Revista Missão Salvatoriana - Julho / Agosto e Setembro de 2021

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/editorial BEM-VINDO, QUERIDO LEITOR DA MISSÃO! No mês de agosto, celebramos as vocações, por isso, conheça o primeiro capítulo do Estatuto Provincial Salvatoriano, que nos fala sobre vocação e missão salvatoriana. É o capítulo primeiro das constituições, posto em prática dentro da realidade de província salvatoriana brasileira. A Igreja está vivenciando em seu Calendário Litúrgico um momento celebrativo marcante e significativo para a fé cristã católica: o Ano da Família. Confira nossa matéria sobre o tema nas páginas 6 e 7. O Mês de Setembro é dedicado à Bíblia. Nós, cristãos católicos, nos empenhamos com esmero e maior apreço a lermos e a nos aprofundarmos no conhecimento da Palavra de Deus, para a santificação da Igreja e como Igreja nos aperfeiçoarmos na Missão e na prática da Caridade Evangélica. Veja detalhes sobre a matéria nas páginas 15 e 16. Veja nesta edição as implicações da Laudato si. A​​ Encíclica que trouxe a novidade de conclamar toda humanidade a cuidar do nosso planeta, a “Nossa Casa Comum”, fundamental para a existência humana e os demais seres vivos. Existe uma grande preocupação do Papa Francisco em “unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral”. Em virtude da Beatificação de Francisco Maria da Cruz, os educadores do Colégio Divino Salvador estão empenhados em uma nova e ainda mais profunda busca pela identidade salvatoriana. Confira na página 8. Veja ainda nesta edição o acompanhamento afetivo e efetivo dos diversos grupos, movimentos e expressões juvenis existentes na Igreja. De 12 a 16 de abril deste ano a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realizou, por via digital, devido à pandemia do novo coronavírus, a sua 58ª Assembleia Geral. Pela primeira vez, participou da Assembleia o novo Núncio Apostólico, o representante do Papa no Brasil, Dom Giambattista Diquattro. Confira na página 14. Boa leitura! 2

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/sumário /3 Palavra do Provincial /4 Pe. Jordan /6 Geral /8 Educação /9 Juventude /10 Principal /12 Igreja /13 Comunicação /14 Espiritualidade /16 Comunidades /17 Salvatorianos /19 Infantil

/expediente

Provincial: Pe. Francisco Sydney Macêdo Gonçalves, sds Editor: Pe. Carlos Jobed Malaquias Saraiva, sds As matérias não assinadas são de responsabilidade do editor

SUGESTÃO DE CONTÉUDO

redacao@agenciaarcanjo.com.br www.agenciaarcanjo.com.br facebook.com/agenciaarcanjo 47 3227-6640

EDIÇÃO Aline F S Oliveira DIAGRAMAÇÃO Carol Romão REVISÃO Ariane Miranda


/palavra do provincial

Estimado leitor, esta revista traz como tema central algo importante para todos nós, que é a vocação. Tendo presente que vocação vem da expressão latina“vocare” que em tradução livre é “chamado”, poderíamos dizer que precisamos saber quem chama. Unido a esta questão, também poderíamos nos perguntar para que nos chama. Para escutar o chamado é preciso silenciar para evitar ruídos na comunicação. Conforme havia prometido, escrevi um breve comentário sobre Mc 16,15, a partir da perspectiva do chamado. Quando convivemos com alguém, é natural que a sua voz fique familiar. Encontramos estudos científicos que apontam que a criança ainda no ventre materno escuta o que está no mundo exterior. No nosso caso, os apóstolos ainda não tinham escutado a voz do Mestre porque estavam ainda envolvidos pelo ambiente do medo que acontecesse com eles o que acontecera com Jesus, desiludidos porque esperavam que Jesus fosse instaurar o Reino a partir das suas expectativas. Enfim, muitas eram as razões que levavam os discípulos a viverem um ambiente de não escuta. Era preciso que eles estivessem reunidos para que Jesus aparecesse como ressuscitado e eles acreditassem, realmente, nos relatos já ouvidos de que Jesus já estava entre eles. Sabendo que Jesus já estava ressuscitado, o que cabia agora era entender o que Ele gostaria que fizessem. O Salvador deixa claro que quer reencontrá-los na Galileia, porque foi justamente neste ambiente que Jesus começou

a apresentar de maneira clara qual era a sua Missão. Portanto, os apóstolos deveriam largar tudo e ir ao encontro do Mestre, escutar o que Ele queria falar antes de voltar para o Pai. Na passagem bíblica de Mc 16,15, Jesus é claro: “Vão pelo mundo todo, proclamem o Evangelho a toda criatura”. Aqui Jesus não pede, Ele ordena. Ordenar aqui é o desejo de que toda a humanidade soubesse em que consiste o Evangelho, a boa nova. Acolher e viver a proposta de Jesus Cristo é garantir a salvação. Aderir à proposta de Cristo é tornarse livre de toda e qualquer amarra que impede o ser humano de reconhecer que Deus quer que todos tenham vida plena. Podemos dizer então que, enquanto batizados, somos chamados a ouvir o convite de Jesus Cristo para anunciá-lo em todas as partes como o nosso único Salvador. Que a exemplo do Bem-aventurado Francisco Jordan, anunciemos e chamemos outros que também anunciem Jesus Cristo como o Salvador do mundo.

Bem-aventurado Francisco Jordan, rogai por nós.

