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AS REDES SOCIAIS E O FOMENTO À PRÓ-SUSTENTABILIDADE NA MODA

Ana Carolina Figueredo Virginelli*; UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina) anavirginelli@gmail.com Neide Köhler Schulte*; UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina); neideschulte@gmail.com Leonardo Armando Magalhães; UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina); leonardoscout590@gmail.com; Maria Fernanda Elias Menon; UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina); mariaelias1997@gmail.com

RESUMO:

Palavras-chave: pró-sustentabilidade; moda; artesanato; audiovisual; redes sociais.

1. INTRODUÇÃO

A pesquisa “O audiovisual como ferramenta no ensino da sustentabilidade na moda” iniciada em 2021, produz conteúdo sobre iniciativas pró-sustentabilidade na moda por meio do audiovisual, nas plataformas virtuais Youtube e Instagram, para contribuir no ensino da graduação e do mestrado, presenciais ou à distância. A produção de conteúdo está relacionada à sustentabilidade socioambiental, com assuntos referentes às mudanças nos produtos e sistemas de moda e nas novas práticas na área da moda. Este ensaio é o resultado da primeira etapa da investigação, aborda-se os principais aspectos da pesquisa sobre a funcionalidade das redes sociais para o compartilhamento de informações sobre a pró-sustentabilidade na área da moda. O objetivo deste ensaio teórico é mostrar a importância das redes sociais, como mídias que contribuem para a comunicação de iniciativas pró-sustentabilidade na área do design de moda. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa bibliográfica, descritiva e qualitativa. Os resultados apontam significativas contribuições das mídias digitais para divulgação e manutenção das iniciativas apresentadas pelos autores.

O grupo de pesquisa intitulado Ecoplay foi constituído na UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina), e é integrado por bolsistas de pesquisa, alunas do programa de mestrado PPGModa e a professora coordenadora, doutora em sustentabilidade e moda.

Considera-se para esta pesquisa o atual contexto histórico, com os impactos socioeconômicos gerados pela pandemia da doença COVID-19, agravados com o isolamento social. Artesãs e designers como Nara Guichon, designer têxtil e ambientalista que trabalha com o reuso de redes de pesca industrial como matéria-prima para produtos de vestuário e decoração; e as Mulheres de Jequitinhonha, que produzem moda pró-sustentabilidade; fizeram uso e entenderam a importância das redes sociais como ferramenta para manterem uma rede de apoio financeiro e para dar visibilidade para essas produtoras. As redes sociais se tornaram um espaço democrático para divulgação de iniciativas na moda associada à sustentabilidade. A seguir apresentam-se definições como base para este estudo.

2.1. MODA, SUSTENTABILIDADE E O ARTESANATO BRASILEIRO

Segundo Fletcher (2019) a moda atual exige processos culturais e econômicos, que estão ligados diretamente ao atual consumismo desenfreado, o que vem acarretando grandes custos nas áreas ambientais e culturais da sociedade. Desta maneira, é necessário evidenciar a importância da sustentabilidade socioambiental mediante a “relação insustentável do homem com a natureza, e a necessidade do design atuar com responsabilidade socioambiental e ética” (SCHULTE, p.26, 2015). As definições e discussões sobre sustentabilidade se intensificam na década de 1980. Em 1988 a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), da Organização das Nações Unidas (ONU) define que o desenvolvimento sustentável é “a capacidade de satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades” (CMMAD, 1988, p. 9). Todavia, como consequência da industrialização linear, na qual se insere a cadeia têxtil e de moda, segundo ARPONEN, (p.75, 2020), “é necessário colocar a economia global ao contrário, pois o meio ambiente está sendo devastado muito rapidamente dentro da lógica de mercado atual”. Pressupõe-se que o artesanato e a economia local contribuem para colocar esta economia ao contrário, reaproveitando materiais nos ciclos, promovendo a economia circular. Os artesãos estão se preocupando cada vez mais em produzir de modo consciente, desde o uso das matérias primas até a viabilização da logística reversa, com o retorno das peças para a reciclagem, ou reuso e descartes adequados.

