode fazer mais nada”, sublinha a adolescente. “Se ganhar, óptimo, e se perder também porque ganhei a experiência”, gosta de aprender com as derrotas, não as encara como fracassos, mas como lições.

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de 17 anos de idade, já não se imagina a viver sem o judo. “É como se fosse uma parte de
diz
A
jovem Campeã Nacional e Vice-Campeã Nacional,
mim",
Mariana
Idade 17 anos Naturalidade Almada Residência Montijo Modalidade Judo Acredita na força de vontade e as dificuldades com dedicação. Sabe o que quer e não deixa que coloquem pedras no seu caminho
DR

Desporto

De ‘falcão’ de Almada a primeiro português no MotoGp

Com apenas 27 anos, Miguel Oliveira já colocou o país na história do MotoGP. Em 2019, tornou-se no primeiro português a competir na categoria rainha do motociclismo

Miguel Oliveira foi o primeiro português a competir no MotoGP, a chamada “prova-rainha” do motociclismo.

Natural de Almada, onde vive desde que nasceu, a 4 de Janeiro de 1995, tornou-se, em 2020, no primeiro motociclista português a vencer uma prova no campeonato mundial de MotoGP.

Conhecido como “Falcão”, não só devido ao seu apelido, mas também (e principalmente) à rapidez nas pistas, Miguel Oliveira desenvolveu a paixão pelas motas desde muito cedo. A primeira foi lhe oferecida pelo pai, também piloto de motos, aos 4 anos de idade, mas só aos 9 anos é que o almadense se estreou nas competições nacionais, ficando em 4º lugar no Campeonato Nacional de MiniGP.

No entanto, as suas primeiras conquistas não demoraram a chegar. Em 2005, o motociclista ganhou o World Festival Metrakit, em Espanha, e sagrou-se bicampeão nacional no ano seguinte. Foi com o passar do tempo que as vitórias nas pistas portuguesas deixaram

Miguel Oliveira

à queima-roupa

Idade: 27 anos

Naturalidade: Almada

Residência: Almada

Modalidade: Motociclismo

Com quatro triunfos arrecadados na categoria rainha do motociclismo, Miguel Oliveira luta para ser campeão mundial de MotoGP

de lhe parecer suficientes e, em 2011, o almadense estreou-se nos campeonatos mundiais de Moto3, terminando a sua ‘estadia’, ao fim de 5 anos, como vice-campeão da categoria. Já o período na Moto2 foi mais curto, mas valeu-lhe a medalha de prata pela equipa Red Bull KTM, em 2018.

É em 2019 que o nome de Miguel Oliveira começa a fazer história no país quando se tornou no primeiro português a competir na categoria máxima do motociclismo – o MotoGP. Foi no Qatar que o motociclista se estreou na competição, pela KTM, conseguindo alcançar apenas o 17º lugar.

2020: o ano em que o ‘falcão’ voou mais alto O primeiro grande triunfo do jovem motociclista chega em Agosto de 2020 com a conquista do Grande Prémio da Estíria. Esta foi a primeira vez que um português ganhou uma prova mundial de MotoGP. A partir daí, Miguel Oliveira continuou a arrecadar vitórias até ao fim da temporada.

Em novembro, numa prova realizada em ‘casa’, no Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão, o almadense conquistou a segunda vitória no mundial de MotoGP. Ao partir da primeira posição, após ter

conquistado a primeira ‘pole position’ da sua carreira, o jovem português nunca saiu do lugar da frente durante toda a corrida, alcançando assim o 9º lugar final da temporada.

2021: Miguel Oliveira terminou a temporada sem o ‘top 10’ No ano seguinte, as conquistas de Miguel Oliveira pareciam não acabar e o motociclista iniciou a temporada na equipa principal da KTM, tendo como objetivo principal a repetição do ‘top 10’ na classificação final.

A competição começou com quatro corridas longe dos 10 primeiros lugares. Miguel Oliveira conseguiu

somar pontos no Qatar, em Doha e em Jerez de la Frontera, mas decepcionou no Circuito Internacional de Portimão, onde alcançou apenas o 16º lugar.

O ponto alto da época surgiu com a vitória no GP da Catalunha quando o piloto português alcançou novamente o pódio. Contudo, o triunfo não foi suficiente e o almadense não conseguiu mais do que o 14º lugar final. Nesta temporada, Miguel Oliveira esteve no ‘top 10’ apenas 8 vezes e não concluiu corridas na França, Estíria, Áustria, Emilia-Romagna e Algarve.

2022: Que futuro para o motociclista?

O início da 5ª temporada sorriu para Miguel Oliveira. Apesar da chuva, o almadense conseguiu a vitória no Grande Prémio da Indonésia, sendo este o 4º grande triunfo do jovem no MotoGp. A conquista aconteceu no mês de Março e foi dedicada à filha recém-nascida.

Em Abril, Miguel Oliveira voltou a cair nas classificações e alcançou apenas o 13º lugar no GP da Argentina. O motociclista justificou a sua prestação com o excesso de calor e a falta de aderência à pista. Ainda neste mês, competiu novamente pelo Grande Prémio de Portugal e tentou repetir a proeza feita em novembro de 2020. No entanto, obteve apenas o 5º lugar. No mês seguinte, no GP da França, o jovem almadense sofreu uma queda que o colocou fora da prova a três voltas do fim. Já no GP da Catalunha e no GP de Assen, Miguel Oliveira conquistou o 9º lugar. Com 71 pontos somados, o motociclista ocupa agora o 10º lugar na tabela.

O regresso do campeonato está marcado para o dia 7 de Agosto, com o GP da Grã-Bretanha. Por agora, as notícias sobre o jovem ficam marcadas pelo possível abandono da equipa KTM, após uma proposta da mesma para que ficasse na Tech3 na próxima temporada. “Acredito que mereço muito mais do que isso. Comuniquei que se não estivessem disponíveis [para eu ficar com o] lugar que eu tenho neste momento na equipa oficial, eu iria encontrar outra solução.” Palavras do almadense, em declarações à SportTv.

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Miguel Oliveira volta à competição dentro de poucos dias, no GP da Grã-Bretanha DR
29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 135

Desporto

NEEMIAS QUETA

O basquetebolista do Vale da Amoreira que alcançou o sucesso nos Estados Unidos

Alcançou a NBA em 2021 e, desde então, é o ídolo de muitas crianças e jovens. Está na equipa dos kings

Nascido na maternidade Alfredo da Costa, há mais de 23 anos e tendo crescido na freguesia do Vale da Amoreira, na Moita, Neemias Queta, jogador de basquetebol da equipa norte-americana Sacramento Kings, desde 2021, tornou-se o primeiro português a estrear-se na NBA – National Basketball Association –, tendo desde cedo atravessado o Tejo e crescido a driblar uma bola num campo da margem sul, onde deu os passos iniciais nas camadas mais jovens do Futebol Clube Barreirense e onde se manteve até à temporada de 2016/17.

Desde a data em que entrou no ginásio sede do clube, o internacional português conseguiu cativar todos os que integraram o seu percurso, em diversos escalões de formação, com o seu sorrido e humildade, educação, assiduidade e empenho demonstrado em cada treino.

Dois anos mais tarde, o jovem, que joga na posição de poste, passou pelo Sport Lisboa e Benfica, onde pertencia à Proliga e realizou um conjunto de quatro jogos pela equipa principal, competindo na liga nacional desta modalidade, tendo se separado do clube lisboeta há quatro anos, para rumar aos Utah State, formação universitária dos Estados Unidos da América, tendo mais tarde sido o primeiro basquetebolista nacional a ser escolhido para participar num ‘draft’ que acabaria por mudar a sua vida.

Antes desse trampolim na sua carreira, o desportista chegou a participar, em Portugal, na época de 2018/19, onde acabaria por vencer a 2.ª Divisão do Europeu de Sub 20, que acabou por não disputar até ao final em virtude de uma lesão.

No entanto, foi no final de Junho de 2021, que Neemias acabaria por fazer história ao tornar-se na escolha n.º 39 e a ingressar na equipa da

Neemias Queta à queima-roupa

Idade: 23 anos

Localidade: Vale da Amoreira, Moita

Residência: Estados Unidos da América

Modalidade: Basquetebol Foi o primeiro atleta português a estrear-se na National Basketball Association (NBA)

Califórnia, tendo escolhido o número 88 e assinado um ‘two-way contract’ que o conduziria à liga da NBA, pela formação Stockton Kings, onde a 17 de Dezembro fez a sua estreia oficial e deixou “boas indicações”, no decorrer de uma partida com o Memphis Grizzlies, que acabaria por ganhar apenas por um ponto.

Homenagem retrata atleta no Vale da Amoreira Foi no ano passado que um conjunto de entidades decidiram juntar-se, numa homenagem ao ‘filho da ter-

ra’, com a pintura de um mural na fachada de um prédio da Praceta Maria Helena Vieira da Silva, executado pelo artista local Pedro Pinhal, junto à Escola Secundária da Baixa da Banheira.

O projecto, recorde-se, resultou de uma parceria entre a autarquia moitense e a Hoopers, uma plataforma de comunidade destinada a jogadores e fãs desta modalidade que “cria, dinamiza e promove campos, conteúdos e produtos”. A iniciativa municipal inseriu-se na programação “Cultura em Movimento”, promovida

pela câmara, juntas de freguesia e movimento associativo.

Foi em Julho do ano passado que o filho de pais guineenses ficou eternizado na localidade do Vale da Amoreira, como forma de eternizar o seu feito. A escolha da localização desta obra de arte urbana, que recebeu a sua visita e a aprovação, foi feita pelo próprio durante uma passagem por Portugal.

No início deste ano, em Janeiro, o “gigante” de 2,15 metros, com 112 quilos, conseguiu finalmente estrear-se a marcar, após contrair o vírus que marcou os dois últimos anos de pandemia. Na altura, Queta conseguiu recuperar e fez 11 pontos, cinco ressaltos e uma assistência, frente ao Cleveland Cavaliers, onde jogou durante 24.5 minutos, conseguindo um ‘roubo’ de bola e consumado quatro faltas.

Na altura, o jogador garantiu sentir-se bem, apesar do resultado do encontro. “Fui capaz de ajudar a equipa na defesa e ressaltos [e] mantive o meu papel”, afirmou à imprensa. “Mantive o meu papel e acho que fizemos um bom jogo”, garantiu, tendo se sentido “descontraído” pelo trabalho realizado. “É só basquetebol, uma coisa que temos feito durante toda a vida”, acrescentou, aproveitando desde então cada partida.

Depois de ter jogado durante três anos na Universidade de Utah State, ao serviço dos Angies, o jovem criado no Vale da Amoreira acabaria por ser escolhido na nona posição da segunda ronda, em 39.º. Em Março, o filho de Mica e Dyaneuba Queta, acordou com os Kings um contrato de mão dupla.

Ao longo da sua carreira internacional, o jogador foi nomeado para todos os torneios de Mountain West e escolhido para ser o atleta defensivo do ano pelo Bleacher Report, entre outras menções, tendo ainda participado e sido titular em todos os jogos em que participou, tendo estado presente em 22 jogos.

Neemias Esdras Barbosa Queta marcou o maior número de partidas, com mais aparições de um ‘caloiro’ na United States University, tendo ainda estabelecido o recorde escolar de uma única temporada com vários bloqueios em diversos encontros desta modalidade.

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Aos 23 anos, jogador oriundo do Vale da Amoreira, prossegue carreira do outro lado do Atlântico DR Luís Geirinhas

PATRÍCIA DIAS

A campeã de judo que ficou na modalidade por vergonha de dizer que não gostava

Jovem do Pragal, de apenas 14 anos, já foi Campeã Nacional de juvenis e cadetes e é Vice-Campeã Nacional de juniores

Patrícia Dias é um nome de futuro a ter em conta no panorama do judo nacional. Com apenas 14 anos, a jovem atleta do Judo Clube Pragal conta já com um currículo digno de nota. É actualmente Vice-Campeã nacional de juniores e Campeã Nacional de Cadetes no seu escalão (-70kg). No ano passado foi Campeã Nacional de Juvenis, e conquistou ainda o primeiro lugar em torneios internacionais, nomeadamente a Copa de Espanha de Avilés e o Torneio Feminino de Cadetes da Cidade de Eibar (ambos em Espanha).

Curiosamente, o judo não foi um amor à primeira vista. “Lembro-me que fiz a primeira aula e não gostei, mas já tinha experimentado outros desportos e tinha vergonha de dizer que não tinha gostado outra vez. Acabei por ficar e foi uma coisa que aprendi a gostar ao longo do tempo” revela a jovem, realçando ainda o papel da família, especificamente do pai, que sempre deu importância

Lembro-me

à prática desportiva e a incentivou.

A jovem treina todos os dias, numa rotina dividida entre os estudos e o desporto: “Quando tenho aulas à tarde faço treino de manhã e depois vou para o centro de estudos. À hora de almoço vou para a escola, e depois quando saio volto outra vez para o clube. No caso deste ano (o 9º), como tinha aulas de manhã ia para a escola, depois ia ao centro de estudos da parte da tarde,

e só ao fim da tarde é que conseguia vir treinar”.

Patrícia diz ter sempre o apoio do centro de estudos, que acaba por funcionar como um ponto de equilíbrio importante no conciliar da escola com o judo.

O apoio dos pais é igualmente importante. “Precisamos sempre do apoio deles, para assinar autorizações para poder competir, ou para ter as coisas

que são necessárias para as provas, como por exemplo comprar equipamento. E até pelo próprio apoio moral, acaba sempre por ser importante”.

O encargo financeiro é, com efeito, uma realidade algo ignorada, mas altamente importante quando se fala da prática desportiva. Aqui, os pais de qualquer jovem atleta assumem um papel preponderante, e os de Patrícia não são excepção. “Onde se gasta

mais dinheiro, no judo, acaba por ser nos fatos, que são de facto muito caros. Depois também há as provas – por exemplo, se quiser ir para fora, e não sou convocada pela seleção, tenho de pagar as despesas. Esse tipo de coisas faz com que seja um desporto caro, na minha opinião.“, explica.

Além das provas nacionais, também lá fora a judoca tem-se destacado e conquistado algum reconhecimento, tendo, no ano passado, vencido a Copa de Espanha de Avilés e o Torneio Feminino de Cadetes da Cidade de Eibar, além de conquistar um 2º lugar na Copa de Espanha de Cadetes de Pamplona e um 3º lugar na Copa de Espanha de Juniores.

Questionada sobre o momento mais feliz do seu percurso desportivo até ao momento, destaca as vitórias no Campeonato Nacional de Juvenis e de Cadetes. “Depois, as provas no estrangeiro também foram momentos felizes, e acho que são momentos importantes para a minha evolução”, partilha a jovem judoca.

Patrícia completa 15 anos em Dezembro deste ano. Dada a sua tenra idade, não é de estranhar que tenha objetivos e aspirações. Quando questionada sobre eles, a resposta é perentória: “Quero levar o judo o mais longe que conseguir”. O judo é mesmo uma prioridade na sua vida, e a determinação em chegar o mais longe possível estende-se também à vida fora do desporto. “Em termos de profissões, quero fazer alguma coisa que me permita conciliar com o judo, mas o judo é sem dúvida uma coisa que quero levar para a vida”. E qual é a profissão que gostava de seguir? “Gostava de ser inspectora de criminologia”, conclui.

Patrícia Dias à queima-roupa

Idade 14 anos

Naturalidade Pragal, Almada Residência Almada, Portugal

Modalidade Judo

Reconhecida no seu escalão a nível nacional e internacional, quer levar o judo o mais longe possível, e no futuro espera conciliar a sua vida profissional com a prática desportiva.

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As conquistas dos prémios, nacionais e estrangeiros, têm sido das maiores alegrias de Patrícia
que fiz a primeira aula e não gostei, mas já tinha experimentado outros desportos e tive vergonha de recusar outra vez. Acabei por ficar e aprendi a gostar
DR

Desporto

O campeão do mundo de canoagem que estuda engenharia biomédica

Aos 19 anos conquistou o título internacional de juniores por Portugal, que lhe permitiu concretizar o sonho de assinar pelo Benfica

O jovem natural de Azeitão já alcançou grandes metas, apesar da sua tenra idade. Aos 19 anos, Pedro Casinha já conquistou o ouro por Portugal e representa o Benfica, mas apesar de ter alcançado todos estes feitos, sente que ainda tem “muito para aprender”.

A sua paixão pela canoagem apareceu quase por acaso, quando ainda tinha apenas dez anos, e decidiu ter uma aula experimental desta modalidade. “Apareceu com uma aula experimental na minha escola em 2013. Gostei de ter experimentado e passei o Verão a pedir aos meus pais para me levarem ao clube para ter aulas. Eles acabaram por ceder e em meados de Setembro comecei as aulas de canoagem e desde então nunca mais larguei a pagaia”, começou por referir em entrevista a O SETUBALENSE.

O atleta iniciou o seu percurso ao serviço do Amora, onde conquistou 27 medalhas, e cresceu bastante como atleta, chamando a atenção do Benfica, que não quis perder a oportunidade de poder contar com o jovem talento. Apesar de ter alcançado o emblema encarnado, Pedro Casinha considera que a chegada a este emblema não foi fácil. “Tenho

Pedro Casinha à queima-roupa

Idade 19 anos

Naturalidade Azeitão

Modalidade Canoagem

Um “jovem normal” que quer alcançar o top mundial na modalidade

que admitir que não foi um percurso fácil. Em 2019 consegui a minha primeira medalha internacional (medalha de prata em K1 200metros) nas Esperanças Olímpicas, que é uma competição para jovens até aos 17 anos. O ano seguinte devido à pandemia não foi um ano fácil pois além de termos condições de treino mais difíceis, foram também canceladas todas as provas internacionais. No ano seguinte, 2021, participei como Júnior no Europeu em que consegui a prata também em K1-200metros e em Setembro sagrei-me Campeão Mundial de Juniores na mesma distância”, revelou.

Com as várias conquistas chegou finalmente a possibilidade de entrar num grande clube e o atleta sentiu que estava perto de concretizar o seu sonho. “O Benfica, após o Mundial,

falou comigo sobre a possibilidade de integrar a equipa de Canoagem Olímpica do clube. Para mim era um sonho pertencer ao Benfica, numa equipa com tantas estrelas mundiais que eu apenas via nas provas ou na televisão”, confessou. O momento da chegada ao emblema encarnado coincidiu com a subida ao escalão superior, o que levou o atleta a competir em provas de maior dificuldade. “Assinei pelo Benfica no início deste ano, que coincidiu com a minha passagem para Sénior/Sub-23. Foi neste escalão que já participei na Taça do Mundo com o quarto lugar e no fim de Junho no Campeonato da Europa de Sub-23 em que consegui a medalha de Bronze em K1-200 Metros”.

Apesar de já ter alcançado grandes palcos e concretizado um sonho, o atleta considera que ainda tem bas-

tante para aprender, garantindo que precisa de trabalhar mais para poder alcançar o nível dos seus colegas de equipa. “Sinto que ainda tenho muito para aprender, partilhar treinos e provas com atletas e treinadores de topo mundial é algo indescritível, trabalham todos os dias no limite para serem os melhores e são um grande exemplo para os mais jovens como eu que começam agora nos Seniores”.

Quem é o Pedro Casinha para lá do canoísta?

O atleta pode ter uma grande carreira com a sua tenra idade, mas o próprio garante que isso não o torna diferente de ninguém, sendo apenas mais um “jovem normal”. “Estou no primeiro ano de Engenharia Biomédica na Universidade Nova de Lisboa. Nos tempos livres, que são poucos,

gosto de estar com os meus amigos, com a minha família e com a minha namorada. Neste momento acabo por ter pouco tempo para os meus Hobbies, mas sempre que posso vou ao cinema”.

Pedro Casinha explica que a sua profissionalização na modalidade lhe trouxe uma motivação adicional ao seu dia a dia, despertando a vontade de alcançar o nível dos atletas top mundial. “O facto de ser profissional despertou em mim uma motivação adicional. Trabalho para puder estar no meu melhor e puder chegar ao nível dos atletas top mundial. Claro que devo isto em grande parte ao meu clube, o Benfica, por me apoiar e ajudar a que eu cumpra os meus objectivos e sonhos”, referiu.

Ser um jovem atleta de alto rendimento e conjugar os treinos com os estudos não parece ser tarefa fácil, mas Pedro Casinha explica como funciona a sua rotina diária. “Passo bastante tempo em estágio na Selecção Nacional, duas a três semanas por mês são passadas no Centro de Alto Rendimento em Montemor-o-Velho. Quando estou por casa a rotina normal passa por treinar de madrugada (6 da manhã), ir até universidade para as aulas e depois treinar de tarde novamente até às 21h. Descanso normalmente 1 dia por semana e tenho mais 2 tardes de folga”. Em dias de prova a sua rotina altera-se uma vez que tudo aquilo que faz tem de ser gerido conforme o horário das competições. “No dia de prova temos de ir gerindo o mesmo conforme o horário das nossas provas, normalmente num fim de semana de prova tenho seis a oito regatas por isso tenho de gerir o desgaste das regatas para tentar não chegar às finais muito desgastado”, explica.

Como qualquer atleta de alto rendimento, Pedro Casinha tem muita confiança em si mesmo, o que lhe ajuda na sua motivação. “Acredito que qualquer atleta, seja a que nível for, tem sempre uma grande motivação para melhor e eu não fui diferente, no entanto acredito que tanto a minha confiança, não só no meu trabalho como em mim mesmo, como a minha motivação tem acompanhado o meu percurso como canoísta e atleta de alta competição”.

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Formado no Amora, Pedro Casinha assinou pelo Benfica no inicio deste ano DR Tiago Jesus
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Desporto

O campeão em triplo-salto que ‘voou’ de Setúbal para o Ouro Olímpico

Aos 29 anos, o atleta luso-cubano já bateu recordes nacionais no atletismo e promete fazer parte da história do desporto português

Em 2021, Pedro Pablo Pichardo ficou na história do atletismo português como o dono do maior salto nacional ao ar livre. Após “voar” 17,98 metros no triplo salto, alcançou, aos 28 anos, o ouro olímpico nos Jogos de Verão de 2020, em Tóquio.

Ainda nesse ano, o atleta do Sport Lisboa e Benfica já tinha sido congratulado com a Medalha de Honra da cidade, na categoria de desporto, pelo desempenho desportivo e divulgação da cidade. O reconhecimento veio posteriormente à conquista do título de Campeão Europeu no Triplo Salto em Pista Coberta, na Polónia.

À época, o desportista preparava-se para bater recordes no Campeonato Mundial em Pista Coberta, em Belgrado, mas foi a janeiro deste ano, nas Conferências do Forte, em Setúbal, que o atleta luso-cubano revelou o seu grande objetivo: ultrapassar a marca mundial de 18,29 metros, alcançada por Jonathan Edwards há quase 30 anos.

A competição ocorreu entre os dias 18 e 20 de março e, apesar do objetivo não concretizado, Pedro Pichardo triunfou como vice-campeão mundial, onde bateu, por duas vezes, o recorde nacional da modalidade.

Com os dois primeiros saltos de 17,42 e 17,46 metros, o campeão olímpico superou os 17,40 metros de Nelson Évora, obtidos no ano de 2018.

No mundial decorrido em Belgrado, Pedro Pichardo registou ainda um salto nulo e um outro abaixo dos 15 metros, prescindindo depois dos últimos dois ensaios por dificuldades físicas. O atleta explicou os motivos logo após a prova. “Já havia sentido no aquecimento uma coisinha, mas decidi competir. Nos dois primeiros saltos ainda deu para os fechar, sentindo algum desconforto, mas ao quarto ensaio senti que era mais

forte. Falei com o meu treinador e decidimos parar por ali.”, explicou.

“Acolhido pelas pessoas” foi como Pedro Pablo Pichardo disse que se sentiu ao chegar à cidade de Setúbal após os Jogos Olímpicos no Japão, no ano passado. Como resposta a este carinho, admite querer fazer parte da história do desporto português e ser o atleta mais medalhado de sempre.

De origem cubana, mas residente no Pinhal Novo, Pedro Pichardo foi naturalizado português em 2017 e, desde então, tem feito toda a sua preparação no Complexo Municipal de Setúbal com o seu treinador e pai, Jorge Pichardo: “[O complexo] tem todas as condições”, afirma. Na fase atual, em que se prepara para a competição, o treino do atleta dura cerca de cinco horas, apenas

com um dia de descanso passivo, o domingo, e um dia de descanso ativo, a quarta-feira. Nos restantes dias, Pedro Pichardo treina rampa à segunda-feira, em Lisboa, faz trabalho técnico no ginásio à terça e à quinta, deixando o trabalho de rampa e de arrasto reservado para o dia de sexta-feira. Na conferência dada no início do ano, no Forte de Albarquel, o vice-campeão mundial

reconheceu também o trabalho do pai durante a época como treinador e psicólogo, que o incentiva sempre a superar-se, colocando-lhe metas: “bem complicadas para mim, ou para qualquer atleta”, admite.

Foi ainda nas Conferências do Forte que mencionou algumas das dificuldades que sente na modalidade. Em comparação ao futebol, “no atletismo, para sobressair, é muito complicado” e, para ele, são os políticos quem deviam dar mais apoio aos atletas: “Há muita pista sem condições, há muito ginásio em que não há máquinas.”, concluindo que, se o cenário fosse diferente, “teríamos mais Pichardo e mais Rosa Mota”.

No início do ano, O SETUBALENSE reconheceu Pedro Pichardo como a figura do ano de 2021 na categoria de desporto. Em entrevistas anteriores, o atleta já tinha afirmado que era na cidade de Setúbal que se sentia em casa e expressou o seu desejo de ver construído um Centro de Alto Rendimento de Atletismo, projeto esse que já se encontra entre os planos da autarquia sadina.

No mês passado, o desportista terminou em terceiro lugar a prova de triplo salto da Liga de Diamante, em Paris. Pela frente, o atleta tem ainda este ano o Campeonato Mundial de Atletismo ao ar livre, nos Estados Unidos e os Campeonatos da Europa de Atletismo, em Berlim, onde garante que irá fazer o seu melhor e cumprir com o que o treinador lhe diz: “ganhar.”

