Revista Missão Salvatoriana - Abril / Maio e Junho de 2021

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/editorial

SEJA BEM-VINDO À R E V I S TA M I S S ÃO S A LVATO R I A N A ! Nesta edição você vai entender o forte vínculo que Pe. Jordan tinha com a Virgem Maria, a qual chamava de Rainha, e o que se pode aprender de toda a espiritualidade deixada pelo pai venerável. Na matéria seguinte do caderno, leia mais sobre a história de Pe. Jordan e o seu projeto de vida em meio a uma época de profundas transformações e crises que atingiram a Igreja. O artigo “Geração Divino: os valores Salvatorianos nos contextos atuais” traz um importante questionamento: seria o olhar Salvatoriano uma perspectiva ultrapassada que não se encaixa aos tempos atuais? A resposta você confere na reflexão da página 8.

/sumário /3 Palavra do Provincial /4 Pe. Jordan /10 Educação /11 Juventude /12 Principal /14 Social /15 Comunicação /17 Espiritualidade /18 Missão /19 Comunidades /20 Salvatorianos /21 Infantil

/expediente

Na matéria principal da edição, você confere um especial sobre a Beatificação de Pe. Jordan, um acontecimento aguardado com muita expectativa por muitos anos. Após a vivência da quaresma, chegamos ao tempo pascal e no caderno “Espiritualidade” você pode ler o artigo “Tempo Pascal” e entender mais sobre esse período.

Provincial: Pe. Francisco Sydney Macêdo Gonçalves, sds Editor: Pe. Carlos Jobed Malaquias Saraiva, sds As matérias não assinadas são de responsabilidade do editor

Leia o relato de Pe. Fernando Sartori em “Você acredita em Anjos?”, no caderno “Missão” e a história do centenário da Paróquia Nossa Senhora da Conceição da Vila Arens, em Jundiaí, SP, no caderno “Comunidade”. Desejamos uma ótima leitura!

SUGESTÃO DE CONTÉUDO redacao@agenciaarcanjo.com.br www.agenciaarcanjo.com.br facebook.com/agenciaarcanjo 47 3227-6640

EDIÇÃO Aline F S Oliveira DIAGRAMAÇÃO Carol Romão REVISÃO Andriele Pereira

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R E V I S TA M I S S Ã O S A LV AT O R I A N A


/palavra do provincial

A IGREJA GANHA UM B E M -AV E N T U R A D O Querido leitor, no primeiro parágrafo do número anterior da nossa Revista, falamos sobre as boas notícias do início do ano. Já no segundo parágrafo, foi comentada a importância que tem o texto bíblico de Mt 28,19-20 para a nossa Família Salvatoriana. E, o terceiro parágrafo, nos lembrava do compromisso que temos de anunciar o Divino Salvador. Estava previsto apresentar mais um texto bíblico, o de Mc 16,15, porém o faremos no próximo número da nossa revista. Hoje, queremos apresentar o que estamos vivendo enquanto Igreja e Família Salvatoriana, isto é, a beatificação do Pe. Francisco Jordan. O dia em que sua Santidade, o Papa Francisco, pediu ao Cardeal da Congregação da Causa dos Santos que incluísse o nome do Pe. Francisco Jordan na lista dos Bemaventurados foi uma alegria para todos nós que formamos a Família Salvatoriana. Este anúncio foi esperado com muita expectativa e foi justamente quando a Igreja celebrava o dia do Sagrado Coração de Jesus, por quem o Pe. Francisco Jordan tinha uma devoção especial. O dia 19 de junho também nos remete ao aniversário de 85 anos da fundação da Província Salvatoriana Brasileira, instituição que congrega os religiosos salvatorianos no Brasil. A nossa alegria foi ampliada porque o milagre que possibilitou a beatificação aconteceu aqui no Brasil. A beatificação é o reconhecimento legal que a Igreja atesta de que a pessoa viveu

as virtudes heroicas, teve uma vida que se tornou referência de seguimento e fidelidade a Jesus Cristo, que seus escritos e suas palavras estavam em consonância com o sonho e o projeto de Jesus e que teve um milagre atribuído à sua intercessão. Para que a graça seja reconhecida como milagre é preciso cumprir os seguintes pontos:

1.

Que o caso não tenha explicação científica, portanto, é necessário pegar todos os exames antes e depois da graça alcançada, laudos médicos para que sejam anexados ao processo;

2.

Que o efeito da cura seja duradoura. Caso a doença esteja relacionada à categoria autoimune, por exemplo, não é possível ser utilizada no processo;

3. Que a cura seja irreversível. Portanto,

que seja uma cura que indique que a doença não poderá retornar;

4. Que a graça tenha sido pedida àquele

candidato à santidade. Neste caso, se a pessoa pediu a intercessão de mais algum candidato a santo além daquele em questão não é considerado válido para o processo. Lembrando que tudo isso passa por um processo criterioso, formado por várias bancas. Podemos dizer que o dia 15 de maio de 2021 ficará em nossa memória. A Igreja ganha mais um intercessor com o nome de Bem-aventurado Pe. Francisco Jordan. Pe. Francisco Sydney de Macêdo Gonçalves, sds Diretor-Provincial

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/Pe. Jordan

Um tesouro espiritual como herança Por Jn. Carlos Alberto Sousa Silva, sds

No início do segundo volume do Diário Espiritual Al 1 encontra-se a seguinte expressão: “Enquanto a Rainha do céu e da terra não for enaltecida em toda parte, não podes sossegar por um único instante sequer.” Uma expressão, diga-se de passagem, muito forte, podendo ser interpretada como uma regra de ordem pessoal. Resolvi começar este texto com essa passagem do Diário Espiritual de nosso pai fundador pois foi nela que pensei no primeiro momento ao me preparar para escrever sobre a devoção mariana de Padre Jordan. Creio que essa pequena frase guarda uma grande mensagem para nós que fazemos parte da Família Salvatoriana e que possuímos a missão de sermos conservadores do carisma do venerável pai. É sabido por todos que a Virgem Maria ocupou um lugar ímpar na vida de Pe. Jordan, as diversas preces encontradas no DE e nas meditações das Alocuções não nos deixam dúvidas sobre isso. Ora, termos um fundador cujo carisma e espiritualidade estão enraizados na base oracional mariana é uma graça para toda a Sociedade. Pe. Jordan nos deixa um legado, muito mais do que uma devoção de um sacerdote-religioso, ele nos deixa uma herança espiritual com base primeira no próprio Deus (“Enquanto ainda houver sobre a terra um único ser humano que não conhece Deus e não o ama sobre todas as coisas, não podes sossegar por um instante sequer.” DE II-I), onde consequentemente brota uma linda raiz, que é exatamente este amor, esta confiança na bemaventurada Mãe do Salvador. Interessante perceber que dentre as variantes nominativas pelas quais Pe. Jordan refere-se à Maria, ele a chama de Rainha; podemos fazer uma atrevida conclusão sobre isso: referir-se a Ela com o título de Rainha é reconhecer seu patrocínio, sua grandeza e seu poder perante Deus. Típico, obviamente, de alguém que demonstra um característico amor por Nossa Senhora.

