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Bi NHO R i B Ei RO: H i STó R i AS ESCR i TAS P O R LE TRAS ENTRELAÇADAS

por André Felipe de Medeiros

Da cultura underground ao reconhecimento internacional, o grafiteiro e curador desta exposição, Binho Ribeiro, relembra sua própria história, os trabalhos com ilustrações na juventude, as primeiras experiências pintando na rua e a formação da cena paulistana de grafite, da qual é um dos principais expoentes.

“Fomos todos nós, 11 grafiteiros, presos numa manhã de Carnaval pintando as colunas do metrô Santana”, relembra Binho Ribeiro de um acontecimento em 2011 – cerca de 25 anos após a formação da cena paulistana do grafite, da qual ele é um dos principais nomes. Um jornalista acompanhava o grupo durante as atividades naquela manhã, e ele fez a ponte para que diferentes telejornais exibissem o caso, até mesmo com entrada ao vivo. “Minha mãe ficou assustada, porque ficou sabendo pela TV que o filho dela estava preso”, conta o grafiteiro. “Mas fomos absolvidos da acusação, porque o juiz entendeu que estávamos trazendo um benefício à cidade, não um vandalismo. Ou seja, era um relacionamento [tido como] marginal que começou a ser entendido como benéfico”, completa.

Essa pequena história sintetiza muitas das discussões que rondam o universo do grafite nas últimas décadas. Entre tentativas de deslegitimação – seja por sua origem periférica, seja pelo modo como ele ocupa os espaços públicos –e a aceitação tanto por parte de um público encantado com suas formas, traços e cores quanto pelas instituições, é uma narrativa que se aplica ao Brasil e a diferentes realidades no mundo. Todas essas questões são revistas na exposição

Além das ruas: histórias do graffiti, promovida pelo Itaú Cultural (IC) com curadoria do próprio Binho.

A linha do tempo exposta nesta publicação insere o movimento na história como uma estética recente –iniciada na Nova York de meados dos anos 1960 e 1970 e popularizada de vez na década de 1980 –, que resultou do desejo de expressão inerente ao ser humano, principalmente em uma situação de opressão ou invisibilidade. “Uma das histórias de seu surgimento é romântica: um cara queria que uma mulher visse o nome dele e começou a escrevê-lo no caminho que ela sempre fazia. Dali, outras pessoas se influenciaram e começaram a fazer isso também”, conta o curador. “A essência do início do grafite e da pichação é a mesma: a busca pela fama. Não a fama do mainstream, mas a de ser conhecido em sua comunidade, uma afirmação. O garoto que picha a lateral de um prédio vai criando um nome, uma marca, uma grife. E o grafite dialoga com isso, a essência é a mesma.”

Um Furac O Cultural

“Como não havia espaços em galerias para pessoas que eram excluídas, para uma sociedade esquecida e abandonada, começou a surgir uma cultura underground” – é assim que Binho resume o momento em que

Grafiteiros durante a pintura de mural na Avenida 23 de Maio, um dos maiores corredores de arte urbana da América Latina. Prefeitura de São Paulo, 2015.

Fotografia: acervo Binho Ribeiro

Binho Ribeiro: histórias escritas por letras entrelaçadas

Mural feito por Vitché, Tinho, OSGEMEOS, Speto e Binho. Chile, 1996. Fotografia: acervo Binho Ribeiro

Uma grande amizade iniciou-se neste intercâmbio ao Chile, que, além de fortalecer o grupo, proporcionou aos jovens artistas conhecimentos sobre estilos e técnicas essenciais na formação de seus caminhos artísticos. Essa evolução colaborou para estabelecer São Paulo como berço de uma cultura urbana eclética e diferenciada.