Pedro Pichardo à queima-roupa

Idade: 29 anos

Naturalidade: Cuba

Residência: Pinhal Novo, Palmela Modalidade: Atletismo, TriploSalto

Campeão olímpico e vicecampeão mundial em pista coberta, o jovem pretende ser o atleta mais medalhado de sempre em Portugal

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Este ano, Pichardo tem ainda o Campeonato Mundial de Atletismo ao ar livre e os Campeonatos da Europa de Atletismo DR

O corredor de Palmela campeão nacional de contra-relógio

Ciclista quebra a maldição e chega ao lugar mais alto do pódio em Portugal e no estrangeiro

O “gigante” de Palmela (1,90 metros), Rafael Reis, já tinha terminado por três vezes no pódio. Conseguiu chegar pela primeira vez ao triunfo na elite masculina da especialidade do contra-relógio. Em grande forma, o ciclista arrebatou de forma concludente, poucos dias depois, o ouro para Portugal, na mesma especialidade, dos Jogos do Mediterrâneo, que decorreram em Oran, Argélia.

O atleta da Glassdrive-Q8-Anicolor sagrou-se campeão português de contra-relógio, nos Nacionais de ciclismo de estrada, que decorreram este ano em Mogadouro, Bragança, batendo Ivo Oliveira e João Almeida, dupla da UAE Emirates.

"Sinceramente, não estava à espera desta vitória. Tive covid-19 há três semanas. Tinha muita instabilidade nos treinos. Houve dias mais e outros mais ou menos. Depois de quarta-feira, as coisas começaram a sair melhor. Na quinta-feira, vi o percurso e, sendo um percurso que me favorecia, foi gerido da melhor maneira e consegui a vitória", confessou no final, após a consagração.

Poucos dias depois, novo momento alto. Desta vez fora de portas, na Argélia, no decorrer do Jogos do Mediterrâneo Oran 2022. O ciclista palmelense conquistou a medalha de ouro do contra-relógio individual.

No esforço de 25 quilómetros, o campeão nacional da especialidade registou um tempo de 31,28 minutos, à frente do francês Enzo Paleni, segundo, a 50 segundos, e do sérvio Ognjen Ilic, terceiro, a 51. O outro português em prova, Fábio Fernandes, foi 11.º, com um tempo de 34,26.

"Estou bastante contente. Fiquei um pouco nervoso, vi a lista de participantes e esperava um bom resultado, o que para mim era vencer este contra-relógio, mas fica-se sempre

nervoso, e com a responsabilidade acrescida de ser campeão nacional e representar a selecção. É muito bom conseguir esta primeira medalha de ouro", declarou aos jornalistas, depois de confirmado o triunfo.

Rafael Reis, 29 anos, é um dos melhores contra-relogistas portu-

Rafael Reis à queima-roupa

Idade: 29 anos

Naturalidade: Palmela Residência: Palmela

Modalidade: Ciclismo

Satisfeito com aquilo que é e com o que pode dar no ciclismo

gueses, mas com capacidade para lutar por vitórias em determinados terrenos. Não é trepador, mas é o chamado ‘puncheur’, ciclista especializado em terrenos planos com subidas curtas, mas íngremes, capaz de ataques mortíferos a alguma distância da meta.

Os ‘puncheurs’ são relativamente bem constituídos, com ombros mais largos e pernas maiores do que o ciclista de corrida médio.

Depois de despontar na W52-FC Porto, Rafael Reis deu o salto para o estrangeiro, naquela que foi a sua segunda experiência lá fora. Desta feita na Caja Rural, equipa espanhola do segundo escalão e com grande prestígio. Chegou a estar na Vuelta, mas regressaria, decorridos dois

anos, à sua antiga formação, passando depois pelo Feirense.

Na carreira do jovem ciclista, o ano de 2021 ficará também para sempre na memória. A Volta a Portugal que Rafael Reis realizou foi memorável, com quatro vitórias em etapas, vários dias de camisola amarela e a conquista da camisola verde dos pontos.

Durante aquelas dez etapas e um prólogo, houve muita felicidade na então Efapel, pois também Frederico Figueiredo e Maurício Moreira triunfaram. Muitos dos melhores momentos foram de um imparável Rafael Reis.

Foi imbatível no prólogo e, no segundo dia, a correr em casa, em estradas que tão bem conhece, tinha o plano bem delineado. Uma descida

louca na Arrábida valeu-lhe uma espectacular vitória em Setúbal.

Porém, se esses dois dias terminaram exactamente como tinha previsto, o que se seguiu foi sendo delineado durante a corrida. O corredor recordou a sétima etapa, entre Felgueiras e Bragança, que acabou por vencer e vestir novamente a camisola amarela.

“Terminar a descer em Bragança, foi um plano. Ir para a fuga e fazer aquilo comigo e com o Luís Mendonça. A etapa era para ser para o Mendonça. Mas não podíamos esperar, estavam os perseguidores a 10 ou 15 segundos. Não podíamos parar. Foi uma decisão que tomámos em cinco segundos. Não dava, ele também teve azar, acaba por furar”, confessou na altura Rafael Reis.

O ciclista de Palmela tem agora 19 vitórias como profi ssional, três gerais em corridas por etapas, Volta à Bairrada e o Grande Prémio JN, ambos em 2016 e GP O Jogo 2022.

A carreira, ao mais alto nível, passou por algumas das melhores equipas do pelotão nacional como a W52-Porto, Efapel, Feirense, Tavira, Banco BIC-Carmin e no presente a Glassdrive-Q8-Anicolor. No estrangeiro correu, até agora, com as cores da Caja Rural – Seguros RGA e Cerâmica Flaminia-Frondiest.

Depois das fortes emoções vividas nos últimos meses, ao site especializado on-line GoRide.pt, Rafael Reis afi rmou que o essencial é estar focado no presente e não hesita em apontar a motivação como a principal mudança quando assinou pela actual equipa, a Glassdrive-Q8-Anicolor. “A motivação foi o mais importante que conquistei no ano passado. A equipa deu-me a confiança necessária e as pessoas acreditam em mim. Acho que os resultados vêm daí”.

Com contrato até 2024, Rafael Reis nem coloca muitos objectivos pessoais específicos. Nem mesmo repetir a fabulosa Volta a Portugal de 2021. O que quer é estar ao mesmo nível: “Tive um Inverno consistente, se bem que sofri uma lesão no joelho, mas estou bem preparado e acho que, mais cedo ou mais tarde, vou conseguir começar a apresentar resultados. Acho que vou estar bem durante o ano”.

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Com a nova equipa (Glassdrive-Q8-Anicolor), a que chegou em 2021, Rafael recuperou a motivação Luís Bandadas DR

Desporto

A campeã nacional focada no campeonato da Europa e nos Jogos Olímpicos

Nadadora do Naval Setubalense integra a Selecção Nacional e treina para brilhar cada vez mais sempre que entra na piscina

O desporto sempre foi uma paixão de Rita Machita Santos, uma jovem de 14 anos que desde cedo entrou nesse mundo. Fez triatlo e natação em simultâneo, mas, ao perceber que não conseguia conciliar as duas áreas, teve de fazer uma escolha. O gosto pela natação falou mais alto e, actualmente, é no Clube Naval Setubalense que a atleta dá tudo no meio aquático. Desde os 11 anos que se entrega ao desporto que considera interessante e que tanto gosto lhe dá praticar, sendo que Rita chega a dizer que “alivia-me um bocado a mente”. Apesar da sensação positiva, a jovem nadadora confessa que já foi necessário fazer uma

pausa devido à dificuldade em manter a conciliação entre a vida desportiva e a vida pessoal e escolar.

“Não é fácil. A natação ocupa bastante tempo de estudo e aos fins de semana tenho de abdicar um pouco da vida social para poder estudar, assim consigo conciliar as duas coisas”. Contudo, os resultados e o apoio dos pais falaram mais alto e Rita voltou a fazer o que lhe dá alegria e oportunidade de mostrar as suas capacidades.

A caminhada é exigente e desgastante, existindo momentos mais negativos que desmotivam um pouco, mas é feito todo um trabalho psicológico incentivador. A atleta revela que começa “por rever as provas que correram bem”, tentando também “alterar a técnica, fazer o que eu consigo para na altura nadar melhor e fazer tempos melhores”.

Com uma passagem rápida para o mundo competitivo, a desportista considera ter tido uma fácil adaptação à nova realidade. São precisamente as competições que colocam um sorriso

no rosto de Rita, principalmente quando alcança vitórias. Contudo, admite que nem sempre confia nas suas capacidades “tanto em competições como em treinos”, tendo “receio de ir lá [às competições] e não fazer nada”. Confessa ainda que “é estranho pensar que conquistei títulos”.

A escalada da competição Com apenas 14 anos, sagrou-se

Rita Santos à queima-roupa

Idade 14 anos

Naturalidade Setúbal Residência Setúbal Área Natação

Por vezes, ainda desconfia das suas capacidades, mas as vitórias colocam-lhe um sorriso no rosto e dão motivação para mais

Campeã Nacional, em Coimbra, nos 200m e 400m Estilos e 200m Bruços, Campeã Nacional nas estafetas de 4x100m Estilos e 4x200m Livres e Vice-Campeã Nacional na estafeta de 4x100 Livres. Tem já um caminho cheio de sucesso, mas ambiciona muito mais.

Tem grandes planos para o futuro, ainda que esteja mentalizada que tudo tem o seu tempo e que não deve apressar nada. Além de desejar que o Festival Olímpico da Juventude Europeia, no qual vai participar no Verão, corra bem, pretende conseguir tempos mínimos para o Campeonato da Europa de Juniores e, ainda, ir aos próximos Jogos Olímpicos.

Para alcançar todas as metas desejadas e ser melhor a cada dia que passa, Rita trabalha arduamente e luta contra todas as dificuldades que possam existir. A jovem nadadora revela que “eu já não tenho muita força a comparar com outras pessoas, se a técnica não está bem então ‘vai tudo por água abaixo’”.

A força de vontade ganha asas e fe-

licidade foi que a atleta sentiu quando, em Janeiro deste ano, surgiu o convite para integrar a Seleção Nacional. Rita focou-se nos treinos e tentou sempre dar o seu melhor, pensado que “é agora que eu tenho de brilhar, é agora que eu tenho de estar mesmo bem”.

Mais cedo ou mais tarde, o esforço e os resultados são recompensados e Rita já teve a prova disso quando foi convocada para o Estágio em Rio Maior, em Fevereiro deste ano, por cumprir os critérios do Plano de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de Natação. Passando por uma “experiência diferente”, a atleta confessa que “a nível da mentalidade, o meu pensamento melhorou”.

O sucesso não seria possível sem a existência de uma base forte de motivação e apoio na caminhada competitiva de Rita. O pai é a pessoa que mais a ajuda, fazendo-o desde o primeiro segundo, e é uma das pessoas a quem a filha está eternamente grata e por quem deixa o seu lado emocional ganhar vida.

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RITA MACHITA SANTOS Aos 14 anos de idade, a jovem setubalense tem já vários títulos de campeã nacional. Integra o Plano de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de Natação
DR
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O ‘cowboy de Pegões’ que nunca desiste

Desistir é uma palavra que não consta no vocabulário de um dos melhores ciclistas portugueses da actualidade, natural do Montijo

do Mont Ventoux Dénivelé Challenge, um sonhou apenas ao alcance dos predestinados.

De acordo com o Le Dauphiné, Guerreiro conseguiu a quarta subida mais rápida ao mítico Mont Ventoux desde o início do século, à frente de nomes de peso como Alberto Contador, Chris Froome ou Tadej Pogacar. De 2004 para cá, só mesmo o espanhol Miguel Ángel López conseguiu um tempo melhor.

ritmo. O Esteban também estava atrás de mim, o que nos dava muita tranquilidade, e, por isso, fui subindo aqueles quilómetros todos, com muito sofrimento e no final todo esse esforço foi compensado”.

do estava a caminho do hotel é que me lembrei dos momentos em que precisei de pensar que um dia tudo iria valer a pena.”. Aquele foi esse dia, diria no final Ruben Guerreiro.

uma carreira que, aos 27 anos, ainda tem espaço e tempo para acomodar mais momentos para o Ruben em particular e para o ciclismo português em geral.

Este ano estreou-se no Tour de France depois de já ter participado na Vuelta (2019) com um 17º final. No Giro de Itália conta também com uma participação, em 2020, tendo terminado no 33º lugar, conquistado uma etapa e consagrado como o Rei da montanha.

Actualmente na equipa EF Pro Cycling, Rúben Guerreiro é um jovem atleta do distrito de Setúbal, residente em Santo Isidro de Pegões, que tem vindo a conquistar o seu espaço na elite do ciclismo internacional. O seu percurso iniciou-se no BTT, aos oito ou nove anos. Depois, aos 16, ingressou na primeira equipa de ciclismo de estrada, começou a ter bons resultados e, a partir dai, foi sempre a escalar a montanha.

Saiu de Portugal em 2014, com 20 anos. Nesse ano tinha tido bons resultados: Ganhou a Volta a Portugal do Futuro e na Volta a França do Futuro conseguia sempre acompanhar os melhores na montanha. Classificou-se entre os 15 primeiros, quando ainda era muito novo. Depois, chegou a uma equipa norte-americana Axeon Cycling Team, que é a melhor equipa sub-23 do mundo. E a partir daí, foi competir muito e chegar ao patamar de excelência onde se encontra actualmente.

Ruben Guerreiro tem feito o seu percurso profissional no estrangeiro e cedo o seu valor começou a ser reconhecido.

Um dos últimos exemplos da sua tenacidade e resiliência em cima da bicicleta revelou-se na segunda etapa da Volta a França de 2022. O corredor português foi envolvido numa queda, ficou com o lado esquerdo do corpo "sem pele", mas continuou em prova. Ruben Guerreiro, 27 anos, natural do Montijo, é um ciclista trepador nato e conseguiu, para já, o seu momento de maior glória em 2022 que é também o seu maior feito no trajecto como ciclista profissional, a conquista

No final de tremendo êxito, Ruben Guerreiro, confessou aos jornalistas que tinha boas sensações para este Challenge no Mont Ventoux. “Quando acordei de manhã fiquei surpreendido. O Dauphiné (prova disputada dias antes) é uma corrida tão dura, é difícil recuperar assim tão rápido.

Vi que podia ter o meu dia e tentei comunicar isso à equipa. O Esteban Chavez (colega de equipa) também estava muito bem e controlámos a corrida. No início da subida, senti-me muito bem, ataquei, sempre com a confiança que podia manter aquele

A este feito, o ciclista montijense, junta a conquista classificação geral final do Prémio da Montanha da Volta à Itália 2020, envergando a Camisola Azul, símbolo de um triunfo inédito na história do ciclismo português e uma vitória de etapa nessa edição do Giro. “Só acreditei mesmo que ia ganhar quando eu ataquei e o Castroviejo ficou sentado na bicicleta, nos últimos 100 ou 150 metros. Aí percebi que ia chegar primeiro e nem olhei para trás. É difícil pensar em alguma coisa. Tentei perceber onde estava e o que tinha acontecido. Até perguntei ao massagista que me estava a acompanhar se aquilo era mesmo verdade. Porque nem acreditava. Depois, como o dia estava tão mau, as ideias congelaram completamente. Só mais tarde, depois da conferência, quan-

Da Trek Segafredo à EF Pro Cycling, uma vida como emigrante Este é mais um momento de glória de

Ruben Guerreiro à queima-roupa

Idade: 27 anos

Naturalidade: Montijo

Residência: Stº Isidro de Pegões

Modalidade: Ciclismo

O ciclista, a quem os amigos tratam por cowboy, por ter sido sempre irrequieto e enérgico, garante que a alcunha já pegou no pelotão internacional

A porta de entrada deu-se pela norte-americana Axeon Cycling Team. Seguiu-se a Trek-Segafredo, para as temporadas de 2017 e 2018. Durante este período, é, sobretudo, Campeão de Portugal em estrada, em 2017, e classifica-se como quinto da Bretagne Classic, em Agosto de 2018, após ter tomado o sexto posto no ano precedente.

Apanha a equipa Katusha-Alpecin para a temporada de 2019, com um contrato de um ano. Desde Janeiro, é oitavo do Tour Down Under. Em Agosto, participa na Volta a Espanha. Para a sua primeira grande volta, distingue-se terminando 17.º do geral, após ter obtido o segundo lugar na etapa no Santuário do Acebo e quarto na etapa que leva a Igualada.

Em 2020, após o final da equipa Katusha, apanha a equipa EF Pro Cycling. Em Agosto, é seleccionado para representar Portugal no Campeonato Europeu de Ciclismo em Estrada, em Plouay, no Morbihan. Classifica-se em 41.º na prova de ciclismo em linha.

144 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
Desporto
O ciclista, natural de Santo Isidro de Pegões, tem vindo a conquistar o seu espaço na elite do ciclismo internacional
DR
Luís Bandadas

RITA MALÓ

“A patinagem artística ensina-me bastante, sobretudo a trabalhar em equipa”

A jovem do Barreiro iniciou-se enquanto patinadora aos sete anos e em 2021 participou na Taça da Europa, pela equipa do Juventude Azeitonense

Nasceu e cresceu no Barreiro e rumou a Vila Nogueira de Azeitão, em 2020, para ser parte da equipa de patinagem artística do Juventude Azeitonense. Rita Maló tem 17 anos e no próximo ano lectivo completará o 12.º ano de escolaridade no Curso de Ciências e Tecnologias na Escola Alfredo da Silva, no Barreiro. Sobre o caminho a seguir depois, confessa estar ainda indecisa entre duas áreas, engenharia química e medicina veterinária.

“Faço patinagem desde muito cedo, desde os meus sete anos. Sempre vi patins na minha vida, o meu irmão pratica hóquei em patins e depois de um jogo dele vi patinagem e decidi que queria experimentar. A partir daí não parei mais”, começa por dizer. “Estive no Fabril, no Barreiro, e em 2020 vim para Azeitão. O nosso treinador, Pedro Mourinho Guerreiro, estava nos dois sítios, decidiu ficar apenas em Azeitão e viemos com ele. A experiência tem sido muito boa, ainda que um bocadinho diferente por não ser tão perto de casa”, adianta.

No que diz respeito à competição, já participou em diversas provas: “começou tudo pelo Campeonato Distrital, seguiu-se o Nacional e depois fui chamada para a Taça da Europa. Este mês, entre os dias 11 e 13, estive no primeiro centro de treino para o Campeonato da Europa da Selecção Nacional de Patinagem Artística, no Luso”, conta. “Nestes momentos vive-se muitos nervos. Tenho reparado que ultimamente tenho ficado mais bem classificada e isso deixa-me satisfeita e com vontade de conseguir ainda mais e melhores resultados”, adianta.

Rita Maló participou na Taça da Europa, na especialidade de Patina-

gem Livre, entre Outubro e Novembro de 2021, em Paredes, momento que destaca como “o mais marcante. Fiquei em segundo lugar no programa curto. Nesta hierarquia, depois da Taça da Europa vem o campeonato da

Europa, a realizar-se em Setembro de 2022, no qual ainda não sei se marcarei presença”.

No Campeonato Nacional de 2021, ficou em quarto lugar e participou igualmente no Campeonato

Nacional deste ano, realizado a 24 e 25 de Julho. “Para participarmos no campeonato nacional temos de fazer provas de acesso, nacionais também, e temos de alcançar um certo nível. Na patinagem são atribuídos pontos e

Rita Maló à queima-roupa

Idade 17 anos

Naturalidade Barreiro

Residência Barreiro Modalidade Patinagem Artística Sobre o seu percurso profissional, diz estar dividida entre a engenharia química e a medicina veterinária

temos de chegar àqueles objectivos”, explica, para depois acrescentar que “se formos os 30 melhores com esses pontos passamos para o nacional, onde temos duas provas, o programa curto e o programa longo. Nas provas da Europa, é a Selecção Nacional que escolhe a partir dos centros de treinos”.

No futuro quer manter a ligação à modalidade enquanto treinadora Para a jovem, “a patinagem serve para não ter a cabeça apenas na escola. Não quero estar sempre a pensar nos estudos, quero ter a cabeça mais livre e também ter outras coisas para aprender. Praticar esta modalidade significa também isso. Ensina-me bastantes coisas, sobretudo porque não faço apenas patinagem a solo, faço também em grupo”. Esta experiência ensina-a, assim, “a trabalhar em equipa, uma das coisas que considero necessárias para o trabalho e para a vida no geral”.

Quando questionada sobre outros interesses que ocupam os seus dias, Rita responde que “com a patinagem, temos também a parte da dança. Tenho esse interesse, gosto muito de dançar todos os tipos, desde o contemporâneo ao hip-hop. À parte isso, é complicado ter tempo para fazer outras coisas”.

No que diz respeito a planos para o futuro, estes passam pelo ensino da modalidade, pela transmissão dos seus conhecimentos a outros. “Estou a pensar manter a patinagem como um trabalho, a dar treinos, enquanto estou na universidade. Claro que vou tentar continuar a patinar, mas é um bocado complicado, faculdade é outro nível”, refere.

29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 145
Entre 16 e 22 de Maio, Rita esteve em Trieste, Itália, a participar numa semifinal para a Copa do Mundo Inês Antunes Malta DR

Desporto

Micael Santos nasceu em Lisboa, mas foi no Barreiro que cresceu e vive até agora. Com apenas 14 anos, faz patinagem artística no Juventude Azeitonense, clube de Vila Nogueira de Azeitão, e qualificou-se recentemente para ir à Taça do Mundo da modalidade, a ter lugar em Agosto, entre os dias 8 e 13, Göttingen, na Alemanha.

“Comecei a patinagem aos oito anos. Desde sempre gostei muito de ver, considerava um desporto muito difícil porque conjuga muita técnica e arte. Junta-se tudo e fica um desporto muito bonito, que as pessoas pensam que é um desporto fácil até, mas é muito complicado”, partilha. “Para além disto, a minha mãe também gosta de ver desde sempre e por isso decidiu pôr-me na patinagem. Comecei no Fabril, no Barreiro, e em 2020, como o meu treinador, Pedro Mourinho Guerreiro, estava nos dois e decidiu ficar em Azeitão, vim com ele”, adianta.

Em Vila Nogueira de Azeitão, a experiência tem sido, de acordo com o jovem, “engraçada. As pessoas são muito simpáticas e, apesar da diferença no ringue, que no Barreiro era madeira e em Azeitão não, é basicamente a mesma coisa, visto que temos o mesmo treinador e são as mesmas técnicas, factores que também tornaram a adaptação mais simples”.

No que diz respeito ao trabalho que tem vindo a fazer e a provas em que tem vindo a participar, começou no Torneio de Benjamins, o seu escalão de então, com apenas oito anos. Nesse primeiro torneio alcançou o terceiro lugar. Os bons resultados estavam, nesse momento, a começar.

Micael Santos à queima-roupa

e 13, esteve enquanto atleta do Juventude Azeitonense no primeiro centro de treino para o Campeonato da Europa da Selecção Nacional de Patinagem Artística, no Luso.

Participar na modalidade dá possibilidade de experienciar “momentos incríveis”

Terminou recentemente o seu nono ano e ao longo do seu percurso escolar tem vindo a ser um aluno de mérito. No próximo ano lectivo, inicia o seu décimo ano, no qual ingressará no curso de Ciências e Tecnologias, rumo a um futuro em medicina. “Mesmo ainda não sabendo que área escolher em específico, sei que quero seguir medicina”, afirma.

Com apenas 14 anos, o atleta do Juventude Azeitonense apurou-se recentemente para a Taça do Mundo de Patinagem Artística, a ter lugar entre 8 e 13 de Agosto em Göttingen, na Alemanha

Michael Santos marcou presença no Campeonato Distrital pela primeira vez em 2017, ano em que também se estreou no Campeonato Nacional, com um quinto lugar. A partir desse ano, participou em todos os nacionais. Em 2018, ano em que também foi convocado para a Taça da Europa, ficou em terceiro, no ano seguinte em quinto e em 2021 chegou ao quarto lugar. “Foi muito perto do pódio e este ano vou tentar de novo chegar lá, ir para o pódio”, diz. “Nestes anos tive também experiências em centros de estágio, para quais fui convocado pela Selecção Nacional de Patinagem Artística e este ano participei na WorldCup, uma prova em que escolhem os seus melhores jovens de cada escalão para participar, realizada em Paredes”, adianta, destacando igualmente que neste mês de Maio sagrou-se campeão no Campeonato Distrital de Patinagem Livre no escalão Cadetes e neste mês de Julho, no Torneio Interzonas, realizado na Aldeia de Paio Pires, conquistou o primeiro lugar de Cadetes Masculinos.

Ainda este mês, entre os dias 11

Experienciar a patinagem é, no seu entender, “muito importante. Traz-nos experiências novas, pessoas novas. Normalmente as provas internacionais são noutros países, por vezes calha em Portugal, mas mesmo assim vêm pessoas de outros países e conseguimos comunicar com elas. Há experiências muito engraçadas e é muito saudável para jovens da nossa idade a possibilidade de experienciar momentos incríveis”.

A nível pessoal, “são experiências muito benéficas para a minha cabeça. São muitos estudos e a patinagem é como se fosse um alívio de tudo. Entro no ringue e começar a patinar é como se fosse um alívio de tudo, parece que tudo o resto desaparece e fica tudo bem. Acho que isso é muito bom”.

No que diz respeito à ocupação de tempos livres, “a patinagem parece que é o mais importante e depois não tenho tempo para outras coisas, mas vou arranjando porque também gosto de sair com os meus amigos e de fazer todas essas coisas mais normais de um jovem com a minha idade”.

Continuar a participar em provas internacionais de patinagem é assim um dos seus objectivos futuros, tendo que presente que na hora de ingressar na universidade “vai ser algo complicado manter, sobretudo na conciliação de horários e estudos” e por isso não deixando de parte a hipótese de “talvez prosseguir como treinador da modalidade

meus tempos livres”.

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Inês Antunes Malta
nos Idade 14 anos Naturalidade Lisboa Residência Barreiro Modalidade Patinagem artística A patinagem é o principal hobby do jovem, que sabe desde já que no futuro pretende seguir medicina
“Entrar
ringue
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alívio” MICAEL SANTOS
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Empreendedorismo

A quebra-barreiras que traz Moçambique à região através da roupa e acessórios

em capulanas que diz sentir-se feliz, ao mesmo tempo que se sente orgulhosa de estar a divulgar a bonita história do tecido utilizado pelas mulheres africanas

O negócio de Andreia Fortuna, a viver há cerca de quatro anos na Moita, surgiu quase que “por brincadeira”, depois de o namorado a ter apresentado ‘ao mundo’ das capulanas.