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Tudo isso que temos por herança do venerável pai é de uma beleza única. Onde nós devemos nos orgulhar por termos como fundador um homem que soube reconhecer em Maria sua humanidade e, bem mais, sua realeza divina. Contudo, uma pergunta não pode passar despercebida: o que nós (salvatorianos e salvatorianas) estamos aprendendo de toda a espiritualidade deixada por Pe. Jordan? Aqui cada um e cada uma pode fazer sua reflexão pessoal. Este questionamento deve colaborar para que possamos construir, também em nós, uma especial atenção à Virgem Maria, no que diz respeito não a uma simples ou tradicional devoção, e que, em muitos casos, já existente em nós, mas criar de maneira profunda, íntima e por meio de uma espiritualidade pela qual podemos afirmar ser também salvatoriana. Termos, de fato, um vínculo com nossa amada Mãe. E, da parte do venerável pai, temos material e exemplos suficientes para isso; de nossa parte, temos um caminho a seguir, pois a espiritualidade é um campo vasto, requer deixar muitas coisas, bem como assumir tantas outras, como fez nosso fundador; quantas coisas deixou e tantas outras teve que agregar em sua caminhada sacerdotal e fundacional.

HERANÇA ESPIRITUAL Quando andamos em nossas diversas comunidades de trabalho, falamos para nossos irmãos e irmãs que Pe. Jordan tinha um grande amor para com a Virgem


/Pe. Jordan Maria, e, de fato, estamos falando certo. Nosso povo encontrará uma grande beleza se ver em nós o mesmo amor, a mesma devoção e, melhor dizendo, a mesma espiritualidade encontrada em Pe. Jordan. Acredito que ele ficará muito feliz por estarmos assim imitando seus bons ensinamentos espirituais, adquirindo e tomando posse de sua herança espiritual. Neste ano, no qual teremos a graça de ver o venerável pai sendo considerado beato pela Santa Igreja, é também um tempo propício para que todos nós agreguemos em nossas vidas pessoais, na vivência interna e oracional de nossas comunidades e nos mais diversos trabalhos apostólicos que realizamos os ensinamentos e exemplos deixados por ele. E, aqui, destaco a espiritualidade mariana.

ELE SERÁ B E AT I F I C A D O N O M Ê S DE NOSSA SENHORA.

Interessante notar que a beatificação se dará em maio, mera casualidade? No dia em que soube da beatificação, um de meus confrades expressou com grande sentimento: “Ele será beatificado no mês de Nossa Senhora.” Já dizia o poeta desconhecido, pequenos detalhes fazem toda diferença. E, assim, a poesia se realiza na prática, um poema especial e, por que não, uma poesia oracional. O certo é que nosso coração deve ser preenchido de uma alegria contagiante e de uma gratidão ao bondoso Deus pela vida e obra de Pe. Jordan e, ainda, por ele ter sido um filho que não desprezou a bondosa Mãe, sendo tão devoto quanto amante dela. Como disse, é um tempo divino de reconhecer os sinais de Deus para nós. Pensarmos que, este ano, podemos vivenciar as celebrações marianassalvatorianas de uma maneira única e fervorosa, e

teremos oportunidades para isso: 11 de outubro, festa da Mãe do Salvador; 08 de dezembro, Solenidade da Imaculada Conceição e fundação da Sociedade; além das festividades particulares de cada comunidade ou região. E como podemos fazer isso? Ora, as pistas já foram deixadas por nosso fundador, devemos utilizá-las, rezá-las com a comunidade, sermos colaboradores na divulgação dos méritos espirituais de um exímio exemplo de cristão e santidade. A história da fundação (da Sociedade) como sabemos, não foi um processo fácil, quantas coisas o venerável pai teve que passar suportando cada uma delas. “Ó Jesus, ó Pai dos pobres, tem compaixão de mim, porque sofro terrível perseguição!” (DE I 148.6). Por meio de seus escritos, fica evidente que sua confiança em Deus (outra característica da espiritualidade de Pe. Jordan) e, por conseguinte, na Virgem Maria (“Ó Mãe de Deus, ajuda-me! Sê minha poderosa auxiliadora! Eis-me aqui, sou teu”, DE II 117.4 Einsiedeln, 7 de agosto de 1908) são matérias suficientes para que nós tomemos estes dois pontos para a nossa vivência espiritual. Nosso fundador demonstra uma intimidade espiritual tão estreita com Deus e com a Santíssima Mãe que, por algumas vezes, parece que rezando ele, se dirige a Deus e à Virgem Maria, no mesmo cume e instante da oração. Assim exemplifico: “Virgem Imaculada, sou teu. Ajuda-me conforme a vontade de Deus! Estou disposto a tudo, por ti, Senhor onipotente. Mostra-me a tua vontade!” (DE II-119.2 18 de outubro de 1908) e ainda “Pai onipotente e amantíssimo, ajuda-me! Levantate, ajuda-me para a tua glória e para a salvação das almas! Não tardes! Mãe celeste, Rainha do céu, santa Mãe de Deus, ajuda-me!” (DE IV-14.1 Friburgo, 7 de janeiro de 1916). Estes são apenas dois exemplos de intimidade inter-relacional que Pe. Jordan tinha com Deus e com Nossa Senhora (por meio de suas preces Pe. Jordan transparece que, a oração elevada a Deus, está diretamente ligada com a intercessão de Maria, um aspecto extremamente bonito do ponto de vista místicomariológico).

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/Pe. Jordan Outra riqueza que encontramos no Diário Espiritual é a variedade de títulos usados por nosso pai fundador. Poderíamos, se ainda não temos, escrever uma ladainha apenas com os nomes usados à Santíssima Virgem no DE. Por fim, encerro esta composição utilizando uma prece escrita pelo próprio fundador: “E tu, Maria, Mãe de Deus, pelos merecimentos de nosso Senhor Jesus

Cristo, Filho de Deus vivo, ajuda-me e protege-me! Não tardes!” (DEIV-32, 08 de novembro de 1916). Creio que, neste tempo tão difícil pelo qual estamos passando, a nossa prece primeira é que esta pandemia passe, que haja as condições necessárias para voltarmos a ter paz como desejamos. Coloquemos constantemente essa intenção aos pés de nosso Salvador, pois Ele pode tudo e, sob o signo da intercessão da Virgem Maria e do venerável pai, seremos, não por merecimento, mas por necessidade, atendidos. Assim seja, amém.

