Pernambuco Jardim de Baobas

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PERNAMBUCO Jardim de Baobás | Antônio Campos e Marcus Prado | 33

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EM GRANDE PARTE do continente africano, diz-se que por intermédio do baobá a vida pode ser recriada, pois dele são extraídos água, comida, moradia e remédio. Por isso, a robusta árvore é considerada sagrada, à qual os grandes chefes e sábios recorriam em busca de conselhos e tomadas de decisão. O tronco do baobá pode chegar a dimensões tão grandes que nele podem se construir até moradias. Há numerosos exemplos dessa tradição nas savanas africanas.

número de africanos introduzidos em nosso país durante esse período, superior a três séculos, é muito difícil. Tradicionalmente, aceita-se a cifra, meramente hipotética, de 3,3 milhões negros aventada pelo escritor e acadêmico da ABL Roberto Simonsen, na sua História Econômica do Brasil. Segundo gravuras da época, existentes na coleção do INSTITUTO RICARDO BRENNAND (Recife), o local onde foi instalada a primeira Sinagoga dos Judeus, na Rua do Bom Jesus, ficava cheio de homens negros sentados no chão, colocados à venda, era uma enorme vitrine a céu aberto do tráfico negreiro. Vendiam-se e trocavam-se negros até por animais usados no corte de cana. Há uma versão histórica segundo a qual os escravos eram proibidos, sob o efeito da chibata, na hora da negociação, de olharem para o rosto de seus futuros donos e legítimos proprietários. “Era ali que começava o olhar de quem odeia”. Era o temor do traficante na hora decisiva dos seus negócios. O comprador podia, sim, examinar como quisesse a sua mercadoria. O conto EMBRIAGUÊZ DOS ULATES trata de um campeão de Ulster, Triocastal, cujo simples olhar é o suficiente para matar um guerreiro. Mas há um paradoxo nisso: O olhar dirigido lentamente de baixo para cima é um signo ritual de bênção, ainda hoje, nas tradições da África negra. O olhar do escravo, se depender dele, mata, fulmina. O olhar do negro que via, num só lance comercial, a separação para sempre dos filhos e das filhas trazidas com ele de longe, porque a lei do negócio era não juntar jamais, numa só senzala, escravos da mesma família. E os filhos desses, ainda em fase do leito materno, eram levados para serem criados por outras amas também escravas. Eis um tema ainda não devidamente visto por nossos grandes autores, seja na Literatura, na Pintura, na Poesia, no Teatro, no Cinema: a grande dor da separação dos negros escravizados.

“Quando uma árvore é cortada ela renasce em outro lugar.” “Quando eu morrer quero ir para esse lugar. Quem disse isso foi Tom Jobim, que sabia compor músicas ao som dos ventos sobre as folhas do seu jardim. A todos que, por maldade ou por triste desinformação, foram levados a destruir alguns dos nossos mais antigos baobás, diremos então: Mesmo que tenham levado ao abandono e queimado as suas raízes, aqueles exemplares centenários e históricos, fiquem certos de que, sendo o baobá a Árvore da Vida (tamanha a sua força no reino das transcendências arbóreas), ele tomará uma forma na Natureza vegetal talvez não percebida pelo olhos finitos das pessoas. Nada destruirá sequer as entranhas de sua existência e origem.” (Antônio Campos – EcoFliporto 2011)


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