Tópicos contemporâneos para o ensino de idiomas

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O livro aborda temas relevantes para o ensino de línguas deste século, com foco em variadas faixas etárias e contextos de ensino, aliando o embasamento teórico necessário e as práticas que podem ser utilizadas e adaptadas para os mais diferentes contextos educacionais. Por que ler este livro? Para estar a par dos temas que permeiam as discussões educacionais contemporâneas.

Tópicos contemporâneos para o ensino de idiomas

Nesta obra, reunimos 11 capítulos escritos por especialistas com experiências no ensino de línguas em variados contextos no Brasil. São professores, formadores de professores e pesquisadores que se dedicam às temáticas aqui contempladas, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento profissional e as práticas de ensino de educadores que atuam nas diversas regiões brasileiras, em diferentes segmentos.

Joyce Fettermann e Isabela Villas Boas

Ensinar línguas no século XXI nos impõe desafios de diversas naturezas: filosófica, metodológica, linguística, cultural e afetiva, entres outras. Por mais bem formado, experiente e capacitado que um educador seja, seu aprendizado não termina nunca, pois sempre há novos conhecimentos e competências a serem desenvolvidos, à luz de novas abordagens de ensino, tecnologias educacionais, demandas do mercado de trabalho e, principalmente, perspectivas socioemocionais e socioculturais.

Akemi Iwasa

ORGs:

Tópicos contemporâneos para o ensino de idiomas

Bruno Albuquerque Cristiane Perone Gabriel Ribeiro Guilherme Pacheco ORG

Isabela Villas Boas ORG

OUTRAS OBRAS

Joyce Fettermann Leticia Moraes

Luiz Felipe Bayão Marina Falcão Mônica Freire Paulo Dantas

Tópicos contemporâneos para o ensino de idiomas

GETTING INTO ELT ASSESSMENT Isabela de Freitas Villas Boas e Vinicius Nobre

GETTING INTO TEACHER EDUCATION: A HANDBOOK Vinicius Nobre e Catarina Pontes

TEACHING EFL WRITING A PRACTICAL APPROACH FOR SKILLS - INTEGRATED CONTEXTS Isabela de Freitas Villas Boas

ISBN 978-65-55584-08-0

ISBN 13 978-65-55584-08-0 ISBN 10 65-55584-08-4

Para suas soluções de curso e aprendizado, visite www.cengage.com.br

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Tópicos Contemporâneos para o Ensino de Idiomas

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Tópicos contemporâneos para o ensino de idiomas / organizadoras Joyce Fettermann, Isabela Villas Boas. -- 1. ed. -- São Paulo : Cengage Learning, 2021.

Vários autores. ISBN 978-65-55584-08-0

1. Idiomas - Estudo e ensino 2. Professores - Formação I. Fettermann, Joyce. III. Villas Boas, Isabela. 21-71394

CDD-418.007

Índices para catálogo sistemático: 1. Idiomas : Estudo e ensino

418.007

Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964

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Tópicos Contemporâneos para o Ensino de Idiomas ORGANIZADORAS: Joyce Fettermann e Isabela Villas Boas

AUTORES: Akemi Iwasa Bruno Albuquerque Cristiane Perone Gabriel Ribeiro Guilherme Pacheco Joyce Fettermann Leticia Moraes Luiz Felipe Bayão Marina Falcão Mônica Freire Paulo Dantas

Austrália • Brasil • México • Cingapura • Reino Unido • Estados Unidos

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Tópicos contemporâneos para o ensino de idiomas Joyce Fettermann e Isabela Villas Boas (org.) e Akemi Iwasa, Bruno Albuquerque, Cristiane Perone, Gabriel Ribeiro, Guilherme Pacheco, Joyce Fettermann, Leticia Moraes, Luiz Felipe Bayão, Marina Falcão, Mônica Freire e Paulo Dantas

Gerente editorial: Noelma Brocanelli Editora de desenvolvimento: Salete Del Guerra Supervisora de produção gráfica: Fabiana Alencar Albuquerque Revisão: Isabel Ribeiro e Joana Figueiredo Diagramação: Crayon Editorial Design de capa: Alberto Mateus

