Notícias do Mar n.º 373

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Notícias do Mar

nência da realização deste Congresso do Tejo III. “Passados que foram já alguns anos sobre a última realização do Congresso do Tejo, estou convencido que não só é oportuno como é também de grande importância realizar uma nova edição de um encontro desta natureza. Os problemas devido à escassez de água, aos baixos caudais e aos episódios de poluição e de má qualidade da água, a que se associam as questões transfronteiriças, as alterações climáticas, as alterações do uso da água, ou os desafios do transporte fluvial e marítimo, justificam plenamente um novo encontro técnico-científico sobre o maior rio português.” António Carmona Rodrigues (Prof. FCT.UNL) “Depois de algumas centenas de milhões de euros de investimento em saneamento e todo o tipo de infraestruturas, um rio estar como está o Tejo não tem justificação. É inaceitável e inexplicável, é um

crime e devia ser tratado como tal. Todos somos responsáveis, mas uns são bem mais que outros. Há um marco simbólico que, provavelmente, não aconteceu por acaso, e que assinala o início do abandono do rio, conduzindo à situação em que hoje está. Refiro-me ao desmantelamento da ARH do Tejo no vale do Tejo quando a sua gestão é relocalizada nas Caldas da Rainha. Como foi possível, nessa altura, autarcas, grupos de ecologistas e demais forças vivas do Tejo terem aceite esta decisão? Sem fiscalização, sem proximidade, sem conhecimento e sem saber só podia dar no que hoje temos: uma catástrofe que corresponde a décadas de retrocesso. Na prática, é um problema muito complexo que não tem solução simples e fácil. Vai necessitar de muito dinheiro e tempo. Quando um ecossistema como o Tejo chega a esta situação, mesmo com a ação certa, a inércia para a inversão é grande. Se juntarmos a tudo isto a

situação de “crise” que sustenta a “justificação” para más práticas do sector empresarial e público, e ainda a grave seca que vivemos, a equação para a catástrofe está completa. É bem sabido que quem se junta em congressos a mais das vezes está sempre de acordo com a nobre causa.” Carlos Cupeto (Prof. U.Évora) “Todos os rios têm características particulares que os distinguem de todos os outros no que se refere, não apenas aos aspectos da sua fisiografia e regime hidrológico, mas também à relação que as comunidades humanas com eles estabelecem. No contexto da Península Ibérica, o Tejo é um rio com características singulares nesses dois planos. Ele liga um Norte montanhoso húmido, característico dos afluentes da margem direita, com um Sul mais plano e semiárido, próprio dos afluentes da sua margem esquerda. No plano histórico e cultural, corre

predominantemente de Este para Oeste, desde os planaltos e serranias de Castela até à orla atlântica de Portugal, ligando a região da “austera” cidade de Madrid à “suave” cidade de Lisboa. Ao longo de todo o percurso são estreitos os laços da população com o “seu” rio. Esta dupla articulação Norte-Sul e Este-Oeste fazem do Tejo uma espécie de “alma hídrica” do território peninsular onde tudo de essencial, ou quase tudo, se reflete. Por isso, nunca será demais a atenção que Portugal e Espanha lhe dediquem, procurando resolver e superar os muitos problemas que ao longo das últimas décadas se foram acumulando. Um melhor futuro para o Tejo é necessariamente um melhor futuro para a economia, para o ambiente e para as populações dos dois lados da fronteira.” Francisco Nunes Correia (Prof. FNC.IST.UTL) “A razão de ser do Congresso sobre o rio Tejo

A partir do passado contruir o futuro

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