LADAINHA A NOSSA SENHORA Deus, Pai criador, tende piedade de nós. Jesus salvador do mundo, tende piedade de nós. Espírito santo renovador, tende piedade de nós. Santíssima trindade, comunidade de amor tende piedade de nós. Ave Maria, eis-me, aqui sou teu! Virgem Maria, eis-me, aqui sou teu! Virgem potente, eis-me, aqui sou teu! Virgem de Loreto, eis-me, aqui sou teu! Mãe de Deus, eis-me, aqui sou teu! Mãe bondosa, eis-me, aqui sou teu! Mãe das dores, eis-me, aqui sou teu! Querida Mãe, eis-me, aqui sou teu! Mãe e Rainha, eis-me, aqui sou teu! Mãe do Salvador, eis-me, aqui sou teu! Minha Mãe, eis-me, aqui sou teu! Maria Santíssima, eis-me, aqui sou teu! Protetora e auxiliadora, eis-me, aqui sou teu! Minha advogada, eis-me, aqui sou teu! Minha auxiliadora, eis-me, aqui sou teu! Minha esperança, eis-me, aqui sou teu! Nossa Senhora, eis-me, aqui sou teu! (A ladainha foi composta após a

Nossa Senhora da saúde, eis-me, aqui sou teu!

composição sobre a espiritualidade

Rainha do céu, eis-me, aqui sou teu!

mariana do venerável pai fundador.

Ó santa, ó imaculada, eis-me, aqui sou teu!

As invocações utilizadas, incluindo a resposta, são todas retiradas do Diário Espiritual).

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Bem-aventurada, eis-me, aqui sou teu! Ó Maria concebida sem pecado, eis-me, aqui sou teu!

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/Pe. Jordan

Pe. Jordan e seu projeto de vida Por Pe. Arno Boesing, sds

A Igreja deu sinal verde para a beatificação de Pe. Jordan. Isto significa reconhecimento de sua santidade e da importância de sua vida e missão para toda a Igreja. Ele viveu numa época de profundas transformações e crises que atingiram em cheio a vida da Igreja: industrialização, consequente surgimento de aglomerados humanos, efervescência política e perseguição da Igreja, com o surgimento da “Revolução Cultural” (“Kulturkampf”). Com Bismark na Prússia e Jolly em Baden (terra de Jordan), surgiram tempos difíceis para a Igreja na Alemanha. Ela reagiu prontamente, inclusive com os “Congressos Católicos” (Katholikentage) que uniram e reuniram as lideranças católicas, bispos, padres e leigos. Foi uma época de perseguição, muita cruz e sofrimento, que resultou num “acordar do sono profundo”. Os bispos e o clero reagiram pronta e corajosamente, e os cristãos leigos se uniram em torno de seus líderes para defender a Igreja. Houve um verdadeiro despertar de um sono profundo para a vivência da fé: bispos, padres e líderes leigos se uniram. Na época, surgiu na Europa uma série de novas congregações religiosas apostólicas, buscando reativar a vivência da fé e renovar a vida eclesial: Verbitas (na Holanda), com o Pe. Janssen; Salesianos de Dom Bosco (na Itália), Sociedade Apostólica Instrutiva (mais tarde, Sociedade do Divino Salvador - Pe. Jordan), e muitas outras mais.

Com sua Obra, em resposta aos males de seu tempo, Pe. Jordan pretende renovar a vida da Igreja, conclamando os cristãos a fazerem jus ao nome de “cristãos”, seguidores de Cristo. Para tanto era preciso, antes de tudo, voltar ao Evangelho. Somos chamados a seguir Jesus Cristo e a ninguém mais! É preciso voltar às origens da fé cristã: a partir de Jesus Cristo. Seu convite é: “Vem e segue-me!” O que Pe. Jordan pretende com sua Obra é a renovação da vida da Igreja. Questão fundamental: retorno ao Evangelho de Jesus Cristo!

M I S S ÃO S A LVATO R I A N A Ponto de partida: seguimento de JESUS CRISTO. Nosso modo de ser e agir, tudo deve ser encarado “a partir de Jesus Cristo”. Ele é nosso único Salvador, modelo inspirador. Precisamos rever o “devocionismo” que, em vez de nos aproximar, nos afasta de Jesus. Precisamos retomar o foco central. É necessário refletir, irradiar o máximo possível a imagem de Jesus Cristo, sendo fiéis seguidores dele. Foi em vista disso que Pe. Jordan fundou a Sociedade Apostólica Instrutiva (ou seja, de ensino), mais tarde Sociedade do Divino Salvador, como “união de forças” a serviço da vivência cristã. A definição mais ampla da missão salvatoriana é o seguimento de Jesus Cristo, o Divino Salvador, assemelhando-nos o mais possível a Ele, no modo de ser e de agir. P R O V Í N C I A S A LV AT O R I A N A B R A S I L E I R A

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/Pe. Jordan SER Salvatoriano: é a questão fundamental, assemelhar-se a Jesus Cristo no modo de ser. Uma macieira não produz pera e uma pereira não produz uva. O fundamental é conhecer, ser cristão, ou seja, viver em Cristo. Quem não é, não faz acontecer. Quem não é de Cristo, não produz frutos da vida cristã. O ser direciona o agir. Pe. Jordan exprime isto por meio do conceito da glória de Deus: manifestação (revelação) de Deus por meio de nosso modo de ser e agir. Se não revelarmos Deus em nosso modo de ser e viver, nosso agir se torna, no mínimo, ambíguo. Árvore má não produz frutos bons e árvore boa não produz frutos maus. Ser Salvatoriano é condição para agir como Salvatoriano. O ser qualifica o agir. Com isso, Pe. Jordan chama nossa atenção para a importância do testemunho de vida, ou seja, do exemplo que atrai e arrasta: “As palavras voam (o vento leva), o exemplo arrasta!”.

