Revista Missão Salvatoriana - Outubro / Novembro / Dezembro de 2021.

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/editorial BEM-VINDO, QUERIDO LEITOR DA MISSÃO! Chegamos à nossa última publicação do ano. O ano de 2021 foi e vem sendo um período desafiador, mas também vem marcando a transição para retornarmos à nossa vida pré-pandemia. Agradecemos por Deus se fazer presente em todos os momentos até aqui. Muitos já foram os desafios da Igreja ao longo da história, como os vividos durante as grandes revoluções, como tão bem nos aponta a Irmã Dulcelene Ceccato nesta edição. Pouco a pouco as pessoas voltam a frequentar a casa de Deus, mas não vamos nos esquecer da grande lição desta marcante passagem na vida de todos nós: a igreja mora também em nossas casas e em nossa família. Vamos cultivar esta ideia entre os nossos e permitir que Jesus viva sempre em todos os corações, principalmente na comemoração do seu nascimento. Pe. Fernando Vitorino Rizzardo, sds nos traz uma profunda reflexão sobre o real sentido do Natal que nos chama a repensar e a proclamar que o consumismo não é o objetivo desta data, mas sim o eterno renascimento de um Cristo que vive e reina para sempre. Por último, mas não menos importante, Pe. Bruno Retore, sds, nos relembra a chegada dos primeiros salvatorianos ao Rio de Janeiro, onde hoje se situa a comunidade Salvatoriana da Piedade. São muitos motivos para agradecer por esta bela obra realizada. Com este sentimento, pedimos a Deus que 2022 seja um ano abençoado. Com um abraço fraterno, desejamos um feliz Natal e um iluminado Ano Novo. Boa leitura!

/sumário /3 Palavra do Provincial /4 Pe. Jordan /6 Geral /8 Educação /9 Juventude /10 Principal /12 Igreja /13 Comunicação /14 Espiritualidade /16 Comunidades /19 Infantil

/expediente

Provincial: Pe. Francisco Sydney Macêdo Gonçalves, sds Editor: Pe. Carlos Jobed Malaquias Saraiva, sds As matérias não assinadas são de responsabilidade do editor

SUGESTÃO DE CONTEÚDO redacao@agenciaarcanjo.com.br www.agenciaarcanjo.com.br facebook.com/agenciaarcanjo 47 3227-6640

EDIÇÃO Raissa Lemos Rocha DIAGRAMAÇÃO Letícia Sales REVISÃO Stella Bousfield

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/palavra do provincial

Pe. Francisco Sydney de Macêdo Gonçalves, sds

Estimado Leitor. Na edição de Abril/Maio/Junho de 2020, prometi que nas edições seguintes traria sempre um texto bíblico que inspirara o Bem-aventurado Francisco Jordan no seu projeto de fundar a Sociedade Apostólica Instrutiva (SAI). O Bem-aventurado Francisco Jordan tinha um contato diário e frequente com a Palavra de Deus. Encontramos em seu diário espiritual inúmeras citações bíblicas. Sabemos que a Bíblia era sua companheira nos momentos de oração. No ano de 1880, a pedido da Congregação para a Propagação da Fé, ele foi à Terra Santa e nesta viagem teve contato com várias autoridades eclesiásticas, entre elas Dom Guilherme Massaia. Em um dos momentos em que esteve com ele, aproveitou a oportunidade para falar sobre as suas inquietações e o que sentira quando esteve no Santo Sepulcro. No dia 31 de julho de 1880, ao retornar a Roma, o Bem-aventurado Francisco Jordan escreveu a Dom Massaia e entregou o rascunho dos Estatutos da futura fundação, isto é, da SAI. Um dos textos bíblicos indicados que inspirava a fundação era extraído de Daniel 12,3 que diz: “Os que são esclarecidos resplandecerão como resplendor do firmamento, e os que tiverem ensinado a muitos a justiça, hão de ser como as estrelas por toda a eternidade”. Encontramos também a seguinte informação: “Intenção da Sociedade: para que ela prospere muito, para que

propague por toda a parte e para que prospere de maneira significativa para a glória de Deus onipotente e para a salvação das almas”. Podemos identificar na citação de Dn 12,3 o quanto é importante a dimensão de ensinar. Aqui não é um ensino que passa pelas cadeiras de salas de aulas, encontramos aqui uma preocupação com os valores que levem a pessoa a fazer o encontro com Deus que se manifesta na justiça. Olhando o Primeiro Testamento, encontramos um Deus que defende a dimensão da justiça, e ao olhar a prática de Jesus, a questão da justiça continua presente. Não é possível falar de Deus sem incluir a justiça.

O Bem-aventurado Francisco Jordan entendeu perfeitamente que quem abraçar a vocação salvatoriana terá que incluir na pauta do dia a justiça como elemento inseparável da nossa vida cotidiana. Bemaventurado Francisco Jordan, rogai por nós.

