Catálogo 24º AmadoraBD 2013

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24º AMADORA BD 2013 Cenários

B  © Apontamentos de David Soares sobre a personagem Wang

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C  © A origem de o pEQUENO dEUS cEGO, de David Soares

Desenhem irregularmente, pouco ou nada, aqueles nomes foram sendo construídos sobretudo por contribuírem com obras de banda desenhada merecedoras de uma qualquer atenção crítica, variada e musculada, pela via da construção dos mundos ficcionais (ou outras configurações em relação ao mundo empírico) e não tanto pela presença da ilustração. Aliás, muitos desses autores eram mesmo desenhadores senão medíocres pelo menos sofríveis. David Soares encontra-se numa posição relativamente similar, tendo ele sido também “autor completo” numa primeira fase do seu trabalho e, depois de atravessar um conjunto de experiências fulgurantes no campo (exclusivamente) literário, ter regressado a este campo enquanto escritor. Mas, desde logo se estrutura um problema de linguagem: dizer autor completo, escritor, argumentista, etc., aponta a toda uma série de especificidades de produção e,

E  © Primeira planificação de o pEQUENO dEUS cEGO, de David Soares

Sob o signo de Plutão

D  © Primeira planificação de o pEQUENO dEUS cEGO, de David Soares

felizmente grandes transformações e diversificação nos últimos trinta anos. Um desses pontos de viragem é a emergência dos grandes “argumentistas” ou “escritores” de banda desenhada. Se bem que se possa pensar em alguns nomes muitos diversos que sempre angariaram alguma atenção, de John Stanley a Héctor G. Oesterheld, de Denis O’Neil a Jean-Michel Charlier, de Harvey Pekar a Pierre Christin e Jodorowsky, foi preciso chegar às décadas de 1980 e 1990, sobretudo nos Estados Unidos (com escritores oriundos do Reino Unido, na conhecida “Brit Wave”) para encontrar autores a ganharem uma fama de estrelato impressionante apenas (o uso é irónico) como escritores, e a renovarem essa função, tornando-a algo mais central: os nomes mais óbvios seriam certamente os de Alan Moore, Neil Gaiman, Grant Morrison, Warren Ellis, Garth Ennis, Jamie Delano, mas outras plataformas englobariam J. M. Straczynski, Brian Michael Bendis e Ed Brubaker, Marguerite Abouet, Ariel Schrag e Benoît Peeters… A atenção para com os escritores de banda desenhada em Portugal também sofre de algum défice, quer em termos de foco (as exposições gerais raramente celebram o acto do escritor, angariando antes pelo lado da imagem) quer em termos de memória, mesmo do passado imediato. Nomes como os de João Paulo Cotrim, Nuno Artur Silva, Rui Zink, Marcos Farrajota/Marte, Nuno Duarte, mas também Pedro Brito e Miguel Rocha, nas suas capacidades de escritores, formam uma constelação significativa, à qual é preciso prestar homenagem. Nessa constelação surge a “estrela negra” de David Soares.


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