O Hospital de Todos-os-Santos

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e arredores (que já descrevemos), prática já experimentada em casos idênticos como, por exemplo, no Hospital Maggiore em Milão, que lhe é pouco anterior. Data, porém, de 15 de Maio de 1492 a cerimónia de lançamento da primeira pedra para a construção do Hospital Real de Todos-os-Santos que Garcia de Resende, repetindo e ampliando o que já fora relatado por Rui de Pina, descreve nos seguintes termos: “No anno de mil e quatrocentos e noventa e dois, a quinze dias do mez de Maio, mandou El Rei perante si fundar e começar os primeiros alicerces do Esprital Grande de Lisboa, da invocação de Todoslos Santos, na maneira em que ora está feito, o qual lugar era horta do mosteiro de São Domingos. E nos primeiros alicerces El Rei por sua mão por honra de tão Santo, tão grande e tão piedoso edifício, lançou muitas moedas d’ouro, e esse dia andou todo ali vendo como se começava, e comeo em casa do conde de Monsanto, que é pegada com a horta do dito Esprital” (RESENDE, 1622: 93). A decisão de incorporar numa só instituição a quase meia centena dos hospitais dispersos pela cidade de Lisboa, que se regiam por regulamentos antigos, desactualizados, e por isso mesmo dificilmente adaptáveis aos condicionalismos dos finais do século XV, era uma medida que se impunha, tanto mais quanto é certo que algumas dessas pequenas unidades, à falta de um regulamento interno, eram administradas arbitrariamente com as consequentes irregularidades que a falta de normas mais facilmente permitia. Daí que essa deficiente organização e mau funcionamento, agravados ainda com a escassez de recursos normalmente verificada nesses pequenos hospitais, impusessem a necessidade de canalizar toda a diversidade de rendimentos para um só organismo que, sob a protecção e fiscalização do poder central, estaria em condições de prestar um serviço social mais eficaz. Os desmandos e abusos vinham de longe. Já o Infante D. Pedro, na célebre carta de Bruges, alerta o irmão, o Rei D. Duarte, denunciando as irregularidades que se verificavam nas albergarias e hospitais portugueses. – 64 –


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