Revista CIEE nº 83 - CIEE

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Talento ele já tem. Só falta a oportunidade.

Conheça o Projeto Aprendiz Legal e dê uma oportunidade a quem não tem. O Aprendiz Legal é um programa de aprendizagem no trabalho para jovens de 14 a 24 anos, realizado na empresa, em parceria com instituições educacionais. É a chance de formar profissionais qualificados para a sua empresa e ainda cumprir a Lei da Aprendizagem (nº 10.097/2000). Afinal, um bom empresário não deixa uma boa oportunidade passar. Aprendiz Legal. Mais que profissionais, formando cidadãos. Acesse www.aprendizlegal.org.br e conheça o programa.

Iniciativa:


nº 83, setembro/outubro 2008 A tiragem desta edição é de 85.000 exemplares. Auditada por

Carta ao leitor .......................................................... 4 Ponto de Partida ....................................................... 6 Tendências ...............................................................16 Novas Idéias .............................................................18 Pesquisa ...................................................................19 Legislação .................................................................20 Escola .......................................................................32

CAPA Professor Emérito – Troféu Guerreiro da Educação 2008: Evanildo Bechara.

pág. 24

Capacitação ..............................................................33 Serviço ......................................................................34 Suplência...................................................................35 Empresa....................................................................36 Comportamento ......................................................38 Esporte .....................................................................40 Direito ......................................................................49 Terceiro Setor...........................................................50 Em Foco ...................................................................53 Gerais .......................................................................61 Análise ......................................................................62 Expo CIEE ................................................................64 Inventário .................................................................65 Eventos .....................................................................66

ENTREVISTA Wálter Maierovitch e a luta contra o crime organizado. pág. 8

TENDÊNCIAS Luxo: um mercado em plena expansão no Brasil. pág. 12

Inauguração ..............................................................70 CIEE Cultural............................................................76 Dicas de português ...................................................78 Cartas .......................................................................80 Ponto Final................................................................82 DIVULGAÇÃO Aprendiz Legal .......................................................... 2 Programa Diálogo Nacional ..................................... 5 Nova Lei do Estágio ................................................. 39 Programa de Alfabetização Gratuita de Adultos ..... 57 Conta Universitária Bradesco................................... 83 CIEE, estágio de qualidade ....................................... 84

AGITAÇÃO JOVEM Novos cursos em áreas de crescimento. pág. 41

CULTURAL O legado deixado por Ciccillo Matarazzo. pág. 72


CARTA AO LEITOR é editada pelo

Editor responsável: Luiz Gonzaga Bertelli, MTb 10.170 (Presidente executivo do CIEE). Conselho editorial: Ruy Martins Altenfelder Silva, Luiz Gonzaga Bertelli, Jacyra Octaviano. Redação: Jacyra Octaviano (assessora de comunicação), André L. Rafaini Lopes, Andrea de Barros, Cláudio Barreto, Elizabeth da Conceição, Erika Sarinho, Roberto Mattus e Rafael Dias (estagiário). Colaboradores: Lucíola Souza (Goiânia/GO); Márcia de Freitas (São José do Rio Preto/SP); Hetth Carvalho (Salvador/BA). Revisão: Mário Gonzaga Athayde. Fotos: Servfoto. Arte: Edith Schmidt (edição de arte/capa); Wilson André Filho (ilustrações). Capa (foto): André Luiz Mello. Produção gráfica: PIC Comunicação. Impressão: Gráfica Plural. As matérias publicadas nesta edição poderão ser reproduzidas total ou parcialmente, desde que citada a fonte. Solicitamos que as reproduções de matérias sejam comunicadas à redação. As opiniões expressas em artigos assinados não coincidem necessariamente com a opinião da revista. Agitação: Rua Tabapuã, 445 - 3º andar - Itaim Bibi - São Paulo/SP - CEP 04533-001 - Tel.: (11) 3040-6527/6526 agitacao@ciee.org.br. Exemplares atrasados podem ser solicitados à redação ou podem ser consultados acessando o site www.ciee.org.br.

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São muitas as personalidades ligadas à educação que merecem ser homenageadas por suas realizações. Afinal, são elas que valorizam e dão dignidade a um setor cada vez mais desacreditado no Brasil, em função da crise na qualidade de ensino. Premiar com um título tradicional nos meios acadêmicos os profissionais que dedicam sua vida à educação é um prazer e, ao mesmo tempo, uma necessidade. Por isso, a escolha deve ser feita com a maior lisura e rigor possíveis, passando por reitores, educadores, empresários, jornalistas e conselheiros do CIEE. Apesar do número de votantes, a escolha quase unânime do filólogo Evanildo Bechara para receber o título Professor Emérito – Troféu Guerreiro da Educação 2008 CIEE/Estadão comprova mais uma vez o prestígio da premiação. Professor de Língua Portuguesa e Filologia Românica, o pernambucano de Recife – que aos 12 anos chegou ao Rio de Janeiro para não sair mais – é o atual ocupante da cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras (ABL) e um dos maiores conhecedores da língua pátria. Bechara é um símbolo da arte de ensinar. Sua vocação como docente manifestou-se muito cedo, ainda na puberdade, quando já ganhava alguns trocados como professor particular. Foram trinta anos de carreira na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e outros tantos anos na pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), além da passagem pelos ensinos fundamental e médio. Nesta edição de Agitação, um pouco da história marcante de um homem que nasceu para o ensino das letras. Outro fato relevante, que merece atenção, é a aprovação da nova Lei do Estágio. Após 31 anos, as normas foram modernizadas, trazendo avanços para os estudantes, instituições de ensino, empresas e organizações públicas, envolvidas na estratégica responsabilidade de preparar, com a qualidade requerida pelo moderno mercado de trabalho, o profissional de amanhã. No dia 26 de setembro, após a assinatura do presidente Luís Inácio Lula da Silva, ela foi publicada no Diário Oficial, com o número 11.788. O CIEE, com sua experiência de 44 anos em administração de estágio, participou ativamente do processo de elaboração do novo texto, que incorpora várias posturas que já vinham sendo preconizadas pelo CIEE e acatadas pela totalidade de suas organizações parceiras, embora sem estarem previstas na antiga lei. É o caso da bolsa-auxílio e do limite de dois anos para contratos de estágio na mesma empresa, sem falar na gratuidade – agora compulsória – de todos os serviços prestados pelos agentes de integração aos estudantes, mas que é praticada pelo CIEE desde sua fundação, a mais de quatro décadas. Na reportagem sobre a nova lei, um resumo das principais mudanças e as novidades que o CIEE está preparando para atender à nova realidade do estágio.


Diálogo Nacional

com Ruy Altenfelder política economia ciência literatura religião relações internacionais artes plásticas marketing político cinema comunidade saúde movimentação popular medicina marketing eleitoral teatro esporte educação urbanismo

Um programa de entrevistas com os maiores. E melhores. Sintonize 4ª Feira – 23h TV Aberta São Paulo Canal 72 TVA e 09 Net 5ª Feira – 19h30 Canal 8 Campinas – Canal 8 Net 5ª Feira 21h Canal de São Paulo – Canal 18 TVA 6ª Feira 21h30 TV Com Santos - Canal 11 Net Domingo 12h Canal de São Paulo – Canal 18 TVA Domingo 12h Blue TV Rio de Janeiro – Canal 18 TVA 2ª Feira 23h TV Com Belo Horizonte – Canal 6 Net 3ª Feira 20h TV Com Belo Horizonte – Canal 6 Net 4ª Feira 19h TV Cidade Livre Brasília – Canal 11 Net www.dialogonacional.com.br


PONTO DE PARTIDA

É preciso arriscar Para se tornar um profissional de sucesso é preciso ser ousado, palavra-chave na carreira de Luiz Henrique Barreto do Amaral, diretor de Novos Negócios da Fundação Padre Anchieta – mantenedora da TV Cultura. Enquanto cursava Ciências Contábeis pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), ele aproveitou para correr atrás de sua primeira experiência no mercado e conseguiu: por um ano estagiou na extinta Secretaria do Tesouro da prefeitura de São Paulo. “No estágio, você tem contato com o pulsar de uma empresa, porque adquire a percepção de como funcionam as coisas no dia-adia”, enfatiza Amaral. Ao concluir a faculdade, ainda com 23 anos, conquistou uma vaga na área de Desenvolvimento Urbano, após passar no concurso pú-

blico do Banco Banespa. Mas o que parecia ser o sonho de consumo de todo recém-formado, que é a estabilidade financeira, não foi o suficiente para ele. “Abri mão da segurança que o setor público me oferecia porque sabia que podia ir mais longe”, explica. A partir daí, ele deu um novo rumo na carreira. Partiu para o programa de trainee na

ENTRE ASPAS

AGREGANDO VALORES Quando descobriu a existência dos cursos de Educação a Distância (EaD) do CIEE, a estudante Camila Ferreira do Nascimento, 21 anos, que faz o segundo semestre de Pedagogia, da Universidade Nove de Julho (Uninove), em São Paulo, não parou mais de cursá-los. “As aulas do EaD do CIEE são de fácil compreensão”, afirma. Camila já fez dez desses cursos e pretende continuar. De acordo com ela, as aulas estão agregando informações importantes para seu futuro profissional. “Meu português está muito melhor”, revela, depois de acompanhar as aulas interativas de Atualização Gramatical. A cada curso concluído, a informação vai para um banco de dados do CIEE. Com isso, os estudantes que participam das aulas têm prioridade no encaminhamento de vagas para estágio. 6

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empresa aérea Vasp, até chegar ao cargo de superintendente de serviços. Passou por diversas áreas até se firmar na Fundação Padre Anchieta. Do estágio até os dias atuais, Amaral nunca parou e mantém um currículo invejável. De acordo com ele, não há receita para o sucesso: “Meu crescimento profissional se deu porque eu soube arriscar.”

Há um movimento para que o setor público absorva alunos com condições sociais mais baixas. Mas sem outras medidas, as universidades não vão fazer um bom trabalho. Elas não sabem lidar com esses alunos.

Simon Schwartzman, mestre em sociologia, Ph.D em ciência política e atual diretor-presidente do Instituto de Estudos do Trabalho

e Sociedade - IETS (Revista Ensino Superior, ano 10, nº 119).

O papel dos gerentes é possibilitar que outras pessoas sejam criativas, dar a elas espaço e ajudá-las a tornar suas idéias viáveis.

Howard Gardner, professor da Universidade Harvard (Você S.A., setembro de 2008).

O mercado hoje exige uma escolarização crescente e progressiva. Quem tem um diploma está em melhores condições do que quem completou apenas o ensino médio.

Cláudio Dedecca, economista da Universidade Estadual

de Campinas (O Estado de S. Paulo, 24 de agosto de 2008)


BRAÇO DIREITO DO RH A paulista Marcela Giordano, 22 anos, terminou a graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e emendou um curso de pós-graduação em Administração de Recursos Humanos (RH) na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo. Com a nova matrícula, em janeiro deste ano, ela conseguiu seu primeiro estágio na Aon, uma consultoria de seguros. “Até então, só tinha feito os obrigatórios da faculdade”, conta. Não demorou para Marcela conquistar a confiança dos seus supervisores e, seis meses depois de seu contrato, assumiu o recrutamento e seleção dos novos estagiários da Aon. “Ela é mais do que nosso bra-

DE PAI PARA FILHO

ço direito”, conta Nancy Bartos, diretora de RH. Um bom exemplo foi a participação da empresa na Feira do Estudante – Expo CIEE 2008: Marcela cuidou do estande nos quatro dias de evento, em busca de candidatos para seis vagas de estágio que tinham em aberto.

PARA COLHER FRUTOS No quinto semestre do Curso de Hotelaria no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac/SP), a estudante Larissa Emy Kawasaka, 23 anos, completou um ano no programa de estágio da Accor Hospitality, empresa multinacional do ramo de hotelaria. Com a experiência na capacitação prática, Larissa já colhe frutos. Foi pelo estágio que a estudante decidiu o caminho profissional que quer seguir: a área administrativa. “Depois da faculdade de hotelaria, quero fazer administração e abrir meu próprio negócio”, revela. Larissa atua na área de Recursos Humanos da empresa, o que lhe permite uma visão abrangente de todos os setores da Accor. “No RH, tenho contato com todas as áreas da empresa, o que só melhora meu conhecimento sobre hotelaria”, enfatiza.

Gabriel Andrade Vieira tem apenas 20 anos e grandes sonhos pela frente. Um deles é tornar-se um grande profissional como o seu pai, Thomaz Barreto Vieira, gerente de Pessoal de um dos maiores grupos médicos da Bahia, a Promédica, onde começou como estagiário há 29 anos. “Meu pai sempre trabalhou com muita responsabilidade; ele nos ensinou com exemplos a importância de ter dedicação e respeito à sua profissão”, ressalta Gabriel, estudante do quarto semestre de Sistemas de Informação do Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge) e estagiário, há um ano, na área de suporte do Centro de Processamento de Dados, também do grupo Promédica. O jovem estudante conseguiu a oportunidade após passar pelo processo de seleção do CIEE. “Sempre procuro saber se as pessoas estão satisfeitas com o meu trabalho.” Assim como o pai, ele parece nunca perder o foco: “Também gosto de viajar, e quero ir a outros países fazer cursos, pois será um grande diferencial para a minha área.”

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ENTREVISTA

WÁLTER FANGANIELLO MAIEROVITCH, presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone.

Na linha de frente contra o crime Seu mais recente trabalho: início de uma série de três livros que farão a radiografia do crime organizado e seus tentáculos.

O desembargador Wálter Fanganiello Maierovitch lançou no fim de setembro o livro A criminalidade dos potentes, uma compilação de artigos do autor, publicados na imprensa, nos quais discute a criminalidade transnacional e a máfia. Um dos maiores especialistas do mundo, consultor da União Européia, Maierovitch foi o primeiro a liderar a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), no governo Fernando Henrique Cardoso. Nesse período, foi fechado o acordo

entre o CIEE e a Senad para a promoção da Campanha Nacional Antidrogas nas universidades. “Procurei o prestígio e a seriedade do CIEE para fazer o convênio com o governo e a Campanha Nacional Antidrogas nas Universidades, coordenada pelo CIEE, é a maior que existe hoje no Brasil”, diz. Seu extenso currículo na área judiciária inclui atuações na Vara das Execuções Criminais, na Corregedoria dos Presídios do Estado de São Paulo e no Departamento de Inquéritos da Polícia. Nos anos 80, participou da prisão do mafioso italiano Tommaso Buscetta. Foi quando conheceu o juiz italiano Giovanni Falcone, um dos mitos na luta contra o crime internacional, assassinado em uma estrada pela máfia siciliana, em 1992. Atualmente, Maierovitch preside o instituto que leva o nome do juiz italiano e tem por objetivo promover estudos e reflexões para o combate à criminalidade. Além disso, é vice-presidente do Conselho de Administração do CIEE. Nesta entrevista a Agitação, fala do seu novo livro, revela peculiaridades de sua atuação na Senad e deixa claro por que é um dos maiores especialistas na luta contra a criminalidade. Agitação – Seu novo livro, Criminalidade dos potentes, lançado recentemente, aborda os grupos que sustentam a máfia, um tema bastante polêmico. Por que escrever sobre esse assunto? Maierovitch – Há um ano, faço um trabalho em Roma sobre o problema da criminalidade sem fronteiras. É um tema que traz um aspecto novo à discussão, porque já se começa a descobrir, acima das máfias, um estamento que dá sustentação à matriz mafiosa, que vem sendo chamado genericamente de criminalidade dos potentes. Os potentes

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são os verdadeiros organizadores e comandantes do crime organizado, aqueles que, inclusive sob aparência de respeitabilidade, atividades de prestígio e até do interesse público, manejam os cordéis. Estou trabalhando exatamente esse tema no livro, lançado dia 29 de setembro, o primeiro da série Linha de Frente para a Cidadania. Além de Criminalidade dos potentes, completam a série um livro sobre a geopolítica das drogas e outro sobre o terrorismo. Os dois últimos serão lançados no ano que vem. Agitação – No que se apóia esse novo estamento? Maierovitch – A criminalidade dos potentes está apoiada em três pilares. A corrupção sistêmica é a primeira delas, pois mira o lucro e investe na corrupção. O segundo pilar é o controle do poder e o terceiro, o emprego de métodos mafiosos. Quando se fala em máfia, pensamos na Itália, mas ela é um fenômeno transnacional, que hoje tem grupos organizados na Rússia, na China e em vários outros países. No Brasil, temos pré-máfias. No Rio de Janeiro, por exemplo, milícias e traficantes escolhem, seus candidatos às eleições para cargos públicos e impedem campanhas de outros candidatos dentro de territórios delimitados. Isso é extremamente preocupante. Agitação – Quais as providências que se pode tomar nesses casos? Maierovitch – A Justiça Eleitoral pediu o reforço de tropas federais, para que o eleitor possa votar sem pressão. Mas e o antes? E o depois, quando as tropas saem de lá? A criminalidade organizada consegue o controle do território e da comunidade porque difunde o medo e não é a presença de tropas do Exército,durante o breve período eleitoral que resolverá isso. Agitação – O caso do empresário Daniel Dantas é emblemático para se en-

“É muito difícil combater a lavagem de dinheiro, porque a criminalidade dos potentes tem seus meandros e consegue desinformar a opinião pública.”

tender a criminalidade dos potentes? Maierovitch – Pois é. Criou-se foro privilegiado para ele no Supremo Tribunal Federal. Os mortais, quando se sentem ameaçados por um delegado num inquérito de prisão arbitrária, impetram habeas corpus a um juiz de primeiro grau. Se o juiz não delegar, vão ao tribunal estadual ou federal e, finalmente ao Superior Tribunal de Justiça e, só então, ao Supremo, o último grau. O senhor Daniel Dantas foi direto ao Supremo, contra todas as orientações jurídicas estabelecidas. Habeas corpus liberatório só se dá a liminar em situações absolutamente claras de constrangimento legal. E não era o caso. Agitação – Essa situação é exclusiva do Brasil ou encontra-se também em outros países? Maierovitch – Esse problema já toma aspecto transnacional. Veja, por exemplo, a parceria MSI [Media Sports Investment] – Corinthians, pela qual se queria

transformar o clube na “lavanderia São Jorge” de magnatas russos, que não podem atuar na Rússia e têm de buscar outros países. É muito difícil combater a lavagem de dinheiro, porque a criminalidade dos potentes tem seus meandros. Mais um exemplo: o partido mais forte da Itália, após a II Guerra Mundial, foi a Democracia Cristã. O espantoso é que o senador Giulio Andreotti foi sete vezes primeiro-ministro. Denunciado por ter se associado à máfia nesse período, foi absolvido no julgamento em primeiro grau, com grande estardalhaço da imprensa, que falava em perseguição. O Ministério Público apelou e ele foi condenado, já sem a mesma cobertura da mídia. Andreotti recorreu e, como tinha mais de 80 anos, foi declarada extinta a pena, por prescrição. Mas, para o povo, ele foi inocentado – e não foi isso o que aconteceu. Ou seja, a criminalidade dos potentes também consegue desinformar a opinião pública. Agitação – O senhor chegou a trabalhar com o juiz italiano Giovanni Falcone, um dos símbolos mundiais na luta contra a máfia. Como foi essa experiência? Maierovitch – Pela primeira vez na história, Falcone mostrou que a máfia existia, quando a criminalidade dos potentes dizia que tudo isso era fantasia. Ele levou a julgamento 82 chefes mafiosos. Depois desse trabalho, criou-se um conselho antimáfia, e o Falcone não foi escolhido para participar. Criminalidade dos potentes! Isso demonstrou que ele não tinha prestígio entre os poderosos e estava dado o sinal para seu assassinato, como realmente aconteceu, dinamitado quando seu carro passava numa estrada. Nosso contato deu-se por ocasião da prisão, no Brasil, do mafioso Tommaso Buscetta, quando eu era responsável pelo sistema penitenciário do estado de São Paulo. Agitação – Dentre as inúmeras funções que exerceu, o senhor foi o primeiro comandante da Secretaria Nacional Antidroset/out 2008

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gas (Senad). Como foi sua atuação? Maierovitch – Numa assembléia especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre drogas, houve um compromisso internacional de que cada nação montaria uma secretaria nacional antidrogas, que seria um órgão de cooperação de forças na área da repressão, prevenção e tratamento, e teria vinculação com o gabinete da Presidência da República. O Brasil nada mais fez do que atender à sugestão da ONU, assim como outros países. Mas uma coisa é atender à sugestão e outra é ter vontade política para agir. Então, começou a haver problemas, pois nem a Polícia Federal e nem mesmo o Ministério da Saúde aceitavam coordenação externa. E não existia um presidente, no caso Fernando Henrique Cardoso, com pulso firme o suficiente para cumprir a missão. Então, o Brasil foi no oba-oba. Agitação – O senhor teve dificuldades para cumprir seus objetivos? Maierovitch – Passei um ano e um mês na secretaria e caí fora, tão logo vi que isso era uma grande farsa. A partir do momento que saí, o presidente FHC, para mostrar sua pouca coragem, reestruturou a secretaria, retirando a coordenação da repressão, sob argumento medroso de que havia uma superposição de forças. Agitação – Na sua visão, como deveria ser estruturada a secretaria para tornarse mais eficiente?

Maierovitch – O grande problema do Brasil é de coordenação. A Polícia Civil não se comunica com a Polícia Militar, que não se comunica com a Polícia Federal. Temos na unidade federativa as polícias civil, federal, rodoviária estadual e rodoviária federal. São controles de nicho. Uma não conversa com a outra. Assim como acontece com os Ministérios Públicos Federal, Estadual e as Justiças Estaduais e Federal. Enquanto isso, a situação se agrava. O vice-presidente da Colômbia, que visitou recentemente Portugal e Espanha – portas de entrada da droga na Europa –, disse que um grama de cocaína corresponde a quatro metros quadrados de floresta tropical devastada para o plantio da coca. Ou seja, a cada ano são destruídos 300 mil hectares de florestas tropicais na Amazônia para produzir a cocaína colombiana. Então, a questão implica também um problema ambiental. Mas essas informações não chegam à sociedade e não há um planejamento de atuação coordenada para tornar eficiente o combate ao narcotráfico. Agitação – Mas existe uma forma eficaz de combater ao narcotráfico? Maierovitch – Sim, existe. É preciso fazer o enquadramento das políticas públicas, criar um observatório internacional, estabelecer cooperações internacionais mais efetivas, apreender mais drogas que circulam no submundo – as

polícias do mundo inteiro só conseguem recolher de 3% a 5% de toda a droga que circula. É um nada. Também é bom lembrar que o narcotráfico movimenta 400 bilhões de dólares no sistema bancário. São famílias, cidades inteiras e até mesmo países dependentes desse montante. No Marrocos (com o haxixe) e na Colômbia e Bolívia (com a cocaína), grande parte do Produto Interno Bruto (PIB) é dependente das drogas, o que torna ainda mais complicado o combate e a prevenção ao crime organizado. Não é uma solução simples. Agitação – O que o senhor pensa das teses que defendem a descriminalização das drogas? Maierovitch – No Brasil, pensa-se que descriminalizar é liberar geral. Não é. O que se faz é separar o traficante, que é criminoso e perigoso, do usuário. Vários países entenderam que o usuário é um problema de saúde pública, sócio-sanitário, e não criminal. Já o traficante é um problema criminal, que precisa ser combatido com pena pesada. É preciso separar os dois públicos para que se crie uma nova cultura, mais eficiente para se enfrentar o problema. Só que o sistema de saúde não está preparado para prestar esse atendimento. O rico vai para as clínicas especiais, que não resolvem muita coisa, e o que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece para a população? Nada.

“É preciso fazer um enquadramento das políticas públicas, criar um observatório internacional e apreender mais drogas que circulam no submundo.”

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Agitação – O que o senhor acha da atuação do CIEE na área de prevenção, com as palestras antidrogas realizadas nas principais faculdades e universidades do país? Maierovitch – Quando eu era o secretário, procurei o prestígio e a seriedade do CIEE para fazer o convênio com o governo e a campanha antidrogas do CIEE é a maior que existe hoje no Brasil. A idéia do governo FHC, que continua na administração Lula, era não fazer programas com relação às drogas, porque chama atenção e desperta a curiosidade. Isso é uma ignorância total. Agitação – O que o senhor falaria para os jovens, principalmente àqueles que têm curiosidade em relação às drogas? Maierovitch – O jovem tem de sair fora dessa, principalmente das drogas sintéticas. A maioria delas é feita em fundo de quintal e os fabricantes utilizam o potencializador do veneno de rato na mistura. É a famosa bala. Mas e se eles não conseguirem isolar o veneno? Esse é o principal problema das drogas sintéticas. Vendem para o jovem como ecstasy, mas não é. Os adolescentes estão muito desinformados. Quem usa droga se desidrata, ainda mais com a euforia dançante, e isso faz com que as danceterias ganhem muito dinheiro com a venda de água e refrigerantes. Na Europa, são obrigatórios os bebedouros em casa noturna. Em São Paulo, por desconhecimento, um projeto nesse sentido foi vetado. Portanto, antes de mais nada, é preciso ter um mínimo de informação. Agitação – Como foi sua opção pelo Direito? Maierovitch – Minha vocação surgiu na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Antes, tinha inclinação para o justo e fui buscar o caminho do Direito, a arte do eqüitativo. Saí da Faculdade em 1971 e, após a necessária experiência como advogado, entrei na magistratura em 1979.

“O estágio é uma abertura, uma integração, como o próprio nome do CIEE indica.”

pequenos problemas. O juiz das pequenas comarcas atende casos em geral: de júri, eleitoral, cível e da família, entre outros assuntos. Isso dá uma boa bagagem para o início da carreira. Já em São Paulo, passei por todos os cargos difíceis. Fui juiz da Vara das Execuções Criminais, corregedor dos Presídios do Estado, juiz da Polícia e do Departamento de Inquéritos, juiz eleitoral da 2.ª Zona, que cuida da propaganda política, e no Tribunal Regional Eleitoral (TRE); trabalhei, ainda, como juiz assessor de presidentes de tribunais, juiz do júri da Zona Leste, entre outros. Agitação – E nesses cargos todos, o senhor sofreu muitas pressões dos potentes? Maierovitch – Nunca sofri pressão do poder dos potentes. Os que tentaram, eu prendi. Criei minha própria blindagem. Pressão para cima de mim, não. Enfrento qualquer situação. Agora, ameaças fazem parte da vida de todo juiz. Paolo Borsellino, juiz que também foi assassinado pela máfia italiana, disse: “Quem tem medo, morre a cada dia; quem não tem medo, morre uma vez só.”

