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Pe. Jordan

Um ano de graça!

Um futuro com novos compromissos

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Pe. Paulo José Floriani, sds

Bem diria o poeta Mário Quintana:

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são seis horas! Quando se vê, já é sexta-feira! Quando se vê, já é natal… Quando se vê, já terminou o ano… Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida. Quando se vê, passaram 50 anos! Agora é tarde demais para ser reprovado…

Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas… Seguraria o amor que está à minha frente e diria que eu o amo…

E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo. Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.

A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.”

A vida é uma tarefa vivida na intimidade da casa da existência de cada um de nós, sujeita à famigerada velocidade do tempo e de suas consequências impressas em nossos corpos na história. Certamente muitos de nós gostaríamos de contar com a possibilidade de poder mudar uma decisão tomada em determinado momento, mas já é tarde demais para nos recriminar, o tempo foi dado e já é parte do passado. O problema é que tantos tempos passados continuam a marcar o presente e a cercear futuros.

Acabamos de completar um ano da solene celebração da beatificação de nosso fundador, ocorrida na Basílica de São João de Latrão. Certamente este evento, que passa a ser parte do passado, continua a influenciar no presente e a deixar seus traços, fortemente presentes no futuro de nossa vida e apostolado.

Uma pandemia jamais imaginada impediu uma maior presença em Roma de membros da Família Salvatoriana. O profundo desejo de celebrar in persona este marco histórico foi tolhido do horizonte de vários salvatorianos.

Poderíamos ler este fato desde uma perspectiva absolutamente apostólica: justamente no evento de sua beatificação, é como se nosso Fundador nos chamasse a nos deixar guiar pelo Espírito de Deus e a usar dos modernos meios de comunicação para permitir ao maior número possível de pessoas a possibilidade de viver esta experiência desde o lugar onde se encontravam. Um expressivo e histórico exercício de “usar de todos os modos e meios para unir todos os povos, todas as raças, todas as línguas em um só e único canto de louvor ao Deus único e verdadeiro e a seu Filho encarnado...”.

O fato também pode ser lido por uma ótica eclesiológica: celebrar a beatificação de Jordan na Basílica de Latrão é como uma confirmação da eclesiologia jordaniana — fidelidade à Igreja Universal na irmandade pluricultural das Igrejas Locais. É uma verdadeira convocação para testemunhar a universalidade de nosso chamado na Igreja, com a Igreja e na Igreja, desde a Mãe de todas as Igrejas, de modo a SER IGREJA.

Na homilia deste dia, o Cardeal Vigário de Roma, Angelo de Donatis, frisou três aspectos centrais da vida e obra de Jordan, que são absolutamente importantes de serem retomados após um ano deste evento:

1) Meditar as Escrituras: viver da Palavra até se tornar Palavra encarnada na história, como fez Jesus, o Filho de Deus no qual somos filhos adotivos. Pe. Jordan era profundamente um homem da Palavra. Nosso carisma é um mergulho existencial na Palavra, historicamente lida desde os sinais dos tempos. Isso nos convoca hoje a uma apaixonada imersão na profundidade da Palavra, tornando nossas vidas a gramática desta Palavra para todos os homens e mulheres deste tempo.

2) Abraçar a universalidade da missão: Pe. Jordan lutou com todas as forças para nunca fechar possibilidades para nosso apostolado, convencido de que era a força do Espírito-Amor quem ditaria os caminhos a serem trilhados para abraçar o maior número possível de pessoas. Isto hoje exige de nós a capacidade do constante discernimento do Espírito, desde a leitura atenta dos sinais dos tempos, não sendo meros repetidores de respostas já dadas e de práticas apostólicas petrificadas.

3) Viver a Comunhão Apostólica: Pe. Jordan a expressa perfeitamente na tarefa de “somar todas as forças” em prol da missão, tendo sempre por exemplo os apóstolos. Não se pode imaginar um salvatoriano isolado, fechado em si. É a nossa vida de comunhão interna e apostólica o maior testemunho de quem é o Deus único e verdadeiro. Isto hoje nos conclama a ser verdadeira Família Apostólica.

Que esta mensagem continue a nos provocar, ampliando nossos olhares para novos horizontes que interpelam nossa presença e nos convocam a revitalizar nossa forma de ser e de agir, tornandonos testemunhas históricas da santidade de nosso fundador.