Rio Maravilha

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Compreendendo que as transformações do espaço urbano vão muito além da vontade do traço do arquiteto urbanista, é preciso entender de que forma a cidade é planejada, para quais interesses políticos e econômicos ela é projetada. Nesse sentido, uma pesquisa sobre a produção legislativa foi bem esclarecedora para entendermos para quem o Rio de Janeiro é projetado. Em uma investigação no banco de dados do LABLEGAL13 da Universidade Federal Fluminense sobre a produção da Câmara Municipal de Vereadores do Rio de Janeiro entre os anos de 2009 e 2012, destaca-se para esta análise a quantidade de leis e decretos que abordam os temas da flexibilização urbanística e o estímulo às parcerias público-privadas, ambos para oferecer condições às grandes intervenções urbanas, desconhecendo os impactos sobre a vida das pessoas que habitam este espaço. No processo de apropriação do espaço urbano pelo capital ao longo da historia do Rio de Janeiro, um fenômeno recorrente foi e expulsão das camadas socioeconomicamente mais vulneráveis dos territórios de maior valor de mercado. Foi assim historicamente com a caça aos cortiços da região central14, com os incêndios das favelas da Praia do Pinto e Catacumba15, dentre outras na zona sul da cidade. Nesta atual gestão municipal, essa política volta a apresentar destaque para uma suposta valorização da cidade.

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LABLEGAL - Laboratório de Pesquisas “A cidade e a lei”, desenvolvida com apoio da FAPERJ e coordenada pela professora Cristina Nacif

"Em 1906, com o término da administração de Passos, chegava ao fim a era das demolições. Naquele chuvoso 15 de novembro, quando Rodrigues Alves e seus auxiliares diretos inauguravam oficialmente a avenida Central, 1681 habitações haviam sido derrubadas, quase vinte mil pessoas foram obrigadas a procurar nova moradia no curto espaço de quatro anos. As reformas do governo de Rodrigues Alves marcaram profundamente a vida no Rio de Janeiro". (ROCHA, 1995, p.69) 14

"Na mesma época, as remoções das favelas prosseguiram apressadamente como se segue (até junho, 1965; remoção total: T; parcial: P; família: F; uma família, cerca de 5 pessoas): Vila da Penha (P, 180F); Bom Jesus (T, 510F); Vila do Vintém (P); Álvaro Ramos (T, 25F); Ponta do Caju (T, 30F); CCPL (T, 118F); Timbó (P, 104F); Morro São Carlos (P. 253F); Avenida Brasil (P. 15F); Moreninha (T, 35F); Querosene (P, 210F); Morro dos Prazeres (P, 10F). Todas as precedentes em 1961. Pasmado (T, 911F); Getúlio Vargas (T, 113F); Maria Angu (T, 460F); João Cândido (T, 665F); Maneta (T, 41F); Conjunto São José (P, 20F); Vila do SASE (T, 11F); Macedo Sobrinho (P, 14F); Del Castilho (P, 9F); Marquês de São Vicente (P, 32F); Ladeira dos Funcionários (P, 8F), todas em 1964. Brás de Pina (P, 366F); Turano (P, 34F); Rio Joana (T, 23F); Morro do Quieto (P, 46F); Praia do Pinto (P, 20F); Favela do Esqueleto (2027F, 800 dos quais em 1961. Total 6290F ou cerca de 31.000 pessoas". (LEEDS, 1978, p.220) 15

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