AGIR como Salvatoriano: é ser coerente, procurando ser e agir como Jesus Cristo. É procurar ser “outro Cristo”. E, o que caracterizou o agir de Cristo? Ele passava o tempo ensinando, instruindo, formando. Por isso, Pe. Jordan nos convida a seguir os passos de Jesus, “ensinando, instruindo e formando”, a fim de superar o mal paralisador da ignorância religiosa. Este é e deve ser o foco de nossa vida e missão salvatoriana, para que todos conheçam Deus e Jesus Cristo, que Ele enviou (Jo 17,3). Portanto, a missão da Família Salvatoriana é ensinar, instruir por meio do exemplo (testemunho), da palavra e da ação. No desempenho de qualquer atividade apostólica, o objetivo básico é e deve ser sempre o de ensinar, instruir. É o que Jesus ordena aos seus discípulos: “Ide, ensinai...” (cf Mt 28,19-20).

Envolvendo-se e envolvendo outros. O fiel seguimento de Jesus exige envolvimento de si mesmo e de outros na missão primeira da Igreja, que é ensinar. A questão é ensinar de modo a se envolver e a envolver outros no caminho do seguimento de Jesus Cristo. É o jeito de Jesus ensinar. Ele envolve a pessoa. Ele não só ensina, mas ensina e envolve! Com efeito, nos sinais que ele realiza, sempre envolve mandando fazer algo: apresentarse ao sacerdote, banhar-se no rio, dar metade dos bens aos pobres, não pecar mais, tomar o leito e pôr-se a caminho. Não basta ensinar, instruir: é preciso ensinar, instruir envolvendo as pessoas na missão; envolvê-las como agentes, a fim de que façam sua parte. É a dinâmica de Jesus e de seus discípulos. Ensinar de modo a envolver na missão. É o jeito de Jesus ensinar (os 12, os 72 e as multidões), enviando-os em missão. É assim que todo Salvatoriano deve ensinar. Ensinar tendo em vista o envolvimento na missão da Igreja (cf Jo 1,35-51).

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/Pe. Jordan Numa visão ampla, universal. Isto requer uma visão ampla, universal. Pe. Jordan insiste: todos, ensinando a todos, em toda parte, com todos os modos e meios que o amor de Cristo (que quer salvar a todos) inspira. O superior geral que sucedeu Pe. Jordan no governo da Sociedade se exprimiu assim: “Ensinar e envolver a todos, com o coração escancarado!”. O que importa é a salvação do ser humano, seja ele quem for. Não importa raça, cor, nacionalidade, condição social, o alvo é o ser humano a ser salvo, tendo presente a maior necessidade de salvação. O critério primeiro na escolha de nosso apostolado deve ser a necessidade e a urgência, de acordo com os dons que o Senhor nos concedeu. Daí a “opção preferencial pelos pobres”: os mais carentes de vida e salvação, tendo presente a maior necessidade de salvação e os dons que o Senhor nos concedeu para serem colocados a serviço.

Concluindo: vejamos como Pe. Jordan se exprime na Regra do Apostolado que ele escreveu em 1884, em Einsiedeln, na Suíça. Nela ele expressa o coração da missão salvatoriana, num texto todo artisticamente costurado com citações bíblicas:

Caríssimos, ensinai todos os povos, especialmente os pequeninos, a que conheçam o Deus verdadeiro e aquele que Ele enviou, Jesus Cristo. Conjuro-vos diante de Deus e de Jesus Cristo que há de vir julgar os vivos e os mortos, por sua aparição e por seu Reino: proclamai a palavra de Deus, insisti no tempo oportuno e inoportuno, repreendei, suplicai, exortai com toda paciência e doutrina.

Esta é a vontade de Deus, caríssimos, que todos conheçam as verdades eternas. Suplico-vos que não vos esquiveis de anunciar todo desígnio de Deus, para que possais dizer com São Paulo: estou puro do sangue de todos. Não deixeis, dia e noite, de exortar a cada um, até mesmo com lágrimas. Não retenhais nada do que é útil, para anunciardes e ensinardes a todos a doutrina de Deus, publicamente e de casa em casa.

Ide ensinar, com destemor, ao povo toda palavra de vida eterna. Anunciai e escrevei a todos, sem cessar, a doutrina celeste.

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/educação

Geração Divino: os valores salvatorianos nos contextos atuais Uma escola salvatoriana carrega consigo uma dupla responsabilidade: a manutenção de um legado e a construção de um novo futuro. Há pouco menos de um século, vemos em Jordan o florescer de um projeto, cujos alcances nos afetam diretamente como uma direção, uma meta, um objetivo: tornar Jesus, o Divino Salvador, conhecido e amado por todos. O desafio lançado por nosso fundador ganha contornos cada vez mais árduos, uma vez que os anseios da sociedade parecem caminhar em uma direção inversamente proporcional aos valores do Reino. O consumo exagerado, o ensimesmamento egoísta e o narcisismo midiático assumem marcas cada vez mais expressivas, contrariando a lógica cristã do amor ao próximo e do comprometimento para com a construção de uma nova civilização.

enfrentamento desse hoje, paradigma da indiferença.

obscurecido

pelo

A missão que recai sobre nós é a de tornar presente e atual o dinamismo espiritual capaz de gerar solidariedade e o reconhecimento do outro em sua fragilidade e dignidade. Nossa missão é a de acreditar no ser humano e na sua capacidade de mudar e integrar a si os valores que defendemos. A atualização desses valores está longe de uma subversão dos seus significados ou mesmo um abrandamento de seu impacto sobre nossa conduta. Atualizar aqui significa torná-los vigentes em toda sua integridade.

Estaríamos, portanto, insistindo em um projeto obsoleto? Seria o olhar salvatoriano uma perspectiva ultrapassada que não se encaixa aos tempos atuais? Para nós, do Colégio Divino Salvador, a resposta é clara: não!

Portanto, acreditamos que a experiência de Deus, a vivência comunitária, o envolvimento missionário e a construção de uma perspectiva sempre mais universal são eixos inspiradores de uma prática pedagógica que ultrapassa o conhecimento intelectual e faz nascer um novo horizonte de esperança e solidariedade. Faz nascer uma nova geração. Uma geração cujo modelo é o Divino Salvador.