Agitação – O senhor chegou a fazer estágio? Maierovitch – Fiz alguns estágios na época da faculdade, em escritórios de advocacia. Na universidade, o aluno tem a teoria. E a prática? E a adequação depois? Mesmo o primeiro aluno da faculdade pode não estar apto para o trabalho. O estágio é uma abertura, uma integração, como o próprio nome do CIEE indica. É importantíssimo na formação profissional dos jovens. Agitação – O senhor atuou durante um longo período como juiz. Como foram esses anos na magistratura? Maierovitch – Primeiro fui para o interior, atuar em comarcas menores. Conheci os

Agitação – Todas essas experiências foram fundamentais para seu trabalho como professor, inclusive nos Estados Unidos? Maierovitch – Gosto muito do contato com jovens idealistas, que precisam ver o mundo real. Muitas vezes, sou surpreendido positivamente quando encontro ex-alunos em cargos importantes, em empresas e no setor público. Na Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, tive uma experiência muito interessante, pois havia uma grande comunidade hispânica interessada nas aulas. Cheguei a dar também um curso de Jornalismo Independente, na região do cultivo ilegal de coca na Bolívia. Eram cem jornalistas do mundo inteiro e quem estava lá, acompanhando tudo, era o senhor Evo Morales, então como presidente do Sindicato dos Cocaleiros e hoje, o presidente da Bolívia. A set/out 2008

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O LUXO EM ALTA Segmento em expansão atrai consumidor sofisticado e empresas aproveitam mercado estável para aumentar investimentos no país. Um porta-níqueis de grife francesa a 96 reais, uma echarpe italiana de 1.600 reais ou uma pulseira de 86 quilates de diamantes a 800 mil reais. Esses são alguns dos preços cobrados nas lojas do Shopping Cidade Jardim, que abriu as portas em maio deste ano, na capital paulista. Composto por 180 lojas - das quais seis internacionais, que colocam pela primeira vez sua marca no Brasil um complexo de cinemas, uma academia e um spa, o Shopping faz parte de um projeto mais ambicioso, chamado Parque Cidade Jardim, incorporado pela imobiliária JHSF. Orçado em 1,5 bilhão de reais, o conjunto terá outras doze torres, sendo nove residenciais, com apartamentos de 236 a 1.700 metros quadrados e com os preços mais altos de São Paulo – uma cobertura de 1.700 metros quadrados pode custar 18 milhões de reais, ou mais de 10 mil reais o metro quadrado. “A JHSF acredita que exista um mercado amplo para produtos de alta qualidade, principalmente para aqueles que são desenvolvidos de forma criteriosa, após um intenso trabalho de pesquisa, de identificação de demandas, de adequação exata ao público que pretende atingir”, diz Ana Auriemo Magalhães, diretora de mix da JHSF, referindo-se à proposta diferenciada do shopping. “O país tem hoje grande potencial para atrair capitais por sua economia estável e grande mercado interno”, completa. Entre as novidades do novo shopping está o primeiro espaço exclusivo Ro12

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lex no Brasil. Seguindo sua política internacional, a marca mundialmente conhecida como pioneira na indústria relojoeira suíça não opera lojas próprias. Trata-se de uma parceria entre a marca e a joalheria Corsage, que tem agora uma loja inteiramente dedicada aos relógios Rolex e Tudor, linha esportiva da marca. “Quando o homem começa a ganhar dinheiro, ele quer um carro bacana e um Rolex”, explica Sílvia Caruso, gerente comercial da Corsage. Um Rolex no pulso é sinônimo de status e sucesso para os compradores, divididos entre as classes A e B, na proporção de 70% homens e 30% mulheres (essas executivas de boa renda ou mimadas pelos maridos). A marca é clássica, com cem anos de tradição, e só nos últimos cinco anos os modelos começaram a apresentar algumas inovações. O segredo para resistir a tantos anos no mercado é a fidelidade à proposta do seu criador, de fazer uma marca de alta relojoaria, com relógios mecânicos e a corda. Não perder o foco do negócio foi a grande sacada da empresa suíça e uma das estratégias de marketing para quem quer se dar bem no mercado de luxo, apontada pelo professor Silvio Passarelli, coordenador do MBA Gestão de Luxo, na Fundação Armando Álvares Desfile Wilson Ranieri, 22ª edição da Fashion Week.

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TENDÊNCIA


Silvia Caruso, da Rolex, alta relojoaria que abriu primeira loja no Brasil.

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ca de 50 novas marcas de artigos de luxo deverão se estabelecer no país nos próximos cinco anos. Entre os quatro emergentes que compõem o grupo dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil é o que deverá atingir a maior taxa de crescimento na venda de artigos de luxo até 2013, previsão da especialista em consumo global e varejo, Claudia D’Arpizio, sócia da consultoria Bain&Company na Itália, que participou da 1ª Conferência Internacional de Mercado de Luxo, realizada de 1 a 3 de setembro, em São Paulo. DIVULGAÇÃO

Penteado (FAAP). Segundo o professor, esse mercado movimenta uma pequena fração de segmentos econômicos como moda, barcos, alimentos, bebidas, arte, jóias, objetos, serviços, imóveis, turismo, entre outros. “Ele é um conjunto de três tipos de produto que convivem harmoniosamente: os de grife, produzidos por exclusividade; os de luxo, feitos em escala, de forma artesanal, quase exclusivos; e os premium, que são a antesala do luxo, têm bom design, material de alta qualidade, marcas prestigiosas, mas não tão restritivas como o luxo”, ensina Passarelli. Com faturamento anual de 5 bilhões de dólares e crescimento de 17% em 2007 (três vezes maior do que o do PIB), o mercado de luxo brasileiro já responde por 1% do faturamento mundial do setor, com fôlego para chegar a 2%, segundo analistas. Cer-

Investimento no estilo. Hoje, o homem está mais interessado no estilo de vida e tem um nicho de mercado do “eu mereço”, de acordo com Sonia Regina Hess, presidente da Dudalina, marca tradicional especializada em moda masculina de luxo. No mercado há mais de cinco décadas, a grife faturou 115 milhões de reais em 2007 e espera incrementar esse valor em 25% este ano. A empresa, que produz produtos para as lojas da Daslu, Zara e Broksfield, estuda avançar suas atividades no varejo para aumentar a fidelização das próprias marcas Base, Individual e Dudalina. “Para isso, estamos fazendo um trabalho para colocar espaço nosso dentro das lojas”, destaca. A empresa também está interessada em ampliar sua fatia no seleto mercado do luxo nacional e internacional, já que responde por 65% das exportações brasileiras de camisaria masculina. O mais novo lançamento da conAna Auriemo Magalhães, da JHSF: muita pesquisa para montar o mix de lojas do shopping Cidade Jardim, entre elas seis grifes internacionais. set/out 2008

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PEDRO ROBERTO WALDRICH

TENDÊNCIA Sonia Regina Hess, da Dudalina: estudos para ampliar fatia no seleto mercado de luxo de moda masculina, nacional e internacional, firmando trabalho de meio século.

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reais, e casa na praia de Acapulco, no Guarujá/SP, que custa perto de 7 milhões de reais, entre outros. Há três razões que justificam a vinda da empresa para o Brasil. “Primeiro, porque é um mercado de oportunidades, de valorização; nossa comida e nosso carro são tão caros como no exterior, mas o imóvel ainda está aquém desse mercado”, destaca Celso Pinto, diretor da Brasil São Paulo Sotheby’s. “Segundo, porque existe uma lacuna no atendimento especializado de alto padrão e terceiro porque a Sotheby’s está num plano de crescimento para o mundo e tem como meta ser uma empresa universal.” Inicialmente, a empresa instalou escritório em São Paulo, mas a expansão para Rio de Janeiro, Salvador e Recife já está planejada. Normalmente, os compradores do luxo são pessoas com formação técnica e cultural, apurado nível de exigência e alto padrão de expectativa. Isso faz com que esse mercado não se restrinja só ao glamour. “Terá mais sucesso nesse segmento o profissional com sensibilidade para entender os valores do cliente com alto poder aquisitivo e aptidão para ligar-se a tudo o que acontece no mundo e o que existe de mais sofisticado”, destaca o professor Ismael Rocha, coordena-

fecção é a camisa Dudalina Cult Gold, fabricada em fio 200 de puro algodão egípcio cultivado no delta do rio Nilo. A peça também tem botões Swarovski e é vendida a 1.250 reais. É dentro desse conceito de estilo de vida que os privilegiados financeiramente escolhem não só as camisas, mas também onde desejam morar ou passar as férias. Pelo menos essa é a realidade identificada em 50% do público que acessa o site da Sotheby’s In-

ternational Realty no Brasil, braço imobiliário de uma das maiores casas de leilões do mundo, que se instalou no Brasil no final de 2006 para atender à demanda, nacional e internacional, de residências secundárias da classe A e AAA, sobretudo em lugares paradisíacos como as praias do Nordeste. A empresa busca condomínios de alto luxo em capitais e grandes cidades. Entre os projetos atuais constam apartamentos na Rua Haddock Lobo, região dos Jardins, na cidade de São Paulo, vendidos por 11 milhões de

Ismael Rocha, da ESPM: informação e cultura, essenciais para prestar serviço de excelência. 14

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dor da pós-graduação avançada Mercado de Luxo, na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo. As qualificações técnicas agregadas a uma boa formação cultural, como afirmam especialistas, são imprescindíveis para o profissional que pretende atuar no outro lado do balcão desse mercado. Para fazer jus ao perfil dos clientes, por exemplo, o atendimento deve ser um dos diferenciais. “O profissional deve gostar de gente e estar bem preparado para responder às perguntas do cliente”, destaca Silvia. Os funcionários que atendem a esse perfil têm nível superior, falam no mínimo dois idiomas, recebem prêmios e são treinados constantemente. Carolina Zanco, 22 anos, estudante do quinto semestre de Design Digital na Universidade Anhembi-Morumbi, não imaginava atuar no mercado de luxo, até que surgiu uma oportunidade de estágio na Sotheby’s, por intermédio do CIEE. “É um mercado promissor e exige que a gente corra atrás de informações não só nacionais, mas do mundo inteiro”, destaca a jovem, que cuida de artes gráficas, tratamento de fotos dos imóveis e o planejamento de mídia para divulgação dos empreendimentos. “Acabei adquirindo a habilidade de aprimorar a cultura de marketing, essencial para atrair o público para os imóveis”, conhecimento que diz não ter ainda visto em sala de aula. De olho nas exigências do segmento, ela já retomou as aulas de inglês. Quem deseja aperfeiçoar seus conhecimentos para se aproximar dos clientes classe A pode contar com cursos de especialização, como os dois anos do MBA Gestão de Luxo, oferecido

Celso Pinto e Carolina Zanco, da Sotheby’s: há dois anos no Brasil, empresa pretende expandir sua atuação com a venda de imóveis acima de um milhão de reais.

pela FAAP, ou o curso de pós-graduação avançada, de 180 horas, que pode ser realizado em menos de quatro meses na ESPM. A advogada Maria Rita Gradulone Sampaio Lunardelli, sócia do escritório de advocacia Lunardelli, em São Paulo, iniciou o curso em agosto na ESPM. “É engraçado pensar num advogado estudando mercado de luxo, mas tem tudo a ver com a prestação de serviços de excelência”, justifica. Como o escritório é pequeno,

lida com Direito Tributário e seus clientes são empresários, ela vem procurando diferenciar o atendimento. “Eu e o meu sócio temos procurado oferecer um tratamento personalizado aos clientes, como se estivessem numa butique”, destaca Maria Rita, acreditando que o curso poderá acrescentar informações importantes para aprimorar seus serviços. Por tudo isso, nesse mercado seguramente há alguns itens que não são luxo, ao contrário, são matéria-prima básica para construir o sucesso na carreira: competência, dedicação, foco no desempenho e A aprendizado permanente. set/out 2008

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TENDÊNCIA

NEGÓCIO DA CHINA Um novo idioma, por mais diferente que seja, pode abrir portas. A China contou com uma delegação de 639 atletas na Olimpíada de Pequim deste ano. Esses esportistas foram exaustivamente treinados durante o Projeto 119, criado pela Administração Geral de Esportes da China, após a Olimpíada de 2004, em Atenas. O número 119 representa o total de medalhas de ouro que a nação objetivava atingir nos jogos, incluindo as modalidades em que o país não tem tradição, como a esgrima, o boxe e a vela. Sede da Olimpíada, a China não conseguiu atingir a meta, mas abocanhou

51 medalhas de ouro, 21 de prata e 28 de bronze, totalizando 100 medalhas, superando os Estados Unidos e ficando em primeiro lugar no quadro geral de medalhas. O “C” do Bric – acrônimo criado em 2001 pelo economista Jim O’Neill, do grupo Goldman Sachs, para definir os quatro países emergentes no mundo ao lado do Brasil, Índia e Rússia –, a China tem o mandarim como língua oficial, mas conta com muitos dialetos regionais. A ascensão do país tem feito com que o mundo volte seus olhos para sua cultura, idioma e religião. Prova disso, é a crescente procura de professores do idioma nos Estados Unidos. Os programas de ensino de chinês quase triplicaram nas escolas norte-americanas, desde 2004.

Negócios sem intermediários. No Brasil, o Centro Cultural e Assessoria Empresarial China-Brasil (Chinbra), escola de mandarim e intercâmbio cultural, fundada há sete anos, iniciou suas atividades com 40 alunos e hoje tem mais de 400. “Este semestre abrimos sete novas turmas; o interesse de empresários em negociar com os próprios chineses, sem intermediários, é grande e os estudantes também têm interesse em uma nova língua”, revela Liang Yan, vice-diretora e professora da escola. Segundo ela, ter um outro idioma que não seja o nativo vem sendo uma preocupação para jovens, executivos e empresários. “A maioria de nossos alunos é estudante, mas há muitos executivos também, pois o diferencial do nosso curso não é apenas ensinar a língua, mas a cultura chinesa, que é bastante diferente da brasileira”, afirma a professora. Levantamento do CIEE aponta que as línguas mais pedidas como requi-

Legenda, texto falso para este espaço em branco

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set/out 200 set 20088


Liang Yan: “Os estudantes têm interesse em aprender uma nova língua, tanto que abrimos sete novas salas.”

sito para o estágio são o inglês e o espanhol, seguidas, mesmo com certa distância, do alemão. Quanto mais o estudante se interessar por um idioma, maior será a chance de conseguir um estágio e, conseqüentemente, uma boa colocação no mercado de trabalho. Convênios entre escola e empresas são alternativas que incentivam os alunos a terem contato com novas línguas. A Chinbra mantém convênio com a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), assim como o CIEE, que promove, em parceria com a Seven Idiomas, cursos gratuitos de inglês e espanhol para os estudantes cadastrados no site da instituição. O estudante do primeiro ano de Administração de Empresas da Universidade de São Paulo (USP), Rafael Maia Marzocchi iniciou o curso de mandarim há seis meses e acredita que terá muitas oportunidades.

Marzocchi, visualiza um futuro promissor. O jovem tem fluência no inglês e espanhol, estudou russo e japonês e aprende mandarim desde março. “A China cresce muito e saber falar o mandarim é um diferencial”, diz. Algumas dificuldades, porém, precisam ser ultrapassadas, como a pronúncia. “Essa é minha maior dificuldade, mas existe um sistema fonético que ajuda a aproximar do nosso alfabeto”, explica. Performance na cortina de ferro. A curiosidade em aprender novas línguas torna-se aliada do estudante na hora de escolher que idiomas falar. Marzocchi cursou três anos de Engenharia Civil, mas percebeu que no futuro poderá haver escassez de administradores. “Decidi mudar de curso e estudar mandarim, pois acho que a China ainda precisará de gente capacitada”, comenta. O país tem atualmente mais de sete mil empresas americanas

e pouco mais de 30 brasileiras, um pequeno demonstrativo de como o Brasil ainda pode melhorar sua performance na “cortina de ferro” chinesa. Além disso, é importante observar que apesar de o inglês e o espanhol serem fortes facilitadores de uma possível entrevista, o mercado exige mais. Como comentou Marzocchi, o diferencial é importante e isso deve ser levado em consideração pelo jovem na hora de escolher um segundo idioma. Anúncios de estágio e emprego em jornais demonstram a importância da fluência em outro idioma, que, em muitos casos, são definidos como requisito para a vaga. Ou seja: “se você não tem um idioma não entre em contato.” A facilidade que algumas pessoas têm em aprender também deve ser aproveitada. No caso de Marzocchi, ele pretende partir para o francês em sua próxima empreitada lingüística. “Acho que esse será meu próximo passo depois de terminar o mandarim”. Quando questionado se chegou a utilizar o mandarim em alguma ocasião, ele não hesita em dizer: “Uma vez estava na USP e vi um grupo de orientais um pouco perdidos; cheguei perto e perguntei, em inglês, se precisavam de ajuda. Eles disseram que sim e que procuravam o prédio de Letras, pois eram chineses”, revela. Rafael arranhou um pouco de chinês e ficou feliz em perceber que mesmo tendo pouco tempo de aula já conseguia se comunicar. Aliás, para quem vive na era da comunicação e da informação, falar uma língua diferente da nativa é essencial nos dias de hoje. A set/out 2008

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Recursos humanos, a prioridade Luiz Gonzaga Bertelli Enquanto a montanha russa do mercado financeiro tira o fôlego dos investidores, o cenário econômico que afeta o dia-a-dia do brasileiro dá sinais de que vai bem, obrigado. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) registrou melhora em diversos indicadores sociais, tais como renda, trabalho com carteira assinada, percentual da população com mais de dez anos de estudo e, por fim, a taxa de alfabetizados. A Pnad mostra que a inclusão social dos brasileiros está se dando pela porta da frente. Qual melhor exemplo do que o que segue? Entre 2006 e 2007, mais de dois milhões de casas passaram a ter computador com acesso à internet. Se bem utilizada, a internet é fonte de cultura e conhecimento. Para se ater ao site do CIEE, os cursos gratuitos somam 22 opções de preparação para o mundo do trabalho e podem ser feitos tanto por um candidato a estágio da capital paulista quanto por um morador do interior do Amazonas. O avanço social e econômico, aliado à queda de fronteiras resultante da globalização, colocará o país frente a um novo desafio, apontado por Nils Kastberg, diretor da Unicef na América Latina: “O Brasil, décima potência econômica mundial, precisa ter como objetivo ser também a décima potência quanto a seus recursos humanos. Hoje, está muito longe disso.” 18 18

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Entre 2006 e 2007, mais de dois milhões de casas passaram a ter computador com acesso à internet.

Ou seja, quando o país deixar a série B – para manter as metáforas futebolísticas que tanto agradam ao nosso presidente –, o nível da concorrência também será outro e as exigências de qualidade do trabalho, também. Por exemplo, há poucos meses, instalouse em São Paulo a Ubisoft, produtora multinacional de jogos eletrônicos de última geração. Em entrevistas dadas por seu presidente, fica clara a intenção de se criar uma massa crítica de bons programadores, com planos de chegar a 200 funcionários nos próximos quatro anos. Também

NOVAS IDÉIAS está implícito que, se nesse período o investimento não produzir os resultados esperados, não será surpresa se a empresa procurar novos ares. Vale lembrar que, por resultados, entende-se o mesmo rendimento dos profissionais que atuam nas unidades da Ubisoft instaladas no Canadá, na China e no Leste Europeu – três parâmetros de alto desempenho. É hora de, uma vez mais, acender a luz amarela, válida para praticamente todos os setores que estão funcionando como locomotiva de nova arrancada e os que têm potencial para tanto. Ainda mantido o exemplo anterior, a indústria de jogos eletrônicos existe há mais de quatro décadas e, por aqui, um balanço da associação de produtoras de games indica que, em julho, apenas 560 profissionais estavam empregados, em pouco mais de 40 organizações. O fantasma apontado por Nils Kastberg bate à nossa porta. O país precisa priorizar a formação de recursos humanos e, para isso, não há melhor estratégia do que incentivar todas as modalidades eficientes de capacitação e qualificação profissional, entre as quais se destaca o estágio, que prepara os estudantes na exata medida do mercado. Não podemos esquecer que a nova economia tem o ritmo da juventude. Aqui e agora, a quesA tão é acelerar os estudantes.

LUIZset/out GONZAGA 2008 BERTELLI É PRESIDENTE EXECUTIVO DO CIEE, PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE HISTÓRIA (APH) E DIRETOR DA FIESP.


PESQUISA

Salário, desemprego e estudo R$ 414,05

2004

R$ 277,73

Índice de ocupação dos brasileiros de 16 a 24 anos 26,3% 23,1%

2006

1992

JOVEM É FATOR DE MUDANÇA

2007

6.023.949

2005

4.687.574

O CIEE perguntou aos jovens se eles acreditam que podem mudar a política no Brasil. Dos 6.822 entrevistados, 72% confiam no poder do voto e afirmam que o papel do cidadão não termina nas urnas, pois é necessário cobrar resultados dos eleitos. Sim, cobrando mais dos candidatos em que vota. Não, porque o jovem hoje não é mais idealista. Sim, candidatando-se a cargos públicos. Não, porque na política só tem corruptos.

72% 12% 10% 6%

FONTE: CIEE

Entre 2005 e 2007, cresceu em 28,5% o número de adolescentes de 15 a 17 anos cursando o ensino médio. O ponto positivo é a correção do fluxo, já que os alunos estão cursando a série na idade considerada adequada. Houve, porém, uma queda de 7,3% no total de matrículas nesse nível. Os dados, obtidos no Censo da Educação Básica, revelam um aumento de 1,3 milhão de estudantes do ensino médio na série adequada a sua idade. Alunos de 15 a 17 anos no ensino médio

PAÍS DO FUTURO Os jovens brasileiros são os mais esperançosos em relação ao futuro – pelo menos, nos próximos cinco anos –, segundo a pesquisa Índice de felicidade presente e futuro, realizada em 132 países pelo Instituto Gallup World Poll e divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). São seguidos pelos norte-americanos, venezuelanos, franceses e dinamarqueses. Os jovens foram questionados sobre como classificam sua expectativa com relação ao futuro na escala de zero a 10. Veja os resultados:

TECNÓLOGOS EM ALTA

FONTE: CENTRO PAULA SOUZA

2008

Dos estudantes que concluíram, em 2007, ensino superior nas Faculdades de Tecnologia do Estado de São Paulo (Fatec-SP), 93,2% estão empregados e atuando em sua área de graduação. As Fatecs formam tecnólogos que, ao contrário dos bacharéis, têm sua graduação voltada especificamente para o mercado de trabalho e a maioria dos cursos definidos em parceria com o setor produtivo. No quadro, os cursos com maior índice de empregabilidade: Análise e Desenvolvimento de Sistemas

96,7%

Automação de Escritórios e Secretariado

96,3%

Projetos (área de produção industrial)

94,8%

Informática com ênfase em Gestão de Negócios

94,3%

Brasil Estados Unidos Venezuela França Dinamarca set/out 2008

9,29 9,11 8,87 8,78 8,78 Agitação

FONTE: FGV

FONTE: CENSO DA EDUCAÇÃO BÁSICA

NA HORA CERTA

Média salarial do jovem FONTE: FGV

Uma boa e uma má notícia sobre os jovens, trazidas pelas estatísticas. A positiva: pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revela que, desde 2004, o salário médio dos jovens de 15 a 29 anos vem registrando um crescimento anual de 10,5%. A negativa: a participação dos jovens na população economicamente ativa (PEA) caiu de 26,3% para 23,1% no período 1992-2006, segundo relatório elaborado em conjunto pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e a Organização Internacional do Trabalho. A causa, segundo os especialistas, é a mesma: os jovens estão passando mais tempo na escola. Anteriormente, o brasileiro de 15 a 29 anos tinha, em média 9,7 anos de estudo, tempo hoje esticado para 10,4 anos. Se a exigência do mercado por maior escolaridade dificulta sua inserção no mercado de trabalho, também o estimula a investir mais em educação. Em resumo, os jovens que passam mais tempo em sala de aula colhem melhores resultados.

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LEGISLAÇÃO

ESTÁGIO, UM NOVO TEMPO Nova lei altera condições para a prática do estágio e CIEE já se prepara para atenuar o impacto das novas normas. Ao completar 31 anos de vigência, a Lei 9.464/77 já vinha emitindo sinais de obsolescência e descompasso diante das novas necessidades impostas, ao longo dos anos, pelas mudanças no processo de inserção dos jovens no mercado de trabalho e pela inclusão escolar de camadas menos favorecidas da população. Nesse cenário, o presidente da República acaba de sancionar uma nova lei que, apesar de conferir maior segurança jurídica às empresas que concedem estágio, introduz uma série de inovações, que vêm provocando polêmica. E também causando preocupação, em especial entre os especialistas atentos aos elevados e resistentes índice de desemprego juvenil no país, decorrente em boa parte da baixa escolaridade e da falta de capacitação profissional – duas carências que são combatidas, com eficiência, pelo estágio. Fiel a seus 44 anos de atuação e à credibilidade que desfruta nos meios empresarial e educacional, o CIEE acompanhou passo a passo toda a tramitação da nova lei, desde sua apresentação no Senado até a participação, com sugestões construtivas, em audiências dedicadas ao debate e ao aprimoramento do projeto de lei. Paralelamente, não descuidou dos aspectos práticos. Mobilizou seu qualificado corpo técnico e utilizou sua sólida expertise para atenuar o impacto da transição entre as duas normas, facilitando a adaptação dos três grandes atores dos programas de estágio: os es20

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tudantes, as organizações concedentes e as instituições de ensino. Para tanto, contou com o sofisticado sistema de administração de estágios que desenvolveu e aperfeiçoou nas últimas três décadas – hoje, totalmente informatizado, interligando on-line a rede nacional de unidades do CIEE e disponibilizando uma ampla gama de serviços pela internet a seus três públicos. Aliado ao criterioso treinamento de seus colaboradores, essa moderna infra-estrutura oferecerá um eficaz suporte para que as organizações

de ensino médio e de estagiários por profissionais liberais autônomos, desde que devidamente registrados em seus conselhos de fiscalização. O senador Osmar Dias (PDT-PR), autor do projeto de lei, destaca uma das principais novidades: “Como exprofessor, sei que não há como dar um diploma na mão de um estudante e colocá-lo no mercado de trabalho, sem que ele tenha passado por um estágio. Agora, essa atividade deverá fazer parte do plano pedagógico de cada

Durante o tempo em que fui presidente da República, pensamos num projeto de inserção de jovens em estágio parecido com o que acaba de ser aprovado. Naqueles tempos turbulentos, a idéia não prosperou. Mas houve alguns nichos que registraram efetivação de 80% dos estagiários. José Sarney (PMDB/AP) parceiras, a partir da entrada em vigor da nova lei, possam cumprir as novas determinações que, entre outros pontos, deverá elevar em gênero e número o controle documental de cada etapa dos programas de estágio. Mais oportunidades. Na avaliação do CIEE, a nova Lei do Estágio tem o grande mérito de preservar o caráter pedagógico dessa modalidade de capacitação profissional do jovem, já consagrada na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Além disso, amplia sua abrangência, autorizando explicitamente a contratação de estudantes

universidade”, explica. As instituições de ensino continuam a ter papel importante na concessão de estágios, que somente serão realizados com sua autorização e com a indicação de quais atividades poderão ser executadas por seus alunos no ambiente de trabalho. Ou seja, as atividades confiadas aos jovens durante cada etapa semestral do estágio deverão acompanhar, em nível de complexidade, o currículo transmitido em sala de aula. Cada curso de cada instituição de ensino parceira terá um perfil específico registrado no sistema do CIEE, que guiará automaticamente o encaminhamento dos jovens


Senador Osmar Dias: “Não há como dar diploma sem o jovem passar por estágio.”

cadastrados, respeitando as diretrizes pedagógicas e o perfil das vagas. Lição de casa. O estagiário terá supervisão dobrada. De um lado, a escola indicará um orientador para avaliar a compatibilidade entre as tarefas práticas desenvolvidas em ambiente de trabalho e as atividades aprovadas pelas instituições de ensino descritas no plano contido no Termo de Compromisso de Estágio (TCE). De outro, a empresa designará um supervisor de estágio, para monitorar a capacitação prática de grupos de dez estagiários. As duas partes se comunicarão por meio do relatório de atividade semestral, que a empresa elaborará e o aluno assinará e entregará a seu orientador na escola. Para melhor controle desse processo, o CIEE emitirá um aviso quando a empresa liberar tal documento e outro quando a escola o receber, para indicar

que, nesse campo, tudo está conforme a lei. Outra atribuição da escola será verificar as instalações onde o estágio será realizado. Para isso, contarão com a colaboração do CIEE, que visitará o local de estágio, preenchendo um cadastro com a indicação do ambiente da empresa, ramo de atividade, equipamentos e até mesmo poderá fotografar o ambiente de estágio, disponibilizando as imagens em seu portal para uma primeira avaliação do orientador acadêmico de estágio. Bolsa e muito mais. Entre outras obrigações, aparecem o pagamento de bolsa-auxílio (ou outra forma de remuneração) e a concessão de auxíliotransporte. A bem da verdade, esse artigo será cumprido com a maior facilidade pois, mesmo quando não eram obrigadas, todas as organizações parceiras do CIEE já ofereciam bolsaauxílio. Além disso, um crescente número concedia uma série de benefícios,

incluindo férias, assistência médica e odontológica, bolsa de estudos, valerefeição, etc. Um exemplo é a TMF, multinacional holandesa de serviços terceirizados de gestão e contabilidade. Além de bolsa-auxílio de mil reais por mês, oferece até 500 reais de auxílio-educação, vale-refeição de 25 reais por dia, auxílio-transporte de até 180 reais por mês, recesso após um ano de estágio, assistência médica, seguro de vida, convênio-farmácia e assistência odontológica. De quebra, atinge o patamar de cem por cento de efetivação após um ano de treinamento que inclui um mês de cursos de capacitação técnica e atitudinal, cinco meses de rodízio em áreas da empresa e outros seis meses no setor em que será fixado. “O único ponto que precisará ser adequado é a carga horária”, conta Aline Violini, gerente de Recursos Humanos da TMF, que elogia o respaldo dado pelo CIEE na parte burocrática da contratação de estagiários. Atenção às inadequações. A lei é dura para as empresas que descumprirem as novas normas. Um desvirtuamento do

Equipe de estagiários da TMF e a gerente Aline Violini: benefícios e efetivação.

set/out 2008

Agitação

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LEGISLAÇÃO

O estágio é a chave da porta do mercado de trabalho. O jovem já começa a se sentir útil e a ter orgulho de si mesmo, pois já ganha uma remuneração ao se aperfeiçoar naquilo que está sendo ensinado nas escolas. Tenho netos e netas que estão estagiando e vejo o amor que eles começam a ter pelo trabalho. Romeu Tuma (PTB/SP) estágio pode implicar vínculo empregatício, com o conseqüente recolhimento, em caráter retroativo, de todos os encargos trabalhistas e previdenciários dos quais os estagiários estão isentos.