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/Pe. Jordan

Às revoluções e seus reflexos para Igreja Católica

Irmã Dulcelene Ceccato

Uma missão que não é uma ideia, um sonho

nascia o Estado democrático. A Revolução, porém,

nas nuvens, mas é precisa, situada e temporal.

foi extremamente anticlerical e anticatólica, exigindo

Jordan nasceu no sul da Alemanha em 1848, mas a

a separação radical entre coroa e altar e substituindo

situação desse século não começa com o nascimento

a religião pela razão. Para se ter uma ideia da

dele, mas muito antes, pois o clima geral cultural e

hostilidade com a religião, sobretudo a católica, no dia

religioso sempre precedem a nossa existência. Tanto

20 de novembro de 1793 os movimentos anticristãos

ele quanto Teresa von Wüllenweber(1833-1907),

entronizaram a “deusa razão” na Catedral de Notre

a primeira mulher e leiga que aderiu ao seu projeto

Dame, em Paris.

com compromissos em 1882. Embora tivessem 42 anos de diferença em idade, eles experienciaram uma

A influência desta revolução se universalizou

mesma situação histórica, que iniciou em 1789 com

globalmente e teve consequências mundiais, como por

o desencadeamento da Revolução Francesa. Ela foi

exemplo, a liberação dos escravos, as revoluções de

movida por ideias Iluministas, ou seja, a crença absoluta

independência nas Américas, o nascimento de formas

na razão humana, no direito natural, na igualdade entre

de democracia, o estabelecimento de Constituições

todos os homens, já que a sociedade daquele tempo

dos Estados. Para a Igreja, essa revolução só encontrou

era dividida constitucionalmente em classes (reis,

um desfecho em 1965, com a conclusão do Concílio

príncipes, nobres, senhores feudais, povo sem posses

Ecumênico Vaticano II. Ora, Jordan e Teresa viveram

nem direitos...). A revolução instituiu a Modernidade

bem depois da Revolução Francesa, mas dentro das

em todas as dimensões e, consequentemente, na

mudanças sociais, políticas, econômicas, ético-morais

Igreja, que até então era uma espécie de plataforma

e, sobretudo, religiosas e para o catolicismo, que a

de todo o acontecer social – herança do sistema

Revolução desencadeou. Dois eventos eclesiais que

medieval. Por isso, a revolução foi uma reivindicação

buscaram resolver a grande crise destes 200 anos

de “liberdade” de toda e qualquer forma de imposição

foram os Concílios: Concílio Vaticano I (1869-1870) e

de governo como eram as monarquias nesse período

o Concílio Vaticano II (1960-1965).

e também da liberdade individual, o livre arbítrio. Era uma reivindicação da “igualdade” movida pela autoconsciência dos direitos de cada pessoa frente às divisões de classe e de “fraternidade”, pois

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Jordan e Teresa viveram durante o primeiro e antes do segundo, o que quer dizer que participaram desse movimento de gestação do que a Igreja é hoje.


/Pe. Jordan

O que esse contexto tem a ver com o chamado apostólico de Jordan e Teresa? No Séc. XIX, quando houve uma imensa

A Igreja era o centro da vida pública no séc. XIX

o

e, de muitos modos e muitas maneiras, esforços

desenvolvimento das tecnologias industriais e de

pastorais, caritativos e políticos, bem como

comunicação (a imprensa, os carros, as máquinas,

iniciativas de educação de adultos dentro e fora

etc.) que movimentou o comportamento ético-

da paróquia estavam entrelaçados. A situação de

moral das pessoas, a sua vivência da fé e todas as

trabalho era miserável, faltava proteção legal e o

dimensões da vida. As pessoas que viviam num

seguro social prometido arrastou para a miséria

modelo de vida ainda agrícola, viam-se agora

muitas famílias de trabalhadores. A saúde dos

obrigadas a migrar para os arredores de fábricas,

jovens trabalhadores estava longe do desejável.

de onde surgiam as cidades. A vida de operários,

Em 1874, somente 420 dos 2.888 jovens homens

adultos, jovens e crianças foi assim descrita por

trabalhadores foram considerados aptos ao serviço

uma historiadora salvatoriana, Ir. Helene Vecker:

militar. 192 foram completamente liberados. Os

revolução

cultural

na

Europa

com

que restaram foram mandados de volta depois de das ciências naturais e tecnológicas que

um ano, por razões de fraqueza ou enfermidades.

mudavam as relações do trabalho, produção e

Doenças frequentemente têm a ver com pobreza.

consumo; da democracia; da expansão econômica;

Associações religiosas, Comunidades e Comitês

de um novo modelo político dos Estados; do

para os Pobres buscaram remediar a situação.

empoderamento e legitimação da sociedade

Crianças trabalhadoras eram uma das mais

civil e secular; da secularização das instituições;

sérias consequências da calamidade social no

da crítica filosófica radical à cultura e também à

Séc. XIX. Mais do que para o trabalho feminino,

religião; do aparecimento do ateísmo, etc. Frente

isso significava danos extremos e exploração dos

a essas transformações imensas, ele se deu conta

envolvidos. Necessidade econômica e disposições

do despreparo religioso, moral, cultural e da

legais inadequadas impuseram limites rígidos à

consciência crítica, seja do povo em geral como

guerra contra o trabalho infantil.” (SHS, Neuwerk.

da Igreja. Esta, por sua vez, ameaçada de ser

Therese von Wüllenweber 1876-1888, p. 26).

reduzida pelo nacionalismo.

