Revista Automotive Business - edição 22

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AUTOPEÇAS

| PAULO BUTORI

VEMOS, SEGURAMENTE, UMA DESINDUSTRIALIZAÇÃO DO SETOR

grama? Há negociações em curso? Estamos esperando. Eles acham que o Inovar-Auto vai solucionar os nossos problemas e a gente sabe que não. Não estamos percebendo nenhum movimento pela nacionalização de mais componentes. AB – Até agora vocês não sentiram essa demanda das montadoras? PB – Nada. Nem das montadoras, nem dos sistemistas, nem do segundo nível (da cadeia de fornecedores, o chamado Tier 2). Todo o mundo está paralisado. Para nós o programa não faz muita diferença. AB – E como seria então um programa que efetivamente estimulasse a cadeia de autopeças? PB – Há cada vez menos espaço para incentivar a indústria. Estamos em um processo de afastamento da competitividade mundial. Eu sinto na minha própria indústria que os preços internacionais chegam a ser metade dos nossos. Não vejo nenhuma luz no fim do túnel. Vejo muita complicação. Um exemplo é a necessidade da Argentina de participar do Inovar-Auto. Você está dando um incentivo fiscal

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no Brasil para as empresas que estão aqui presentes e esse incentivo seria transferido para um país vizinho. São coisas que constitucionalmente não podem acontecer. AB – E que postura o governo brasileiro tem adotado diante das solicitações do Sindipeças? PB – Eles pedem que a gente espere as regulamentações do Inovar-Auto. E a gente tem tido reuniões em Brasília, reuniões na Anfavea. Temos participado de tudo, mas nada tem acontecido. AB – As montadoras se queixam da falta de produção nacional de

alguns componentes, como os eletrônicos, por exemplo. Qual seria a solução para isso? PB – Elas continuam importando e pagam o imposto, que não será compensado (componentes que não têm similar nacional podem ser trazidos do exterior com desonerações tributárias). Não tem nenhum risco para a montadora. Todas elas, principalmente as quatro maiores, já têm índice de nacionalização maior do que o necessário porque elas vão multiplicar as compras locais por 1,3 no primeiro ano. Com isso, é preciso de 23% de nacionalização. Em resumo, o que fizeram (com o Inovar-Auto) foi proteger as montadoras das concorrentes asiáticas impondo barreira de 30 pontos adicionais de IPI. Dessa forma, elas entrarão aqui para produzir e carregar os mesmos fardos que as fabricantes já instaladas carregam. Produzir no sentido de que vão montar carros aqui em vez de trazer prontos de fora. Agora, para o setor de autopeças, que tem em torno de 260 mil pessoas trabalhando, é diferente. Vamos perder muitos empregos. AB – Mas, então, como o Brasil poderia desenvolver uma indústria de eletrônicos para resolver isso? PB – Isso não vai acontecer. É muito difícil porque já passou a época. Nós ficamos fora do jogo. Quem entrou no jogo foram China, Índia, Coreia.

RESULTADOS DE 2013

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ouve aumento recorde do déficit da balança comercial de autopeças no primeiro semestre, com evolução de 60,6%, para US$ 2,93 bilhões. As exportações diminuíram 2,4% no período e somaram US$ 5 bilhões. Na direção oposta, as importações cresceram 20,4%, chegando a US$ 8,1 bilhões. Entre os países para os quais o Brasil mais vende suas autopeças estão Argentina, Estados Unidos, México, Alemanha e Países Baixos, respectivamente. Como principais origens das importações nacionais está a Alemanha em primeiro lugar, seguida por Estados Unidos, Japão, Argentina e Coreia do Sul. A China é a sexta colocada nesse ranking.


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