Notícias do Mar n.º 336

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Notícias do Mar

Conhecer e Viajar Pelo Tejo

Crónica Carlos Salgado

O Tejo e a sua Fertilidade

Quero referir-me ao grande estuário, à região adjacente e à Reserva Natural do Estuário do Tejo, e devo esclarecer que considero que o grande estuário estende-se até onde chegam as águas da maré que sobe da foz até Santarém.

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uando D. Afonso Henriques tomou Santarém aos Mouros repartiu as terras alagadas pelas enchentes e cheias do Tejo, as lezírias, para serem distribuídas pelos pobres para que delas tirassem o seu sustento. Mas a partir do século XII, boa parte dessas terras acabou por ser cedida à Ordem do Templo e a ordens menores. Graças ao grande interesse que D. Dinis dedicou à agricultura, decretou o retorno dessas terras e dos mouchões para a coroa, por troca ou imposição. O seu filho D. João IV criou a Casa do Infantado, e as melhores terras foram 42

transferidas para os infantes, seus filhos. As lezírias mantiveramse na posse da coroa até que em 1813, a coroa mostrou interesse em vender as terras das lezírias do Tejo e Sado, sob a condição que os interessados lhes fizessem as necessárias obras de protecção e defesa contra às inundações e abrissem os valados convenientes, bem assim como a preparação apropriada dos campos de modo a viabilizarem uma produção agrícola melhor. Em 1834 é decretada a venda dessas terras e do património acumulado sob o regime feudal. Em 1835 instituiu-se uma Compa-

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nhia gerida por uma administração constituída pelos: Conde do Farrobo, Visconde das Picoas, José Bento Araújo, José Xavier Mouzinho da Silveira e José Pereira Palha. Na sequência disto foi formada em 1836 a Companhia das Lezírias do Tejo e Sado, com uma dimensão de mais de 40.000 hectares que se estendiam desde a Golegã até à Comporta de Alcácer do Sal, que graças a iniciativas pioneiras no domínio da exploração e gestão agrícola e florestal, potenciou o melhor aproveitamento dos recursos naturais ao seu dispor, e introduziu novas culturas e desenvolveu novas tecnologias de cultivo,

que contribuíram para um desenvolvimento agrícola que guindou toda esta região ao maior celeiro do país. As lezírias são porções de sedimentos fluviais que emergem pouco acima do nível médio das águas do mar e cuja fertilidade as elege como as preferidas tanto pelos homens como pelas aves migratórias. Passados 170 anos da sua fundação, a actividade da Companhia das Lezírias do Tejo e Sado passou a desenvolver a sua actividade em apenas 20.000 hectares, metade da dimensão territorial, que ficou concentrada na Lezíria Grande de Vila Franca de Xira e na Charneca do Infantado.


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