Notícias do Mar n.º 328

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Notícias do Mar

Viver o Tejo

Entrevista Carlos Salgado

Os Barcos Típicos do Tejo e o Turismo Este Espaço que costuma ser dedicado a uma entrevista, hoje é uma reportagem

O Mestre Jaime Costa (filho), sócio gerente do Estaleiro Jaime Costa & Filho, convidou-me para visitar um barco Varino do Tejo, de 35 ton., de nome SOU DO TEJO, que por sua iniciativa foi reconstruído no seu estaleiro para manter o emprego do pessoal que ali trabalha.

Mestre Jaime Costa

I

sso aconteceu, devido ao facto dos seus clientes habituais, as Câmaras Municipais, que são proprietárias de barcos típicos do Tejo, que precisam de ir ao estaleiro periodicamente para trabalhos de manutenção, mas que devido a 34

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constrangimentos financeiros em tempos de crise, essas edilidades estão a adiar aqueles trabalhos regulares e por isso faltam as encomendas ao estaleiro. Mestre Jaime Costa meteu mãos à obra para reconstruir o SOU DO TEJO na expectativa de

que ele pudesse ser rentabilizado a fazer serviço marítimo-turístico, de que o Tejo tanto carece. Porém, as dificuldades que o IPTM está a criar estão a impedi-lo de poder dar início a essa actividade o que, obviamente, lhe está a causar grande prejuízo.

Intransigência do IPTM põe em risco o futuro do estaleiro Também para evitar o despedimento de pessoal, deu início à recuperação de um Bote-Fragata de 30 ton, o SEJAS FELIZ, que foi construído em 1947, cujo destino é igualmente para fazer viagens turísticas mas, pelas dificuldades que está a ter com a licença do varino SOU DO TEJO, teme o pior para o futuro do estaleiro. O que preocupa e indigna o Jaime Costa é o facto de já há um ano e meio que pediu a licença para o varino navegar e trabalhar, e não consegue que ela lhe seja concedida devido à intransigência do IPTM, isto porque exige que o mestre Jaime apresente os planos geométricos e os cálculos de estabilidade desta embarcação, documentos que ele não tem para entregar, devido ao facto dos barcos deste tipo terem sido construídos em meados de século passado. Ora, como o IPTM desconhece ou ignora que nesse tempo os barcos tradicionais do Tejo não eram construídos por planos porque eram feitos à vontade e ao gosto do freguês, que confiava no saber e nas mãos experientes dos mestres carpinteiros e dos seus artífices, e era por isso que os barcos do mesmo tipo e capacidade de carga, acabavam por não ficarem iguais, não só no casco como na armação e até na área vélica. Uma prova de que os conhecimentos dos mestres construtores desse tempo era fiável e segura, está no facto de não haver notícia de naufrágios desses barcos de trabalho, no tempo em que eles eram às centenas ou aos milhares, numa labuta constante, mesmo com tempo alteroso de mar e de vento, tanto no estuário como para montante, quando a navegação de cabotagem se fazia até à fronteira porque o Tejo era a principal estrada do país. Isto leva-me a pensar que neste caso, o comportamento do


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