Pernambuco Jardim de Baobas

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PERNAMBUCO Jardim de Baobás | Antônio Campos e Marcus Prado | 14

Assim nasceram os primeiros baobás da Diáspora Negra, a ÁRVORE DA SAUDADE e da ESPERANÇA

Numa noite de junho de 1525, Albert Dürer teve um pesadelo: via a Besta do Apocalipse chegar. Reproduziu esse sonho angustiado em uma aquarela, representando imensas nuvens negras carregadas de chuva e ameaçando a terra. Na velha aldeia senegalesa, houve cena por ventura semelhante... e mais será dito e explicado ao longo das narrativas que ora iniciamos. Logo falaremos do baobá na Diáspora Negra. Daqueles muitos milhares de seres humanos trazidos como escravos, homens, mulheres e até crianças, pela imensidão dos mares orlados de recifes ou de pântanos insalubres. Esse mar tantas vezes perigoso e imóvel, sem que o menor sopro o ondulasse. Daqueles que foram vitimas em alto-mar de uma fome feroz e de uma sede ardente, doentes – sem nenhuma forma de serem devolvidos à sua terra, e sacudidos como mercadorias imprestáveis no meio das águas salgadas do Oceano. Jamais se viu nos mares tenebrosos tantas cenas de martírios humanos. E nunca se viu, por tudo isso, uma árvore ser tão amada como o baobá.

“Tão temerosa vinha e carregada, Que pôs nos corações um grande medo; Bramindo, o negro mar de longe brada, Como se desse em vão nalgum rochedo. “Ó Potestade (disse) sublimada: Que ameaça divina ou que segredo Este clima e este mar nos apresenta, Que mor cousa parece que tormenta?

Os Lusíadas - O Gigante Adamastor, de Luís Vaz de Camões


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