Notícias do Mar n.º 325

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Notícias do Mar

rio é vida. Que o diga quem vive o Tejo, nem que seja só com os olhos, ao longe, de quando em vez. Muito para além das suas margens, o rio são as pessoas e as pessoas são o rio. Desde há milhares de anos que é assim no Tejo, o melhor e mais bonito rio do mundo, porque é o nosso rio, mas também porque tem tudo, tem vida e tem alma, que contagia a quem ele toca. Como todos os rios maturos, a diversidade torna-o ainda mais precioso. Uma bênção às terras que ele atravessa, desde a Beira, com uma beleza natural impar e estatuto de Parque Natural, até a um dos maiores estuários da Europa, em Lisboa. Um ponto singular a nível mundial em matéria de biodiversidade, designadamente no que respeita à avifauna. Mas o mais importante de tudo são as pessoas, as pessoas que vivem o rio, que sentem o rio. Depende de cada um de nós, saber respeitar e tirar o maior proveito económico, social e ambiental do Tejo, seja pela irrigação dos campos, seja pela navegabilidade, pela pesca, ou pela atividade turística e desportiva. Este é um lugar que tudo nos dá e quase nada nos pede. Depende apenas de nós fazermos do Tejo, a nossa terra, um lugar ótimo para viver. E nesta matéria, como quase sempre, ninguém pode ficar

O Cais e a ponte sobre o Tejo

(…) para que nunca mais, Tejo, os meus olhos possam voltar-se para outro lado quando tiverem diante de si a tua grandeza, Tejo, mais bela que qualquer sonho, porque é real, concreta, e única! («Ode ao Tejo e à memória de Álvaro de Campos», in Lisboa com Seus Poetas: Colectânea, org. de Adosinda Providência Torgal e Clotilde Correia Botelho, Lisboa, Dom Quixote, 2000, pp. 71 e 73)

Castelo de Almourol

de fora e demitir-se, na confortável posição do “eles” ou “não tenho nada a ver com isto”. A forte identidade cultural do Tejo é, desde logo, uma mais-valia que muitos outros não têm, assente numa base social e económica muito ligada ao rio que ao longo do seu curso molda a paisagem e que, através dos tempos, convidou o Homem a desenhar as suas atividades e usos do território em harmonia com as características biofísicas locais. Esta é a primeira e mais importante das condições para um território sustentável e com futuro. Uma realidade muito diferente do crescimento a qualquer preço que nos atiram para os olhos, a isto chama-se desenvolvimento inteligente, na sequência do qual se criam lugares seguros e felizes. É isto que queremos partilhar, ser felizes nesta terra que é de todos e a ninguém pertence a não ser

ao Tejo. Para que tal seja possível cada um apenas tem de fazer o que deve. Contrariamente ao que possa parecer, o Tejo, como todos os rios, não divide, antes une. Une Santarém a Almeirim/Alpiarça, Abrantes a Rossio ao Sul do Tejo, Rio de Moinhos a Tramagal, Vila Nova da Barquinha/Tancos a Arrepiado, etc. Também Lisboa tem que inverter o habitual paradigma da separação da margem sul pelo Tejo. É o contrário, as duas margens estão unidas pelo Tejo. Este pensamento, ao revés, muda tudo. Queremos fazer e sonhar; uma tribo que não sonha morre [provérbio africano]. Nestes tempos difíceis sonhemos com um Tejo vivo e vivido, um Tejo rico e sustentável e ele, esse grande rio, vai-nos certamente compensar.

2014 Janeiro 325

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