© 2022 Cengage Learning Edições Ltda. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, sejam quais forem os meios empregados, sem a permissão por escrito da Editora. Aos infratores aplicam‑se as sanções previstas nos artigos 102, 104, 106, 107 da Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Esta editora empenhou‑se em contatar os responsáveis pelos direitos autorais de todas as imagens e de outros materiais utilizados neste livro. Se porventura for constatada a omissão involuntária na identificação de algum deles, dispomo‑nos a efetuar, futuramente, os possíveis acertos. A Editora não se responsabiliza pelo funcionamento dos links contidos neste livro que possam estar suspensos. Para informações sobre nossos produtos, entre em contato pelo telefone 0800 11 19 39 Para permissão de uso de material desta obra, envie seu pedido para direitosautorais@cengage.com

© 2022 Cengage Learning. Todos os direitos reservados. ISBN‑13: 978‑65‑55584‑08‑0 ISBN‑10: 65‑55584‑08‑4

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Impresso no Brasil. Printed in Brazil. 1a impressão – 2021

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Sumário Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Contribuições dos multiletramentos para o ensino de inglês na escola pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Joyce Fettermann 1

Emoções, afetos e ensino de línguas: Uma visão multidisciplinar . . . 16 Guilherme Bomfim Pacheco

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O aprendizado de inglês durante a descoberta do mundo letrado . . . 23 Cristiane Perone

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Educação e adolescentes: Desafios e perspectivas. . . . . . . . . 29 Gabriel Ribeiro

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Usando projetos para tangibilizar o aprendizado de um novo idioma . .36 Leticia Moraes

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Escola e autonomia: Um olhar crítico para o futuro . . . . . . . .44 Mônica Freire

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Fala e identidade: Considerações sobre sexismo linguístico . . . . . 52 Akemi Iwasa

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Ensinando para a diversidade . . . . . . . . . . . . . . . . 61 Luiz Felipe Bayão

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Materiais autênticos: Usos e possibilidades . . . . . . . . . . . 68 Marina Falcão

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Pedagogia ou andragogia? Diferenças ao ensinar adultos e crianças . . 75 Bruno Albuquerque

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Tecnologias digitais na educação . . . . . . . . . . . . . . . 82 Paulo Dantas

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Introdução e o ensino de idiomas, em específico, enfrentam tantos desafios e imploram por tantas mudanças e inovações que é difícil reunir toda a discussão necessária sobre o tema em um único livro. Porém, abordar e problematizar esse tema é preciso. Isso foi o que procuramos fazer nesta coletânea de artigos escritos por consultores da Troika, empresa de consultoria na área de educação, cuja missão é desenvolver recursos e experiências educacionais inspiradoras e significativas, contribuindo para uma sociedade mais equânime e democrática. O ponto de partida para qualquer transformação na área de educação é a justiça social, o combate ao racismo e a vários tipos de preconceito, como gênero e orientação sexual. Mesmo com as mais modernas e eficazes metodologias de ensino, nossos alunos não construirão aprendizagens significativas se não se sentirem em um ambiente em que suas identidades são respeitadas e validadas, em todos os aspectos – nas comunicações verbais e não verbais dos professores e colegas, nos materiais didáticos utilizados, nas práticas avaliativas formais e informais, enfim, em toda a experiência de aprendizagem. Essa transformação só acontece quando trazemos à luz os nossos vieses inconscientes e aprendemos a enfrentá-los. Nesse sentido, há dois artigos que abordam esse assunto e oferecem sugestões de como enfrentar esses desafios. Em segundo lugar, é fundamental conhecer nossos alunos: seu estágio de desenvolvimento; suas necessidades de aprendizagem; como diferenciar o ensino para atender às demandas de crianças, adolescentes e adultos. É comum ouvirmos adultos dizendo que não se adaptaram a uma escola de idiomas ou a um professor(a) específico porque ele(a) “me tratam como criança”. Adolescentes também se ressentem ao serem tratados como “criancinhas”. Para eles a abordagem de ensino também deve ser diferente, considerando sua fase de vida, suas características específicas, seus gostos, seu contexto. Há ainda a problemática do ensino para crianças e o letramento em mais de um idioma. Portanto, trazemos nos artigos discussões acerca do A E D U CAÇÃO E M G E R A L