O cenário anteriormente descrito é a prerrogativa mais que necessária para encarar os valores salvatorianos como fundamentais para o 10

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Por José Augusto Neto Núcleo de Formação Humana e Apostolado


/juventude

Curso de Formação de Assessores e Lideranças Juvenis do Regional NE 5 – Maranhão A Escola de Formação de Assessores e Lideranças Juvenis da Pastoral Juvenil – Regional Nordeste 5 é uma proposta voltada inteiramente para qualificar as lideranças (adultos e jovens), para que tenham um engajamento pastoral melhor e mais eficiente, caminhando junto com a proposta de formação da Comissão Episcopal para a Juventude da CNBB. Sujeitos protagonistas e capazes de lerem a realidade das juventudes com propriedade e com conhecimento dos documentos eclesiais para o trabalho pastoral junto aos jovens. O curso de extensão da Pastoral da Juventude NE 5, em parceria com o Instituto de Estudos Superiores do Maranhão (IESMA), tem como intuito proporcionar novas lideranças sensíveis ao cenário juvenil e à atuação junto aos jovens, respondendo aos anseios da Igreja em seu sínodo, que nos pede uma Igreja cada vez mais jovem com os jovens. O curso de formação alcançou assessores adultos (religiosos, religiosas, padres e leigos) e lideranças juvenis das diversas expressões: as pastorais da juventude, os movimentos, as novas comunidades, as congregações

e os grupos paroquiais independentes. Foi realizado em duas etapas no ano de 2020, com aulas virtuais e leituras e atividades em casa para o aprofundamento dos temas, com o acompanhamento à distância dos professores de cada disciplina. Trabalhou os seguintes conteúdos: Abordagem sociológica - as juventudes e seus contextos; Abordagem eclesiológica - documentos (Chritus Vivit e Querida Amazônia); Abordagem psicológica - as etapas do desenvolvimento; Abordagem pastoral 1 - ministério da assessoria e Abordagem Pastoral 2 - liderança juvenil (protagonismo). Ao final de cada etapa do curso de formação, os cursistas, individualmente, apresentaram um trabalho escrito sobre as disciplinas estudadas em cada módulo, síntese das aulas e dos textos recebidos para aprofundamento, bem como a participação nos debates e a presença nas aulas. A coordenação da Escola é feita pelo padre religioso assessor da Pastoral Juvenil do Regional, Pe. James Wilson Januário de Oliveira, SDS, com o apoio financeiro da Associação Missionária Salvatoriana para a América Latina (AMSALA), da Espanha.

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Por Pe. Nelson Barbieri, sds

Em 19 de junho de 2020, o Papa Francisco autorizou o Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos a publicar o decreto de reconhecimento do milagre para a beatificação do Venerável Padre Francisco Maria da Cruz Jordan. Um acontecimento que aguardamos com muita expectativa por muitos anos e, finalmente, fomos agraciados por esta grande graça de podermos celebrar a beatificação de nosso fundador. Ele viveu na Alemanha, há mais de 150 anos, dentro de uma realidade de igreja dividida, de ausência de

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Deus, de desconhecimento da Palavra do Evangelho e de descrença na vida de tantos cristãos. Padre Jordan, inspirado pelo Espírito Santo e impulsionado por sua paixão por Jesus e por seu Evangelho, tinha como ideal que todas as pessoas conhecessem e amassem a Jesus Cristo e as verdades do Evangelho. Era um homem obediente e comprometido com a Igreja e buscou envolver a todos no anúncio do Evangelho, dentro de sua nova fundação: religiosos, religiosas, leigos e leigas, homens e mulheres, intelectuais, cientistas, jovens e crianças e colaboradores de todas as classes

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da sociedade. Eles com seu testemunho e sua ação levariam adiante esta obra como verdadeiros apóstolos, anunciadores de Jesus Salvador e protagonistas de uma Igreja sempre mais profética e mais próxima do Reino, inserindo-se no coração das situações de aversão à fé e à Igreja em que viviam.

TINHA COMO IDEAL QUE TODAS AS PESSOAS CONHECESSEM E AMASSEM A JESUS CRISTO E AS V E R DA D E S D O E VA N G E L H O

Qual é a novidade para nós salvatorianos e para a Igreja do novo beato, Padre Francisco Maria da Cruz Jordan? Com certeza sua beatificação traz inúmeros benefícios para todo o povo de Deus. Vou mencionar alguns aspectos que vejo como importantes.

Sempre que a Igreja beatifica ou canoniza alguém é porque esta pessoa levou uma vida de santidade, viveu os valores do Evangelho, deu um testemunho verdadeiro de sua fé e se dedicou plenamente a Deus e ao povo de Deus, se tornando assim, para os cristãos de nosso tempo, inspiração e motivação para buscar sempre mais sermos um evangelho vivo e nos tornarmos luz para os outros. A convicção sobre a santidade de Pe. Jordan tem crescido em nossas comunidades e obras salvatorianas, principalmente no Brasil, e se tornado modelo de santidade e inspiração para quem busca sua intercessão. Muitos jovens, quando passam a conhecer a vida de Pe. Jordan, se encantam com o carisma salvatoriano. Nossos formandos expressam, de igual maneira, que nosso carisma é um dos motivos de querer consagrar sua vida e servir o povo de Deus, na Sociedade do Divino Salvador. Sua beatificação é motivo de despertar em muitos jovens o querer abraçar o mesmo ideal de nosso fundador de tornar Jesus conhecido e amado por todos. Para nós da família salvatoriana, a beatificação fortalece a nossa convicção de que encontramos a nossa identidade não apenas em nossa regra de vida, mas também num grande testemunho do Evangelho,

Nós Salvatorianos temos, por essência, uma dimensão universal. Servimos a todos os povos, de perto e de longe, para que todos conheçam o Deus único e verdadeiro e Jesus Cristo nosso Divino Salvador, para que nós e o povo a quem servimos possamos ter vida eterna. A universalidade é um chamado para que nos coloquemos a serviço de todas as pessoas, com todos que são chamados a partilhar o carisma e missão salvatoriana, e por todos os modos e meios inspirados pelo amor de Deus.

em um homem que foi plenificado com a luz do Espírito Santo. Nele podemos ver e irradiar a alegria de nossa vocação. Nos incentiva a estudar sua vida, para tomá-la como modelo e invocá-lo como intercessor. Nos ajuda a redescobrir aquilo que foi essencial em sua vida e que é também para nós salvatorianos: a meditação e contemplação da Palavra de Deus e da experiência do amor de Cristo na Eucaristia, uma vivência alegre, coerente e fiel dos conselhos evangélicos e uma maior paixão por tudo o que assumimos em nosso ministério.

