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Os Nossos Amigos Pargos das Canárias

São visitas esperadas e desejadas. Como todas as visitas decentes, fazemse anunciar antes da sua chegada. Sabemos quando chegam.

Os pargos das Canárias aparecem em Portugal com águas frias, na ordem dos 14 a 16ºC, entre Janeiro e Maio. E são regulares, aparecem sempre.

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Estão entre nós para uma missão de responsabilidade: reproduzir.

Conhecemo-los pelo nome comum de Capatão-das-Canárias, sendo o seu nome científico Dentex canariensis, e têm um factor distintivo que não dá azo a enganos: a mancha castanho escura no fim da dorsal. Vejam a mancha na foto.

Porque têm a dose de agressividade certa, peso e for- ça, são bons adversários para as nossas canas de slow-jigging. Deles, podemos esperar uma luta honesta, poderosa, desde o momento em quem mordem o jig e nos fazem disparar o coração, até que os consigamos içar para o barco.

Não são raros os pargos que nos chegam nesta altura do ano com pesos a rondar os 3 a 5 kgs. Bem mais raros são os pequenos, abaixo de 0.5kg, por exemplo.

Por isso, a maior parte dos exemplares pescados apresenta o aparelho reprodutor preparado, pronto para cumprir a nobre função que aqui os traz.

Fazem a sua desova num momento particularmente favorável, pois grande parte dos peixes que poderiam estragarlhes as posturas estão longe, mais fundos ou ausentes, afastados pela temperatura baixa das águas. Mesmo aqueles que ficam têm uma actividade muito residual. As cavalas, por exemplo, oportunistas comedores de óvulos pelágicos, estão “congeladas”, à espera de melhores e mais quentes dias. Os carapaus, na sua quase totalidade, estão bem mais fundos, nesta época.

O equilíbrio entre espécies existe, e faz sentido: a natureza renova-se por ciclos de semanas ou meses, …entram uns, saem outros.

As profundidades a que os procuro não excedem os 70 metros, e a razão é simples: embora saiba que poderá haver peixes destes mais fundos, até aos 100 / 120 metros, resulta-me mais descansado e cómodo pescar baixo. Posso reduzir o peso do jig, e explorar o facto de eles se interessarem tanto por pequenas presas. Bem mais difícil é consegui-los com jigs de 150 ou 180 gramas.

Gosto de pescar ligeiro, com equipamentos que, ao fim de cinco ou seis horas de pesca não me massacram, não me deixam fatigado.

Quanto ao número de picadas, não me queixo, são

Texto e Fotografia Vitor Ganchinho (Pescador conservacionista) https://peixepelobeicinho.blogspot.com/ as suficientes para me manter entretido durante horas. Para mais, o posicionamento que tomam em relação às pedras onde os pesco é muito evidente: ficam bem no meio destas, deixando os bordos exteriores para um outro parente, as bicas.

Isso é-nos muito conveniente, pois sabemos que a uma dada deriva, corresponderá uma primeira fase em que as bicas serão mais prováveis, a seguir os pargos no centro da pedra, e de novo as bicas.

Há um padrão.

Mesmo em dias muito difíceis, com marés que não nos favorecem em nada para quem pesca essencialmente de manhã, por exemplo uma vazante a dar por volta das 10.00h, (chegamos ao pesqueiro com ele a vazar de água e também a vazar de oportunidades de ter ata- ques, porque o peixe já comeu!) ainda assim é sempre possível conseguir meia dúzia de peixes.

Por oposição, em marés boas, digamos com preia mar por volta das 12.00h, em que pescamos de menos a mais durante toda a manhã, com actividade crescente, aí sim, é comum que as pescarias sejam bem mais afortunadas.

Em águas limpas, muito transparentes, é de bom tom que se pesque com linhas mais finas.

Um PE 1,5 com uma baixada de 0.28 a 0.33 em fluorocarbono é uma boa opção. Estamos a pescar na vertical, o peixe morde de forma franca, com violência, os lábios carnudos e a estrutura óssea da boca são firmes, logo os casos de peixes perdidos são muito poucos.