“VÃO PELO MUNDO TODO, PROCLAMEM O EVANGELHO A TODA CRIATURA”. MC 16,15 Pe. Francisco Sydney de Macêdo Gonçalves, sds Diretor Provincial

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/Pe. Jordan

Quero ser tua Vida “MEU FILHO, DÁ-ME TEU CORAÇÃO; PERMITE QUE SÓ EU REINE EM TI! QUERO SER TUA VIDA”

Por Pe. Cesar Barros, sds

Bem-Aventurado Francisco Jordan (DE I 13,2) Esta meditação encontramos no Diário Espiritual do

Entregar o coração unicamente a Deus não precisa

jovem Francisco Jordan, revelando seu profundo desejo

ser encarado como uma escolha dolorosa e sofrida.

de oferecer-se a Deus como instrumento para a salvação,

Nenhum jovem sai perdendo quando, a partir de sua

de entregar seu coração para que seja preenchido do

fé, escolhe amar profundamente. Aos poucos, a vida

amor de Deus. É a oração de um jovem que sente-se

encontra sentido em um grupo ou um projeto que

chamado por Deus a entregar toda a sua vida. É um

busca salvar vidas, de juntar-se a outros que entregam-

estudante que busca aprender para ensinar. É um jovem

se sem limites, que simplesmente sentem prazer em

católico que amou tanto sua Igreja que decidiu dedicar

servir. “Um coração entregue a Deus” nunca fica vazio

todas as suas energias para fortalecer a fé de todos os

porque aprende a reconhecer a presença de Deus nas

cristãos.

pessoas e nos acontecimentos, especialmente nos mais necessitados e sofredores. Um jovem que tem a coragem

É desse modo que os Salvatorianos e Salvatorianas, “a exemplo de nosso fundador, procuramos cumprir a

de entregar seu coração a Deus aprende a ser humilde, modesto e generoso.

vontade de Deus, sendo fiéis à Igreja em nossa maneira de ser e agir, e servindo aos outros com simplicidade e

Porém, somente existe caminho vocacional para

humildade. Assim manifestamos ao mundo a bondade

quem tem fé. O jovem que acredita no mistério de

e o amor de Deus, nosso Salvador”. (Constituições SDS

Deus e se confia nas mãos do Pai e em seus planos

106).

insondáveis e desconhecidos ouve o seu chamado. Porque é somente na fé que conseguimos amadurecer

É assim que os Salvatorianos procuram viver sua

e responder adequadamente ao chamado do Senhor.

vocação e sua entrega total à vontade de Deus. Todo

Quando uma vocação é fruto da fé, nenhum caminho

Salvatoriano e Salvatoriana, vivendo plenamente sua

fica difícil demais de ser percorrido.

divina vocação, deixa que o Senhor seja “sua vida”. A vocação à Vida Salvatoriana oferece este caminho. O caminho vocacional salvatoriano oferece um tempo

Desde o despertar vocacional, quando brota no coração

profundo de discernimento espiritual e experiências que

a vontade de ser Sacerdote, de ser Religioso Consagrado

envolvem os vários aspectos da vida humana. Assim,

ou Religiosa Consagrada, quando bate o desejo de

todo jovem que sente-se chamado a consagrar sua vida

entregar-se à Igreja de Jesus Cristo. Este é o primeiro

unicamente a Deus, é chamado a entregar seu coração.

sinal vocacional e o primeiro passo a ser dado.

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/Pe. Jordan

“Permitir que o Senhor reine em ti” é o segundo passo, quando o chamado vocacional passa a ser uma experiência, uma vivência, quando os jovens chamados juntam-se para trilhar um mesmo caminho. É a etapa do Aspirantado e Postulantado, quando os sonhos são vividos em comunidade, e os jovens buscam a maturidade e equilíbrio. É, também, a iniciação dos estudos e preparação para fundamentar as experiências pessoais, a vivência comunitária e a sua presença junto do povo. Outro passo importante para um jovem chamado por Deus a ser Salvatoriano é estar aberto a Deus que “quer ser tua vida”. O Noviciado e o Juniorado são momentos especiais dessa experiência, porque os jovens em formação aprofundam o conhecimento de Deus por meio da oração e dos estudos teológicos, ao mesmo tempo em que assumem com amor os Votos de Pobreza, Castidade e Obediência. É uma opção bem mais consistente e profunda, a qual entregar a vida torna-se um prazer e uma necessidade vital. Como Salvatorianos e Salvatorianas, somos chamados a uma vida apostólica. Vivemos em uma Comunidade fraterna, e animados pelo espírito dos apóstolos que estão intimamente convivendo e aprendendo com Jesus Salvador. Esse é nosso Mestre, centro e fonte de nossa vida. É quem nos chama à comunhão, à oração e ao serviço. Muitas vezes, nos perdemos em buscar caminhos por nós mesmos, achando que o mundo tem inúmeras possibilidades de nos trazer a felicidade. Uma busca sem reflexão e sem oração pode nos levar a atalhos, a caminhos sem sentido ou a trilhas sem volta. Deixemo-nos envolver por esse pedido de Deus que quer ser nossa vida. Entreguemos ao Pai nosso jovem coração para que seja preenchido de amor e de sentido.

CONHEÇA MAIS SOBRE NOSSA VIDA SALVATORIANA: www.vocacoessalvatorianas.com.br vocacoessalvatorianas@gmail.com

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/geral Por Pe. Carlos Jobed Malaquias Saraiva, sds