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ensino de crianças, adolescentes e adultos que visam contribuir para o aprimoramento das práticas de ensino. No entanto, para além do entendimento do que cada faixa etária requer, temos também que entender os alunos holisticamente e compreender que cognição e emoção são uma coisa só. As emoções têm um papel fundamental na aprendizagem e não podem ser ignoradas ou apenas coadjuvantes nas nossas práticas. Além disso, precisamos ensinar visando à autonomia e à aprendizagem contínua, longeva, incansável. Não há metodologia ou tecnologia que substitua um entendimento pleno, completo de quem são nossos alunos e do precisam para florescer e se desenvolver. Em terceiro lugar, é importante enfatizar a necessidade de se desenvolverem não somente habilidades cognitivas, mas também as habilidades socioemocionais que são cada vez mais relevantes para a construção de um mundo mais equânime, justo, empático, colaborativo. Nessa perspectiva, não podem faltar reflexões e orientações acerca da aprendizagem por meio de projetos e do enfoque nos multiletramentos. O ensino híbrido é também um tema contemporâneo que ganhou ainda mais destaque na pandemia da Covid-19 e que precisa ser mais bem compreendido, e cujas boas práticas têm de ser elucidadas e implementadas. Essas abordagens mencionadas precisam fornecer os alicerces necessários para a aprendizagem efetiva e é nessa conjuntura que entra o papel dos materiais didáticos e a discussão a respeito do uso de materiais didáticos prontos versus a criação dos materiais pelos próprios professores. Portanto, procuramos discutir nesta coletânea três vertentes: a função social da educação, a compreensão de quem são nossos alunos e o entendimento das abordagens de ensino condizentes com o mundo contemporâneo, que promovam o desenvolvimento dos cidadãos que queremos para o futuro. Por meio da experiência na formação de professores e gestores, bem como na criação dos mais diferentes tipos de materiais didáticos para ensino de inglês para crianças, adolescentes e adultos, voltados para o ensino presencial, híbrido ou a distância, focado no ensino de inglês como língua estrangeira e para o ensino bilíngue, a Troika apresenta neste livro sua contribuição para a construção do conhecimento na nossa área de atuação. Esperamos que nossas discussões suscitem reflexões e indagações, pois é assim que nos desenvolvemos como profissionais e como pessoas. Isabela Villas Boas 8

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Contribuições dos multiletramentos para o ensino de inglês na escola pública 1

Joyce Fettermann

INTRODUÇÃO por um estudante/professor de língua inglesa e publicada no livro Inglês em escolas públicas não funciona? Uma questão, múltiplos olhares (LIMA, 2011), aponta uma realidade que vem sendo por anos, em muitos contextos, ponto de atenção no que se refere ao ensino do idioma no Brasil: alunos e alunas chegam ao segundo ciclo do ensino fundamental com grandes expectativas de aprendê-lo, mas muitas vezes se frustram. Pesquisadores e os próprios documentos oficiais denunciam o que desencadeia uma série de desapontamentos nesse sentido: materiais didáticos em número insuficiente para todos e sua desconexão com a vida real, falta de recursos disponíveis (como laboratórios e acesso limitado à internet), formação precária de professores, número reduzido de horas/aula, alunos desmotivados, número elevado de pessoas e multiníveis de proficiência em uma mesma sala de aula, salários baixos, entre tantos outros fatores. Tudo isso, com o tempo, foi tomando dimensões cada vez maiores e desenvolvendo (des)crenças quanto à possibilidade de se aprender a língua na escola. Por outro lado, também influenciou estudantes a se tornarem professores no futuro para mudar a situação vivida por eles, como registrado na narrativa 14. A N A R R AT I VA 14, E S C R I TA

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Hoje, muita coisa já está diferente e segue mudando. No entanto, ainda é preciso caminhar mais e pensar em maneiras práticas de auxiliar os professores na tarefa de ensinar sem negligenciar os contextos em que os alunos vivem, os conhecimentos que trazem de suas comunidades, as desigualdades que enfrentam no seu cotidiano, os acessos (ou a falta deles) às tecnologias digitais, entre outros, tornando o aprendizado da língua inglesa uma realidade na escola pública. E não apenas isso, mas que seja relevante para a vida dos aprendizes. Nessa perspectiva, este capítulo discute como tornar isso possível e propõe um trabalho voltado para o uso da língua em práticas sociais com o auxílio da Pedagogia dos Multiletramentos e, a partir dela, contemplar as diversidades linguística, cultural e tecnológica dos dias atuais. Além disso, são apresentadas ideias para auxiliar, de maneira prática, os educadores nos seus desafios vivenciados em sala de aula no ensino do idioma. 1