Assim é descrita a realidade no período em que Teresa toma a decisão de deixar o Castelo de

“A revolução industrial chegou em Myllendonk entre 1860 e 1870, quando um certo número de

Myllendonk para se estabelecer no Instituto Santa Bárbara, em Neuwerk.

negócios se estabeleceu nos arredores da cidade. P R O V Í N C I A S A LV AT O R I A N A B R A S I L E I R A

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/geral

Testemunhos

PE. SAMUEL ALVES CRUZ, SDS Pároco – Paróquia Nossa Senhora Aparecida Moema – São Paulo, SP A minha vocação nasceu do testemunho dos religiosos salvatorianos que trabalhavam na minha cidade natal, Barbalha-CE, aonde administravam a Paróquia Santo Antônio e o Colégio Santo Antônio. Eram eles: Padre Paulo de Sá Gurgel, SDS; Pe. Renato João Simoneto, SDS e o Pe. Agostinho Mascarenhas, SDS. Quando fui com minha tia Diva conversar com o então pároco, Pe. Renato Simoneto, SDS, sobre a minha vocação e o desejo de entrar para o seminário, recebi dele o total apoio, a ponto de ele conversar com o Padre Paulo de Sá Gurgel, SDS, na época diretor do Colégio Santo Antônio, a fim de me conceder uma bolsa de estudos para que eu cursasse o ensino médio no colégio dirigido por eles. Durante os três anos em que conclui a educação básica, fui conhecendo mais sobre o carisma, missão e espiritualidade da Família Salvatoriana, e no ano de 2000 entrei para o seminário em Fortaleza-CE, sendo acolhido pelo Pe. Álvaro Macagnan, SDS, que na época era o reitor do Instituto Mãe do Salvador. Fiz a minha profissão religiosa na Sociedade do Divino Salvador no dia 29 de janeiro de 2005, em Conchas-SP e fui ordenado presbítero no dia 09 de janeiro de 2010 em Barbalha Ceará. Hoje sou religioso salvatoriano há 16 anos e padre há quase 12 anos. Sou grato a Deus pela minha vocação e por Ele, em sua infinita bondade e providência, ter permitido que eu me realizasse enquanto pessoa, cristão e presbítero, na Sociedade do Divino Salvador, através da Província Salvatoriana Brasileira.

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/geral

PE. EDGAR AUGUSTO CASALLAS SAAVEDRA, SDS Reitor do Instituto Doze Apóstolos Aos 18 anos de idade, na cidade de Bogotá (Colômbia), tive a alegria de conhecer os padres e irmãos salvatorianos e, através deles, o carisma de Padre Jordan. Esse encontro mudou minha vida radicalmente. Por isso, resolvi fazer uma experiência vocacional, a fim de aprofundar nesse carisma tão encantador que é tornar Jesus Cristo conhecido e amado. No ano de 2010 fiz o noviciado em Manizales e após conclusão da Teologia e ordenação sacerdotal fui enviado ao Brasil para servir a sociedade como Formador na Casa Internacional de Teologia. Sou grato a Deus por todas as maravilhas que tem realizado em minha vida.

PE. JOSÉ RENÁRIO DOS SANTOS SILVA, SDS Superior da Missão em Coelho Neto, MA O carisma salvatoriano já é parte integrante da Vida Espiritual do povo de nossa Missão Salvatoriana em terras maranhenses. São mais de 20 anos de evangelização. Por essas terras passaram vários salvatorianos anunciando o Salvador, graças ao carisma deixado pelo o Bem-aventurado Francisco Maria da Cruz Jordan. Marcando a espiritualidade dos nossos leigos e formação de lideranças e espiritual, eles se tornam lideranças dentro de nossas comunidades no contexto em que a presença de Religiosos Consagrados torna-se cada vez menor. A partir desta realidade percebemos a força que tem o nosso Carisma de envolver a todos na Missão do Salvador, que é a missão da igreja. Hoje nossa missão tem muitos líderes que exercem diversos serviços nas pastorais e movimentos de nossas comunidades, sendo uma força viva e ativa que testemunha o Reino de Deus. Neste contexto só temos que render graças a Deus pelos frutos colhidos que continuemos fiéis ao carisma Salvatoriano inserido nas diversas realidades de nossa Província brasileira.

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/geral

PE. CÉLIO ROBERTO DOS SANTOS, SDS Vice-Superior da Região - Missão Moçambique “Eu sou todo vosso, ó minha Rainha e minha Mãe, e tudo quanto tenho vos pertence”. É com este espírito que partilho-vos um pouco da minha vida. Em toda a minha caminhada, sempre tive a presença da Virgem Maria na estrada da Igreja. Isto foi o que me fortaleceu e segue fortalecendo na vivência do meu Batismo. Para mim, primeiro católico de minha família, viver o Batismo na dimensão evangelizadora, porta afora da Igreja, era uma prática de minha região, no sul do Estado de Pernambuco. Uma igreja dinâmica que colocava crianças, jovens e adultos no mesmo seguimento. Ao deparar-me com a pessoa do Beato Francisco Jordan, sentia que ardia muito este mesmo sentimento, de liderar o laicato com desejo de missão. Muita gente na Igreja pensa que missão é o lugar físico ou o lugar pobre e que devemos levar Jesus naquele lugar. Na verdade, a missão é o nosso Batismo – ‘’Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo’’ – por tanto, cabe à cada um de nós sermos Discípulos-Missionários para o Reino de Deus acontecer entre nós. Vamos adiante povo de Deus! Sejamos todos Missionários sem medo! Saiamos de nossas casas, de nossa segurança e vamos ao encontro do Cristo que nos espera como Irmãos. Deus lhes abençoe abundantemente!