/ ANO “FAMÍLIA AMORIS LAETITIA” A Igreja está vivenciando em seu Calendário Litúrgico dois momentos celebrativos marcantes e significativos para a fé cristã católica, a saber: o Ano de São José e o Ano da Família. O primeiro, iniciado em 8 de dezembro de 2020, se encerrará em 8 de dezembro de 2021. E o segundo, matéria de nossa reflexão neste artigo, iniciado em 19 de março de 2021 que se encerrará em 26 de junho de 2022 com a realização de um grande evento mundial: o 10º Encontro Mundial das Famílias com o Papa Francisco, em Roma. O Ano da Família foi idealizado e projetado a partir da Exortação Apostólica Pós-Sinodal do Papa Francisco denominada “Amoris Laetitia” (a Alegria do Amor), a qual aborda a beleza e a alegria do amor familiar e que este ano celebra seu 5º Aniversário de lançamento. Após os bispos e cerca de 400 cardeais terem se reunido no segundo Sínodo para a Família , em outubro de 2015, o Papa Francisco lançou a Exortação contendo uma reflexão pertinente, atual e polêmica, sobre a realidade da família cristã no mundo. Com uma postura pastoral bastante aberta, questionadora, inovadora e ousada, o Sumo Pontífice abre as portas da Igreja para um diálogo necessário entre o Magistério Eclesiástico e as grandes questões da Pós-Modernidade que envolvem as mais diversas configurações da família no mundo de hoje. Vale a pena ler esse documento pontifício. Este ano santo dedicado às famílias tem por finalidade levar-nos a, além de uma meditação e diálogo sobre o sentido da mensagem e da vida cristã para as famílias contemporâneas, celebrarmos este grande dom de Deus oferecido a toda humanidade na narrativa da criação, no livro do Gênesis: “por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne” (Gn 2,24). A Igreja deseja com esse evento celebrativo levar a todos a celebrarem a força, a alegria, o amor, o respeito, a unidade, a comunhão, o alicerce, a base, o santuário da vida que representa todas as famílias. Uma família bem estruturada é fundamento de uma sociedade mais justa, humana e fraterna! Jesus no Evangelho de São Mateus, no capítulo 7, nos apresenta uma belíssima reflexão sobre a

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construção dos laços familiares e da instituição familiar. Em seu discurso intitulado “a Casa sobre a Rocha”, Jesus oferece aos seus discípulos e à comunidade cristã as bases vocacionais para a construção de um projeto familiar, comunitário baseado em princípios fundamentais. Destacamos dois neste texto: ouvir as palavras de Jesus e pô-las em prática entendendoas como verdadeiros princípios de uma vida plena bem como a prudência que é fruto de um profundo discernimento e leitura crítica das realidades atuais contrárias e destrutivas da Instituição Familiar (Mt 7,24-29). Quando Jesus acabou de falar, despertou nos discípulos e nas multidões tamanha admiração porque falava com autoridade. O Papa Francisco reflete também, neste Ano dedicado à família, todos os impactos trazidos pela Pandemia do Coronavírus, que em muito afetou a vida familiar, em diversos aspectos: sociais, espirituais, afetivo-emocionais, econômicos, culturais, ideológicos, políticos, etc. Lembra-nos em suas catequeses que a pandemia veio nos despertar para a importância de resgatarmos uma dimensão da Igreja essencial: a Igreja Doméstica, do lar. A Igreja é chamada a ser uma família que acolhe todas as famílias. Os primeiros passos da catequese à vida cristã são dados na convivência familiar e, portanto, na Igreja Doméstica. Alguns aspectos da vida cristã devem ser refletidos e abordados na família, tais como: a importância de uma verdadeira espiritualidade familiar, a formação e ação pastoral acerca da preparação para o matrimônio cristão, a educação afetiva e para a vivência cristã da sexualidade dos jovens, a santidade dos cônjuges e das famílias entre outros.


/geral Este ano, teremos uma agenda repleta de encontros que possibilitarão a discussão, a reflexão e a celebração deste tema tão importante que é a família. Serão abordados vários aspectos inerentes à vida familiar que acreditamos ser essencial para a resposta às perguntas: o que é ser uma família de identidade cristã em um mundo marcado pela pluralidade de valores e

experiências? Qual o impacto da mensagem de Jesus para a família nos moldes contemporâneos? Que o Ano da Família seja propício para o fortalecimento de nossas famílias na fé, na esperança e na vivência do amor de Deus revelado em Jesus Cristo, o Divino Salvador.

/SEMANA NACIONAL DA FAMÍLIA Há 25 anos a Igreja Católica, por meio da Comissão Nacional da Pastoral da Família, ligada à Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família, da CNBB, celebra uma semana dedicada à vocação matrimonial. Este ano, será realizado entre os dias 8 e 14 de agosto, cumulando com a celebração do dia dos pais. Em 1996, em preparação da visita do Papa São João Paulo II ao Brasil, o qual viria em outubro de 1997 para celebrar o 2º Encontro Mundial das Famílias a ser realizado na cidade do Rio de Janeiro. O bispo auxiliar da Arquidiocese Dom Rafael Llano Cifuentes preparou um subsídio de ajuda às famílias para essa grande celebração. Tal subsídio foi chamado de “Hora da Família” e, a partir de então, passou a marcar nos anos seguintes essa belíssima data celebrativa em honra à família cristã católica. No contexto do Ano da Família, convocado pelo Papa Francisco, iniciado recentemente em 19 de março a 26 de junho de 2022, foi publicado um exemplar especial comemorativo do Hora da Família para lembrar a alegria do amor na família, referência à Exortação Apostólica Pós-Sinodal do Papa Francisco Amoris Laetitia (Alegria do Amor) que celebra cinco anos de seu lançamento. O subsídio contém sete encontros de reflexão com as famílias e um roteiro celebrativo para o dia dos pais. Vale ressaltar que essa semana celebrativa está baseada no Mês Vocacional, onde celebramos a riqueza das vocações para a Igreja de Jesus Cristo. A família é o espaço por excelência para se fazer uma experiência de discernimento vocacional e de resposta ao chamado de Jesus, vivendo e testemunhando os valores do Evangelho.

A Semana Nacional da Família deste ano traz propostas espirituais, pastorais e culturais para o fortalecimento do ideal da família cristã. Inspirada na Exortação Apostólica, a catequese da Igreja reforça e convida-nos a celebrar aspectos essenciais da identidade do matrimônio cristão bem como das relações familiares no ambiente de uma família cristã. Pontuamos como chave de leitura da reflexão do Papa Francisco nesta Exortação e, consequentemente, para esse ano santo dedicado à família, a constituição da família à luz da Palavra de Deus, critério para leitura dos desafios atuais; o olhar fixo em Jesus, fundamento de nossa espiritualidade e mística familiar; a prática do amor nas relações familiares bem como a educação como processo de fortalecimento dos valores que sustentam a família. Impulsionados e animados pelo convite que a Igreja nos faz este ano que possamos celebrar intensamente em nossas comunidades eclesiais essa vocação sublime no Plano de Deus, o chamado a constituirmos a família como santuário de vida e de comunhão com o Senhor. Que nossa querida Mãe, modelo de educadora na fé e na obediência aos preceitos de Deus, juntamente com São José, nos traga abundantes graças por ocasião desta celebração.

