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2 3 Modelo Organizativo

2.3. CONCEITO ORGANIZATIVO

A organização do Centro Interpretativo das Salinas de Porto Inglês tem como enfoque preferencial um aspeto relacional entre as comunidades e o seu território. Assim, o que se pretende apresentar e divulgar é uma totalidade patrimonial que não “cabe” no edifício sendo que este, através das informações e objetos que expõe, valoriza temas que permitem um conhecimento integrado e global que o território e a comunidade apresentam.

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O enfoque não é o valor dos objetos expostos mas o seu significado e a teia de relações e narrativas que estes permitem organizar, junto com os documentos escritos, para uma melhor compreensão de uma totalidade histórica, sociocultural, económica e natural, que teve como eixo primordial e aglutinador, o SAL.

A exposição tem como centralidade – o sal – e a partir dele elege dados interdisciplinares que procuram ajudar na compreensão do impacto que este elemento teve e tem na vida da comunidade do Maio.

1º eixo – O saber fazer

O saber fazer tradicional, na forma de extração do sal, as técnicas e os seus rituais, está ancorado numa tradição ancestral, cujo registo se encontra impresso na memória coletiva da comunidade, que a agrega e lhe dá valor. É essa expressão eco-cosmológica da utilização dos recursos endógenos, de valorização dos recursos naturais, de recuperação de matérias primas, favorecendo tecnologias limpas, numa relação equilibrada com o ambiente, que urge preservar, pois expressa um modo de estar na vida e uma identidade própria de reconciliação da preservação e do uso dos recursos naturais.

A par com a extração do sal, existe um conjunto de outras atividades com significado histórico-cultural e económico que lhe estão associadas, donde se destaca a criação de gado, a produção de queijo, a produção de cal e carvão, a pesca e todo um conjunto de ofícios tradicionais de suporte – queijaria, cestaria, olaria, trabalho com metais, entre outros.

O centro interpretativo do sal constitui-se como o espaço de mostra e interpretação do saber fazer, associado a um modelo em que as comunidades se revêm, interpretam e valorizam, mas também, em que o seu património conduz a processos empreendedores capazes de produzir riqueza.

2º eixo - património natural

• De salientar a necessidade de preservação e valorização do potencial eco cultural da Ilha do Maio, enquanto Sítio

Ramsar, tornando-se estes lugares distintivos e destinos turísticos apetecíveis ao nível paisagístico, ambiental e histórico-cultural. Também, esta inscrição possibilita a integração numa rede internacional, dando visibilidade ao local, promovendo-o além fronteiras, de forma sustentável.

Acresce a responsabilidade da preservação das paisagens, ecossistemas e espécies, a par com o estudo e experiências significativas de “desenvolvimento sustentável a nível social, económico, cultural e ecológico”.

• O projeto atende às caraterísticas devidas ao meio geográfico em que se inscreve, que compreendem os fatores naturais e humanos, na garantia da sua proteção e do papel que estas comunidades detêm na estrutura sócio económica da sociedade, valorizando produtos genuinamente originados na região, em oposição a processos originados pela industrialização e massificação –que alteram o valor e a propriedade dos produtos.

O património (material, imaterial e natural) assume-se como instrumento de desenvolvimento local, não só pela função de salvaguarda e valorização da identidade de uma comunidade, mas como um instrumento eficaz nos processos de interpretação e intervenção sócio cultural, cuja missão se inscreve na discussão e procura de solução para os problemas da coletividade.

Neste contexto, o Centro Interpretativo constitui-se como um instrumento privilegiado do preconizado pela UNESCO: i) na sua vocação de preservação do património cultural (pela funções de recolha, salvaguarda, valorização e investigação de elementos de relevância cultural e natural), revalorização e manutenção de atividades tradicionais promovendo a atividade dos artesãos, a produção, a venda, a manutenção de um saber-fazer, a criação de riqueza, articulando-se com intervenções no território; ii) reinvenção das vias e das formas de intervir no desenvolvimento, enquanto importante estrutura dinamizadora da área geográfica onde se insere, integrando-se num processo participativo de valorização de recursos, nas dimensões território, património e população e articulando-se com o tecido empresarial e com o sector educativo, num papel preponderante de definição de estratégias integradoras e atrativas de desenvolvimento local. Também, o Centro Interpretativo do Sal convida à saída do seu espaço físico através da apresentação de rotas expositivas no território. A originalidade e qualidade das rotas e percursos de valorização do património, reforça e promove um sector chave do desenvolvimento do local quando aliado a um fluxo de turismo cultural, rural e de qualidade. A valorização do património e dos recursos endógenos desta região, associada a estes novos nichos de mercado, constitui uma mais valia, pois torna-se uma atividade estimulante para o surgimento de pequenas empresas familiares, ao mesmo tempo que permite a fixação das populações, o regresso de jovens, encorajando a produção de bens e produtos locais e a melhoria da oferta de serviços e equipamentos.

De entre as dinâmicas podemos destacar: - Trilhos de observação da natureza; - Posto de observação de aves; - Tanques para produção de flor de sal.

Assim, o Centro Interpretativo das salinas é mais que um repositório de artefactos, mas um elemento dinâmico; promove a interpretação da Memória, é mais do que o passado, mas uma forma de projetar o futuro; o conhecimento é ativado para além da aprendizagem formal, mas numa dinâmica sensitiva, lúdica e afetiva.

O Centro Interpretativo do Sal é mais do que um “edifício”, mas um território de conhecimento e inovação.