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/educação

A missão de educar com os desafios da atualidade. Por José Augusto Neto Núcleo de Formação Humana e Apostolado

Ensinai todos os povos, especialmente os pequeninos, a conhecer o Deus verdadeiro e aquele que Ele enviou, Jesus Cristo” (Regras de 1884). Ensinar, instruir, educar são, em certa medida, sinônimos de uma mesma missão compreendida pelo Bem-Aventurado Francisco Jordan como essencial para romper com a ignorância e proporcionar uma verdadeira e profunda experiência de Deus. Ainda sob a perspectiva teológica é possível encontrar uma identificação entre os termos Conhecer e Experimentar, os quais se apresentam enquanto ponto de partida para um caminho de vivências e práticas orientadas pelo amor. Conforme propõe o Papa Bento XVI, “no início do ser cristão não há uma decisão ética, ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”. Nesse contexto, cabe à escola salvatoriana ser um espaço não apenas do conhecimento intelectual e científico, mas, sobretudo, um lugar que proporcione a experiência do encontro com Deus. Mais que isso, interpõe-se o desafio de propiciar condições para a manutenção dessa experiência e o favorecimento do dinamismo espiritual próprios de uma vivência do cristianismo em suas dimensões mais basilares, a saber, a comunidade e a missionariedade. No entanto, os desafios de nosso tempo podem ser muito contrários àquilo nos propomos. Como diz Papa Francisco, “o grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do

coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes. Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida. Esta não é a escolha duma vida digna e plena, este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado” (Evangelii Gaudium, 2). Asseverado pelas condições que se estabeleceram com a pandemia, o diagnóstico proposto pelo Papa nos leva a uma vez mais reconhecer em Jordan nossa inspiração para um projeto educativo cada vez mais necessário em sua razão de ser. Estamos convictos de que devemos seguir acreditando nas potencialidades do ser humano, de que podemos instruí-lo na sua constituição solidária, e, acima de tudo, que ele possa refletir os valores do Reino na sociedade que ela passa a compor.

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/juventude

A comunicação Católica e o documento 99 da CNBB No decorrer dos séculos, a comunicação enfrentou diversas transformações e os avanços tecnológicos permitiram o desenvolvimento na transmissão das mensagens por meio das ferramentas comunicacionais. Para cada avanço na comunicação, a Igreja lançava documentos referentes à cada época. Da Era Apostólica até o surgimento da imprensa, puderam ser identificados 87 documentos oficiais, entre eles, os principais são: Inter Mutiplices (1487); Vigilanti Cura (1930); Meios Especiais de Propaganda (1955); Miranda Prorsus (1957); Inter Mirifica (1963); Documento de Medelin (1968); Communio et Progressio (1971); Documento de Puebla (1979); Aetatis Novae (1992); Documento de Santo Domingo (1992) e Documentos da CNBB (1997- 2014). Somente a partir do Concílio Vaticano II, no qual foi lançado o Inter Mirifica, que a Igreja passou a reconhecer e confirmar que os meios de comunicação são meios de anunciação e devem colocar-se a serviço da ação de evangelização da Igreja. No documento mais recente, o Diretório de Comunicação, que foi aprovado no dia 13/03/2014 na 83ª Reunião Ordinária do Conselho Permanente, tem como objetivo fazer um aprofundamento dos conhecimentos sobre a importância da comunicação não só na vida eclesial, nos processos evangelizadores, mas também, no dia a dia, na convivência social, visando às constantes transformações que acontecem no mundo. Composto por 10 capítulos e divididos em 270 artigos, o Diretório busca mostrar e motivar a Igreja em suas ações evangelizadoras e na sua relação com a comunidade humana na “cultura do encontro”, assim como foi proposto pelo Papa Francisco. Cada tema abordado procura dar conta dos diferentes aspectos de manifestações comunicativas relacionadas à prática pastoral e à cultura da comunicação. Em um de seus artigos, ele reflete bem sobre a “nova evangelização na cultura digital”, que a presença da Igreja nesse âmbito é incentivada por ser um lugar de partilha e anúncio do Evangelho. Essas novas tecnologias permitem que seja possível um encontro além das fronteiras. Contudo, faz questão de ressaltar que essa presença cristã se caracterize primeiramente na escuta atenta, sensível e crítica, pois, eles são chamados a participar dessas relações sociodigitais, a ponto de ouvir o ser humano em suas diversas situações, culturas e tradições.

“Para evangelizar na sociedade contemporânea, é indispensável compreender as novas linguagens e práticas vivenciadas, a fim de inculturar a mensagem do Evangelho na cultura digital” (DIRETÓRIO, 2014, p. 117).

Dalila Lima Jornalista

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Ser Igreja, Povo de Deus, em nossos dias é algo desafiador. É provocante, não porque temos que inovar constantemente ou criar uma nova forma de ser igreja, mas sim, porque devemos voltar, a exemplo dos primeiros cristãos, a viver uma Igreja doméstica e em saída. Sem medo! Com a Pandemia, que afetou o mundo através do vírus comumente chamado Covid-19, nos fechamos em nossas casas, os templos encerraram suas atividades presenciais, tudo isso para que um menor número de pessoas fosse contaminado. Porém, Deus não se fechou, Ele não se isolou! Continuou e continua a nos visitar e a nos chamar insistentemente! Nos chama a ser Igreja. Uma Igreja viva! Hoje, com o avanço das vacinas, nossas comunidades começam a se organizar em pequenos grupos pastorais, o que é muito bom. Porém, não devemos perder a experiência que tivemos nesses tempos de reclusão: o incentivo às orações em família, a fraternidade entre os irmãos, a sensibilidade com os que sofrem. A solidariedade que Cristo tanto nos ensinou. Voltemos aos templos sem esquecer que a vida prática acontece nas pequenas comunidades: trabalho, casa, escola, universidade. Sejamos anunciadores da Boa-Nova que se atualiza diariamente em todos os lugares. Sempre é tempo de salvação, mesmo que o nosso entorno sugira o contrário.