N Ó S S A LVATO R I A N O S TEMOS, POR ESSÊNCIA, UMA DIMENSÃO UNIVERSAL

Vivemos uma realidade de muita descrença e falta de fé, muitos cristãos abandonando a Igreja e relativizando os valores do Evangelho. E por que não dizer de uma perseguição à Igreja, muitas vezes dissimulada, através dos meios de comunicação social, com difamações, piadas, acusações, etc. Olhando nessa perspectiva, a beatificação terá uma importância especial para a atuação sempre mais marcante dos leigos, esta força viva da nossa Igreja, como verdadeiros apóstolos do Evangelho. A formação de líderes é mais do que nunca urgente! Este era um grande sonho do Venerável Pe. Jordan e com certeza será uma grande contribuição nossa para a Sociedade e para toda a Igreja. Este é um momento de gratidão a Deus por essa graça da beatificação de nosso Venerável Pe. Francisco Maria da Cruz Jordan. Que ele seja nosso intercessor junto a Deus por todos nós e para toda a Igreja de Deus!

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/social

Tempo de Cuidar Por Jn. Claudio da Silva Serralheiro, sds

Todos os dias somos bombardeados com inúmeras notícias tristes que ferem nosso coração e nossa alma. E com o isolamento social, devido à situação pandêmica causada pela Covid-19, estamos nos acostumando a observar de longe os sofrimentos de nossos irmãos. São inúmeros os que gemem em dores de parto, sem serem ouvidos, sofrem sem perspectiva de acolhimento. Nós como Salvatorianos, assim como toda a Igreja de Cristo, devemos nos solidarizar com nosso entorno. Além da lamentável situação econômica, muitos sofrem a perda de seus entes queridos. Filhos que choram a certeza de que seus pais não mais chegarão no fim do dia, pois a Covid os levou. Mães se desesperam ao saber que não terão o direito de, se quer, velar dignamente seus filhos. Não nos permitamos deixar de nos sensibilizar por tal realidade. Inseridos nesse contexto, inspirados pelos ensinamentos de Padre Jordan, somos incentivados a ter um amor preferencial aos pobres: “Jesus Cristo teve um amor preferencial aos pobres e oprimidos. O empenho pela justiça e a paz no mundo faz parte da nossa missão salvatoriana” (Constituições, 205). Sendo assim, nós do Instituto Doze Apóstolos (casa internacional de Teologia) de maneira simples, mas carregada de amor e solidariedade, estamos oferecendo a muitos irmãos em

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situação de rua auxílio espiritual, alimentação e agasalhos na tentativa de amenizar a triste realidade de abandono que muitos vivenciam. Meus irmãos, este é o tempo de cuidar! Tempo de deixar que o Espirito Santo de Deus nos conduza aos mais necessitados, sendo instrumentos de salvação na vida do próximo. Há muitas maneiras de sermos solícitos. Sejamos motivos de alegria, como diz nosso fundador: “procura causar aos teus filhos espirituais a maior alegria possível, mesmo que seja preciso morrer por ele, mas alegria verdadeira!” (DE I 200). Se cada um fizer um pouco, juntos poderemos vencer essa tribulação e, assim como Maria, mãe do Salvador, ser sinal de esperança e amor. Que Jesus Cristo, nosso Salvador, olhe com misericórdia para toda essa realidade em que vivemos, nos dê forças e sensibilidade para sermos sinal de salvação entre aqueles que mais precisam e conduza-nos à construção do seu Reino de paz, amor, justiça e solidariedade.

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/comunicação

A Comunicação em tempos de conflito Por Pe. Ederaldo Macedo de Oliveira, sds

A palavra comunicação (communicatio) significa “partilhar, participar de algo, tornar comum”, é um processo que envolve a troca de informações entre dois ou mais interlocutores por meio de sinais e regras mutuamente entendíveis através dos diferentes meios disponíveis. Esse desejo de participar, de interagir, de comunicar-se sempre foi uma constante na história da raça humana, que viu momentos de forte ruptura dos sistemas então convencionais a níveis mais elaborados de modos e meios de comunicação, influenciando significativamente seu desenvolvimento como espécie. Os meios de comunicação sofreram diversas transformações ao longo da evolução da humanidade, encurtando cada vez mais as distâncias entre os povos, acelerando a disseminação de informações, reduzindo o tempo e o espaço, adaptando-se a fim de atender às demandas da sociedade. Os avanços tecnológicos transformaram a humanidade nos últimos 200 anos de forma quase tão radical quanto os milhões de anos de nossa história que antecederam esse período. E nos últimos 30 anos vimos um salto ainda maior em todas as áreas do conhecimento, projetando grandes avanços tecnológicos que influenciarão nossas vidas nos próximos 10 anos. O avanço do processo comunicacional ao longo da história, principalmente os relacionados aos hardwares, os meios propriamente ditos, não são o problema em si, mas sim como os utilizamos. Os objetivos diretos e indiretos dos envolvidos nesse processo determinam o avanço, o retrocesso ou a estagnação dos indivíduos e da sociedade. A mensagem ou informação nem sempre descreve os fatos, geralmente são moldados por outros elementos ou condições que podem descaracterizar o que é considerado o acontecimento propriamente dito.

Muitas críticas recaem sobre as mídias sociais por vários motivos, e com razão, mas é inegável que elas promovem a interação entre as pessoas. A internet tornou os receptores em emissores e vice-versa, rompendo o ciclo do processo comunicacional, ou seja, deram liberdade aos que antes só consumiam a agenda setting dos formadores de opinião, além de tornar os receptores mais críticos e seletivos. Essa autonomia não colocou em xeque apenas a grande mídia, mas sim todas as grandes instituições da sociedade, pois nosso modelo de pensamento, de organização política, o nosso sistema de crenças, nossos sistemas sociais e econômicos são relíquias da era industrial. Podemos chamar essa inversão de papéis no processo comunicacional de revolução que, automaticamente, gerou uma grande transformação na informação, pois ela tem várias vias agora e apresenta um novo ciclo de ruptura e construção da cultura popular mundial, alterando aspectos dos costumes, das regras sociais, das convenções estabelecidas e tantas outras coisas que formam nossa sociedade. Com a aceleração dessas transformações, as lideranças se mostram cada vez mais incapazes de compreender, dirigir e organizar as instituições e a sociedade, e assim vão perdendo relevância e o timing, insistindo em vender máquinas de escrever numa era pós-digital. Os avanços tecnológicos dos meios de comunicação não são absolutamente responsáveis na formação de opinião e no comportamento das pessoas. Como meios, eles também refletem aquilo que as pessoas sentem, pensam e querem. O emissor influencia e manipula a mensagem, mas não podemos ignorar que as demandas do receptor também influenciam na construção, no ângulo da mensagem. Por exemplo: o marketing tem a função de criar mercado, gerar necessidade, mas sempre a partir da análise de uma ou várias demandas da sociedade, e se não estiverem em sintonia com as necessidades percebidas, perde sentido e se torna ineficiente.