Formada em Coordenação e Produção de Moda e em Design Gráfico, ambos cursos profissionais, e depois de diversas experiências profissionais que levaram a que se sentisse “descontente” com a sua situação profissional, a jovem de 27 anos diz ter-se apaixonado pelo tecido utilizado pelas mulheres em África.

Em 2018, a história de amor de um casal com ligações a Portugal e Moçambique deu origem à ‘Mwani Store’. “Vi que havia aqui uma grande oportunidade de valorizar e transformar a capulana no nosso país. Os dois países sempre estiveram unidos de tantas formas que não nos podemos ficar só pelas partes más”, explica.

Demorou apenas um mês a transformar “a ideia numa marca real”, apesar de, numa fase inicial, o processo ter decorrido “de forma muito lenta”. “O projecto nasceu muito rapidamente e fui eu que fiz tudo, mas, apesar de saber costurar, é preciso técnica e como não sabia fazer tudo teve de acontecer lentamente”.

Os primeiros artigos, de decoração para casa, como “individuais, almofadas e guardanapos”, Andreia Fortuna mostrou apenas à família e amigos.

“Eles gostavam e eu fui continuando, porque é algo que não está a ser muito desenvolvido aqui, não com um conceito descentralizado, visto

numa perspectiva de como nós nos vestimos na Europa”.

Mwani é praia e cores que representam os tecidos africanos Já o nome da marca foi escolhido com a ajuda do namorado, auditor de profissão. “Pedi-lhe para escolher algo com ligação à família e que fosse sonante. Chegámos à conclusão de que Mwani era o nome perfeito pois significa praia, que representa as cores, cores estas que representam os tecidos africanos. Ao mesmo tempo, Mwani é uma língua falada no norte de Moçambique, em Cabo Delgado, de onde é originária a família dele”.

O passo seguinte passou pela criação de um logotipo, necessário para o negócio começar a estar presente em feiras. “Para tal, tínhamos de ter uma presença gráfica. Começámos assim em termos de exposição porque, não tendo muito capital de investimento, tivemos de divulgar e apresentar o produto fisicamente para as pessoas nos conhecerem”.

Depois de notar que “na Moita não havia muito local onde divulgar

o projecto”, Andreia decidiu apostar no concelho de Palmela. No entanto, na primeira experiência com o público, apenas conseguiu “fazer cinco euros numa semana”.

“É um valor muito ridículo. Qualquer pessoa desistiria, mas é normal. Ninguém nos conhecia e também é um meio pequeno”, considera. Foi este o impulso que diz ter tido para “trabalhar mais na parte da imagem e na parte do on-line”. “Criei um site e todas as redes sociais do projecto”, acrescenta. Hoje faz questão de “investir muito em andar de Norte a Sul do País, para comunicar directamente com as pessoas”.

2022 tem sido o ano das grandes mudanças

Natural de Lisboa, a jovem de 27 anos chegou a fazer a roupa utilizada em várias telenovelas portuguesas e a vestir os intervenientes de um canal de televisão. Quando o projecto nasceu, trabalhava em simultâneo “numa loja e ia conjugando as coisas”. Não sabia a empreendedora que 2022 seria um ano de grandes mudanças.

“No início deste ano fui para a Incubadora de Empresas do Município de Palmela, que é onde tenho o meu atelier, deixei o meu trabalho para me dedicar a 100% à marca e consegui alavancar mais o negócio, o que me tem feito ter um volume de facturação maior com consistência para continuar”.

Em jeito de retrospectiva, apercebe-se que “foram necessários três anos e duas mil peças para o projecto

Andreia Fortuna à queima-roupa

Idade 27 anos

Naturalidade Lisboa Residência Moita Área Coordenação e Produção de Moda e Design Gráfico Através das capulanas, o que a move é a ambição de enriquecer a ligação entre Portugal e Moçambique

realmente ter ‘pezinhos’ para andar”, apesar de “haver ainda um caminho muito grande a ser feito, principalmente na parte da imagem e dos conceitos”.

Mais recentemente, e depois de apostar nos acessórios, decidiu dar o passo seguinte e começou também a fazer vestuário. “Comecei com os elásticos para o cabelo, porta-chaves e coisas mais básicas, além de ímanes para o frigorifico e assim. Era isto que levava para os mercados. Agora já faço roupa de senhora, para homem e crianças e até acessórios para animais”.

É com esta variedade de artigos que tem tentado desmistificar junto dos clientes que “as capulanas não são coisa de pretos”. “Há ainda essa barreira, mas transmito sempre que isto é um tecido global, usado em todo o mundo e que é de origem africana”. Além disso, salienta igualmente que “é um tecido riquíssimo, feito 100% de algodão, ou seja, tem muita qualidade, cores fortes e muita durabilidade às lavagens”.

No que diz respeito às vendas, “em termos do on-line, 70 a 80% do que é vendido vai para o Norte”, enquanto a nível do presencial, tomou a decisão de apenas fazer “os mercados grandes em Lisboa e Norte, enquanto os mais pequenos são feitos na região”.

No entanto, é em Palmela que Andreia garante sentir-se bem, estando já a preparar a abertura da primeira loja física, em Pinhal Novo. “Vou fazer um período de ‘incubação’ com outra marca para vermos como funciona. Vai ser muito interessante porque somos as duas da parte da confecção e vamos ter uma oficina na loja”, comenta.

Consoante o crescimento da marca, da qual confessa estar “bastante orgulhosa”, a jovem diz querer perceber se “no próximo ano será possível ir além-fronteiras”, também para fazer mercados internacionais, tendo já recebido um convite “para fazer algumas parcerias com lojas em Londres”.

Ir a Moçambique é também um dos seus desejos, assim como visualiza “ter um negócio de noivas”. “Ainda vai acontecer, mas para já é algo que está arrumado, até porque a Mwani ainda depende muito de mim”, conclui.

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Foram necessários três anos e duas mil peças para o projecto ter pés para andar
É a mexer
Andreia Fortuna largou o emprego e instalou-se na Incubadora de Empresas do Município de Palmela Maria Carolina Coelho DR

Empreendedorismo

A designer de moda setubalense que já vestiu Cristina Ferreira

Aos 28 anos, Benedita Formosinho tem uma marca de moda própria, com atelier na Baixa de Setúbal e ambição para chegar aos quatro cantos do mundo. Sempre com a cidade no coração e a natureza em pano de fundo

da Moda”, que até já lhe pediram oportunidades para estagiar no atelier. Mas, afinal, qual foi o início deste percurso?

“A minha mãe é bióloga, doutorada em Microbiologia e sempre trabalhou na área; e o meu pai é chefe de vendas de automóveis há muitos anos. Talvez o meu gosto pelas artes tenha vindo da minha mãe, pois ela sempre gostou de restaurar móveis, pintar e conjugar peças de roupa”, conta. Por outro lado, o facto de as avós materna e paterna serem costureiras também pode ter tido “influência” nos gostos em criança.

Benedita Formosinho chega ao seu atelier, vizinho da Casa da Cultura, uns minutos antes de o relógio marcar as dez da manhã. À hora certa abre a porta de vidro, ajusta os estores e nesse momento a luz natural inunda o pequeno espaço onde passa muitas horas do seu tempo. É assim todas as manhãs desde que a jovem setubalense inaugurou o espaço em nome próprio, na Baixa de Setúbal, fez em Maio quatro anos.

As janelas do chão ao tecto fun-

cionam como montra, permitindo a quem passa na rua aproximar-se e ver as peças de roupa expostas, mas também o trabalho que a designer de moda realiza, ali mesmo, sentada num banco alto, numa mesa com tampo de vidro. Sendo a zona central do atelier o epicentro do processo criativo, é possível parecer desarrumada, com folhas, papéis e bocados de tecidos sobrepostos.

“É aqui que tudo acontece e quando o sol bate, para criar, é perfeito”, conta a jovem, preparando-se para dedicar uns minutos de conversa à reportagem d’ O SETUBALENSE.

Benedita Formosinho à queima-roupa

Idade: 28 anos

Naturalidade: Setúbal

Residência: Setúbal

Área: Design de Moda "Nunca pensei em ser designer de moda. Foi acontecendo aos poucos, de forma natural”

Presença discreta é a do Pantufa, um beagle dócil que gosta de roer objectos e de se deitar debaixo de outra mesa de trabalho. “De vez em quando trago-o para o atelier”, justifica. A cadela Vicky completa a família canina.

Benedita Formosinho tem 28 anos e é a mais velha de três irmãos. Fala com orgulho e desenvoltura do trabalho que desenvolve e revela-se bastante humilde, por um lado, e lisonjeada por outro, ao perceber que, nesta fase da carreira, é já uma inspiração para outros tantos jovens e “pessoas formadas na área

Afinal, brincava enquanto via a avó materna a costurar. “Os meus pais dizem que pode estar nos genes”. “Não tenho aquela história de ser pequenina e fazer roupa para as bonecas. Simplesmente gostava muito da parte artística, de desenhar objectos e fazer artes manuais, mas não necessariamente roupa. Nunca pensei, propriamente, em ser designer de moda. Foi uma coisa que foi acontecendo aos poucos, de forma natural”.

Entre desenhar roupas e paisagens à vista – passatempo que lhe permitia “relaxar” e “treinar a técnica” – e perceber que gostava de desenhar as próprias roupas, foi um passo curto. A escolha da área de Artes para seguir os estudos no 10.º ano “foi pacífica”, lembra. “Os meus pais sempre me apoiaram, apesar

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BENEDITA FORMOSINHO André Rosa
MÁRIO ROMÃO

de ser uma área incerta e instável, e nessa altura eu ainda não tinha noção de que queria seguir Design de Moda”.

Quando se candidatou ao ensino superior, Benedita Formosinho escolheu o curso de Design de Moda na Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa. “Arrisquei um bocado, mas nas primeiras semanas na faculdade senti que estava a fazer o que gostava. Estudei Desenho, Artes, Geometria Descritiva, História de Arte e percebi que quando estudamos e trabalhamos naquilo que gostamos estamos no sítio certo”.

Após a licenciatura, estagiou no atelier de Ricardo Preto, um dos seus “designers portugueses favoritos”. Foi uma época de aprendizagem em contexto real de trabalho e em que pôde preparar desfiles, entrar no universo da ModaLisboa, fazer desenhos técnicos e styling de peças (conjugação de peças para um look). A jovem passou ainda pelo atelier de uma figurinista, onde descobriu que não se identificava com essa área.

A criação da marca

A ideia de criar uma marca própria e de arranjar um espaço começou, então, a ganhar força, ainda que Benedita considerasse que não era o momento certo. “Nessa altura eu já desenhava as minhas peças, comprava tecidos, punha-me a costurar e conseguia vender as peças numa loja em Lisboa, mas tinha receio.

Queria estruturar melhor as coisas”, conta a O SETUBALENSE. A mãe foi quem a encorajou a dar o passo.

“O meu quarto era o meu atelier, tinha uma cama, um chariot e uma secretária”, descreve a jovem, entre sorrisos, sentada no atelier que acabou por encontrar na Baixa. Foi ali que apresentou uma primeira colecção “com muita cor e muito poucas quantidades”, confeccionada com a ajuda de algumas costureiras de Setúbal. Com o tempo e a experiência, a palete colorida foi dando espaço natural aos tons claros e crus.

“Gosto de me inspirar em criações artísticas como quadros, em formas da natureza e de explorar formas geométricas, e acho que isso acaba por se reflectir nas peças, muito rectas, com assimetrias e contrastes de materiais. Tudo com um estilo muito minimalista. Não ando propriamente à procura da inspiração, até porque há dias em que não surge nada e outros dias em que acordo cheio de ideias para apontar”, confessa. São peças “minimalistas e intemporais” pela escolha dos materiais, do design e dos tons, explica. No fundo, peças que se conseguem

conjugar bem com outras que as pessoas já têm no guarda-roupa. “Os tons crus já fazem parte da marca”, acredita Benedita, e de facto basta dar uma vista de olhos pela loja para perceber que quase nenhumas divergem dessa paleta, à excepção das da colecção-cápsula que lançou.

“São peças em preto obtido com tingimento natural, que fiz com um atelier de Lisboa. Não dá para fazer em grande escala, porque é um processo manual muito demorado”, explica. Isto porque produzir roupas escuras é “muito pouco amigo do ambiente”. Adoptando políticas de diminuição do impacto ambiental da indústria da Moda, Benedita Formosinho começou a privilegiar o uso de fibras naturais como linho, algodão e burel.

A noção de sustentabilidade acompanha-a em tudo o que faz, sobretudo quando se desloca às fábricas no Norte do país para escolher os tecidos para as suas peças – muitas vezes, acaba por comprar tecidos excedentes de outras grandes produções. Gerir as redes sociais, responder a emails, emba-

lar encomendas, gerir stocks e dar seguimento à produção são outras das tarefas que ocupam o seu dia-a-dia de empresária, com a mãe a ajudá-la a tempo inteiro.

O trabalho dedicado e talentoso tem dado frutos. Em 2020, foi um dos 10 jovens criadores seleccionados para integrar o desfile Sangue Novo da ModaLisboa, que destaca anualmente os criadores emergentes nesta área. Outro dos motivos de satisfação é poder dizer que a Cristina Ferreira já vestiu peças por si desenhadas, na televisão e nas redes sociais. A par disso, são já muitas as actrizes e influencers que a procuram.

O próximo passo é apostar na internacionalização da marca, que já tem peças à venda no Canadá, Áustria, Alemanha e França. “É um caminho que leva tempo”, reconhece Benedita, mas que já tem como estratégia “participar em mais feiras internacionais, para chegar a novos públicos, aumentar a produção e as vendas”. E, aos poucos, representar Setúbal além-fronteiras, na área da moda, como uma jovem designer bem-sucedida.

29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 149 PUBLICIDADE
Escolhi o curso de Design de Moda na Faculdade de Arquitectura e percebi que estava no sítio certo

Empreendedorismo

CATARINA SANTOS

A futura psicóloga que embarcou na aventura de criar uma marca de biquínis

Com apenas 20 anos, juntou-se a uma amiga para criar um negócio onde as pessoas se podem sentir bem com o seu corpo

“É a roupa que deve vestir a pessoa e não a pessoa que tem de caber na roupa”. Foi com esta premissa que Catarina Santos embarcou no desafio de lançar uma marca de biquínis “para todos os corpos”. Em conjunto com Soraia Caramelo, sua grande amiga, a jovem estreou-se, com apenas 20 anos, no mundo do empreendedorismo.

A aventura começou com um pedido da amiga, depois de Catarina decidir que afinal “enfermagem não era o que pensava” e apostar em Fevereiro último num curso de costura, enquanto Setembro não chega para começar a licenciatura em psicologia.

“A Soraia brincou a dizer que eu podia fazer uns biquínis para ela e para umas amigas. Eu disse que não sabia fazer algo tão complexo, mas que era giro ter alguém que fizesse por nós”, revela.

Começou assim a nascer a Sukha. “Íamo-nos encontrando, fomos desenhando os modelos e planeámos toda essa parte sozinhas. Arranjámos pessoas que fizessem os modelos e assim começou o projecto”.

Como queriam lançar os biquínis ainda este ano, “aconteceu tudo muito rápido”. “Ficou muito giro, até porque eu e a Soraia não queríamos apenas mais uma marca de biquínis. Queríamos algo com muita qualidade, em que a pessoa pudesse escolher o tamanho que queria”, explica.

O desafio foi mesmo “encontrar alguém que fizesse o processo desta maneira”. “É difícil alguém fazer isto nestes termos, mas encontrámos uma senhora na Baixa de Setúbal e começámos logo com a produção. É tudo feito artesanalmente”, frisa.

Para já, a Sukha conta com uma colecção, a ‘Felicidade’, composta por “quatro modelos de biquínis e um de fato-de-banho”, mas apenas por encomenda. “Neste momento o stock

acabou e, por isso, o que estamos a fazer é que as pessoas encomendam e damos o prazo de 14 dias úteis para a entrega”.

Por ser “uma marca de inclusão”, a jovem garante que “os desenhos foram logo pensados para assentar em diferentes tipos de corpo”. “Por exemplo, temos o ‘Alma’, da cor terracota, que aperta em cima e tem aro. Para as pessoas que têm pouco peito achei que não ia ficar bem, mas na verdade fica, porque é ajustável”. Já o modelo ‘Confiança’, de cor preta, “tem a cueca de cintura mais subida, para pessoas que não se sintam tão confortáveis de biquíni”.

Disponível está também o ‘Destino’, de cor rosa fúcsia, enquanto o único modelo com padrões é o ‘Glória’. “Depois temos o azul, que é o fato-de-banho, com pormenores nas costas e que se aperta à frente.

Temos também dois modelos de páreo e dois de malas de praia”.

Em apenas dois meses de negócio, diz estar “feliz com os resultados” obtidos. “O feedback tem sido muito bom. Já fabricámos por volta de 50 modelos e até agora não houve nin-

Catarina

Santos à queima-roupa

Idade 20 anos Naturalidade Setúbal Residência Setúbal Área Psicologia e costura Diz-se determinada e assim aparenta ser, ao ter conseguido colocar de pé uma marca que se distingue pela inclusão

guém que não gostasse. Queremos que as pessoas se sintam mesmo bem com biquíni. Que todos se sintam incluídos”.

Para o efeito, são disponibilizados modelos do XS ao XXL. “As pessoas dizem-nos as suas medidas e vemos que tamanho melhor se ajusta. Assim não há tanta probabilidade de não servir”.

Soraia com Catarina dá especial significado ao nome Sukha O nome da marca surgiu “numa altura mais complicada, de desmotivação”. “Queríamos algo com significado e que noutra língua fosse uma palavra e que em português fosse algo importante”.

Foi assim que encontraram Sukha, “que significa felicidade genuína e duradoura, independentemente das circunstâncias”, sem ainda saberem que

a palavra “é a junção perfeita entre Soraia e Catarina”. “Combina muito bem e achámos que fazia todo o sentido devido à situação que estávamos a passar”.

Da enfermagem à psicologia, com a costura pelo meio

Antes de ‘entrar de cabeça’ nesta aventura, Catarina esteve dois anos a tirar enfermagem, curso no qual conheceu a amiga Soraia, de 24 anos. No entanto, a determinada altura, diz ter-se apercebido que “não era exactamente o que estava à espera”.

“Desde sempre que sabia que queria ir para a área da saúde. Queria cuidar das pessoas. O curso inteiro, até à parte que fiz, correu super bem, até que comecei a sentir que não era aquilo que queria e decidi parar em Janeiro deste ano”, conta.

Como não havia tido a oportunidade de “ver outras áreas”, uma vez que “já estava certa” que o seu futuro seria na enfermagem, decidiu voltar a fazer testes psicotécnicos, com os quais descobriu “que psicologia é mesmo aquilo” que quer seguir.

“Voltei a candidatar-me, entrei e vou começar no próximo ano lectivo, mas até lá quis perceber que outras coisas gostava de fazer. Como sempre gostei de costura, aproveitei que os meus pais me deram uma máquina no último Natal e fui tirar um curso de costura”. E o resto é história.

Com uma nova etapa a chegar em Setembro, a determinada jovem diz ter “noção de que vai ser necessário dividir bem o tempo”. “Vou ter de me orientar muito bem e isso vai requerer muita energia, mas sei que vai correr bem”, garante.

Até lá, vai manter-se “na parte de trás do processo, ou seja, na parte da organização, controlo de qualidade e envio dos modelos”, sendo também este “o papel da Soraia no projecto”. “Como queremos grande qualidade, o processo requer muito trabalho, mas tentamos dividir as tarefas”.

A nível pessoal, a jovem não se quer ficar pela licenciatura. “Gostava de tirar mais algum curso na área da costura, de tirar um mestrado e, enquanto futura psicológica, tenho a ambição de ter um consultório próprio. Quero muito investir na minha área pessoal, a nível da psicologia, mas também manter a Sukha”.

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Catarina Santos quer que os seus biquínis não deixem ninguém de fora Maria Carolina Coelho O SETUBALENSE
29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 151

Empreendedorismo

CLÁUDIA SILVA

A socióloga que quer quebrar tabus e desconstruir os estereótipos de género

Através do projecto

‘Geração Koru’, a jovem de 24 anos pretende abordar temas sensíveis com recurso à interacção

A mutilação genital feminina, a igualdade de género, o bullying, os direitos humanos e a não violência são alguns dos temas que marcam o dia-a-dia de Cláudia Silva. É que a jovem, de 24 anos, ambiciona quebrar tabus e quer, através de acções de sensibilização e formação, desconstruir as normas sociais e os estereótipos de género.

Tudo começou enquanto estava a tirar a Licenciatura em Sociologia, curso concluído em 2019. “Nos meus tempos como aluna apercebi-me que quando se falava sobre determinados temas, que era tudo muito expositivo e não havia interacção. Era só debitar conhecimento”, conta.

Foi nessa altura que a jovem do Barreiro soube que queria criar um projecto em que “os temas mais sensíveis e complexos seriam falados através da interacção, ou seja, com a aprendizagem a estar centrada nas pessoas que participam”. Para levar a ideia para a frente, Cláudia candidatou-se e esteve durante sete meses num programa de mentoria, organizado pelo núcleo de Lisboa do Movimento Internacional para a Igualdade de Género ‘HeForShe’.

Com a mentora Georgina Angélica, também ela socióloga, conseguiu montar um projecto sólido, com pernas para andar, ao qual deu o nome de ‘Geração Koru’, conceito que “engloba todas as gerações e que na linguagem maori significa o desabrochar da planta em direcção à luz”.

“Entrei no programa com o projecto idealizado, só precisava da ajuda de alguém com experiência, que me pudesse orientar”, explica. Em 2021 nasce o projecto com o qual sonhava desde os tempos de faculdade. “O que eu quero é falar

sobre os temas, mas de forma que as crianças ou adultos façam parte da aprendizagem. Espero que todos os que passam pelo projecto saiam mais ricas e com o espírito crítico mais aguçado”.

“São temas importantes que mexem muito comigo” Enquanto enumera os temas aos quais quer dar voz, Cláudia deixa passar a fervura com que quer falar sobre os mesmos. “É que são temas que mexem comigo. São importantes para mim porque sou socióloga.

Sociologia

de acções de sensibilização e formação, quer enriquecer e aguçar o espírito crítico das pessoas para os temas sensíveis que lhe correm nas veias

Comecei a ter olho e espírito crítico e a aperceber-me que há ainda muita coisa para trabalhar nesse sentido”.

Como hoje ainda não se consegue dedicar a 100% à Geração Koru, vai aproveitando os tempos livres na Escola Básica Telha Nova n.º 1, onde é mentora pedagógica, para “capacitar as crianças para o respeito, para a diversidade e para a não-violência”.

“Estou ali através da Associação Tempos Brilhantes, numa componente de apoio à família, em que as crianças, depois das aulas, vêm ter comigo, mas sempre que posso aproveito para fazer coisas no âmbito do projecto. Tento que eles interajam porque a ideia é também promover relacionamentos saudáveis”. Sobre a experiência, classifica a mesma como “enriquecedora”. “Foi também por me aperceber que havia falta de oferta educativa atractiva que criei este projecto. O ensino ainda é muito formal e tradicional. A minha ideia é ajudar os próprios professores, com a Geração Koru a ir às escolas falar sobre estes temas”.

Além das salas de aula, uma vez que um dos seus principais focos são as crianças, também já realizou “algumas sessões presenciais e on-line”, mas o objectivo é começar a “ir presencialmente a associações, mais escolas e autarquias”. “Quero mesmo criar acções de capacitação e formações, que são complexas e demoram tempo a organizar”.

Ir ‘além-fronteiras’ do Barreiro e escrever livro entre ambições No ano seguinte a ter terminado a Licenciatura na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, a jovem investiu no curso de Técnica de Apoio à Vítima para “poder trabalhar com vítimas de violência doméstica”.

Também nessa altura criou o blog “Filha da Palavra”, onde “ia partilhando conhecimento sobre fenómenos sociais”. “Foi também aí que percebi que as pessoas não sabiam como intervir ou como falar nestas situações”.

Por este motivo, e por considerar que “são temas que devem de ser tratados de forma a atrair as pes-

soas”, tenta também que, com os adultos, as actividades “não sejam teóricas ou formais”. “As pessoas, através da interactividade, sem se aperceberem, acabam por aprender mais”.

Por enquanto, explica que o projecto desenvolve-se “muito à base do on-line”. “Não tenho espaço físico porque quando criei a Geração Koru queria que fosse com o menor custo possível”.

No entanto, garante estar já a trabalhar na próxima meta, apesar de ainda notar algumas barreiras. “Quero aproveitar esta altura das férias escolares para promover o projecto, mas infelizmente envio imensos e-mails para as escolas e não obtenho respostas”.

A completar um ano em Julho, Cláudia faz “um balanço positivo à Geração Koru”. “Noto que tem vindo a desenvolver-se e a crescer. Se assim continuar, quem sabe, talvez abra um espaço físico, também para ter convidados, apresentações de livros e outras acções”.

A ideia passa igualmente por expandir “além-fronteiras do Barreiro” e por escrever um livro. “Quero andar por Portugal inteiro e ir até ao estrangeiro e um dos meus sonhos é escrever um livro infantil, sempre direccionado para estes temas”.

Jornalismo na calha e voluntariado nos tempos livres Antes de optar pela sociologia, que “caiu de pára-quedas” na sua vida, a jovem de 24 anos ponderava ser jornalista. “Queria mesmo ir para comunicação social, mas na altura falaram-me que sociologia era um curso mais abrangente e arrisquei, felizmente”.

Apesar de ser um curso que “primeiro estranha-se e depois entranha-se”, Cláudia confessa estar feliz com a escolha. “Abriu-me muito a mente. Conheci muitas pessoas diferentes na faculdade e foi isso que também me fez ter espírito crítico”.

Já nas horas vagas, a jovem gosta de participar em acções de voluntariado, “quer seja de luta contra a pobreza, como de protecção animal”. Além disso, faz parte do Moto Clube do Barreiro. “Esta vertente do associativismo está muito presente na minha vida”.