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/educação

O Colégio Divino Salvador: Lugar de apóstolos de uma educação que salva

Por José Augusto Neto Núcleo de Formação Humana e Apostolado

Em virtude da Beatificação de nosso Pai fundador, Francisco Maria da Cruz, nós, educadores do Colégio Divino Salvador, estamos empenhados em uma nova e ainda mais profunda busca por nossa identidade salvatoriana. Ao longo de todo o primeiro semestre de 2021, mesmo diante de uma situação que nos impunha o isolamento social e, consequentemente, uma necessária renovação dos meios pelos quais nos conectamos, nosso carisma e espiritualidade ocuparam as telinhas do YouTube, e uma comunidade virtual de proporções por nós antes nunca vista se fez unida e capaz de trocar experiências. O ID Divino (ou ainda, Identidade Divino), foi um ciclo de palestras que contou com a participação de salvatorianos e salvatorianas de todo o mundo. Nossos palestrantes refletiram os eixos que estruturam nossas práticas pedagógicas, bem como, os valores que permeiam a formação intelectual e humana de nossos estudantes.

A conversa sobre a missão de formar seres humanos para a solidariedade tornou-se ainda mais rica por contar com a participação de colaboradores, familiares, alunos, ex-alunos, padres, irmãs e leigos salvatorianos. Toda a expressão de uma família que compartilha de uma mesma e única missão: salvar a todos! Além disso, acompanhou-nos a Novena pela Beatificação de Padre Jordan, rezada presencialmente entre os colaboradores do Colégio e também online por familiares e alunos de nossa instituição. Também a oportunidade de ouvir o testemunho de Gisele e Fernando sobre o milagre na vida de sua filha Lívia pela intercessão do agora Beato Francisco Jordan foi um dos pontos de grande emoção proporcionados nesse tempo. Já o mês salvatoriano foi todo protagonizado por nossos estudantes que integram as Catequeses de Primeira Eucarístia e Crisma e também os grupos de jovens da Pastoral Juvenil Salvatoriana. Semanalmente, esses alunos ocuparam o nosso já tradicional momento de oração que, pelas medidas sanitárias, têm sido transmitido pelo nosso canal do YouTube. A cada semana traziam informações ao melhor estilo “Você Sabia?” sobre a vida e missão de Padre Jordan e Madre Maria. Toda essa preparação constitui, na verdade, apenas o começo de uma apropriação para com o carisma salvatoriano que se pretende sempre mais universal em todas as suas direções e significados. O mês de agosto, no qual celebraremos a abertura do ano da beatificação em nosso colégio, marcará também para nossa instituição um novo e revigorado chamado a sermos apóstolos de uma educação que salva!

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/juventude

A Pastoral Juvenil, desafios e belezas A Pastoral Juvenil não é um novo grupo, uma associação, um movimento ou algo diferente das expressões já existentes na Igreja. É o acompanhamento afetivo e efetivo dos diversos grupos, movimentos e expressões juvenis existentes na Igreja. Sempre na solicitude misericordiosa de Jesus, o Divino Salvador. É imprescindível a presença do(a) assessor(a) adulto junto às juventudes que, em nome da Igreja, caminham junto com os jovens (lembrando que é deles, jovens, o protagonismo). Afetivo, no sentido de Jesus, que se aproxima, tem carinho e misericórdia com as pessoas; efetivo, pois não temos como nos eximir, deixar só, é necessário a presença junto às juventudes. Muitas vezes, não sabemos o que fazer, não precisa fazer muito, a presença amiga, o escutar, vale muito para os jovens que sentem a falta de seus pastores. E, para isso, não existem limites de idade, todos nós podemos fazer. A Igreja reconhece e trabalha hoje com cinco expressões: as 4 Pejotas (Pastoral da Juventude, Pastoral da Juventude Estudantil, Pastoral da Juventude do Meio Popular e a Pastoral da Juventude Rural), os Movimentos Juvenis, as Novas Comunidades, Congregações Religiosas que trabalham com jovens e os Grupos de Jovens Paroquiais Independentes; acolhê-las e acompanhá-las é a missão da Pastoral Juvenil. Necessitamos desenvolver e potencializar muito mais a nossa capacidade de acolhida cordial. Criar casa, lar, em definitivo é criar família, é aprender a sentir-se unidos aos outros para lá de vínculos utilitários ou funcionais, unidos de tal maneira que sintamos a vida um pouco mais humana. Criar lares, casas de comunhão. (CV, n. 216-217). Diante desses desafios, o de acompanhar e envolver toda essa diversidade ( juventudes) e juntos realizarmos o caminho (sinodalidade) em vista da construção do Reino, temos justamente as belezas, de poder conviver, com irmãos e irmãs tão plurais nos seus carismas e costumes, mas que comungam do mesmo Espírito. Isso é a verdadeira riqueza da Igreja (Corpo Por Pe. James Oliveira, SDS místico de Cristo) como bem nos ensinou o apóstolo Paulo. Assessor Nacional da Pastoral O de promover a unidade na diversidade, o de não anular Juvenil Salvatoriana e da Pastoral o outro em favor de alguns, mas o de incluir a todos(as) no Juvenil do NE 5 da CNBB plano salvífico do Senhor.

