Pernambuco Jardim de Baobas

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PERNAMBUCO Jardim de Baobás | Antônio Campos e Marcus Prado | 32

BAOBÁ – A ÁRVORE DO ESQUECIMENTO

A

determinação, no percurso pelo mar, era tirar dos seres aprisionados, homens e mulheres de todas as idades, todo e qualquer sentimento de ESPERANÇA, a qual deveria ser extinta, naquelas horas de total flagelação e abandono. Os velhos e arraigados costumes tribais, além das suas crenças religiosas, teriam de ser extintos, esquecidos. Os alimentos e a água eram embarcados em quantidades mínimas. O espaço útil se destinava a atulhar escravos. Um copo de água a cada três dias, no entender de alguns capitães, era suficiente para manter vivo, por meses, um negro escravizado dentro de um navio.

A palmatória e as chicotadas deixavam as costas e as nádegas dos negros em carne viva. Por sobre as feridas, colocavam montes de sal para prolongar a dor por dias. Assim, não esqueciam o castigo recebido. Esse era o “primeiro aviso” do que estava reservado para essa gente em terras pernambucanas. O método fazia parte do jeito peculiar de conduzir um comércio altamente rendoso, disputado e lucrativo, porque dele dependia o destino econômico da Nação. Para que se tenha ideia da força do mercado escravo-mercantilista de Pernambuco, uma pesquisa citada por Emília Viotti da Costa no seu famoso Da Senzala à Colônia diz que, em 1823, enquanto Minas e Rio de Janeiro contabilizavam 215 mil escravos, Bahia e Pernambuco possuíam 237.458 seres escravizados, a maioria, na mais humilhante condição humana e obrigados ao trabalho forçado em geral de 15 horas por dia. Sabemos quanto são precárias essas pesquisas, mas estávamos, em Pernambuco, na lista dos maiores empreendedores do tráfico interno, comprando e exportando homens e mulheres escravizados vindos do continente africano. O litoral de Angola e o do Golfo da Guiné foram os principais fornecedores desses escravos, de início comboiados às toneladas pelos portugueses e mais tarde pelos espanhóis, holandeses, ingleses e franceses. A estimativa do


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