ENSINO DE INGLÊS NA ESCOLA PÚBLICA

A língua inglesa só foi considerada obrigatória na escola regular brasileira a partir da Lei no 13.415/20171 para os alunos matriculados a partir do 6o ano do ensino fundamental até o ensino médio. Antes disso, considerada apenas uma língua estrangeira (LE) dentre as outras, como o espanhol, era tida como pouco relevante em relação às demais disciplinas escolares. No passado, o número de horas reservado ao estudo das LE era reduzido e a carência de professores qualificados nas áreas linguística e pedagógica maior do que hoje, o que acabou fazendo que as aulas de línguas modernas nas escolas de nível médio se tornassem monótonas e repetitivas, desmotivando professores e alunos, e deixando de “[...] valorizar conteúdos relevantes à formação educacional dos estudantes”. Além disso, a escassez de materiais didáticos ou sua inacessibilidade também era um grande desafio (BRASIL, 2000, p. 25). Devido a uma série de questões como essas e as apontadas na Introdução, estudar inglês na escola tornou-se sinônimo de fazer exercícios e memorizar regras da gramática, em geral desconectadas de contextos de uso e da realidade dos alunos (FETTERMANN, 2020), o que pode ter alimentado 1 Disponível em: https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/431644888/lei-17-13415. Acesso em: 3 jan. 2021.

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a crença de que não é possível aprender inglês na escola pública (BARCELLOS, 2011) por parte de professores em serviço e estudantes de Letras. Com o tempo e a valorização do idioma como uma disciplina obrigatória no currículo, movimentos foram feitos em direção a um ensino mais significativo. A Base Nacional Curricular Comum — BNCC (BRASIL, 2017) inseriu o inglês na área de Linguagens e suas Tecnologias (Língua Portuguesa, Arte, Educação Física e Língua Inglesa) e propôs que se ensinasse a língua visando, por exemplo, à comunicação em práticas sociais; pensando no inglês como língua franca, considerando seu caráter formativo na vida dos aprendizes; entendendo os multiletramentos como essenciais para obter possibilidades de (inter)agir no mundo digital e plural por meio das diversas linguagens e semioses; focando na compreensão e conscientização de que não existe uma única maneira de falar inglês no mundo (ou uma que seja a certa). A língua é diversa, por isso, é preciso [...] acolher e legitimar diferentes maneiras de se expressar por meio da língua, ensinando seus diversos usos e formas, dando maior importância à cultura e colocando a correção, a precisão (accuracy) e a proficiência linguística em segundo plano. (FETTERMANN, 2020, p. 34)

Isso, no entanto, não significa não considerar a gramática ou a correção dos alunos importante, mas tratar essas questões em contextos, em práticas de linguagem, tendo em vista seus usos. Portanto, é preciso trabalhar a língua inglesa com os estudantes de forma a contribuir para que a utilizem visando ampliar seus conhecimentos do mundo e de suas culturas, interagir em variadas situações de comunicação, refletir e se posicionar criticamente em âmbito local e global, participando discursivamente em diferentes áreas. Fazer isso não é tarefa fácil. Como demonstra um panorama das experiências com o ensino de inglês na rede pública brasileira, realizado pelo British Council (2019), a maioria das propostas curriculares para o ensino de inglês nas Secretarias dos Estados pesquisadas possui foco em estrutura gramatical da língua, predominantemente em Rondônia, Tocantins, Alagoas, Ceará, Maranhão, Piauí, Sergipe, São Paulo e Rio Grande do Sul; e totalmente na Bahia, no Mato Grosso do Sul e no Espírito Santo. Portanto, torna-se necessário propor políticas públicas que valorizem o ensino de inglês como 11

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prática social e pensar em ações que levem os professores à formação continuada, rumo a uma forma de trabalhar que contemple as necessidades apontadas. Os multiletramentos, dessa forma, podem auxiliar em uma nova mentalidade e pedagogia para que se torne possível aprender inglês nas escolas públicas brasileiras. 2

MAS O QUE SÃO MULTILETRAMENTOS?