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O primeiro capítulo de nossos estatutos provinciais nos fala de nossa vocação e missão salvatoriana. É o capítulo primeiro de nossas constituições, posto em prática dentro de nossa realidade de província salvatoriana brasileira. Em um mundo marcado pelo desemprego, por falta de oportunidades de ser útil, ser chamado a um trabalho causa grande felicidade. Deus chama sempre ao homem e à mulher para que se coloquem a serviço dos outros. Cada pessoa é chamada a uma tarefa específica, que é desempenhada com os carismas recebidos para isso. Não somos todos chamados para tudo, porém, todos somos chamados à vida, para dar a própria vida, a fim de que muitos a tenham em abundância. A vocação se dá no tempo, isto é, durante um determinado tempo em que alguém se gasta para o bem dos outros, com gestos “inúteis” e gratuitos. Deixar escapar esse tempo é muito perigoso. Nunca se vive duas vezes a mesma experiência, e jamais nos encontraremos com as mesmas pessoas nas mesmas circunstâncias. A valorização do tempo tem muito a ver com o zelo apostólico. Somos chamados a viver muito em pouco tempo. A passividade é perigosa, quando se trata de expandir o Reino de Deus. Toda pessoa chamada por Deus é enviada a uma missão. O salvatoriano é um enviado, um embaixador, um representante, um servidor de outros. Jesus o expressou muito bem, quando dizia: “Quem vos ouve a mim ouve” (Lc 10,16). Mas, especificamente, que missão nos deu o Beato Padre Francisco Maria da Cruz Jordan a nós seus filhos espirituais? Acho esta descrição muito completa no número 1 da Carta ou Declaração da Família Salvatoriana:

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Movido por uma profunda experiência d e Deus, pela situação da Igreja e pela realidade de seu tempo, Pe. Francisco Maria da Cruz Jordan foi tomado por um urgente desejo de que todas as pessoas conhecessem o Deus único e verdadeiro e, em Jesus, o Salvador, experimentassem vida em abundância. Sua visão foi de unir todas as forças apostólicas da Igreja para que amem e proclamem Jesus como Salvador de um mundo carente de Deus. Ele incluiu pessoas de todas as idades e níveis sociais, trabalhando juntas em todas as partes e com todos os modos e meios.


E o item 11.6 dos nossos estatutos provinciais nos diz que “a Vida Salvatoriana, no Brasil quer tornar presente a mensagem de Jesus Salvador em nossa terra e para nossa gente. Por isso, nossa Província propõe viver e difundir o Carisma e a Missão Salvatoriana, num contexto de América Latina e em sintonia plena e participativa com os ideais e Planos da Igreja do Brasil. Dentro deste contexto, somos chamados a comunicar, de forma atualizada, os valores evangélicos, em diálogo com as diversas culturas”. Desempenhando nossa missão integrados com os que partilham conosco o mesmo ideal e os mesmos objetivos: Irmãs salvatorianas e leigos salvatorianos. Portanto, nosso carisma e consequentemente nossa vocação e missão como salvatorianos, nasce do Evangelho: “A vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o Deus único e verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo.” (Jo 17,3). Por isso, o primeiro passo como salvatoriano é conhecer a Jesus, fazer a experiência de Jesus em minha vida, me apaixonar por Ele e pelo Reino, tornar-me um autêntico discípulo e segui-lo com fidelidade. Quando meu seguimento a Jesus é verdadeiro e vivencial sou chamado a dar a conhecer o Salvador ao modo, ao estilo dos Apóstolos, a todas as pessoas, em todos os lugares e com todos os meios e modos. Tudo isto me leva a conhecer sempre e cada vez mais ao Deus único e verdadeiro, que nos criou e nos ama com amor sem limites. Quando, como salvatorianos, desconhecemos nossa vocação específica, e não nos dedicamos com aquilo para o qual fomos chamados, podemos viver uma crise vocacional. Como dizia um padre em um de seus comentários que o Salvatoriano “típico” de hoje é uma pessoa modesta, bondosa, dedicada ao trabalho, querida pelo povo, sem grandes conflitos, escândalos ou atitudes extravagantes; uma pessoa que alimenta a vida espiritual com orações diárias, frequência aos sacramentos, faz seu retiro espiritual todos os anos e alguns retiros mensais. Ele faz suas férias sem gastar muito dinheiro, lê alguns poucos livros durante o ano e, em geral, exerce seu trabalho pastoral em uma paróquia ou numa escola. Me pergunto se esta descrição geral coincide com o ideal salvatoriano que Jordan tinha em sua mente e em seu coração. Como Salvatoriano, sou capaz de assumir as tarefas, os objetivos e os projetos que Jordan traçou para a SDS. Todo tipo de apostolado, exercido pelos Salvatorianos até hoje, merece todo nosso respeito, porque foi realizado com boa vontade, com grande sacrifício e tem produzido muitos bons frutos. Acredito que não podemos perder de vista, ou temos que recuperar a ideia original de Pe. Francisco Maria da Cruz Jordan, para que nossa missão seja mais plena e responda de maneira mais eficiente o que nos compete como Salvatorianos no mundo de hoje. Tenho a firme convicção de que nós, os Salvatorianos fundados por um líder, por um inovador, um profeta de seu tempo e do nosso tempo, tendo sido concebidos, por Francisco Jordan, não para sermos aves de voos curtos, mas sim para sermos águias, de voos maiores como ele queria:

QUAL ÁGUIA VELOZ, VAI POR TODO O ORBE TERRESTRE E ANUNCIA A PALAVRA DEDEUS! (PE. JORDAN)

Por Pe. Nelson Barbieri, sds

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/igreja

Laudato si e suas implicações Por Pe. Flávio Lima da Silva, sds

Encíclica que trouxe a novidade de conclamar toda humanidade a cuidar do nosso planeta, a “Nossa Casa Comum”, fundamental para a existência humana e os demais seres vivos. Existe uma grande preocupação do Papa Francisco em “unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral”. A percepção, toda natureza sofre com os impactos da irresponsabilidade ambiental do homem. Em especial o clima, devido à industrialização em larga escala, reagindo, pois sofre os efeitos de grandes projetos de mineração, de barragens, de hidroelétricas e outras obras de grande porte onde o lucro costuma falar mais alto que a preservação ambiental. Ocorrendo a perda de nossos biomas. Perda essa que influencia na escassez de recursos à alimentação e no surgimento de doenças.

