Catálogo 24º AmadoraBD 2013

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24º AMADORA BD 2013 Cenários

Rafael Sica Rafael Sica (n. Pelotas, Rio Grande do Sul, 1980) é, de todos os artistas desta pequena reunião, aquele que mais envereda por narrativas não-naturais. Se nos últimos tempos temos visto a sua actividade criativa ser coroada de um êxito material mais imediato, com a publicação, em papel, de toda uma série de projectos, o conjunto dos trabalhos no projecto presente concentram-se nas suas tiras, Ordinário (publicadas parcialmente no seu site e coleccionadas numa antologia da Companhia das Letras em 2011). Essa natureza não o coloca fora da atenção mais mediática, tendo ganho duas vezes o Prémio HQ Mix (2005, Novo Talento, e 2009, Web Quadrinhos), e até mesmo colaborações com a Folha de São Paulo. Iniciada em 2011, e com prestações tímidas ao princípio, as tiras de Ordinário parecem concentrar-se sobretudo em episódios urbanos, com personagens muito diversas em enquadramentos diversos – algumas humanas e outras mais fantasiosas, em ambientes vulgares e contemporâneos ou então pedindo emprestados elementos a géneros como a ficção científica e a fantasia. Sejam cenas de interior ou de exterior, a focalização parece estar sempre presa a um confinado canto de uma cidade moderna (recordando a estratégia visual de “Here”, de Richard McGuire) – como se se enclausurasse num qualquer evento absurdo. As tiras não são propriamente

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M  © Rafael Sica, Ordinário, s/d

Ainda que André Kitagawa seja um cultor acérrimo da reprodutibilidade tecnológica da BD/HQ – pelo que, mesmo criando os seus desenhos-base à mão com grafite sobre papel, toda a sua finalização, montagem, colorização, etc. é feita digitalmente – ele também pesquisa novas formas de distribuição da leitura e estrutura desta forma de expressão. Torre chegou a ser exposta num contexto multidisciplinar dos UTT, de uma maneira fragmentada mas integrada noutras linguagens, procurando como que novas formas desta arte responder à sua possibilidade de comunicação e pensamento social, mas já em “Mentiras São Contadas em Julho” (com Rogério Vilela), apesar do enquadramento regular, estudavam-se os impactos com que as sequências e composição da banda desenhada conseguem criar ilusões e, consequentemente, revelações surpreendentes. Se Kitagawa não parece muito interessado em criar narrativas redentoras, ou subsumidas a felicidades fáceis, isso serve melhor para sublinhar as situações socialmente relevantes das suas personagens, e as inquietações que as abarcam e que se deveriam estender aos leitores.


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