Os detetives do Prédio Azul: os mistérios de Mila

Page 1


1. O SUMIÇO

DA BATERIA E MUITA MAGIA

Meu nome completo é Camila Cristina Cajueiro, mas prefiro mil vezes o jeito como meus amigos Tom e Capim me chamam: Mila. Ou melhor, detetive Mila. Nós três moramos no Prédio Azul, onde criamos um clubinho secreto para inventar músicas, jogar e, principalmente, investigar os mistérios que surgem por aqui. Nem sempre os adultos percebem, mas acontece cada coisa estranha neste prédio... Especialmente no apartamento da síndica, dona Leocádia. Tom, Capim e eu desconfiamos que ela seja uma espécie de 9


bruxa. Sim, uma bruxa! Quem mais teria em casa um caldeirão, um livro de receitas para transformar pessoas em animais e ingredientes como asa de barata e rabo de lagartixa guardados em potinhos na cozinha? Por isso, vivemos de olho nela e quem sabe, um dia, conseguiremos provar que dona Leocádia é mesmo uma bruxa?! Existe também outro mistério que nunca revelei aos meus amigos e que, ano após ano, tento desvendar. Sempre morei sozinha com meu pai, e se me perguntam algo sobre minha mãe digo que se chama Alice e que foi embora de casa quando eu ainda era bebê. Mas a verdade é que não tenho a menor ideia do que houve com ela, e cada vez que tento conversar com meu pai sobre isso ele vem com uma história diferente. – Pai, quer dizer que minha mãe foi embora quando eu tinha alguns meses... – De novo esse assunto, Camila Cristina? – Quantos meses eu tinha, afinal? – Acho que uns quatro... 10


– Da última vez você disse que eu tinha apenas um mês, pai. – Um mês, quatro meses, que diferença faz? Olhe, eu vou ter que ir para o aeroporto agora e só volto amanhã. Você vai dormir na casa do Tom, combinado? Já falei com a mãe dele e está tudo certo. Dê um beijo aqui! – Mas pai... – Agora eu tenho que ir, filhona. Tô atrasado, tenho que voar. Adoro você! As conversas sobre minha mãe sempre terminam assim, com meu pai nervoso, confundindo as datas e saindo apressado, falando de trabalho. Não sei por que ele não consegue me contar mais sobre ela... Queria tanto saber se minha mãe teria dedos compridos ou gordinhos, cabelos castanhos ou dentes tortos como os meus... Pode ser que os dois tenham brigado antes de se separar e nunca mais tenham se falado. Ou, então, pior ainda, talvez exista algum segredo horrível sobre ela que meu pai não queira que eu saiba. Será que ela morreu? 11


Será que foi presa? Será que se casou com outro homem e teve muitos filhos? Ou... o quê?! O queeeeeeeê?! Ultimamente, essas dúvidas têm me perturbado tanto que só consigo cozinhar e comer, comer e cozinhar. Isso mesmo! Se fico ansiosa, vou para a cozinha preparar biscoitos, especialmente de canela, o meu favorito! Amo o cheiro da canela. Amo também o cheiro das mangas que caem no

12


nosso pátio e adoro o perfume da loção que meu pai usa depois de se barbear. Sou dessas que gostam de cheirar tudo o que passa pela frente: das páginas do bloco de papel ao cheiro dos biscoitos queimando! Oooops! Quase perco a fornada completa! Pronto! Agora, com a barriga cheia, posso voltar a pesquisar o meu passado, e, como boa detetive que sou, decidi, mais uma vez, buscar pistas sobre minha mãe no quarto do meu pai. Talvez haja uma foto, um bilhete perdido em algum canto, quem sabe...?

Depois de passar horas vasculhando os bolsos dos paletós e examinando os livros do meu pai em busca de alguma carta de amor esquecida, não achei nada! Já estava quase desistindo quando um dos meus brincos caiu atrás da cama e, ao puxá-la, encontrei inesperadamente uma mala preta trancada com um cadeado 13


cheio de números. Tentei abrir o cadeado colocando a data do meu aniversário, experimentei o número do nosso apartamento, forcei a mala, mas nada! Angustiada, resolvi pedir ajuda aos meus amigos, convocando uma reunião de emergência no clubinho secreto. Instantes depois, lá estava eu com a mala e meus biscoitos quase queimados diante de Tom e Capim, que me olhavam abismados: – Como assim você nunca conheceu sua mãe? – Ah, Capim, acho que ela se separou do meu 14


pai quando eu era bebê! E talvez tenha mais alguma informação nesta mala. Afinal, vocês vão me ajudar a abrir isso ou não vão? – Já testou a data do seu nascimento, Mila? – Claro que já, Tom. A minha e a do meu pai também. – Então vou abrir do meu modo – ele falou, pegando um de seus inventos para me ajudar. Com o escutador supersônico nos ouvidos, lápis e papel nas mãos, Tom girou o cadeado para um lado e para o outro até ouvirmos um som:

Meus amigos do prédio eram mesmo incríveis! Perto deles, meus problemas pareciam encolher tanto que quase desapareciam. À noite, porém, especialmente nos dias em que meu pai viajava e eu ficava sozinha, uma tristeza se enfiava comigo debaixo do lençol e eu 15


voltava a imaginar como seria o rosto, o cheiro, o jeito de minha mãe. Queria muito poder ler um livro com ela na rede, ou ver televisão, bem juntinhas, trocar roupas, pintar unhas, falar da vida... – Olhem isso! – exclamou Tom, abrindo a mala com força. Ao puxar os objetos lá de dentro, em vez de encontrar respostas só vi surgirem novos enigmas. Para que serviriam uma capa preta, um livro de magia, um frasco com um líquido corde-rosa e um diário de uma certa Anette L.?! Brinquei de vestir a capa e senti um forte perfume de jasmim que me pareceu familiar. De quem seriam aquelas coisas? Tom agarrou o livro, Capim pegou o diário e os dois começaram a falar agitadamente: – Isto é livro de bruxaria pesada! – afirmou Tom. – Será que seu pai pegou esta mala na casa da dona Leocádia? – Olhem o nome que está escrito na capa deste diário. Quem será Anette L.? – questionou Capim. 16


arte_DPA_OsMisteriosDeMila_f.pdf

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

16/06/10

12:25

cem onte a c a s d nha a iço stra sum isterios e o e d d m lá eu Além uma o m pra ul... ontrei a d sas z i m A o s a C c ai io nc réd a, e trás da jetos m teri no P b a a a, o o t b ro i da pre ha t d co n a a i n p u m co ca fras o , q ma um a es o dela l u , . a : i L s l vr m o tr e átic Den nett sa e um m . A i g i a a p en cert e-ro que r-d uma o do e c d do io so? íqui diár o is d m l u u ! t ue co m ruxaria aria ! E o q d r b a a u de... i dei ai g ossa eu p menor a – e n m a co m ic que ver nho sínd Por e a t a ão ia, eria Eu n Leocád ta –, t res i r a elho don ta favo m s ei meu nessa susp im, ? p ir o r a s b i da! e C co o ca des ha v om n T r i , a eu tent dar a m que u nte mos a É o v a ge de m os, o g m p i o am ue ue c a! a ão q barq e mag i il m miss e M d e a o e vr hei t iv o li ra c ete D Abra aventu : a Ass ne s t

.

C

1


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.