Ao olharmos os oceanos e mares, estes berços de vida, o envenenamento desse bioma acarreta não só o aumento do fluxo de doenças por toxinas

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ao nos alimentar, como também provoca a morte de seus seres vivos. Outra implicação do descaso ambiental, sendo uma importante bandeira dos movimentos populares amplamente legitimada, diz respeito aos mecanismos para produção de alimentos; se desperdiça um terço dos alimentos produzidos, o problema não é a falta de alimento, mas sim a formatação desigual na produção e distribuição. No sistema individualista e competitivo, o meio ambiente e a humanidade saem perdendo. É imperativo pensar e construir um novo método, um novo sistema pautado na sustentabilidade, justiça, ética e austeridade. Essa conquista só ocorrerá quando motivarmos as instituições a se comprometerem com um mundo melhor no qual os direitos fundamentais à humanidade são considerados uma prioridade. É necessário alertar para a necessidade de que cada um possa aderir a um estilo simples: amar o injustiçado, colocando-se ao lado dos que não tem voz nem vez e pelejarmos contra injustiças sociais. Assim sustenta o Papa Francisco, sempre envolvido com os movimentos que clamam por mudanças na defesa da casa comum. É equivocado o pensamento de que estamos seguros. O que temos feito em prol da Nossa Casa Comum? A resposta a essa pergunta determinará o quanto estamos longe ou perto daquilo que o Senhor espera de nós no cuidado daquilo que com todo amor o Senhor nos legou.


/comunicação

ECOS da 58ª Assembleia Geral da CNBB Por Dom Vicente Costa Bispo Diocesano de Jundiaí

De 12 a 16 de abril deste ano a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realizou, por via digital, devido à pandemia do novo coronavírus, a sua 58ª Assembleia Geral. Pela primeira vez, participou da Assembleia o novo Núncio Apostólico, o representante do Papa no Brasil, Dom Giambattista Diquattro. No início, foram apresentadas duas análises da situação interna da Igreja, como também da situação social, ética, política, econômica e cultural do nosso país, principalmente à luz de tanta dor e sofrimento causados por esta pandemia. Primeiro, é preciso olhar e conhecer a fundo a realidade, para evangelizar de forma adequada. Na análise eclesial, foi avaliada a Campanha Ecumênica da Fraternidade deste ano e escolhida a Campanha da Fraternidade 2022, com o tema: “Fraternidade e Educação”, e o lema: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26). Na esteira dos inúmeros benefícios colhidos nas duas edições precedentes à realização do Ano Vocacional (1983 e 2003), foi decidido que se realizará um Ano Vocacional em 2023, pois, sem consciência vocacional, a Igreja não terá o vigor missionário que precisa tanto ter. A grave situação que o país atravessa por causa da Covid-19 sempre esteve presente em nossas orações. Foi avaliada muito positivamente a iniciativa lançada, na Páscoa de 2019, pela CNBB com a Ação Solidária Emergencial: “É tempo de cuidar”. Estabeleceu-se como meta prioritária nosso empenho para continuar combatendo a fome, pois ela está sendo um dos grandes dramas de nosso povo. Fomos também vivamente exortados a apoiar a 6ª Semana Social Brasileira, lançada em julho do ano passado, com o tema: “Mutirão pela Vida – por Terra, Teto e Trabalho” e duração de três anos (2020-2022). Renovou-se o forte apoio ao “Pacto pela Vida e pelo Brasil”, firmado pelas entidades, como a própria CNBB, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns (Comissão Arns), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC). Um dos pontos mais altos desta Assembleia foram as primeiras meditações do Cardeal Sean Patrick O’Malley, a qual ele refletiu sobre Nazaré e Cafarnaum, dois lugares marcantes na vida de Jesus: Nazaré, o lugar da oração, da intimidade com o Pai e do trabalho laboral, e Cafarnaum: o lugar do anúncio do Reino. Assim, nossa vida cristã deve procurar viver juntas estas duas realidades. Já na segunda meditação, o Cardeal apresentou a misericórdia, como o grande atributo de Deus e que deve marcar a nossa vivência cristã. Faço minhas as palavras conclusivas desta Mensagem: “Fazemos um forte apelo à unidade da sociedade civil, Igrejas, entidades, movimentos sociais e todas as pessoas de boa vontade, em torno do Pacto pela Vida e pelo Brasil. Assumamos, com renovado compromisso, iniciativas concretas para a promoção da solidariedade e da partilha. A travessia rumo a um novo tempo é desafiadora, contudo, temos a oportunidade privilegiada de reconstrução da sociedade brasileira sobre os alicerces da justiça e da paz, trilhando o caminho da fraternidade e do diálogo. Como nos animou o Papa Francisco: ‘o anúncio Pascal é um anúncio que renova a esperança nos nossos corações: não podemos dar-nos por vencidos!’”.

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/espiritualidade

Carta aos Gálatas O Mês de Setembro é dedicado à Bíblia. Nós, cristãos católicos, nos empenhamos com esmero e maior apreço a lermos e a nos aprofundarmos no conhecimento da Palavra de Deus, para a santificação da Igreja e como Igreja nos aperfeiçoarmos na Missão e na prática da Caridade Evangélica. Ainda nos adequando à pandemia da Covid-19 (crise humana, distanciamento da comunidade de fé e de Deus), é tempo oportuno de buscarmos a Sagrada Escritura para melhor conhecer Jesus, seu Evangelho e nos afinarmos no caminho da Verdade. Para tanto, a Epístola do Apóstolo Paulo aos Gálatas é uma magna inspiração do Espírito Santo, com uma autoridade permanente que nos ilumina, ajuda a resgatar em nossas práticas espirituais a essência do cristianismo e nos reevangeliza para o verdadeiro seguimento de Jesus Salvador. A autoria paulina desta carta não fora contestada nos tempos antigos, e a maioria dos estudiosos modernos também não a contesta. Esta carta é endereçada às cidades da Província da Galácia (entre elas Antioquia da