Em caso de reincidência, a organização ficará impedida legalmente de receber novos estagiários por dois anos, embora possa manter em treinamento os estudantes já contratados.

A nova Lei do Estágio não é perfeita, podendo ser melhorada num futuro próximo. Aliás, o CIEE acredita que alguns pontos controversos serão devidamente aclarados no decreto regulamentador, que deverá ser baixado após a sanção da nova lei pelo presidente da República. Entre as disposições de difícil aplicação prática, está a reserva de 10% das vagas de estágio para estudantes com deficiência. O problema é como fazer esse cálculo, pois a base de estagiários é flutuante. Algumas das soluções virão com o tempo e com a maturação da lei. Como contribuição para minimizar o impacto das novas normas, o CIEE já iniciou uma ampla campanha de divulgação para esclarecer dúvidas

A lei e suas principais novidades INSTITUIÇÃO DE ENSINO  Fornecer o Plano de Estágio Integrado à Proposta Pedagógica do Curso para orientar a evolução do estágio.

 Designar um orientador para acompanhar o estágio do aluno.

 Vistoriar as instalações da organização concedente.

O CIEE disponibiliza um curso a distância de formação de gestor de estágio no site www.ciee.org.br.

Ao abrir a vaga, o CIEE disponibilizará as informações e, nos casos autorizados, a fotografia das instalações da concedente no www.ciee.org.br.

 Informar as datas de provas às empresas para justificar previamente dispensas da jornada de estágio.

O ESTUDANTE  Todo estágio será remunerado. O CIEE recomenda, há anos, essa contrapartida e todas as organizações parceiras a concedem.  Terá direito a auxílio-transporte. O CIEE recomenda, há anos, essa contrapartida e a grande maioria das organizações parceiras já concedem esse benefício.  Não deverá pagar nenhum dos serviços relacionados a estágio, prestados por agentes de integração. Todos os serviços oferecidos aos estudantes pelo CIEE são totalmente gratuitos.  Terá direito a recesso remunerado. 22

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e evitar que os estudantes venham a ser prejudicados. Entre as ações, destaca-se a criação de uma central de teleatendimento para empresas, parceiras ou não do CIEE, que queiram adequar seus programas de estágio às novas regras. O ponto de partida para a campanha foi uma coletiva de imprensa realizada em São Paulo, uma semana após a aprovação do pro-

É muito importante não tratarmos o estagiário como aquele que vai ser o funcionário de alguma empresa pública ou privada que apenas faz trabalhos muito simples. É importante que ele possa fazer trabalhos relacionados à sua área de atuação, como propõe a lei. Jefferson Praia (PDT/AM) jeto de lei pelo Congresso no início de agosto – um encontro que atraiu perto de trinta jornalistas, numa prova inconteste da importância que o estágio adquiriu para o futuro de milhares de jovens estudantes. Importância, aliás, que deveria sensibilizar todos os bra-

sileiros, em especial os que integram o Poder Público, a somar esforços para ampliar as oportunidades de inclusão e qualificação profissional dos jovens. Afinal, aqui estamos falando do futuro das novas gerações e do país que queremos para legar para elas. A

EMPRESAS E ÓRGÃOS PÚBLICOS  Profissionais liberais também podem contratar estagiários. Ao intermediar contratos de estágio, o CIEE verifica a documentação, inclusive registro nos conselhos profissionais. 

Elaborar plano de atividades de estágio compatível com a evolução do currículo escolar.

O sistema do CIEE automaticamente combinará o perfil das vagas aos dos candidatos e aos currículos das escolas. 

Adotar carga horária máxima de estágio para alunos dos ensinos superior, técnico e médio de 6 horas/dia e 30 horas/semana; e para estudantes de educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional de educação de jovens e adultos, de 4 horas/dia e 20 horas/semana.

Para os Termos de Contrato de Estágio (TCEs) já assinados, a adequação deverá ser feita somente quando da eventual prorrogação. 

Poderá contratar o mesmo estagiário pelo período máximo de dois anos.

O CIEE e todas as organizações parceiras já adotavam esse limite.

 Designar um supervisor para cada grupo de dez estagiários. CIEE oferece uma ferramenta para auxiliar nesse controle de estagiários contratados ou não por meio da entidade.  Respeitar cotas de contratação de estudantes de ensino médio, na seguinte proporção: 1 estagiário (até 5 funcionários); 2 estagiários (6 a 10 funcionários); 5 estagiários (11 a 25 funcionários); 20% de estagiários (acima de 25 funcionários). Para universitários, não há limitação.  Emitir relatórios semestrais de atividades e entregá-los ao estagiário para assinatura e encaminhamento a seu orientador na escola. O CIEE avisará a escola que o relatório foi emitido e preenchido pelo supervisor do estágio na empresa, entregue ao aluno e a empresa também receberá a informação quando o documento for recebido na instituição de ensino.

Mais informações para empresas, escolas e estudantes: CIEE 0800 771 2433 Agitação set/out 2008

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CAPA

ANDRÉ LUIZ MELLO

NOSSO GÊNIO DA LÍNGUA

Evanildo Bechara abandona sonho de criança, torna-se o maior filólogo brasileiro e é eleito Professor Emérito 2008 – Troféu Guerreiro da Educação por sua magnífica atuação no magistério, nos últimos 60 anos. 24

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Quando menino, o sonho de Evanildo Bechara – o quinto ocupante da cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras (ABL) – era tornar-se engenheiro. Exímio aluno de matemática, aos 12 anos ficou desapontadíssimo quando lhe apareceu a miopia, que o afastou definitivamente da idéia de seguir a carreira em Engenharia Aeronáutica. Foi assim que as Forças Armadas perderam um talento e tanto, mas o Brasil ganhou um dos maiores conhecedores da Língua Portuguesa de todos os tempos. Com mais de 60 anos de dedicação ao magistério, Bechara foi eleito Professor Emérito 2008 – Troféu Guerreiro da Educação, prêmio anual conferido pelo CIEE e pelo jornal O Estado de S.Paulo a personalidades que se destacam na defesa do ensino e da educação. “É uma honra que a bondade e a amizade dos amigos me concederam”, diz Bechara. Segundo ele, a importância da honraria é confirmada pelos intelectuais que já receberam esse prêmio (ver pág. 28). “É um afago para o ego, mesmo da mais impertinente pessoa que não se incomoda com premiações.” Para o crítico literário Antonio Candido, Professor Emérito 2003, a escolha do lingüista foi muito feliz. “Bechara é um intelectual discreto, modesto, que fez muito pela nossa língua portuguesa. Uma escolha muito acertada”, comenta. O jurista Ives Gandra Martins, Professor Emérito 2008, também concorda com a escolha. “Não poderia ter

sido melhor, pois é um educador nato, que não envelhece nunca; está sempre aprendendo”, enfatiza. O famoso advogado chama atenção para a extensa gama de especialidades do mestre na língua portuguesa. “É filólogo, filósofo, historiador e humanista, ou seja, um educador que transcende o domínio do idioma.” O presidente da ABL, Cícero Sandroni, engrossa o coro: “É uma homenagem justíssima a um brasileiro que vem lutando há tantos anos pela nossa língua. Bechara é uma glória nacional.” No percurso, aulas particulares. Para atingir esse status, foi necessária muita dedicação aos estudos, desde pequeno. Depois da morte prematura do pai – João Bechara, aos 28 anos, um dos grandes comerciantes de Recife –, a família viu-se em grandes dificuldades financeiras. Evanildo, o mais velho dos quatro filhos de Maria Izabel, partiu para o Rio de Janeiro, a fim de ser criado pelos tios-avós. O navio saiu de Recife sob a tensão da II Guerra Mundial, já que algumas embarcações tinham sido bombardeadas no litoral brasileiro. Recebido com carinho pelo tioavô, capitão do Exército, o menino teve uma educação digna, mas com poucos recursos. “Com titio, aprendi a ter um comportamento social digno e amor ao

trabalho e à responsabilidade”, conta. Para ganhar um dinheirinho no Rio e ajudar a mãe e os irmãos menores, Evanildo, com apenas 12 anos, aproveitou seus conhecimentos em matemática para dar aulas particulares. Mas, para sua surpresa, só apareciam alunos fracos em português e latim, matérias que então faziam parte da grade curricular do curso ginasial (correspondente aos quatro últimos anos do atual ensino fundamental). Para não perder a chance de faturar uns trocados, o garoto mergulhou nas gramáticas. Assim, despretensiosamente, nascia o interesse pelo idioma, que o acompanharia por toda a vida. “Nas línguas, as opiniões dos gramáticos eram muito divergentes; isso espicaçou minha curiosidade para saber qual a explicação que melhor me convencia.” Certo dia, quando ajudava na faxina da casa, o tio-avô tirou de um velho baú um exemplar empoeirado do livro A lexologia do Português histórico, do professor Said Ali. Apesar dos ótimos professores que tinha no curso ginasial, não conhecia a obra daquele autor, que escrevia sobre temas mais avançados. “Quando li o prefácio do livro – ‘não dissocio a língua do homem que a fala’ – fui apresentado para um novo personagem no estudo da língua: o homem.”

O prêmio é um afago para o ego, mesmo da mais impertinente pessoa que não se incomoda com premiações.

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CAPA

Os alunos têm de dar aulas muito cedo; com isso desgarrou-se o laço entre o professor e o aluno.

A partir daí, o menino Evanildo, com 13 para 14 anos, consumiu todos os títulos do professor Ali, fascinado pelo novo conhecimento, como Dante em relação a Virgílio, na Divina Comédia: Tu se’lo mio maestro e ‘l mi autore (você será meu maestro e meu autor). Durante as leituras, dúvidas começaram a surgir e o garoto não pensou duas vezes. De posse do catálogo de telefones, encontrou o número do autor. Desse momento em diante, foram 11

anos de convivência e dedicação. Três vezes por semana, o jovem ia à casa de Said Ali, que estava com 81 anos, discutir temas ligados à língua portuguesa. “Assim, começou minha orientação nos estudos.” Bechara acredita que a vida moderna destruiu a figura do discípulo. “Os alunos têm de dar aulas muito cedo para sobreviver; com isso desgarrou-se o laço entre professor e aluno.” A convivência com Said Ali rendeu-lhe conhecimento e respeito. Com 17 anos, antes mesmo de completar o científico (atual ensino médio) foi declarado “aluno de notório saber” pelo trabalho apresentado no livro que escrevera um ano antes (Fenômenos da entonação). Com isso, pôde prestar o vestibular para Letras. “Aos 18 anos, como professor, já ganhava tanto quanto meu tio-avô.” Professor por excelência. No terceiro ano da faculdade, Bechara foi convidado por Ernesto Faria para ser assistente dele, na cadeira de Latim. Mas recusou, pois havia prometido a Said Ali que se tornaria professor de língua portu-

Aos 17 anos, aluno de notório saber.

Evanildo Bechara, aos quatro anos de idade, com os pais, em Recife.

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Bechara com a família: (da esq. para dir.) o irmão Everaldo (esq.), a mãe Izabel, a irmã Janete e o irmão João.


guesa ou afins. “Em homenagem ao professor Ali, declinei do convite.” Essa veia ética sempre acompanhou a trajetória de Bechara. Depois de sua formatura na Faculdade La-Fayette (atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ), foi aberto concurso para a cadeira de Língua Portuguesa. Mas como Clóvis Monteiro – aquele que aprovou sua entrada no vestibular – era candidato, preferiu esperar um novo concurso, pois “jamais concorreria com ele”. Apesar de sua dedicação à pesquisa, Bechara nunca abandonou a arte de ensinar. Seja como professor particular nos primórdios da carreira, docente do ginásio (ensino fundamental) e colegial (ensino médio) nos colégios Pedro II e Dois de Dezembro, ou nos 30 anos de carreira como catedrático da UERJ e do curso de pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), de onde carrega o título de professor emérito das duas instituições,

Bechara sempre foi muito querido por todos. Prova disso é que seus alunos da turma de 1942, do Colégio Dois de Dezembro, se confraternizam com o mestre até hoje. “Trago as melhores recordações, pois nesses anos todos de magistério nunca tive problemas com meus alunos”, orgulha-se. Para Bechara, lecionar não é apenas ensinar. “O bom professor não é aquele que ensina, mas o que abre a curiosidade do aluno para que ele mesmo trilhe o caminho do saber.” De acordo com ele, o saber não pode ser uma imposição do professor ao aluno, mas um despertar da curiosidade do discente para si mesmo. E não pensem que o professor está aposentado, após ter completado 80 anos em fevereiro. Ele continua

muito atuante, lecionando sintaxe portuguesa no Curso de Especialização do Liceu Literário Português com o mesmo entusiasmo dos primeiros anos de magistério. Esse vigor todo tem uma explicação: “Ele faz aquilo que realmente gosta”, diz a esposa Marlit Silva Cavalcante Bechara. Ela afirma, sem titubear, que o professor é vocacionado para o magistério e muito dedicado ao que faz. “Sinto nele a alegria de desenvolver esses trabalhos.” Poliglotas na própria língua. Marlit conheceu Bechara na sala de aula, quando ele dava aulas para um curso preparatório para o ensino médio, e ela ainda uma adolescente. “Mas só viemos a nos encontrar muito tempo depois”, enfa-

Com a família, na posse da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro.

O filólogo com a esposa Marlit: encontro, anos depois da sala de aula.

Ismael Coutinho, Antenor Nascimento, Bechara e Pierre Fouché, em 1956. Com Aníbal Castro, na outorga do título de doutor honoris causa, em Coimbra. set/out 2008

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O bom professor não é aquele que ensina, mas o que abre a curiosidade do aluno.

tiza. No entanto, o professor teve uma influência grande na opção de Marlit como docente de língua portuguesa. A professora Dieli Vesaro Palma, da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), que recentemente participou da organização de um livro em homenagem aos 80 anos de Bechara (Homenagem: 80 anos de Evanildo Bechara) acredita que o filólogo é o maior gramático brasileiro vivo. “Não só pela experiência, mas pelos avanços que proporcionou nos estudos da lingüística”, destaca. Segundo a pesquisadora, Bechara vê a língua

como resultado de muitas variantes. “Ele costuma dizer que ‘a escola deve formar poliglotas da própria língua’, ou seja, os alunos devem saber utilizar a língua de acordo com as variantes do ambiente.” Discípulo convicto de Bechara, o coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação da UFF, Ricardo Cavalieri, vê o mestre como um profundo investigador dos fatos históricos do português e da própria história da lingüística. “Haver chegado a uma idade avançada na plenitude de sua capacidade intelectual conferiu-lhe uma sedimentada visão sobre o fenôme-

no da linguagem, ampla e aprofundada, sem dogmatismos”, comenta. Cavaliere recorda que, certa vez, perguntou ao professor como ele se sentia com tantos elogios e homenagens. A resposta foi a de que chegou ao topo porque sempre se importou mais com o percurso. Seu interesse não era o sucesso, mas o caminho bem trilhado. “E o caminho seguro o levou a um destino de glórias.” Histórias deliciosas. Educador e ensaísta, o presidente do CIEE Rio e membro da ABL, Arnaldo Niskier, recorda os comentários que os alunos faziam nas conferências do novo Professor Emérito. “Alguns estudantes diziam que, para ouvi-lo, valeria a pena pagar ingresso”, comenta. No texto Evanildo Bechara e a Língua Portuguesa, que escreveu para o livro Miscelânia em Homenagem a Evanildo Bechara, Niskier descreve um

GALERIA DOS GUERREIROS DA EDUCAÇÃO

1997

Ruth Cardoso

“Não queremos criar burocracia à alfabetização. Queremos chegar à nossa finalidade por caminhos certos e objetivos.”

“Creio que os que estão em posição mais alta e não ajudam os outros não são tão felizes.”

1998 Miguel Reale

2001 José Pastore

“O significado fundamental da educação é a formação da mente e do espírito, da sensibilidade e da vontade.”

“A distância entre ensinar e aprender é muito longa e difícil de mapear e de resolver em pouco tempo.”

1999 Esther de Figueiredo Ferraz “Nós, professores, devemos educar muito mais pelo que fazemos do que pelo que dizemos.”

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2000 Luiz V. Décourt

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2002 Hélio Guerra “É importante saber que, quanto mais se incentivarem pessoas, melhor será, pois elas também o ajudarão a alçar vôo.”


caso que o professor costuma contar em suas aulas: “Uma das suas deliciosas histórias é o assalto, na porta do Colégio Pedro II, no centro da cidade, quando um pivete roubou o relógio de estimação de um velho mestre de Português. Mesmo na situação precária em que se encontrava, ameaçado, o professor não perdeu o hábito. Gritou a plenos pulmões na Avenida Marechal Floriano: ‘Peguem-no! Peguem-no!’. É claro que ele não foi socorrido, pois os circunstantes nem entenderam o que ele queria dizer.” Para Niskier, além de um emérito professor de Português, Bechara é um dos maiores filólogos brasileiros. “Agora que começa a ser implantado o Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa, nada mais justo do que ressaltar uma das grandes figuras brasileiras que dedicou sua vida ao cultivo da língua de Machado de Assis.”

Devoção à educação Mais uma vez, o CIEE e o jornal O Estado de S. Paulo acertaram na escolha de Evanildo Bechara, o grande ícone do ensino da Língua Portuguesa no país, como Professor Emérito 2008 – Troféu Guerreiro da Educação. Autor da Moderna Gramática Portuguesa, obra que revolucionou a didática da matéria nas escolas, Bechara é dono de um cabedal vastíssimo, reconhecido no Brasil e no estrangeiro. Prova disso, são os inúmeros convites que recebe todos os anos para ministrar aulas e palestras em universidades pelo mundo. Em uma dessas incursões, recebeu o título de professor Honoris Causa da tradicional Universidade de Coimbra, em Portugal. Homem de grande caráter, Bechara nunca deixou-se levar por modismos. Porém, esteve sempre à frente de sua época, levantando questões pertinentes, focado em seus estudos e pesquisas. Sábios foram os imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL) que o levaram para lá, na eleição de 2000. O Professor Emérito 2008 é um exemplo de devoção à educação, com mais de 60 anos dedicados ao magistério no ensino fundamental, médio, superior e pós-graduação. Só na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) foram 30 anos, passando conhecimentos aos sortudos alunos, que podiam colocar em seu currículo que aprenderam diretamente com o mestre Bechara, aquele mesmo da famosa gramática.

2003 Antonio Candido “A instrução de um povo é, sem dúvida, um elemento importante para a consciência social.”

LUIZ GONZAGA BERTELLI, presidente executivo do CIEE

2006 Crodowaldo Pavan “É hora de unirmos forças em torno de um mundo novo e melhor, contra a falta de ética e integridade social.”

2004 Paulo Vanzolini “A melhor recompensa para qualquer profissional é o reconhecimento de seus pares.”

2005 Paulo Nogueira “Gosto muito de ensinar, não somente pelo contato com o aluno, mas porque aprendo sempre.”

2007 Ives Gandra Martins “Todos os meus sonhos de professor jamais incluíram receber um prêmio de tamanha magnitude.”

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CAPA

Sucesso aqui e lá fora Como gramático, o nome de Evanildo Bechara ultrapassou as fronteiras brasileiras, sendo hoje reconhecido no mundo como um dos maiores filólogos de língua portuguesa. Sua experiência internacional começou com uma bolsa de estudos em Madri, após ter assumido a cadeira de Filologia Românica (estudo comparativo das línguas latinas) na UERJ, nos anos 60. “Passei quase dois anos em Madri, recebendo do governo espanhol 15 mil pesetas mensais; utilizava apenas cinco mil para as despesas pessoais”, conta. Com o que sobrava, aproveitou para conhecer toda a Europa. Em 1971, foi convidado para dar aulas de Língua Portuguesa na Universidade de Colônia, na Alemanha, lecionando por um ano para cerca de 20 professores. Bechara retornou à Europa com o convite da Universidade de Coimbra, em Portugal, para ser professor visitante. Ficou dois anos na

terra lusitana, o que lhe rendeu o título de professor honoris causa da Universidade de Coimbra, uma das mais tradicionais do mundo. Na seqüência, a Academia de Ciências de Lisboa não deixou por menos: elegeu-o membro correspondente da casa. Em 2000, o sonho que nunca sonhou: ser imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). “Não era um desejo, pois quando me convidaram, eu disse não.” Mas os acadêmicos não desistiram, pois queriam um filólogo para levar adiante a idéia da elaboração do dicionário da ABL, além de uma reforma no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp). Diante disso, renovaram o convite, que acabou sendo aceito. Bechara foi eleito no primeiro escrutínio com 21 votos. “Vários amigos tentaram entrar na Academia, como Mário Barreto, Antenor Nascente, Souza Silveira e não

Arnaldo Niskier: “Ele dedicou a vida ao cultivo da língua.”

conseguiram. Isso me trazia a idéia de que a Academia não estava propensa para o estudo da língua portuguesa.” O sonho de uma escola. A história mudou com sua eleição. Além de diretor tesoureiro da casa, Bechara acumula as funções de orientação da Comissão

BECHARA, UMA METONÍMIA

Dieli Palma, professora da PUC/SP: “É o maior gramático brasileiro.” 30

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Há muitos anos a língua portuguesa ganhou um novo verbete: Bechara. São milhares de alunos que consultam o “Bechara” há quase 50 anos para tirar dúvidas sobre gramática. Em 1962, era lançado o livro Moderna Gramática Portuguesa, o maior sucesso editorial entre os livros didáticos da matéria. Para se ter uma idéia, a obra, que ganhou uma revisão em 1999, incluindo as novidades contemporâneas, já está em sua 37ª edição.

Em 1961, o professor Bechara foi convidado a fazer alguns acréscimos à gramática de Eduardo Carlos Pereira, um livro de muito sucesso, editado pela primeira vez em 1908. “Quando levei o texto com o conteúdo proposto, os editores perceberam que já se tratava de outra obra”, recorda. No ano seguinte era publicada a gramática de Bechara. O livro foi considerado inovador pelos especialistas, pois trazia um modo diferente de tratar a análise sintática na sala de aula. “Quando eu apresentava a noção


Cícero Sandroni, presidente da ABL: “Bechara é um orgulho nacional.”

de Lexicografia e Lexicologia da ABL – área responsável pela elaboração de dicionários. Na condição de lexicógrafo, trabalha atualmente na preparação da quinta edição do Volp, que a ABL deve lançar até o fim do ano. “Sintome muito honrado pelo apoio que os colegas me deram

de sujeito e predicado, mostrava ao aluno a importância e as conseqüências para a concordância e pontuação, por exemplo”, explica. Para Ricardo Cavalieri (foto), da UFF, a Moderna Gramática Portuguesa é uma referência na descrição do uso exemplar da língua. “O professor tornou-se uma metonímia: vou consultar o Bechara.”

na casa de Machado de Assis.” E sobre Machado, Bechara prepara um índice lexical com as palavras utilizadas nas obras do autor. “Todos imaginavam que teríamos de 2.500 a 3 mil verbetes; mas já levantamos mais de 9 mil”, revela. Um dos sonhos do Professor Emérito é criar, na ABL, uma escola de lexicógrafos para ensinar a arte de fazer dicionários. Como maior especialista da língua na Academia, Bechara está envolvido também diretamente no acordo ortográfico entre os países de língua portuguesa. Ele é favorável à unificação. Segundo Bechara, outras línguas, como o espanhol – que possui quase o dobro de falantes – têm uma só ortografia. “Isso não significa que vamos falar da mesma maneira, mas escrever igual, o que abre a porta para a divulgação de livros com uma vestimenta única.” Para ele, as obras atuais não ficarão obsoletas, pois quem vai ser o usuário efetivo da reforma são os garotinhos que serão alfabetizados daqui em diante. “Uma reforma ortográfica pega sempre a geração que vai aprender a ler e escrever.” No dia 29 de setembro, o presidente Luís Inácio Lula da Silva esteve na ABL justamente para assinar o decreto que normaliza a adesão do Brasil ao acordo ortográfico. Pela norma, as novas regras entrarão em vigor já em janeiro. Mas as antigas poderão ser utilizadas, com uso facultativo, até dezembro de 2012. Já os livros didáticos terão de se adequar até 2010. Entre as mudanças, estão o fim do trema, das consoantes mudas e de vários acentos, além da simplificação do emprego do hífen e da inclusão no alfabeto das letras w, k e y. “É um momento de maturidade lingüística”, conclui Bechara. A

Mestre Bechara Evanildo Bechara é, hoje, o maior filólogo dos países lusofônicos da Europa, da África, da Ásia e das Américas. Empenha-se na implantação da reforma ortográfica da língua portuguesa e divide seu saber lingüístico entre cátedras de universidades do Rio de Janeiro e de Coimbra. Ademais, integra a Academia Brasileira de Letras, onde, desde o ano 2000, ocupa a cadeira de número 33. Sucedeu Afrânio Coutinho, um dos maiores críticos e historiadores da literatura brasileira e de quem tive a honra de ser amigo e colega no Conselho Federal de Educação. Na ABL integra a Comissão de Lexicologia e Lexicografia e também a direção da Biblioteca Rodolfo Garcia. Conhecido em todo o mundo universitário por sua complexa, volumosa e qualificada obra, que supera uma centena de títulos do mais rigoroso enquadramento científico, tem ultimamente atuado no eixo Brasil-Portugal, a serviço da defesa da “última flor do Lácio”, como gostava Bilac de referir-se à língua vernácula. Esse o grande intelectual que o CIEE e o jornal O Estado de São Paulo distinguiram, por unanimidade de seus conselheiros, em 2008 com o título de Professor Emérito e o troféu Guerreiro da Educação, quiçá, hoje, a maior láurea brasileira no campo da literatura, da educação, da arte e da ciência. Com a premiação de Evanildo Bechara, inauguram o CIEE e o Estadão uma nova fase, na série das premiações do Professor Emérito: a extensão do título a homenageados de atuação cultural e educacional fora do Estado de São Paulo. PAULO NATHANAEL PEREIRA DE SOUZA, presidente do Conselho de Administração do CIEE

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ESCOLA

Qualidade de vida e diversidade Adamantina/SP torna-se pólo de atração para alunos de vários estados. Adamantina é uma cidade com cerca de 35 mil habitantes, no interior do estado de São Paulo, e tem um diferencial entre os municípios do mesmo porte: as Faculdades Adamantinenses Integradas (FAI), que abrigam mais de cinco mil estudantes nos 29 cursos de graduação e 11 cursos de pós-graduação lato sensu, oferecidos em três campi. A cidade é um pólo de atração para estudantes de várias partes do Brasil, com destaque para os estados de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. “Os diversos cursos novos que a FAI oferece geram uma demanda de estudantes vindos cada vez de locais mais distantes”, enfatiza Roldão Simione, atual diretor da autarquia, que ficará no cargo até 2011. “Isso é reflexo do trabalho dos diretores que passaram pela instituição e a fizeram crescer”. Diferencial dos estudantes. Outra característica da FAI é o estímulo ao estágio. Há 37 anos, Maria José Zampieri Bellusci – carinhosamente chamada de Zezé – já trabalhava com estudantes em capacitação. “Quando comecei aqui, atuava na área pedagógica e supervisionava o estágio, na prática de ensino” diz. Há cerca de dez anos, a escola criou um departamento para cuidar do estágio, coordenado por Zezé. Para ela, a valorização do estágio faz parte do diferencial dos estudantes da instituição no mercado de trabalho. Ao completar 40 anos em 2008, a FAI aproveita para agregar valores ao estágio. Um posto de atendimento do 32

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Acima, alunos de Medicina Veterinária participam de atividades práticas. Ao lado, Maria José Bellusci e Roldão Simioni.

CIEE funcionará dentro da faculdade, no campus do centro da cidade. “Ficamos muito contentes com essa parceria, porque sabemos da capacidade do CIEE para administrar os estágios e que isso só vai ampliar as oportunidades para nossos estudantes”, afirma Maria José. Atualmente, mais de dois mil estudantes fazem estágio, entre o curricular e extracurricular. “Como a instituição é uma autarquia municipal, as mensalidades são acessíveis, e os pais ficam tranqüilos em deixar os filhos estudarem numa cidade pequena, com qualidade de vida”, continua. O clima da vida estudantil contamina toda a cidade. Os diversos congressos, seminários e atividades programadas na FAI para a comunidade, como o atendimento nas clínicas, mostra a importância da A vida acadêmica para a região.

