Pernambuco Jardim de Baobas

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PERNAMBUCO Jardim de Baobás | Antônio Campos e Marcus Prado | 37

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EM ALGUMAS CERIMÔNIAS religiosas de tribos nômades da Nigéria, em torno do baobá, os participantes as praticam sem vestes. Ficam nus. Formam os círculos de cantos e magias perto da árvore, visando à canalização de força. Por não usarem roupas em algumas cerimônias e por desenvolverem rituais ligados à fecundidade da natureza, foram acusados de praticar rituais libidinosos, quando, na realidade, se trata de rituais sagrados. Eles ainda hoje dão à árvore o poder mágico da cura de seus males físicos e espirituais.

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ernambuco, desde então, estava a caminho de se tornar o segundo berço mundial do baobá. Para essa gente que veio de longe para nunca mais voltar às suas origens, a árvore sagrada – pelo somatório de suas lendas e mitos – era para todos o símbolo máximo da ESPERANÇA. O último elo e a mais tênue linha de ligação material que eles tinham com seus lugares de origem. Essa imensa dor do homem preso ao ferro dos navios provocou inúmeros suicídios; e a luta pela sobrevivência na condição de escravos em situação de completa miserabilidade levou à morte milhares de homens, mulheres e crianças. O resultado se inscreve em números arrasadores. A quantidade de mortos nas senzalas e nos campos de trabalho forçado dificilmente poderá ser calculado com precisão. Um aspecto ainda não devidamente estudado, no período da escravidão negra em Pernambuco, é o que diz respeito aos suicídios ocorridos nas senzalas. Há uma tese de doutorado, na UFPE, no campo da História, de autoria de Ezequiel David do Amaral Canário, que aborda o tema. O desejo do escravo de retornar à sua terra natal e ao seio de seus amigos e familiares, na África, as consequências da fuga do cativeiro, o medo de castigos severos, entre outras questões, eram as grandes causas motivadoras. Segundo afirma Ezequiel, “suicídios em momentos de fuga, para evitar a venda a outro senhor, temor de castigos ‘imoderados’, o chamado banzo e mesmo aquilo que era apresentado como alienação, levam-nos a refletir sobre o processo de desgaste físico e emocional que sofreram vários indivíduos submetidos à escravidão”. O PESQUISADOR Ezequiel David Amaral, baseado na observação atenta de notícias veiculadas na imprensa recifense, em textos literários e registros policiais, datados da segunda metade do século XIX, oferece-nos importante estudo sobre “suicídios de escravos” no Recife. Segundo o autor, que recebeu orientação da professora do Departamento de História da UFPE Christine Dabat, “na medida em que a escravidão era, pelo menos no plano da retórica, questiona-


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