Novos jornalistas: para entender o jornalismo hoje

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 Charles Mingus gravava “Mingus Ah Um”, em 5 e 12 de maio. Suas composições se baseiam em estruturas tradicionais do blues e do gospel, homenageando também músicos mortos como Charlie Parker, Duke Ellington, Lester Young e Jelly Roll Morton – mas, ao mesmo tempo, avançando em relação à tradição.  Ornette Coleman levava a experimentação a maiores extremos no disco cujo nome mais parecia um manifesto: “The Shape of Jazz To Come” (A forma do jazz que virá). Coleman abusa das dissonâncias, criando o jazz de forma livre.

Todos os caminhos estavam abertos. Tudo podia ser feito, dependendo apenas da competência e criatividade dos profissionais envolvidos. O jornalismo, hoje, se encontra em um momento bastante semelhante. Se, por um lado, os jornais impressos vivem uma longa crise nos Estados Unidos, há um boom de entidades independentes e meios de comunicação tradicionais experimentando para tentar descobrir qual será a forma do jornalismo que virá. As tentativas podem ocorrer em experiências calcadas no jornalismo tradicional, mas inovando na forma e profundidade, como faz o New York Times – quase um “Mingus Ah Um” do jornalismo. Pode ser pela profundidade e apuro técnico de um Center for Public Integrity em seus múltiplos projetos – quase um “Kind of Blue”. Pode ser por meio da organização cerebral de dados brutos, como fez Adrian Holovaty em seu Everyblock – quase um “Time Out” jornalístico. Ou mesmo a cacofonia da Web colaborativa e dos agregadores de conteúdo, uma espécie de “The Shape of Jazz to Come” da era da informação.

É ocioso discutir, neste ponto, qual dessas formas é “mais certa” do que a outra. Qualquer previsão a respeito tende a ser furada pelas circunstâncias. Híbridos de pedaços de uma e pedaços de outra podem acabar surgindo, e


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