Notícias do Mar n.º 319

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Notícias do Mar

Decoração típica dos barcos do tejo cebi que era para este trabalho que eu estava vocacionado e passei a dedicar-me com afinco à minha arte e a conduzir o estaleiro nesse sentido, e fui sempre lutando para que ele não fechasse, não obstante ter atravessado, por vezes, grandes dificuldades por falta de trabalho. Grande parte da continuidade do trabalho da construção naval em madeira deve-se ao interesse dos municípios ribeirinhos, e a cidadãos franceses e ingleses que vinham aqui com os seus barcos, pela garantia de qualidade do nosso trabalho. Mas consegui segurá-lo, optando por continuar a trabalhar, com apenas quatro ou cinco pesso40

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as ao meu lado. Continuarei a fazer tudo do melhor para dar às embarcações aquilo que é devido e elas merecem, a sua dignidade, e pô-las a flutuar e a navegar com segurança. No entanto, como sou eu que faço a manutenção e/ou reparação de todos os barcos tradicionais das câmaras municipais estou, actualmente, confrontado com um problema provocado pela considerável diminuição da vinda dessas embarcações ao estaleiro, o que se deve à falta de dinheiro das edilidades. Barcos que vinham quase anualmente ao estaleiro, agora passam dois e mais anos sem cá aparecerem. Com estas restrições, vão

deixar de haver os carpinteiros de machado, os calafates, os pintores e os demais artífices, porque a nova geração não está a interessar-se por dar continuidade a esta arte, quando há tanto desemprego. Por isso, não posso de ser insensível a este problema, e porque sei que não resulta estar apenas a tentar formar, isolada e pontualmente, um ou outro artífice no estaleiro, entendo que é indispensável haver um projecto de formação profissional, bem estruturado, nesta área. C.S. – Então, o que achas que deve ser feito para inverter esta situação, e que contributo queres dar para isso?

J.C. - Tenho esperança em que estes tempos hão-de mudar para melhor, porque as entidades oficiais e o turismo vão acabar por compreender que o valor deste património vai, garantidamente, ser uma mais valia para a economia nacional, porque considero que o futuro do país passa pelo turismo náutico e cultural. Mas, para que o tal projecto de formação profissional resulte, é preciso que haja uma ligação estreita e permanente do estaleiro com as escolas profissionais, porque para garantir a sua sustentabilidade, é indispensável a participação da escola no trabalho prático do estaleiro. É neste


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