2 minute read

Agostinho Miranda

Agostinho Miranda

Sócio Fundador da Miranda & Associados, Lisboa Founding Partner of Miranda & Associados, Lisbon

Advertisement

ivemos um tempo de transformações e metamorfoses como, pelo menos em termos da sua velocidade, a humanidade não tinha ainda conhecido. Essas transformações não podiam deixar de envolver a energia, um campo da atividade humana que abarca, direta ou indiretamente, mais de 60% da economia mundial. A história do sistema energético moderno, dos últimos dois séculos, é fundamentalmente marcada pela utilização crescente dos combustíveis fósseis, como o petróleo e gás natural, mas também como o carvão, que serve a humanidade há outros cinco séculos. Os combustíveis fós-

Vseis representam hoje cerca de 80% a 85% do consumo das fontes de energia primária. As energias renováveis — eólica, solar, hídrica e outras — têm experimentado um aumento exponencial, especialmente na última década, mas como partiram de uma base muito baixa no mix energético, têm levado tempo a fazer sentir o seu impacto. Em termos absolutos, a contribuição das energias renováveis tem representando mais adições que transições energéticas, posto que, por exemplo, o papel do carvão não tem diminuído. Os combustíveis fósseis, e nomeadamente o petróleo, estão na base da prosperidade e do progresso que a humanidade conheceu nos últimos 150 anos. A energia barata e acessível duplicou a expectativa de vida, multiplicou por sete a população mundial e estima-se que aumentou por 60 vezes a produ-

Estamos hoje no meio de uma grande transformação que, não só irá alterar a forma como produzimos e consumimos energia, mas que irá também transformar as nossas economias, as nossas sociedades e até os sistemas políticos.

ção global. Porém, esta aceleração na utilização dos combustíveis fósseis conduziu-nos à violação dos limites planetários que permitem um espaço seguro para a humanidade. É inegável que a utilização massiva dos combustíveis fósseis danifica os ecossistemas e que desencadeou as alterações climáticas com que estamos confrontados.

Estamos hoje no meio de uma grande transformação que, não só irá alterar a forma como produzimos e consumimos energia, mas que irá também transformar as nossas economias, as nossas sociedades e até os sistemas políticos.

Segundo o livro Global Energy Politics, em que a Professora Karin Bäckstrand é citada, existem quatro realidades que serão sentidas a todos os níveis, nos próximos anos, e sobre as quais nos vamos debruçar nas discussões deste painel. Estas são:

1) As alterações climáticas, que são hoje uma ameaça existencial para o homem e boa parte da vida, não só humana; 2) A ascensão da China, o maior consumidor de energia, o maior poluidor e o primeiro produtor de carvão a nível mundial;

3) A transição para as energias renováveis e a consequente transformação nos sistemas energéticos nacionais e internacionais;

4) A pobreza energética, que se trata de um problema global e, em última análise, de uma questão de segurança. Mais de metade da população mundial está privada, ou fortemente limitada, no acesso à energia. A transição para uma sociedade de baixo teor carbónico não será possível se não conseguirmos erradicar a pobreza energética.