Da percepção de um grupo de educadores e pesquisadores quanto aos impactos das tecnologias e da globalização na sociedade e também na educação nasceu a Pedagogia dos Multiletramentos (CAZDEN et al., 1996). O Grupo de Nova Londres observou que, com o avanço das tecnologias, a maneira de ler e de produzir textos estava sendo afetada, já que os múltiplos modos da linguagem, representados pela escrita, imagens, sons, gestos e outros — o que chamam multimodalidade — estavam influenciando as formas de representar sentido. Além disso, com a globalização, a diversidade cultural cada vez mais fazia parte dessas produções pelos diversos contextos e realidades que influenciavam a leitura e a escrita. Com a alfabetização — ou, aqui, o ensino da língua inglesa — tradicionalmente tão focada nas habilidades instrumentais de leitura e escrita, percebe-se a necessidade de inserir elementos multimodais que sejam expressos desde o gesto até a internet e considerados de forma crítica em práticas situadas em contextos sociais, culturais e históricos, para que os alunos, de fato, consigam utilizar a língua em situações reais de uso e se comunicar (PEREIRA, 2014). Dessa forma, precisamos ter em mente algumas questões: 1. não basta apenas apresentar textos multimodais em sala de aula, é necessário explorar suas origens e possibilidades, propor investigações e proporcionar reflexões a partir deles; 2. trabalhar com multiletramentos requer uma nova forma de ensinar e também de avaliar; 3. os alunos têm voz nessa pedagogia, eles falam de seus contextos e suas realidades; 4. é importante partir dos contextos dos alunos e deixá-los pensar nos problemas de suas próprias comunidades, bem como em maneiras de resolvê-los, a partir do que aprenderam em aula; 5. a língua deve funcionar como um meio, não o fim, no processo de aprendizagem. Já que se fala tanto no funcionamento da língua em práticas sociais, nada mais real para os alunos do que pensar nas suas próprias realidades. Paulo Freire (1986) já destacava essa importância ao falar da leitura. Portanto, redesenhar as 12

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formas de ensinar inglês na escola pública passa também por isso, já que esse é um contexto em que os alunos possuem e demonstram tanta diversidade. 3

COMO COLOCAR ESSAS IDEIAS EM PRÁTICA?

Como trabalhar com multiletramentos na escola pública, onde, em muitos casos, não há equipamentos, recursos ou ferramentas disponíveis? É preciso usar a criatividade. Não tem laboratório na escola? Use o celular dos alunos. Não tem internet? Use materiais impressos. São muitos alunos na mesma sala de aula? Divida a turma em grupos menores. Mas para conseguir fazer tudo isso é preciso planejar. Precisamos também engajar os alunos e desafiá-los. Isso é fundamental para que consigamos obter sucesso diante de novas tentativas. Para tanto, seguem algumas dicas a partir de uma proposta com atividades que podem ser adaptadas de acordo com a escola, os alunos e os materiais disponíveis. 3.1

Letramento midiático e fake news

Nossos alunos deparam com todo tipo de notícia nas redes sociais, e grande parte é fake. Eles precisam saber quando se trata de fake news e como reagir em relação a elas. Logo, trabalhar esse tema em aula é essencial nos dias de hoje. O que você pode fazer? Se houver um laboratório com internet ou um projetor disponível, leve uma notícia falsa para os alunos (alguma que tenha sido postada recentemente, de preferência) e peça-lhes que analisem o texto, o layout da página, as imagens, o endereço eletrônico e todos os elementos possíveis que possam denunciar que aquela notícia é uma fake news. Provoque a reflexão sobre os impactos dessas publicações nas vidas das pessoas, por que elas devem ser evitadas, como denunciar esse tipo de publicação nas redes sociais, entre outros.2 Como produção, você pode pedir que, em grupos, 1. os alunos analisem outras fake news e encontrem elementos que indiquem que são, de fato, notícias falsas; 2. metade da turma escreva notícias falsas (escolha os temas com eles) e a outra metade, notícias verdadeiras. Os alunos podem analisar todas e julgar se acham que são verdadeiras ou falsas, dizendo o porquê; 3. Caso a escola não possua laboratório ou projetor que possa ser utilizado, leve a(s) notícia(s) impressas. Isso não mudará o resultado da proposta de atividade.