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Devemos recordar que nos primeiros séculos do cristianismo os cristãos se reuniam em pequenos grupos, geralmente em uma casa e ali assumiam sua fé de forma radical, sem reservas, para que a salvação chegasse a todos. Viviam com amor e solidariedade. Como nos lembra o Beato Francisco Jordan: “vocês podem pregar longamente, mas nada conseguirão se não despertarem o amor dos ouvintes.” Neste tempo tão complexo e histórico que estamos vivendo, o que fará com que nossos apostolados continuem sendo credíveis e libertadores é o amor. O amor pela Santa Igreja de Cristo através de nossa vocação, guiada pelo Divino Mestre, seja qual ela for! O papa Francisco compara a Igreja como um rio que corre na história, desenvolve-se e irriga. É isso que a Igreja faz conosco: ela nos fortalece, nos alimenta e nos envia. Contudo, ser igreja é desafiador e maravilhoso, justamente porque anunciamos o Cristo, nosso salvador. Ele faz questão de caminhar conosco, de ajudar a carregar nossas pesadas cruzes do dia a dia, nos afasta das ilusões e nos ajuda a encontrar o verdadeiro sentido da vida. Para nós, cristãos, não há outro caminho de salvação a não ser Cristo. Se quisermos ser Igreja viva, devemos trilhar os caminhos de Jesus, assumindo nossas cruzes, com a certeza de que seremos salvos. Assim nos anima o Beato Francisco Jordan a sermos igreja: “Não pensem que vocês possam conduzir as almas para o céu, seguindo outro caminho que não aquele seguido por Jesus Cristo, a Verdade

Eterna. Portanto, se vocês querem conduzir almas imortais para lá, então deverão percorrer este caminho divino, sendo seguidores e discípulos do crucificado, trazendo estampado no coração, e refletindo em seu pensar e agir o Crucificado, de modo a não serem mais vocês que agem, mas Cristo em vocês.” Ser igreja nos tempos hodiernos é mais do que inovar, é anunciar o Crucificado, dotado de um amor capaz de tudo. É ele que devemos anunciar, viver e amar. Ser igreja em tempos de paz, de pandemia, de guerra é ter esperança em Deus. Crer que Ele não nos abandona, e assim exclamar como o salmista: “O Senhor é a minha rocha, a minha cidadela, o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo em que me refugio; o meu escudo, a força da minha salvação, o meu baluarte.” (Salmos 18,2) Façamos ecoar nos corações das pessoas que nos circulam a Palavra de Deus, para que as preocupações, ocupações e medos não ofusquem a mensagem libertadora. O Evangelho e a Eucaristia são e sempre serão os melhores instrumentos para o bem-estar da humanidade. Não tenhamos receio de ser Igreja, testemunhemos a salvação que vem de Deus, que nos ama e nos acolhe. Assim nos exorta nosso fundador: “O testemunho é o meio mais necessário para a eficácia apostólica. É também o mais simples, visto que cada um pode fazer uso dele em seu ofício, em qualquer tempo e lugar, quer esteja com saúde, quer enfermo, dentro de casa, em qualquer circunstância.”

Sem medo sejamos sinal do amor de Deus. Assumamos a Cruz de Cristo e testemunhemos seu amor.

Jn. Claudio da Silva Serralheiro, sds

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/igreja

Sínodo dos Bispos: para uma Igreja Sinodal. Comunhão, participação e missão. Em outubro deste ano, 2021, a Igreja de Jesus Cristo iniciará um processo preparatório no mundo inteiro que culminará na realização de mais um Sínodo com a finalidade de traçar de maneira mais eficaz sua ação evangelizadora nos desafios dos tempos atuais. Terá início nos dias 9-10 de outubro, em Roma, e a 17 de outubro, iniciará em cada uma das Igrejas particulares. Vale ressaltar que um Sínodo significa uma reunião da Igreja, conduzida por seus pastores, com o intuito de estudar e projetar um tema de relevância pastoral. O tema em estudo será a sinodalidade. Este processo preparatório irá desembocar na celebração da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2023, seguido pela execução de suas decisões por suas Igrejas particulares. O estudo do documento preparatório e a partilha de sua proposta serão feitos por todos os organismos de nossa Igreja: pastorais, movimentos, serviços, comunidades, etc.

Para o Papa Francisco, “O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio” (Discurso na comemoração do cinquentenário da instituição do Sínodo dos Bispos, em 17 de outubro de 2015).

