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Robalos Condições de Mar para Pescar com Amostras de Superfície

Há pessoas que vão ao mar com o único intuito de trazer peixe para casa. São-lhes indiferentes as técnicas, os métodos, porquanto aquilo que lhes interessa é mesmo o resultado final: uma caixa cheia de peixe. Qualquer tamanho de peixe.

Já fui contactado por uma pessoa que me disse algo como isto: “se me garantir que vou consigo à uma geleira cheia de pargos e outra cheia de robalos, eu pagolhe 20 euros”…

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Pois sim, nada como abrir o jogo e dizer ao que se vai. Aprecio a franqueza, declino obviamente o “convi- te”, ensaio um sorriso e a pessoa vai tentar encontrar outro penitente que esteja disposto a tal sacrifício.

Mas felizmente também há outras mentalidades.

Hoje vou apresentar-vos uma dessas pessoas, não porque não seja sobejamente conhecido enquanto pescador, é de resto um dos nossos expoen- tes máximos da pesca jigging profundo, mas sim porque finalmente aceitou o meu convite para irmos fazer um tipo de pesca que normalmente não faz, a pesca spinning ao robalo, com amostras de superfície. E saiu bem!

Sair a pescar com um amigo como o prof. José Rodrigues só pode sair bem e só pode ser bom.

Há pessoas para quem isso de trazer ou não trazer peixe para casa não é tudo, é mesmo quase indiferente, porque são sim colecionadoras de experiências, de emoções. É o caso.

A análise que faz dos princípios técnicos que levam a cada captura são brilhantes, e vale a pena escutar atentamente porque a sua costela académica faz-se sentir nos mais pequenos detalhes.

Por ele, um dia de mar, quaisquer que sejam as condições, já é um momento de contacto com a natureza que só nos pode fazer bem. Com ou sem pesca.

Ficar feliz por estar no mar é um sentimento que deveria ser reconfortante só por si, para todos nós.

Se lançamos linhas e temos sorte, um peixe, um único peixe, até mesmo não pescado, sem captura concretizada, pode ser suficiente para preencher por completo as expectativas de pessoas com este perfil.

Vibram com um lance, com uma oportunidade de pesca, e sabem entender o privilégio de ainda podermos ver a nossa amostra ser atacada por um predador.

E isso torna tudo tão mais fácil! Quem está ao lado des- tas pessoas sente que se liberta delas uma verdadeira brisa de energia positiva.

O prof. José Rodrigues traz isso para a pesca. Sabe da dificuldade de garantir sucesso quando ele depende da vontade de peixes caprichosos que podem, ou não, estar de acordo com uma boa luta a puxar por um anzol. Leia-se não estarem de acordo com …a sua morte.

Os peixes defendem-se, desconfiam, e ainda bem que assim é, ou já não existiriam.

Com ele a bordo, sinto-me tranquilo nas minhas opções, seguro de que estou com uma pessoa que me entende, que sabe muito de mar e percebe a razão das decisões por mim tomadas.

Sabe ver muito para além da espuma, daquilo que é um lançamento e uma captura.

E isso é tudo para quem tem o ónus de ter de decidir. Há sempre um momento em que os acontecimentos forçam a uma alteração, uma maré que baixa, água que se enche de sedimentos, vento que surge e obriga a mudar de método, do posicionamento do barco, até o próprio equipamento de pesca.

Desde que as razões desta ou aquela opção sejam fundamentadas, e entendidas, isso contribui sempre para a criação de um ambiente saudável, tão fresco e animado que no fim nem queremos que a pesca acabe!

E por isto mesmo, se há alguém que me motiva a dar o meu melhor, é ele. Relativiza os insucessos e vibra imenso com cada pequena vitória.

Sinto um verdadeiro privilégio por ter a oportunidade de estar com um dos mais conceituados pescadores nacionais, alguém que aci- ma de tudo pensa a pesca que faz.

Por inerência de funções, porque tenho a meu cargo as saídas de mar da GO Fishing Portugal, faço muitos dias de mar.

Tenho algumas centenas de fotos de nascer do sol, e acho que nunca me cansarei de admirar a promessa de mais um dia que chega.

Desta vez, decidimos sair muito cedo e o objectivo era tão só explorar as possibilidades de pescar robalos ao nascer do dia, utilizando amostras passeantes, um modelo que excita particularmente predadores activos que rondam a primeira capa de água.

Para isso, são requeridas condições de mar muito particulares, nomeadamente pouco vento, a fazer lisa a superfície da água.

O “splash” da queda da amostra deve ser tão idêntico quanto possível ao que os peixes pequenos fazem naturalmente quando saltam fora de água.

Isso atrai carnívoros como o robalo, mas não só, conforme viemos a verificar.

Temos a considerar que o efeito da queda da amostra pode ser tão díspar quanto isto: amostras leves atraem peixes ao local, na expectativa de entenderem se há oportunidades de conseguir alimento.