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Por Pe. Décio Siqueira Nantes, sds (Pe. Sam)

Pisídia, Icônio, Listra e Derbe), uma larga área da antiga Ásia Menor, parte central da Turquia moderna. Há uma discussão se Paulo escreveu esta carta para a região norte da Galácia (Galácia étnica, ou teoria da Galácia do Norte), ou para o sul (Galácia do Sul, província política), cujo mérito não nos aprofundaremos aqui, entretanto, há defensores em ambos os sentidos. O livro em estudo também é conhecido como “epístola da liberdade cristã”. A reflexão dessa epístola aos Gálatas tem como propósito nos lembrar que o Apóstolo Paulo fervorosamente quer evitar que seus leitores (da época e também os de hoje) passassem para um “outro evangelho”, ante a pregação de alguns que diziam que deveriam se circuncidar para serem salvos. É uma epístola da liberdade cristã contra o legalismo judaico. Era uma questão tão delicada a ponto de ser considerada uma perversão do evangelho. Paulo, nesta epístola, defende sua autoridade diante daqueles que contestam seu apostolado. Ele recebeu o Evangelho mediante revelação divina; foi reconhecido como Apóstolo pela igreja de Jerusalém, e exerceu sua autoridade repreendendo a


/espiritualidade

Pedro. Esta epístola, talvez como nenhuma outra, dá o embasamento teológico para não se aceitar nenhum tipo de sistema religioso que se interponha entre o homem e Deus. Todo sistema religioso que assim o fizer, por melhor que seja, torna-se um escândalo, uma pedra de tropeço, e deve ser veementemente rejeitado pelo cristão.

Sintetizaremos aqui a estrutura da epístola em seus 6 capítulos, para podermos “degustar” seu conteúdo e nos motivarmos à sua leitura orante. O conteúdo mostra a lamentação de Paulo ante o procedimento dos gálatas em relação aos que pregam um Evangelho diferente, pois ele não recebeu o Evangelho de homem algum, mas direto de Cristo para anunciá-lo aos pagãos. Comenta sua viagem a Jerusalém para ter com Pedro e Tiago. Anos mais tarde, regressa para Jerusalém, e o Evangelho que prega é aceito. Lembra que repreendeu Pedro por ter atitudes em relação à fé e à verdade. Os lembra da experiência que tiveram e que receberam o Evangelho pela fé, assim como também Abraão foi justificado por fé, pois a lei não pode justificar. A herança vem pela promessa e não pela lei. A lei foi acrescentada por causa das transgressões, e antes da fé, estavam todos sob sua tutela. Em Cristo não há diferenças e todos se tornam descendentes de Abraão e herdeiros segundo a Promessa. A lei é o vigilante que nos conduziu a Cristo. Por isso, enquanto menores, estávamos sob curadores, mas Cristo nos resgatou e recebemos o Espírito Santo, daí, circuncidar-se é voltar para trás. Argumenta sobre a alegoria de Hagar, mãe de Ismael, liga este à Jerusalém carnal, aos da circuncisão, aos filhos segundo a carne, à escravidão, mas Isaque é filho da promessa, e os da fé, também. Portanto, não devemos nos colocar sob um jugo de escravidão. Quem tenta se justificar pela lei se desliga de Cristo e da Graça decai. Conclui que: o cristão deve andar no Espírito, que sempre sofre oposição da carne.

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/comunidades

Nossas obras em São José dos Pinhais, Paraná

Pe. José Carlos da Silva, sds Pároco da Paróquia Santo Antônio

Em São José dos Pinhais, Paraná, temos duas obras importantes na nossa Província Salvatoriana Brasileira. A primeira certamente é o nosso Instituto Padre Jordan, onde os nossos jovens estudam a faculdade de Filosofia. Durante três anos, nossos postulantes fazem suas experiências pastorais nas nossas comunidades, às quais pertencem à Paróquia, enquanto realizam os estudos de Filosofia. Nosso Instituto favorece muitos momentos de espiritualidade e convivência com os nossos jovens estudantes, ajudando-os no discernimento pastoral.

De um modo especial, no campo da pastoral vocacional, temos possibilidade de desenvolvermos um grande trabalho após passar a pandemia. Pois, temos a nossa casa de formação no território paroquial, e, isso favorece muito o contato com outros jovens. Agora, com a pandemia, projetos não faltaram, mas, infelizmente, não foi possível colocá-los em prática. Somente acompanhamos aqueles jovens que já haviam despertado um certo interesse e aqueles que já estavam sendo acompanhados antes da pandemia. Mas, cheios de esperança como todos salvatorianos devem ser, temos a certeza que dias melhores virão, e, certamente, nossos sonhos e projetos se concretizarão, no futuro próximo. Como Paróquia, estamos à beira dos 12 anos de presença, desde o dia em que se tornou Paróquia Santo Antônio, no dia 23 de agosto de 2009. Atualmente, essa nossa obra é constituída por nove capelas e mais a Matriz. Iniciamos e assumimos nossos trabalhos nesta nova Paróquia, com o intuito de ter uma presença marcante com o jeito salvatoriano de ser. Pois, no território paroquial atual, que antes pertencia à Paróquia Bom Jesus, era administrada pelos padres diocesanos. E, a partir da data acima, a nova Paróquia Santo Antônio, ficou sob a nossa administração (salvatorianos). Isso ajudou muito no campo formativo. Pois, aqui, temos a nossa casa de formação dos estudantes de filosofia (postulantado), eles fazem a experiência pastoral em nossa Paróquia, possibilitando-os realizar o anúncio do nosso Carisma para as pessoas das nossas diversas comunidades da nossa Paróquia.

A nossa comunidade religiosa é conjunta com a nossa casa de formação inicial citada acima. Certamente, isso favorece o contato direto com as realidades pastorais dos nossos jovens formandos, possibilitando assim, o contato com o povo, de modo especial com outros jovens.

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/salvatorianos

Apóstolo Além das Fronteiras, chamado por Jesus Michael Regnatus Henerico, SDS.