CIEE PRESENTE NO CAMPUS I O CIEE inaugurou, no Campus I da FAI – Faculdades Adamantinenses Integradas, um posto de atendimento para fazer a ponte entre empresas de Adamantina e região e os alunos interessados em estágios. Segundo o diretor geral da FAI, Roldão Simione, o número de empresas interessadas em admitir estagiários da instituição é muito grande, porém elas nem sempre eram bem atendidas, em função da ausência de um departamento que cuidasse exclusivamente do estágio extracurricular: “Agora, com o CIEE instalado dentro da instituição, a ligação entre empresa e escola será realizada com toda a eficiência”, afirma.


CAPACITAÇÃO

Boleiros na sala de aula Palmeiras firma parceria para garantir formação a jogadores de 15 e 16 anos. Em busca do sonho e sucesso na carreira, muitos jovens trocam os bancos escolares pela bola. Com a forte concorrência, num espaço em que pouquíssimos conseguem brilhar, milhares dos aspirantes caem no ostracismo, não fincam raízes no futebol e, sem estudo ou profissão definida, não encontram oportunidades no mercado de trabalho. Preocupada com o futuro dos seus jogadores de base, a Sociedade Esportiva Palmeiras firmou uma parceria com o Colégio Módulo, em São Paulo/SP. O acordo prevê a concessão de 25 bolsas de estudo do Curso Técnico de Gestão Empresarial, no período noturno, para os atletas da categoria infantil (de 15 a 16 anos), cuja maioria provém do interior ou de outros estados e reside nos alojamentos no clube, no Parque Antártica. “Nosso objetivo fundamental é garantir a educação para todos os atletas até os 18 anos”, diz Thaís Toledo, assistente social do Palmeiras. No curso, os alunos têm orientação específica para gerir negócios e a própria carreira. Além das matérias básicas do ensino médio, assistem às aulas de marketing pessoal, empreendedorismo, informática, inglês e administração financeira. “O atleta inserido na educação e no meio social tem um nível de compreensão e criatividade maior que se reflete dentro do campo”, afirma Thaís. Doze atletas palmeirenses freqüentam o curso atualmente. Eles treinam durante

o dia e vão para as aulas à noite. “É um esforço que futuramente pode render frutos”, comenta o goleiro Giovanni Mocellin, de Tatuí/SP, que, com 15 anos, já mede 1,91 metro de altura. Para o zagueiro Bruno Alves, 16 anos, de Taubaté/SP, é importante não largar os estudos, pois a carreira de jogador é curta e de muitos riscos. “Estudar aqui é uma oportunidade a mais para garantir o futuro.” Mudança de postura. Outro goleiro da equipe, Renan Vieira Soares, 16 anos, natural de Cachoeiro do Itapemirim/ES, deixou a família para tentar a sorte no time alviverde. Cursando o segundo ano do ensino médio, ele já enxerga nitidamente melhoras no seu comportamento. “Houve uma mudança de postura; a gente fica mais responsável”, revela. Segundo ele, essa experiência pode ajudar no desenvolvimento de uma carreira mais sólida. Para Wagner Marcelo Sanchez, diretor pedagógico do Colégio Módulo, a parceria com o Palmeiras está inserida no clima de solidariedade que existe na escola. “Acredito que as escolas têm de focar também as ques-

Para o zagueiro Bruno Alves, o importante é não largar os estudos, pois a carreira ainda é incerta.

tões solidárias e não só visar ao lucro.” Os alunos recebem uma bolsa de estudo que cobre, em média, 75% da mensalidade escolar. O restante é pago pela família, como forma de estimular a participação deles na educação dos jovens. O curso tem três anos de duração. “Caso a profissionalização no esporte não ocorra, haverá um leque de oportunidades para esses jovens ingressarem no mercado de trabalho”, A afirma o diretor.

Os goleiros Renan e Giovanni: treino de dia e estudo à noite. set/out 2008

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CAPA SERVIÇO

Cidadania pela internet Novo curso a distância cria consciência cidadã e ajuda a turbinar o currículo. Adotar atitudes responsáveis com relação ao meio ambiente e à convivência em sociedade, além de demonstrar a preocupação com a preservação do planeta e com o ser humano, pode contar pontos nos processos seletivos para estágio ou emprego. Tais posturas demonstram iniciativas de cidadania e engajamento social, valorizadas pelas companhias. Dentro desse propósito, o CIEE desenvolveu o curso a distância Cidadania e Meio Ambiente, que está disponível no site www.ciee. org.br desde agosto. Usando o recurso da interatividade, o objetivo do curso é conscientizar o estudante sobre seu papel em sociedade, envolvendo aspectos como cultura, valores, família, direitos e deveres, além da importância de sua atuação na proteção ao meio ambiente. “O estagiário ou o funcionário pode contribuir para a redução de custos da empresa e ainda para valorizar a imagem dela no mercado, ao adotar iniciativas de responsabilidade social, como, por exemplo, reaproveitar o verso em branco de folhas de papel usadas”, diz Rosa Simone, supervisora de Educação a Distância do CIEE. Dividido em oito aulas, o curso tem duração de cinco horas que po-

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dem ser realizadas em dez dias. Sheila Reis Oliveira, 23 anos, estudante de enfermagem da Universidade de Santo Amaro (Unisa), fez o curso e aprovou. “No mundo em que a gente vive, com o planeta se deteriorando e com diversos problemas climáticos, é importante ter ciência desses fatos e ajudar na conservação do planeta para as próximas gerações”, diz Sheila. Entre os temas dos quais ela mais gostou está a coleta seletiva de lixo, “muito importante para a conservação da nossa cidade”, enfatiza. Mais 21 cursos. Além do Cidadania e Meio Ambiente, outros 21 cursos integram o catálogo do Programa CIEE de Educação a Distância: Atenção Concentrada; Administração do Tempo; Atitude Empreendedora; Atualização Gramatical; Currículo sem Segredo; Entrevista: Como encará-la; Introdução a Projetos; Fundamentos de rede; Lógica e Criatividade; Microsoft Excel; Microsoft PowerPoint; Microsoft Word; Access; Flash; Orientação e Informação Profissional; Produção de Textos e Redação Empresarial; Postura e Imagem Profissional; Relacionamento Interpessoal; Dinâmicas e Testes na Seleção e Resolução de Problemas. Sheila Reis Oliveira, da Unisa: fez o curso a distância e aprovou.

Além de apostila para download, os alunos de Educação a Distância contam com serviço de monitoria on-line e esclarecimento de dúvidas em salas de bate-papo, FAQs (frequent asked questions ou dúvidas mais freqüentes) e e-mails. Todos os cursos são gratuitos e oferecem certificados para os aprovados. Para participar o estudante, deve estar cadastrado no CIEE ou fazer a inscrição no site www.ciee.org.br. A


SUPLÊNCIA

HORA DE RECOMEÇAR Há 12 anos o CIEE oferece oportunidade para quem quer concluir os estudos. Cansada de consultar outras pessoas sempre que o filho tinha dúvidas em matemática, Simone dos Santos, 37 anos, auxiliar de limpeza, decidiu retomar os estudos. Ela se inscreveu no supletivo do ensino fundamental do Programa CIEE de Alfabetização e Suplência Gratuita para Adultos. Após o término do curso, o Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação no Estado de São Paulo (Seac/SP) reconheceu os esforços de sua funcionária e ofereceu uma bolsa de estudo num curso superior à escolha dela. “Vou fazer Gastronomia, porque gosto de cozinhar e todos falam bem da minha comida”, afirma a futura universitária, na reta final para concluir o ensino médio pelo sistema Educação para Jovens e Adultos (EJA), da rede pública. Além de melhorar as chances de colocação no mercado, apostar no estudo também contribui para engordar a remuneração no final do mês. Segundo o estudo Retornos da Educação, da Fundação Getúlio Vargas, concluir o ensino médio pode render, em média, um salário 218% maior que do que o oferecido a um trabalhador não escolarizado. Além dos conhecimentos acadêmicos, o supletivo também incentiva os alunos a serem solidários e cidadãos. “É uma oportunidade de inclusão social, com o resgate da auto-estima e o desenvolvimento proporcionados pela educação, o que leva ao desempenho

Turma de alfabetização no Prédio-Escola do CIEE e a aluna Simone dos Santos do Seac/SP.

do papel de cidadão”, explica Lúcia Maciel, coordenadora das distritais da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), parceira do CIEE desde 2003 no esforço para ampliar a escolaridade dos menos favorecidos. Benefícios. Com 49 mil beneficiados em 12 anos de atividade, o Programa CIEE de Alfabetização e Suplência Gratuita de Adultos oferece os cursos de alfabetização e supletivo do ensino fundamental e médio, ministrados por estagiários de Pedagogia, Letras e Matemática. A ação conta com o apoio de 30 empresas, responsáveis por: bolsaauxílio, vale-transporte dos estagiários, material didático, lanche e espaço físico. O CIEE entra com o recrutamento e seleção do estagiário, assim como acompanhamento pedagógico e o fornecimento de material de apoio para as aulas. Além disso, o CIEE mantém 12 salas em seu Prédio-Escola, no Centro de São Paulo. Os interessados em se tornarem parceiros do programa devem entrar em contato com a Supervisão de Educação e Capacitação, pelos telefones 3040-4597/4598/4599 ou pelo e-mail: renata_a@cieesp.org.br. A

FORMATURA DA TURMA DE 2008 O CIEE pegou carona no Dia Nacional de Alfabetização, em 8 de setembro, e promoveu a formatura da 22ª turma do Programa CIEE de Alfabetização e Suplência Gratuita Para Adultos. A cerimônia foi realizada no Teatro CIEE, tendo como paraninfo da turma Pedro Salomão Kassab, presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Estadual de Educação de São Paulo e membro honorário do CIEE. Na ocasião, o CIEE prestou homenagem às empresas parceiras do programa. set/out 2008

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EMPRESA

Tradição e variedade para estagiários Há 50 anos no mercado, Grupo Bandeirantes investe na capacitação de jovens. Com meio século de tradição, o Grupo Bandeirantes cresce com solidez e inspira jovens estudantes que desejam o melhor para sua formação profissional. Conglomerado com sede em São Carlos/SP, há 50 anos, mas presente em todo o território nacional, o grupo atua em diversos setores – empreendimentos imobiliários, pavimentação asfáltica a agropecuária. Com negócios tão diversificados, a empresa acaba chamando atenção daqueles que desejam trabalhar ou estagiar. Para os jovens estudantes, esse é um desejo latente que começou há oito anos. A relação entre o CIEE e o Grupo Bandeirantes começou de forma inusitada. A gerente jurídica da empresa, Elaine Cunha Melnicky, teve uma gestação conturbada. Com esse quadro, o repouso foi a saída para resguardar a saúde da mãe e do bebê. “Nesse repouso, em frente da TV, vi uma matéria comentando a chegada do CIEE a São Carlos. Imediatamente desejei começar o programa de estágio na empresa”, relembra. Em pouco tempo, os primeiros estagiários chegavam ao grupo. Foi uma situação curiosa para os dois lados. “Para a empresa era uma ótima oportunidade e para os estudantes um choque: muitos deles estavam completamente despreparados para o mercado”, afirma. 36

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Estagiários que participam da capacitação no Bandeirantes (destaque): sonho de efetivação.

Madrinha do estágio. O apelido “Madrinha do estágio”, que Elaine recebeu de seus pupilos, não apareceu por acaso. Ela mesma confirma que gosta de ensinar os estagiários, mas também cobra por isso. “O jovem tem de saber aproveitar as oportunidades”, acentua. Para ela, são necessários paciência e comprometimento com os estudantes, mas tudo é gratificante quando percebe que o interesse é verdadeiro e a vontade de crescer e aprender dentro de uma grande companhia é real. “Conseguimos absorver quase cem

por cento dos estagiários”, confirma. Segundo a executiva, a parceria é ótima, já que o método de seleção do CIEE vem ao encontro das necessidades do Grupo Bandeirantes. “Gosto de gente que está começando, pois a vantagem é que essas pessoas podem ser moldadas de acordo com a necessidade da empresa e tudo isso é feito naturalmente”, diz. Elaine orgulha-se ao dizer que ao menos dez estudantes de Direito, que passaram pelo seu crivo, estão, hoje, muito bem empregados no mercado de trabalho. “Costumo dizer que eles nasceram aqui e hoje estão muito bem”, alegra-se. Para a gerente jurídica, o estágio só


trouxe vantagens para o grupo. O estudante técnico de Segurança do Trabalho, Misael Felipe Cordeiro, 24 anos, acha que a oportunidade deveria ser obrigatória para todos os cursos. “O estágio agrega valor ao meu currículo e participar do treinamento em uma empresa de grande porte como a Bandeirantes é o sonho de muita gente”, afirma. Estagiário há oito meses, ele diz que agora consegue ter uma nova visão sobre o futuro profissional. “Na escola não temos esse contato direto com o trabalhador. Aqui vemos realmente a função do técnico em segurança e a satisfação de colaborar com a saúde das pessoas.” Informações fora da escola. O estudante do oitavo período de Engenharia Civil, Carlos Eduardo Giudissici, também bate na mesma tecla: o sonho de atuar em uma empresa de grande porte. Para ele, a Bandeirantes tem o lado bom de perceber que o estagiário é capaz de desenvolver boas ações e investir nessas oportunidades. “Aqui eu não fico confinado em um escritório analisando projetos. Faço trabalho de

campo com outros engenheiros e eles vão me passando informações que eu não tenho na faculdade”, enfatiza. Para Mariana Martins dos Santos, 18 anos, estagiária há seis meses na área de Direito, o estágio trouxe mais certeza sobre a área que ela pretende seguir. “Na Bandeirantes sempre há alguém nos guiando, mas sem deixar nada pronto: nós aprendemos a fazer sozinhos”, conta. Segundo ela, o estágio dá uma visão ampla do mercado e a certeza de que nem tudo é somente teoria. “Se você entende o que faz, fica mais fácil aplicar essa prática ao ler os livros”, completa. Estudantes de ensino médio também encontram oportunidades dentro da Bandeirantes. Com 17 anos, Kerolyn Katyossia Rocha conheceu um novo mundo quando foi selecionada para estagiar no grupo. “Sem experiência nenhuma, antes meu mundo era o da escola, casa e amigos. Agora tenho uma visão mais ampla, uma experiência profissional”, acredita. Melhora dentro de casa. O estágio traz também mudanças no relacionamento das famílias envolvidas. No setor de arquivos de Recursos Humanos, há dois meses, a estudante do ensino médio Karina Ariane da Cruz tomou um susto com o ambiente empresarial. Hoje mais integrada à realidade dos negócios, sente orgulho de fazer tudo o que precisa com o dinheiro que recebe por meio da bolsa-auxílio. Uma vez por mês, pelo menos, a estudante convida a mãe e a avó para comer pizza, com a condição de que Karina pague a conta. A

OPORTUNIDADE ÍMPAR Karen Cíntia Benfica Soares, 18 anos, estudante do terceiro semestre de Direito, é estagiária no Grupo Bandeirantes há quatro meses e meio. De família humilde, ela só ingressou na faculdade graças à bolsa do Programa Universidade para Todos (ProUni). Apesar do programa, o curso superior envolve outros gastos e o estágio de Karen é o meio encontrado para dar continuidade a seus estudos. “Com a bolsa-auxílio do estágio, eu consigo comprar meus livros, que são muitos e caros”, explica. Segundo ela, sem o estágio tudo ia ser muito complicado. “A oportunidade caiu do céu”, alegra-se. Karen já estagiava em um escritório de advocacia quando soube da vaga na Bandeirantes. Com esperança de conseguir seu espaço, a estudante participou da seleção e após ser aprovada, começou a aprender a prática da sua profissão. “Gosto muito de atuar aqui na área do Direito. Acompanho os processos, que são muitos, seleciono os documentos necessários e com isso tenho uma grande responsabilidade”, afirma. Elogiada pelo seu desempenho, a estudante espera ser efetivada. “Todos os estagiários que gostam da empresa esperam ser efetivados. E aqui eu aprendo na prática”, finaliza.

“Madrinha do estágio”, a gerente Elaine assume que gosta de ensinar e cobrar responsabilidades dos estudantes. set/out 2008

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COMPORTAMENTO

Lição de responsabilidade social Estudantes de Psicologia auxiliam estagiários a construir plano de carreira. Pela impossibilidade de efetivar seus estagiários que atendem e cadastram os usuários, a São Paulo Transporte (SPTrans) – autarquia responsável pela operação dos sistemas de ônibus da cidade – criou, em 2001, o programa Atendendo e Aprendendo, no qual estudantes de Psicologia aplicam dinâmicas, atividades, acompanhamento psicológico e orientação profissional, monitorados por um especialista da área. O serviço oferece aos estagiários a chance de planejar o futuro e escolher a carreira profissional. Para o estudante Lucas Araújo Suesco Pinto, 17 anos, essa oportunidade trouxe uma grande mudança. Hoje ele

é mais solto, educado e sabe qual carreira seguirá na faculdade: jornalismo. “A orientação profissional nos dá um rumo certo”, diz. Assim como Lucas, 200 estudantes do ensino médio e técnico estagiam nos postos de atendimento e recebem acompanhamento de 35 futuros psicólogos. Os estudantes de Psicologia são beneficiados com a experiência de conhecer na prática a área social, que segundo Sheila Cruz, 23 anos, que estagia há um ano e oito meses na SPTrans, é uma oportunidade rara. Segundo ela, um dos diferenciais da autarquia é a monitoria de estágio por um psicólogo formado, proporcionando um feedback ao estudante em capacitação. A função desses estagiários é detectar eventuais conflitos, elaborar projetos de intervenção e, uma vez por semana, aplicar uma sessão de orientação profissional.

Satisfação pessoal. Outro benefício dessa experiência é a troca de conhecimentos com os adolescentes, que, para Sheila, traz um aprendizado não apenas profissional como também pessoal. “É muito gratificante contribuir com o crescimento dos outros”, diz. Laura Cristina Neves Savero, gerente de Atendimento de Gratuidades e coordenadora de Estágios, conta que, ao longo do ano, os estagiários participam de cursos, eventos e, na conclusão do estágio, ganham uma solenidade de formatura. O programa também se adapta de acordo com a necessidade do grupo. Há alguns meses foi detectada uma defasagem escolar entre os estudantes. Para amenizar o problema, os estagiários de Psicologia criaram uma Oficina de Enriquecimento Cultural. “Cada jovem escolhe um autor, como Machado de Assis, Clarice Lispector ou Oswald de Andrade, lê sua biografia e divide com os outros”, revela Laura. Outra estratégia é descobrir algum assunto de interesse do estudante e associá-lo às disciplinas escolares: para um jovem que gosta de samba, por exemplo, a proposta é incentivá-lo a procurar a história do estilo musical ou fazer uma análise morfológica das músicas. “Para que o estagiário faça a escolha certa, ele deve se conhecer anA tes”, explica. O programa Atendendo e Aprendendo oferece aos jovens a oportunidade de autoconhecimento e aos estagiários de Psicologia, a chance de atuar na área social.

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Agitação

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ESPORTE

LINHA DE CHEGADA Conscientizar estudantes é o objetivo da Corrida Universitária do CIEE. Sessões diárias de ginástica mantêm o empresário Mario Amato, aos 90 anos, fiel às atividades físicas. Ex-atleta e ex-presidente de clubes, ele dá, pelo segundo ano seguido, nome ao troféu especial concedido à instituição de ensino com o maior número de alunos inscritos na Corrida Universitária do CIEE, prova em que os competidores percorrem dez quilômetros, individualmente ou em revezamento. Membro fundador do CIEE, Amato sempre foi dedicado à prática esportiva. “Acredito no esporte como disciplina, educação e respeito.” É esse o espírito da corrida, que deseja conscientizar o jovem sobre a importância da preparação física no aprimoramento do rendimento profissional e intelectual. Além de manter uma boa qualidade de vida, a prática esportiva ensina valores e gera mais disposição para as atividades diárias. A corrida, voltada basicamente para estudantes universitários, contou também com a participação de alguns atletas profissionais. Caso de Everton Luduvice Moraes e Adriano Lima Santos, respectivamente primeiro e segundo colocados na categoria individual masculino, ambos acostumados a participar de maratonas fora do país. Eles fecharam a prova com o tempo de 31min48s e 31min49s, res40

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Os primeiros colocados na categoria masculino individual e Maria Teresa, da USP, instituição que recebeu troféu especial das mãos do Mario Amato.

pectivamente. “Eu e Adriano treinamos muito durante a semana e decidimos chegar quase ao mesmo tempo”, revela Everton. “Foi uma vitória dupla, uma estratégia de corrida que nos possibilitou chegar com um segundo de diferença”, completa Adriano. O terceiro colocado foi Jileno Lopes de Oliveira, que chegou dois minutos depois. Na categoria individual feminino, a vencedora foi Vivian Oliveira, exestagiária do CIEE, com o tempo 41min12s. “O sedentarismo foi o motivo para eu começar a correr, há cinco anos”, diz a vencedora. O segundo lugar ficou com a estudante de design gráfico Daniela Barcelos de Souza e o terceiro, com a aluna de cosmetologia e estética Adriana Lima Santos.

Promoção saúde do atleta. Com patrocínio do Bradesco, do Grupo Impacta, da Unimed Paulistana e da Seven Idiomas e apoio institucional da Prefeitura de São Paulo, da Universidade de São Paulo (USP) e da Federação Paulista de Atletismo, a corrida manteve o foco do ano anterior, levando qualidade de vida aos estudantes. “É uma forma de atividade que pode ser praticada tanto do ponto de vista competitivo quanto na promoção da saúde do atleta”, comenta Maria Teresa Silveira Bohme, chefe do Departamento de Esportes da USP, instituição de ensino que recebeu o troféu especial Mario Amato. Além dos troféus, os primeiros e segundos colocados receberam uma bolsa integral de estudos da Seven Idiomas e os terceiros, uma bolsa integral de estudos da Impacta. As três primeiras colocações por equipe, nas categorias revezamento geral masculino, feminino e mista, também foram A agraciadas com os prêmios.


www.ciee.org.br

Suplemento especial de Agitação nº 83

Áreas em pleno crescimento não encontram profissionais e universidades não encontram alunos para atuarem nesse mercado.

Na loucura do vestibular, a maior parte dos estudantes opta por cursos mais convencionais. Não é à toa que Medicina, Direito e Engenharia estão entre as graduações com maior número de inscritos nos exames vestibulares. No entanto, o mercado de trabalho tem sofrido constantes mudanças para atender setores preocupados com aquecimento global, diretrizes políticas, entre outras áreas mais específicas. As empresas que possuem em sua estrutura departamentos focados em uma determinada área

de atuação têm tido dificuldades na contratação de colaboradores. Isso explica por que profissionais com formação em cursos pouco convencionais encontram facilidade na inserção no mercado de trabalho. Em razão disso, é essencial que os jovens que ingressam na carreira profissional estejam atualizados quanto às necessidades do mercado, procurando por especializações ou graduações diferenciadas. Mas tão importante quanto ter formação pouco convencional, é gostar daquilo que faz. Foi pensando nisso que Davi Curcio Barbosa Vieira, 20 anos, fez sua escolha profissional, optando pelo curso de Letras, com habilitação em português e japonês, fugindo dos tradicionais idiomas inglês e espanhol. Apesar de não ter ascendência japonesa, ele explica que seu interesse pela língua veio da paixão pelos desenhos e mangás, o que o fez ver na graduação a possibilidade de unir o útil ao agradável. “O japonês chama a atenção das empresas porque não é um idioma muito usual”, explica o estudante, que estagia há dois meses na Fundação Getúlio Vargas (FGV).


Área em expansão. Assim como o estagiário Davi, a professora e coordenadora do curso de Silvicultura, da Faculdade de Tecnologia (Fatec) de Capão Bonito/SP, Selma Candelária Genari, concorda que o estudante deve conciliar seus gostos pessoais com a carreira e destaca as possibilidades que o jovem pode encontrar ao pesquisar áreas de atuação pouco comuns. Um exemplo disso é o fato de a instituição ser a única no país e na América Latina a oferecer o curso de tecnólogo em silvicultura. Hoje, com duas turmas de 40 alunos cada, a Fatec trará pela primeira vez ao mercado 80 profissionais habilitados a desenvolverem métodos naturais ou artificiais para regeneração e cultivo das florestas, entre outras atividades. Isso porque a faculdade notou que, nos últimos anos, o aumento na produção mundial de florestas plantadas se caracteriza como um grande aliado para a geração de recursos renová-

veis, elevando a produção de combustíveis alternativos, celulose e papel. Felizmente, nós temos, no Brasil, condições climáticas e de solo que favorecem essa prática, o que tem atraído grandes conglomerados financeiros a fazerem investimentos nessas áreas, possibilitando colocar o país como um dos grandes produtores mundiais de celulose e papel. É aí que entra o profissional de silvicultura: “O tecnólogo planeja, executa e controla atividades de manejo e produção florestal, desenvolvimento de mudas, implantação e manutenção de florestas”, destaca a coordenadora. Tantos diferenciais no mesmo curso garantiram ao estudante Israel Batista Gabriel uma oportunidade de estágio no Núcleo de Educação Ambiental, na Votorantim. “Sou praticamente um engenheiro ambiental e um agrônomo, em uma pessoa só”, brinca o jovem. Novos conhecimentos. Para os mais visionários, a especialização traz a oportunidade de se destacar dentro do seu ramo

de atuação. É o caso de Adriana Cruz, que atua na Comunicação da Assembléia Legislativa de Boa Vista/RR e, após 17 anos, resolveu voltar às aulas, mesmo que virtuais, já que optou por fazer o curso de Educação a Distância (EaD) da Universidade do Sul Santa Catarina (Unisul). No único curso do país, ela é um dos quase 200 alunos a fazer Administração Legislativa. De acordo com Aloisio José Rodrigues, coordenador do curso, foram quase mil pré-inscritos. O motivo para tanta procura é simples: a formação surgiu a partir da parceria com o Senado e a Assembléia Legislativa, que notou a necessidade de profissionais mais qualificados para as atividades decorrentes dentro dos órgãos. O que mostra como o mercado do primeiro, segundo e terceiro setores está carente de profissionais preparados. “A idéia é habilitar esses alunos para trabalhar no setor legislativo e elevar o nível de conhecimento dessas pessoas. Mas é uma área que ainda não foi explorada pelos jovens”, enfatiza Rodrigues. “O curso me trouxe um leque de opções e novos conhecimentos”, comemora Adriana. Não é surpresa notar que a Universidade de São Paulo (USP) já abriu inscrições para novos cursos, em 2009, como Engenharia de Biossistema e Astronomia, áreas que enfrentam dificuldades, não com o número de candidatos por vaga, mas pela falta deles. Afinal de contas, o que pesa na escolha desses futuros profissionais na hora de decidir a carreira? Seria uma ação involuntária – em que todos os jovens, ou boa parte deles, escolhem cursos similares – ou a falta de informação de novas áreas de atuação que os impossibilita de fazer opções mais amplas e diferenciadas?! A

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Aloisio José Rodrigues, coordena o único curso do país na área legislativa.


rios anos, sempre com casa cheia. Ainda no estilo de encarnar personagens, ela conseguiu provar que até os humoristas menos conhecidos tinham talento para segurar uma platéia inteira no riso. Nos Estados Unidos, o stand-up já se tornou uma verdadeira fonte de celebridades, revelando astros como Chis Rock e Jerry Seinfeld. Por aqui, somente este ano a grande mídia descobriu a força desses comediantes. O programa CQC da TV Bandeirantes, por exemplo, compôs todo o seu quadro de repórteres e apresentadores com jovens do stand-up, como Danilo Gentili. Nessa cena (mas não se sabe se no CQC), ainda há banquinhos e microfones disponíveis para novos talentos e Dinho Machado dá a dica

Dinho Machado é estreante na comédia e fez rir até o repórter desta matéria.

para aqueles que querem pôr à prova sua verve: “Todo clube de comédia faz o open mic, ou seja, abrem sempre seus microfones para iniciantes”. É só criar, subir no palco e disparar piadas, rezando para enA cher a casa de risos.