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Residência
Área
Cláudia Silva quer “capacitar as crianças
para o respeito e para a diversidade" Idade 24 anos Naturalidade Barreiro
Barreiro
Através
Cláudia Silva à queima-roupa
Maria Carolina Coelho DR
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Empreendedorismo

JOÃO LOPES

Ostras e um copo de vinho: uma ideia com rodas para andar

João Lopes tem 26 anos e é um fazedor, tendo criado o bem-sucedido negócio Ostras sobre Rodas, apesar de não ter experiência na área da restauração. O projecto, que começou como uma experiência, dá hoje trabalho a mais 12 pessoas e é uma montra de dois dos melhores produtos da região: as ostras do estuário do Sado e os vinhos

De pé atrás do balcão da rulote, João Lopes mostra que já domina a técnica de abrir ostras. Com um abridor de ostras numa mão e a outra mão a pressionar a casca, descola a parte superior da ostra numa das pontas e, com um gesto seco e firme, corta o músculo adutor do molusco. Depois, escorre cuidadosamente a ostra, limpando-a, e coloca-a numa cama de sal, num prato, com um gomo de lima. A especialidade do rio Sado está pronta a comer. É assim desde o Verão de 2018, quando inaugurou o Ostras sobre Rodas, em Setúbal.

Daí para cá, o jovem setubalense de 26 anos já perdeu a conta ao número de ostras que abriu e serviu aos clientes da rulote, um negócio que começou por ser “uma experiência” entre o segundo e o terceiro ano do curso da faculdade, e hoje é a sua profissão a tempo inteiro e da qual subsiste. Em conversa com o jornal O SETUBALENSE num final de tarde quente na Praia da Saúde, João Lopes conta como foi chegar até aqui. “Sempre vivi em Setúbal. Só me ausentei no meu oitavo ano, quando fui para Loulé com a minha mãe”.

A mãe aceitara, na altura, um trabalho como arquitecta e levou-o para o Algarve. “Esse foi o ano que me fez abrir mais os horizontes. Sempre fui muito envergonhado, e lá conheci uma cultura diferente e fiz amigos novos. Por outro lado, sendo apaixonado por desporto, inscrevi-me num clube de BTT e descobri a paixão pela equitação, onde fiz competição, porque a câmara municipal de Loulé apoiava muito essas actividades. Sinto que evolui bastante pessoalmente, na altura”, lembra o setubalense, que ainda hoje gosta de desporto.

João recorda-se perfeitamente do que respondia quando lhe perguntavam o que queria ser quando fosse grande: “veterinário”. “Sempre gostei muito de animais, apesar de não ter tido nenhum cão ou gato. Tive porquinhos-da-Índia, peixes e periquitos, e o meu pai e avós é que tinham cães. Mas sempre quis ser veterinário, talvez por o meu bisavô, com quem tive a sorte de conviver, ser veterinário”, diz. Confessando-se um aluno “reguila e brincalhão”, João admite que se aplicou mais a sério na escola no final do secundário.

Com as línguas e humanidades postas de lado – “nunca foram a minha praia”, comenta –, João Lopes optara por cursar Ciências e Tecnologias, e na hora de escolher o curso superior desviou-se do que seria expectável, porque ser veterinário “implicava decorar muita coisa e não tinha à-vontade para lidar com sangue e tripas”. Engenharia pareceu-lhe uma opção adequada, com preferência para a gestão industrial. Acabou por entrar no curso de Engenharia de Materiais na Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL, na Caparica, em Almada.

A ideia de vir a ter um negócio próprio acompanhava-o desde criança. Afinal de contas, sempre trabalhara no Verão para ajudar a família, assumindo uma postura muito activa no sentido de “fazer algo de bom e diferente”. Até que entre o segundo e o terceiro ano da licenciatura decidiu arriscar num negócio próprio, descartando desde logo a ideia de ser um restaurante, apostando em algo menos arriscado e que implicasse menor investimento. Veio-lhe à mente a ideia de uma rulote, primeiro de bebidas, e finalmente, de ostras.

“Houve um Verão em que fui ajudar um tio meu, que produz ostras no estuário do Sado. Até então eu nunca

tinha tido contacto com ostras, mas não liguei muito”. Qual epifania, “a ideia surgiu de repente”, conta. “E se eu fizer uma rulote de ostras?”, narra, como se revivesse o momento, durante a conversa. A princípio, a família e os amigos mostraram-se cépticos em relação ao sucesso da ideia, mas logo João mostrou a tudo e a todos que as Ostras sobre Rodas eram um projecto com rodas para andar – tal como o tempo comprovou.

Com pouco capital próprio para investir, o jovem empreendedor não hesitou em vender uma “motinha de 125cc que tinha comprado com vários dinheiros dados pelo Natal”, no sentido de poder comprar uma rulote na plataforma OLX. “A bancada de madeira fui eu que a fiz, com uma rebarbadora, numa garagem, com a ajuda de alguns amigos. Foi tudo um pouco artesanal, com os recursos que tinha à mão. O primeiro frigorífico que usei só levava cinco quilos de ostras. Era tudo contado ao milímetro”, conta João Lopes.

Com a rulote branca e preta do Ostras sobre Rodas estacionada na

Praia da Saúde, com a Serra da Arrábida nas costas e a Península de Tróia destacada na outra margem, o jovem foi somando clientes e ostras dia após dia, muito graças ao passa-palavra dos amigos e da família. No primeiro ano trabalhou um mês e meio, e no seguinte já conseguiu dar trabalho a mais pessoas e juntar dinheiro. Aí percebeu que a “empresa funcionava”. No final de 2019 fez um plano para expandir para uma segunda rulote, e no início de 2020 estalou a pandemia.

“A pandemia foi terrível, mas fe-

João Lopes à queima-roupa

Idade: 26 anos

Naturalidade: Setúbal

Residência: Setúbal

Área: Restauração

“O que me diferencia não é a ideia, é a dedicação e a vontade de fazer bem, sem nunca desistir”

lizmente recomecei bem e 2020 correu lindamente em Setúbal e comecei com a rulote em Lisboa, ao lado do Padrão dos Descobrimentos, no final de Agosto”, diz. Hoje em dia, João mantém ambas a funcionar diariamente, dando trabalho a 12 pessoas, e tem uma terceira rulote para fazer eventos (festas de aniversário e eventos de empresas, por exemplo). O take-away de ostras abertas é outro dos serviços, especialmente procurado por quem tem embarcações de lazer em Setúbal.

“O que me diferencia não é a ideia, é a dedicação e a vontade de fazer as coisas bem, sem nunca desistir”, partilha João em jeito de conselho para quem esteja a pensar em criar o seu próprio negócio. No fundo, o sucesso do Ostras sobre Rodas assenta numa premissa muito simples, além do saber-fazer: democratizar o acesso às ostras, tirando-as do ambiente dos restaurantes gourmet e pondo-as ao lado dos bons vinhos, queijos e pão da região, a preços acessíveis. Quando o calor sobe e o sol desce, a dupla sabe ainda melhor.

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Além de Setúbal, João Lopes já tem uma rulote também em Lisboa, na zona do Padrão dos Descobrimentos MÁRIO ROMÃO André Rosa
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Empreendedorismo

ANA CATARINA GONÇALVES

A grandolense que arriscou e conseguiu montar um ‘império’ na vertente das explicações

Com apenas 21 anos, começou a acompanhar algumas crianças por brincadeira. Hoje, passados cinco anos, emprega três dezenas de professores

mudou a minha vida. Fui logo após terminar a faculdade com um grupo de jovens da minha idade que já tinha o espírito de fazer acontecer. E eu também tinha. Sabia que dentro de mim já fervilhava alguma coisa”, conta.

Em apenas cinco anos, a vida de Ana Catarina Gonçalves deu uma completa volta. Enquanto aos 21 anos, depois de concluir a licenciatura em Literatura e Português, dizia não saber “o que queria para o futuro”, hoje, aos 26 anos, a jovem de Grândola pode afirmar com orgulho que tem vindo a montar um ‘império’ na vertente das explicações.

A ideia surgiu “como uma brincadeira” em 2017, depois de uma viagem a Itália com uns amigos. “A ida a Turim

Quando regressa a Portugal, toma a decisão de, em Setembro, “abrir actividade” e começa a “dar umas simples explicações em casa dos pais”, sem saber o que estava para vir. “Comecei a dar acompanhamento a dois miúdos na minha sala-de-estar. Não era o meu sonho ter um centro de explicações, mas quando comecei a perceber a dimensão do que estava a criar é que percebi que podia dar trabalho aos jovens da minha terra que estavam na mesma situação que eu”.

E assim foi. A partir do momento em que chamou dois amigos, “a coisa foi expandindo”, até “explodir em Abril de 2018”. “Abrimos o primeiro centro oficial e damos-lhe o nome de ‘Explica-te’, por ser algo apelativo, mas simples”.

para quem “o processo foi insustentável por lhe estar a ser ‘roubada’ a casa”. “Pedi dinheiro emprestado ao meu pai para fazer obras na parte lateral de nossa casa para construir o centro. Ele disse-me sempre que não por achar que o projecto não estava grande o suficiente para fazer o investimento”.

No entanto, a jovem conseguiu levar o pai a “fazer o que pretendia pelo cansaço”. “Explodi com explicações dentro de casa e ele acabou por ceder. Assim nasceu o primeiro espaço oficial do projecto, onde ainda hoje está instalada a sua sede”.

Explicações individualizadas e focadas no aluno marcam diferença Numa fase inicial, a jovem classifica o processo como “muito difícil”. “Estamos em Grândola. Apesar de existirem muitas crianças, temos uma grande concorrência”. Por este motivo, tentou marcar pela diferença, ao dar “explicações mais individualizadas e focadas na personalidade do aluno e no que este precisa”.

A certa altura, Ana Catarina Gonçalves teve de pedir ajuda aos pais, DR

Foi assim que foi conseguindo “chamar novas pessoas”, ao mesmo tempo que já sentia a necessidade “de aumentar o pessoal”. “No início de 2019, cheguei a um ponto em que me apercebi que já não estava a brincar às explicações. Já tinha montes de pais que contavam comigo e percebi que queria continuar a fazer crescer o projecto”.

Contudo, quando toma “consciência de que a coisa era grande e que tinha futuro, rebenta a covid-19”. “Pensei que tudo fosse por água abaixo. Vi-me de portas fechadas, mas é aí que tu te apercebes que és diferente. Naquele momento só tinha duas hipóteses: ou esperava ou tomava uma acção e fazia alguma coisa pelo meu negócio”.

A grandolense optou pela segunda alternativa. Com “um staff muito jovem”, percebeu que teria “maior facilidade em explorar o on-line”. “Pedi ajuda a uns amigos, que trabalhavam na área do digital, e investi o meu dinheiro. Ter um negócio é isto, é viver todos os dias de mãos dadas com o risco”, confessa.

A boa notícia surge “em Abril/ Maio” com “os primeiros contactos do on-line”. “Foi muito interessante começar a distribuir trabalho e a ver os alunos, espalhados pelo País e até no estrangeiro, chegarem. Os pais estavam um bocadinho a medo, mas foi fácil eles perceberem a forma como lidávamos facilmente com o digital e isso deu-lhes segurança”.

O processo “correu de tal maneira bem” que o ‘Explica-te’, a partir do qual são acompanhados perto de 300 alunos, “ainda mantém miúdos

do centro presencial com algumas explicações on-line”. Além de alunos, começaram também a chegar professores de todo o País. “Fui sempre apostando em profissionais que estavam colocados longe e que aqui poderiam fazer algum serviço e ganhar algum dinheiro extra”.

De um centro a dois ‘Explica-te’ e um ‘Comporta-te’ De umas simples explicações na sala-de-estar da casa dos pais, Ana Catarina Gonçalves passou a ter a trabalhar para si cerca de três dezenas de professores, entre o on-line e o presencial, além de contar com a ajuda de uma secretária e de ter mantido na equipa os dois amigos da vertente digital.

Actualmente, é responsável por dois ‘Explica-te’ – um só dedicado ao 1.º ciclo e outro do 5.º ao 12.º ano –, sediados em Grândola, e pelo ‘Comporta-te’, espaço no Carvalhal que funciona não só como centro de explicações para alunos do 1.º ao 6.º ano, como é também um ATL e transforma-se no Verão em campo de férias.

“O ‘Comporta-te’ surge numa altura em que eu estou de férias e apercebo-me que o Carvalhal é uma freguesia que tem zero apoio aos pais e às crianças. Fiz alguma pesquisa e comecei a perceber se faria sentido”, explica.

Ana Catarina Gonçalves à queima-roupa

26 anos Naturalidade Grândola Residência Grândola Área Literatura e Português Teimosa por natureza e empreendedora por paixão, é a inventar que diz sentir-se realizada

Com o on-line a ‘dar frutos’, a jovem decidiu, depois de um período de incertezas, que “tinha de avançar”. “Em dois meses montei tudo com o meu sócio, apesar de hoje já não termos sociedade. O centro nasceu oficialmente em Setembro de 2020 numa casa também de família e as coisas foram acontecendo. Hoje temos cerca de 120 crianças lá”.

O próximo passo, destaca, “talvez passará por abrir um centro na Comporta”. “Se tivesse condições talvez já o tivesse feito, até porque as pessoas me estão sempre a desafiar para apostar. Infelizmente ainda não pude, mas teria todo o gosto”.

Já num futuro mais longínquo, Ana Catarina Gonçalves ambiciona “ter uma cadeia de ‘Explica-te’ e de expandir pelo Alentejo”, assim como tem o sonho de “abrir um negócio próprio na área da hotelaria e turismo”.

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Ana Gonçalves já percebeu que ter um negócio é coisa de alto risco, mas continua a apostar Idade Maria Carolina Coelho
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Empreendedorismo

GONÇALO AMBRÓSIO

O montijense que está a revolucionar as “festas populares da terra”

Com o seu grupo de amigos, o jovem de 22 anos ambiciona alavancar o projecto de tal forma até que se transforme numa empresa de organização de eventos

Com 22 anos, Gonçalo Ambrósio diz que não se imaginava a ser o porta-voz de um projecto que tem proporcionado diversão a milhares no Montijo. É que com o ‘Rédea Curta’, “as festas populares da terra passaram a ser muito mais animadas”.

Para se compreender a evolução do projecto, e qual o papel do montijense no mesmo, é necessário recuar até 2017. “Numa tarde de Verão”, Gonçalo e o grupo de amigos aperceberam-se, enquanto bebiam café, que “não havia um sítio onde as pessoas pudessem curtir e conviver num estilo associado à tauromaquia, dentro das festas populares”.

“Tudo começou quase como uma brincadeira, com uma simples conversa, em que quatro amigos chegaram à conclusão que faltava no Montijo um espaço que dissessem ‘era mesmo aqui que gostávamos de ir’”, descreve.

Decidiram então que não havia tempo a perder e arregaçaram “imediatamente” as mangas. “Eu, o Filipe [Ribeiro], o Afonso [Sousa] e o João [Fernandes] pensámos logo em criar um espaço que desse para juntar as pessoas. Na altura, a ideia era ser ao ar livre, onde trouxéssemos o nosso estilo e que o pudéssemos fazer durante as festividades”.

No entanto, o jovem revela que “nesse ano não deu para avançar devido a algumas dificuldades”. “As pessoas não compreenderam logo qual era o objectivo. Acho que, por sermos novos, tinham medo de confiar em nós e de nos confiarem os seus espaços”.

Para conseguirem avançar com a ideia, precisaram que “bater a muitas portas”. “Íamos de casa em casa apre-

sentar o projecto, ao mesmo tempo que tentávamos perceber quais os espaços quase abandonados no Montijo onde dava para fazer o que pretendíamos”.

A partir desse momento, “tudo aconteceu de forma natural”. Em 2018, conseguiram “arranjar um primeiro espaço, emprestado, onde foi necessário fazer muita obra”. “Começámos com investimento quase zero. Éramos miúdos e, por isso, não tínhamos dinheiro para investir. Para conseguirmos, cada um levou um material para melhorar o espaço. Por exemplo, um levou uma pá e o outro um carrinho de mão. E assim foi”.

Também o facto de serem “todos filhos da terra”, com “famílias com negócios próprios”, facilitou o processo. “Pedimos alguns favores, como um

serralheiro e carrinhas para tirar entulho. Depois tudo o que colocámos dentro do espaço fomos nós que fizemos, principalmente os balcões e o palco, tudo feito com paletes”.

Gonçalo Ambrósio à

queima-roupa

Idade 22 anos

Naturalidade Montijo Residência Atalaia (Montijo) Área Educação Física e Desporto Tem com os amigos o objectivo de colocar a malta de norte a sul do País “a curtir, mas rédea curta”

Actualmente, Gonçalo sublinha que “já há margem para fazer mais coisas”. “No segundo ano mudámos de espaço. Chegámos e mudámos tudo, incluindo pintar paredes. Já levantámos inclusive muro. É um bocado mais fácil porque as pessoas já nos ajudam”.

O projecto “tem crescido de tal maneira” que “na Feira do Porco deste ano juntaram-se cerca de duas mil pessoas”. Também “os sete dias das Festas de São Pedro foram um sucesso”, com “perto de cinco mil pessoas a passarem pelo espaço do Rédea Curta”.

Projecto pode vir a tornar-se empresa de organização de eventos Depois de dois anos “de sucesso”, a covid-19 rompeu de forma inesperada e “travou ligeiramente o Rédea

Curta”. No entanto, os jovens não se deixaram abalar e foram perceber “se tinham público suficiente para continuar”.

“Começámos a perceber que as pessoa gostavam do que fazíamos. O mais importante do projecto são elas, que são os nossos clientes. Sem eles não teríamos sucesso”.

Foi nessa altura que decidiram sair da zona de conforto. “Começámos por fazer jantares na altura do confinamento. Fizemos um para 300 pessoas, que encheu em três dias e que correu espectacularmente bem. A partir daí começaram a surgir novos projectos”.

“Até a Câmara Municipal do Montijo já nos convidou para alguns eventos. Já começam a existir contactos, com as pessoas e entidades a contactarem-nos”, acrescenta. Ao nível da equipa, depois da edição deste ano da Feira do Porco, a mesma ficou reduzida a três elementos, com a saída “do João [Fernandes] por decisão conjunta”. Hoje, é com orgulho que Gonçalo diz que “o projecto está a crescer de tal forma que talvez venha a tornar-se numa empresa de organização de eventos”.

Para atingir este objectivo, o grupo ambiciona dedicar-se a 100% ao projecto. “Temos pensado muito nisso. Queremos também começar a fazer as coisas com mais organização, mas é ir vendo como vai correndo”, afirma.

Além disso, desejam também sair da terra e “começar a percorrer Portugal”, até porque o intuito “não é ter um espaço próprio”. “Queremos ir onde nos receberem e funcionar como um intermediário para a diversão. Estamos prontos para dar o nosso melhor”.

Futuro no futebol é incerto, mas presente passa pelo crossfit Licenciado em Educação Física e Desporto e mestre em Futebol, Gonçalo confessa ter trabalhado na área “muito poucos meses”. “Decidi ir trabalhar para o talho do meu pai, no Montijo”.

Já nos tempos livres, é com um sorriso no rosto que conta gostar “bastante de crossfit”. “Sou um apaixonado pela actividade. Fora o trabalho e responsabilidades, é o que gosto mais de fazer”. Enquanto ao futuro no futebol, “vai depender muito do que for acontecendo”.

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Com o projecto "Rédea Curta", Gonçalo e os amigos têm levado "a malta a curtir" Maria Carolina Coelho DR
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Empreendedorismo

Antigo ginasta passa a empresário

mo dono tinha em Lisboa”. “Ia fazer uma proposta para esse outro ginásio, mas ao falar com o antigo dono percebi que ele já não tinha interesse no espaço de Setúbal e que por isso é que havia uma má gestão. Decidi então apostar neste”.

O processo aconteceu “muito rápido”, até porque o jovem já tinha “alguma experiência na área do empreendedorismo”. “Antes de comprar o ginásio tinha um negócio on-line de venda de planos de nutrição, no qual já tinha quatro pessoas a ajudar-me”.

No entanto, quando avançou para a compra do Oásis Fitness, decidiu largar o negócio on-line. “Preferi o ginásio. É melhor a proximidade com o cliente. Dá-me mais satisfação”.

Quando assumiu a gestão do novo espaço, optou por reestruturar a equipa. “O Oásis Fitness tinha três treinadores e o dono. Preferi não ficar com nenhum dos treinadores e começar eu a dar as aulas”.

Se ao início “fazia praticamente tudo, menos a limpeza do espaço”, hoje já conta com uma equipa de quatro pessoas, na qual está incluída a namorada, que “trata da parte administrativa, marketing e redes sociais”. “Abdicou do seu emprego a full-time no mês passado para vir trabalhar comigo e agora dedicamo-nos os dois a 100% a este negócio”.

A próxima meta passa por distribuir algumas das funções que ainda hoje mantém “para tirar algum peso de cima dos ombros”. “Os meus dias são muito preenchidos. De segunda a sexta-feira dou uma aula às 06h30 e depois faço algumas coisas necessárias na parte administrativa. Às 11 horas dou outra aula e depois das 17h30 às 20h30 dou outras três aulas. Ao sábado também dou uma aula de manhã, que normalmente acontece na praia”.

Bernardo Santos à queima-roupa

Idade 24 anos Naturalidade Setúbal Residência Setúbal Área Desporto ‘Reinvestir’ é o seu nome do meio, para alcançar a “paz de espírito financeiro” que tanto ambiciona

dade Filarmónica Estrela Moitense, sendo que aos 13 fui ao Campeonato Mundial de Ginástica e fiquei em quarto lugar. Nos anos seguintes fui a mais um ou dois mundiais e fui a um europeu, no qual fiquei em 3.º lugar”, recorda.

Foi o joelho, ao qual foi operado quatro vezes, que o obrigou a deixar a ginástica. “A primeira operação aconteceu aos 14 anos. A partir daí foi deixando de dar para continuar a praticar, até que saí. Mas para continuar a estar activo, entrei no crossfit”. Também o halterofilismo já fez parte do seu dia-a-dia, tendo sido “campeão nacional aos 17 anos e batido dois recordes nacionais”.

Comprar vivenda e abraçar novos projectos nos planos futuros Formado em Matemática Aplicada à Economia e Gestão, Bernardo Santos chegou a inscrever-se “no melhor mestrado do País, na Universidade Católica”, mas acabou por sair “passado três dias”. “Não era a minha cena e nem cheguei a trabalhar na área. Optei por tirar um curso profissional, para poder desempenhar funções a nível do desporto, como ser personal trainer e dar aulas”.

Assumiu o controlo do ginásio junto ao Parque Urbano de Albarquel e, em apenas seis meses, conseguiu crescer de 50 para 180 clientes. Próximo objectivo é estabilizar negócio e partir para outro

Por considerar que as condições do ginásio que frequentava há cerca de dois anos “não eram as melhores”, Bernardo Santos fez uma proposta em Dezembro último ao anterior dono do Oásis Fitness, situado junto ao Parque Urbano de Albarquel, e acabou por comprar o espaço.

Assumiu ‘as rédeas’ do negócio “no virar do ano” com o objectivo de “proporcionar aos clientes um melhor serviço”, estando agora a “con-

seguir estabilizar as coisas”. “Tenho tido muito trabalho, como qualquer pessoa em início de negócio, mas estamos a crescer bem. Os treinadores tinham pouca experiência, eram pouco qualificados. Agora sou eu que dou a maior parte das aulas e as pessoas gostam mais”, garante.

Apesar de se terem passado apenas seis meses, o jovem de 24 anos diz que o crescimento do espaço, “em diversos níveis”, é já visível. “Estamos a crescer bem e estou muito orgulhoso. Passámos de 50 para 180 clientes em apenas meio ano”.

Estes resultados, explica, estão “na diferença do Oásis Fitness para os outros ginásios”. “No meu ginásio, faço questão que os clientes sintam que o negócio está lá para os ajudar e não só para os fazer gastar dinheiro. Não é um sítio desleixado, o que faz com que as pessoas se sintam apoiadas. Além disso, fiz alguns investimentos em material e todos esses factores demostram um sentimento de preocupação para com o cliente”.

No entanto, a ideia inicial não era comprar o Oásis Fitness, mas sim adquirir “um outro negócio que o mes-

No Oásis Fitness, os clientes podem optar por treinos individualizados ou por participar nas aulas de crossfit, actividade de alta intensidade praticada por Bernardo Santos “durante oito anos”. “Cheguei a ir a competições de crossfit e a tornar-me campeão nacional, mas já não treino muito. Nessa vertente estou ali é para ensinar os outros. Agora o que gosto mais de fazer, desde há cerca de três anos, é musculação”.

Ginástica surge aos três anos e termina por lesão no joelho O desporto já está na sua vida desde que tinha três anos, idade com a qual começou “a fazer ginástica no Vitória FC todas as semanas, sem falhar”. Já aos 12 anos, ‘partiu’ para a Moita, uma vez que se apercebeu que “no Vitória FC não havia grande margem de progressão”.

“Dos 12 aos 16 anos estive na Socie-

Hoje diz sentir-se “realizado”, apesar de ainda ter dois objectivos por alcançar. “Gostava de comprar uma vivenda, com quintal, e gostava de encher o ginásio e apostar noutro. Não sei se abrir um de raiz ou pegar num já existente, mas a ideia é partir para outro”.

No fundo, o que pretende alcançar é “paz de espírito financeiro”. Para tal, começou também a “investir em imobiliário”. “Vou comprar agora o meu terceiro apartamento, para colocar a arrendar”. O capital, esclarece, “surgiu em grande parte dos planos de treino que fazia on-line”, com os quais chegou a fazer “entre 40 e 50 mil euros por mês de facturação”.

“Desde pequeno que digo que quero ser rico, mas comecei a entender que para ser rico não posso trabalhar para outra pessoa e que tenho de ter é negócios próprios e é nisso que quero continuar a trabalhar”, remata.

