Novos jornalistas: para entender o jornalismo hoje

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Já havia algum tempo que o Times fazia podcasts em áudio. O jornal também criou o obituário em vídeo, com entrevistas ultra-secretas em que algum personagem admirável, já em vias de extinção, contava em primeira pessoa a história de sua vida. O primeiro dessa série foi o do humorista Art Buchwald, que já começava dizendo: “Olá, eu sou Art Buchwald e acabo de morrer!”. Outros entrevistados estão na fila, com o jornal apenas aguardando suas mortes. Isso subvertia a compartimentalização das mídias que tínhamos em mente no final do século passado, quando entrei na faculdade. Um aluno que queria se dirigir para o impresso, por exemplo, não via utilidade nas aulas de TV e rádio. Era gostoso ter certezas dessas, especialmente porque elas davam um nobre pretexto para cabular aula e tomar um cafezinho lendo Gay Talese. O problema é que a internet – então uma coisa lentíssima que acessávamos em XTs com letrinhas verdes – acabaria por provar, em uma década, que essas certezas eram míopes. Sim, alguns diziam que ela viria a integrar tudo. Mas parecia um futuro distante. Quando entrei na faculdade, em 1995, arrumei um emprego como contínuo num jornal centenário de Porto Alegre, o Correio do Povo. Como tal, convivia com todos, do diretor de redação aos operadores das rotativas – e, com isso, pude acompanhar uma transição fascinante. Quando entrei, as páginas ainda eram compostas em pestapes – placas de acrílico onde se colavam textos e fotos – para depois fotolitar. Para publicar uma foto de arquivo, precisava do boy para buscar a pasta de fotos, levar ao editor, entregar a escolhida ao diagramador, transportar a foto indicando dimensões para a fotocomposição e, meia hora depois, recolher o resultado para o pestapista colar com cera quente. Em menos de dois anos, quase tudo isso podia ser feito em segundos apenas por um profissional em seu terminal.


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