Pernambuco Jardim de Baobas

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PERNAMBUCO Jardim de Baobás | Antônio Campos e Marcus Prado | 20

a memória coletiva de uma sociedade que se explica a si mesma. Muitos estudiosos africanos, como Amadou Hampâté-Ba ou Boubou Hama, com bastante eloquência, têm expressado esse mesmo raciocínio. O historiador deve iniciar-se, primeiramente, nos modos de pensar da sociedade oral, antes de interpretar suas tradições. A tradição oral foi definida como um testemunho transmitido oralmente de uma geração a outra.”

“E agora, vou passar meu texto oral para a escrita? Não. É que a partir do momento em que eu o transferir para o espaço da folha branca, ele quase que morre. Não há baobá, não há ritual, não há crianças, homens, mulheres. Não tem sons, não tem braços, abraços. Não tem olhos.” (Manuel Rui Monteiro)

O espírito humano pensa com palavras; ele não apenas enuncia seus pensamentos através da língua, mas também de alguma forma os simboliza para si mesmo e os rearranja. A língua, diz Leibniz, é o espelho do entendimento humano e, como o homem pode corajosamente estabelecê-la, é um livro de descobertas de suas ideias, uma ferramenta de sua razão que não é apenas habitual, mas também indispensável.

“Tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o sei a partir de uma visão minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência não poderiam dizer nada. [...] A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo, e nesse sentido uma história narrada pode significar o mundo com tanta profundidade quanto um tratado de filosofia.” Maurice Merleau-Ponty (FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO)


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