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Maria Carolina Coelho DR
29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 161

Empreendedorismo

Engenheiro Biomédico lidera empresa que vai mudar a forma como tratamos a tosse

Sesimbrense de 26 anos desenvolveu, com um grupo de amigos, um dispositivo que vai permitir aos médicos suportarem decisão clínica

Com apenas 26 anos, Diogo Tecelão carrega já aos ombros uma grande responsabilidade: é o líder da start-up que no primeiro trimestre do próximo ano vai “revolucionar a prática clínica e a forma como a tosse é hoje abordada”.

Isto tendo em conta que, através da empresa que o engenheiro biomédico de Sesimbra criou com quatro colegas de curso, vai ser lançado para o mercado um dispositivo inovador que “vai permitir monitorizar a tosse dos doentes”.

“No fundo, o C-mo [Cough Monitoring Medical Solutions], que é o nome do nosso produto, consiste num dispositivo confortável, que os próprios utentes ou os médicos colocam na região abdominal e mantêm durante o período de monitorização”, explica.

O intuito da ferramenta é “não só acelerar o diagnóstico de várias doenças, como também é encontrar qual a medicação e dose que funciona melhor para cada doente”.

“É um dispositivo que os médicos vão poder utilizar para suportar a sua decisão clínica. Também os doentes crónicos vão poder gerir o processo e melhorar a sua qualidade de vida e os seus cuidados de saúde”, descreve.

Apesar de os resultados serem acessíveis através de “uma aplicação móvel, que os próprios doentes podem utilizar”, o C-mo foi pensado para “funcionar com os vários tipos de utilizadores”. “O dispositivo funciona tanto em populações pediátricas como em adultos. Funciona em regiões mais remotas, que não têm tanta ligação à internet. Depois está preparado para utilizações mais avançadas, como, por exemplo, para telemedicina”.

Ferramenta criada após desabafo de professor de Fisiopatologia Para se compreender com precisão como surgiu a oportunidade, é neces-

sário recuar aos tempos de faculdade do jovem. “Estávamos em 2019, no curso de Engenharia Biomédica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa quando, numa aula, um professor de Fisiopatologia desabafou que precisava, enquanto clínico, de ter uma ferramenta que permitisse monitorizar de forma objectiva a tosse dos doentes”.

Esta necessidade, justifica Diogo Tecelão, surge devido ao facto de “a tosse crónica ser um dos sintomas mais comuns na prática clínica”, sendo que o problema “é que de momento não existe forma de obter informação objectiva sobre a mesma”.

Ao reconhecerem a importância de se “conseguir monitorizar as várias características peculiares da tosse do doente”, Diogo Tecelão, Sara Lobo, Filipe Valadas, Miguel Andrade e Alexandra Lopes aceitaram o desafio e colocaram mãos à obra.

“Decidimos avançar de imediato

não só para aprendermos e para nos desenvolvemos, mas porque acreditámos que isto era algo que poderia realmente mudar o mundo. Começámos logo a desenvolver o produto, mas fora do horário escolar. Reuníamo-nos depois das aulas. Fomos nós, com recursos próprios, a desenrascarmo-nos”, conta.

Já para conseguirem “validar a tec-

Diogo Tecelão à

queima-roupa

Idade 26 anos

Naturalidade Sesimbra Residência Sesimbra Área Engenharia Biomédica Com o seu grupo de amigos, unidos por uma causa comum, está a desenvolver uma solução que poderá revolucionar a medicina

nologia”, o grupo tem contado “com a ajuda preciosa de vários médicos”. “Têm-nos dado acesso a doentes, nomeadamente o Dr. Nuno Neuparth, imunoalergologista que faz hoje também parte da equipa da start-up e que permitiu que tivéssemos acesso a vários contactos de médicos do Hospital D. Estefânia”.

Jovens desenvolvem versão final do dispositivo desde 2020 Os primeiros resultados surgiram “passado um ano, sensivelmente”. “Começámos por desenvolver um protótipo muito rudimentar, sem muito custo associado, e só depois passámos para um mais avançado, que nos vai permitir fazer a validação clínica”. Desde 2020 a esta parte, o engenheiro biomédico revela que têm “estado a desenvolver a versão final do dispositivo, que vai realmente para o mercado”.

“Estamos muito orgulhosos por sabermos que isto poderá salvar vi-

das e acelerar diagnósticos. No fundo é essa a nossa motivação e foi para isso que tirámos o curso”, garante o jovem, que nos tempos livres diz gostar de passear e de aproveitar o sol.

Bolsas e prémios de 90 mil euros alavancam

projecto

Além de quererem “ganhar prática e experiência de trabalho”, os jovens acreditaram desde sempre que a ferramenta poderia “realmente revolucionar a medicina”. Ao início, começaram a desenvolver o projecto com “fundos monetários próprios”. O passo seguinte passou “inevitavelmente pela criação da start-up Cough Monitoring Medical Solutions”, sediada em Almada, no Madan Parque. “Já tínhamos um produto com bastante potencial e tínhamos de reflectir isso na criação de uma empresa que permitisse meter o dispositivo no mercado”.

No entanto, a empresa, que surgiu “oficialmente em Junho de 2020, “tem estado efectivamente a crescer através de bolsas e prémios”. “Além de termos ganho uma bolsa de 40 mil euros da EIT Health, também recebemos 50 mil euros do Altice Internacional Innovation Award”, descreve Diogo Tecelão.

Actualmente, além do jovem de 26 anos, cuja especialização “é mais na área do processamento de bio sinais e inteligência artificial aplicada à saúde", também Sara, de Almada, dedica-se a 100% à start-up, apesar “de todos se manterem activos no projecto”.

“Fazem-no de forma pós-laboral, mas com o novo investimento vão transitar mais alguns para tempo inteiro. Até porque cada um tem a sua função”. Além dos cinco elementos iniciais, “a empresa tem hoje mais dois funcionários: o Pedro Silva e o Ricardo Sá”.

Já o futuro próximo passa por “fechar uma ronda de investimentos, que vai permitir obter aprovações regulamentares necessárias para entrar no mercado europeu e americano”.

“Enquanto vamos ganhando reputação, o dispositivo vai ser vendido numa fase inicial apenas aos hospitais, talvez por 600 euros, sendo que é reutilizável, com a premissa que o mesmo é pago através da prescrição aos doentes em menos de um ano”, revela.

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Diogo Tecelão e os amigos desenvolveram o C-mo convencidos de que podem ajudar a mudar o mundo Maria Carolina Coelho DR
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Empreendedorismo

O sonhador que proporciona aos alunos experiências inspiradas em histórias reais

Através do ‘Camaleão’, o jovem de 29 anos leva até às escolas temas actuais, como a violência doméstica e o desperdício de água

existe a nível mundial, que são os Escape Room, e mudar completamente o conceito”.

Isto porque, enquanto o objectivo tradicional “são apenas desafios, com tudo o que seja mais prático”, a ideia passava agora por “retirar parte do que é palpável e transformar a experiência numa história real”. No entanto, faltava uma peça importante para conseguir levar o projecto a bom porto: o investimento.

da água e a violência doméstica. São experiências imersivas. O propósito é que as pessoas entrem sem preconceitos e pensem no que fazer e não em revirar o sítio”.

No fundo, o intuito é que “haja uma discussão entre o grupo”, sendo que o projecto se destaca dos demais pelo facto de “não haver um fim fechado”. “A solução é determinada pelos participantes, em que todas as decisões influenciam o final”.

o projecto, onde “conseguia manter os dois jogos”. Contudo, o problema mantinha-se: “a pandemia ainda estava a decorrer”. “Consegui abrir a loja, com restrições, e houve alguma aderência, mas não era o suficiente”.

rio em nome individual, percebeu que o ‘Camaleão’ se tornara “numa plataforma pedagógica”, que as escolas vêem agora como um “instrumento educativo”.

Ulisses Almeida sonhou, o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) apoiou e o ‘Camaleão’ nasceu. É este o resumo muito breve, mas cheio de história, dos últimos três anos da vida do jovem de 29 anos.

Em 2019, depois de diversas experiências profissionais e de uma aventura por Londres, Ulisses, natural de Lisboa, mas a viver desde os dois meses no Montijo, decidiu “que queria dar asas às ideias que tinha”. “Percebi que queria pegar num projecto que

“Aproveitei que o IEFP tem o programa “Criação do Próprio Emprego”, candidatei-me e passado um ano o projecto foi aprovado”, refere. Antes, Ulisses, que se descreve como “uma pessoa que ainda se está a descobrir”, teve de “perceber se a ideia tinha viabilidade”. Para tal, aproveitou o período de espera para calcular todos os custos.

Com os sete mil euros disponibilizados pelo IEFP, montou no centro do Montijo a primeira loja, com dois jogos. “Criei um Escape Room temático, em que os temas eram o desperdício

Estava tudo ‘a postos’ e Ulisses estava pronto para abrir portas ao público, sem nunca imaginar o que viria a seguir. “A abertura do espaço calhou em Março de 2020, quando rebentou a pandemia. Portanto, abri a porta e passado um dia fechei”.

Como se “um problema não bastasse”, com as chuvas de Abril “a loja teve uma inundação”. “Cerca de 30% do investimento não ardeu, mas ficou molhado”, ironiza.

A etapa seguinte passou por “arranjar uma outra loja”. Em Setembro descobriu o espaço perfeito para remontar DR

Sorte bateu à porta e Ulisses voltou-se para as escolas “Por sorte”, como classifica o jovem, “houve uma pessoa que fez uma proposta”. “Pelas temáticas que são, e uma vez que é a comunidade escolar quem está mais receptiva a este tipo de experiências, o objectivo da proposta era apresentar o projecto às escolas”.

E assim foi. O jovem atirou-se ‘de cabeça’, mas havia agora duas pedras no caminho: Ulisses tinha fechado oficialmente o espaço físico em Dezembro e só podiam estar cinco pessoas em simultâneo no jogo, o que dificultava a deslocação dos alunos.

Foi então que surgiu a alternativa de “montar uma estrutura que fosse às escolas”. “Contactei a empresa que fez as paredes e perguntei-lhe se as conseguiam transformar num contentor”. Em três meses, estava criado o ‘Camaleão’. “Só contempla um jogo. É Camaleão porque o objectivo é que mude do dia para a noite. Está concebido para isso”. Depois de uma primeira experiência na Escola Profissional no Montijo, que “foi o laboratório” de Ulisses, com cerca de cem alunos, também “técnicos da CPCJ e da Associação Rumo quiseram integrar o projecto numa escola na Baixa da Banheira”.

Com este passo, Ulisses, empresá-

Ulisses Almeida à

queima-roupa

‘Camaleão’ evoluiu para Associação Imersiva Sociocultural

Ainda antes de começar a trabalhar com as escolas, o jovem começou a perceber “que não queria ficar pelo contentor e pelas experiências imersivas”. “Sempre quis alargar a parte sociocultural e apostar em actividades que não existissem no Montijo, nomeadamente ligadas às esculturas e pintura, e na realização de workshops sobre tudo o que são finanças pessoais e literacia financeira”.

Para tal, Ulisses avançou com a criação da Associação Imersiva Sociocultural, com o apoio dos pais, no sentido de conseguir “tocar em mais pontos do que só ter o contentor”. Faltava apenas arranjar um espaço onde ‘estacionar’ o Camaleão. “Fiz uma proposta à Câmara do Montijo para deslocar o contentor para o Alto das Vinhas Grandes. A proposta foi aceite. O objectivo agora é que se crie ali o pólo da associação e que haja um contrato para conseguir ficar no espaço durante cinco anos”, frisa.

Da programação à hipótese das artes, com desvio por Londres

A vida de Ulisses foi praticamente toda passada no Montijo, até que aos 18 anos regressou a Lisboa para supostamente estudar Artes. “Estava no curso de Programação e saí para ir para Lisboa estudar Artes, mas isso não aconteceu. Acabei por ir viver um ano para Londres, para perceber realmente o que conseguia fazer sozinho, e quando regressei arranjei trabalho em produção de teatro, onde estive cinco anos”.

A determinada altura, e com outros trabalhos pelo meio, o jovem diz ter-se apercebido que “queria fazer mais” por si, nomeadamente fazer com que as suas ideias se desenvolvessem. “Foi complicado porque não tinha meios para fazer nada. Tinha ideias, mas não tinha como as desenvolver. A partir daí foi começar a perceber onde é que iria arranjar o dinheiro”. Desse momento até à criação da associação foi ‘um pulinho’.

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Ulisses Almeida montou um Escape Room temático, no Montijo, onde vive desde os dois meses Idade 29 anos Naturalidade Lisboa Residência Montijo Área Artes Desconstruiu o conceito do Escape Room, ao querer que os participantes entrem sem preconceitos, focados no que estão a fazer e não em revirar o espaço Maria Carolina Coelho
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Entrevista

CATARINA JOÃO

A artista que encontrou nas figuras e dioramas a chave para o bem-estar mental

Com encomendas até ao Natal, a jovem de 36 anos tem especial carinho pelas personagens e cenários da Marvel, Star Wars e Harry Potter

A Catarina João “é uma pessoa em busca constante, que demorou 36 anos a descobrir-se”. É assim que a jovem almadense, a morar no Seixal desde 2008, se define, depois de saltar de curso em curso e de trabalho em trabalho, sempre em busca de uma única ambição: “Ser feliz”. Chegou a tocar bateria, fez teatro e dança, trabalhou como design, em vídeo, fotografia e produção de eventos, mas confessa que, apesar de o seu percurso ter estado ligado às artes, sempre teve “a sensação de que estava incompleta”.

Em 2020 encontrou “finalmente” a resposta. Colocou de lado o receio que sentia e ‘gritou aos sete ventos’ o que realmente é: uma artista. Diagnosticada há cerca de um ano e meio com uma depressão severa, descobriu nas figuras e dioramas a chave para o bem-estar da sua saúde mental. “Acho que a minha forma de estar e de criar também é uma consequência da minha forma mental”, conta.

Tomou a decisão de apresentar-se ao público “em nome individual, num processo de aceitação como artista”. Harry Potter, Star Wars e Marvel são os seus três universos, sendo que este último “é o filho favorito”.

A “viver um período que nunca esperava”, Catarina João ambiciona no futuro conseguir “criar um podcast para falar abertamente sobre saúde mental”, até porque admite ser “uma pessoa muito comunicativa e sem vergonha na cara”.

Como começou todo este projecto?

Começou há muito pouco tempo. O projecto nasceu no início da pandemia, na altura em que fomos

todos para casa. Trabalhava numa empresa de telecomunicações há três anos e estava tudo tranquilo, mas a pressão de estar em casa e de estarmos todos na incerteza e em pânico começou a consumir-me. Via as notícias e começava a chorar. Tudo provocava-me crises de ansiedade horríveis. Cheguei, em Junho de 2020, a ir para o hospital a achar que estava a ter um ataque cardíaco. Nessa altura já tinha uns cinco gânglios a formarem-se no pescoço. Andei meses sem saber o que tinha e com dores horríveis. Entretanto meti baixa médica. Em consulta com a minha médica de família, esta pergunta-me o que é que havíamos de fazer em relação à

minha ansiedade. Eu, em negação, disse-lhe que estava bem, apesar de estar completamente depressiva, ansiosa e com ataques de pânico. Nisto, vou fazer uma ecografia e o médico diz-me que um dos gânglios tinha um aspecto que não estava a gostar muito. O que ouvi foi ‘tens cancro e vais morrer’. Nesse dia liguei à minha médica de família e reconheci que tínhamos de fazer algo para a ansiedade porque não conseguiria avançar sozinha. Tomei um antidepressivo muito leve durante seis meses, para me ajudar a controlar a ansiedade, enquanto a medicação para os gânglios não estava a fazer efeito. Nessa altura o meu marido disse-

-me para me despedir, que não me queria em stress e que eu estava a consumir tudo o que as pessoas que me diziam. Meti então a carta de despedimento em Agosto e três dias depois os gânglios desapareceram. Isto é a prova de que a nossa cabeça controla tudo e trouxe-me a uma busca muito intensiva sobre mim própria. Em que momento entram as figuras e os dioramas na sua vida?

No período da baixa médica estava a enlouquecer, sem saber o que fazer, até que a determinada altura aparece-me um vídeo no Youtube de um casal nórdico, que faz montes de projectos manuais e que

estava a fazer um Book Nook de Harry Potter. Harry Potter é muito especial para mim, tanto que este ano fui a Inglaterra fazer a tour toda, como que em jeito de conclusão da minha terapia. Quando vi o vídeo pensei imediatamente ‘eu tenho de fazer isto’.

Já tinha experiência no mundo dos trabalhos manuais e das artes?

Tinha. Fiz o meu primeiro 10.º ano em Artes e depois fui para música porque o curso não era bem para mim. A escola entretanto fechou e fui estudar Produção Audiovisual na ETIC. Desde então já trabalhei com vídeo, fotografia, design e produção de eventos. O meu percurso sempre foi praticamente ligado às artes, mas sempre tive a sensação de que estava incompleta. Então quando vi o vídeo, fui buscar a caixa que ainda tinha em casa com materiais do secundário e comecei a cortar cartões. Fui a algumas lojas comprar materiais, mandei vir outros pela internet e fiz a minha primeira peça sozinha em Agosto de 2020. Demorei quase o mês todo.

O que sentiu?

Nos momentos em que estava de x-acto na mão a esculpir coisas era como se o mundo parasse. Estava super zen. Comecei a ver que aquilo era super terapêutico para mim.

Mostrou a peça a alguém?

As únicas pessoas a quem mostrei foi à minha mãe, ao meu marido e à minha prima, que é super nerd. Como era a única pessoa que percebia o que eu estava a fazer, era a quem eu mostrava tudo.

E o que dizia a sua prima das peças?

Dizia-me que estavam excelentes e que tinha de mostrar às pessoas. E eu dizia que não, que estava a fazer aquilo para mim. Era um momento egoísta, só meu. Quando terminei a primeira peça, comecei logo a fazer a casa dos Weasleys, também do Harry Potter. E a minha prima continuava a insistir. E eu continuava a dizer que não. Era a primeira vez na minha vida que não estava a procurar fazer um negócio com algo. Como sempre fui muito empreendedora, foram raros os períodos em que trabalhei para um patrão. E mesmo nessas alturas

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Criativa e muito comunicativa, Catarina João adora fazer amigos. Planeia criar um podcast sobre saúde mental Maria Carolina Coelho DR

estava sempre muito independente. Sempre fui pró-activa, mas aquele era um momento terapêutico, só meu. Em Outubro, no meu aniversário, o meu marido viu que andava a namorar uma impressa 3D e ofereceu-ma. Entrei numa fase super criativa. Como queria experimentar montes de coisas, fiz as prendas de Natal que ofereci à família.

Foi aí que percebeu que esta era a sua paixão?

Percebi em Fevereiro de 2021, em que tive um acidente e cortei-me na mão esquerda. Estava sozinha em casa, consegui chamar uma amiga e fui para o hospital. Fui operada de urgência e fizeram-me a reconstrução do dedo. Bateu-me forte o facto de que se eu tivesse desmaiado podia ter morrido e percebi que não tinha feito nada do que queria fazer na vida. Estive seis anos na Faculdade de Direito e faltam-me quatro cadeiras para acabar o curso. Decidi que aquilo não era para mim, mas fui tirar o curso porque achava que tinha de ter um emprego. Ainda há aquele estigma de se querer ser artista, mas que se tem de tirar um curso para ser mais seguro. Fui super infeliz. A minha vida mudou quando acordei no recobro e a enfermeira me pergunta o que é que eu fazia. Eu respondi que era artista. No dia seguinte lembro-me de acordar e de ter tido uma sensação espectacular, apesar de ainda não saber se a minha mão ficaria funcional. Mas naquele momento tomei uma posição e decidi que eu é que iria definir a minha vida.

E como foi fazer a primeira peça pós-cirurgia?

Quando fui fazer a minha primeira peça pós-cirurgia, tive de pegar numa faca para esculpir a esponja com que trabalho e parecia que tinha Parkinson. Teve de ser o meu marido a pôr a mão dele por cima e a ajudar-me até conseguir. Demorei sete meses. Só trabalhava com uma mão. Já recuperei 90% da mobilidade. Isto tudo para dizer que foi um percurso muito atribulado. O que é curioso é que sou grata por tudo o que aconteceu.

Porquê?

Precisava de qualquer coisa que

fosse mesmo disruptiva. Sinto que estava adormecida e que não estava a viver o expoente máximo da vida. Isto foi o que a vida me deu para me ajudar. Acho que foi o período da minha vida em que eu mais chorei. Foram momentos muitos impactantes, que agora se reflectem na minha forma de estar no projecto. O que significa para si o processo de criar?

Eu faço porque tenho a necessidade urgente de criar. Só nos acontece quando estamos em harmonia com o que estamos a fazer. Vivo em paz com isso, porque percebi que é o meu processo e o meu caminho. Há muitas coisas na minha forma de estar que ‘não são normais’. Tenho quase a certeza de que estou diagnosticada com Transtorno de Défice de Atenção com Hiperactividade porque encaixo em 95% das características. Quero evitar tomar medicação, porque receio que me ‘normalize’, no sentido em que acho que a minha forma de estar e de criar também é uma consequência da minha forma mental. Por isso é que tenho a sede de estar sempre a fazer e de procurar coisas que me preencham.

Mas ainda há muitos tabus no que diz respeito às doenças mentais e no que diz respeito às artes. Quando as duas se juntam é um ‘cocktail molotov’. Tenho sentido que tenho desbravado caminho porque não tenho problemas em falar em público. Não tenho vergonha na cara. Não sou nada tímida, sou é introvertida. E quando é que decide tornar o projecto público?

Em Agosto de 2021. A Comic-Con anunciou, no Instagram, que o evento ia acontecer e lembrei-me que costuma haver um mercado para os artistas. Liguei à minha prima e muito timidamente perguntei-lhe se haveria de tentar ir. Ela respondeu-me logo ‘vamos, vamos fazer amigos’. Esta frase é uma das minhas frases-chave. Ela não tem noção do quão importante esta frase foi para mudar a minha vida. Quando ela me dá a validação e diz que vai comigo, é tudo para mim. Era impensável eu ir sozinha, expor as minhas coisas ao público, quando estava há um ano fechada ‘no buraco’, sozinha, a lidar com um turbilhão de emoções. E lá fomos. De Agosto até Dezembro, com a mão ainda a recuperar, fiz o máximo

de peças que consegui para levar.

Como correu?

Montei uma banca com umas vinte peças e levei montes de coisas inacabadas, para encher. Como adoro ver o processo dos outros, pensei que talvez houvessem pessoas que se iriam apaixonar pelo meu processo. Foi extraordinário. Passei quatro dias a falar. Não tive a banca sem ninguém uma vez que fosse. Só fui à Comic-Con mostrar as minhas coisas e, de repente, apercebo-me que estou a fazer a diferença. Ainda não atingi metade das coisas que quero, mas se fosse embora hoje, já levava um quentinho no coração.

Fez contactos por lá?

Conheci o João e a Ana, da Nerdy Core, em Coimbra, e é um casamento para a vida. Tanto que as minhas peças só existem lá. Não estão expostas em mais lado nenhum. Tudo por causa da sintomia que temos. Através deles tive o prazer de conhecer o Jorge Gabriel, que é um nerd de primeira. É um ser humano maravilhoso e do mais doce que pode haver. Tem sido uma verdadeira enxurrada de amor. E depois da Comic-Con? Comecei a ter montes de encomendas. Na Comic-Con distribui marcadores de livros, com o meu número. A partir daí, as coisas foram acontecendo. Não publicava nada nas redes sociais e comecei a partilhar. A certa altura falaram-me na Twitch, para começar a fazer uns directos. Actualmente é no Instagram e Twitch onde me encontram. Fez-se um grupo muito interessante de pessoas boas, que estão a procurar caminhos saudáveis e felizes. Depois, em Abril deste ano, convidaram-me para um evento de fãs do filme do Doctor Strange. Tive montes de pessoas a ver as minhas peças, incluindo o Nuno Markl, de quem sou super fã, e o Diogo Valsassina. O Nuno Markl partilhou um vídeo das minhas peças e no dia seguinte o meu Instagram explodiu. Também já conheci o Quimbé, outro ser extraordinário. Ter o privilégio de lidar com pessoas que desbravam caminho neste meio, que é duro, nem sei como descrever. Como é o processo de fazer as

figuras e dioramas?

Ao nível das figuras em miniatura, são impressas em resina, em 3D. Normalmente compro os ficheiros a artistas escultores e faço a respectiva impressão. Não faço eu a escultura 3D. Imprimo a figura e pinto-a. Trabalho em várias escalas diferentes. O que mais gosto de fazer é pintar dioramas. É o meu desafio, de pegar no momento favorito de alguém e recriar essa cena. É algo que me fascina.

Onde arranja os materiais?

Gosto de reaproveitar tudo. Tenho um quarto cheio de ‘tralha’. Gosto de ir caminhar a parques e ir buscar paus, ervas e pedras, por exemplo. Depois desinfecto e esterilizo tudo. Aproveito tudo o que é diferente, desde que não seja perecível. Uso muito material da área da construção. Gosto de dizer que o que reaproveito não é lixo, é arte em progresso. Dizem-me que os cenários ficam muito realistas. É normal porque uso coisas da natureza.

Existem algumas peças que não goste de fazer?

Não gosto de tudo o que tem a ver com terror explícito, como entranhas ou sangue a voar. Já tive pedidos, mas digo sempre que não vai acontecer porque detesto esse universo. Odeio palhaços, também. Tento encaminhar sempre para outro artista que faça. Não vou fazer a peça porque sei que não vou dar o meu melhor, até porque todas as peças levam um bocadinho de mim. Quando faço uma peça para um cliente ela tem de ir melhor do que se fosse para mim. Não vou nunca permitir que isto que faço hoje se transforme numa coisa má.

Quais os planos para o futuro?

Um dos planos é ir à Comic-Con este ano novamente. Vou participar no Rolisboa, que é uma espécie de concentração dedicada a jogos de tabuleiro. Tenho o calendário bloqueado, com encomendas até ao Natal. Estou a viver um período que nunca esperava. Tenho muitos planos na cabeça. Gostava de criar um podcast para falar abertamente sobre saúde mental. Outro dos meus objectivos, quando tiver um nome já com impacto, é formar um colectivo de artistas.

