Notícias do Mar n.º 327

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Notícias do Mar

Conhecer e Viajar pelo Tejo

Entrevista Carlos Salgado

A Arte Rupestre do Tejo Quarenta Anos Depois da sua Descoberta É com muito gosto que respondo ao convite do amigo Carlos Salgado para abordar a arte rupestre do Tejo nas páginas de Notícias do Mar. Deu-se o acaso, feliz, de ter acompanhado esta extraordinária descoberta, com a idade de 12 anos, circunstância que determinou o meu caminho como arqueólogo. Não fora essa oportunidade teria seguido seguramente outros rumos.

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Dr. João Carlos Caninas

Rocha 155 (parcial) de Fratel (AMBaptista)

Estação de AR de Fratel - bancada na margem direita (JPMonteiro) 34

2014 Março 327

evo começar por referir o doutor Mário Varela Gomes, professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e o dr. António Martinho Baptista, director do Museu do Côa, como destacados especialistas na arte rupestre do Tejo. Aliás deve-se ao doutor M. Varela Gomes o mais completo contributo para o conhecimento deste património, consubstanciado na sua tese de doutoramento, defendida em 2010, e que inclui um vasto catálogo de mais de 6000 figuras, meticulosamente caracterizadas, além de magnífica documentação gráfica e sólida abordagem teórica. Aliás, o Prof. Doutor Emanuel Anati, um dos membros do júri de doutoramento, qualificou este trabalho de importância mundial no domínio dos estudos de arte rupestre, e foi também afirmada, por vários membros do júri, a premência da sua publicação, devolvendo à sociedade o conhecimento acerca de um património cultural submerso nos anos setenta pela albufeira de Fratel. Pois bem, não querendo ser incómodo, direi que à sociedade portuguesa tem faltado a motivação para proporcionar meios adequados à publicação de um trabalho desta importância, oferta de conhecimento que ficaria bem complementada por um guia fotográfico como o que foi publicado acerca da arte do Côa por A. Martinho Baptista. Desde a sua descoberta, no início dos anos setenta do século passado, a arte rupestre do Tejo tem sido objecto de muitos outros estudos, parcelares, apresentados em revistas e em fora científicos, e mais recentemente de teses universitárias, promovidas principalmente pelo Instituto Politécnico de Tomar em parceria com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Mas, toda esta aquisição de conhecimento, deveu-se, em grande parte, aos meios disponibilizados, à época da descoberta, pela Fundação Calouste Gulbenkian, meios que permitiram uma operação de emergência, consistindo no reconhecimento e no registo (em molde, fotografia e to-

Rocha 59 de Cachão do Algarve - veado(MVGomes) pografia) talvez da maioria das gravuras existentes no Tejo nacional. Tal urgência deveu-se à iminência da submersão do vale inferior pelas águas da barragem então em construção. Com o intuito de orientar os leitores para a descoberta deste património, recomendo uma visita à página do Centro de Interpretação criado pela Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão, nos antigos Paços do Concelho, com escassos mas adequados meios e o apoio científico do Museu do Côa:(http://tejo-rupestre.com/). A Associação de Estudos do Alto Tejo também disponibiliza informação e testemunhos sobre o tema, em particular através do dossier intitulado Nos 40 anos do início da descoberta da arte rupestre do Tejo, publicado no número 4 (2011) da sua revista digital (http://www.altotejo.org/ acafa/acafa_n4.html). A riqueza da arte rupestre do Tejo tem um valor que a coloca entre os principais “santuários” arqueológicos da Península Ibérica e da Europa? Sim, é essa a opinião da comunidade científica. O conjunto formado pelas mais de dez mil gravuras préhistóricas insculpidas nas bancadas rochosas, tendencialmente horizontais, das margens do rio Tejo e seus principais afluentes, nas fronteiras


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