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/comunicação Fala-se muito dos conflitos, dos pensamentos e opiniões extremistas que são visíveis principalmente nas redes sociais e nas mídias de uma maneira geral. Pensar diferente nunca foi um problema, sempre foi constante em nossa história, forçando o diálogo e a construção comum de alternativas. Dificuldades reais tivemos em alguns momentos em que apenas uma linha de pensamento era aceita, quase hegemonicamente e não dava espaço para outras percepções e expressões. O que temos hoje é apenas o que já tivemos por diversas vezes: o confronto de ideias e percepções diferentes. Olhando para o passado, para os jornais como a Gazeta do Rio de Janeiro e o Correio Braziliense, ambos de 1808, percebemos que davam ressonância às diferentes camadas da população, pró e contra a monarquia. O confronto não precisa ser belicoso, mas é necessário sim, pois não podemos evitá-lo à custa do silêncio, seja ele pela omissão própria ou pela exclusão da opinião do outro. Aprendemos quando interagimos com a alteridade, crescendo à medida em que nos abrimos para novas percepções e à possibilidade de construir novas sínteses, com respeito e reconhecimento existe o diálogo verdadeiro. Na Campanha da Fraternidade deste ano vimos que o principal objetivo é superar as polarizações por meio do diálogo. A criação nos ensina que é possível

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a convivência harmoniosa entre os polos, desde os pequenos imãs até os polos magnéticos do nosso planeta. Elemento fundamental para a existência da vida. O que estamos aprendendo ao longo da nossa história é a dialogar, como já tratamos anteriormente. O lema da CF 2021 é extremamente significativo: Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade. O amor com que Cristo nos uniu cria laços, pontes que unem duas margens diferentes, sejam próximas ou distantes. Mesmo que unidas pelos pontos em comum não deixam de ter as suas particularidades, suas características que as fazem únicas. Um verdadeiro diálogo baseado no amor jamais supõe a submissão do outro e nem de si mesmo, mas sim realiza-se no encontro e reconhecimento fraterno dos princípios fundamentais que nos unem como espécie humana, como centelhas do Divino Criador que amorosamente chamamos de Pai. E, para isso, é também necessário superar modos, ângulos e conceitos, outrora relevantes, mas que perderam a eficiência na transmissão da mensagem, do que realmente é essencial. Quem já usou o Guia Quatro Rodas ou Páginas Amarelas, sabe o que isso significa.


/espiritualidade

O TEMPO PASCAL

diz: “Coragem, levanta-te que Jesus chama-te” (Mc 10, 49).

Por Pe. Marciel Osvaldo de Souza, sds

Há mais de um ano estamos vivendo dias angustiantes e incertos devido à pandemia do COVID-19, que já ceifou muitas vidas. Diante dessa realidade, que insiste em permanecer e não se sabe por quanto tempo, a incerteza tenta todos os dias roubar nossa esperança de dias melhores, mas não podemos esquecer que o Ressuscitado nos chama a termos coragem. Coragem que emana da nossa confiança n’Ele e que nos mantêm em pé. É o Ressuscitado a certeza de nossas incertezas, pois juntos com Ele a cruz deságua na ressurreição, o sofrimento de hoje deságua em dias melhores que estão por vir.

Após a vivência do período quaresmal, chegamos ao tempo pascal. Um tempo que nos faz renovar a esperança e nos convida a viver segundo a luz do Cristo Ressuscitado, que tira-nos das trevas e ilumina nossos caminhos. A ressurreição de Jesus nos mostra que a cruz, e com ela toda a dor e sofrimento, não teve a última palavra, mas foi o amor incondicional que prevaleceu, confirmando que o amor sempre vence! Durante cinquenta dias a Igreja celebra com alegria e exultação, como se fosse um só dia de festa, ou melhor, como um grande Domingo da Ressurreição do Senhor. Esse período chamamos de Tempo Pascal. Liturgicamente, essa alegria é expressada pelos cânticos, pela utilização dos instrumentos musicais e, de modo muito especial, pelo cântico da Glória e do Aleluia. A Igreja volta a ser ornada com flores. Diante da beleza, somos convidados a mergulhar no mistério celebrado.

Neste ano, eis o anúncio pascal: o anúncio da esperança. Ânimo! Não podemos perecer diante das dificuldades, mas se deixar ser conduzido pelo espírito do Ressuscitado para que possamos vencer as provações, voltando as costas à morte e abrindo nossos corações para o Cristo Ressuscitado, o Divino Salvador, que é a Vida em plenitude e que faz novas todas as coisas.

Contemplando os sinais externos, que também são importantes, somos convidados a expressar os frutos de um coração arrependido e convertido, é o momento de deixarmos as novas atitudes falarem mais alto, vivendo, de fato, sob a luz do Ressuscitado. A esperança nos é devolvida e a coragem se faz presente de novo. É o próprio Ressuscitado que nos

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/missão

Você acredita em anjos?

de galinha e quatro ovos caipiras. Conversamos um pouco, conheci sua vida sofrida, viúva desde jovem, vários filhos, ao mesmo tempo cheia de esperança, temente a Deus. Logo despediu-se e saiu.

Por Pe. Fernando Sartori, sds Missionário Salvatoriano

Depois que ela se foi, me pus a refletir: esta mulher, depois de anos sentindo a presença de Deus, perseverando em suas lutas diárias, converteu-se em um anjo, uma mensageira de Deus. Recentemente passou pela Covid-19 e continua firme, preocupada com a comunidade de fé, bem como com os padres Salvatorianos. Anjos são mensageiros de Deus, temos anjos que nos visitam, que nos recebem em sua casa, que se preocupam com os enfermos, que zelam pela Eucaristia, que se alegram com nossa visita e principalmente que nos ensinam a rezar. Mesmo diante da nova realidade e de outros desafios, seguimos motivados a continuar a missão, porque realmente é verdade: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles” (Mt 18,20).