Já as amostras pesadas assustam e afugentam os peixes, reduzindo imenso as nossas possibilidades de pesca. Porque soam pouco naturais, os peixes não as reconhecem como verdadeiras situações de caça.

Saibamos ser subtis, discretos e aproveitar o curto momento de actividade dos robalos para conseguirmos alguns. Pescar com amostras ligeiras, sem palas frontais, dá-nos mais peixes. Reservamos as amostras pesadas, com pala frontal, para situações de longos lançamentos, em mar revolto, muito mexido, em que o ruído da amostra a cair é abafado por tudo o que é areia em movimento, pedras a rolar, e muita água a fazer espuma. Aí sim. Se temos forte ruído ambiente, teremos de sobrepor-nos a isso e declarar intenções.

Mas se temos uma situação de mar calmo, liso, a opção deve apontar sempre para a máxima discrição, todo o silêncio possível. Eles não são propriamente “gente distraída”....

Por respeitar esse princípio, o prof. José Rodrigues teve a sua primeira oportunidade com uma anchova que desferiu, não um mas três ataques sucessivos à amos- tra, até ficar cravada num dos triplos.

Ambos utilizámos canas longas, entre os 2.90 e os 3 metros, próprias para lançamentos mais distantes e a razão prende-se com o facto de pretendermos atingir zonas com peixe mais descansado.

Em águas abertas, com muita visibilidade em distância, é muito comum que os peixes sigam a amostra, correndo apenas a seu lado, sem que se decidam de imediato a morder.

Perseguem a razão daqueles salpicos, excitam-se, mas ao perceberem a sombra do barco, retraem-se e não mordem.

Ou seguem apenas com curiosidade um outro peixe ferrado, na expectativa que a pequena presa, (a nossa amostra), possa libertar-se e sobrar para si, mas ao darem com o ruído da embarcação, acabam por virar costas, assustados. Esses são peixes que dificilmente voltam a picar, e se o fizerem isso irá acontecer bem longe do barco.

Também neste dia tivemos várias situações em que os robalos seguiam o companheiro ferrado, curiosos, a deixarem-se ver a poucos metros da embarcação.

Cardume que corre a amostra até ao barco é cardume perdido, na maior parte das ocasiões. Pouco podemos fazer para o evitar, excepto tentar que a nossa acção se desenvolva longe da embarcação.

E para isso, deveremos contar com canas longas, a lançar na casa dos 40 a 50 metros como mínimo. Como sempre, a posição do vento é importante, pois as amostras de superfície mais eficazes são precisamente as mais leves.

Para as lançar, não basta um qualquer tubo de plástico comprido, é mesmo necessária uma cana com alma que nos permita catapultar uma amostra de 10 gramas onde outras só chegam com 20 gramas….

Quando a prioridade não é pescar para trazer peixe para casa, podemos optar por libertar peixes que merecem continuar o seu ciclo de vida e chegarem a grandes.

Um dia, os peixes que hoje devolvemos ao mar serão troféus que alguém irá pescar.

Com essa mentalidade estaremos a contribuir para a existência de motivos para continuarmos a pescar no futuro.

Quando libertamos um pequeno robalo, estamos a fazer uma aposta forte na reprodução da espécie, na multiplicação das possibilidades de conseguirmos ataques às nossas amostras.

Os japoneses fazem-no frequentemente e são recompensados por poderem pescar grandes exemplares, peixes que crescem mais que os nossos por questões genéticas, mas também porque são poupados a uma morte prematura.

Vejam abaixo o tamanho dos robalos deles, os famosos “Suzuki”:

Por cá, confundimos “muito peixe” com uma grande pescaria. Misturamos quatro peixes que enchem uma caixa com quarenta peixes que enchem uma caixa.

A nível das embarcações MT, chega-se ao ponto de exigir resultados.

Se há quem pague para fazer uma saída de mar com tudo o que isso tem de aleatório e imprevisível, e aceite aquilo que o mar dá, também há quem julgue, por estar a pagar, ter o direito de poder exigir resultados que nunca conseguiria por si. Pagam e entendem isso como um direito de concretizar sonhos antigos.

O conceito é: “hoje só me interessa ferrar peixe grande. Se estou a pagar, não tenho o direito de escolher o tamanho do peixe que vou pescar?!”…

Na verdade, …não.

Os grandes exemplares são peixes velhos, com muito saber, muitos carnavais em cima, muitas redes, amos- tras, jigs passados, e são verdeiros sobreviventes.

Há que os merecer, e ter a noção de que esses peixes são excepções.

Querer pescar um robalo de 10 kgs por marcação, naquele dia, por imposição, porque se pagou algo, é apostar demasiado na sorte.

Sejamos realistas e tenhamos a noção do verdadeiro valor de um bom peixe troféu.

Saibamos estimar a raridade de um peixe de grandes dimensões enquanto captura acidental, mas nunca …garantida!

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