No Brasil os povos originários foram os primeiros artesãos locais, que produziam de modo mais sustentável, e que seguem com a produção de artesanato em diversas nas etnias indígenas, mas em menor escala, visto tamanho genocídio que sofrem no Brasil desde 1500 (SILVA, 2011). Assim, é necessário considerar a importância positiva do ambientalismo que há na tradição indígena brasileira, que vai do material natural utilizado em suas obras à sua forma de vida mais ligada ao que a natureza produz (CULTURA, 2019). Segundo Santana (2020), o artesanato brasileiro

traduz a diversidade das regiões e manifestações culturais presentes neste território, utilizando-se das mais diversas matérias-primas, naturais e técnicas, predominantemente manuais, que resultam em um rico patrimônio cultural e material, alinhados à criatividade e habilidades do artesão. Dessa forma, contrastando com os processos industriais, no que tange à sustentabilidade, o artesanato está alinhado e interligado com os princípios necessários de uma produção pró-sustentabilidade. É importante salientar que na contemporânea moda pró-sustentabilidade, há a participação na produção de artesãs que constroem, modificam e renovam as peças que, antes, poderiam ir para o lixo se seguissem a lógica linear da indústria da moda (Santana, 2020). Nesse sentido, as redes sociais têm servido para os artesãos como canal de divulgação e venda dos seus produtos, principalmente a partir do período de distanciamento social.

2.2. REDES SOCIAIS E A PRÓ-SUSTENTABILIDADE NA MODA

Inicialmente, a internet foi pensada como uma estratégia de comunicação em zonas de guerra, que permanecessem intactas em caso de ataques nucleares. Posteriormente, passou a ser vista nas universidades como uma possibilidade de compartilhamento de informação de forma mais democrática, tendo o primeiro microprocessador chegado à Universidade da Califórnia, em 1969 (ABREU, 2009). Na década de 1990, surgiu outro elemento importante na difusão do uso da internet: as redes sociais, com aplicativos e sites que permitem o compartilhamento de informações entre pessoas e empresas (SIQUEIRA, 2021). No cenário da pandemia, segundo BRASIL (2020), o uso das redes sociais no mundo aumentou 22% com relação ao ano anterior. Dentre os aplicativos de audiovisual mais utilizados nos smartphones estão o TikTok e o Instagram, que tem como foco vídeos de curta duração, onde pode-se encontrar uma diversidade de temáticas abordadas, inclusive tratando de questões políticas e ativismo socioambiental, o que pode ser aplicado e incorporado às ações de pró-sustentabilidade na moda (CARPANEZ, 2021).

Segundo Santana (2020), no contexto de pandemia e COVID-19, os artesãos tiveram suas atividades presenciais em pontos de vendas, como feiras e exposições, fechadas, o que acarretou a diminuição da renda desse setor, mas como a característica do artesanato também ter efeito terapêutico para parte dos artesãos, a produção não parou (SANTANA, 2020). A alternativa encontrada por aqueles que não estavam inseridos no digital, foi migrar para este ambiente. No entanto, situações como falta de internet e afinidade, dentre outras variáveis socioeconômicas influenciam. O SEBRAE intensificou as estratégias de incentivo às redes sociais durante a pandemia (SANTANA, 2020). A seguir, serão apresentados dois exemplos em que foram utilizadas as redes sociais para mostras e vendas dos produtos.

2.4. MULHERES DO JEQUITINHONHA

O projeto Mulheres do Jequitinhonha desenvolvido pela “Associação Jenipapense de Assistência à Infância”, associação civil sem fins lucrativos que atua no desenvolvimento de projetos sociais, visa proporcionar melhoria na qualidade de vida de moradores em situação de risco socioeconômico de comunidades rurais do Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais (AJENAI, 2020). Dois grupos compõe o projeto, as Bordadeiras, que desenvolveram uma identidade de bordado coletivo por meio do fortalecimento de suas histórias; e as Tecelãs de Tocoiós que praticam a tecelagem e o tingimento natural com plantas nativas da região. Parte essencial do projeto foi a divulgação de seus trabalhos nas redes sociais, por meio do uso do Instagram (@ mulheresdojequitinhonha), tornou-se possível a realização de financiamentos coletivos e a venda de seus produtos (AJENAI, 2020).

