Notícias do Mar n.º 339

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Notícias do Mar

O sapal é a casa de muitas aves.

Moinho de maré de Corroios, a natureza e o homem fundem-se.

Alfeite em direcção à restinga da ponta, espaço de areia e terra entre o rio propriamente dito e o sapal interior de Corroios. Não se levou muito tempo até chegar à borda de água, onde o vento cortante não impediu a contemplação de Lisboa, vista dali sob um ângulo novo, mas que é comum para os residentes na margem sul. Pisando a areia da praia, deixada a descoberto pela

maré-baixa, percorreram-se algumas centenas de metros até à Ponta dos Corvos, ponto previsto de paragem para descanso e merenda. De um lado, o rio com águas encrespadas, onde uns quantos homens se dedicavam, não sem algum risco, à apanha de bivalves; do outro, o sapal interior de Corroios, onde mais de uma centena de aves identificadas dão corpo a um dos mais importantes pontos de nidificação da Europa – passaríamos, já depois de almoço, por um posto de observação construído para uso dos muitos observadores de aves que ali se deslocam nas épocas oportunas. Na Ponta dos Corvos, um pequeno bar de apoio (a precisar de obras de renovação, acrescente-se de passagem) em posição estratégica na margem do braço de rio que leva até ao Seixal: à esquerda, ao longe, o cais do Barrei-

ro, neste dia com movimento reduzido; mesmo em frente, o cais fluvial do Seixal; e até onde a vista alcança, a zona histórica da localidade, com as suas construções ribeirinhas de pouca altura, num friso que parece não ter mudado muito nas últimas décadas. Na margem de onde se faziam estas observações, vislumbravamse os edifícios abandonados, mais ainda de pé, de alguns moinhos de maré. Restabelecidas as forças, prosseguiu a caminhada em direcção ao ponto de partida. Numa extensa área plana de rasgados horizontes e sapal, agora praticamente desabitada, erguem-se os edifícios silenciosos de moinhos que foram, noutros tempos, motores de intensa actividade económica. Na área que hoje corresponde ao concelho do Seixal, foram construídos entre os sé-

culos XV e XVIII pelo menos 13 moinhos de maré. Em todo o Tejo, estão identificados mais de 40. Desempenharam um papel importante na produção de farinhas para abastecimento local e da cidade de Lisboa. Em particular, garantiam a produção de biscoito de embarque, o alimento de base das tripulações durante o período da expansão portuguesa no Atlântico. Disso tudo dá fé o Moinho de Maré de Corroios (séc. XV), em boa hora adquirido e reabilitado pela autarquia, e hoje convertido em núcleo do Ecomuseu Municipal do Seixal. É uma magnífica peça a visitar (o acesso por estrada está bem sinalizado), onde uma exposição permanente mostra o que era e para que servia. No fim, como sempre, uns copos onde o Mil e Tal se mostrou justo e perfeito.

Imagens sempre belas. 2015 Março 339

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