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/igreja

É evidente que, a partir das palavras do Papa, o mesmo esteja nos direcionando como Igreja, a necessidade de traçarmos um caminho conjunto, onde refletimos juntos como Igreja os desafios de nossa missão bem como projetamos nossas ações comuns considerando que devemos unir nossas diferenças pelo princípio da unidade e da comunhão fraterna. O título do Sínodo já nos remete a esta realidade. Comungarmos do Projeto de Jesus Cristo, vivermos em comunhão fraterna, participando com nossos dons do serviço ao Reino de Deus e assumindo na fidelidade a missão deixada pelo Divino Salvador. A palavra sinodalidade significa “caminhar junto”, daí nos remete a própria necessidade e objetivo da realização dos diversos sínodos na vida da Igreja. Podemos nos recordar dos últimos, sobre a família e a juventude. A grande interrogação que este próximo sínodo nos traz é: como podemos encontrar caminhos juntos diante de nossas diversidades de expressões? Como se realiza hoje, a diferentes níveis, do local ao universal, o “caminhar junto”? Quais desafios, horizontes, possibilidades, etc, devemos considerar? Que este momento vivenciado pela Igreja seja repleto da ação do Espírito Santo, como um Kairós para nós, uma experiência vivificadora da unidade e da comunhão, e que de fato toda essa reflexão nos possibilite um anúncio do Evangelho a partir da leitura dos sinais dos tempos atuais. Por uma Igreja da comunhão, da participação e da missão.

Pe. Carlos Jobed Malaquias Saraiva, sds

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/espiritualidade

O natal do Salvador

Pe. Fernando Vitorino Rizzardo, sds

Estamos próximos de mais um Natal. Toda festa para ser boa precisa ser preparada para que os convivas celebrem bem e com sentido. Uma boa festa, em grande parte, depende de uma boa preparação. Cada uma, por sua vez, tem seu clima, seu espírito. É sobre este “espírito”, ou “clima” que eu quero partilhar algumas palavras. Lembro que a celebração propriamente dita é fruto de uma boa preparação. Por fim temos a pós-festa. E o resultado que provocou a festa em movimento são todos os dinamismos da história. É, pois, o dinamismo de toda história propriamente dita. Contém em toda a celebração o ‘antes” e o ‘depois’. Assim, a história se faz. Temos o tempo do Advento, que é um tempo específico de preparação e espera ativa da vinda de Jesus Cristo, o Salvador. Com a celebração do Natal fazemos memória da vinda do Senhor, da sua manifestação na fragilidade da carne. Para nós, salvatorianos, é a festa maior, pois celebramos o nascimento daquele que nos dá o próprio nome. A nossa identidade última, como religiosos “Salvatorianos”. O nosso fundador nos diz:

O nosso fundador nos diz: “alegrem-se por trazerem o nome salvatoriano...peçam insistentemente que o Salvador Nos dê vigor e fortaleza para cumprirmos a nossa missão” (Palavras e Exortações, Alocução de 22/12/1899). Sabemos o que é uma festa de aniversário! Nela quem ocupa o lugar central é a pessoa do aniversariante. Todos vão a ele e lhe damos um abraço caloroso, lhe desejamos os mais sinceros votos de felicidades e longa vida. Enfim, renovamos e empenhamos decididamente nossa aliança de amizade com quem amamos e está aniversariando. Na festa do aniversário do Salvador do mundo, nós vamos com o espírito de nos envolver, acolher e nos alegrar com Aquele que não só “está de aniversário”, mas se fez o meu Salvador, o nosso Salvador, veio ser o Emanuel, ou seja, o “DeusConosco”. Penso que devemos estar vigilantes para não fazermos uma bela festa, uma suculenta ceia e esquecermos o Aniversariante! Então, qual é o espírito que nos anima para o Natal?

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/espiritualidade

O espírito do Natal é exatamente o oposto do espírito dominante na cultura atual, que é um espírito marcado pelo consumo, pelo mercado, pela concorrência, pela compra, pelo negócio, pelo interesse. Um espírito que transforma tudo em mercadoria, do sexo até o próprio Deus! O Natal acaba se tornando “um produto a ser vendido” e o dia Santo acaba se tornando mais um “feriadão”. O Natal deixou de ser uma festa de família, o fim das festanças dos mitos acabados, fruto de sua própria violência; vão contar e provar os familiares que se perderam na droga, e na absoluta falta de respeito a guerras das drogas, das mortes encomendadas pela falta de condições com a nenhum cuidado e educados dos cuidadores com as quais se tornam sinal de morte e de vida que mata a própria vida.

Tudo isso é Deus na nossa carne mortal. Um Deus que o encontramos dentro de nós, onde podemos buscá-lo na nossa interioridade, onde ele, um dia, penetrou e de onde nunca mais saiu, fazendo-nos filhos e filhas semelhantes a seu filho, Jesus.

O Natal vive da gratuidade, da doação, da singeleza, da convivialidade, do dom de se fazer presente ao outro. Vive da alegria de ver uma vida nascendo, porque não pode haver tristeza quando nasce a vida. O Natal nos faz sentir que a criança que está aí na manjedoura somos nós, fundamentalmente. Porque há em nós uma dimensão de criança dourada, o Divino Infante, que nunca se perdeu e que permanece, para além de nossa idade adulta e mercantilizada, implorando seu direito de entender a vida também como algo lúdico, leve, algo que vale por si.

