Schweitzer e o amor incondicional ao seu semelhante

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Amor

Albert Schweitzer, vida dedicada aos menos favorecidos.

MUNDO

Schweitzer e o amor incondicional ao seu semelhante Mais do que o vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1952, Albert Schweitzer será lembrado como um dos maiores exemplos de desprendimento e amor ao seu semelhante, assim como, à toda forma de vida. Nascido em 14 de janeiro de 1875, em Kaysersberg, na Alsácia Superior, região pertencente na época ao Império Alemão e hoje parte da França, era o filho mais velho de um pastor luterano. Estudou filosofia e teologia na Universidade de Strasbourg, onde obteve seu grau de doutor em filosofia em 1899. Foi simultaneamente professor de filosofia e pregador na Igreja de São Nicolau, tornando-se também doutor em teologia. Seu livro "A Questão do Cristo Histórico" fez dele uma figura mundial em teologia. Durante esse período tornou-se também um músico completo, começando sua carreira como organista. Seu professor de órgão, reconheceu nele um intérprete de Bach de uma percepção ímpar e pediu-lhe para escrever um estudo sobre a vida e arte do compositor. Em 1905, com apenas trinta anos de idade, gozava de uma posição invejável: trabalhava numa das mais notáveis

universidades européias; tinha uma grande reputação como músico e prestígio como pastor de sua Igreja. Porém, isto não era suficiente para uma alma sempre pronta ao serviço. Desta forma, anunciou sua intenção de tornar-se médico missionário e dedicar-se ao trabalho filantrópico. Retornou aos estudos universitários e em 1913 tornou-se doutor em medicina. Com sua mulher, Helene Bresslau, que havia praticado como enfermeira para acompanhá-lo, foi para Lambaréné, no Gabão, então colônia francesa na África Equatorial. A partir daquele momento, passou a dirigir total atenção aos moradores desta colônia francesa que, numa total orfandade de cuidados e assistência médica, debatiam-se na dura vida da selva. Construiu, às margens do rio Ogooué, www.msf.org.br Médicos Sem Fronteiras é uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde à vítimas de catástrofes, conflitos, epidemias e exclusão social, independentemente de raça, política ou crenças.

com ajuda dos nativos, seu hospital, o qual equipou e manteve com recursos próprios, mais tarde suplementados por diversas doações de indivíduos e fundações de muitos países, principalmente da Europa. Ao deparar-se com a falta de recursos iniciais, improvisou um consultório num antigo galinheiro e atendeu seus pacientes enfrentando obstáculos como, o clima hostil, a falta de higiene, o idioma que não entendia, a carência de remédios e instrumental insuficiente. Tratava de mais de 40 doentes por dia e paralelamente ao serviço médico, ensinava o Evangelho com uma linguagem apropriada, dando exemplos tirados da natureza sobre a necessidade de agirem em beneficio do próximo. Com o início da Primeira Grande Guerra, os Schweitzer foram levados para a França, como prisioneiros de guerra. Passaram praticamente todo o período da guerra confinados num campo de concentração e neste período Albert voltou-se cada vez mais para as questões mundiais, o que levou-o a escrever 8


Um dia, um rapaz pobre, que vendia mercadorias de porta em porta para pagar seus estudos, viu que só lhe restava uma moeda de dez centavos e tinha fome.

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Uma oferta caridosa

Decidiu que pediria comida na próxima casa em que ofereceria seus produtos. Porém, seus nervos e sua vergonha o traíram quando uma encantadora mulher jovem abriu a porta. Em vez de comida, pediu um copo de água. Ela pensou que, o jovem parecia faminto e assim lhe deu um copo de leite. Ele bebeu devagar e depois lhe perguntou: - Quanto lhe devo? - Não me deves nada - respondeu ela - minha mãe sempre nos ensinou a nunca aceitar pagamento por uma oferta caridosa. Ele disse: - Pois, te agradeço de todo coração. Quando o jovem rapaz saiu daquela casa, não só se sentiu mais forte fisicamente, mas também sua fé em Deus e nos homens, ficou mais forte. Ele já estava resignado a se render, deixar tudo, abandonar a faculdade de medicina, muito cara para a sua realidade. Anos depois, essa jovem mulher ficou gravemente doente. Os médicos locais estavam confusos e a enviaram a uma grande cidade da região, onde chamaram o maior especialista para estudar sua rara enfermidade. Quando este escutou o nome do povoado de onde ela viera, uma estranha luz encheu seus olhos, era sua cidade natal e ele subiu ao seu quarto, reconhecendo-a imediatamente. A partir daquele momento dedicou-se a fazer de tudo para salvar aquela vida. Depois de uma demorada luta pela vida da enferma, ganhou a batalha. Finalizado o seu trabalho pediu à administração do hospital que lhe enviasse a fatura total dos gastos para aprová-la. Ele a conferiu e depois escreveu algo, mandando entregá-la no quarto da paciente. Ao receber a fatura, a paciente tinha medo de abri-la, pois, sabia que levaria o resto de sua vida para pagar todos os gastos. Mas, finalmente abriu, seu semblante ficou tomado de espanto, e lágrimas de alegria e gratidão correram por sua face, com uma nota escrita na fatura que dizia: “Pago totalmente muitos anos atrás, com um copo de leite”.

“Escreva as mágoas em areia e a gratidão em mármore”. - Benjamin Franklin

o livro “Kulturphilosophie” (Filosofia da Civilização), no qual lançou sua filosofia pessoal de “reverência pela vida”, um princípio ético relativo a todas as coisas vivas, que ele considerava essencial para a sobrevivência da civilização, retratando também, de forma intensa, a decadência das civilizações.

de médicos e enfermeiras dispostos a ajudá-lo. Reiniciou seus trabalhos para reconstruir seu hospital, totalmente arruinado, como se nada tivesse acontecido e ante a visão de um mundo pósguerra desmoronado, dizia: “começaremos novamente, devemos dirigir nosso olhar para a humanidade”.

Com o final da guerra retornou à África em 1924, após sete anos de permanência na Europa. Desta vez acompanhado

O novo hospital foi levantado numa área mais propícia e com o auxílio de sua equipe pode dedicar algumas horas

Albert Schweitzer em seu hospital no Gabão.

de seu dia a escrever livros, cuja renda contribuía para manter os pavilhões hospitalares. Seu discurso ao receber o Prêmio Nobel da Paz, em 1952 “Das Problem des Friedens in der heutigen Welt” (O problema da paz no mundo de hoje), teve circulação mundial, extasiando o mundo com sua história de vida. Realizou uma série de conferências na Europa, com o intuito de colher fundos para ampliar sua obra na África. Tornou-se muito conhecido nos círculos intelectuais do continente, porém, a fama não o afastou de seus sonhos. Ao retornar à África anexou ao hospital uma colônia de leprosos, atendidos por cerca de quarenta médicos europeus, enfermeiras e trabalhadores nativos. Morreu em 4 de setembro de 1965, em Lambaréné, no Gabão. Porém, seu exemplo e, principalmente, suas reflexões com um profundo teor humanista, ficaram eternizados para as próximas gerações, como a sua crença de que, quando o homem aprendesse a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém mais precisaria ensiná-lo a amar seu semelhante.

“Muito pouco da grande crueldade mostrada pelos homens pode ser atribuída realmente a um instinto cruel. A maior parte dela é resultado da falta de reflexão ou de hábitos herdados”. Albert Schweitzer

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