PÉROLAS DO STAND-UP “Só existe uma honra maior do que ser o último cara que entrevistou a Dercy Gonçalves: ser o primeiro. Mas seria muita pretensão minha querer ser Pero Vaz de Caminha.” Danilo Gentili (realmente o último repórter a entrevistar a comediante). “Cigarros matam gente todo santo dia. Esse vício é tão perigoso que mata até quem não fuma.” Chris Rock “Você sabe que está ficando velho quando só tem uma vela no bolo. É como se dissessem: Veja se consegue apagar ao menos essa”. Jerry Seinfeld

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A fórmula é simples e, em grande parte, já foi entregue pelo título desta matéria. Um humorista sozinho no palco desfia observações sobre o dia-a-dia, sem encarnar personagens, contando apenas com um microfone, um banquinho e uma língua ferina. Não se tem muito tempo – no máximo, 20 minutos – para criar um vínculo com a platéia e garantir maior efeito das piadas seguintes. O desafio é fazer uma tirada “entrar”. Dinho Machado, ator há seis anos e estreante da comédia stand-up (que significa em pé, no inglês), lembra da sua primeira piada que “entrou”. “Existe coisa que não se diz para gordo. Por exemplo: está servido?”, recontou. Aí, nem o repórter conseguiu manter a seriedade e o humorista desferiu: “Olha aí, entrou.” Os humoristas de standup são assim mesmo, têm pensamento rápido e não perdoam ninguém. Nem a eles mesmos. Aliás, essa é outra regra: só fazer graça com o que se domina. Dinho, que se apresenta toda semana com o grupo Na Lata, confidencia que está alguns quilos acima do seu peso ideal. Esse formato de comédia é feito no Brasil há mais de 70 anos, com expoentes do one man show, como Chico Anísio e Jô Soares, mas nunca decolou até a atriz Grace Gianoukas lançar o espetáculo Terça insana, em 2001, com um sucesso que resistiu vá-


Desistir ou nAo desistir, eis a questAo Mesmo após ingressar na faculdade, a escolha da carreira ainda tira o sono de muitos jovens indecisos. Quando criança, as escolhas profissionais são feitas (e descartadas) com grande facilidade: aos sete anos quer ser veterinário, aos dez sonha ser professor e aos dezessete não faz a menor idéia do vestibular que vai prestar. Com Alex Eduardo Bevilaqua não foi diferente: “Meu sonho de criança era ser médico”. Por isso, não teve dúvida em optar, na hora da sua escolha profissional, pela área de biológicas. Durante um ano e meio, estudou Farmácia e Bioquímica, enquanto trabalhava em uma agência bancária. Não deu outra: “A faculdade me trazia tubos e laboratórios, e a vida real me trouxe o contato com gente e a possibilidade de me comunicar”, explica

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o jovem. Assim, decidiu desistir do curso e partir para a área de Comunicação. Hoje é formado em Publicidade e Propaganda, e atua no departamento de marketing de um shopping center da capital paulista. Quando questionado se valeu a pena trocar de área de atuação, ele é objetivo: “Agora achei o meu lugar”. Uma boa opção para quem quer evitar atuais ou futuros questionamentos – além de procurar informações do curso pretendido – é recorrer à orientação profissional oferecida por um especialista, que tem a vantagem de ser uma pessoa neutra na situação, diferente dos pais ou amigos. Outra dica é procurar

atuar dentro da área escolhida: “Nessa fase, o estágio é fundamental, pois dá uma visão de como funciona o mercado de trabalho”, destaca Luiz Guilherme Brom, superintendente institucional da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap). A instituição também notou a incerteza profissional entre os estudantes, principalmente nos primeiros anos do curso. Por isso, criou uma assessoria psicopedagógica, que oferece atendimento gratuito e individual aos alunos. Pés no chão. No entanto, mais do que pesquisar sobre as profissões e criar expectativas, é essencial que o jovem identifique suas próprias habilidades. Afinal de contas, não adianta sonhar com a carreira

Paula se formou em Psicologia e agora optou por fazer Pedagogia.

de Engenharia, quando não se tem afinidade com as disciplinas de exatas. “A pessoa só sabe para onde ir se conhece suas possibilidades. Mas a maioria dos jovens não faz isso, eles simplesmente se lançam”, aponta Sandra Bertelli, psicóloga e orientadora profissional. Além do autoconhecimento, ela cita a importância de ter sempre “os pés no chão” e não alimentar expectativas ilusórias. Brom aprova a idéia: “Tudo tem seu glamour, mas também tem seu sacrifício. A carreira deve ser construída em bases sólidas e isso requer tempo”.

ORIENTAÇÃO E INFORMAÇÃO PROFISSIONAL NO CIEE Aberto para todos os estudantes do ensino médio, superior e formados depois de um ou dois anos. O programa conta com cinco encontros de três horas e meia. Os quatro primeiros são em grupo e o último é atendimento individual. Os grupos podem ser formados por no máximo 20 pessoas. Os interessados em participar do programa podem se inscrever pelo site: www.ciee.org.br. A orientação é oferecida gratuitamente no Prédio-Escola do CIEE: R. Genebra, 65/57 – Centro – São Paulo/SP.

Na hora da dúvida, Luiz G. Brom, da Fecap indica o estágio.


tem. Em 2003, ela se formou em Psicologia, após fazer estágio na Escola Pueri Domus, onde desenvolvia atividades com as crianças. Oito anos depois, está de volta, desta vez como estagiária de Pedagogia. “Foi durante o treinamento que me apaixonei pela profissão”, esclarece a jovem, que chegou a ter seu próprio consultório atuando como psicóloga infantil. Contudo, neste ano ela optou em voltar para as salas de aula e notou que o conhecimento adquirido na primeira formação iria colaborar na carreira pretendida. “Psicóloga eu vou ser sempre, e pedagoga é uma formação nova, que vai agregar valor ao meu desempenho e ao meu currículo”, destaca Paula, que complementa: “Tem gente que me acha louca, mas eu estou feliz”.

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Como proceder num acidente

mas

com víti

Na edição anterior, demos algumas dicas de como se portar no caso de se envolver num acidente sem vítimas. Agora, vamos tratar de uma questão um pouco mais delicada: o que fazer quando há feridos num acidente de carro. Primeiro, é preciso saber o que é uma vítima de acidente. Do ponto de vista médico, é toda pessoa que requer atendimento, seja ele emergencial ou não. Então, desde que você esteja apto a prestar ajuda, a primeira dica é: mantenha a calma e procure agir racionalmente. Deixe o veículo no local onde ele parou e, se possível, tente fazer com que a outra parte também o faça. Procure sinalizar o local e as proximidades para evitar outros acidentes. Acione as luzes de advertência (pisca-alerta) e coloque o triângulo de sinalização ou equipamento similar a uma distância mínima de 30 metros da traseira do veículo. O equipamento de sinalização de emergência deve ser instalado perpendicularmente ao eixo da via e em condição de boa visibilidade. Proteja a vítima, mas evite movimentá-la, pois existe a possibilidade de lesões como fraturas, rupturas de órgãos internos e outros traumatismos. Incontáveis vítimas de acidentes morreram ou ficaram com graves seqüelas em conseqüência do agravamento de ferimentos decorrentes de remoções incorretas. Avalie o estado de consciência do acidentado assim como sua respiração e se há sangramentos. Depois, solicite auxílio pelos telefones 192 ou 193, ou peça para que alguém o faça por você. Até a chegada do socorro, mantenha a vítima sob observação. Estando ela consciente, procure acalmá-la, mostrando que está amparada e protegida. Se estiver a serviço, entre em contato com a sua empresa, so-

Lupi De Tomazzo

licitando apoio do departamento jurídico, ou com um advogado de sua confiança – auxílio jurídico nesse momento poderá ser decisivo no futuro. Após a remoção da vítima pelos bombeiros ou resgate, permaneça no local do acidente para cuidar das providências legais. Procure obter testemunhas e, se possível, fotografe a área e os veículos envolvidos. Acompanhe atentamente o preenchimento do Boletim de Ocorrência e só o assine se sua versão estiver transcrita com clareza. Caso não esteja, solicite as alterações que julgar necessárias. Após um acidente com vítima, os envolvidos tendem a ficar emocionalmente abalados. Por isso, jamais assuma qualquer compromisso financeiro ou responsabilidade pelo ocorrido. Isso será resolvido judicialmente. Para leigos, o conceito de primeiros socorros é este: uma assistência temporária, visando ajudar a vítima, evitar o agravamento das lesões e aliviar o sofrimento, até que se obtenha atendimento profissional adequado. Se você não se sentir apto a realizar qualquer procedimento, não o faça. Providencie atendimento apenas ligando para o 192, 193 ou até mesmo o 190. Como última dica é importante observar que em alguns acidentes o condutor acaba sofrendo ameaças da comunidade local. Se isto ocorrer, procure preservar-se. Deixe o local do acidente e, quando chegar a um lugar seguro, ligue para a polícia, identifique-se e relate os fatos e o local exato da ocorrência. Esse ato não configura omissão de socorro. Lupi De Tomazzo é jornalista especializado em veículos; produtor e apresentador do programa Sobre Rodas da rádio USP FM e responsável pelo site www.carrouniversitario.com.br.

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Entretanto, se a única certeza que o estudante tem é que aquele curso não se encaixa no seu perfil, o superintendente aconselha o jovem a desistir, mas faz uma ressalva: “Se ele chegou à segunda metade da formação, é recomendável que termine o curso, até por questões financeiras”. Vale ressaltar que, dando continuidade ou não à graduação, o conhecimento adquirido nunca é perdido. Certeza que Paula Garcia de Lorenzi Bastos também


POR

Cuidados com seu PERFIL NA INTERNET

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Uma a cada cinco empresas analisa o perfil dos candidatos na internet, segundo o site de relacionamentos profissionais Viadeo. Então, para não correr riscos de perder uma valiosa vaga de estágio, vale a pena pensar duas vezes antes de entrar em comunidades comprometedoras ou de duplo sentido como “eu odeio meu patrão” ou “bebo até cair”. Se já entrou, procure deletá-la de seu perfil. Segundo especialistas, para ter um perfil profissional atraente na internet coloque informações interessantes sobre si, atualize sempre seus dados e mantenha ativa sua rede de relacionamentos. Usar a internet corretamente pode transformá-la numa excelente ferramenta para alavancar sua carreira.

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Democracia na escola MALEFÍCIOS No intuito de conscientizar professores, alunos, pais e responsáveis sobre a importância da democracia e de seus direitos e deveres, foi lançado no Rio de Janeiro o programa Cidadania e Justiça também se aprendem na escola, iniciativa da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e da Secretaria de Estado da Educação do Rio de Janeiro. O site do programa é totalmente interativo e ajudará crianças e adultos a se informarem sobre seus direitos e deveres como cidadãos. A AMB reúne mais de 13 mil juízes em todo o país.

Acumulando prêmios

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Os irmãos gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon conquistaram mais um troféu para sua coleção: o Prêmio Jabuti, o “Oscar” literário do Brasil. A adaptação para quadrinhos da obra O Alienista, de Machado de Assis, venceu na categoria álbum didático e paradidático de ensino fundamental ou médio. Só este ano, os gêmeos conquistaram três categorias do Eisner Awards, principal premiação da indústria norte-americana de quadrinhos, entre elas, a de melhor antologia com a revista 5, que também teve a colaboração de outro brasileiro, Rafael Grampá.

da rede

Durante o encontro anual do Royal College of Psychiatrists, instituição do Reino Unido e da Irlanda, foi discutida a preocupação com a geração de usuários da internet, nascida depois de 1990, pela possibilidade do desenvolvimento de uma visão perigosa a respeito do mundo e da sua própria identidade. A causa disso seria o fato desses jovens viverem em um mundo dominado pelos sites de relacionamento, como o Orkut e MySpace. Segundo o psicanalista inglês Himanshu Tyagi, defensor da tese, o ritmo rápido desses sites podem causar problemas de comportamento, visto que seus usuários podem achar a vida real “chata e pouco estimulante”.


vencem Imagine Cup Duas equipes brasileiras foram campeãs no último dia do torneio Imagine Cup 2008, na França, promovido pela Microsoft e considerado a Copa do Mundo da computação. Formada por estudantes da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), a equipe Mother Gaia Studio conquistou o prêmio de desenvolvimento de jogos. O time pretende investir os 25 mil dólares do prêmio na produção do próximo jogo. O Imagine Cup 2008 foi divulgado durante a Feira do Estudante – Expo CIEE 2008, no estande da Microsoft.

É BRASIL NA MATEMÁTICA! Os brasileiros conquistaram a 16ª colocação entre os 97 países que disputaram a Olimpíada Internacional de Matemática, realizada em Madri, na Espanha. A equipe brasileira terminou a competição com 217 pontos e trouxe para casa cinco medalhas de prata e uma de bronze. A equipe tupiniquim é formada pelos estudantes Renan Henrique Finder, Henrique Pondé de Oliveira Pinto, Rafael Tupynambá Dutra, Davi Lopes Alves de Medeiros, Régis Prado Barbosa e Marcelo Matheus Gauy. O primeiro lugar do campeonato ficou com a China.

O período da vida dedicado ao estudo é muito importante, é nele que o jovem conquista grande parte dos conhecimentos, mas também enfrenta dificuldades financeiras, por não ter ainda uma carreira consolidada, e, em muitos casos, por receber salários e bolsas-auxílio com valores baixos, quando recebem. Assim, para boa parte dos estudantes, atividades culturais passam a ser vistas como um luxo dispensável. Mas aqui há um duplo equívoco. Primeiro, nem sempre bons espetáculos ou livros custam caro. Segundo, cultivar a arte não é um luxo, mas, sim, um instrumento para aprimorar sua formação integral, que passa necessariamente pela cultura. Uma dica interessante é pesquisar o roteiro de espetáculos gratuitos, existente em quase todas as grandes e médias cidades. Outra é aprender a usar a carteira de estudante, que possibilita descontos de 50% em ingressos para eventos, como peças de teatro, shows, cinema, desconto na compra de livros e viagens. É fundamental que todos os estudantes tenham a sua carteira e aproveitem os descontos com responsabilidade e coerência, buscando aprimorar a bagagem cultural que valorizará seu desenvolvimento profissional e humano. À primeira vista pode não parecer, mas eventos culturais são um ótimo investimento para o futuro profissional, pois propiciam descobertas, abrem caminho para desenvolvimento de novas idéias e ajudam a criar rede de relacionamento, entre outras vantagens. Mas, mesmo com ótimos descontos, é importante ter controle de quanto se gasta para que o

Reinaldo Domingos

benefício não se torne um atalho para o endividamento. Nada de ir indiscriminadamente a tudo que acontece, só porque tem desconto. É importante avaliar a importância do evento cultural e o que ele trará de benefício. Vale também lembrar que existem outras despesas envolvidas, que poderão pesar no orçamento no final do mês. Por exemplo, para ir ao cinema também se gasta com transporte, pipoca, refrigerante, balas. Outra dica é que o jovem, ao escolher um evento, deverá anotar o valor total do ingresso e o que ele irá economizar, ou seja, a metade. Essa “economia” é uma excelente oportunidade para iniciar o caminho rumo à independência financeira e, portanto, deverá ser guardado. Mas se isso não for possível, a cultura deve ter prioridade, pois todo investimento nesse campo é como uma poupança, que será bastante significativa para iniciar a trilha para realização dos seus sonhos. Tenha em mente que a cultura valorizará você não apenas nos relacionamentos pessoais, mas também nos profissionais, valendo pontos positivos na hora de uma empresa contratar ou, até mesmo, promover alguém. A cultura e a educação são ferramentas para melhorar a qualidade de vida da população e, para o estudante, a carteirinha é a melhor forma para conquistar cada vez mais o saber que certamente o ajudará a se tornar um profissional apto a enfrentar os rigores do mercado de trabalho. Reinaldo Domingos é consultor e terapeuta financeiro, autor do livro Terapia Financeira e criador da metodologia comportamental DISOP ( www.disop.com.br)

77 JOVEM

Brasileiros

DESCONTO facilita acesso à CULTURA


Mais do que bebidas, as tubaínas são patrimônios regionais. Jesus, Cajuína, Mineirinho, Mate-Couro e Cini Gengibirra. Se alguém pensa que são de nomes de jogadores de futebol, enganou-se. Eles pertencem às tubaínas, refrigerantes regionais que, dentro de sua área de venda, brigam com marcas fortes nacional e até internacionalmente, como o Guaraná Antarctica e a Coca-Cola, e ganham a concorrência com preços menores e sabores exóticos. A verdadeira tubaína nasceu na década de 30, em Jundiaí, interior de São Paulo, lançada pela empresa Ferráspari. Produtora de vinhos, aguardentes, vermutes e xaropes, ela também produzia balas com o nome Tubaína. Com o tempo, os doces foram deixados de lado e o nome ficou exclusivo dos refrigerantes tutti-frutti, e virou sinônimo de refrigerante regional, graças aos concor-

rentes que, nas décadas de 40 e 50, conseguiram permissão para usar o sufixo em seus produtos. Assim surgiram a Itubaína e a Taubaína, entre outras. O refrigerante pioneiro ainda existe, mas chama-se Turbaína, nome pelo qual é velho conhecido dos moradores de Jundiaí. Quase alçados à categoria de atrações regionais, outros refrigerantes diferenciados pipocaram pelo Brasil afora, sempre buscando satisfazer o gosto de seu mercado potencial, alguns com nomes que não respeitam nem as divisas estaduais. Criado por acidente pelo farmacêutico Jesus Norberto Gomes, o maranhense Guaraná Jesus é caracterizado por sua coloração rosa e forte sabor de cravo e canela – ingredientes usados em sua produção – que, para os apreciadores, é divino. Para refrescar o calor, os cearenses contam com o Refrigerante de Caju São Geraldo, a popular Cajuína, fabricada em Juazeiro do Norte e que, ao contrário da homônima do

Guaraná Jesus e Mineirinho fazem parte da cultura local em sua área de venda.

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Piauí (que aparece na música de Caetano Veloso), é gaseificada. Apesar do nome, o Mineirinho é encontrado no Rio de Janeiro, na cidade de Niterói. Como é feito com guaraná e chapéu-de-couro, planta conhecida também como chá-mineiro, dizem que ele tem diversas propriedades medicinais. Por esse motivo, além de seu paladar agradável, o Mineirinho é procurado por seus efeitos diuréticos e laxativos. Outro refrigerante que possui chapéu-decouro entre seus ingredientes é o Mate Couro, que também conta com erva-mate na fórmula. Para alguns mineiros, o Mate Couro está para pão-de-queijo assim como guaraná está para o sanduíche de mortadela, para os paulistas. Só que, para desmentir os preconceituosos, desde 2001 o refrigerante é exportado para os Estados Unidos, tendo como destino cidades como Nova York, Miami e Boston. Os paranaenses entram na lista com a gasosa (como chamam seus refrigerantes regionais) Cini Gengibirra, à base de gengibre, muito refrescante e produzida quase artesanalmente para garantir as proA priedades da planta.


DIREITO

Estágio na Defensoria Pública Além de contar com novas idéias dos jovens, o programa tem importância social. O CIEE firmou parceria para administrar 340 vagas de estágio na Defensoria Pública do Estado de São Paulo. De imediato, foram abertas 236 oportunidades, das quais 141 para a Capital e região metropolitana e as demais para o interior do estado. Os selecionados, estudantes do ensino médio e do curso superior de Administração de Empresas, iniciaram, em setembro, o estágio nas áreas administrativas do órgão. “Para o estudante, é a oportunidade de colocar em prática o que aprende na escola; para a Defensoria é uma forma de ajudar a formar profissionais e cidadãos melhores e, quem sabe, mais tarde eles poderão se tornar nossos funcionários ou defensores públicos”, destaca Cristina Guelfi Gonçalves, defensora pública geral, referindo-se ao aprendizado que o estágio proporciona, até mesmo para enfrentar um concurso público. Criada em 2006, a Defensoria Pública de São Paulo é uma instituição que visa oferecer serviços jurídicos gratui-

tos aos cidadãos que não possuem recursos financeiros para contratar advogados, atuando em diversos ramos do Direito. Nesse contexto, o estágio se reveste de uma importância social, considerando que “o estagiário será sensibilizado pelo clamor de justiça da população em busca de uma vida melhor e auxiliará a Defensoria Pública, por intermédio de funções-meio, no processo de transformação social”, avalia Fabiano Brandão, defensor público do Gabinete da Defensoria Pública do Estado de São Paulo. A proposta do programa de estágio não está restrita à seleção dos candidatos, compreende, também, o acompanhamento do estagiário e sua capacitação, por meio de treinamentos e oficinas ministradas em parceria com o CIEE, que contribuirão para a sua formação profissional. “A seriedade do trabalho do CIEE e os treinamentos oferecidos aos estagiários, entre outros serviços, foi um diferencial para a contratação da instituição”, destaca Brandão. Como uma entidade nova, a Defensoria está estruturando suas atividades, com a centralização das ações administrativas e descentralização do atendimento. “O programa de estágio vem reforçar essa etapa, na qual contaremos com os estudantes para auxiliar na implantação dessas ações, oxigenar o nosso quadro de pessoal e contribuir com idéias”, enfatiza RiFabiano Brandão e Cristina G. Gonçalves, da Defensoria Pública de São Paulo.

Rebeca M. Alayete e Helder C. Alves, estagiários que atuarão nas áreas administrativas do órgão.

cardo Amorim Leite, diretor de RH, que participou do integrativo dos recém-contratados, realizado no CIEE. “Espero aprender muita coisa para a vida profissional e pretendo perder a timidez”, diz Rebeca Melo Alayete, 19 anos, estudante do curso de Administração de Empresas, na Universidade Paulista (Unip). Helder Carlos Alves, 16 anos, estudante do ensino médio da Escola Estadual Jardim Vazame II, no município de Embu, já está no segundo estágio e se mostra mais seguro. “Achei interessante a oportunidade na Defensoria Pública, pois pretendo ser advogado”, destaca, feliz porque irá desfrutar do contato antecipado com ambiente no qual predominam profissionais de Direito. A set/out 2008

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TERCEIRO SETOR

Ameaça ao futuro da filantropia Reunidos em seminário, especialistas criticam projeto de lei que pretende mudar as regras para concessão de imunidade fiscal às ONGs. Conhecidas por seu trabalho de assistência às populações carentes, as entidades filantrópicas estão preocupadas com a possível aprovação do Projeto de Lei 3.021/2008, apresentado pelo governo federal em março, que prevê mudanças significativas nas regras de concessão de isenções fiscais às instituições beneficentes. Para promover o debate sobre o projeto de lei, que tramita na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, os organizadores dedicaram o 11º Seminário CIEE/Gazeta Mercantil do 3º 50

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set/out 2008

Setor ao tema A Isenção das Contribuições Fiscais das Entidades Beneficentes de Assistência Social. A relevância do assunto atraiu mais de 400 participantes ao Teatro CIEE, na manhã de 14 de agosto, e contou com a presença de autoridades governa-

mentais, tributaristas e representantes de organizações filantrópicas: Paulo Nathanael Pereira de Souza, presidente do Conselho de Administração do CIEE; Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE; Nelson Tanure, presidente do Conselho de Ad-

No encontro, convidados expuseram problemas do projeto de lei.


ministração da Companhia Brasileira Multimídia, que edita o jornal Gazeta Mercantil; o secretário executivo do Ministério da Previdência Social, Carlos Gabas; o jurista e Professor Emérito CIEE/Estadão de 2007, Ives Gandra da Silva Martins; a advogada Flávia Regina de Souza Vieira, especializada no Terceiro Setor; e o professor de Direito Josenir Teixeira, membro do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). Dúvidas procedentes. Segundo a proposta do Poder Executivo, a concessão do Certificado de Entidades Beneficentes de Assistência Social (Cebas), que atualmente é competência do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), passará a ser atribuição dos ministérios, de acordo com a área em que cada instituição atua. “Se é sabido por todos que os ministérios não contam com estrutura nem com regras de funcionamento adequadas para cumprir seus deveres de hoje, como ficarão com mais essas tarefas?”, pergunta o professor Paulo Nathanael Pereira de Souza. De acordo com ele, o texto do projeto provoca dúvidas sobre a propriedade, a oportunidade e, até mesmo, a legalidade, de muitas de suas proposições. As 400 pessoas que lotaram o Teatro CIEE também assistiram ao jurista Ives Gandra da Silva Martins chamar a atenção para possíveis equívocos da proposta, com ênfase numa questão apenas aparentemente técnica, pois, na realidade, sua definição terá forte impacto – para o bem ou para o mal – no futuro e na própria sobrevivência de muitas entidades filantrópicas. Ele apontou como erro o fato de o projeto tratar a isenção fiscal como um favor às entidades, a ser decidida por lei comum, ao talante dos governantes, e não como uma imunidade garantida pela Carta Magna e, portanto, independente dos humores das autori-

dades do momento. “A Constituição determina que não se pode tributar as entidades beneficentes”, enfatiza. A par de questionamentos legais, Gandra Martins cobra também uma posição do governo federal: “A intenção do governo é prestigiar o Terceiro Setor ou torná-lo uma fonte arrecadadora?”. Segundo ele, transformar as entidades em veículos arrecadatórios causaria danos irreversíveis na sociedade, principalmente à população carente, foco permanente das entidades filantrópicas. “Seria como eliminar toda a força de sua obra social, indispensável ao país nos dias atuais.” Tendência mundial. Partindo da mesma idéia, o empresário Nelson Tanure, presidente do Conselho de Administração da Companhia Brasileira de Multimídia, concorda que o projeto de lei representa uma ameaça do Estado às ações sociais do Terceiro Setor. “Essa proposta é mais um obstáculo para quem quer fazer o bem neste país”, enfatiza. Com a inoperância do poder público em resolver os graves problemas sociais do país, as entidades do Terceiro Setor assumiram um papel cada vez mais importante na sociedade. Especialistas apontam que o crescimento desse setor, que ganhou força a partir dos anos 90, representa hoje cerca de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Entre 2002 e 2005, o número de entidades cresceu 22,6%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Atualmente são cerca de 340 mil organizações no país. Para o presidente executivo do CIEE, Luiz Gonzaga Bertelli, o setor consolida-se no mundo todo. “Só nos Estados Unidos, movimenta cerca de um trilhão de dólares.” Para a advogada Flávia Regina de Souza Vieira, o projeto de lei é uma tentativa do Poder Executivo de controlar

Gandra: equívocos da proposta.

Flávia: insegurança para ONGs.

Tanure: projeto representa ameaça. set/out 2008

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Teixeira: manutenção da CNAS.

as ONGs e chamar para si a responsabilidade da área social. “O governo não quer mais a ajuda da sociedade, mas, sim, apontar as políticas que precisam de apoio”, afirma. “É uma indução.” De acordo com Flávia, com a nova proposta, os ministérios terão elementos suficientes para pressionar as entidades a participarem de programas específicos do governo. “Quem fechar com o Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, poderá ter mais chance de obter o certificado, diante da nova proposta”, revela. A advogada mostra que as mudanças propostas acarretam insegurança e incerteza nas organizações não-governamentais. “Por conta de legislações, decretos, portarias e leis inconstitucionais, algumas instituições acabam gastando

ENTIDADES PREMIADAS O 11º Seminário CIEE/Gazeta do 3º Setor premiou dez entidades filantrópicas que se destacam pela seriedade e excelência dos serviços prestados, principalmente à população carente. E mais: são emblemáticas do valor das entidades para atenuar as grandes falhas da ação do Estado. Os representantes das instituições receberam um troféu dos palestrantes do seminário. Os agraciados são: Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), Associação Paulista de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), Casa de Saúde Santa Marcelina, Fundação Dorina Nowill para Cegos, Hospital Beneficência Portuguesa, Hospital A.C. Camargo, Inspetoria Salesiana de São Paulo, Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Laramara – Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual, Organização Não-Governamental Futurong Ação Social Cultural.

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set/out 200 set 20088

muitos recursos com advogados, quando poderiam estar investindo em educação, saúde e assistência social”, diz. Generalização perigosa. A polêmica jurídica também tende a provocar desgastes na imagem das entidades filantrópicas, pela generalização sempre perigosa e injusta. O professor de Direito Josenir Teixeira usa como exemplo a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou algumas entidades. “Ela não deveria ser chamada de CPI das ONGs, pois cuidou apenas de dez empresas e não de 340 mil”, enfatiza. O professor defende a manutenção do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) como único órgão legítimo de controle das entidades beneficentes. “Se existe ‘pilantropia’, é porque há deficiências na fiscalização por parte do poder público.” Ele enfatiza que “o CNAS não é o vilão da história”, e, por isso, não há razão para transferir a concessão do Cebas para os Ministérios. “Não tem lógica deixar a raposa cuidando do A galinheiro.”