2.5. NARA GUICHON

Outro exemplo é de Nara Guichon, artesã, ambientalista e designer, de Florianópolis, Santa Catarina. Conhecida por seu trabalho com materiais de reuso, ela tem diversos trabalhos reconhecidos mundialmente, como o projeto Águas Limpas, em que por meio da manualidade ela transforma redes de pesca industriais em esponjas, sacolas e outros itens para uso doméstico. Além disso, trabalha com algodão orgânico, tingimento natural e impressão botânica (ecoprint), uma técnica de estamparia que utiliza plantas coletadas na natureza para fazer impressão direta no tecido. De acordo com Nara Guichon (2022) seu artesanato combina observação e experimentação, a trajetória de reencontrar-se e conectar-se com si mesma. Ativista pela sustentabilidade na moda, ela utiliza como insumos materiais antes denominados lixo, além disso, está presente ativamente nas redes sociais por meio de seu Instagram (@naraguichon). Antes, ela utilizava um blog, hoje tem um site para escrever sobre a temática e tornar conhecido o trabalho da artista, designer e ativista.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na pesquisa realizada evidenciou-se a importância das redes sociais como ferramenta que contribui para a comunicação de iniciativas pró-sustentabilidade na área da moda, principalmente para produção local e artesanal, que tem um papel expressivo no uso de materiais que seriam descartados pela indústria, para produção de novos produtos. Por meio de textos, fotografias e audiovisuais publicados nas redes sociais, se amplia a visibilidade desses produtos que também têm um propósito educativo em prol da sustentabilidade na moda.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARPONEN, JYRI. 2020 é a década da construção ecológica e agora é a hora para a economia circular estabelecer grandes negócios. Design e economia. Circular. SENAI-SP, 2020. p. 54-69. ABREU, Karen Cristina Kraemer. História e usos da Internet. Biblioteca on-line de ciências da comunicação (BOCC). Portugal, 2009.

AJENAI. Mulheres de Jequitinhonha. 2020. Disponível em: https://www.ajenai.org.br/ mulheres-do-jequitinonha. Acesso em: 05 ago. 2021.

BRASIL, Agência. Saiba quais foram os aplicativos mais baixados no Brasil e no mundo: pesquisa “estado do mundo móvel 2020”, da consultoria app annie, fez um levantamento do número de downloads de cada programa. Disponível em: https://exame.com/tecnologia/ saiba-quais-foram-os-aplicativos-mais-baixados-no-brasil-e-no-mundo/. Acesso em: 25 ago. 2021.

CARPANEZ, Juliana. A nova bolha. 2021. Disponível em: https://tab.uol.com.br/nova-bolha/. Acesso em: 24 ago. 2021.

CMMAD - COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO - Nosso futuro comum; Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1988 CULTURA, Brasil. Como surgiu o artesanato. 2019. Disponível em: https://www.brasilcultura.com.br/artesanato/como-surgiu-o-artesanato/. Acesso em: 05 ago. 2021.

FLETCHER, K.; THAM, M. Earth logic, fashion action, research plan. Londres:The JJ Charitable, 2019.

GUICHON, Nara. O poder e a história do artesanato. 2022. Disponível em: https://www. naraguichon.org/post/o-poder-e-a-hist%C3%B3ria-do-artesanato. Acesso em: 05 set. 2022.

SCHULTE, Neide Köhler. Reflexões sobre moda ética: contribuições do biocentrismo e do veganismo. Florianópolis: Editora UDESC, 2015.

SANTANA, Maíra Fontenele. TRAJETÓRIA DO ARTESANATO BRASILEIRO: perspectiva das políticas públicas. 2020. 2016 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Design, Universidade de Brasília, Brasília, 2020. Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/40378/1/2020_MairaFonteneleSantana.pdf. Acesso em: 04 ago. 2021.

SIQUEIRA, André. Redes Sociais: o que é rede social. O que é rede social. 2021. Disponível em: https://resultadosdigitais.com.br/tudo-sobre-redes-sociais/. Acesso em: 18 jul. 2022.