No Evangelho vemos: “Jesus subiu às colinas e chamou para si aqueles a quem queria, e eles vieram até ele. E ele designou doze para estarem com ele e para ser enviado para pregar” (Mc 3:13-14). Este texto nomeia dois valores significativos e fundamentais: estar com o Senhor e Missão apostólica. O Bem-Aventurado Francisco Jordan anotou em seu Diário Espiritual: “Seja um verdadeiro apóstolo de Jesus Cristo. Não descanse até que você carregue a palavra de Deus aos quatro cantos da terra”. Ele não estava simplesmente querendo alguma tarefa apostólica, mas sim ser apóstolo e, como tal, reconhecer-se corresponsável para a difusão do Reino de Deus em todo o mundo. E foi graças aos Missionários Salvatorianos que me tornei Salvatoriano, para continuar este carisma, bem como o zelo apostólico do nosso fundador, apóstolo além das fronteiras. Meu nome é Michael Regnatus Henerico, SDS, e nasci em Dar-es-Salaam, na Tanzânia. Foi fácil para eu conhecer os Salvatorianos na Tanzânia, tendo em vista que a paróquia de onde venho é administrada pelos Padres Salvatorianos. Devido ao seu modo de viver como religiosos, fui inspirado pelo seu Espírito missionário e foi daí que tive o desejo de me tornar um missionário salvatoriano. Desde que conheci os Salvatorianos, muitos elementos passaram a fazer parte da minha vocação. Dentre elas, a principal é o que achei mais atraente na missão salvatoriana: “Anunciar a mensagem a todas as pessoas em todos os lugares e em todos os tempos e fazê-lo de qualquer maneira e por qualquer meio que o amor de Cristo nos inspire”. O ardente desejo de se tornar religioso salvatoriano existe dentro de mim desde os meus 12 anos de idade, quando eu era coroinha na minha paróquia (Mwenge, Dar-es-Salaam) onde os salvatorianos exerciam seu apostolado. Por causa deste espírito missionário, na minha paróquia tinha, na época, a comunidade internacional de salvatorianos com três nacionalidades (Polônia, Estados Unidos e Tanzânia) e, então, o desejo de ser missionário salvatoriano começou e até hoje esta chama permanece acesa. Deus tem diferentes formas de chamar alguém para servi-lo, eu tinha um grande amigo chamado Emmanuel Msira. Eu costumava passear com ele depois do horário escolar. Seu pai sempre ia à igreja com frequência, e um dia, quando ele foi rezar a missa na paróquia, foi convidado por uma irmã religiosa para convidar seus filhos para um programa da juventude na igreja no sábado. Aconteceu que eu não tinha nenhum programa especial em casa, então resolvi visitar meu amigo para que pudéssemos passear um tempo juntos. Lembro que era tarde, então quando fui à casa dele, ele me disse que não tinha tempo para conversar comigo porque seu pai dissera a ele para participar de um programa para jovens na igreja. Então ele me perguntou se, caso eu quisesse ter um tempo com ele, talvez devêssemos ir juntos ao programa para jovens na paróquia. Demorei a pensar P R O V Í N C I A S A LVAT O R I A N A B R A S I L E I R A

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/salvatorianos em aceitar o convite. Porém, depois de um tempinho decidi participar neste programa da Igreja. Ademais, neste tempo eu só participava na missa de domingo e não com muita frequência. Após o término do programa para jovens, recebi convites para mais eventos e, de repente, fiquei mais ativo do que aquele que me convidou para o programa para jovens e foi aqui que tive a chance de conhecer os Padres Salvatorianos. Foi por causa do Padre Christopher Luoga, SDS, que me convidou para servir como coroinha e depois me apresentou à pastoral salvatoriana no auxílio ao próximo, e fiquei curioso para saber mais sobre os salvatorianos. Meu chamado vocacional não foi tão fácil de responder por causa da minha cultura, pois ninguém em meu clã jamais se envolveu neste tipo de vocação. Todos são dedicados a outras vocações. A vez que disse aos meus pais que queria ser sacerdote religioso, minha mãe ficou muito feliz, mas fiquei chocado porque nesta altura, meu pai nunca disse uma palavra, apenas olhou para mim e ficou calado. Com certeza ele nunca esperava que eu dissesse isso, porque em nosso clã ninguém tinha uma vocação religiosa. E na época nós morávamos em casas militares, porque meu pai era um soldado militar. Talvez esperasse que eu seguisse o caminho dele. Acredito que milhares de homens muito melhores deram suas vidas à vida religiosa. E suas histórias são magníficas. Eu preferiria dizer aqui precisamente o que pode ser dito por qualquer homem que buscou a vocação religiosa ou viver os conselhos evangélicos. Em suma, o desejo de ser religioso nasce do amor a Deus, o que mostra que a vocação é o dom de Deus para servir aos outros. Enfim, quando podemos aceitar as limitações de nossa vida e o poder salvador de Deus em tudo isso, então nosso desejo por essa coisa ou essa pessoa ou controle nesta área de nossa vida não precisa nos oprimir. Quando podemos dizer que nossa segurança fundamental não está na riqueza, ou em outra pessoa, ou no poder, mas sim em Deus, então estamos vivendo as virtudes dos votos religiosos, quer os tenhamos professado ou não. Quando vivemos na confiança de um Deus providente, com amor e preocupação por todo o povo de Deus e atenção à direção de Deus em nossas vidas, vivemos no reino de Deus, presente entre nós e preenchendo nossas vidas com tudo o que precisamos. Todos os cristãos são convidados a praticar os Conselhos Evangélicos de pobreza, castidade e obediência. Jesus Cristo era pobre de espírito, casto de coração e obediente em amor à vontade de seu Pai. Os conselhos evangélicos são um apoio útil em nossa busca de viver como religiosos. Os votos não são apenas um sacrifício, mas uma aceitação plena de uma vida dedicada a Deus.

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/infantil

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