Notícias do Mar n.º 330

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anos oitenta do século XX, foi a Casa Dom Luís de Margaride. Os seus herdeiros produzem actualmente vinhos na Quinta do Casal Monteiro (Dom Hermano Clássico – branco e tinto, Quinta do Casal Monteiro – branco e tinto e Clavis Aurea Reserva – tinto). Saindo agora dos vinhos oficialmente cobertos pela designação D.O. Tejo, vamos continuar com a nossa exploração pelos vinhos do Tejo, que por razões históricas e burocráticas possuem outras designações tais como vinho histórico Medieval de Ourém, D.O. Arruda, D.O. Bucelas e D.O. Carcavelos. O vinho Medieval de Ourém é produzido exclusivamente no concelho de Ourém, segundo os métodos ancestrais praticados pelos monges de Cister. Em Fevereiro de 2005 foi criada a designação Vinho Medieval de Ourém com o intuito de preservar o método original de produção de vinho dos Monges de Cister, do século XII. O concelho de Ourém é considerado uma sub-região da D.O. Encostas d’Aire. Os vinhos protegidos pela legislação devem provir de vinhas certificadas. A vindima é obrigatoriamente feita à mão, as adegas devem estar inscritas e aprovadas para o efeito. O cumprimento destas normas é assegurado e auditado pela VitiOurém. As castas utilizadas são a Fernão Pires e a Trincadeira. Contudo, são cultivadas outras castas para produção do vinho Medieval. A cor do vinho é vermelha, podendo variar entre o palhete esbatido e o palhete carregado, quase tinto. O vinho é rústico na boca, atestando a sua medievalidade. O produtor Quinta do Montalto produz alguns vinhos interessantes a considerar. O próximo vinho do Tejo é o tinto de Arruda dos Vinhos. Os vinhos foram classificados como V.Q.P.R.D em 1989. Os solos argilo-calcários distribuem-se por colinas com encostas suaves. Nas castas brancas destacamse o Arinto, Fernão Pires, Rabo de Ovelha e Vital, nas tintas o Alicante Bouschet, Tinta Miúda e Trincadeira. As castas estrangeiras têm alguma implantação. Os vinhos tintos são robustos, nervosos e de cor rubi, com taninos poderosos e grande capacidade de envelhecimento. O produtor principal é a Adega Cooperativa de Arruda dos Vinhos (Comenda de Santiago e Arruda – branco e Arruda Reserva – tinto). Outro vinho do Tejo de alta qualidade é o branco de Bucelas. A região foi demarcada em Setembro de 1908. Há cerca de trezentos anos era conhecido, em Inglaterra, pela designação Charneco. Mais

tarde, foi também conhecido pelo nome Lisbon “Hock”. A área geográfica correspondente à D.O. Bucelas abrange a freguesia de Bucelas e parte das freguesias de Fanhões (lugares de Fanhões, Ribas de Cima, Ribas de Baixo, Barras e Cocho) e de Santo Antão do Tojal (lugares de Pintéus, Meijoeira e Arneiro), do concelho de Loures. As vinhas estão instaladas em solos correspondentes às tradicionais “caeiras”, predominantemente constituídos por margas e calcários duros. Apenas o vinho branco tem direito a denominação de origem controlada. As castas permitidas são o Arinto, a Esgana Cão e a Rabo de Ovelha. O Arinto atinge aqui o seu esplendor. A área de vinha ocupa apenas 160 hectares. O produtor histórico mais importante foi a Adega Camilo Alves, que entretanto foi absorvida pela Enoport, Caves Velhas (Bucelas – branco, Bucelas Garrafeira – branco e Quinta do Boiçao – branco). O outro produtor digno de nota é a Quinta da Romeira, hoje propriedade da Companhia das Quintas (Prova Régia – branco e Morgado de Santa Catherina – branco). Deixamos para o fim o vinho licoroso de Carcavelos. Os vinhos já eram famosos e célebres no século XVIII. A região foi demarcada em Setembro de 1908. Devido à pressão urbana, à proximidade de Lisboa e à especulação imobiliária desenfreada, as antigas quintas estão hoje plantadas com edifícios de betão. O vinho branco era fabricado em bica aberta, fermentando em tonéis destapados, pelo espaço de um mês e ao fim deste tempo era aguardentado. Os vinhos deverão ter um título alcoométrico total em volume superior a 17,5% adquirido não podendo superar os 22%. O teor de açúcar residual deve ser inferior a 150 g/l. Com a ajuda notável da Estação Agronómica Nacional de Oeiras as castas e os vinhos foram resgatados da extinção definitiva ditada pelo imobiliário. A Quinta do Barão foi o último produtor histórico engolido pela especulação. A área de vinha ocupa um pouco mais de 10 hectares. Os produtores sobreviventes são a Quinta dos Pesos (Quinta dos Pesos 1989 e 1990), a Quinta da Ribeira de Caparide, a Quinta da Samarra e a Quinta do Marquês (Conde Oeiras). Hoje, é um vinho raro. Finalmente vamos abordar resumidamente os vinhos do tramo espanhol do Tejo, nomeadamente os de Malpica del Tajo, em Toledo. Em Março de 1999, os vinhos foram classificados com indicação geográfica como Vinos de la Tierra de Castilha. A área de produção é vasta e corresponde à dos mu-

A tradicional pisa das uvas nicípios de Castilla-La Mancha. O clima é continental seco. As vinhas são criadas em liberdade nos extensos planaltos de Castilla. Tradicionalmente, uma grande parte das uvas é utilizada na produção do brandy de Xerez. Os vinhos podem ser secos, doces, brancos, rosados e tintos, tranquilos ou espumosos. As principais castas são as brancas, Airén, Albillo, Viura e

Moscatel de Alejandria, as tintas, Bobal. Garnache, Mencia. Cencibel e Tinto Velasco. A nova moda inclui o plantio de castas estrangeiras. O principal produtor situado em Malpica del Tajo é a Osborne (Solaz – branco e Solaz Coupage – tinto). Bebamos, pois, um copo à saúde dos notáveis vinhos do magnânimo Tejo.

As uvas a caminho da Adega. 2014 Junho 330

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