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NA ÁREA DE JOVENS DA LATI

Instituição setubalense quer gerar mudança a partir de uma juventude activa e consciente

Resposta social acompanha jovens do quinto ao 12.º ano de escolaridade nos tempos livres e é para muitos “uma segunda casa”. Este ano reuniu 80 jovens dos 10 aos 19 anos, de várias escolas da cidade

Criada em 2001, a Área de Jovens da LATI é uma resposta social indicada para o acompanhamento dos tempos livres de jovens do quinto ao 12.º ano de escolaridade. Este espaço é, segundo Vanda Monte, coordenadora pedagógica da valência de jovens da instituição, “uma segunda casa para os jovens, um lugar de afectos em que uma equipa multidisciplinar presta todo o apoio que os jovens e as famílias precisam”.

No Centro de Actividades de Tempos Livres - Jovens, estiveram, neste ano lectivo, 80 jovens, com idades entre os 10 e os 19 anos, que frequentam diversas escolas da cidade de Setúbal. “Assentamos a nossa intervenção nos pilares da educação não formal e privilegiamos a metodologia

de projecto e a aprendizagem entre pares. Temos em atenção os gostos, interesses e experiência pessoal de cada jovem, intervindo no desenvolvimento das suas competências pessoais e sociais”, refere.

Neste sentido, os projectos dinamizados têm “objectivos claros e essenciais ao crescimento destes jovens enquanto cidadãos conscientes e activos”. Todos os anos antigos utentes regressam à LATI para visitar a equipa

e partilhar com os jovens “conhecimentos adquiridos e não raras vezes memórias que guardam de momentos vividos neste espaço e creio que isso diz tudo. Voltamos sempre ao lugar onde fomos felizes”, remata.

Jovens reforçam importância de ter este espaço de partilha No ano lectivo 2021-2022, os jovens participaram em projectos que incidem na temática ambiental, através

do programa Eco-Escolas, educação para a sexualidade, educação financeira, literacia digital e gestão de emoções, entre outros. A O SETUBALENSE, partilham como foram as suas experiências nas mais variadas áreas e o que este projecto lhes traz, no domínio individual e colectivo.

Beatriz Soares, aluna da Escola D. João II, começa por partilhar o gosto por “defender as causas com que me identifico e considero importantes, como problemas relacionados com ambiente, discriminação e preconceitos”. De momento acompanha o projecto Eco-Escolas mas considera que “todos os projectos que realizamos são bastante divertidos, práticos, estimulantes e acessíveis para a maior parte dos jovens”, para depois acrescentar que “na LATI defendemos que os jovens têm um papel muito importante neste mundo e conseguimos mudar mentalidades.

Ao participarmos demonstramos a nossa preocupação e interesse, com muito gosto e entusiasmo, e promovemos um ambiente de partilha importante para cada um de nós e para a LATI enquanto instituição”.

Por sua vez, Vasco Sereno, de 16 anos, pratica Kravmaga e tem experiência na área musical. “A escola, a

família e os amigos” assumem a maior importância na sua vida. Na LATI, integra o clube de futebol e participa em debates sobre temas como os direitos humanos, o 25 de Abril e as Eco-Escolas. Poder aprender sobre temas actuais e contribuir com as suas ideias para o sucesso das actividades é a sua principal motivação para participar, sem esquecer a mais-valia de “ganhar mais conhecimento próprio, auto-confiança e independência nas actividades” e a nível colectivo “ajudarmo-nos mutuamente para ninguém ficar para trás”.

Para Beatriz Novais, que frequenta o curso de Humanidades e participa em projectos como o Eco-Escolas e os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, nesta participação activa, cativa-a “poder abrir os olhos para o mundo e aprender como melhorar a sociedade”.

Entender o outro é, segundo a jovem, “um bem essencial. Nós, jovens, devíamos ter mais conhecimento do que se passa à nossa volta e sobre como podemos futuramente ajudar”. No domínio pessoal, “faz-me crescer e saber como debater assuntos sérios que precisam da máxima atenção por parte de quem está a ouvir”, afirma. O ginásio da Área de Jovens da LATI é, para Dumitru Butnaru, o sítio onde pratica actividade física para estar em forma para a modalidade a que se dedica: o ténis de mesa.O jovem de 14 anos integra ainda o Projecto Eco-Escolas, as colónias de férias e os passeios realizados, destacando “um projecto, no âmbito da educação para a sexualidade, que nos dá a possibilidade de pensar, falar, ter sentido crítico e dar as nossas opiniões sobre temas como igualdade de género, multiculturalidade, direitos humanos e outros”.

Diana Lopes Santos, de 11 anos, frequentou o 6.º ano neste ano lectivo na Escola Luísa Todi e aponta as “dinâmicas de grupo e a realização de jogos cooperativos e colectivos” como as principais actividades de que faz parte quando está na LATI. “No exterior, fizemos rappel, uma experiência diferente da qual gostei muito e integrei-me nos grupos de teatro, dança e meditação, que me ajudaram a descontrair e a divertir-me muito. O que me motiva a participar é isso mesmo, ocupar o meu tempo livre com algo que me divirta”, conclui.

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Reportagem
Dumitru Butnaru e Beatriz Novais da Silva têm em comum a participação no programa Eco-Escolas Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografia) Vasco Sereno, Beatriz Soares e Diana Lopes dos Santos destacam a importância de agir em conjunto
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A marca de cabides ‘eco-friendly’ criada por um casal setubalense

Chama-se ‘ECOHanger’ e já começa a marcar presença nos roupeiros, junto dos tradicionais cabides de plástico ou arame. São cabides produzidos a partir de cartão reciclado e prometem ser uma forma de combate ao desperdício.

A ideia inovadora no país partiu do casal Joana Devesa e Miguel Silva que, em 2021, após serem pais de uma menina, começaram a pensar numa nova forma de dar sentido aos hábitos sustentáveis que já adoptavam.

“Em Portugal já começa a existir uma sensibilidade para a preocupação ambiental, mas reparei que muitos lojistas não tinham uma opção sustentável para pendurar a roupa, além dos cabides

de plástico”, conta o jovem setubalense. “Se fizermos uma pesquisa rápida, vemos que não existe nada no país”.

Com um curso de Design tirado na Universidade Lusíada e experiência nas áreas de design gráfico e industrial, Mi-

guel começou a desenhar protótipos de cabides assentes no conceito de economia circular e o resultado está à vista de todos.

Cabides totalmente reciclados, fabricados em mercado nacional, com uma espessura de três milímetros que se apresentam como uma alternativa “amiga do ambiente”.

Desde o lançamento oficial da marca, em Setembro do ano passado, não só as marcas locais começaram a adquirir o produto, como a ‘ECOHanger’ passou também a produzir para Lisboa e Porto. Ao todo, são cerca de 15 lojas que optaram por seguir valores sustentáveis.

Miguel admite ainda não ser possível viver do lucro do negócio, mas esse não parece ser o objectivo principal e o de-

signer está contente com o “feedback positivo” que tem recebido por parte dos clientes.

“É óbvio que os cabides de plástico e arame continuam a ser mais baratos e acessíveis, mas essa não é a nossa concorrência. Nós estamos a tentar diminuir a pegada ecológica, algo que, de outra forma, não é possível”, garante.

Convicto quanto à resistência do cartão reciclado, o empreendedor planeia, em breve, começar a desenhar expositores e, quem sabe, adquirir uma fábrica para controlar todo o processo de fabrico.

“Procuramos sempre fazer a diferença e este projecto tem um carinho muito especial porque, além de ser meu, é uma forma de tentar deixar este mundo melhor para a Olivia [filha]”, assume.

170 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
Reportagem
AMBIENTE
Miguel Silva e a mulher, Joana Devesa, querem construir um mundo melhor MÁRIO ROMÃO Mariana Pombo
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29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 171

Alcácer do Sal prepara-se para receber 250 jovens para Jornada Mundial da Juventude

Município alcacerense apoia a iniciativa, que tem lugar entre 1 e 6 de Agosto do próximo ano em Lisboa, com estadias na cidade e refeições

des locais e terão a oportunidade de participar em actividades lúdicas e recreativas dinamizadas pela autarquia a fim de enriquecer o programa destes jovens.

Madalena Mateus, de 16 anos, é a jovem coordenadora dos trabalhos que têm vindo a ser desenvolvidos em Alcácer do Sal, onde estuda e vive.

nada como também que recebesse jovens”.

Para levar a cabo este trabalho, “formámos um grupo de jovens. Tem de ser uma coisa vivida por todos os jovens e é uma sensação única poder vivê-la com jovens de todo o mundo.

São pessoas que estão a acreditar no mesmo que nós, entre todos temos a partilha da fé, de experiências da Igreja e no fundo daquilo em que acreditamos, que é em Deus”.

Em Alcácer do Sal já começaram os preparativos para acolher a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2023, que tem lugar em Lisboa entre os dias 1 e 6 de Agosto. A Câmara Municipal vai apoiar a iniciativa com estadias na cidade e refeições dirigidas a cerca de 250 jovens de várias nacionalidades que permanecerão no município alcacerense para a Jornada.

Nesta estadia, a decorrer entre os dias de 26 e 31 de Julho de 2023, poderão interagir com as comunida-

A O SETUBALENSE, começa por contar que integra os Escuteiros desde os cinco anos e mantém desde sempre “uma grande ligação à Igreja. Sempre fui também uma pessoa para quem a Igreja é tudo e considero-me uma pessoa muito comunicativa e que se dá muito bem com todos. Acho que foram esses os motivos chave para ser a jovem representante da Jornada”.

Nas palavras da jovem, Alcácer fará parte da JMJ 2023, com a preparação da pré-jornada, porque “para além de ser uma zona estratégica em termos geográficos, tem ainda muita história e muita cultura. Isso proporcionou não só que fizesse parte desta jor-

No entender de Madalena Mateus, “este grupo foi formado para fomentar os laços. Em Alcácer temos muitos jovens e é sempre bom trazer mais para a Igreja. Enquanto comité organizador paroquiano, estamos a fazer várias formações de aprendizagem do que é esta jornada, com partilhas de pessoas que já experienciaram esta vivência”.

No acolhimento aos jovens, “vamos dar a conhecer o melhor de Alcácer do Sal, partilhar o que temos. É uma honra partilhar o que de bom se faz, somos uma terra pequena, mas com muito para oferecer. Somos bons, estamos aqui. É isso que nos motiva e nos dá alegria e alento. Quando é mais difícil o caminho, focamo-nos sempre nas coisas melhores”.

Neste sentido, Madalena Mateus considera que existe “uma mensa-

gem importante para deixar a todos os jovens: cada um acredita naquilo que considera ser melhor para si e penso que não é motivo de receio ou dúvida dizer ‘eu acredito’. Não tenham medo de expôr a fé nem de acreditar”.

Embora em termos geográficos Alcácer do Sal faça parte do distrito de Setúbal, pertence à Diocese de Évora. Na organização deste momento, para além da Câmara Municipal, “sem a qual nada seria possível”, inclui-se ainda “toda a parte ligada à Igreja, as paróquias de Alcácer do Sal, a Arquidiocese de Évora e a Irmandade do Senhor dos Mártires”.

A JMJ é um evento religioso de grande dimensão, instituído por João Paulo II, em 1985, que reúne milhões de jovens oriundos de todo o mundo. A edição do próximo ano, para a qual são esperados mais de um milhão de jovens, terá lugar nos terrenos da margem do rio Tejo, ao norte do Parque das Nações, e será encerrada pelo Papa Francisco.

172 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
Reportagem
DE 26 A 31 DE JULHO DE 2023
Inês Antunes Malta
DR
Cidade, “zona estratégica geograficamente, com muita história e cultura”, terá a seu cargo a pré-jornada

VOLUNTARIADO

Jovens setubalenses criam jardim sustentável e vencem Prémio Montepio

“As Traseiras”

Distinguiu-se entre as 15 candidaturas nacionais e alcançou o primeiro lugar do ‘Prémio Voluntariado Jovem Montepio’

Quem atravessa o jardim do Bairro 2 de Abril, em Setúbal, não imagina que, em tempos, era espelho de um espaço abandonado, com sinais evidentes de degradação. Estrutura danificada, lixo amontoado e ervas daninhas a cobrir o chão fazem parte de um cenário que três jovens setubalenses quiseram desconstruir.

Desde o início de 2022 que o jardim tem uma “nova cara”, tudo graças ao esforço de Érica Oliveira, Carlos Santos e Tiago Paciência, jovens voluntários da Associação Cultural Novas Ideias- Setúbal Academy’ que, incentivados pelo presidente, Fernando Cruz, se propuseram a requalificar as traseiras da associação.

“As Traseiras” foi precisamente o nome que atribuíram ao projecto que criou o primeiro jardim sustentável do país inserido num bairro social. Tal feito concedeu-lhes a vitória da 11º Edição do ‘Prémio Voluntariado Jovem Montepio’, entre as 10 associações nacionais e os 15 projectos candidatos.

“Fiquei abismado quando soube que tínhamos ganho”, confessa Carlos num riso nervoso. Tem 17 anos e está a terminar o curso de jardinagem na Escola Profissional de Setúbal que lhe conferiu as bases necessárias para o projecto em que se aventurou.

Entre os dois colegas, a reacção é semelhante: “Nem queria acreditar quando o Fernando me contou a novidade”, lembra Tiago, de 20 anos. “Fiquei sem palavras. Sabia que existiam projectos muito bons a concorrer”, conta Érica, também com 20 anos de idade.

A dedicação dos voluntários foi salientada por Carlos Beato, membro do conselho de administração da Fundação Montepio, na cerimónia ocorrida em Abril, que premiou a

associação com 2.750 euros e cada um dos jovens com 250 euros.

“Felicitamos os jovens porque deram um sinal de que a juventude quer e pode ter um papel muito activo na melhoria das condições sociais e ambientais”, reforçou o responsável.

Ao longo de vários meses, os jovens disponibilizaram-se para recolher o lixo que preenchia o local e

participar no planeamento do novo espaço que, além de ponto de convívio, o presidente da associação setubalense acredita tratar-se de uma forma de educação ambiental.

“Este projecto é importante para a região, mas também para todo o país, pois é dos poucos locais com sobreiros urbanos e não podíamos deixar de salvaguardar a sua continuidade”, conta

E tal tem sido feito não existisse uma envolvência dos moradores na construção da nova horta que começa a dar sinais de vida no jardim. Já em Setembro está ainda prevista a edificação de um caminho sensorial e

o desenvolvimento

actividades lú-

a comunidade sénior e a população mais jovem do bairro. Quanto aos três vencedores, ambicionam continuar a participar em todas as fases do projecto e já têm um destino assegurado para o valor monetário conquistado: “Vou poupar”, assegura Carlos. “Pode dar jeito para o futuro”, complementa Érica.

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Fernando Cruz. “Queremos dar aos moradores a oportunidade de criarem uma relação com o ambiente e de conhecerem os problemas ambientais”. de dicas que unam Carlos Santos, Érica Oliveira, e Tiago Paciência, são os jovens voluntários da Associação Cultural Novas Ideias - Setúbal Academy que criaram o projecto vencedor Mariana Pombo (Texto) Mário Romão (Fotografia)

FÓRUM LOCAL DE JUVENTUDE DE SESIMBRA

Projecto “Zbigens” aposta em dinâmicas participativas colectivas para fazer acontecer

Destinado a jovens do concelho dos 16 aos 35 anos, o conceito visa criar um espaço de participação, mostrar caminhos e promover iniciativas “interessantes, novas e pertinentes”

Para que o trabalho da Câmara Municipal de Sesimbra no âmbito da juventude se adeque à realidade dos jovens do concelho, “é fundamental disponibilizar espaços e momentos que os encorajem a participar, a pronunciar-se sobre as suas ideias, aspirações, preferências, necessidades e preocupações, e que os impulsionem na construção daquilo que querem ver acontecer”. Com esta missão nasce o “Zbigens” - Fórum Local de Juventude, destinado a jovens do concelho de Sesimbra com idades compreendidas entre os 16 e os 35 anos.

João Proença, do Gabinete de Juventude do município sesimbrense, começa por lembrar que no início a ideia passava por “ter um momento onde a juventude se junta para conversar e construir algo mais participativo. Dinâmicas participativas geram depois uma maior receptividade por nascerem na cabeça de um colectivo que pensa em conjunto”.

Atendendo às regras definidas para criar um Conselho Municipal de Juventude, em Sesimbra só poderiam participar associações inscritas no Registo Nacional de Associações Juvenis (RNAJ), “o que equivale aos Escuteiros, ao Surf Clube de Sesimbra e às juventudes partidárias. Sentimos que não era representativo da nossa juventude. Quando olhamos para esta faixa etária, a esmagadora maioria está associada informalmente em bandas, grupos, tribos”, considera. “Decidimos, por isso, criar um novo conceito, porque se perguntarmos a um jovem de 18 anos se quer participar no fórum local de juventude e ele quiser provavelmente será uma pessoa pouco interessante”, continua.

Surge, a partir daqui, o conceito “Zbigens”, nome que “sentimos como o certo e irreverente o suficiente para marcar a atitude que queremos para o projecto. Usávamos a expressão para quando não sabíamos ou não nos conseguíamos lembrar do nome de algo e percebemos que podia ser interessante o facto de o nome não querer dizer absolutamente nada. Entre nós o nome acabou por ficar e as pessoas gostaram”.

Foi feito o convite à comunidade jovem com quem estabeleciam contactos e o primeiro encontro realizou-se, em 2017, na vila de Sesimbra. Nesse fórum, foi possível perceber a existência de “tribos muito diversificadas, desde os jovens universitários ao que fazem surf, os músicos, actores, artistas, entre outros” e aumentou ainda mais a vontade de reunir e criar em colectivo. De acordo com João Proença, “os projectos depen-

dem das pessoas e do que querem fazer, sem ideias pré-concebidas”. Em 2019, resultado da conjugação de todos estes factores, o Festival Zbigens deu vida e cor ao Parque Augusto Pólvora, na Maçã, sendo um dos principais marcos da actividade do grupo até ao momento.

Criar um novo grupo na Quinta do Conde é objectivo deste ano Maciel Santos, a participar nestes encontros desde o primeiro momento, destaca a manifestação de “vontades, experiências e necessidades sentidas pelos jovens do concelho” e por isso “considerámos importante formar um grupo mais pequeno para organizar ideias e uma das primeiras foi a criação do festival”. Fez parte desse grupo, a par de Sara Pereira, que integra igualmente a actual direcção do Grémio, em que pensaram, entre outros assuntos, sobre o formato do

evento e que temas devia erguer como bandeira, passando pela sustentabilidade, ambiente, inclusão social e inclusão pela mobilidade reduzida.

“O ‘Zbigens’ tem também esse papel de criar situações novas, colocar diferentes vertentes artísticas a interagir em palco. O feedback foi muito positivo e claro que nos dá vontade de continuar”, dizem, reforçando a importância de esclarecer que “Zbigens” não é apenas um festival: “é uma espécie de entidade jovem com vontade de promover iniciativas interessantes, novas e pertinentes, que ajudem a fazer acontecer coisas que não existem e das quais os jovens sentem necessidade”.

Este ano, os elementos do grupo voltaram a encontrar-se presencialmente. Nas palavras dos três, “estivemos a partir pedra sobre o que tínhamos vontade de fazer e este ano vamos avançar com a criação do

O lançamento do projecto na freguesia quintacondense está marcado para 17 e 18 de Setembro e espera-se “que sejam dois dias em que os jovens gostem de participar, conhecer novas pessoas e fiquem com vontade para trabalhar e alavancar coisas novas”. Uma ideia com a assinatura “Zbigens” pode concretizar-se de mil maneiras diferentes e no entender dos três “a Quinta do Conde está a precisar muito disso. Para além de alimentar perspectivas que possam existir, vamos levar este nosso espírito, que ajuda a abrir portas a novas formas de abordar acontecimentos que às vezes podem parecer grandes problemas, mas com criatividade e união é possível fazer algo brutal”.

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Reportagem
grupo ‘Zbigens’ na Quinta do Conde. São dinâmicas distintas, territórios diferentes e pessoas que do ponto de vista social e colectivo têm maturidades diferentes”. Em Março, o “Casamento do primo” deu o mote para o reencontro no Grémio - Clube Sesimbrense Inês Antunes Malta
DR
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Reportagem

Projecto de cidadania chama jovens a debater soluções para o concelho

Criada em 2003, esta iniciativa tem-se afirmado no panorama nacional devido às suas características “particulares e inovadoras”. Todos os participantes fazem “balanço positivo”

Com o objectivo de promover a cidadania entre os jovens, a Assembleia Municipal de Jovens (AMJ) de Sesimbra reúne todos os estudantes do 3.º ciclo do ensino básico dos cinco agrupamentos de escolas do município para “discutir o presente, intervir nas decisões e participar activamente

nas opções de solução que entendem que melhor servem os interesses do concelho onde estudam, vivem e se formam para a vida”.

O projecto, assumido pela Assembleia Municipal de Sesimbra, nasceu em 2003 e desde então já envolveu mais de 700 jovens e cerca de 20 professores. Tem vindo a afirmar-se no panorama nacional, tendo em conta as suas “particularidades e o seu carácter inovador”.

A AMJ, que completou este ano as suas 19 edições, é “participada, conduzida e dirigida por jovens, desde a constituição das bancadas escolares que representam cada escola e apresentam situações-problema que enriquecem o debate de ideias na procura das melhores soluções às questões colocadas, à eleição dos líderes e direcção dos trabalhos”.

João Narciso, presidente da Assembleia Municipal de Sesimbra, começa por contar que o projecto

surge “por iniciativa da coordenadora da Comissão de Educação da altura, Odete Graça” e a intenção é “chamar estes jovens ao exercício da cidadania logo desde cedo porque quanto mais cedo melhor”.

Nas suas palavras, “muitas vezes os projectos caem porque não há condições para continuar. Neste caso importa referir, e é a mais pura das verdades, que este projecto não tem condições para deixar de existir”.

Para 2023, ano em que se comemoram os 20 anos de Assembleia Municipal de Jovens, existe a possibilidade de que esta integre as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.

“A 4 de Maio, feriado municipal, foi lançado o repto a Odete Graça para que fosse coordenadora da Comissão Organizadora dos 50 anos do 25 de Abril, em 2024. De imediato teve a ideia de que as comemorações se iniciavam a 25 de Abril de 2023. Tendo em conta que a nossa sessão DR

costuma realizar-se em Maio, podemos ter aqui uma participação neste programa”, revela.

Envolvimento da comunidade escolar acontece em todos os momentos Nas palavras de Soraia Dragão, presidente da Assembleia Municipal de Jovens na mesa desta 19.ª edição e aluna da Escola Básica 2,3/S Michel Giacometti, “a AMJ permite a aproximação ao poder local e à forma como funcionam os órgãos autárquicos e isso vai-nos fazer crescer como cidadãos. Vamos levar estes ensinamentos para o futuro”.

“Nos AMJProjectos, os alunos pensam num projecto para a sua escola e é muito importante para eles conseguirem materializar algo, a partir do financiamento de mil euros que é atribuído pela Câmara Municipal a cada agrupamento. Conseguem ver algo feito e sentir-se parte integrante daquela decisão”, refere Maria João Pinto, professora de História e Cidadania na Escola Básica e Secundária Michel Giacometti, para quem faz “todo o sentido este tipo de projecto, esta proximidade entre a própria comunidade escolar e também a ligação entre o poder local e as escolas”, sobretudo por perceber “que os jovens desconhecem a forma como somos governados e terem esta consciência da importância do poder político fá-los mais ricos e conhecedores da realidade”.

Elisabete Luís, professora na Escola Básica Integrada do Agrupamento de Escolas da Quinta do Conde, está no projecto há 20 anos e considera que este “acaba por ser uma parceria entre todas as escolas do concelho e a Assembleia Municipal”. Tem sido “uma valência muito grande” e o mais importante para os alunos é “partilharem as suas ideias sobre o concelho e debruçarem-se sobre temáticas que precisam de ser resolvidas, dando-lhes competências e tornando-os mais confiantes”.

Para a professora Ana Pereira, do Agrupamento de Escolas da Boa Água, “é dos projectos que mais me alicia e deixa feliz, permite que estas crianças tenham uma consciência cívica real sobre a sua localidade e o que podem fazer. Há um pragmatismo nas propostas e uma realidade

no que fazem que é delicioso ver”. No seu ponto de vista, não existem “pontos negativos” nesta iniciativa, na qual participa há seis anos, e “gostava até que fosse replicada. Está muito bem em Sesimbra, mas é tão fantástico que outros municípios deviam inspirar-se”.

Por sua vez, Maria João Páscoa, da Escola Navegador Rodrigues Soromenho, integra o projecto há oito anos e diz ter “vestido a camisola” desde o primeiro momento, considerando que devia ser estendido a mais municípios este “exercício de cidadania fantástico para os nossos jovens e uma mais-valia para as escolas do concelho”.

Professor na mesma escola é Carlos Zacarias, que considera uma vantagem “que os jovens percebam a importância do trabalho em política, ainda mais de proximidade. Este é mesmo um projecto de cidadania pura, que traz o estar no lugar do outro, o reconhecer o outro como semelhante e a paz para a comunidade escolar do concelho. Quem criou, Odete Graça, teve uma visão extraordinária”.

Também a realização de visitas de estudo, o modelo de eleição da mesa da AMJ e o contacto com os eleitos locais, através da acção “Eleito por um dia”, têm permitido aos jovens conhecer de perto a vida do poder local. Ariana Barbosa, da Boa Água, é um dos exemplos. A participar no projecto há três anos, destaca o Dia do Eleito como “um daqueles dias em que comecei a ter uma visão diferente sobre como funcionavam as coisas no nosso concelho” e a AMJ como o sítio “onde trabalhamos todos juntos e que permite conhecermo-nos melhor”.

No que diz respeito ao futuro, a professora Inácia Godinho, da Escola Secundária de Sampaio, com dois anos de experiência na AMJ, deseja que tudo fique “nos conformes para ter uma visão ainda mais enriquecedora deste projecto” e tem uma sugestão. “Debater-me-ia pelo alargamento deste projecto ao secundário. Adoro este projecto, acho que é importantíssimo e em alunos com idades muito próximas de votação era um aspecto a considerar. O básico e o secundário juntos podiam até ser uma mais-valia”, termina.

