Jornal Natureza Urbana

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NATUREZA URBANA REDE VERDE MATA DO PLANALTO

Moradores unidos pela defesa da

Mata do Planalto em BH

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Em uma cidade carente de áreas verdes não é lógico perder nem um por cento da área de Mata Atlântica, defendem ambientalistas e integrantes do Movimento Salve a Mata do Planalto.

Desirée Ruas

Jornalista, Especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade e coordenadora do Movimento Consciência e Consumo;

Raissa Faria

Relações Públicas e membro do Movimento Salve a Mata do Planalto.

D

entro de Belo Horizonte ainda há moradores da região Norte da cidade que

Norte da cidade que podem acordar ouvindo o canto do bem-te-vi, o embate sonoro do pica-pau, e apreciar a beleza silenciosa de tucanos ou as barulhentas interações de araras, saguis, micos e soins. Isso só é possível porque um dos últimos fragmentos de vegetação nativa da capital mineira e última área verde preservada da região Norte da cidade, a Mata do Planalto, ainda resiste em pé. A mata começou a ser ameaçada no ano de 2010, quando a construtora ROSSI pretendia construir na área setecentos e setenta unidades residenciais. E, novamente em 2015 quando o Conselho Municipal de Meio Ambiente (COMAM) aprovou uma licença prévia de construção na área para as empresas ROSSI, Petiolare e Direcional no último dia 28 de Janeiro sem a participação de nenhum representante do movimento pró- Mata do Planalto. O terreno é uma propriedade particular e foi negociada com as três construtoras para dar lugar a pelo menos sete torres de apartamentos, totalizando mais de setecentos e cinquenta unidades, além de mil e trezentas vagas de garagem. A Associação Comunitária do Planalto e Adjacências (ACPAD) en-

cabeçou grande mobilização social durante os últimos cinco anos contra o desmatamento da área junto a diversos colaboradores como, Associações dos bairros vizinhos, o Movimento das Associações de Moradores de Belo Horizonte (MAMBH), o Grupo de Estudos de Temáticas Ambientais da UFMG (GESTA) e com a orientação voluntária do advogado Wilson Ferreira Campos, presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG. O movimento conta ainda com o apoio dos moradores de ocupações da região da Isidora, no vetor Norte da capital, que também estão sendo ameaçados pela construtora Direcional. A área de 119.630,89 mil metros quadrados se situa no bairro Planalto e faz divisa também com os bairros Vila Clóris e Campo Alegre. A Mata do Planalto abriga ampla diversidade de fauna e flora sendo 60 espécies de pássaros e diversos outros animais. O pesquisador Iury Valente identificou aproximadamente vinte nascentes no local da construção e outras localizadas de 50 a 100 metros do local previsto para o empreendimento. Essas nascentes ajudam a compor o corpo d’água do Córrego Bacuraus, um afluente do Ribeirão Isidoro, que alimenta o Rio das Velhas, uma das fontes

de captação de recursos hídricos que atende à população de Belo Horizonte. Além disso, a região serve como banco de sementes para Belo Horizonte, e como barreira para não inundar a avenida Vilarinho em dias de chuvas fortes, além é claro, de seu potencial para absorção da água da chuva. Irregularidades De acordo com a professora doutora Andreia Zhouri, coordenadora do Gesta-UFMG, a falta de participação popular na concessão da licença pelo Comam feriu a legislação em vigor. “Faltou publicidade ao processo. Além disso, houve alterações no projeto inicial, com entrada de novos empreendedores e mudanças nas características da obra, o que demandaria a abertura de um novo processo administrativo para o licenciamento, o que não ocorreu”, afirmou a pesquisadora. Para ela, o argumento das construtoras Direcional Engenharia, Rossi Residencial e Petiolare que os problemas viários serão resolvidos com o alargamento das vias significa que “vão retirar os moradores que estão ali. E isso não é solução”. “O projeto de especulação imobiliária que avança sobre o vetor norte de Belo Horizonte não contribui em nada com quem mora ali. A cidade não é mercadoria. A especulação imobiliária é uma apropriação desumanizada”, aler-


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