CIEE em foco

Expansão do Aprendiz Legal O Programa Aprendiz Legal, parceria do CIEE com a Fundação Roberto Marinho (FRM), segue expandindo sua atuação no Brasil. Em 17 de setembro, as entidades lançaram o Programa Aprendiz Legal no estado do Pará, e em 26 de agosto, em Ribeirão Preto/SP. Ainda, em 27 de agosto, promoveram o Seminário A lei de aprendizagem – Aplicabilidade e ações concretas para sua implementação, para empresários, executivos de RH e outros interessados, em Guarulhos, município da Grande São Paulo. A união das entidades começou em abril de 2007, nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, sendo posteriormente ampliada para outros estados, auxiliando as empresas a cumprirem a Lei 10.097, de 19/12/2000, que as obriga as de médio e grande porte a contratar aprendizes, de 14 a 24 anos, em percentuais de 5% a 15% do número de colaboradores. Nesse processo, cabe ao CIEE selecionar, re-

Encontro na Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto.

crutar e fazer a capacitação teórica dos aprendizes, com base na metodologia pedagógica desenvolvida pela Fundação Roberto Marinho. Novas parcerias. O CIEE acaba de assinar acordo com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP) e o Grupo Votorantim Finanças para implementação do Programa Aprendiz Legal. De imediato foram abertas 74 vagas para aprendizes, 55 delas para atuação nas unidades do Sebrae, no estado de São Paulo, e 19 para os escritórios do Grupo Votorantim Finanças espalhados

pelo país. Na Votorantim, a parceria prevê a criação de 200 vagas de aprendizes, para preenchimento gradativo. Hoje, o Programa Aprendiz Legal conta com mais de 11 mil aprendizes em capacitação, com a parceria de 2.650 empresas no Brasil.

Celso Marques de Oliveira, do Grupo Votorantim Finanças.

Regina Dubugras, juíza da Vara do Trabalho, e aprendizes, em Guarulhos. set/out 2008

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CIEE em foco 600 consultas jurídicas gratuitas O Projeto de Orientação Jurídica Gratuita à População Carente, mantido como ação social filantrópica pelo CIEE em parceria com a Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo (OAB-SP), completou três meses em setembro, tendo cumprido todas as metas estabelecidas para a etapa inicial de funcionamento. Nesse perío-

do, os estagiários responsáveis por indicar soluções em todas as áreas do Direito prestaram 600 atendimentos a pessoas com renda familiar de até três salários mínimos, sob a supervisão de advogados das duas entidades. Roberto Veloce, um dos supervisores voluntários da OAB-SP, conta que percebe a satisfação de quem é orientado e também, como profissional, se sente bastante realizado a cada atendimento. “É um tipo de serviço que falta à população”, ressalta. O posto funciona das 13h às 17h, no Prédio-Escola CIEE, localizado no centro da capital paulista (Rua Genebra, 65/57).

HOMENAGEM Entrega de medalhas Na abertura da exposição Ciccillo Matarazzo – o mecenas das artes, o CIEE homenageou personalidades da sociedade paulista com a entrega de medalhas que levavam o nome do empresário, cuja história é tema de matéria desta edição (pág. 72). Entre

Roberto Veloce e a estagiária Aline Barbosa, durante orientação jurídica no Prédio-Escola.

FEIRAS E EVENTOS Prêmio Jovem Brasileiro No dia 22 de setembro, foi realizada a cerimônia de entrega do 7º Prêmio Jovem Brasileiro, comandado pelo apresentador Serginho Groisman, no Memorial da América Latina, em São Paulo. O CIEE, um dos patrocinadores do evento, foi representado pelo superintendente de Operações Eduardo Oliveira, que entregou o troféu a estudante do ensino médio Larissa Ferreira Barbosa, uma das vencedoras do concurso de redação da categoria Estudante. A universitária Jussara Nunes Oliveira, a outra jovem premiada, não compareceu ao evento. Larissa ganhou também uma bolsa de estudos do grupo educacional Anhangüera. Iniciado em 2002, sob idealização do empreendedor Guto Melo, o prêmio já homenageou mais de 200 jovens de destaque em diferentes áreas de atividade. A escolha é feita por uma comissão especial, composta por jornalistas, colunistas e formadores de opinião antenados no mundo jovem. Eduardo Oliveira e Larissa Barbosa, uma das vencedoras da categoria Estudante.

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Conarh 2008 O CIEE divulgou seus produtos e serviços a empresários e executivos durante o 34º Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas – Conarh, de 19 a 22 de agosto, no Transamérica Expo Center, em São Paulo. Realizado anualmente, o congresso reúne organizações e profissionais interessados em se aprofundar no tema. O Conarh, ocorre a Expo ABRH, maior vitrine de oportunidades, inovações e tecnologias para Ges-


A favor da democracia os homenageados, estavam Andrea Matarazzo, secretário de Coordenação das Subprefeituras de São Paulo; Carlos Augusto Machado Calil, secretário municipal da Cultura de São Paulo; Julio Neves, presidente do Museu de Arte de São Paulo (Masp); Lisbeth Rebollo Gonçalves, diretora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP); Luiz Ernesto Kawall, curador da mostra; Manoel Francisco Pires da Costa, presidente da Fundação Bienal; a artista plástica Maria Bonomi; e a jornalista e crítica de arte Radha Abramo. Manoel F. Pires da Costa (direita) entrega medalha a Luiz Ernesto Kawall.

tão de Pessoas. A exposição integra diferentes espaços, como a Arena Social, Espaço Mulher e Espaço Cultural.

Antecedendo as eleições municipais, estudantes, empresários – e até mesmo candidatos – tiveram um momento de reflexão proporcionado pelo Movimento Mulheres da Verdade, presidido por Yvonne Capuano (na foto), conselheira do CIEE. No dia 25 de setembro, a entidade promoveu o Seminário Eleitor Brasileiro: Vítima ou Cúmplice?, com o objetivo de debater o comportamento do eleitor brasileiro e as possíveis soluções para a conscientização dos cidadãos na escolha de seus candidatos. O encontro, realizado no Teatro CIEE, em São Paulo, contou com a presença dos presidentes e conselheiros do CIEE, autoridades, membros de academias e formadores de opinião.

II Feira de Profissões da USP O CIEE foi a única instituição de fora da Universidade de São Paulo (USP) a marcar presença na II Feira de Profissões da USP, realizada entre os dias 7 e 9 de agosto na Escola Politécnica. Voltada para estudantes do ensino médio, a feira teve como objetivo fornecer informações sobre carreiras e cursos oferecidos pela universidade. O CIEE disponibilizou em seu estande informações sobre estágio e cadastramento do estudante na base de dados da instituição.

O Movimento Mulheres da Verdade surgiu em novembro de 2004 para lutar pela ética, cidadania e justiça social. Entre suas ações, o grupo promove cursos, palestras e seminários que abordam a temática da cidadania, além de realizar projetos que visem à melhoria da qualidade de vida da população brasileira em todos os seus aspectos.

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CIEE em foco Posto de atendimento em Arapiraca/AL

Vera Lúcia da Silva, presidente da CDL, Fabiana M. F. Nobre Porto e Alessandro Salvatore, ambos do CIEE.

O CIEE expande sua atuação em Alagoas, com a inauguração de um posto de atendimento nas dependências da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Arapiraca, cidade localizada a 130 quilômetros de Maceió. O posto funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h30 e está localizado na Rua Professor Domingos Correia, 490. Telefones: (82) 3521-6095 e 3522-2109.

Justino Magno na ACL Justino Magno Araújo, desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ/SP) e historiador, tomou posse, em 22 de agosto, na Academia Cristã de Letras (ACL), presidida por Paulo Nathanael Pereira de Souza, presidente do Conselho de Administração do CIEE. O novo acadêmico foi saudado por Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE e da Academia Paulista de História.

Esther de Figueiredo Ferraz morre aos 93 anos A Professora Emérita - Troféu Guerreiro da Educação de 1999, Esther de Figueiredo Ferraz, morreu no dia 23 de setembro, aos 93 anos, no Hospital do Coração, em São Paulo, vítima de acidente vascular cerebral. Primeira mulher a assumir um ministério no Brasil – foi titular da pasta de Educação e Cultura (entre 1982 e 1985), no governo de João Batista Figueiredo –, também destacou-se como a primeira mulher a lecionar na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, e a primeira reitora de universidade no Brasil, no Mackenzie, em 1965. Membro da Academia Paulista de Letras (APL), ocupante da cadeira 36, cujo patrono é Euclides da Cunha, Esther integrou o conselho de várias entidades, como a Federação das Indústrias do Estado de S. Paulo (Fiesp) e os conselhos de Educação Estadual e Federal. Foi também secretária estadual de Educação de São Paulo, na administração de Laudo Natel (de 1971 a 1973). Esther escreveu vários livros como Os Delitos Qualificados pelo Resultado; A Co-delinqüência no Direito Penal Brasileiro; O Perdão Judicial; O Menor e os Direitos Humanos; Prostituição e Criminalidade Feminina. A Professora Emérita dizia que “deixar um cargo bem e com dignidade é também uma forma de educar”. 56

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PALESTRAS VII Gerhai Luiz Gustavo Coppola, superintendente de Atendimento do Interior Paulista e Centro-Oeste Brasileiro, proferiu palestra sobre o tema O mercado de exportação e as exigências internacionais: A visão do mundo sobre os nossos processos de gestão de pessoas, durante o VII Seminário do Gerhai – Gestão de Pessoas e Sustentabilidade no Agronegócio, em 19 de setembro, em Ribeirão Preto/SP. O “Seminário do Gerhai”, como é conhecido, já se tornou referência para os profissionais do setor sucroalcooleiro e de Gestão de Pessoas e Sustentabilidade. Competitividade no mercado de trabalho Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE, participou como palestrante da 7ª Semana de Administração de Empresas, do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), em 11 de setembro, em Engenheiro Coelho/SP. Ao abordar o tema Competitividade em Tempos de Grandes Mudanças, Bertelli passou um prognóstico positivo para os futuros Administradores de Empresas, informando que, apesar da tendência inflacionária dos últimos meses, do aumento da taxa de juros e das oscilações da bolsa de valores, o Brasil vive seu melhor período econômico em três décadas. Ele lembrou que, com o desenvolvimento da economia, novas empresas surgem e com isso mais campo de trabalho para essa área profissional. Atualmente, Administração de Empresas é a carreira com maior oferta de vagas para estágio no país. A


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Programa CIEE de Alfabetização e Suplência Gratuita para Adultos

Alfabetização e cidadania: a educação no centro da sociedade.


A inclusão social é um direito de todos e a alfabetização é uma das bases fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade equilibrada. O Programa CIEE de Alfabetização e Suplência Gratuita para Adultos tem como objetivo principal o crescimento dos brasileiros que, pelas mais diversas razões, não tiveram a oportunidade de aprender a escrever ou a ler. Graças a este programa é possível reduzir a desigualdade social, através da alfabetização funcional, suplência de 1ª a 8ª série e ensino médio. A finalidade é conseguir que os alunos participantes consigam, com o conhecimento adquirido, sua inclusão em melhores oportunidades. Ao final do programa, após a realização de testes, é entregue através da rede oficial de ensino um certificado reconhecido pelo MEC.


Alfabetização e cidadania: a educação transformando a sociedade.

Em 8 de setembro - Dia Internacional da Alfabetização, o CIEE homenageia todas as empresas-parceiras que se esforçam e atuam na integração e transformação do indivíduo por meio da educação. Aos parceiros do Programa CIEE de Alfabetização e Suplência Gratuita para Adultos, nosso agradecimento e reconhecimento. Com os votos de ainda mais sucesso na jornada em busca da cidadania.


Estágio com Qualidade PROGRAMA DE ALFABETIZAÇÃO E SUPLÊNCIA GRATUITA PARA ADULTOS Tel: (11) 3111-3030/3095

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Sede CIEE Rua Tabapuã, 540 - Itaim Bibi 04533-001 - São Paulo/SP Tel.: (11) 3040-9800 / Fax: (11) 3040-9955 Prédio-Escola CIEE Rua Genebra, 65/57 - Centro 01316-010 - São Paulo/SP Tel./Fax: (11) 3111-3000 Gerência Regional Centro-Oeste Rua 03, nº 1.245 - Qd. 81- Lote 12A - Setor Central 74020-020 - Goiânia/GO Tel./Fax: (62) 4005-0750 Gerência Regional Distrito Federal SCS - Qd. 07 - Bl. A - 10º and. - sls. 1002 a 1006/1008/1010 Torre Páteo Brasil Shopping 70307-901 - Brasília/DF Tel.: (61) 2102-8800 / Fax: (61) 2102-8888 Gerência Regional Nordeste Av. Barão de Studart, 2.360 - lj. A - Bairro Aldeota 60120-002 - Fortaleza/CE Tel./Fax: (85) 4012-7600

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Espaço Sociocultural - Teatro CIEE Rua Tabapuã, 445 - Itaim Bibi 04533-011 - São Paulo/SP Tel: (11) 3040-6541/6542 Fax: (11) 3040-6533 Gerência Regional Nordeste-Sul Av. Tancredo Neves, 450 - cj. 1.502 -15º and. 41820-020 - Salvador/BA Tel./Fax:(71) 2108-8900 Gerência Regional Norte Rua João Alfredo, 453, Bairro São Geraldo 69053-270 - Manaus/AM Tel./Fax:(92) 2101-4250 Gerência Regional Rio de Janeiro Rua da Constituição, 67 - Centro 20060-010 - Rio de Janeiro/RJ Tel.:(21) 3535-4300 / Fax: (21) 3535-4310

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GERAIS

Expansão na educação George Orwell: blogueiro? Acesse a página http://orwelldiaries.wordpress.com e confira o escritor de Revolução dos Bichos e 1984, George Orwell, abordando assuntos do cotidiano como meteorologia, animais e plantas. A iniciativa é de Jean Seaton, professora da Universidade de Westminster, na Grã-Bretanha. O blog é atualizado diariamente e conta com o conteúdo de três diários do autor: o primeiro vai de agosto de 1938 até o fim da Segunda Guerra Mundial; o segundo cobre o período de maio de 1940 a agosto de 1941; e o terceiro, de março a novembro de 1942.

Os amazonenses de Coari não precisarão mais viajar até Manaus (aproximadamente 370 quilômetros) se quiserem cursar o ensino superior. Foi inaugurado na cidade, localizada às margens do Rio Solimões, um campus universitário da Universidade Federal do Amazonas, destinado aos cursos de Enfermagem, Nutrição, Fisioterapia, Biotecnologia e licenciaturas duplas em Matemática/Física e Química/Biologia. Além de Coari, municípios vizinhos, como Tefé e Corajas, serão beneficiados.

Selo de Qualidade Mercosul Cursos superiores brasileiros já podem ter a qualidade reconhecida pelo Mercosul. Após um processo de avaliação, os cursos receberão uma espécie de selo de qualidade internacional. Este ano, serão validados cursos de Agronomia e Arquitetura. A ação faz parte do Sistema de Acreditação Regional de Cursos Uni-

versitários do Mercosul (Arcusul) que prevê o reconhecimento da qualidade acadêmica de cursos do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Bolívia e Venezuela. O objetivo é melhorar o nível da educação superior nesses países, além de estabelecer padrões de qualidade.

Educação e crescimento O Brasil está ficando para trás e só conseguirá avançar quando houver melhorias na educação. É o que diz um estudo inédito do Banco Mundial, que aponta como fator de deficiência brasileira o ensino básico precário, o que resulta em profissionais pouco qualificados, universidades distantes do setor produtivo e voltadas mais para conhecimento teórico do que prático. Além disso, o

estudo chama, ainda, a atenção para a tradição em importar e adaptar tecnologias, em vez de criá-las. Enquanto outros países em desenvolvimento, como China, Índia e Coréia, investem na formação em áreas tecnológicas e se transformam em países produtores de conhecimento, o Brasil segue dependente de seus bens naturais, crescendo num ritmo menor. set/out 2008

Agitação

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AÇÃO SOCIAL

O modelo educativo do CIEE Paulo Nathanael Pereira de Souza O CIEE, embora não seja nem escola nem órgão integrante do sistema nacional de ensino, tem feito pela educação nacional coisas que nem sempre são destacadas pela mídia, mas que vêm ajudando, em numerosos casos, a modificar para melhor o estado da arte da escolaridade da juventude brasileira. E a maior dessas realizações, creio eu, diz respeito ao próprio significado do ato de educar. Se não, vejamos. A educação no Brasil nasceu no século 16, com os padres jesuítas, e fê-lo com duas características, que atravessaram os séculos: primeiro, o endereço religioso da pedagogia da Companhia de Jesus, a saber, a catequese de índios e filhos de colonos menos abonados; e depois, os estudos pré-universitários para os jovens fidalgos, que cresciam nas casas grandes dos latifúndios do açúcar, do fumo, do gado e do algodão, ou nas famílias urbanas dos militares e altos funcionários da Coroa (menos as mulheres, que se educavam em casa, nas prendas domésticas, com as próprias mães) e que teriam continuidade na Europa, em cursos de Teologia, Direito, Medicina ou Línguas. As lições dos padres, sempre teóricas e dissertativas contrapunham-se à linha pedagógica da aprendizagem profissional, aquela que proclama a necessidade de integrar o saber com 62 62

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O Brasil sempre soube educar as elites, sem jamais se ter preocupado com a educação do povo. o fazer. E isso porque todo o fazer daqueles tempos incumbia aos escravos, cabendo aos homens livres e privilegiados aterem-se aos conhecimentos apenas teóricos. Não havia mercado de trabalho e nem necessidade de uma formação mais pragmática para a população da cidade e do campo. Daí nasceu e se fortaleceu a futura escola acadêmica, de saberes abstratos, sem compromisso com as profissões, a qual veio a ser o padrão da escolaridade no Brasil, fosse nas capitais ou no interior das províncias. Para piorar a situação, quando D. João chegou com a Corte fugitiva ao Brasil (estando os mares trancados, pelos decretos napoleônicos), a população pediu escolas, e o príncipe não teve dúvidas: criou-as em grau superior (Medicina, Economia e Engenharia Militar) para o estudo dos fidalgos, que não mais conseguiam navegar para a Europa, e esqueceu-se das primeiras letras para

o grosso da população. Por isso, costumo dizer, em meus livros de análise das políticas educacionais, que o Brasil sempre soube educar as elites, sem jamais se ter preocupado com a educação do povo. Nos tempos atuais, quando as cidades regurgitam de habitantes e o cinturão da miséria abarrota a periferia com a miserabilidade das favelas e dos cortiços, as escolas, mesmo as públicas, que deveriam ser de preferência voltadas para o atendimento da pobreza, misturaram as classes sociais nas salas de aula e passaram a oferecer à heterogeneidade socioeconômica do alunado uma didática e um currículo antiquados e homogêneos, que um dia já serviram para a elite e agora só fazem aumentar a evasão e a reprovação dos mais carentes, visto que o que se ensina nada tem a ver com a vida e as aspirações dessa nova clientela. Muito da crise, que enfermiza o sistema escolar do Brasil, tem a ver com essa impropriedade pedagógica de servir-se um prato único para a infinita variedade da fome cultural dos jovens. Pode-se dizer, sem receio de errar, que o eruditismo conceitual dos currículos escolares – sem qualquer preocupação com a aplicabilidade do saber a ser interiorizado pelos estudantes a partir da sala de aula

PAULO NATHANAEL PEREIRA DE SOUZA É DOUTOR EM EDUCAÇÃO, PRESIDENTE DO CONSELHO DIRETOR DO CIEE NACIONAL E DO


ANÁLISE

– mais o divórcio que se estabeleceu, desde as origens do país, entre a teoria e a prática, principalmente na educação básica, são os fatores mais poderosos de alimentação da

O estágio fez a ponte entre a escola e a empresa, tendo dado início ao rompimento do divórcio entre estudo e trabalho.

ineficiência escolar, exposta pelas pesquisas de avaliação da aprendizagem, em especial nos ensinos fundamental e médio dos nossos sistemas escolares. No início dos anos 60, já na segunda metade do século 20, quando o país iniciou seu crescimento industrial, casado com a explosão populacional das cidades, nasceria a figura dos estágios curriculares, que buscavam, a princípio com os laboratórios escolares e, depois, com a permanência dos alunos nos ambientes empresariais em horários alternados de aulas e de trabalho, familiarizar os estudantes com duas novas realidades: a) aprender

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO CIEE/SP E PRESIDENTE DA ACADEMIA CRISTÃ DE LETRAS (ACL).

fazendo, e b) aprender juntando teoria e prática, com a integração da escola às empresas dos setores primário, secundário, terciário e, já agora, também o quaternário dos produtos e dos serviços. O estágio, que fez a ponte entre a escola e a empresa, tendo dado início ao rompimento do divórcio entre estudo e trabalho, nasceu dos esforços conjugados de empresários e educadores, que há pouco mais de quatro décadas fundaram, em São Paulo, o CIEE. Foi uma retomada de princípios pedagógicos já proclamados por Confúcio, que, antes de Cristo, afirmava: “sei, porque faço”. Depois vieram John Dewey, nos Estados Unidos, e os Pioneiros da Escola Nova, no Brasil, falando todos a mesma coisa: para saber é preciso aprender fazendo. Essa parece ser a grande revolução pedagógica da educação brasileira do século 21, amplamente praticada pelo CIEE. Daí porque a grande e eficaz reforma da educação brasileira ser devida não apenas aos ministérios da área, com suas leis e as boas intenções de seus dirigentes, mas também ao CIEE que, na senda de seus criadores, vem efetivamente mudando, com seu trabalho, o modo de educar crianças e jovens neste Brasil que tem rapidamente de aprender a fazer melhor a sua A lição escolar. set/out 2008

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O show já começou 12ª edição da maior mostra de carreira e estágio do país terá shows e muita cultura. Músicas dos Beatles lançam a Expo CIEE para expositores.

A mescla entre informações sobre carreira, cultura e diversão, que marcará a 12ª Feira do Estudante – Expo CIEE, já pôde ser sentida no lançamento da maior mostra sobre carreira e estágio no Brasil, em 2 de setembro. Jica e Turcão, dois integrantes do grupo Tarancón que, na década de 70, interpretava músicas andinas, caribenhas e brasileiras, fizeram um show ao lado da Cia. Filarmônica, que de clássico tinha o nome e um quarteto de cordas para tocar os elaborados arranjos dos Beatles. Enquanto os primeiros entraram com tiradas humorísticas e canções acústicas, acompanhados apenas de um bumbo e um violão, a banda trouxe guitarras distorcidas, fumaça de gelo seco e efeitos de luz. Não foram poucos os momentos em que os dois grupos ocuparam o mesmo espaço. O clímax

foi em Yesterday, quando Turcão fez a platéia que lotou o Teatro CIEE – composta por representantes de empresas e instituições de ensino interessados em informações sobre a Expo CIEE – cantar em voz alta, acompanhando a letra escrita em uma engenhoca montada no meio do palco. O evento marcou a abertura da Feira do Estudante – Expo CIEE 2009 para patrocinadores e expositores que, entre 24 e 26 de abril, poderão receber visitantes em seus estandes, oferecer palestras e apresentar atrações culturais no Pavilhão da Bienal do Parque do Ibirapuera, em São Paulo/SP. É nesse aspecto que a 12ª edição se diferenciará das mostras anteriores, que davam ênfase a informações sobre carreira e à importância da tecnologia para a educação e para a inserção dos jovens no mercado de trabalho. “A formação humanística amplia a capacidade de interpreEm 2008, a feira teve 45 mil visitantes e 50 expositores.

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tar a realidade, de relacionar situações e dados, de interagir com outras pessoas, de se expressar, entre muitas outras vantagens”, explica Eduardo Sakemi, superintendente de Tecnologia da Informação e da Educação do CIEE. Assim, no próximo ano, a Feira do Estudante – Expo CIEE terá uma alentada programação, com shows musicais, mostras de cinema alternativo, exposições de fotografias, pinturas, esculturas e outras manifestações artísticas, além das 70 palestras sobre carreira, áreas promissoras, dicas para processos seletivos e outros temas de interesse do jovem. Para ultrapassar a marca de 50 mil visitantes, os organizadores contam com o poder de atração da oferta de quatro mil vagas de estágio e encaminhamento preferencial para entrevistas de estágio nos seis meses subseqüentes à mostra. “Estamos reservando um pavimento adicional no Pavilhão da Bienal para que os estandes possam ser ainda mais espaçosos”, conta Marcelo Flores, diretor comercial da Playcorp, empresa que cuida da comercialização e montagem da feira. A programação de palestras e outras atrações da Expo CIEE 2009 está aberta, bem como a procura por parceiros. Interessados em participar como patrocinadores ou expositores podem ligar para (11) 3674-9411. A


INVENTÁRIO

Qualidade de ensino em debate Inventário da Educação discute situação do setor no Espírito Santo. Apontar caminhos para a melhoria na qualidade de ensino foi o principal mote do Seminário Inventário da Educação Brasileira: Recomendações para o seu aperfeiçoamento – A Situação do Estado do Espírito Santo, realizado no dia 13 de agosto. Cerca de 200 pessoas acompanharam as discussões promovidas pelo CIEE-ES, no auditório da Rede Gazeta. Na ocasião, a empresária Maria Alice Lindenberg, membro do conselho consultivo do CIEE local, deixou clara a certeza da expansão capixaba, porque “no estado, lutase com muito carinho pela educação, que desejamos cada vez mais qualificada”. A esperança dos adolescentes capixabas de alcançar a cidadania está ligada às beneméritas atividades do CIEE, que no Espírito Santo existe há 27

anos e distribui, atualmente, cerca de 10 mil bolsas mensais. Saindo da visão estadual para a nacional, existem 9 milhões de jovens brasileiros à procura de emprego, com uma particularidade que foi valorizada por Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE: desses, somente 1,8 milhão têm qualificação. Para Arnaldo Niskier, presidente do CIEE Rio, não há como estranhar essa situação, no momento em que o país importa os primeiros engenheiros chineses e japoneses para operar nas áreas de petróleo e siderurgia. “Um assunto naturalmente vergonhoso para uma nação que investe 75 bilhões de reais em educação, mas não forma os

recursos humanos necessários”, diz. Segundo ele, é certo que há necessidade de 100 bilhões de reais de orçamento anual para a educação, mas se os recursos financeiros continuam sem chegar às salas de aula, fica difícil defender a tese de mais verbas para o setor. Por isso, o educador Paulo Nathanael Pereira de Souza, presidente do Conselho de Administração do CIEE, durante o seminário, foi cético quando afirmou que “não há muito o que comemorar quanto às nossas possibilidades futuras”. Centenas de cursos superiores com notas 1 e 2, segundo dados do Exame Nacional de Desempenho (Enade), são uma demonstração de falência do sistema, que já revela carências desde os primeiros anos do ensino fundamental. Técnicas ultrapassadas. Outro problema discutido no encontro, que contribui para a atual situação educacional, é a metodologia de ensino. Além de utilizar técnicas ultrapassadas, 80% dos livros das bibliotecas são de autores estrangeiros, refletindo um panorama não condizente com a do país. Os baixos salários dos professores, a desqualificação de cursos superiores e a aplicação irregular de verbas públicas também contribuem com a má qualidade do ensino. Por fim, foi ressaltado que a melhoria da qualidade da educação não é papel só do Estado. É preciso que as organizações e a sociedade assumam suas funções. Nesse sentido, o estágio entra como um aliado, garantindo a aprendizagem prática do A que o aluno viu na sala de aula. Arnaldo Niskier aborda a crise na educação, durante seminário. set/out 2008

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EVENTOS

Universidades recebem seminário antidrogas Cerca de 900 universitários de vários cursos participaram das edições de agosto e setembro do Seminário Antidrogas, realizado pelo CIEE em instituições de ensino superior. A Universidade Guarulhos (UnG), Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e o Centro Universitário Santo André (Unia) receberam especialistas de renome que apresentaram constatações sobre o prejuízo do consumo de drogas para o cotidiano dos jovens, além de discutir a problemática com os alunos. Os eventos integram a Campanha Nacional Antidrogas, promovida pelo CIEE em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), do governo federal. Na UNG, a psicoterapeuta da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Eroy Aparecida da Silva, mostrou um estudo sobre a relação entre cultura e drogas. Segundo ela, um dos equívocos dos programas de prevenção ocorre quando não se leva em consideração a cultura na qual o jovem está inserido. “É preciso que cada um deles venha a se constituir em um ator da prevenção”, diz. A pesquisadora Ana Regina Noto, do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), revelou um estudo que mostra a visão

Ana Regina apontou visão distorcida da imprensa. 66

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distorcida de parte da mídia sobre a questão das drogas. “Há um descompasso entre o que a imprensa divulga e o que a população usa”, afirma, referindo-se ao grande consumo de solventes (cola) entre os jovens, mas que não é tratado pela mídia. “Maconha e cocaína criam mais polêmica.” Para o delegado Edemur Luchiari, diretor de Prevenção e Educação do Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc), que fez algumas dinâmicas com os jovens presentes, a contestação dos estudantes é uma das molas propulsoras do progresso. “Porém, a contestação inteligente é aquela que muda a sociedade”. No campus Villa Lobos, em São Pau-

Luchiari vê jovens como propulsores do progresso.

