Novos jornalistas: para entender o jornalismo hoje

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Nos anos 1950, bem antes do surgimento da internet, a cultura da imagem começou a alterar significativamente o modo de produção das reportagens impressas sobre povos e culturas pouco conhecidos (dentro e fora das fronteiras nacionais). Repórter e fotógrafo viajavam juntos a fim de “descobrir lugares”. Era assim que o jornalismo desvendava universos fisicamente longínquos. “Os Sertões” (1902), de Euclides da Cunha, é um marco daquele jornalismo antropológico: a terra, o homem, a luta.

Mais de cem anos depois de “Os Sertões”, num contexto de globalização econômica e avanços tecnológicos acelerados, a crença num mundo sem fronteiras parece onipresente. É como se a Terra houvesse sido totalmente esquadrinhada, como se a expressão “tempo real” pudesse ser aplicada a tudo, como se o local e o global, culturalmente falando, fossem indistintos. Quais os impactos disso sobre a cobertura do chamado Brasil Profundo? A prática da “reportagem de imersão”, que busca revelar mundos “estranhos” para o leitor, alterou-se?

Jornalistas de gerações diferentes acreditam que a dinâmica da globalização não reduziu nem eliminou diferenças culturais. “Tenho observado que as culturas locais, mesmo sob o impacto da globalização, com freqüência se reafirmam, encontram formas de sobrevivência e de desenvolvimento, fazendo uso inclusive dos equipamentos que absorvem das culturas envolventes”, observa Carlos Azevedo, ex-repórter da revista “Realidade”, autor da coletânea “Cicatriz de reportagem” (Editora Papagaio).

Em 2008, Azevedo esteve entre os índios caiabis do norte do Mato Grosso (também estivera entre eles em 1962). Os caiabis, conta, adaptaram-se à tecnologia introduzida, mas mantêm-se culturalmente vigorosos. “Há um vasto campo de trabalho para esse jornalismo de interação cultural. A reportagem, quando feita sem etnocentrismos e preconceitos, dá sempre resultados criativos e úteis.”


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