Quanto mais grossas as linhas mais problemas teremos para pescar na vertical; a deriva do barco somada à pressão da corrente sobre a linha retiram-nos possibilidades de pesca. Pescamos menos por estarmos com um diâmetro de multifilamento mais elevado.

Este é um peixe que mor- de, morde forte, não um peixe que aspira, como o robalo, por exemplo. E isso faz muita diferença quando temos de fazer a nossa opção pelo armamento que vamos aplicar no jig.

Eles têm bons dentes e mordem, essa é a sua estratégia de caça. Marcam-nos os jigs de chumbo com os seus caninos afiados, apertam bem e fazem-nos furos na pintura. Os meus jigs mais velhos estão esfolados, repletos de dentadas destes peixes.

Como vos disse, eles são muito agressivos, e também muito precisos naquilo que fazem. Preparam bem o ataque à vista, e tenho reparado que têm uma grande predominância de dentadas na zona central da peça.

Em águas menos boas, aquilo que noto é que a tendência do ataque é entre o centro e a cabeça, a jigs que sobem na coluna de água. Nessas alturas, a maior parte dos pargos chega-me presa no assiste superior.

Por isso mesmo, porque o ataque é desferido ao corpo e não ao vulto da peça, ao todo, incluindo assistes, temos vantagens em ter os anzóis o mais próximo possível do corpo do jig. Assistes curtos ajudam.

Talvez eu possa explicarvos melhor, recorrendo a uma outra imagem.

Caso tenhamos assistes muito longos, perdemos inúmeros toques, pois o ponto de ataque visado, desde que haja visibilidade suficiente na água, é o centro do jig. Então, os anzóis de cauda, pelo menos, estarão a alguns centímetros fora da zona de “strike”, de batida.

Se contarmos com o comprimento do jig, mais o comprimento dos jigs, temos já um “corpo” muito alongado, menos fácil de visar. Assistes longos distendem a mancha de ataque, alongam-na, e por isso não nos favorecem.

Ao aceitarmos aplicar assistes mais compridos, por exemplo com 2 a 3 cm de PE, mais os anzóis, estamos a dar um alvo maior ao predador. Isso pode dar azo a ataques falhados, porque nunca conseguiremos proteger toda a peça.

Na realidade aquilo que nos interessa é que mordam apenas no sítio certo e não que se disperse o ponto de contacto, pois a boca é relativamente pequena. Falamos de pargos, não de robalos.

Sem dúvida, o sítio certo para eles morderem são os nossos anzóis, não há outro, mas os pargos atacam “um peixe”, não as “barbatanas” do peixe, ou seja, os nossos assistes.

Por isso, cuidar do volume de jig apresentado é importante. Para estes peixes em concreto, um jig curto é melhor que um jig longo.

Um outro ponto que me parece importante referir é a qualidade dos assistes. Quando pescamos aos robalos, situados um pouco acima na coluna de água relativamente a estes pargos, quase diria que tudo serve. Um robalo absorve os assistes, aspiraos, e isso é a sua perdição. Invariavelmente fica preso por algum lado da sua enorme boca. Mesmo com assistes já meio velhos, menos afiados, as nossas possibilidades de ferragem são efectivas.

Já o mesmo não se passa com os pargos, por serem bichos que desferem ataques que assentam sobretudo numa dentada firme, decisiva, a marcar bem um antes e um depois. Tudo se joga num instante.

Porque a sua boca é muito sólida, tem muito osso duro e poucas cartilagens, devemos pescar com assistes com anzóis muito bem afiados.

Quando começam a dar sinais de menor afiamento, devem ser postos de lado. Um bom peixe vale muitos assistes.

Para terem uma ideia de quando mudar o assiste, devem passá-lo pela pele dos dedos da mão. Se agarra, está bom.

Se resvala e não fica preso, (se escorrega sobre a pele), é…lixo.

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