Novos jornalistas: para entender o jornalismo hoje

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Indígenas, camponeses, sertanejos, tuaregues, esquimós, cocaleros etc. agora têm mais contato com a urbanidade. Talvez conheçam os “urbanóides” mais do que estes a “eles”. As desconfianças continuam mútuas, porém, apesar das facilidades logísticas e de comunicações. Fernando Molica, colunista de “O Dia” e coordenador do MBA em jornalismo investigativo da FGV, percebe que o mundo está cada vez mais parecido. “Mas é exatamente por isso que o jornal impresso precisa lidar mais com os ‘diferentes’ e com as ‘diferenças’.”

As diferenças num mundo parecido

Leonencio Nossa, repórter do Grupo Estado em Brasília e autor de “Homens invisíveis”, que narra uma expedição liderada por Sydney Possuelo em busca de um povo isolado na Amazônia (os flecheiros), acredita que expor ao leitor culturas desconhecidas é uma forma de aproximar mundos. “Esse tipo de reportagem não está na contramão do mundo globalizado e digital. Pelo contrário. Uma matéria sobre um menino matis do Rio Ituí, por exemplo, reflete os novos tempos”, afirma. “Há populações desconhecidas até para moradores dos centros urbanos próximos.”

Cinqüenta anos atrás, muitas reportagens em zonas de fronteira eram especiais pelo simples fato de que jornalistas haviam estado “lá” para contar o que viram. Hoje em dia é mais difícil essas matérias estarem dissociadas da agenda jornalística. “O importante é colocar no debate proposto pelo jornal indivíduos que possam acrescentar algo à nossa vida por seu imaginário, sua forma de viver e, mais ainda, sua extraordinária capacidade de vencer a luta cotidiana contra a natureza, seus códigos e castigos”, observa Leonencio. É consenso que a era digital facilitou alguns processos de apuração, mas o trabalho de campo não poderá ser suprimido tão cedo. Em “reportagens de fronteira” a presença do


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