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OS IMPACTOS DA INDÚSTRIA DA MODA TRADICIONAL: A EXPLORAÇÃO AMBIENTAL E SOCIAL

Especificamente sobre o descarte, estima-se que menos de 1% da matéria-prima utilizada na criação de roupas novas é reciclado, somando uma perda de 100 bilhões de dólares anualmente (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017). Somado a isso tem-se os custos associados a tal descarte. Ainda segundo a Fundação Ellen MacArthur (2017) a Inglaterra gasta cerca de 108 milhões de dólares na manutenção de lixões e centros de armazenamento, produtos que poderiam ser reaproveitados e devolvidos ao mercado.

Embora haja alguma reutilização dos produtos têxteis descartados, dificilmente eles irão voltar a ser roupas: por falta de interesse e/ou tecnologia, acabam virando subproduto de outras indústrias, como estofamento de bancos ou material de isolamento térmico. Isso deve-se à dificuldade na separação das fibras: cerca de 8% dos tecidos utilizados a nível global são de fibras artificiais ou sintéticas (FRINGS, 2012, p.110), nomeadamente poliamida (nylon), o poliéster, o acrílico, o elastano e o polipropileno, compostos de derivados químicos de petróleo, carvão e gás natural. Fazer a separação de tecidos sintéticos depende do envolvimento de químicos agressivos e poluentes. Quando há o uso de fibras naturais, como algodão e seda, a separação é menos agressiva.

Além da utilização massiva de matérias-primas derivadas de recursos não-renováveis, também há a questão da liberação de microplásticos nos oceanos, bem como a utilização e contaminação da água por seus processos produtivos. Especificamente sobre a água, além da poluição causada pelos processos de tingimento dos tecidos, também precisa-se levar em consideração as altas quantidades necessárias para a manufatura de um produto, bem como o problemático uso de pesticidas e transgênicos no processo produtivo de monoculturas de fibras naturais, como o algodão. O sistema de produção de moda ainda possui uma mentalidade defasada e focada no lucro imediato, sem perceber que ela não é sustentável a longo prazo do ponto de vista ambiental, social e financeiro. Se o ritmo atual se mantiver, até 2050 esta indústria será responsável por até 26% de todo o carbono da indústria mundial, utilizando cerca de 300 milhões de toneladas por ano de material até 2050, jogando mais de 22 milhões de toneladas de plásticos nos oceanos (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017). No aspecto financeiro, até 2030 as marcas de moda podem ter uma queda nos ganhos de cerca de 52 bilhões de dólares, causados pela falta de material para produção e pelo impacto negativo de tais atitudes nocivas frente aos consumidores (GLOBAL FASHION AGENDA, 2017).

Para além dos impactos ambientais e econômicos, também existem os problemas sociais causados pela indústria da moda. Apesar de empregar milhões de pessoas, sendo cerca de 75% da força de trabalho composta por mulheres (Parker, 2009), é uma indústria que viola os direitos dos trabalhadores, pagando salários baixos, extrapolando as horas laborais, em fábricas com condições insalubres, muitas vezes com assédio físico e moral por parte dos empregadores.

Os abusos da indústria ficaram mundialmente conhecidos ao longo da segunda década do século XXI, como o desastre do Rana Plaza, citado no capítulo anterior. Sob pressão dos consumidores as grandes empresas de moda buscam formas de transparentar seus processos, implementos processos de fiscalização na sua cadeira de fornecedores para que as violações citadas acima não aconteçam. Todavia, em uma estrutura de produção em escala mundial, onde ocorre a pulverização das cadeias de produção, o controle de todos os envolvidos no processo complexifica-se. Mudar as estruturas de poder e reorganizar as formas de produção para diminuir os impactos ambientais, sociais e econômicos é difícil, porém a visão dos benefícios futuros podem ser motivadores potentes. Como a demanda por roupas continua em ascensão, é preciso entender como funciona o processo produtivo da moda, e buscar soluções que diminuam seu impacto negativo e potencialmente catastrófico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BANCO MUNDIAL - World development indicators – GD. 2017. Disponível em https://datatopics.worldbank.org/world-development-indicators/

ELLEN McARTHUR FOUNDATION - A new textiles economy: Redesigning fashion’s future – 2017. Disponível em https://www.ellenmacarthurfoundation.org/publications/a-new-textiles-economy-redesigning-fashions-future

GLOBAL FASHION AGENDA - Pulse of the fashion industry – 2017. Disponível em. https:// www.globalfashionagenda.com/publications-and-policy/pulse-of-the-industry/

FRINGS, G. S. Moda: do conceito ao consumidor. Bookman Editora. 2012.