Eroy mostrou estudo sobre cultura e drogas.

Jovens acompanham evento da Campanha Nacional Antidrogas, em Guarulhos.

lo, da UMC, os palestrantes foram Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE, que falou a respeito de Teoria e prática sobre programas de prevenção: visão geral; Ana Regina Noto, que abordou Drogas e mídia: uma análise crítica, e Maria de Lourdes Zemel, coordenadora da Câmara de Assessoramento Técnico do Conselho Nacional Antidrogas (Conad), que falou sobre A prevenção na instituição e a prevenção de cada um de nós. Já a Unia contou com a participação do delegado Luchiari; de Ana Regina Noto; de Francisco Domenici, médico do Hospital das Clínicas e diretor da Associação Médica Ítalo-Brasileira, que proferiu a palestra A clínica médica da dependência química, e de Sylvana Rocha, gerente técnica de Estágios do CIEE, que falou sobre as influências das propagandas no consumo de álcool entre os jovens e os impactos econômicos nas nações gerados pelo consumo de drogas. Os eventos foram realizados na Universidade Guarulhos (7/08), Universidade de Mogi das Cruzes (20/08) e no Centro Universitário de Santo André (18/09).


Mundo moderno pede CLT atualizada Muito dos problemas das relações empregado e empregador são decorrentes da própria Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que se mostra antiquada para solucionar questões do mercado atual, considerando que foi criada em 1° de maio de 1943, sancionada pelo então presidente Getúlio Vargas. A problemática é evidente quando se analisa o crescente mercado de terceirização no Brasil, porque os profissionais efetivados se tornaram muito caros às empresas. Quanto mais direitos dá ao funcionário, mais desemprego é gerado. O que mostra uma contradição na lei que, em vez de ajudar na empregabilidade, anda na contramão. Além disso, quando se tenta modernizar um modelo de gestão de Recursos Humanos, são muitas as difi-

culdades, devido a alguns “problemas apresentados nas leis”. Esse foi um dos pontos abordados na palestra Os absurdos das relações trabalhistas no Brasil, apresentado por Sérgio Amad Costa, professor de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP), durante o Ciclo CIEE de palestras sobre RH. O palestrante citou a Lei 10.101 que regulamenta a participação dos colaboradores nos lucros e resultados da empresa. Contudo, o primeiro problema nessa lei é que pode ser aplicada em qualquer empresa privada, mas quando a regalia

é direcionada para hospitais ou órgãos do segundo ou terceiro setor não é possível aplicar o recurso da participação de lucros, porque a CLT discrimina instituições sem fins lucrativos. “A lei diz participação nos lucros e resultados, ou seja, seria perfeitamente viável fazer um programa em que os funcionários tivessem metas baseadas em alguns indicadores de qualidade e produtividade”, explica Costa, que complementa: “Com isso, comete um equivoco, confundindo lucro com resultados”. 12/08 – Auditório Ernesto Igel do CIEE/SP.

Células-tronco: expectativas e temores As pesquisas com células-tronco são vistas com esperança e suspeita pela sociedade. Ao mesmo tempo em que alguns cientistas trazem promessas de cura para pessoas que sofrem de doenças genéticas, como a distrofia muscular e o câncer, outros discutem se a ciência está evoluindo mais rápido do que a ética, alegando que a intenção da pesquisa é clonar pessoas e “brincar de Deus”. Para eles, o uso de células-tronco embrionárias é um “desrespeito à pessoa humana”. Visando esclarecer a essa questão, a geneticista Mayana Zatz, pró-reitora de Pesquisas da Universidade de São Paulo (USP) e diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano, proferiu palestra sobre o tema Células-tronco: o que poderão representar?, no Fórum Permanente de Debates do CIEE sobre a Realidade Brasileira. Para ela, essas

pesquisas são “o futuro da medicina celular ou medicina regenerativa”. Para entender melhor, células-tronco são as células com capacidade de gerar uma cópia idêntica de si mesma e com potencial de diferenciar-se em vários tecidos. Elas existem em dois tipos: embrionárias e adultas.

As primeiras, extraídas de embriões humanos que são descartados em clínicas de fertilização, possuem a capacidade de se transformar em qualquer tipo de tecido. Para os opositores, seu uso poderia gerar um comércio de óvulos ou acarretar a destruição de embriões humanos. Por sua vez, as adultas são extraídas dos diversos tecidos humanos, como medula óssea, sangue e fígado. Porém, sua diferenciação é limitada. Após a aprovação da Lei de Biossegurança, que proíbe a clonagem, mas permite pesquisas com fins terapêuticos, os pesquisadores têm maior liberdade para trabalhar e obtiveram alguns avanços na área. “Apesar da esperança de reconstruir tecidos antes não considerados, as pesquisas demoram. Não podemos pôr o carro na frente dos bois”, conclui Mayana. 28/08 – Teatro CIEE/SP

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EVENTOS Desenvolvimento sustentável contra êxodo rural O 53º Encontro CIEE do Terceiro Setor tratou de um tema que há décadas acalenta discussões sobre a causa de parte dos problemas vivenciados pelos habitantes das grandes cidades, como desemprego e violência: o êxodo rural. O tema foi abordado por Maurício Medeiros, presidente Executivo da Fundação Odebrecht, por meio da palestra DIS Baixo Sul: Um Modelo de Desenvolvimento Sustentável. Ele falou sobre as ações desempenhadas pela fundação para evitar que os jovens da região Baixo Sul da Bahia migrem para as grandes cidades. De acordo com Medeiros, a população daquela região é extremamente pobre e os jovens não vêem perspectivas de uma vida melhor lá. O maior sonho deles, ao atingir 13 e 14 anos, é migrar para a “cidade grande” e se dar bem como os personagens das novelas a que assistem. “Mas a realidade é diferente. Quando

chegam lá, não têm a mínima capacitação profissional e, não encontrando emprego, recorrem ao crime e à prostituição para sobreviver”, conta.

Além da pobreza e da falta de infraestrutura, a região é um dos últimos locais do país que ainda mantêm algumas áreas preservadas de mata atlântica, mas que vem sendo pouco a pouco desmatada. Para manter os jovens na região, a Fundação Odebrecht já investiu 90 milhões de reais, nos últimos quatro anos, em escolas e cursos de capacitação, para que os jovens aprendam a melhorar a produtividade agrícola. A partir de novas técnicas, eles conseguem aumentar o plantio. Um exemplo disso é a mandioca, que gerava apenas seis toneladas por hectare de terra e agora saltou para 60 toneladas por hectare, vislumbrando um futuro otimista para a região. “Conseguimos muitos resultados positivos, como o fim do êxodo dessas pessoas, colaborando para evitar o inchaço populacional das cidades”, conclui Medeiros. 29/08 – Auditório Ernesto Igel do CIEE/SP.

Felicidade: uma questão de atitude Todos procuram o crescimento profissional, mas quando acontece, geralmente é acompanhado por um alto índice de estresse, gerado pela má administração do tempo. Isso porque

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essas pessoas tendem a passar mais tempo no seu ambiente profissional do que se dedicando ao lazer. Por esse motivo, é essencial que carreira também seja uma fonte de prazer. “O que precisa ficar claro é que o trabalho tem de ser apenas um meio de atingir o objetivo máximo da vida, que é ser feliz”, enfatizou Nuno Cobra, preparador físico e mental, durante o Ciclo CIEE de palestras sobre RH, abordando o tema O adequado preparo físico e mental dos dirigentes e colaboradores das empresas. De acordo com o palestrante, não há uma receita mági-

ca para buscar o bem-estar, mas são as pequenas ações, quando consolidadas, que se tornam grandes e decisivas, como tomar um bom café da manhã antes de começar um dia agitado, parar em uma livraria para folhear alguns exemplares, fazer atividades físicas – mesmo que isso signifique trocar o elevador pela escada. No entanto, o preparador cita dois prérequisitos fundamentais para ser feliz: não levar a vida tão a sério, ser mais flexível e ponderado com sua rotina diária; e evitar preocupações, parar de colocar a expressão “e se” antes de suas atividades, questionando sua própria capacidade. “É absolutamente proibido ter pensamentos improdutivos. Isso que eu chamo de educação mental”, explicou Cobra. 9/09 – Teatro CIEE/SP.


Desafios do ensino médio Aliar qualidade de ensino, empregabilidade e inserção social é o triângulo que o Estado procura alcançar, com perfeição. O estágio para alunos do ensino médio, apesar de ter respaldo legal, tem encontrado dificuldades de inserção. “Para aumentar a inserção do jovem no mundo do trabalho, fazemos várias ações em prol da empregabilidade”, diz Mirtes de Fátima Machado, diretora da escola estadual Papa Paulo VI de Santo André, durante palestra no Encontro com Educadores promovido pelo CIEE que abordou o tema Os desafios do Ensino Médio: qualidade, empregabilidade e inserção social. Segundo ela, o estágio no ensino médio, além de auxiliar na renda, é um importante capacitador para o futuro profissional dos jovens. Dados da Secretaria da Educação do

Estado de São Paulo revelam que o ensino básico estatal tem hoje 5,1 milhões de alunos, dos quais 2,9 milhões do ensino fundamental e 1,5 milhão do ensino médio. Desse número, 12 mil estudantes encontram-se em estágio no estado. “É preciso estimular o aluno para a realização do estágio, que é o primeiro contato com o mundo do trabalho e a oportunidade de descobrir uma carreira”, enfatiza Magda Aparecida Tombi, diretora da escola estadual Brasílio Machado de São Paulo, em palestra no mesmo evento. “Seria interessante uma articulação de cursos técnicos com o ensino médio, coisa que o estado vem realizando em algumas cidades como, por exemplo,

Mirtes de Fátima Machado e, ao lado, Magda Aparecida Tombi.

em Dracena”, revela Maria Silvia Bortolozzo, coordenadora de estudos e normas pedagógicas da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Assim, é preciso que todos trabalhem juntos para que o triângulo esteja integrado e em progresso. 26/09 – Auditório Ernesto Igel do CIEE/SP.

AGENDA Ricardo Melantonio, membro do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp) e conselheiro do CIEE ministrou a palestra O direito, o estágio e suas perspectivas profissionais, no dia 21 de agosto, no Carandá do Bosque, em Campo Grande/MS. Ser cidadão, ser voluntário, ser humano – desenvolvimento pessoal para o equilíbrio social foi o tema abordado por Felipe Mello, diretor-fundador do Canto Cidadão e sócio-diretor da Comunidea, na palestra realizada em 26 de agosto, auditório da OAB de Presidente Prudente/SP.

José Augusto Minarelli, presidente da Lens & Minarelli e membro do Conselho de Administração do CIEE abordou o tema Empregabilidade: como ter emprego e remuneração sempre, no dia 16 de setembro, no Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca), em Feira de Santana/BA.

No dia 3 de setembro, Elcio Anibal de Lucca, vice-presidente do Conselho de Administração do Serasa e conselheiro do CIEE, proferiu a palestra Um vitorioso modelo de gestão, no Espaço Monte Castelo, em Jundiaí/SP.

Desvendando o mercado de capitais foi o assunto abordado por Humberto Casagrande Neto, ex-presidente Nacional da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), diretor da DGF Investimentos e conselheiro do CIEE, durante a palestra realizada no dia 16 de setembro, na Universidade Santa Cecília (Unisanta), em Santos/SP.

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INAUGURAÇÃO

CIEE/RS de casa nova Torre de 15 pavimentos e teatro com 422 lugares integram o novo espaço em Porto Alegre.

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No dia 25 de agosto foi inaugurada a nova sede do CIEE-RS, na Rua Dom Pedro II. O Espaço CIEE de Desenvolvimento Sociocultural ocupa uma área de 22 mil metros quadrados e é integrado por uma torre de 15 pavimentos e Centro de Eventos composto por teatro, com capacidade para 422 lugares, e salas moduláveis. Um painel do artista plástico Nelson Jungbluth destaca-se no saguão anexo ao foyer. A solenidade contou com a presença de Paulo Nathanael Pereira de Souza, presidente do CIEE nacional, e de presidentes de entidades co-irmãs, além de representantes de diversas esferas governamentais. A apresentação da Orquestra de Câmara da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) marcou a inauguração do Teatro CIEE. Os comentários eram unânimes em torno das características do empreendimento entregue à comunidade gaúcha, que consegue aliar inovação tecnológica com preservação ambiental. Cerca de 400 convidados participaram da festa. Antes da apresentação da orquestra, houve a cerimônia de descerramento da placa. Afixada no foyer do teatro, a placa foi descerrada por Paulo Nathanael e pelos dirigentes do CIEE/RS: Sérgio Saraiva, presidente do Conselho de Administração, Otto Beiser, presidente executivo, e Luiz Carlos Eymael, superintendente executivo.


São 40 anos de atividades. Em discurso durante a inauguração, Beiser lembrou que a entidade é hoje um importante agente de integração no estado e no país e, em quase 40 anos de atividades, contabiliza, somente no Rio Grande do Sul, 1,2 milhão de estudantes colocados em estágio. “Para tanto, mantemos 119 unidades de atendimento espalhadas em solo gaúcho; convênios com 35 mil empresas e 1.600 instituições de ensino. Além disso, atualmente, temos quase 41 mil estudantes realizando estágio”, disse. “É por isso que em qualquer lugar, da capital a uma pequena cidade do interior rio-grandense, sempre iremos encontrar um ex-estagiário do CIEE.” O superintendente executivo, Luiz Carlos Eymael, destacou que, como “agentes ativos”, o CIEE/RS está pronto a dar respostas positivas a um Brasil de grandes oportunidades. “Como protagonistas na estréia da força jovem no mercado de trabalho, por meio do mais eficiente instrumento que é o estágio, estamos atentos e estruturados adequadamente para contribuir de pronto nesta próspera fase do Brasil”. O presidente do Conselho de Administração, Sérgio Saraiva, contou um pouco da história da criação do CIEE/RS. Em Sergio Saraiva, Otto Beiser, Paulo Nathanael Pereira de Souza e Luiz Carlos Eymael: prédio valoriza o alcance socioeducacional.

seu discurso, ele lembrou que, há 39 anos, Neslon Janot Marinho, à época diretor do Conselho Nacional do Petróleo e um dos fundadores do CIEE Rio, sugeriu à Petróleo Ipiranga, da qual era um dos administradores, a criação no Estado do CIEE, pelo grande alcance socioeducacional e benefícios que

O teatro, com capacidade para 422 pessoas, foi inaugurado com a apresentação da Orquestra de Câmara da Ulbra (destaque).

poderia trazer a jovens universitários, sempre sedentos em associar os ensinamentos teóricos da universidade à prática de trabalho nas empresas. A

INFRA-ESTRUTURA INTELIGENTE O projeto arquitetônico da nova sede – de Pedro Simch, Carlos Alberto Morganti e José Baumgart Rocco – tem como característica equipamentos que transformam o local em o prédio-inteligente, dotado de completa infra-estrutura tecnológica e de preservação ambiental. Os ambientes contam com sistemas automatizados com sensores capazes de ler a quantidade de luz natural que penetra no ambiente. Com isto, regulam sua incidência, otimizando o consumo de energia, tanto em luz quanto em aparelhos de ar-condicionado, potencializando o uso dos recursos naturais. Nas áreas externas, os pisos são elevados para permitir a captação da água da chuva, que é canalizada para um reservatório a fim de ser utilizada nos sanitários e jardinagem, tornando o prédio auto-sustentável. Na torre, há três subsolos com capacidade total de 320 vagas de estacionamento e um sensor que monitora o nível de concentração de gás carbônico, permitindo gerenciar a qualidade do ar para os usuários dos estacionamentos. O atendimento aos estudantes será feito em uma ala especial, no segundo pavimento, com acesso diferenciado junto ao Centro de Eventos. Instalações modernas e tecnologia garantem conforto e agilidade no atendimento, com auto-atendimento para o cadastro. set/out 2008

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C U LT U R A L

O primeiro grande

mecenas brasileiro

A vida e obra de Ciccillo Matarazzo, o industrial que colocou São Paulo no grande circuito mundial das artes plásticas.

ACERVO LUIZ ERNESTO KAWALL

Se a Semana de Arte Moderna de 1922 representou a primeira revolução artística brasileira no século 20, o segundo grande momento foi proporcionado pela Bienal Internacional de Arte de São Paulo. À frente dessa mostra, que incluiu a capital paulista no calendário dos eventos artísticos mundiais, lá estava Francisco Matarazzo Sobrinho, o Ciccillo Matarazzo. Foi o primeiro grande mecenas que São Paulo conheceu. E também o maior. Agora chegou a vez de o homem que doou mais de 1.600 quadros para museus brasileiros, e pagou do próprio bolso a realização de 13 bienais, ganhar sua própria exposição. De 5 a 26 de setembro, cinco centenas de visitantes – duzentos deles

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das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM)”, escreveu Ronaldo Costa Couto no livro Matarazzo - A travessia” (Planeta), no qual é contada a saga do patriarca do clã. “Quero uma coisa própria. Minha”, teria dito o futuro mecenas. Para satisfazer o sobrinho, Francesco vendeu para ele a parte metalúrgica das IRFM. Nos primeiros anos, Ciccillo foi sócio de Giulio Pignatari, marido de Lydia Matarazzo, sua prima. Desfeita a parceria, Pignatari ficou com o alumínio e Ciccillo com as latas. Depois de diversificar funções, a Metalma (Metalúrgica Matarazzo) tornou-se um dos grandes complexos industriais da América Latina e a principal patrocinadora dos eventos artísticos brasileiros. Ironicamente, as artes plásticas entra-

ram na vida de Ciccillo graças a uma tuberculose. Enviado a Davos, Suíça, para tratar a doença, o industrial conheceu Karl Nierendorf, um dos diretores do Museu Guggenheim, de Nova York. Voltou de viagem com a idéia fixa de criar um museu de arte moderna em São Paulo. O sonho foi realizado sob a supervisão de Nelson Rockefeller, criador do MOMA (Museu de Arte Moderna de Nova York) e, “assim como Ciccillo com os Matarazzo, o único Rockefeller que investiu nas artes”, conta o professor Paulo Nathanael Pereira de Souza, presidente do Conselho de Administração do CIEE, um dos curadores da mostra e amigo pessoal de Ciccillo.

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ARQUIVO HISTÓRICO WANDA SVEVO - FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO

vindos com excursões escolares de três escolas de ensino médio e técnico – conheceram um pouco de singular trajetória do industrial na exposição Ciccillo Matarazzo - O Mecenas das Artes, na sede do CIEE em São Paulo. Composta por fotos, textos explicativos, medalhas recebidas pela dedicação às artes e o áudio do discurso proferido na abertura da primeira Bienal, entre outros documentos, a mostra é uma boa introdução à vida de uma das maiores figuras paulistanas do século passado. Sobrinho do conde Francesco Matarazzo e herdeiro de uma das maiores fortunas do país, é o próprio Ciccillo quem prepara o mergulho na sua história: “Graças a Deus, nasci de pai rico. Viajei bastante, estudei na Europa. Fui como os moços ricos daquela época, como os moços ricos de hoje. Tive as minhas aventuras”, declarou no documentário que faz parte das atrações da mostra. Filho de Virginia Ceraldi e do senador Andrea Matarazzo, irmão do conde, Francisco Antônio Paulo nasceu em São Paulo, em 20 de fevereiro de 1898 –o nome Francisco Matarazzo Sobrinho seria adotado somente em 1944. Aos 10 anos foi enviado a Nápoles, Itália, para completar o ensino médio e, depois, seguiu para a Bélgica, onde cursou engenharia. Cura providencial. De volta ao Brasil, “durante uma reunião familiar em que se discutia seu futuro profissional, recebeu, agradeceu e recusou delicadamente um convite do poderoso tio Francesco para participar da direção Ao centro o Conde Francisco Matarazzo, ladeado por Ciccillo (de óculos, à esquerda na foto) e outros parentes.

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ARQUIVO HISTÓRICO WANDA SVEVO - FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO

C U LT U R A L

MARCELO MATSUMOTO

Nasce a era cosmopolita. Antes da criação do Museu de Arte Moderna (MAM), Ciccillo foi um dos fundadores da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, para a qual cedeu parte da área de sua granja em São Bernardo, e do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Ambos foram criados em parceria com o amigo Franco Zampari. Com a ajuda do crítico de arte Sérgio Milliet e de Yolanda Penteado, mulher de Ciccillo, o MAM foi inaugurado em 8 de março de 1949, numa sala dos Diários Associados, localizada na Rua 7 de Abril. A exposição Do figurativismo ao abstracionismo” que, segundo o mecenas, iria “levantar o diabo nell’acqua morna” reuniu 51 artistas, entre os quais Wassily Kandinsky, Jean Arp, Francis Picabia e Cícero Dias. Ciccillo financiou do próprio bolso a compra das obras para a primeira coleção do museu. A partir daí, até a sua morte, os principais eventos e instituições culturais paulistas tiveram a marca ou o incentivo dele. Em seguida, Ciccillo propôs a realização de uma grande mos74

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Nomeado, por Jânio Quadros, presidente da Comissão do IV Centenário de São Paulo, Ciccillo observa o início da construção do Parque do Ibirapuera, hoje uma das principais áreas verdes da capital paulista.

tra, inspirada na já então respeitada Bienal de Veneza. A maior dificuldade era convencer os artistas estrangeiros a mandarem as obras de arte para um país que não tinha presença política nem cultural no cenário mundial. Para reverter essa situação, Yolanda Penteado foi pessoalmente à Europa fazer os convites. Realizada na Esplanada do Trianon – onde hoje está construído o Museu de Arte de São Paulo (Masp) –, em 1951, a Bienal Internacional de Arte de São Paulo foi um sucesso. Pela primeira vez um país fora do eixo Europa-Estados Unidos recebia obras de grandes modernistas, como Alberto Giacometti, Pablo Picasso e René Magritte. “A Bienal é o único evento brasileiro assinalado no calendário internacional da arte e da arquitetura. Sendo considerada, junto com a Bienal de Veneza, o mais importante acontecimento do gênero entre os mais de 50 existentes no mundo”, escreveu a pesquisadora Rosa Artigas, no livro Bienal 50 Anos.

Uma missão frustrada. A segunda Bienal foi estendida para coincidir com o IV Centenário da cidade de São Paulo e Ciccillo foi convidado pelo prefeito Jânio Quadros para comandar as festividades. “Algo me dizia que eu não deveria assumir”, contou Ciccillo no documentário. “Contudo, disse que as minhas condições eram eu escolher meus colaboradores e 300 milhões de cruzeiros em dinheiro. Eles toparam. Eu, nascido aqui, mas filho de italianos, iria presidir o IV Centenário”. Com Burle Marx, Victor Brecheret e Oscar Niemeyer, Ciccillo ergueu o Parque do Ibirapuera, onde antes existia um charco. “Vamos fazer disso aqui um jardim para o povo”, disse na época para o jornalista Luiz Ernesto Kawall, também curador da mostra do CIEE. O local, além de abrigar o novo pavilhão da Bienal, seria palco da maior parte das comemorações. As apreensões de Ciccillo, entretanto, estavam corretas. Nas vésperas do IV Centenário, Jânio Quadros exonerouo de suas funções. De acordo com um


senhor realize a sua”. Enquanto visitava as áreas periféricas do balneário, declarou a Kawall, que na época cobria a campanha: “Nunca pensei que a pobreza fosse tão pobre”. Vinho, mulheres e devoção. O amor pelas artes era acompanhado na mesma intensidade pela paixão às mulheres e pela boa mesa. Às terças-feiras, reunia-se com 12 amigos para o almoço. “Caso houvesse 13 pessoas, uma teria que comer separadamente”, conta Paulo Nathanael Pereira de Souza. “E não raro, a tarefa sobrava para o Manoel Esteves da Cunha, o Neco, secretário e amigo de Ciccillo. Superstições de italiano”. Entre os convidados, nomes como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Volpi e Di Prete. “Ciccillo era um bon vivant”, emendou Kawall. “Gostava de bons vinhos e boa comida. À mesa, o tinto Vezuvino, de Castellabato, terra dos seus antepassados, situada na província de Salerno”. Outra de suas peculiaridades consistia em comemorar o aniversário no dia 4 de

outubro, dia de São Francisco de Assis. A devoção podia ser percebida ao se espiar o quarto de Ciccillo. “Só havia uma cama, uma escrivaninha e um crucifixo”, relata o presidente do Conselho de Administração do CIEE. “Em compensação, nos outros cômodos ou você estava sobre ou ao lado de alguma obra de arte.” Sempre acompanhado por “senhoras muito elegantes”, segundo depoimento da artista plástica Maria Bonomi, Ciccillo foi um homem de vários casamentos e um grande amor: Malvina, uma bailarina espanhola que o acompanhou por mais de 50 anos, reclusa num casarão da Rua General Jardim, em Higienópolis. Pouco antes de morrer, Ciccillo casou-se com ela, para que tivesse direito à partilha dos bens. Ciccillo morreu no dia 16 de abril de 1977, no terraço do seu apartamento, no Conjunto Nacional, esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta. Não poderia haver lugar melhor para a partida do homem que declarava ser São Paulo a cidade mais interesA sante do mundo. Reportagem: Branca Nunes

FOLHA PRESS

depoimento de Ciccillo a Paulo Nathanael Pereira de Souza, anos mais tarde o ex-presidente teria dito ao mecenas: “Não leve aquilo a sério, é que eu precisava de uma notícia sobre mim”. Na Bienal de 1953, a Guernica de Picasso saiu pela primeira vez de Nova York – onde estava resguardada da ditadura franquista. Quando perguntavam por que ele gastava tanto dinheiro com arte, Ciccillo respondia: “Os privilegiados podem viajar para ver essas obras em outros países. O povo da minha terra jamais teria a oportunidade de vê-las”, segundo Kawall. Até 1975, todas as bienais estiveram sob o comando de Ciccillo. O mecenas esperava os convidados sentado em uma cadeira próximo à entrada, com a inseparável bengala a mão e os “olhos meio esbugalhados por detrás dos óculos antiquados de aro de tartaruga”, descreve o presidente do Conselho de Administração do CIEE. Em 1963, após uma briga, quando Ciccillo decidiu separar o MAM da Bienal e criar o Museu de Arte Contemporânea (MAC), as críticas a essa decisão foram acompanhadas de certa dificuldade em se distinguir o que pertencia ao MAM, o que era doação de Ciccillo e Yolanda, e o que não havia sido doado e estava apenas depositado no Museu. A única experiência política de Ciccillo aconteceu em 1964, quando o mecenas acabou convencido pelo governador Adhemar de Barros a concorrer à prefeitura de Ubatuba, onde tinha uma casa de veraneio. Durante a campanha, falou para o outro candidato, um pescador: “Não quero uma campanha desleal. Gastarei X na minha e estou doando a mesma quantia para que o O quadro de Giorgio de Chirico foi recebido no MAM como homenagem ao trabalho de Ciccillo e de Yolanda, sua esposa, em prol das artes.

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CIEE CULTURAL

Primeiras peças Pela primeira vez, o Teatro CIEE abriu as cortinas para peças teatrais. A estréia foi com A descoberta das Américas, monólogo baseado em improviso do dramaturgo italiano Dario Fó, interpretado por Julio Adrião e dirigido por Alessandra Vannucci, detentor do Prêmio Shell de Melhor Ator de 2006, Adrião transforma o palco em vilarejos europeus, em gigantescas caravelas e em aldeias de canibais, para contar a história de um atrapalhado italiano que aprende, com muito custo, a amar o novo continente e sua gente, valendo-se apenas da inteligência para escapar de enrascadas. O público, por seis vezes, interrompeu a peça para aplaudir as piadas do ator. A voz do provocador, monólogo de Antônio Abujamra (autor, diretor e ator), foi a segunda atração. Mesclando refle-

xões sobre a importância da arte, a necessidade da reJulio Adrião beldia juvenil para renovar padrões de comportamento e os bastidores da televisão. Abujamra, com seu estilo polêmico, instigou a platéia de 400 universitários a adotar posturas mais arrojadas até mesmo no campo profissional, ao declamar um poema de Edson Marques: “Lembre-se de que a vida é uma só e decida-se por arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais prazeroso, mais digno, mais humano”. As duas peças apresentadas no CIEE fazem parte da quarta edição do Teatro nas universidades, projeto criado pelo ator Paulo Goulart. “Uma pesquisa mostrou que 62% dos universitários nunca tinham entrado em um

Antônio Abujamra

teatro”, justificou o ator em uma conversa com o público no primeiro dia. O CIEE ofereceu, em cada uma das apresentações, o teatro e transporte gratuito para alunos de sete instituições de ensino da capital paulista. O Teatro nas universidades tem o patrocínio de Santander, Cosipa, Usiminas e Cristália. 13/8 e 10/9.