Este me parece ser o espírito com o qual preparamos o Natal verdadeiro, onde o aniversariante é o personagem principal. Reservemos, portanto, entre as tantas comemorações próprias desse tempo, um espaço e tempo para essa espiritualidade que será capaz de provocar em nós uma mudança interior. Assim, terá sentido nossa ceia, nossos cartões de natal, nossos gestos de fraternidade, nossos votos de boas festas. Se nos deixarmos encantar por essa criança indefesa e humilde, que é o próprio Deus no meio de nós, fazendo-se um de nós, para ser o nosso Salvador.

O Natal quer ressuscitar em nós essa dimensão espiritual, quer anunciar que Deus se acercou de nós. Ele se aproximou na forma de uma criança pobre, que nasce num subúrbio, no meio de animais. Para que ninguém se sinta distante Dele, para que todos possam experimentar o sentimento de ternura que desperta uma criança que queremos carregar no colo e sobre a qual nos dobramos maravilhados. Este é o caminho que Deus escolheu para acercarse de nós, sendo solidário, fazendo-se um de nós; trabalhando como nós, chorando a tristeza de perder o amigo Lázaro, entretendo-se numa bela amizade com Marta e Maria, enchendo-se de ira sagrada quando viu seu Templo transformado num mercado, mas também se enchendo de indizível ternura, abraçando as crianças.

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R E V I S TA M I S S Ã O S A LV AT O R I A N A

Este me parece ser o espírito, o significado do Natal. Em um mundo altamente conflitivo, ameaçado de todas as partes, podemos nos reunir e dizer: “Agora não, agora vamos festejar, vamos comer, vamos ser todos irmãos e irmãs, vamos acender a luz na convicção de que a luz tem mais direito do que todas as trevas. Fazemos tudo isso por causa Dele, Jesus, o Filho bem-amado, porque somos irmãos e irmãs Dele, também filhos e filhas bem-amados”.

Feliz Natal!


/comunidades

Comunidade Salvatoriana da Piedade, Rio de Janeiro, RJ. Os Salvatorianos vieram ao Brasil sob as bênçãos do Pe. Francisco Maria da Cruz Jordan, para trazer a Boa-Nova do Divino Salvador e torná-Lo conhecido, admirado e acolhido. Assim, chegaram os primeiros padres, a partir do insistente convite de Dom Francisco do Rego Maia, feito várias vezes ao Padre Jordan. Vieram com o Dom Francisco, dois padres, um italiano e um alemão, partindo no dia 10 de outubro de 1896 rumo ao Brasil, Rio de Janeiro, estabelecendo-se em Quatis-RJ. Em abril de 1897, chegaram mais um padre e um irmão, e em outono daquele mesmo ano, veio mais um padre. Todo início vem acompanhado também por dificuldades, e estas não foram poucas. Mesmo assim, o Pe. Jordan envia mais três sacerdotes, em 1899.

Comunidade em 1908

Residência em 1910

Pe. Bruno Retore, sds.

Infelizmente a primeira tentativa de fixação dos Salvatorianos não atingiu o sonho sonhado pelo Pe. Jordan. A Providência Divina certamente tinha outros planos. Há um relato inicial em “Jubileu de Ouro da Congregação do Divino Salvador no Brasil” que merece ser transcrito. “No dia 12 de outubro de 1901, deixava a Casa-Mãe de Roma, rumo ao Brasil, o Pe. Felisberto Schubert, sds. Moço e genuinamente formado nos moldes do Fundador, o Pe. Felisberto fora o homem escolhido para transplantar para a nossa terra um pequeno ramo da grande e sobranceira árvore, que é, atualmente, a Congregação do Divino Salvador”. “Munido apenas do indispensável, com a confiança inteiramente posta em Deus e na santa bênção do Fundador, o jovem salvatoriano embarca em Gênova, no dia 14 de outubro. Sem interrupção, o vapor vai direto a Santos, onde desembarca a 4 de novembro do mesmo ano. No dia 7 do mesmo mês de novembro embarca com destino ao Rio. De lá, sem se demorar, segue direto para Petrópolis, com uma carta de recomendação do Fundador para um amigo seu de Roma, o Guardião do Convento de São Francisco de Petrópolis. Lá foi recebido de braços abertos”. “Pouco depois, o Pe. Felisberto procura Dom Francisco do Rêgo Maia, grande amigo da Congregação e autor do convite para estabelecimento dos Salvatorianos no Brasil”. “... convida o jovem sacerdote salvatoriano para residir no Palácio Episcopal, onde terá maiores facilidades para aprender a língua do País”. “As coisas estavam nesse pé, quando, um dia, aparece em Petrópolis, em visita a Dom Rêgo Maia, o Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Joaquim Arcoverde. O nobre Príncipe da Igreja, sabedor da situação em que se encontra o Pe. Felisberto, o convida para a sua Arquidiocese. O Fundador, consultado por carta, dá o seu beneplácito. E aos 11 de setembro de 1902, o Pe. Felisberto deixa Petrópolis e desce ao Rio.