Dentro da nova realidade da Covid-19, começamos o ano retornando às atividades pastorais, porém com cuidado, pois nesta segunda onda vários paroquianos foram contaminados, houve algumas vítimas e a precariedade do sistema de saúde agravou a situação. Nossas comunidades indígenas foram as que mais sofreram, ações solidárias foram feitas e arrecadamos alimentos, remédios e materiais de proteção, mas mesmo assim muitos nativos morreram. Os atendimentos pastorais se tornaram mais desafiadores, porque depois de um longo tempo sem as reuniões nas comunidade as pessoas deixaram de participar, sentem medo, outras se foram com a família para as montanhas, mas em cada comunidade existem sinais da presença de Deus e gostaria de partilhar uma delas: Uma senhora vem caminhando pela rua de terra, naquele momento cheia de barro porque havia chovido, em direção à nossa casa. Da varanda, a vejo de longe, magra, de baixa estatura, curvada pelo peso da idade, 96 anos. Caminha com o apoio de um bastão de madeira, numa das mãos carrega uma pequena sacola. Se aproxima de nossa casa, humildemente vestida, corpo sofrido pelo trabalho duro, rosto marcado pelo tempo, sorrindo, me chama: “hermano!”. Desço as escadas rapidamente, abro a porta e logo depois da saudação, vem o pedido: “posso rezar em sua capela?”, respondo: “claro, entre!”. Então vejo aquela senhora, Adelaide, com passos lentos, entrar em nossa capela, em seu rosto um sorriso, o bastão deixou na porta. Aquela mulher curvada agora estava de joelhos em frente ao Santíssimo Sacramento, ouço sua voz baixa que dizia: “bom dia Jesus, vim te visitar” e então começou um diálogo entre dois amigos de longos anos. Lembrei-me de Ana quando estava rezando no Templo, “derramei a minha alma na presença do Senhor”. (1Sm 1,15). Deixei a capela para que eles tivessem privacidade e fiquei esperando ela sair. Depois que terminou, voltou para a sala e ofereceu-me a sacola: “Padre, não é muito, mas trouxe para vocês fazerem o almoço”, era uma coxa

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/comunidades Paróquia Nossa Senhora da Conceição da Vila Arens Jundiaí - SP Por Pe. Itamar Roque de Moura, sds Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição

No dia 23 de dezembro de 2022, a Paróquia Nossa Senhora da Conceição da Vila Arens, em Jundiaí-SP, estará comemorando os 100 anos da publicação do decreto de sua criação. Eis, de maneira breve, um pouco da sua história: após vários contatos, vindos do Rio de Janeiro, os Salvatorianos chegaram a Jundiaí no dia 11 de dezembro de 1922. Os dois primeiros missionários, Pe. Vicente Hirschle e Pe. Eucário Maria Merker, foram calorosamente recebidos com banda e festa. No dia 23 de dezembro de 1922, Dom Duarte Leopoldo e Silva, Bispo de São Paulo, da Diocese à qual Jundiaí ainda pertencia, publicou o Decreto de criação da paróquia e, em 14 de janeiro de 1923, foi criada a Paróquia Nossa Senhora da Conceição. O Pe. Vicente Hirschle foi o primeiro Pároco e passou a exercer os serviços religiosos em 21 de janeiro de 1923, na Igreja de Santa Cruz de Vila Arens (“Santa Cruz” porque havia, no passado, um Poste onde eram amarrados os escravos), situada na atual Praça Quintino Bocaiúva, chamada também de “Largo da Feira”.

formas que ajudaram a angariar fundos. No dia 28 de janeiro de 1934, a nova Igreja Matriz foi solenemente inaugurada, com Missa presidida pelo então Bispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva. Durante esse tempo foram acontecendo missões populares, criação das associações, pastorais, movimentos e serviços paroquiais, do Conselho Paroquial da Ação Evangelizadora, de Economia e Administração, da Secretaria Paroquial, etc. Em 2003, foram depositados no Jazigo dos Salvatorianos, na Capela do Santíssimo, os restos mortais dos Religiosos e Padres Salvatorianos. Desde a sua criação, a Paróquia já teve 17 Párocos e o 18º Pároco atualmente é o Pe. Itamar Roque de Moura, os Vigários Paroquiais PP. Luiz Dalmolin Spolti, Jurandir Batista de Souza, Jair Carlesso e o Diácono Permanente Francisco Arantes. Além da Igreja Matriz, a paróquia tem as Comunidades São João Evangelista, São José, São Lucas, São Marcos e São Mateus. Os eventos mais tradicionais da Paróquia são: Romaria dos Homens a pé ao Santuário Diocesano Bom Jesus de Pirapora, a Festa Portuguesa, Almoço Mineiro e a Festa da Padroeira, Nossa Senhora da Conceição, no dia 08 de dezembro. Mais informações na Fonte: http://www.encontrajundiai.com.br/jundiai/ igreja-matriz-nossa-senhora-da-conceicao-em-jundiai.shtml

De “Santa Cruz” a Paróquia passou a se chamar “Nossa Senhora da Conceição”, por sugestão do então Bispo de São Paulo, pelo fato de os Padres terem chegado à Vila Arens dentro da oitava da Festa Litúrgica de Nossa Senhora da Conceição. Muitas Capelas que pertenciam à paróquia e que foram atendidas pelos Salvatorianos são hoje paróquias na Diocese de Jundiaí. O terreno para a construção da Igreja, uma área de 2.581 metros quadrados, avaliada, naquela época, em “2 contos e 581 mil réis”, foi gentilmente doado pela “Companhia São Bento S.A”. No dia 15 de agosto de 1927, foi celebrada a Primeira Missa no lançamento da Pedra Fundamental, pelo segundo Pároco, Pe. Felisberto Shubert. A construção continuou até 1930, graças às promoções de quermesses, rifas, donativos e outras

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/salvatorianos

Pe. Fernando Vitorino Rizzardo, sds 40 anos de serviço à Igreja Sinto que ser padre é estar cada vez mais configurado a Jesus, o Salvador. O meu ministério é fruto de minha paixão por Jesus e pelo seu Reino.

Pe. Fernando Vitorino Rizzardo, sds (Várzea Paulista , SP - 21/01/2021)

Busco seguir o Bom Pastor e Salvador dando minha vida em prol das pessoas para que tenham, vida em plenitude. Esforço-me para que meu modo de Ser e Agir envolva e anime a vocação cristã, com os quais eu trabalho. Creio que meu sacerdócio se sustenta na medida em que estou em comunhão com os demais cristãos e na Eucaristia. Tenho plena convicção de que a vida humana é, ao mesmo tempo, “vida humana” e “Vida divina”. Vou cultivar um grande sentido de pertença à Família Salvatoriana. Meu sacerdócio se sustenta com a graça de Deus e pela comunhão com seu povo.

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Nestes 40 anos de serviço à Igreja, quero renovar o meu sacerdócio, procurando vivenciar o mesmo lema que me orientou desde a minha ordenação até os meus 25 anos de Religioso Salvatoriano:

“QUE TODOS SEJAM UM!” (JO 17,11)


/infantil

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