O Bazófias - Número 34

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Entrevista pedido que o jornalista transmita parte das suas emoções e sensações. Uma reportagem sobre uma mostra de gastronomia não faz sentido sem sabermos se o que o repórter provou é bom ou mau, doce ou salgado. Ou num cenário de guerra, é importante que o jornalista transmita se há factores que também o tocam pessoalmente, ou se pelo contrário, os confrontos, naquela localização em particular, nem sequer incomodam a população.

Quais as vantagens e desvantagens da tua profissão?

As vantagens da minha profissão são as possibilidades de conhecer muita pessoas e locais que de outra forma me estavam vedados e a camaradagem entre colegas de trabalho. As desvantagens... bem... essas são mesmo muitas. Os salários são péssimos, temos horários de polícia, médico e bombeiro, a progressão na carreira não existe mas a exigência patronal não acompanha essa falta, o mercado de trabalho está lotado e mesmo os bons profissionais não conseguem entrar. Para além das pressões sobre a profissão, que estão presentes em todo o lado.

pensada no mercado de trabalho e qualquer licenciado, de qualquer área, pode exercer, sem estudos específicos. Para além disso, as redacções estão completamente saturadas e não conseguem absorver as centenas de licenciados que todos os anos deixam as faculdades. É preciso ter a consciência de que o jornalismo não é aquela profissão romântica em que se viaja muito, todos vamos ser pivots do telejornal ou descobrir grandes escândalos económico-políticos. E não tendo uma visão negativista, há que compreender que se deve aliar o que se gosta de fazer àquilo que nos garanta um futuro profissional e económico viável, e que o equilibro entre os dois factores é essencial. No entanto, e apesar de todos

“ainda acredito também que os profissionais sérios, competentes e dedicados, dispostos a muitos sacrifícios, encontram sempre espaço e oportunidade para crescer„ estes “contras”, ainda acredito também que os profissionais sérios, competentes e dedicados, dispostos a muitos sacrifícios, encontram sempre espaço e oportuni-dade para crescer. Mas é preciso muito estômago, uma carapaça dura e, sobretudo, muita persistência e paixão. ● Ana Laura Martins

Aconselhavas os indecisos a seguir jornalismo?

Não aconselhava. De momento, é mesmo uma profissão muito ingrata e madrasta. Sei que, actualmente, dizê-lo é quase um cliché, mas um jornalista recebe o salário mínimo por 1 2 horas de trabalho, sem qualquer tipo de compensações, muitas vezes a recibos verde, o que lhe retira todos os direitos, sejam férias, folgas, ou subsídio de desemprego. A formação académica não é recom[ 29 ]


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