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/comunidades

Pe. Felisberto Schubert, sds

No dia 14 se apresenta ao Monsenhor Agostinho Francisco Benassi, vigário de São Francisco Xavier do Engenho Velho, no Rio, e que já conhecera em Petrópolis, onde o mesmo Monsenhor exercera as funções de Governador do Bispado, e onde já então se mostrara generoso benfeitor da Congregação”. ““Seria preciso estar a par das circunstâncias de então, para avaliar o montante das dificuldades a que o heroico sacerdote teve que fazer frente, sozinho, sem recursos e sem o conhecimento da língua do País. Todos estes trabalhos vieram temperar a alma do jovem sacerdote inexperiente e darlhe os conhecimentos necessários para a implantação da Congregação numa terra que, então, lhe era completamente desconhecida. Quanto à língua, seus progressos eram satisfatórios, ao menos para o vigário de Petrópolis, que o fez, então, proferir a primeira série de sermões quaresmais”. “Logo mais se viu o Pe. Felisberto na contingência de procurar um lugar mais próprio para estabelecer a primeira comunidade. O Pe. Fundador já anunciava aos novos religiosos que se deveriam juntar ao primeiro para a formação de uma Comunidade em Regra”. “... em abril de 1903, chega o primeiro reforço de mais um sacerdote. Em novembro do mesmo ano, chegou mais um sacerdote da Casa-Mãe de Roma. Os padres mudaram-se, pois para a chamada “Chácara do Vintém”, no fim da Rua Aguiar, onde moraram dois anos”. “... A escola progredia rapidamente e os padres viram-se então, ao fim de dois anos, na urgente necessidade de arranjar melhores condições. Alugaram então a “Chácara das Mangueiras” no princípio da Rua Conde do Bonfim. Ali instalaram um externato e um internato”. “... Novos reforços estavam demorando. O arcebispo, Dom Joaquim Arcoverde, embora satisfeitíssimo com a atividade dos Salvatorianos em Engenho Velho, lhes fez ver que os subúrbios andaram necessitados da assistência religiosa dos mesmos”. “Foi com dificuldade, e quase com lágrimas nos olhos, que Monsenhor Benassi consentiu na partida dos abnegados missionários, cujo labor apostólico ele tanto admirava”. “Em fins de novembro de 1905, estabeleceram-se os padres no Meier, na antiga Rua Imperial, hoje Aristides Caire, na Freguezia de Engenho Novo”. “... Nos tempos livres das labutas escolares, os padres se dedicavam ao serviço religioso nas capelas da paróquia de Inhaúma, que naquele tempo se estendia desde Todos os Santos até Cascadura, na zona suburbana, e de Bom Sucesso até quase a Penha, na zona da Leopoldina. Com o progresso do externato, viu-se logo a 18

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Piedade em 1932


/comunidades precariedade das instalações. Forçoso, foi procurar um lugar mais adequado e espaçoso. Para tanto foi comprado, na Piedade, em fins de 1907, o Palacete de Manoel Vitorino, ao lado da capela Nossa Senhora da Piedade, estação da Piedade”. “Estabelecida a Comunidade no novo prédio, continuaram as atividades do externato e a cura d’Almas”. “... Os padres eram sumamente estimados pelo povo. Eram visíveis as bênçãos de Deus sobre a nova fundação, que desde então, em caráter definitivo, começou a progredir rapidamente no subúrbio da Piedade, na Capital Federal”. A Missão crescia a olhos vistos e carecia algo de muita significação que desse sentido e razão de tanta abnegação e longe da Pátria Nativa que encurtasse o passado com o presente, que o mundo geográfico ficasse mais próximo e que unisse a Terra ao Céu. Assim surgiu a necessidade de se construir uma Igreja própria dedicada ao Divino Salvador sob a direção do Pe. Fidelis Both e foi inaugurada na Páscoa de 1912. Ao lado da Igreja foi construída e inaugurada em 17/10/1913 a nova residência dos padres.

Pe. Flávio Lima da Silva, sds

Em 19/06/1935, o Conselho Geral da Congregação, em Roma, criou a Província Salvatoriana Brasileira com Sede na Piedade até janeiro de 1946. Foram 19 anos com Sede da Província no Brasil na Comunidade da Piedade. A partir do início de 1947 o Provincialado foi transferido para Jundiaí, SP. A Comunidade Salvatoriana da Piedade do Rio de Janeiro, além de ser a origem e Sede da Província Salvatoriana Brasileira, abrigou o Noviciado nos anos de 1940 a 06/02/1944, quando foi transferido, desta vez, para o Sítio São José, Várzea Paulista, SP. Assim sendo, a tríplice casa religiosa salvatoriana, por quatro anos foi Comunidade Salvatoriana, Casa Provincial e Noviciado.

Pe. Arno Boesing, sds

A Comunidade Salvatoriana da Piedade do Rio de Janeiro desde a sua origem até o tempo presente tem uma característica ímpar e única. Ela é o berço dos Salvatorianos no Brasil, berço do nascimento da Província, casa hospitaleira e acolhedora de todos os confrades que aqui nasceram e viveram, e especialmente é acolhedora e hospitaleira dos primeiros missionários salvatorianos vindos do Além Fronteiras, e com muita gratidão e mérito aos Salvatorianos Alemães. Não só de trabalho apostólico vive o Cristão, mas também do lazer turístico que a Divina Providência contemplou com a exuberante e bela Natureza para o descanso e contemplação dos ‘divinos’ missionários salvatorianos que por lá passam para recarregar e refazer as baterias biológicas e espirituais. Os nossos confrades padres Arno Boesing, grande conhecedor da história salvatoriana e do Carisma Salvatoriana e Flávio Lima da Silva, grande e estimado pároco da Paróquia Divino Salvador são os missionários continuadores e guardiães da história iniciada lá no início com o envio dos primeiros missionários pelo Pe. Francisco Maria da Cruz Jordan. Outros virão para continuar a obra.

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