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produzam uma campanha contra fake news na escola. Eles podem criar infográficos, cartazes, vídeos ou outros meios e, depois, postar suas produções em mídias sociais ou fazer uma exposição na própria escola. Se for possível, conecte as atividades ao conteúdo proposto pelo currículo. Aproveite para revisar e introduzir novos tempos verbais, vocabulário etc. Permita que os alunos utilizem a língua e falem de suas experiências, contando se já se depararam com fake news em suas redes sociais, se as identificaram e o que fizeram em seguida. Como avaliar? O que avaliar? Possivelmente um projeto como esse pode durar mais de uma aula. Então, incentive os alunos a utilizarem a língua inglesa o quanto for possível durante as aulas e as atividades. Numa aula que se baseia em multiletramentos, devemos pensar em avaliar não apenas a produção linguística. Os alunos, em geral, se empolgam ao participarem de atividades que tenham a ver com o que gostam de fazer e com o que estão acostumados a lidar no seu dia a dia. Então, eles vão falar em português, isto é natural! Nesse caso, encoraje-os para que voltem a usar a língua inglesa, e os ajude com o que não souberem em inglês. Outra sugestão é compilar no quadro as expressões que eles vão precisar para se comunicar e usá-las como uma oportunidade de aprendizagem incidental baseada nas necessidades comunicativas dos alunos para aquela atividade. Assim, é importante circular pela sala o tempo todo, verificando as necessidades deles, que dúvidas apresentam, observando seus níveis de envolvimento com a atividade proposta e, entre os componentes dos grupos, como colaboram ou não com seus grupos, a produção final, a apresentação, entre outros. Esse tipo de avaliação não tem como foco uma nota nem visa ao simples teste quantitativo dos alunos. Em vez disso, coloca os aprendizes em um lugar muito mais protagonista e autoral na própria aprendizagem. Dessa forma, avaliamos para que eles aprendam, não o que aprenderam. Esse é o principal ponto, e exige, sim, mais trabalho, mais movimento, empenho e envolvimento de nossa parte. Mas, no final, é muito mais recompensador.

CONSIDERAÇÕES FINAIS de ensinar na escola pública é preciso. A razão disso é que também é necessário combater a (des)crença sobre o ensino de P E N S A R E M N OVAS F O R M AS

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inglês nesse contexto e abrir possibilidades aos alunos e alunas de, a partir das práticas sociais das quais participam, entrar em contato com outros países, novas culturas e maneiras de viver. Dessa forma, estaremos trabalhando contra um sistema de exclusão e segregação de minorias que, muitas vezes, não têm condições de pagar por aulas de inglês em cursos de idiomas ou estudar em escolas particulares. A partir das ideias compartilhadas, percebemos que os multiletramentos permitem e estimulam o uso de múltiplos modos de linguagem, a aprendizagem protagonista, o pensamento crítico e a compreensão do mundo, incluindo a própria cultura. Assim, usamos a língua em uma nova perspectiva, não privilegiando mais a gramática descontextualizada, mas integrando-a de forma criativa e significativa às atividades. Trabalhar dessa maneira, além de desafiar os professores — que precisam de formação continuada adequada —, permite que contemplem as diversidades linguística, cultural e multimodal exigidas no século XXI em suas aulas, utilizando a língua inglesa como um meio pelo qual os alunos podem fazer uso em suas interações sociais. É um caminho longo, que já começamos a trilhar. E vamos continuar. REFERÊNCIAS BARCELOS, A. M. F. Lugares (im)possíveis de se aprender inglês no Brasil: Crenças sobre aprendizagem de inglês em uma narrativa. In: LIMA, D. C. (org.). Inglês em escolas públicas NÃO funciona: Uma questão, múltiplos olhares. São Paulo: Parábola, 2011. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio) — Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Brasília, DF, 2000. _______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental. Brasília, DF, 2017. BRITISH COUNCIL. Políticas públicas para o ensino de inglês: Um panorama das experiências na rede pública brasileira. 1. ed. São Paulo: British Council, 2019. CAZDEN, C.; COPE, B.; FAIRCLOUGH, N.; GEE, J. et al. A Pedagogy of Multiliteracies: Designing social futures. Harvard Educational Review, Spring 1996, v. 66, n. 1. Research Library. 60 p. FETTERMANN, J. V. Redesign como teoria de ensino voltada para os multiletramentos na formação de professores de inglês. 2020. Tese (Doutorado em Cognição e Linguagem) — Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2020. FREIRE, P. A importância do ato de ler. 12. ed. São Paulo: Cortez, 1986. LIMA, D. C. de. (org.). Inglês em escolas públicas não funciona? Uma questão, múltiplos olhares. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. PEREIRA, R. S. Multiletramentos, tecnologias digitais e os lugares do corpo na educação. 2014. Tese (Doutorado em Educação) — Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina, 2014. 15

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