Encerrando com chave de ouro

Nos dias 16 de agosto e 20 de setembro, o maestro João Carlos Martins regeu a orquestra Bachiana Jovem nas suas últimas apresentações na temporada 2008 do Teatro CIEE. A orquestra é composta por 40 estudantes de música e conta com instrumentos de sopro, cordas, metais e madeiras. Em quatro apresentações, ao longo deste ano, a orquestra Bachiana Jovem atraiu mais de 1,2 mil espectadores.

Atração internacional

O italiano Ivano Battiston, professor de acordeão erudito do Conservatório Luigi Cherubini, de Florença, mostrou a polivalência do seu instrumento, ao fazê-lo soar como um órgão de tubos em Tocata e fuga, de Johann Sebastian Bach, e como uma verdadeira orquestra na tradicional Tico-tico no fubá, entre outras interpretações que passaram por Astor Piazzola e Luiz Gonzaga. 27/8

Paulo Goulart

Recital

A pianista Eudóxia de Barros (29/8) trouxe um repertório abrangente como Noturno em Mi Menor, de Chopin, e uma peça de 20 minutos de Prokofiev, impressionando a platéia com sua performance. O mesmo sucesso alcançado pela pianista Elyanna Caldas (5/9) que, ao lado dos músicos Flávio Androni, Antonio Carlos Vinha e Kiko Andreoli, apresentou o recital Capiba, Valsas e Choros, interpretando canções como Cem Anos de Choro e É de Tororó. Elyanna Caldas 76

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Eudóxia de Barros



DICAS DE PORTUGUÊS

Uiiiiiiiiiiiiiiii! É o calo no pé Este, esse ou aquele? Isto, isso ou aquilo? Que rolo! Jornalistas, professores, estudantes, advogados, todos se confundem na hora de empregar os demonstrativos. Ariscos, os pronomes não se deixam captar. Quando usar um? Quando é a vez do outro? O pior é que o papel deles é bem definido – indicam situação no espaço, situação no tempo e situação no texto. Você os conhece? Antes de responder, faça o teste. Preencha os espaços com uma das criaturas que maltratam a língua e o falante. (Resposta na página 79) – ................... caneta aqui é sua? – ................. caneta aí não é minha. .............. aqui é a minha caneta. – Você tem certeza de que .............. é a sua caneta? Não será ............ lá? Não vejo diferença entre as três. – Você diz ............ porque não as comprou. Eu as comprei há cinco anos. ............ tempo, estudava na USP. – Qual a diferença? –A diferença é ..................: pequenas nuanças nas cores. – Sou daltônico. Por .............. não me dei conta ................. pormenores. – Posto .............. , decida. Você fica com qual? – Ah, indecisão! Gostaria de ficar com ................... aqui, mas gosto ................. aí e adoro .......................... aquela lá.

SITUAÇÃO NO ESPAÇO ESTE – diz que o objeto está perto da pessoa que fala (eu, nós). Pode ser reforçado pelo advérbio aqui: esta sala (a sala onde a pessoa que fala ou escreve está); esta revista aqui (a revista que tenho em mão). Esta carta (a carta que está comigo). ESSE – diz que o objeto está perto da pessoa com quem se fala (você, tu). Pode ser acompanhado pelo advérbio aí: essa sala (a sala onde está a pessoa com quem falamos ou a quem escrevemos), esse livro aí (o livro está perto da pessoa com quem falamos), essa instituição (a instituição em que o leitor está). AQUELE – diz que o objeto está longe da pessoa que fala e da pessoa com quem se fala: aquele quadro lá (o quadro está longe das duas pessoas), aquele cartaz, aquela torre. 78

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DAD SQUARISI

SITUAÇÃO NO TEMPO ESTE – indica tempo presente: esta semana (a semana em curso), este mês (mês em curso), este ano (ano em curso). ESSE / AQUELE – exprime tempo passado (esse: passado próximo; aquele: passado remoto): Estive em Granada em 1992. Nesse (naquele) ano, visitei toda a Andaluzia. Eis um nó. Como saber se o passado é próximo ou remoto? Depende de cada um. O tempo é psicológico. Uma hora com dor de dente é uma eternidade. Com o amado, voa.

SITUAÇÃO NO TEXTO Quem escreve enfrenta desafios. Um deles: situar o leitor. Dizer-lhe se a pessoa, o fato ou a frase foi referida no texto. Ou, ao contrário, se vai ser referida. É o 3º emprego do demonstrativo. E, cá entre nós, o que oferece mais dificuldade. Mas, bem entendido, torna-se fácil como tirar pirulito de criança. ESTE – olha pra frente. Anuncia o que será referido em seguida: Fernando Pessoa escreveu este verso: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Reparou? O verso é anunciado: “escreveu este verso”. Depois, expresso: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. ESSE – olha pra trás. O fato é referido antes; depois, retomado: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena.” Esse verso figura no livro Mensagem, de Fernando Pessoa. ATENÇÃO As mesmas regras valem para o isto, isso, aquilo.


CURTINHOS Há filmes rapidinhos. Duram uns 10 minutos. Se bons, a gente curte à beça. Se ruins, torce pra que acabem logo. Bons ou ruins, eles têm o mesmo nome. É curtametragem. Alguns dizem só curta. No plural, todos ganham s: Assisti a dois curtas. A Petrobras financia curtas-metragens.

CASO À PARTE Há um emprego dos demonstrativos que nada tem a ver com espaço, tempo ou texto. Trata-se da estrutura fechada. Ela exige dois seres. Por isso só dois pronomes entram na jogada – este e aquele. O dissílabo se refere ao nome que está mais perto do pronome. O trissílabo, ao mais distante: Maria e Joana são jornalistas. Esta trabalha na revista Agitação. Aquela, na Veja. Em outras palavras: Maria trabalha na Agitação; Joana, na Veja. Viu? Nessa arquitetura não existe meio-termo. O esse não tem vez. Só o este e o aquele aparecem.

ADEUS, ACHISMO

PESSOAS DO DISCURSO

Escrever “eu, particularmente, acho” é excesso. O eu já é particular. O advérbio sobra. O acho também sobra. Com ele, o enunciado vira achismo. Mande-o plantar batata na esquina. A frase fica enxuta e convincente. Compare: (Eu acho que) O Brasil vai sofrer com a crise americana. (Eu acho que) A escola deve melhorar a qualidade do ensino. (Eu acho que) Para escrever bem, deve-se escrever muito e sempre.

Para dominar os demonstrativos, lembre-se das pessoas do discurso. Discurso, aí, significa conversa. As pessoas do discurso são as que tomam parte em um bate-papo. Para haver diálogo, são necessárias três pessoas. Algumas interessantes, outras nem tanto. Uma fala (1ª pessoa), outra escuta (2ª pessoa) e o assunto, que é a pessoa de que se fala (3ª). Imagine que Rafael telefone para João e lhe pergunte se viu o filme Ensaio sobre a cegueira. No caso, Rafael fala. É a 1ª pessoa. João escuta. É a 2ª. Do que eles falam? Do filme. É a 3ª.

GENTE DE CASA Expulsaram o latim da escola. Não adiantou nada. Ele vive assombrando a língua. Outro dia, o sic apareceu em citação do jornal. Veio a dúvida: o que as três letrinhas querem dizer? Em latim, sic é advérbio. Significa assim, desse jeitinho. Vem, entre parênteses, depois de uma palavra com grafia incorreta, desatualizada ou com sentido inadequado ao contexto. Com ele, damos este recado ao leitor: o texto original é bem assim, sem tirar nem pôr. Não tenho nada com isso. Como Pilatos, lavo as mãos.

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Acertou o teste? Confira: – Esta caneta aqui é sua? – Essa caneta aí não é minha. Esta aqui é a minha caneta. – Você tem certeza de que essa é a sua caneta? Não será aquela lá? Não vejo diferença entre as três. – Você diz isso porque não as comprou. Eu as comprei há cinco anos. Naquele (ou nesse) tempo, estudava na USP. – Qual a diferença? – A diferença é esta: pequenas nuanças nas cores. – Sou daltônico. Por isso não me dei conta desses pormenores. – Posto isso, decida. Você fica com qual? – Ah, indecisão! Gostaria de ficar com esta aqui, mas gosto dessa aí e adoro aquela lá.

AH! XÔ, CALO


Postos de Atendimento do CIEE SÃO PAULO / CAPITAL Faculdade Belas Artes • Faculdade Drummond • Faculdade Flamingo • Faculdade São Judas • Faculdade São Marcos • FMU - Faculdades Metropolitanas Unidas • Instituto Presbiteriano Mackenzie I • PUC - Pontifícia Universidade Católica • UNG - Universidade Guarulhos • Unib - Universidade Ibirapuera • Uniban - Universidade Bandeirante / Campo Limpo • Uniban / Marte • Uniban / Maria Cândida • Uniban / Morumbi • Uniban / Rudge • Unicid - Universidade Cidade de São Paulo • Unicsul - Universidade Cruzeiro do Sul / Anália Franco • Unicsul / São Miguel Paulista • Unimesp - Universidade Metropolitana de São Paulo • Uninove - Universidade Nove de Julho / Memorial • Uninove / Vergueiro • Uninove / Vila Maria • Unip - Universidade Paulista / Bacellar • Unip /Marquês • Unisa - Universidade de Santo Amaro • UniSantanna - Centro Universitário Sant’Anna • Universidade Anhembi Morumbi SÃO PAULO / INTERIOR Araraquara: Uniara - Centro Universitário de Araraquara • Batatais: Ceuclar - Centro Universitário Claretiano • Botucatu: P.A. Botucatu • Campinas: PUCCamp - Pontifícia Universidade Católica de Campinas • Guaratinguetá: Unesp - Universidade Estadual Paulista • Hortolândia: Faculdades Hoyler • Guarulhos: UNG - Universidade Guarulhos • Ituverava: Fundação Educacional de Ituverava • Jaboticabal: Faculdade São Luís de Jaboticabal • Jacareí: FIJ - Faculdades Integradas de Jacareí • Lorena: Unisal - Centro Universitário Salesiano de São Paulo • Mococa: Fundação de Ensino de Mococa • Mogi das Cruzes: UMC - Universidade Mogi das Cruzes • Osasco: Uniban - Universidade Bandeirante • Ourinhos: Femm - Fundação Educacional Mofarrej • Piracicaba: Unimep - Universidade Metodista de Piracicaba Ribeirão Preto: Unaerp - Universidade de Ribeirão Preto • Santo André: UniABC - Universidade do Grande ABC • São Bernardo do Campo: Uniban - Universidade Bandeirante • São João da Boa Vista: UniFeob - Centro Univ. da Fundação de Ensino Octavio Bastos • São José do Rio Preto: Unip - Universidade Paulista • Sorocaba: Uniso - Universidade de Sorocaba OUTROS ESTADOS Amazonas: ULBRA - Centro Universitário Luterano de Manaus (Manaus) • Bahia: UCSAL - Universidade Católica do Salvador (Salvador) • Distrito Federal: Call Tecnologia (Brasília) • PUC/Brasília - Pontifícia Universidade Católica de Brasília • STJ - Superior Tribunal de Justiça (Brasília) • Uniceub - Centro Universitário de Brasília (Brasília) • Unieuro - Universidade Euro Americana (Brasília) • Unip (Brasília) • Universidade Católica de Brasília (Taguatinga) • Ceará: BNB - Banco do Nordeste do Brasil S/A (Fortaleza) • Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá) • FA7 - Faculdade Sete de Setembro (Fortaleza) • Unifor - Universidade Fortaleza (Fortaleza) • Goiás: STJ - Superior Tribunal de Justiça (Goiânia) • UCG - Universidade Católica de Goiás (Goiânia) • UEG - Universidade Estadual de Goiás (Anápolis) • ULBRA - Universidade Luterana do Brasil (Itumbiara) • Mato Grosso: UNIC - Universidade de Cuiabá (Cuiabá) • Unirondon - União Educacional Cândido Rondon (Cuiabá) • Univag - Universidade de Várzea Grande (Cuiabá) • Mato Grosso do Sul: Aems Associação de Ensino e Cultura de Mato Grosso do Sul (Campo Grande) • CDL - Câmara de Dirigentes Lojistas (Dourados) • UCDB - Universidade Católica Dom Bosco • Maranhão: UFMA - Universidade Federal do Maranhão (Imperatriz) • Rio de Janeiro: Centro Universitário Carioca (UniCarioca) • Universidade Bennett • Rio Grande do Norte: UERN - Universidade do Rio Grande do Norte (Mossoró) • Roraima: Faculdade Catedral (Boa Vista) • Pará: ILES - Instituto Luterano de Ensino Superior (Santarém)

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Reflexões reais Há pouco tempo descobri Agitação e fiquei feliz de saber que ainda há veículos de comunicação que nos proporcionam informações e reflexões reais sobre o tema integração empresa-escola. Orivaldo Lachi Campo Grande/MS Contribuição Trabalho na área de educação e reconheço em Agitação uma excelente fonte de informação. Todos os dias convivo com os conflitos e inseguranças profissionais vividos pelos meus alunos e notei que a revista pode contribuir muito com o meu trabalho com os jovens, porque aborda assuntos sobre profissões, cursos e carreira. Cecília de Sá Gesser Araranguá/SC Cultura e informação Sou assinante de Agitação e sempre me surpreendo pela amplitude de suas matérias e é exatamente essa diversidade que torna a leitura agradável. Sem dúvida, é uma revista rica em cultura e informações. Gilberto Hinojosa de Azevedo Moretz-sohn Dicas interessantes Percebemos que Agitação fornece dicas, matérias e assuntos interessantes, que só mostram um pouco do muito que essa importante entidade faz em favor dos jovens estudantes brasileiros que buscam sua primeira oportunidade profissional. Por fim, cumprimentamos pela excelente revista, que, temos certeza, nos ajudará a pautar assuntos de interesse de nossos ouvintes. Omar Ventura Pegado Júnior Diretor-presidente da Rádio Diamante F. Diamante/PB Parabéns! Mais uma Agitação (edição 82) supera as expectativas e surpreende com sua temática. Por esse motivo, parabenizo a equipe da revista pelo trabalho realizado. Luiz Carlos Pimentel Empresário que apóia a Comunidade Inamar São Paulo/SP Êxito nas atividades Bimestralmente recebo a Agitação, publicação

que acompanho sempre com muita satisfação. Parabéns à equipe de redação, que traz em pauta assuntos muito pertinentes. Antonio Salim Curiati Deputado estadual de São Paulo - São Paulo/SP Energia A educação é mesmo o motor do desenvolvimento e o CIEE é parte da energia que o move. Antonio Delfim Neto Economista São Paulo/SP Diferencial na atuação Agitação se destaca por muitos aspectos, dentre eles a qualidade e quantidade de informações inseridas em seus artigos. Um exemplo disso é o texto do jurista Ives Gandra da Silva Martins: A repercussão e a imunidade tributária (edição 82, p.64). Continuem nos surpreendendo sempre com novas abordagens para que consigamos atingir o nosso ideal: ser o diferencial em nossa área de atuação. Rosana Della Justina Marília/SP Agitando os problemas O nome Agitação é muito apropriado para a revista, considerando que a cada nova edição busca solucionar problemas atuais e prementes, sobretudo no universo jovem. Sem dúvida, Agitação se destaca pelos temas levantados e pela amplitude de suas informações. Luiz Finguermann São Paulo/SP Formação profissional Sou coordenadora do Centro de Estágios da Faculdade de Tecnologia de Jahu e fiquei entusiasmada ao ler a matéria Técnicos e tecnólogos em alta no mercado (edição 82, p. 20). Realmente é uma especialização que está em crescimento, porque só na nossa instituição temos o número de cem por cento de empregabilidade para os alunos do curso de navegação, sem contar o número de estágios disponíveis para os jovens que procuram fazer um curso de tecnólogo. Parabéns pela matéria, ela reflete a expansão dessa importante formação acadêmica. Rosa Maria Padroni Jaú/SP


SISTEMA CIEE NACIONAL Roteiro Cultural No dia 10 de setembro tive a oportunidade de assistir no Teatro CIEE à apresentação teatral A voz do provocador, com Antonio Abujamra, e devo confessar que fiquei deslumbrado. São iniciativas como essas, de proporcionar uma atividade dessa grandeza, que os fazem serem admirados por nós da área educacional. Rivaldo Carlos de Oliveira São Paulo/SP Instituição conceituada Recentemente li uma matéria muito interessante sobre os serviços prestados pelo CIEE, porém ao ver os nomes dos profissionais que a dirigem, me

senti mais à vontade para indicar aos meus clientes e amigos esta prestigiosa instituição. Valdir Campos Costa Presidente da Conape Auditores Independentes São Paulo/SP Perfil dos nerds Há alguns meses, eu não conhecia Agitação, mas depois de ter participado da matéria Eles têm a força, da Agitação Jovem (edição 82), fiquei empolgada com a revista. Adorei a matéria, que falou de uma maneira muito divertida sobre o novo perfil dos nerds. Parabéns pelo trabalho realizado! Sei Ishizawa São Paulo/SP

A EDUCAÇÃO BRASILEIRA E O MERCADO DE TRABALHO Agradeço a gentileza de me mandar este interessante livro. Erling S. Lorentzen Presidente do Conselho da Aracruz Celulose - Rio de Janeiro/RJ Seu papel de educador transcende a educação. Energia, força de trabalho e outros quejandos, além da justa Academia, o premiam. Mario Garnero São Paulo/SP Cumprimento o educador pelo belíssimo trabalho apresentado em seu livro. Que essa obra contribua para melhorar a educação no Brasil, que deixa muito a desejar. Dom Antonio Maria Mucciolo Presidente da Rede Vida - Botucatu/SP Parabenizo o autor pelo livro, no qual pude constatar, mais uma vez, a sua notável atuação nos problemas relacionados à educação. Raul Murgel Braga Conselheiro do Grupo Ultra Rio de Janeiro/RJ

Cumprimento o amigo e conterrâneo Luiz Gonzaga Bertelli pela fecunda produção intelectual, condensada no A Educação Brasileira e no Mercado de Trabalho. Por essa obra, todos nós brasileiros sentimo-nos orgulhosos. José Roberto Batochio Ex-presidente da OAB/SP São Paulo/SP Foi com intensa satisfação que recebi o exemplar do livro. Assunto bastante oportuno, proporcionando leitura agradável e altamente esclarecedora. João Marcos Gobbin Piracicaba/SP Gostaria de ter a facilidade de escrever como o autor. Roberto Pedroso Santos/SP É uma pena ainda não termos uma solução para os problemas com educação. Parabéns pela clareza do livro. Maurílio Biagi Filho São Paulo/SP

RECEBEM AGITAÇÃO E AGRADECEM: Centro Universitário Claretiano (Batatais/SP); Inmetro – Instituto de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (Duque de Caxias/RJ); Isepro – Instituto Superior de Educação Programus (Água Branca/PI); PUC – Pontifícia Universidade Católica do Paraná (Curitiba/PR); Uezo – Centro Universitário da Zona Oeste (Campo Grande/RJ); Unifamma – Faculdade Metropolitana de Maringá (Maringá/PR).

CIEE NACIONAL Brasília (Sede) (61) 3226-9919 CIEE/SP e Unidades Administradas SÃO PAULO: Capital (Sede) (11) 3040-9800 • Alphaville (11) 4134-3600 • Americana (19) 3405-6621 • Araçatuba (18) 3625-1088 • Araraquara (16) 3333-4441 • Assis (18) 33236396 • Atibaia (11) 4418-4848 • Avaré (14) 3732-9504 • Barretos (17) 3322-4178 • Batatais (16) 3661-0069 • Bauru (14) 3104-6000 • Botucatu (14) 3814-3781 • Campinas (19) 3705-1513 • Catanduva (17) 3525-1143 • Diadema (11) 4044-9791 • Franca (16) 3724-3636 • Guaratinguetá (12) 3125-4593 • Guarulhos (11) 6468-7000 • Hortolândia (19) 3865-5504 • Ituverava (16) 3729-2949 • Jaboticabal (16) 3202-8884 • Jacareí (12) 3961-3449 • Jaú (14) 36267573 • Jundiaí (11) 4586-4607 • Limeira (19) 3038-8785 • Lorena (12) 3157-8309 • Marília (14) 3413-1883 • Mococa (19) 3665-5251 • Mogi das Cruzes (11) 4799-2500 • Olímpia (17) 3279-8987 • Ourinhos (14) 3326-4434 • Piracicaba (19) 3424-5242 • Presidente Prudente (18) 3222-9733 • Ribeirão Preto (16) 3913-1050 • Santo André (11) 4436-5444 • Santos (13) 3234-8929 • São Bernardo do Campo (11) 4126-9200 • São Carlos (16) 3364-2333 • São João da Boa Vista (19) 3623-3344 • São José do Rio Preto (17) 3234-2966 • São José dos Campos (12) 3234-2966 • São Sebastião (12) 38932453 • Sorocaba (15) 3212-2900 • Tambaú (19) 3673-2360 • Taubaté (12) 3631-2320 • Tupã (14) 3491-3798 - ACRE: Rio Branco (68) 3224-8794 - ALAGOAS: Maceió (82) 33382650 - AMAPÁ: Macapá (96) 3225-3914 - AMAZONAS: Manaus (92) 2101-4250 - BAHIA: Salvador (71) 2108-8900 • Camaçari (71) 3622-4848 • Feira de Santana (75) 3623-2866 • Ilhéus (73) 3634-1408 • Itabuna (73) 3613-8469 • Lauro de Freitas (71) 3288-2530 • Vitória da Conquista (77) 34244714 - DISTRITO FEDERAL: Brasília (61) 3701-4800 - CEARÁ: Fortaleza (85) 4012-7600 • Juazeiro do Norte (88) 3512-5995 • Sobral (88) 3613-3166 - GOIÁS: Goiânia (62) 4005-0750 • Anápolis (62) 3321-3500 • Itumbiara (64) 3431-5944 MARANHÃO: São Luís (98) 3221-3003 • Imperatriz (99) 3523-4167 - MATO GROSSO: Cuiabá (65) 2121-2450 • Sinop (66) 3532-4887 - MATO GROSSO DO SUL: Campo Grande (67) 3382-3533 • Dourados (67) 3421-7555 - PARÁ: Belém (91) 3202-1450 • Marabá (94) 3322-4007 • Santarém (93) 3524-0202 - PARAÍBA: João Pessoa (83) 2107-0450 • Campina Grande (83) 3341-2212 - PIAUÍ: Teresina (86) 32238885 - RIO DE JANEIRO: Capital (Sede) (21) 2505-1266 • Barra Mansa (24) 3323-4835 • Campos (24) 2722-6529 • Campo Grande (21) 2415-1282 • Duque de Caxias (21) 2671-7756 • Macaé (22) 2762-4616 • Madureira (21) 3350-5050 • Nova Friburgo (22) 2523-7438 • Nova Iguaçu (21) 2667-3405 • Niterói (21) 2719-4019 • Petrópolis (24) 2243-4873 • Realengo (21) 31594625 • Resende (24) 33606200 • Três Rios (22) 2255-1499 • Volta Redonda (24) 33420816 - RIO GRANDE DO NORTE: Natal (84) 3222-7709 • Mossoró (84) 3312-2084 - RONDÔNIA: Porto Velho (69) 3221-3687 - RORAIMA: Boa Vista (95) 3624-2760 - SERGIPE: Aracaju (79) 3214-4447 - TOCANTINS: Palmas (63) 3215-5267

CIEEs AUTÔNOMOS ESPÍRITO SANTO (CIEE/ES) - Vitória (Sede) (27) 3232-3200 MINAS GERAIS (CIEE/MG) - Belo Horizonte (Sede) (31) 34298106 - PARANÁ (CIEE/PR) - Curitiba (Sede) (41) 3313-4333 - PERNAMBUCO (CIEE/PE) - Recife (Sede) (81) 3092-1555 - RIO GRANDE DO SUL (CIEE/RS) - Porto Alegre (Sede) (51) 3284-7000 - SANTA CATARINA (CIEE/SC) - Florianópolis (Sede) (48) 3216-1400 set/out 2008

Agitação

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Falácias da economia Ives Gandra Martins Certamente, a idade tem me tornado mais intolerante – e não consigo esconder – com uma enormidade de falácias que se ouvem no mundo moderno. Uma delas é de natureza econômica. A economia é, fundamentalmente, uma ciência psicossocial definida pelo mercado. São bons os economistas que percebem suas tendências, aproveitando-as e, quando possível – o que é raro –, reorientando-as. A econometria é uma mera ciência instrumental e, decididamente, não há economia ideológica. O fracasso daqueles que entendem que os economistas fazem a economia a partir de suas convicções políticas têm seu retrato, no mundo moderno, na monumental falência de todos os países que estiveram sob o domínio soviético, na Cuba de Fidel e naquelas nações afro-asiáticas e latino-americanas que ainda vivem da vã ilusão de que a ideologia faz o mercado. O próprio MST, inspirado por economistas que defendem o avanço do retrocesso e da agricultura pré-histórica, é um movimento de natureza política e não econômica, totalitário e não democrático, cujo objetivo mais remoto é entregar terras para uma parcela reduzida da população. Seu principal e verdadeiro escopo é desestabilizar as instituições, impor ideologias anacrônicas pela violência – e não pelas urnas – e impedir 82

Combater a tendência ocidental de cada vez trabalhar menos, com mais direitos e menos deveres, teria pesados ônus políticos. o desenvolvimento do país, tomando terras que tornaram o Brasil uma das maiores potências do agronegócio. É que a economia é um jogo de xadrez. Cabe ao economista analisar as regras de mercado, sendo bom aquele que consegue antecipar as jogadas futuras, como faz um hábil jogador. Não é um jogo de pôquer, como querem os ideólogos, nem um jogo de estatísticas, como querem os econometristas, cultuadores de uma ciência cuja utilidade instrumental não pode ser dispensada. O mundo atual tem excesso de operadores econômicos e carência de verdadeiros economistas. Por isso, está em crise, porque não anteviu os movimentos das regras do mercado, com a inadimplência causada pelo excesso de crédito deslastreado e a instabilidade dos preços das commodities. Os próprios Estados Unidos sofreram o impacto desse boom, que lideraram e do qual foram as primeiras vítimas. Seu sistema financeiro – não lastrea-

PONTO FINAL do, como o brasileiro, fundamentalmente em títulos públicos, mas em títulos privados – terminou por mostrar-se débil com a crise mundial. Mesmo a redução dos juros para incentivar o consumo, num momento de necessidade de controlá-lo, provocou dois fatores que afetaram ainda mais a dimensão da crise: a recuperação mais lenta do próprio mercado financeiro, em face dos juros baixos, e um desinteresse maior dos investidores estrangeiros, derrubando o consumo e atingindo as ações de suas companhias, pela falta de credibilidade. Tal impacto, à evidência, não poderia gerar senão um descontrole intestino, que terminou por elevar o nível de preocupação sobre o futuro. Nitidamente, a China, cuja ditadura esquerdista adotou as regras do livre mercado, está se beneficiando da crise mundial, em face de os encargos burocráticos, tributários e trabalhistas acumularem um custo de descompetitividade, para os países ocidentais, que a China desconhece. Certamente, combater a tendência ocidental de cada vez trabalhar menos, com mais direitos e menos deveres, provoca pesados ônus políticos, que os governantes do mundo inteiro não querem assumir, o que torna o futuro domínio da China na economia mundial uma questão de tempo. Não é que a China seja melhor, é que o mundo é muito pior. A

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS É PRESIDENTE DO CONSELHO SUPERIOR DE DIREITO DA FECOMERCIO/SP E DO CENTRO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA (CEU) E PROFESSOR EMÉRITO DO CIEE/OESP 2007.



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Estágio com Qualidade


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