Catálogo 24º AmadoraBD 2013

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Festival pela Cidade Casa Roque Gameiro

Texto Sara Figueiredo Costa 1

A  © BISCAIA, Ana e LEVI, Clovis, 2012, A Cadeira que Queria Ser Sofá, capa, Lisboa, Lápis da Memória

Ilustrar a Morte, Resgatar a Vida1 Exposição de Prémio Nacional de Ilustração Com A Cadeira Que Queria Ser Sofá, Ana Biscaia venceu a edição de 2012 do Prémio Nacional de Ilustração, uma distinção atribuída pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas. Se o prémio em causa destaca o trabalho visual, no caso deste livro é difícil separá-lo do texto de Clovis Levi, não tanto porque um tenha sido feito a par com o outro (não é apresentada qualquer indicação nesse sentido), mas antes porque a edição do texto e da imagem procurou uma confluência no espaço das páginas que tornou difícil separar os dois componentes. A contaminação entre elementos verbais e elementos visuais é, portanto, a característica mais imediatamente visível deste livro no que toca à sua estrutura, cruzando-se palavras desenhadas e pintadas com texto dactiloscrito, balões de fala com imagens inseridas em molduras, ou ilustrações de página inteira com pequenos comentários à margem do texto. Não é a primeira vez que um livro pensado para o público infantil e juvenil aborda o tema da morte, havendo bons exemplos dessa abordagem no panorama editorial português. Clovis Levi e Ana Biscaia escolheram abordar a morte a partir de três ângulos distintos, ainda que complementares, cada um deles explanado num conto: “Espanto feliz”, “O piano de calda” e “A cadeira que queria ser sofá”. O primeiro incide na inevitabilidade da morte, criando uma narrativa que não cede ao facilitismo de apresentar o fim como um mal absoluto, mostrando, num discurso que fornece argumentos verificáveis, que a eternidade dos seres seria um pesadelo insustentável. No segundo, é a ideia de destino que prevalece através de uma história que escolhe uma caixa de bombons, e os seus respectivos habitantes, para ilustrar o desaparecimento como uma espécie de cumprimento de uma missão tão básica quanto rica (a de viver). O terceiro, que dá título ao livro, recorre a um objecto familiar, 1  Sara Figueiredo Costa escreve de acordo com a antiga ortografia.

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