Notícias do Mar n.º 333

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Notícias do Mar

Conhecer e Viajar pelo Tejo

Crónica Carlos Salgado

“O Seu Nome É Esperança, o Apelido Lisboa” A Câmara Municipal de Lisboa tinha a esperança desde Janeiro de 1991 de ter um barco tradicional do Tejo próprio e finalmente este executivo, duas décadas passadas, a esperança passou a ser uma realidade com a entrada na sua posse da Canoa do Tejo denominada Esperança, para a fruição dos seus munícipes, que podem passar a ver Lisboa a partir do Tejo, o que tem mais encanto, e não só.

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om esta aquisição Lisboa entra no grupo das câmaras ribeirinhas que já tinham adquirido um barco típico do Tejo como o Seixal, a Moita, Vila Franca de Xira, Alcochete, e Azambuja, honrando assim a sua relação com o rio que lhes deu a vida. Mas afinal, soube agora que, a Esperança não é uma Canoa, é uma Falua, o que em princípio me deixou um pouco incrédulo, isto porque, desde há muito que me tenho interessado, lido e escrito sobre os barcos tradicionais do Tejo, o que me levou a constatar que as características da canoa Esperança não correspondem às das Faluas do Tejo, tanto em dimensão, como 36

em armação, capacidade de carga e lotação, segundo as descrições de investigadores sapientes, como sejam: “AS FALUAS - Estas embarcações armavam, geralmente, duas velas latinas segundo Leitão (2002)… uma evolução ao longo do tempo nas suas velas, passou a predominar as Faluas de um só mastro... era utilizada no transporte da passageiros e de mercadorias, oferecendo um serviço de transporte relativamente regular, de passageiros, numa rota certa, em oposição ao transporte de carga geral, sem horário pré-estabelecido…Tinham, por isso, de ser de bom porte e rápidas, visto que cobriam nesta ocupação distâncias

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que podiam atingir 50 km” (Leitão, 2002:110). Entre outras especificidades, destaca Leitão as linhas de água destas embarcações “são muito mas delgadas que as dos botes, e que são prolongadas à proa e à ré para produzir entradas finas que alargam para cima, e saídas compridas terminando num painel de popa pequeno e estreito”. Outra característica das Faluas prendese com a capacidade do convés: “O convés da vante ocupa um pouco mais que uma metade do barco e tem duas escotilhas, uma no bico da proa, no lado de estibordo, e a outra por ante-a-vante do mastro principal. O convés da ré é muito reduzido, porque o espaço normalmente ocupado pelo leito da popa é

sacrificado para aumentar a casa de carga aberta, também utilizada pelos passageiros” (Leitão, 2002:111). Em termos funcionais, o convés de vante era muito utilizado como alojamento, onde os passageiros se abrigavam do frio, da chuva e do calor durante a viagem. Este convés servia ainda de resguardo para as mercadorias. No seu “Barcos do Tejo”, Carrasco (1997:23) descreve as Faluas como situando-as entre o Bote e a Fragata em termos de dimensão. “A Falua era utilizada no transporte de passageiros e de mercadorias deterioráveis, tais como batatas, uvas, figos, laranjas e legumes frescos até à cidade e voltar com mercearias na viagem de retorno.”


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