Notícias do Mar n.º 329

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Notícias do Mar

Conhecer e Viajar pelo Tejo

Crónica Carlos Salgado

“Viva Quem Canta, que quem canta é quem diz quem diz o que vai no peito no peito vai-me um país” Pedro Barroso, trovador do Tejo e não só... O povo do Tejo foi naturalmente influenciado pelas características próprias das diferentes regiões que atravessa, culturalmente diferentes entre si e por conseguinte, o homem tagano teve que adaptar-se às condições em que viveu e foi adoptando comportamentos também diferentes no seu modo de vida, usos e costumes, actividades laborais, na etnografia, nos saberes e nos sabores e nas formas de exteriorizar os seus sentimentos e, graças a isso o nosso Tejo é um rio rico em tradições, memórias e emoções.

O

s cantares e as danças do cancioneiro popular, consideradas “ Folclore “, é uma forma do homem se exteriorizar o que está directamente relacionado com a vivência humana dos trabalhos agrícolas e também da faina da pesca. A bacia hidrográfica do Tejo que se estende desde a região da serra da Estrela até à península de Setúbal (inclusive), englobando as regiões da Beira, do Alentejo, do Ribatejo e uma parte da antiga Estremadura e da região da margem sul do estuário até próximo de Setúbal, ocupa praticamente 1/3 do território de Portugal continental. Esta bacia hidrográfica é tão grande devido à ampla rede de afluentes do Tejo, incluindo os sub-afluentes, as ribeiras e os ribeiros. Para visualizarmos a área geográfica dessa ampla rede e 36

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a sua distribuição vou passar a descrevê-la: de montante para jusante os afluentes principais são os rios: Zêzere, Erges, Ponsul, Ocreza, Sever, Almonda, Alviela, Sorraia, Trancão, das Enguias, Judeu e Jamor. O Zêzere é o afluente mais extenso, nasce na serra da Estrela no Cântaro Magro, atravessa a Beira e depois de alimentar a barragem de Castelo do Bode vem desaguar no Ribatejo em Constância. O Erges nasce em Espanha na serra da Gata, na margem direita do Tejo, entra em Portugal próximo de Salvaterra do Extremo e demarca a fronteira a montante entre o país vizinho e Portugal, e vem desaguar no Tejo Internacional cerca do Rosmaninhal. O Ponsul nasce em Penha Garcia, também na margem direita, no concelho de Idanha a Nova e atravessa este concelho e o de Castelo Branco, e vem desaguar

em Malpica do Tejo, também no Tejo Internacional. O Ocreza nasce na margem direita na vertente sul da Serra da Gardunha, a oeste do concelho de Castelo Branco e desagua no Vale do Cobrão próximo de Vila Velha de Ródão. O Sever nasce na margem esquerda no concelho de Marvão e demarca a nossa fronteira com a Espanha a jusante, e depois de atravessar o concelho de Nisa vem desaguar no Tejo Internacional – Geoparque. O Almonda nasce na serra de Aire na margem direita, atravessa o concelho de Torres Novas e vem desaguar no sítio de Igreja Nova perto de Azinhaga (onde nasceu José Saramago). O Alviela nasce na margem direita na gruta de Alviela no concelho de Alcanena e vem desaguar perto de Vale de Figueira e fez parte de um projecto para um canal navegável no concelho de Santarém. Este

afluente fez parte, desde 1880, do sistema de abastecimento de água a Lisboa. O Sorraia que tem um vale dos mais ricos para a agricultura nasce no Couço, na margem esquerda, e é o resultado da junção de duas ribeiras, a ribeira de Sor e a ribeira de Raia e recebe o seu afluente Almansor cerca do Porto Alto e vai desaguar no estuário do Tejo, na Ponta da Erva, no Estuário. O rio das Enguias nasce, segundo presumo, próximo da Marateca, do qual pouco se fala mas eu naveguei nele, e vem desaguar junto a Alcochete, na margem esquerda do Tejo, na Reserva Natural do Estuário do Tejo. Para que se saibam este rio quase desconhecido chegou a fazer parte de um projecto de um canal de ligação do Tejo ao Sado. O Trancão, na margem direita, nasce na freguesia do Milharado no concelho de Mafra e desagua em Sacavém, e por isso foi conhecido durante muito tempo por rio de Sacavém. O rio Judeu nasce na margem esquerda, em Fernão Ferro no concelho de Seixal e desagua na baía do Seixal e é um rio mais conhecido pelo vale do Judeu, no qual se encontram instalações da Marinha, nomeadamente dos Fuzileiros e cheguei a ouvir falar no mítico cemitério da Teca que estava enterrado algures no seu leito, trata-se de uma madeira rica para a construção dos mastros e outras peças das caravelas e naus dos Descobrimentos. O Jamor nasce na margem direita, na serra da Carregueira, no concelho de Sintra, foi chamado rio de Belas, e desagua no Tejo na Cruz Quebrada, já próximo da Foz. E depois de ter-me alongado na descrição da rede hidrográfica do nosso Tejo, retomo o tema que escolhi para esta crónica,


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