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A 19.ª edição, realizada em Maio, teve como tema norteador “Sesimbra na nova era” Inês Antunes Malta
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Reportagem

VALE DA AMOREIRA

Centro de Experimentação Artística promove participação activa dos mais jovens

Equipamento quer constituir-se como “pólo estruturante na intervenção social e cultural”

elementos da comunidade. É esse o objectivo central deste espaço, envolver a comunidade, fazer das pessoas que aqui vêm os próprios intervenientes da acção”.

O Centro de Experimentação Artística (CEA) do Vale da Amoreira nasce de uma intervenção comunitária na freguesia, no âmbito da Operação de Qualificação e Reinserção Urbana de Bairros Críticos. Inaugurado a 25 de Abril de 2013, o equipamento, destinado à experimentação, formação e apresentação artística, assume “grande importância” no local onde se insere por ser “uma forma de o bairro se exprimir na arte” e um espaço que promove a educação e participação activa dos mais jovens do concelho.

“Este é um espaço de experimentação e aprendizagem, potenciador de desenvolvimento das comunidades, contribuindo para a igualdade de oportunidades e para a democratização no acesso à informação, ao conhecimento e às expressões artísticas”, começa por dizer Sara Silva, vereadora com o pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Moita.

Pretende-se, assim, e atendendo à “riqueza cultural do território onde está inserido”, que o centro “seja um pólo estruturante na intervenção social e cultural, a funcionar como um catalisador das dinâmicas culturais e educativas, tendo como premissas a valorização da diversidade, interculturalidade e integração social”.

No âmbito do trabalho que tem vindo a ser realizado no espaço, Anabela Regula, chefe da Divisão da Cultura, Património e História Local da autarquia moitense, destaca o trabalho do encenador Rui Catalão, com a peça “Ao abrigo da distância”, em co-produção com o município, que “partiu da recolha de histórias de vida aqui do concelho”.

Também a residência artística do projecto “Meio no meio”, a decorrer no CEA, tem “uma dimensão social associada a toda a experimentação artística e permitiu a inclusão de três

A aposta é, assim, feita na fruição artística e na participação activa, que transformarão os mais jovens em “cidadãos mais conscientes, com participação cívica mais activa, com um sentido de cidadania diferente”. Nas palavras de Anabela Regula, “a interculturalidade do Vale da Amoreira tem produzido uma enorme riqueza. Apesar das diferentes realidades do concelho da Moita, acreditamos que através da arte é possível fazer esta mistura, conseguir esta aceitação e promover a coesão territorial”.

Neste sentido, o centro “vem precisamente permitir que as pessoas possam explorar o seu potencial, desenvolver e cruzar vivências com

outras artes, culturas e etnias inclusivamente”. Até ao final do ano, acolhe diversas iniciativas, sobretudo residências artísticas, formações de capacitação artística, sem esquecer o estúdio comunitário, utilizado pelos jovens para gravar a sua música, e a ligação com a Biblioteca do Vale da Amoreira e o projecto “Inclusão pela arte”, que neste mês de Julho e no próximo mês de Agosto visa ocupar os tempos livres dos jovens “e possivelmente até explorar algum potencial que têm guardado e não sabem”.

“É fulcral criar oportunidades para as crianças do bairro”

O relevo deste equipamento cultural para o território é igualmente reforçado por Bárbara Gonçalves Dias, presidente da União das Freguesias da Baixa da Banheira e Vale da Amoreira. “É uma forma de o bairro se exprimir na

arte e é único, singular e ímpar. Muitas pessoas, até de fora, recorrem a este espaço para fazer a sua arte e é muito importante termos este tipo de singularidades que também possam atrair pessoas de fora para o bairro”, refere, considerando que este é “mais do que casas e paredes, arte, cultura, diversidade cultural”.

De acordo com a edil, importa ainda ter em conta que o “Centro de Experimentação Artística, o Campo Municipal e a Biblioteca são os únicos equipamentos que o Vale da Amoreira tem. É fulcral criar oportunidades para as crianças do bairro experimentarem novas formas de se entreterem. Depois da escola, aqui não há creches nem infantários e o centro tem também este ponto educativo”.

Para além disso, “acaba por ser uma espécie de abrigo para que os jovens consigam através da sua arte se expri-

mir e através da arte desenvolvemos a nossa sensibilidade e criatividade. Os equipamentos disponíveis têm o poder de mudar a vida da comunidade, pelo que também o CEA tem este poder transformador”.

Testemunha de todas estas transformações é Jorge Alexandre Centeno, por todos conhecido como “Bita”, vigilante no Centro de Experimentação Artística do Vale da Amoreira desde que este abriu portas. “Temos grandes artistas que vêm aqui ensaiar e este espaço é sem dúvida o ex-libris para as pessoas do bairro, que infelizmente não têm outros espaços. Os mais novos sentem-se acarinhados aqui, é como se estivessem em família, e cuidam do espaço”, partilha. “Deixam sempre tudo impecável, por este sentido de pertença que têm vindo a cultivar. Esta é a casa deles”, remata.

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Autarquias e equipa do centro trabalham para que os jovens sejam “cidadãos mais conscientes e participativos” Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografia)
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Reportagem

AO LONGO DE OITO EDIÇÕES

Festival Liberdade constrói-se pela e para a juventude da região de Setúbal

O certame, organizado pela AMRS, respectivos municípios e o movimento associativo juvenil, define-se como “o festival mais jovem da região e do país”

O Festival Liberdade, projecto regional assumido pela Associação de Municípios da Região de Setúbal (AMRS) e os municípios seus associados, em parceria com o movimento associativo juvenil da região de Setúbal, pretende criar espaços de discussão e participação de jovens, “numa visão de esperança e confiança na capacidade transformadora de que a juventude é natural portadora”.

Em nome individual, associações juvenis e de grupos informais de jovens, o festival, espaço de cultura e convívio faz-se das ideias e das iniciativas da juventude. No presente, o Festival Liberdade é, de acordo com a AMRS, “um projecto icónico que extravasa em muito as definições de um festival de música. Representa um espaço único de expressão para os jovens da nossa região, que se envolvem do princípio ao fim, construindo, participando, usufruindo. É feito de ideias e iniciativas da juventude, nas mais variadas áreas”.

A organização deste festival é, assim, realizada através de um Fórum Regional do Movimento Associativo Juvenil, composto pela AMRS, os seus municípios associados e o Movimento Associativo Juvenil, “a quem compete abordar as linhas gerais do Festival Liberdade, assumindo os valores de Abril e da Liberdade, procurando que nele se reflictam a expressão e manifestação da dinâmica, da criatividade, da irreverência e do trabalho do movimento juvenil e associativo protagonizado na região de Setúbal”.

“Uma experiência sem igual no país”

Preparar e planificar o programa do Festival Liberdade é competência do comité organizador, no qual

se integram a AMRS, os municípios associados e os representantes do movimento associativo da região. Simão Calixto, presidente da Associação Projecto Ruído, participa no festival desde 2015 e este ano, com a edição a realizar-se entre os dias 1 e 2 de Julho na Quinta do Conde, não foi excepção.

“Na associação, temos participado de muitas formas, incluindo no comité organizador e fazemos sempre questão de ser também impulsionadores do encontro do movimento associativo”, diz. “Os encontros do movimento associativo sempre foram muito enriquecedores para mim enquanto dirigente, na perspectiva de troca de experiências e conhecer outras realidades que depois enriquecem a nossa”, adianta, considerando que “disponibilizar espaços colectivos de troca de experiências enriquece o trabalho de todos”.

No seu entender, este festival tem “a maior importância” e mostra “o que de melhor é feito pela juventude na região e acho que é mesmo uma experiência sem igual no país, pelo menos não conheço outra”.

A companhia Sui Generis, composta por Lara Matos, Mariana Varela e Tiago Filipe, estreou-se este ano no Festival Liberdade, com o objectivo de “dar a conhecer o trabalho realizado até agora” e “ficar a conhecer outros artistas e estruturas do distrito, que partilhem os nossos interesses, desafios e visões, com os quais possa ser possível criar uma série de sinergias para que no futuro a arte floresça ainda mais esplendorosa no distrito”.

Para a estrutura artística da Quinta do Conde, “é muito importante trabalhar numa relação de grande proximidade. Sem este encontro o teatro perde a sua essência” e marcar presença no festival foi “mais um passo

nessa direcção. Permitiu-nos chegar aos jovens e abriu possibilidade para estes mostrarem os seus projectos e partilharem experiências. Na maioria das vezes é difícil para a juventude encontrar um espaço que a acolha e permita divulgar junto do público o seu trabalho”.

Uma estreia neste encontro foi igualmente a All aBoard, associação que tem como finalidade dar oportunidade a todos, sem excepção, de praticar a modalidade de skate, independentemente do género, idade, condição física, social e/ou financeira. Com um stand, enquanto parte do movimento associativo, na iniciativa “Arte em liberdade”, e também na vertente da dinamização desportiva, concretizou a sua participação em várias frentes, sem esquecer o facto de ter integrado o comité organizador.

“Tivemos uma acção para todos os visitantes do festival que quisessem

experimentar o skate connosco. Foi a nossa primeira vez neste festival e num festival e tem sido interessante conhecer todas as pessoas envolvidas, não só dos municípios, mas também de outros grupos e associações”, começa por dizer Filipa Bento, da equipa All aBoard, de que também faz parte Rita Santos, para quem “tem sido importante e engraçado poder partilhar ideias e ver como é que podemos crescer em conjunto”.

Também o concelho de Palmela se faz habitualmente representar neste encontro juvenil, de forma colectiva, através do programa “Março a partir”. Nas palavras de Daniel Silva, presidente da Associação Juvenil Odisseia, do Pinhal Novo, o festival “permite conhecer outras associações de que às vezes estamos tão perto e, no entanto, não sabemos que existem. É um ponto de ligação e conhecimento”.

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A edição deste ano, que teve lugar no início deste mês, realizou-se na Quinta do Conde, em Sesimbra Inês Antunes Malta
O SETUBALENSE
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Saudações

167 anos a informar e formar cidadania Álvaro Manuel Balseiro Amaro

Quando olhamos para o território, percebemos as profundas mudanças ocorridas nas últimas décadas, em particular, desde o 25 de Abril de 1974. E, num mundo em rápida transformação, é difícil transmitir a amplitude dessas mudanças à população mais jovem e partilhar memórias de um tempo em que a música, os serviços públicos ou a informação não estavam à distância de um clique.

O que dizer, então, dos 167 anos de vida do jornal O SETUBALENSE?

As suas páginas longevas guardam testemunho de mais de século e meio de história e memória desta região, do seu dinamismo, das suas belezas e desafios, dos rostos e das lutas que foram esculpindo a sua face. Com enorme capacidade de adaptação e resiliência, O Setubalense honra o universo da comunicação social regional no país, sublinhando o seu

papel incontornável no processo de desenvolvimento sustentável e afirmação democrática, bem como a responsabilidade de formar e informar, com rigor, verdade e pluralismo, para uma cidadania plena e participada.

Saúdo a equipa d’O SETUBALENSE pelo 167.º aniversário, com votos de muitos e bons motivos para continuar a partilhar estórias de prosperidade e sucesso desta região ímpar.

Presidente da Câmara Municipal de Palmela

Uma imprensa livre é tão importante como a justiça

Num Estado de Direito democrático, uma imprensa livre, esclarecedora, honesta e objetiva é uma exigência da própria cidadania e do pleno exercício dos direitos, tão importante como o direito de acesso à justiça.

São ambos fruto de um modelo constitucional iniciado no séc. XIX, desenvolvido ao longo do século passado e em permanente evolução neste século.

Os interesses e as preocupações locais são, muitas vezes, esquecidos ou menorizados pelos denominados jornais nacionais, tratados de forma secundária e, não raras vezes, procurando manipular a opinião dos leitores em benefício dos interesses económicos das grandes tiragens ou outros interesses menos claros.

Ao contrário, O SETUBALENSE, enquanto órgão de imprensa regional e local assumiu o dever ético de informar e formar os seus leitores de uma forma coerente, rigorosa, não manipulando opiniões, cumprindo as regras de ética do estatuto do jornalista, sem esquecer o papel que

desempenha de ligação à diáspora desta região, ou seja, àqueles que estão afastados dos seus hábitos, culturas, valores e tradições.

Celebrar os 167 anos d’O SETUBALENSE é também homenagear a visão de João Carlos d’Almeida Carvalho que, pouco tempo depois da fundação do jornal, foi alvo de um atentado perpetrado por quem a liberdade de imprensa era um incómodo.

Pela importância deste legado e da sua continuidade, o Tribunal Judicial da Comarca de Setúbal associa-se a esta celebração e à defesa da liberdade de uma imprensa esclarecedora e objetiva.

Juiz Presidente da Comarca de Setúbal

Informação do Litoral Alentejano séria e isenta Joaquim Serrão

O Jornal O SETUBALENSE, sempre foi e continua a ser, para nós, sinienses, um importante meio de comunicação regional com um estatuto editorial sustentado numa informação escrita, onde a tradição e a história são pontos fortes na prática de um jornalismo de proximidade, independente dos poderes político, religioso e económico.

Um jornal que, com os seus profissionais e colaboradores, tem sabido adaptar-se aos desafios da modernidade, que se tem reinventado num editorial que continua a manter-nos informados das principais noticias da região, do País e do Mundo e, acima de tudo uma informação esclarecida, séria, isenta e profissional dos quatro concelhos do Litoral Alentejano, onde se inclui naturalmente Sines.

O Executivo da Junta de Fregue-

sia de Sines, parabeniza o mais antigo periódico do País pelos seus 167 anos e deseja que, durante muitos anos, venha a ser a companhia de todos os que diariamente o lêem, fazendo da Península de Setúbal e do Litoral Alentejano um povo mais informado e um povo informado é consciente das suas escolhas, mais capaz e mais livre.

Uma âncora para o movimento associativo Manuel Fernandes

Contributo inestimável para o distrito Luís Leitão

A União dos Sindicatos de Setúbal/ CGTP-IN, saúda os 167 anos do jornal O SETUBALENSE, desejando que os próximos anos se reflitam na continuidade da informação, elevando a luta dos trabalhadores e das populações do distrito, dando desta forma um contributo inestimável para engradecer o distrito de Setúbal.

Os tempos que se aproximam serão desafiantes na luta pela melhoria das condições de vida dos trabalhadores e dos reformados, pelo aumento dos seus salários e reformas, pelo combate ao aumento do custo de vida e pela garantia de um Serviço Nacional de Saúde, público, universal e gratuito, por uma Educação pública inclusiva e de qualidade, e pela melhoria dos direitos e das condições de trabalho.

Perante todos estes desafios que os trabalhadores e população do distrito irão travar nos próximos anos, esperamos poder contar com o Jornal O SETUBALENSE para dar voz a quem trabalha e trabalhou.

Muitos parabéns e um grande bem-haja, ao Jornal O SETUBALENSE, que contribua para dar voz ao distrito.

Coordenador da USS/CGTP-IN

No 167º aniversário do jornal O SETUBALENSE, a UGT Setúbal, felicita todos os profissionais que fazem deste importante diário uma referência informativa na voz de uma região. A todos o nosso muitíssimo obrigado pela dedicação.

O aniversário de mais um ano que agora festejamos fizeram d’O SETUBALENSE uma âncora para o movimento associativo; um espaço para o debate político; uma evidencia na cultura regional e um manifesto da identidade sadina. O SETUBALENSE ganhou maturidade e consolidou uma identidade de leitura obrigatória. Saudamos, pois, os 167 anos de obra jornalística independente e plural, ao serviço de uma região e do país.

A UGT Setúbal dá assim os parabéns a toda a equipa e ao seu director Francisco Alves Rito desejando continuação do bom trabalho.

Presidente da UGT Setúbal

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Saudações

Uma resiliência pouco comum Fernando Caria

Na história de qualquer organização poder assinalar 167 anos de existência é uma meta que não é para todos. Fazê-lo numa área da sociedade, a comunicação social, onde os constantes avanços tecnológicos colocam à prova a capacidade de adaptação e de resiliência é, ainda, menos comum.

Vem isto, naturalmente, a propósito da celebração de mais um aniversário d’O SETUBALENSE. São quase dois séculos de existência, de serviço à honrada missão de informar os cidadãos, com sentido de responsabilidade, rigor, independência, dando um contributo precioso para a visibilidade daqueles e daquilo que acontece na nossa região, concelho e freguesia.

Seguramente que têm sido muitos os obstáculos, as dificuldades, mas também as vitórias e os sucessos. Um passado longo e recheado de história, de um jornal que conti-

nua a ser um referencial no presente e que, acreditamos convictamente, está preparado para continuar a projectar o seu futuro.

Nunca será de mais enaltecer a importância de órgãos de comunicação social livres e independentes para a saúde da nossa democracia. Por ocasião do seu 167.º aniversário deixamos votos de sucesso para o futuro a toda a equipa d’O SETUBALENSE – Diário da Região.

Presidente da Junta da União das Freguesias de Montijo e Afonsoeiro

167 anos ao serviço da liberdade de informação

Em Portugal, certamente, existirá um número restrito de títulos editorais que podem afirmar uma longevidade tão expressiva como O SETUBALENSE. São já 167 anos ao serviço de um dos mais nobres valores da democracia: a liberdade de informação e de expressão.

Uma longevidade que é celebrada, olhando para o passado, enaltecendo aqueles que durante quase dois séculos têm construindo o caminho d’O SETUBALENSE; reconhecendo aqueles que, no presente, afirmam diariamente os pergaminhos do rigor e da isenção jornalística e contribuem para a divulgação da região; mas também uma longevidade que é celebrada com os olhos no futuro.

Quis, e muito bem, a equipa de O SETUBALENSE que este fosse um aniversário marcado pela comemoração da esperança, do optimismo e da confiança. Fê-lo dando voz às jovens promessas da região, em

várias áreas da nossa sociedade, demonstrando que importa celebrar o passado, mas sobretudo dar projecção aqueles que, com garra e determinação, são as sementes do nosso futuro.

Por esta escolha arrojada, mas sobretudo pelos 167 anos d’O SETUBALENSE quero expressar o nosso reconhecimento público por este longo e importante percurso e deixar votos de sucesso ao jornal e a toda a sua equipa.

Presidente da Câmara Municipal de Alcochete

Contributo para cidadania e democracia local Nuno Canta

Relatando as vivências e os acontecimentos do nosso concelho e da nossa comunidade, em 167 anos de existência, O SETUBALENSE tem contribuído afincadamente para a construção da cidadania e da democracia local.

Num período de crise económica provocada pela guerra na Europa, que infelizmente vivemos e que tudo afectou, incluindo a comunicação social, queremos saudar a acção informativa deste órgão de comunicação social, em prol do enriquecimento sociocultural algo que merece ser enaltecido.

Neste aniversário agradecemos o

trabalho diário a favor da liberdade e da democracia. Desejando ao Setubalense, à sua direcção, trabalhadores e colaboradores, votos de sucesso para o futuro.

Presidente da Câmara Municipal do Montijo

Um marco assinalável Bárbara Dias

No mês em que se celebram os 167 anos de existência de O SETUBALENSE, a União de Freguesias da Baixa da Banheira e Vale da Amoreira, saúda, na pessoa do seu director, todos os colaboradores deste título. Celebrar 167 anos é um marco assinalável, sobretudo se pensarmos nas debilidades crónicas que em Portugal os meios de comunicação tendem a atravessar.

Porque vivemos tempos de radicais mudanças na forma como comunicamos, no fluxo da informação mais imediatista, onde cada um de nós se arvora por vezes em dono da informação e da opinião, é necessário reafirmar que, no edifício social que vamos erguendo, o papel da imprensa tradicional é inalienável.

Porque o contraditório é necessário, porque informar não é apenas produzir texto ou imagem, requer

profissionalismo e regras de factualidade que tantas vezes vemos atropeladas.

Parabéns, por isso, a quem resiste, a quem se adapta e evolui para as formas modernas de comunicação. Obrigado, também por testemunharem este passar do tempo, de forma isenta e profissional.

Presidente da União de Freguesias da Baixa da Banheira e Vale da Amoreira

Informação coerente, isenta e rigorosa Carlos Albino

Referência da informação regional, O SETUBALENSE é mais do que um mero meio de comunicação. É, para muitos, companhia fiel dia após dia, na certeza de uma informação coerente, isenta e rigorosa. 167 anos de existência são a prova mais que evidente do esforço e dedicação de toda uma equipa, sobretudo nos últimos anos, em manter vivo um projecto jornalístico com qualidade. Muitos parabéns a todos e desejos de continuação de um excelente trabalho.

Presidente da Câmara Municipal da Moita

A imprensa regional é um privilégio Artur Varandas

Páginas

que incluem o

Barreiro

Forum Barreiro

O Forum Barreiro deseja ao SETUBALENSE as maiores Felicidades pelos seus 167 anos de existência.

Não quisemos deixar de assinalar esta data juntamente com os barreirenses e reforçar que estamos cada vez mais presentes e envolvidos na história da cidade do Bar-

reiro, uma das cidades presentes e representadas nas vossas páginas todas as semanas e reforçarmos mais uma vez a nossa presença constante no seio da vida social, cultural e desportiva e educacional da cidade.

Os nossos parabéns!

Não é fácil, nos dias que correm, manter uma redacção a trabalhar em permanência e com publicações diárias. É de enorme importância o esforço que O SETUBALENSE faz para manter a nossa região informada e com o cuidado em não esquecer todas as freguesias, fazendo chegar as notícias locais de forma credível e objetiva. Para todos os que trabalham e colaboram de alguma forma com O SETUBALENSE, Parabéns pelos 167 Anos!

Presidente da Junta de Freguesia de Alhos Vedros

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Saudações

Exemplo de trabalho, persistência e visão de futuro Frederico Rosa

As minhas sinceras felicitações à equipa do SETUBALENSE! São 167 anos de história que nos enchem de orgulho.

O SETUBALENSE tem apresentado ao País e ao mundo o trabalho do Poder Local e das entidades culturais, sociais e desportivas da região, com a qualidade que já nos habituou, formando uma opinião pública crítica e activamente interveniente na sociedade contemporânea.

Sendo o Jornal mais antigo de Portugal continental é, actualmente, um exemplo de trabalho, persistência e

de visão de futuro e, por isso, merece todo o meu respeito.

Parabéns! Presidente da Câmara Municipal do Barreiro

Comunicação com valor e princípios

Hugo Almeida e Sandra Almeida

Felicitamos O SETUBALENSE, nesta sua data comemorativa e longínqua,167 anos de mérito.

Fazem um excelente trabalho. Não são apenas um meio de comunicação local, são o meio de comunicação de valor e princípios.

Temos o dever de apoiar e acompanhar este projecto neste seu percurso de vida e de serviço prestado a toda a população.

Somos parceiros de anos com grande satisfação e pretendemos continuar a apoiar não só o jornal,

mas também a equipa exemplar que o representa.

Um bem de valor incalculável André Martins

O SETUBALENSE é um dos mais antigos jornais portugueses em publicação. Tal só pode resultar da resiliência dos que, ao longo dos últimos 167 anos, nunca desistiram de ter em Setúbal e a servir toda a região um órgão de comunicação social que relate o que por aqui acontece e refl icta sobre o que é este espaço feito de muitas e diversas realidades. Um relato e reflexão que é feito, no dia-a-dia, a propósito da vida social, política e económica que, graças à longevidade do jornal, nos permite fazer, sempre que necessário, uma mais apurada análise histórica dos caminhos que nos conduziram ao que somos hoje. Esse é um bem de valor incalculável que temos de saudar, mesmo que conheçamos os altos e baixos que o jornal, naturalmente, teve ao longo

de todos estes anos. Hoje, temos também de felicitar a coragem de fazer de “O Setubalense” um jornal diário, depois de décadas em que se publicou como trissemanário. Essa é uma felicitação que deve ser endereçada ao actual director, Francisco Rito, que, com passos cautelosos, tem vindo a (re)construir este importante património da nossa região que é O SETUBALENSE.

Presidente da Câmara Municipal de Setúbal

167 anos a informar e a comunicar

Rui Pedro Pereira

Parabéns ao O SETUBALENSE por 167 anos a comunicar e a informar. Nós, barreirenses, agradecemos e reconhecemos o mérito do vosso trabalho, que nos permite estar informados sobre o que se passa no distrito.

Intermarché Moita

O jornal da comunidade Adão Teixeira

Parabéns a O SETUBALENSE pelos seus 167 anos.

Obrigado por mais um ano de participação no nosso dia-a-dia e por esta colaboração que une a Petoutlet ao vosso jornal nestes anos. Como anunciantes, agradecemos pelas boas oportunidades de termos a possibilidade de dar a conhecer aos leitores a nossa missão de ajudar a reforçar a relação entre o tutor e o seu animal, providenciando tudo o que os animais de estimação precisam e disponibilizando os produtos mais inovadores do mercado, com

boa qualidade e a preços acessíveis sempre com um atendimento personalizado e serviços de alta qualidade.

Que o jornal continue a levar informação, esclarecendo dúvidas para que cada vez mais pessoas tenham o prazer de desfrutar e participar através deste meio de interacção que o vosso jornal disponibiliza. O jornal da comunidade que respeita, valoriza e atende as necessidades dos seus leitores, sempre com muito profissionalismo.

Os maiores votos de sucesso. Petoutlet

O SETUBALENSE é um jornal com história e que faz parte da história: pela sua já longa idade conheceu o nosso Barreiro da última monarquia, da Primeira República, do Estado Novo, do pós 25 de abril e o Barreiro dos nossos dias.

Pelas suas páginas passaram momentos marcantes da vida da nossa cidade: das marcas do desenvolvimento da indústria do século passado, bem como o empenho e concretização na resolução do passivo ambiental que originaram e uma nova expressão de cidade verde.

O Barreiro agradece a O SETUBALENSE a ampla divulgação que faz das acções desenvolvidas na Mata Nacional da Machada, pulmão verde do nosso território, dando a conhecer o que de melhor é feito na protecção do meio ambiente.

Que a este 167º aniversário se sucedam muitos outros e que o espírito e a missão do jornal sejam mantidos.

