Catálogo 24º AmadoraBD 2013

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24º AMADORA BD 2013 Cenários

de uma campainha de porta, transportando o leitor para a cena da página seguinte através do som. Um efeito de raccord, em que há um desfasamento entre som e imagem, tipicamente cinematográfico (basta pensar em Martin Scorcese) e que Relvas adapta à BD com notável eficácia. E a imagem da corrente e do vidro a estilhaçar-se volta a ser recuperada páginas mais tarde, numa cena de pesadelo em que a língua de uma cobra se transforma na corrente que parte o vidro da máquina de flippers, convidando o leitor a fazer ele próprio a ligação entre as duas cenas. Relvas vai recuperar Eco e Artur, dois personagens de L123 para a história seguinte, Cevadilha Speed. Apesar da vida de Cevadilha dar um, ou mesmo vinte livros, a personagem mais interessante é Lena, ou Ganza, uma bela e misteriosa mulher que Relvas criou a partir de uma fotografia de Helmut Newton. Se L123 era um triller urbano, Cevadilha Speed é uma história de amor, sem a complexidade de L123. O divertido relato de umas férias no Algarve, onde não faltam algumas cenas oníricas, para além de alemães, facilmente reconhecíveis até pela forma distinta como os seus diálogos estão legendados, muita cerveja e bagaço e cenas de pancadaria para animar. Vejam-se ainda os cenários reais que Relvas retrata, seja a Amadora logo no início, ou a saída de Grândola, algumas páginas depois.

TEMPO 2 – O JORNAL SE7E O fim do Tintin não significou o fim da carreira de Relvas, subitamente privado de um espaço fixo de publicação, onde podia experimentar e evoluir. Foi apenas o fechar de um primeiro ciclo. Outro mais longo e produtivo se seguiria no jornal Se7e, um semanário dedicado à música e cinema, onde entre 1982 e 1988, publicaria alguns dos melhores trabalhos da sua carreira. Concerto para Oito Infantes e um Bastardo e Niuiork, as suas duas primeiras histórias publicadas no Se7e são, para muitos, as suas melhores histórias a preto e branco. A história, uma intriga policial movimentada, planificada de forma dinâmica e inovadora, que em Niuiork evolui para uma mais prosaica história de desencontros amorosos, é servida por uma primorosa técnica de preto e branco, que antecipa algumas soluções usadas por Frank Miller em Sin City décadas depois. Também em termos de argumento estamos perante um dos melhores trabalhos de Relvas, com a linearidade do enredo a ajudar a uma melhor compreensão da história. Do mesmo modo, a naturalidade e musicalidade dos diálogos, que sempre foi uma das suas características, continua

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