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Superação

PROFISSIONAIS RELEMBRAM ATUAÇÃO

Para trabalhadores do Hospital Unimed, a covid-19 trouxe momentos desafiadores durante trabalho na linha de frente contra a doença

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Em janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou ao mundo o surto da covid-19. No mesmo ano, em 11 de março, a doença foi caracterizada como uma pandemia, tratando-se de uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional. Durante todo o processo da pandemia do coronavírus, os profissionais da saúde, considerados da “linha de frente” no combate à doença, foram os primeiros a serem afetados diretamente, física e emocionalmente.

Chegava muita gente ao mesmo tempo em situação grave e isto antes não acontecia. Foi um drama, período conturbado e de estresse. A constatação é do médico intensivista e coordenador há 18 anos da UTI do Hospital Unimed, Eduardo Godinho, ao lembrar da situação desencadeada pela pandemia do coronavírus.

O grande problema, segundo Eduardo, foi a desinformação na fase inicial, não somente da comunidade leiga, mas da área médica, que procurou exaustivamente formas de tratamento que impedisse a evolução da doença.

“Percebemos que tinha muita medicação usada de forma incorreta e isto atrapalhou muito, aliado às fakes news, propagando a desinformação. Existia uma competição de informação em que, muitas vezes, os leigos achavam que sabiam mais do que os profissionais médicos. Isto interferiu no tratamento e no combate ao coronavírus. Tivemos que enfrentar estas situações com a ciência e não com pseudociência, que não se baseia em evidências e que gera mais mal do que bem”, constata o médico.

Segundo o médico, a vacinação e o entendimento da doença fizeram os casos diminuírem. Eduardo avalia que não era só abrir leito de UTI que resolveria o problema, mas ter todo um recurso, principalmente humano. Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, bioquímicos, fonoaudiólogos e nutrição, toda a equipe multidisciplinar do Hospital Unimed bem afinada, fez o diferencial na redução no número de óbitos, mesmo não estando todos devidamente preparados.

Período muito angustiante

A enfermeira Edna Wagner, com 25 anos de formação, atuou na linha de frente do coronavírus na área de internação do Hospital Unimed. Ela, como vários outros profissionais da área da saúde em todo o Brasil, foi contaminada pelo vírus, mas ficando apenas em isolamento domiciliar por ter sido diagnosticada com sintomas leves.

A profissional lembra que todos os colegas sempre tiveram a prática da assistência, mas com a pandemia da covid-19 se deparou com uma nova situação. No seu setor de internação, no pico da pandemia, todos os leitos ficaram lotados de pacientes, muitos aguardando procedimentos e outros em situações bem graves à espera para a UTI. “Eram cenas de bastante impacto e com pacientes isolados, sem contato com familiares. Alguns conseguiam se falar via telefone. Todos ficaram abalados pela doença e a gente, enquanto profissional, por não saber se o tratamento ia dar certo. Período muito angustiante”, recorda. A entrada nos quartos era todo paramentada, só com os olhos expostos. “Era por eles que a gente sorria, tentando dar esperança a cada um. Éramos as últimas pessoas a verem os pacientes acordados antes de irem para a UTI e serem entubados”, relembra. Edna comenta que todos da linha de frente jamais esquecerão destas situações. “Com tudo que aconteceu, podemos evoluir como ser humano, gerando uma grande experiência de vida. Isto veio para mostrar que as pessoas têm que se unirem mais, incorporar mais o espírito de amizade, de apoio e de solidariedade”, acentua a enfermeira.

“Todos tinham que se fazer de fortes”

Com pouco mais de dois meses de pandemia da covid-19, a técnica de enfermagem Carla Borges, do Hospital Unimed, onde atua por 10 anos, se viu numa situação bem delicada. Foi uma das primeiras profissionais a apresentar os sintomas da doença e parar por oito dias na UTI, sendo seis intubada, somando 16 dias de internação. Carla passou da condição de profissional a paciente. “Sensação única, na qual você se sente sozinha. Uma doença que mexe com o estado emocional. Gracas a Deus tive toda uma assistência desde o pronto atendimento até a internação na UTI”, acentua.

Enfermeira compara covid a uma guerra

Samira Pereira Cardoso, coordenadora da UTI Adulto e Neonatal do Hospital Unimed, lembra dos momentos difíceis em lidar com a desconhecida doença. “Tivemos que nos preparar para um paciente muito grave em UTI e as pessoas com a doença começaram a vir em números elevados”, lembra Samira. “Recebíamos famílias inteiras, marido e mulher, pai, filho e tio. Na região, as contaminações começaram a surgir em festas e, com isso, vinha toda uma família como pacientes. Teve muitas mortes de famílias”, pontua. As pessoas, segundo Samira, não acreditavam no que estava acontecendo.

Foi necessário organizar toda uma estrutura. Era preciso, segundo Samira, ensinar cada funcionário a se paramentar e entrar na UTI, indo muitas vezes na frente e se mostrar forte. “Não posso deixar de agradecer as pessoas que nos apoiaram nesta trajetória, a direção do hospital, tão presente em todas as fases, toda equipe de médicos, fisioterapeutas, pessoal da farmácia, pessoal da manutenção, engenharia clínica, da limpeza e, principalmente, minha equipe de enfermagem, enfermeiros e técnicos de enfermagem, por terem se dedicado e se doado a cada chamado nosso. Não somos nada sozinhos e tudo que fizemos teve a ajuda de cada um deles”.