Vereador da Câmara Municipal do Barreiro

Uma referência na Informação distrital Gonçalo Gameiro

O Intermarché de Alhos Vedros vem felicitar o Jornal O SETUBALENSE –Diário da Região e toda a sua equipa, pelo seu 167º aniversário. Um jornal de referência para a nossa região, um exemplo de dedicação e trabalho na comunicação social do distrito de Setúbal. Um jornal que se adaptou ao longo do tempo a todas as dificuldades e adversidades e que manteve a sua edição impressa e o seu rigor no papel. Parabéns pelo trabalho informativo e de promoção que oferecem aos seus leitores, a favor da comunidade regional e local. A toda a equipa do jornal, direcção, trabalhadores e colaboradores, que continuem com o trabalho exímio e a dar primazia aos valores informativos que vos têm definido até aos dias de hoje. O Intermarché de Alhos Vedros faz votos de continuação de muito sucesso, fruto da dedicação e profissionalismo de todos aqueles que se inserem neste jornal e que dão voz à nossa região.

Parabéns por mais um aniversário e por serem uma referência na informação distrital.

Sócio-gerente do Intermarché de Alhos Vedros

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Saudações

O jornal tem preservado a sua independência Carlos Jorge de Almeida

Não é apenas mais um aniversário. O primeiro dia de Julho de 1855 viu nascer o primeiro número d’O SETUBALENSE.

Não são apenas 167 anos de informação, de história e de estórias, de vida e de pulsar da região. Não foram nem serão tempos fáceis, numa comunicação social que não poderia estar desligada dos problemas estruturais vividos no sector, que afectam, naturalmente, a qualidade e o pluralismo da informação.

São tempos de concentração da propriedade, que afectam os órgãos de comunicação social, as plataformas de media e as formas de produção e divulgação de conteúdos, vinculados à lógica de mercado para ocultarem ou divulgarem a informação da forma que melhor serve os seus desígnios.

É neste contexto que O SETUBA-LENSE tem construído a sua estrada, preservando a sua independência e

avançado, com ousadia, em investimentos de futuro, que são de saudar pela firme convicção do caminho que quer percorrer e que tanta falta faz à comunidade.

Saudamos e enviamos um fraterno abraço a quem nos acompanha há 167 anos e constrói o repositório da nossa vida colectiva neste distrito. Desejamos os maiores sucessos, certos de que o vosso êxito será um contributo inestimável para a memória da gente que somos.

Parabéns.

Presidente da Junta de Freguesia de Pinhal Novo

Elo de ligação com a comunidade local Fabrício Pereira

Na celebração dos 167 anos de O SETUBALENSE, erguemos convosco a nossa taça. E fazemo-lo não apenas pelo brilhos das velas que coroam um trilho de 167 anos, que é uma marca assombrosa no percurso de uma viagem por mares nem sempre calmos, mas também celebrando o rigor, a independência e o serviço prestado aos leitores. Que se enganam bem aqueles que pensam que um órgão regional de comunicação social possa ser visto como um meio menor, que se enganam bem aqueles profetas que já nos cansaram de previsões de mortes anunciadas.

O SETUBALENSE e muitos outros títulos como ele, representam para a comunidade da Península de Setúbal (mas não apenas), um elo de ligação com a realidade local, a quem estão atentos, por quem nutrem carinho, que chegam a factos e notícias a que ne-

nhum outro órgão ou título chegam a alcançar.

Que se adaptam aos tempos, que inovam na forma de chegar às mãos, e, hoje, também aos olhos e ouvidos dos leitores. Que orgulho desmedido sentiria o autor do primeiro prelo impresso há quase dois séculos! Então como hoje, inseridos nas comunidades locais. São "dos nossos". E aos nossos desejamos sempre longa e próspera vida. Parabéns ao jornal O SETUBALENSE.

Presidente da Junta de Freguesia da Moita

Jornal de referência e proximidade Laura

Correia

Os meus sinceros parabéns à direcção, Corpo redactorial e trabalhadores do jornal O SETUBALENSE pela passagem dos 167 anos do jornal. Uma data memorável e invejável para qualquer órgão de imprensa. O SETUBALENSE é um jornal de referência e de proximidade, tendo o mérito de, no meio de tanta concorrência, ter sabido resistir e renovar-se, sendo um exemplo de como nos dias de hoje, se pode fazer informação com qualidade, isenta e plural. Votos de uma vida longa e profícua.

Presidente da Junta de Freguesia de Santiago

OPINIÃO

Pedro Santos

Parabéns ao Setubalense! Com 167 anos de existência O SETUBALENSE é uma referência no jornalismo, não só na nossa região, mas também a nível nacional.

O SETUBALENSE cumpre na península de Setúbal a importante missão de dar voz a todas as empresas e instituições e de tornar visíveis os problemas e as causas das suas populações, que, sem este trabalho, seriam mais facilmente esquecidos. No ano em que orgulhosamente a União Mutualista Nossa Senhora da Conceição comemora o seu 150.º aniversário, é com redobrado prazer que em nome do Conselho de Administração e de toda a equipa da UMNSC envio os parabéns e os votos de continuidade de bom trabalho a toda a equipa d´O SETUBALENSE.

Presidente da União Mutualista Nossa senhora da Conceição (Montijo)

Santa Casa da Misericórdia

anos

do Montijo comemora 450

ASanta Casa da Misericórdia de Montijo encontra-se a comemorar os seus 450 anos de existência, ao serviço do Montijo e dos seus cidadãos, ao longo destes quatro seculos e meio, esta instituição tornou-se uma pedra basilar no apoio social e na assistência aos mais fracos e aos mais pobres, contribuindo assim para uma coesão na aposta da intervenção caritativa.

Estava, pois, esta Santa Casa a exercer na plenitude aquilo que se consagram nas 14 Obras das Misericórdias em termos corporais e espirituais, no fundo a observar e respeitar as suas raízes de matriz cristã de apoio ao próximo e que levaram ao seu aparecimento e dispersão pelo território nacional espalhando-se até pelo espaço ultramarino.

É, pois, neste contexto que a actual Mesa Administrativa, entendeu projectar esta Santa Casa no futuro para que mais 450 anos que se adivinhem com pujança e caminhando irmãmente no apoio ao próximo e aos mais desfavorecidos como é o nosso ideal.

Assim, e porque temos a consciência que a Santa Casa da Misericórdia de Montijo está ao lado dos seus conterrâneos, independentemente da sua crença, ideologia, estatuto social,

raça ou rendimentos desde o século XVI, afirmando-se como agente de desenvolvimento de políticas de inclusão e coesão social.

No entanto, comemorar 450 anos não pode deixar de ser também uma oportunidade de honrando aqueles que nos antecederam, pensarmos também em termos de futuro, de um futuro que se quer mais risonho e assertivo, mantendo-nos no caminho da tradição que evolui num sentido são.

É por isso que resolvemos apresentar-nos neste novo ano que se inicia com um novo visual em termos de aspecto gráfico e identificativo, projectando-nos num futuro que ser quer mais risonho, e mostrando que a tradição também pode evoluir nos seus mais diversos aspectos, continuando a honrar a nossa história secular, mas projectando-a na modernidade.

Dai que nos apresentemos a partir de hoje com um visual renovado, dinâmico e moderno, como renovada, dinâmica e moderna continua a ser a nossa razão de existir, ou seja todos vós, mas mantendo o mesmo rigor e qualidade que nos distingue há séculos.

188 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
Provedor Santa Casa da Misericórdia de Montijo
Dá voz a todas as instituições e à população

SETÚBAL

Associação de Proprietários receia que face ao aumento da imigração a oferta de habitação comece a escassear

A Associação de Proprietários de Setúbal (APS) faz a radiografia ao cenário do mercado de arrendamento, a curto e médio prazo, e deixa um alerta.

“Pensamos que o número de fogos existentes por ora é suficiente, mas é necessário reforçar a confi ança dos proprietários, para que, sem receios, disponibilizem os imóveis para o mercado de arrendamento. Num futuro próximo e com o aumento tendencial de imigrantes na nossa cidade é natural que a oferta comece a escassear”, afi rma Rute Machado Vaz.

Noutra vertente, a habitação social e reabilitação, remodelação, de imóveis também constituem motivos de apreensão. ”Na nossa associação, assistimos a uma preocupação constante dos nossos associados em

promover obras de reabilitação e remodelação dos seus imóveis, valorizando o seu património, para melhorar as condições de habitabilidade e corresponder ao grau de qualidade de quem procura arrendar casa e permitir a justa retribuição do investimento feito pelos proprietários”,

admite. “Continuamos a defender que o papel da habitação social é factor fundamental para a diversificação das ofertas de arrendamento, em especial as que são destinadas às famílias mais carenciadas, e neste campo as entidades responsáveis têm de encontrar soluções para promover a oferta deste tipo de arrendamento”, acrescenta.

Outra realidade que tem vindo a ganhar espaço é o Alojamento Local (AL) em Setúbal. “O AL já tem alguma dimensão, e tem condições para continuar a crescer nos próximos tempos em virtude do crescente turismo na nossa cidade e da necessidade de oferta de alojamento diversificado e de qualidade para corresponder às exigências dos turistas que nos visitam”, frisa a responsável da APS.

Com as últimas alterações na lei, Rute Vaz lembra os principais desafios que se colocam a uma entidade como a Associação de Proprietários de Setúbal. “A defesa dos interesses dos proprietários em todas as suas vertentes será sempre o desafio principal da nossa associação, contribuindo para isso uma rigorosa selecção das condições e garantias dadas pelos potenciais inquilinos para cumprimento das suas obrigações, evitando futuros conflitos”, destaca.

A presidente da APS considera mesmo que, com a actual lei, os direitos e interesses dos proprietários e inquilinos não estão defendidos de forma equitativa. “Apesar da reforma de fundo do arrendamento urbano aprovada em 2012, continua a haver um desequilíbrio, pois a lei continua a tendencialmente a proteger muito

mais os arrendatários, ainda há um longo caminho a percorrer”, considera nomeadamente, “uma maior eficácia na punição do incumprimento por parte dos inquilinos, para que, de uma vez uma vez por todas, se afaste o fundado receio de alguns proprietários em colocarem os seus imóveis no mercado de arrendamento, pelo facto do processo de despejo ser moroso e dispendioso. Defendemos ainda um tratamento fiscal mais favorável na tributação dos rendimentos prediais”.

A Associação de Proprietários de Setúbal pauta o seu trabalho pela prestação de serviços a proprietários de imóveis em propriedade horizontal ou total. Gestão do Arrendamento, Reparação e Manutenção dos Imóveis e assistência Administrativa, fiscal e jurídica.

29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 189
Publireportagem
DR PUBLICIDADE
Rute Machado Vaz

MUNICÍPIO DO MONTIIO CÂMARA MUNICIPAL EDITAL N.º 130/2022

NUNO MIGUEL CARAMUJO RIBEIRO CANTA, PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE MONTIJO.

TORNA PÚBLICO, nos termos do disposto no artigo 40.º do Anexo I à Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro, que a reunião ordinária desta Câmara Municipal marcada para o dia 10 de agosto de 2022, não se realizará, mantendo-se a normal periodicidade das restantes. Para constar se publica o presente e outros de igual teor que vão ser afixados nos lugares públicos do costume.

Paços do Município de Montijo, 26 de julho de 2022.

O Presidente da Câmara Municipal

MUNICÍPIO DO MONTIIO CÂMARA MUNICIPAL AVISO - DISCUSSÃO PÚBLICA

Loteamento Urbano sito no Sítio do Catorze, freguesia de Montijo

NUNO RIBEIRO CANTA, PRESIDENTE DO MUNICIPIO DE MONTIJO: TORNA PÚBLICO que, para efeitos do disposto no artigo 27.º do Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro, na sua atual redação, conjugado com o disposto no artigo 22.º do citado Decreto-Lei, e no artigo 89.º do Decreto-Lei n.º 80/2015, de 15 de outubro, irá decorrer, a partir do 5.º dia após a publicação deste aviso no Diário da República, por um período de 22 dias, um período de discussão pública relativo ao pedido de alteração ao estudo de loteamento, aprovado por despacho datado licenciamento da operação de loteamento registado através do processo n.º I-17/07, de 22 de junho de 2007, registado em nome de MONTICONSTRÓISOCIEDADE DE CONSTRUÇÕES, LDA., que incide sobre os seguintes prédios: prédio rústico sito no Sítio do Catorze, da União das freguesias de Montijo e Afonsoeiro, concelho de Montijo, com a área de 8080,00m2 inscrito na matriz predial rústica sob o artigo 5 da Secção O da União das freguesias de Montijo e Afonsoeiro e descrito na Conservatória do Registo Predial do Montijo sob o n.º 5030/20070418 da freguesia de Montijo, e o prédio rústico, sito em Catorze, da União das freguesias de Montijo e Afonsoeiro, concelho de Montijo, com á área de 7200, 00m , inscrito na matriz predial rústica sob o artigo 6, Secção O da União das freguesias de Montijo e Afonsoeiro, durante o qual os interessados poderão proceder à formulação de sugestões e observações, bem como à apresentação de reclamações sobre quaisquer questões que possam ser consideradas.

O processo poderá ser consultado todos os dias úteis, das 9 horas às 16 horas na Divisão de Planeamento do Território e Urbanismo, sito no Edifício da Câmara Municipal de Montijo, na Av. dos Pescadores Montijo, e as sugestões ou reclamações dos interessados deverão ser apresentadas por escrito, através de requerimento dirigido ao Presidente da Câmara, identificando devidamente o seu subscritor e entregue pessoalmente ou remetido através do correio ao serviço acima mencionado. Para constar e devidos efeitos se publica este aviso e outros que irão ser afixados nos lugares de estilo. Paços do Concelho de Montijo, 05 de julho de 2022. ------------------------------------------

O Presidente do Município

O SEGREDO DAS CARTAS

TARÓLOGO e ASTRÓLOGO FRANCISCO GUERREIRO Resolva todos os seus problemas sentimentais, profissionais, financeiros e de saúde, marcando uma consulta pelo número 96 377 05 04. Após a 1.ª consulta efectua tratamentos espirituais. Consultório: Rua Serpa Pinto n.º 127 - 3.º Esq. - Montijo E-mail:francisco_astrologo@hotmail.com

CARNEIRO 21.03 a 20.04

No plano amoroso – não rejeite a possibilidade de se envolver um novo relacionamento. Poderá ser surpreendido, muito favoravelmente, com as atitudes e gestos de alguém que entrou há pouco na sua vida. No plano profissional – poderá entrar numa nova fase profissional, comece a pensar em novos projetos ou novas aplicações financeiras. Carta da semana – O SOL – semana muito luminosa e feliz para Peixes. Vai sentir-se com muita vontade de viver a vida e demonstrar a força das suas emoções e sentimentos.

TOURO 21.04 a 21.05

No plano amoroso, sente-se muito apaixonado e tem receio de mostrar os seus sentimentos. No plano profissional, terá algumas propostas, mas não se iluda com as mais vantajosas. Carta da Semana – A Lua, esta carta mostra que você estará sensível e um pouco frágil, mas ao mesmo tempo estará com um grande poder de análise.

GÉMEOS 22.05 a 21.06

No plano amoroso – poderá travar novos conhecimentos, embora deva amadurecer bem as ideias antes de lançar num novo romance. Poderá ter de enfrentar oposições familiares para poder levar em frente uma relação. No plano profissional – deve manter a calma em todas as circunstâncias, até porque esta semana tudo está ao seu alcance. Carta da semana – O CARRO – a conjuntura anuncia progressos.

CARANGUEJO 22.06 a 22.07

No plano amoroso – possibilidade de os seus sentimentos serem completamente renovados. Numa situação inesperada ou mesmo sem estar disponível pode sentir novas emoções. No plano profissional – se estiver envolvido em atos de representação ou de cariz público, sair-se-á muito bem. Carta da semana – O AMOROSO – esta carta define uma semana intensa em que todos os comportamentos estão marcados pela paixão.

LEÃO 23.07 a 23.08

No plano amoroso – não aceite opiniões ou que se metam demasiado na sua vida, o seu coração é o seu melhor amigo e só poderá arrepender-se do que não fizer. No plano profissional – todos os negócios ou investimentos em que se envolver, desde que estruturados e calculados darão bons resultados. Carta da semana – O IMPERADOR – está muito lúcido, objetivo e eficaz marcando pontos em todas as situações que se envolver.

VIRGEM 24.08 a 23.09

No plano amoroso – não permita que o orgulho atrapalhe ou ponha em causa em relação. No plano profissional – alguns colaboradores podem interferir ou pôr em causa as suas opiniões, mas é aconselhável que não baixe os braços e faça persistir as suas ideias.

Carta da semana – A FORÇA – fomenta novas ideias confere rapidez de raciocínio e força de vontade não permitindo que se instalem na sua vida indecisões ou qualquer tipo de medo.

BALANÇA 24.09 a 23.10

No plano amoroso – é uma semana adequada a que faça alterações na sua forma de vida; pode iniciar uma fase mais límpida e intensa. No plano profissional – algumas situações podem assumir contornos que não esperava e perante os quais terá de tomar uma posição. Carta da semana – A MORTE – é uma carta forte que permite conduzir a sua vida de forma objetiva e eficaz. Fim de uma etapa e inicio de uma nova etapa próspera.

ESCORPIÃO 24.10 a 22.11

No plano amoroso – não entregue o seu amora quem não o merece, corre o risco de deceções. Nem todas as promessas serão cumpridas esta semana. No plano profissional – dê atenção a um negócio ou a um projeto que pode esconder problemas, procure novos apoios. Carta da semana – A LUA – a conjuntura leva-o para o mundo dos sonhos em que é difícil ser racional, tente manter-se lúcido para não ser enganado.

SAGITÁRIO 23.11 a 20.12

No plano amoroso, relações são correspondidas e regidas por si e pelos seus interesses. Controle o seu feitio pois numa relação toma decisões a dois. No plano profissional, mostre-se mais activo e mais empenhado com trabalhos que lhe são solicitados. Carta da Semana – O Mundo, esta carta mostra que as conquistas e os seus êxitos estão ao seu alcance, basta que consiga reunir todas as suas potencialidades para atingir os seus fins.

CAPRICÓRNIO 21.12 a 20.01

No plano amoroso – escute o que lhe dita o coração sempre que tomar uma decisão ou fizer uma escolha sentimental; todos os gestos deverão ser fruto de reflexão solitária e amadurecida. No plano profissional – está perfeitamente apto a atuar em proveito próprio e fazer bom uso das suas habilitações e conhecimentos. Carta da semana – A PAPISA – a semana promete ser muito importante.

AQUÁRIO 21.01 a 19.02

No plano amoroso, poderá estar a passar uma fase conflituosa, que se deve á indefinição de sentimentos, clarifique-os. No plano profissional, os trabalhos que tem em curso irão sofrer alguns atrasos, devido á falta de recursos. Carta da Semana – O Eremita, esta carta mostra que deve agir com rigor e cuidado em todas as situações.

PEIXES 20.02 a 20.03

No plano amoroso – momento propicio á evolução sentimental; conseguirá compreender alguns gestos e lidar melhor com os afetos. No plano profissional – vida financeira sujeita a flutuações que merecerão medidas adequadas em cima dos acontecimentos. Carta da semana – O JULGAMENTO – traz uma semana marcante pródiga em acontecimentos importantes que lhe possibilitarão análises e iniciativas fundamentadas.

190 O SETUBALENSE 29 de Julho de 2022
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Trinco informativo O Prres e idente do Ribeiro
Nuno Ribeiro Canta ALMADA 265 539 691 SETÚBAL 265 520 716 SEIXAL 265 520 716 MONTIJO 212 318 392 MOITA 212 047 599 BARREIRO 212 047 599 PALMELA 265 520 716 ALCOCHETE 212 318 392 OUTROS CONCELHOS 265 520 716 ANUNCIE NO SEU DIÁRIO DA REGIÃO Classificados

DN: 20/08/1952 - DF: 24/07/2022

ALBERTO JOSÉ DA SILVA SANTOS

PARTICIPAÇÃO E AGRADECIMENTO

Sua esposa cumpre o doloroso dever de participar o falecimento do seu ente muito querido, cujo funeral se realizou no dia 26.07.2022 para o Cemitério da Piedade, em Setúbal. Na impossibilidade de agradecer pessoalmente a todos, vem por este meio agradecer a todas as pessoas que se dignaram a acompanhar ou que de outra forma manifestaram o seu pesar.

CLUBE DESPORTIVO CULTURAL E RECREATIVO “OS UNIDOS”

Abertura de Concurso para Concessão de Exploração do BAR.

Entrega das propostas até dia 17/08/2022, até às 18h, na sede Social, em carta fechada.

Abertura das propostas dia 19/08/2022, às 21h na sede Social

Para mais informações: cdcrunidos@gmail.com Telm: 919885293

DN: 20/08/1952 - DF: 24/07/2022

ALBERTO JOSÉ DA SILVA SANTOS

PARTICIPAÇÃO MISSA DE 7º DIA

Sua esposa informa que será celebrada Missa de 7º Dia, no sábado, dia 30 de Julho, pelas 17h30 na Igreja dos Grilos. Desde já agradece a todas as pessoas que participarem neste ato religioso.

Você sabia? funerária? Necrologia Classificados Bloco Clínico LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS DRA. MARIA FILOMENA LOPES PERDIGÃO DR. ALFREDO PERDIGÃO Horário 2ª a 6ª-feira: 08.00/12.30 - 14/18.00h Sábado: 09.00/12.00h Rua Jorge de Sousa, 8 | 2900-428 Setúbal www.precilab.pt | tel. 265 529 400/1 telm.: 910 959 933 | Fax: 265 529 408 1747

Você sabia?

... que um funeral de cremação, considerando todos os custos envolvidos, é tipicamente mais barato que o funeral para sepultura?

Edital N.º 116/DAFRH-DAAG/2022

70.º Aniversário do Cine Teatro S. João em Palmela Proibição de estacionamento de veículos e corte de trânsito Luis Miguel Calha, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Palmela, nos termos do despacho n.º 074/2021, de 26 de outubro: No uso das competências que lhe estão atribuídas pelo artigo 35º., nº. 1, alínea t), do Regime Jurídico das Autarquias Locais, aprovado pela Lei nº. 75/2013 de 12 de setembro e para efeitos do estipulado no artigo 56º. e nos termos da alínea rr) do nº. 1 do artº. 33º. do mesmo diploma legal e artigos 7º., 8º. e 9º. do Código da Estrada, torna público que, no âmbito do evento “70.º Aniversário do Cine Teatro S. João em Palmela”, será proibido o estacionamento de veículos e cortada a circulação de trânsito nas vias de circulação rodoviária em Palmela, Vila de Palmela, nos dias, locais e horários que a seguir se apresentam:

Dias 28, 29 e 30 de julho/2022, das 19h00 à 01h00

• Rua Gago Coutinho e Sacadura Cabral, na zona junto ao Cine Teatro S. João. Proibição de estacionamento de veículos

Dias 28, 29 e 30 de julho/2022, das 08h00 à 01h00

• Rua Gago Coutinho e Sacadura Cabral, em ambos os lados da estrada, junto ao Cine Teatro S. João.

A infração estará sujeita a penalização (reboque e coima).

Para constar se lavrou o presente Edital que vai se afixado nos lugares públicos do costume. Palmela, 28 de julho de 2022.

O Vice-Presidente

Luis Miguel Calha

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29 de Julho de 2022 O SETUBALENSE 191 PUBLICIDADE
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... que a Funerária Armindo está disponível todos os dias do ano, a quaquer hora, para o apoiar em caso de emergência funerária? ALUGO A PROFESSORES Casa Mobilada 3 Assoalhadas 400,00€ Em Setúbal Inf. Tel: 917 964 132
Corte de trânsito
Departamento de Administração, Finanças e Recursos Humanos Divisão de Atendimento e Administração Geral
04:15 - 3.0 m - Preia-mar 10:11 - 0.9 m - Baixa-mar 16:29 - 3.3 m - Preia-mar 22:42 - 0.8 m - Baixa-mar SETÚBAL TRÓIA SINES SESIMBRA ALMADA 03:51 - 2.9 m - Preia-mar 09:46 - 1.0 m - Baixa-mar 16:04 - 3.2 m - Preia-mar 22:18 - 0.9 m - Baixa-mar 03:50 - 3.0 m - Preia-mar 09:47 - 1.0 m - Baixa-mar 16:05 - 3.3 m - Preia-mar 22:20 - 0.9 m - Baixa-mar 04:29 - 3.1 m - Preia-mar 10:13 - 0.9 m - Baixa-mar 16:43 -3.4 m - Preia-mar 22:43 - 0.8 m - Baixa-mar MARÉS FICHA TÉCNICA REGISTO DE TÍTULO n.º 107552 | DEP ÓSITO LEGAL n.º 8/84 PROPRIETÁRIO Outra Margem – Publicações e Publicidade, NIF 515 047 325 (detentores de mais de 10% do capital social: Gabriel Rito e Carlos Bordallo-Pinheiro) Sede do proprietário: Travessa Gaspar Agostinho, 1, 1.º, 2900-389 Setúbal EDITOR Primeira Hora – Editora e Comunicação, Lda, NIF 515 047 031 (Detentores de mais de 10% do capital social: Setupress Lda, Losango Mágico, Lda, Carla Rito e Gabriel Rito) Sede do Editor Travessa Gaspar Agostinho,1, 1.º, 2900-389 Setúbal Conselho de Gerência Carla Rito, Carlos Dinis Bordallo-Pinheiro, Gabriel Rito e Carlos Bordallo-Pinheiro REDACÇÃO Travessa Gaspar Agostinho, 1, 1.º, 2900-389 Setúbal DIRECTOR Francisco Alves Rito Redacção Mário Rui Sobral, Humberto Lameiras, Maria Carolina Coelho Desporto Ricardo Lopes Pereira, José Pina Departamento Administrativo Teresa Inácio, Branca Belchior PUBLICIDADE Direcção Comercial Carla Sofia Rito, Carlos Dinis Bordallo-Pinheiro Coordenação Ana Oliveira (Setúbal), Carla Santos (Moita e Barreiro) Publicidade Lina Rodrigues, Rosália Batista, Célia Félix IMPRESSÃO Tipografia Rápida de Setúbal, Lda - Travessa Gaspar Agostinho, 1, 1.º, 2900-389 Setúbal geral@ tipografiarapida.pt DISTRIBUIÇÃO VASP - Venda Seca, Agualva - Cacém Tel. 214 337 000 Tiragem média diária 9000 exemplares Estatuto Editorial disponível em www.osetubalense.com

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