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Roundtable

Na mesa-redonda, os participantes discutiram sobre as suas experiências e preocupações durante a pandemia tendo sido salientadas questões levantadas pela necessidade de continuidade ou retorno a casa dos pais e subsequente perda de independência e as dificuldades colocadas pelo início da carreira profissional de forma diferente à das gerações anteriores. Na atual fase pandémica foram igualmente debatidas preocupações sobre as consequências psicológicas do isolamento, na produtividade e criatividade. Grande parte do debate focou-se no mercado de trabalho em momentos de crise e na educação. Todos acreditam que as perspetivas de futuro em termos laborais não são as mais felizes. Vivem uma segunda crise, pior do que a primeira, e consideram-se em desvantagem em relação a outras gerações, porque têm menos riqueza acumulada, e menos poupanças. Consideram que a recuperação em termos de empregabilidade e de rendimentos será muito mais lenta comparada com outras gerações, também porque aceitam piores condições laborais, como estágios não remunerados, e salários de entrada baixos. Não creem que a sua experiência tecnológica, conseguida pelo mercado e não pela escola, seja suficiente para ultrapassar esta limitação, apesar de saberem que o mercado de trabalho está a mudar e que se estão a criar novas oportunidades, sendo que isso se acentuou durante a pandemia porque os negócios tiveram, necessariamente, que se digitalizar.

Salientam a ideia de que a educação, o modelo educativo, está ultrapassado, completamente desajustado às necessidades. O caminho muito linear de escola, universidade e emprego já não é viável, mas frisam que a educação emerge da cultura da sociedade civil, demorando mais tempo a alterar-se.

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Discutem como o modelo atual foi pensado para ensinar pessoas a ler e a escrever, a explicar da mesma maneira temas que nem sempre se prestam a ser aprendidos com teoria. Há um grande problema de especialização. Em tempos anteriores, ter um curso distinguia uma pessoa porque eram poucos os que estudavam na universidade, mas agora há muito mais pessoas com competências ao nível superior e há uma muito maior competição para as vagas de trabalho.

Abordam vários modelos de educação alternativa, sendo focada a importância da flexibilidade e da variedade como, por exemplo, permitir às escolas, individualmente, tentar experiências diferenciadas, adequadas às necessidades, confiar mais nos profissionais que estão no terreno e ver que respostas propõem para as situações com que se deparam.

Concordam na importância de incentivar a formação nas áreas das Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemáticas, mas focam também a importância das humanidades para a criatividade, para ter um pensamento mais flexível, detetar nuances e padrões. Lembram que as áreas científicas exigem qualificações muito especializadas, bastante exigentes, mas acreditam que têm tendência a ser cada vez mais automatizadas. Portanto, só quem está na dianteira dessas áreas é que será valorizado, que terá competências mais valorizadas que os outros. Uma possibilidade para se destacarem são as competências humanistas. Reforçam a ideia já falada na conferência de que em Silicon Valley, mentes brilhantes estão a criar as ferramentas do futuro, por isso uma fusão de várias áreas de conhecimento (científicas e humanísticas) seria benéfica para todos, mais inclusiva, mais humana, mais transversal.

Valorizam a oferta de cursos e de formações online pela possibilidade constante de atualização. Valorizam a multidisciplinaridade. Pensam que o sistema de educação rouba tempo, porque exige constante especialização, mas nenhuma experiência de trabalho, criando um paradoxo em que para ter um emprego há que especializar-se, destacar-se, mas perde-se tempo a estudar teoria sem aplicabilidade no mercado de trabalho.

Apesar de serem uma geração com elevadas competências digitais, valorizarem a tecnologia, e acreditarem que a digitalização permitiu uma maior divulgação, por exemplo, do trabalho artístico, ainda prezam o contacto pessoal e as experiências in loco. Apostam na aquisição de competências fazendo cursos online em plataformas como Coursera, Udemy e Edx, entre outras, mas querem certificar-se de que têm acesso a informação que é cientificamente creditada. Preocupam-se particularmente com a filtragem de informação, seja das notícias, seja de conteúdo académico e científico, seja mesmo em relação aos direitos de autor e falam da importância de haver mais meios de verificação do que é publicado online e que sejam acessíveis às diferentes gerações.

Não estão muito otimistas em relação ao futuro profissional e educativo, mas acreditam que, como nativos digitais, podem fazer parte da mudança quer do sistema educativo, quer do mercado de trabalho.