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Pe. Jordan

Salvos para colaborar na obra salvífica!

Uma aproximação soteriológica ao Carisma e Missão salvatoriana.

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O que me proponho neste artigo é buscar traçar um quadro que permita uma aproximação à perspectiva salvífica presente em alguns discursos de Pe. Jordan, tal como herdamos nas “Alocuções”. Reforço a perspectiva de uma primeira aproximação, pois confesso que este início de mergulho “no oceano do amor de Deus”, revelado na inspiração recebida e expressa por nosso Fundador, faz adentrar em um universo riquíssimo e ainda pouco explorado por todos nós, membros da Família Salvatoriana, revelandose um campo extremamente fecundo para um futuro trabalho para uma equipe composta por membros dos três ramos.

Neste artigo, por falta de espaço, proponhome a aprofundar apenas o marco que permita esta mesma aproximação, buscando reconhecer a dinâmica salvífico-carismática: ser espaço experiencial da própria salvação que convoca a colaborar com a salvação de todos os seres humanos. Tenho certeza absoluta de que a plena consciência desta abrirá, por consequência lógica, a beleza da compreensão da profundidade e amplitude da missão apostólico-salvífica decorrente, ao mesmo tempo que exigirá ao menos três etapas reflexivas iniciais: 1. Quadro interpretativo; 2. A experiência salvífica pessoal; 3. A missão salvífica universal.

A dimensão salvífica como marca única e característica da fundação que operacionaliza na história a inspiração recebida por Francisco Jordan, por ação deste mesmo Espírito em seus insondáveis mistérios, acaba por determinar o nome/identidade desta. Esta chega a ser definida como o núcleo central de sua missão: “Vocês devem empenhar-se seriamente para que a Sociedade, que se destina a uma finalidade tão sublime, a saber, à promoção da glória de Deus e da salvação das almas, possa progredir. Contemplem a missão da Sociedade, que se propõe promover a glória de Deus e a salvação das almas” (118,02-03). Aqui se expressa nitidamente que a Sociedade tem por horizonte apostólico a glória de Deus e a salvação do próximo (40,02).

Poderíamos imediatamente associar o primeiro elemento expresso – glória de Deus – com a perspectiva inaciana, que passa a marcar profundamente a Igreja e influenciar o Fundador. Sem negar esta possibilidade interpretativa e seus fundamentos inegáveis, gostaria de propor uma outra chave de leitura para a mesma que creio mais acentuadamente salvatoriana. Como expressou São Irineu de Leão, “...a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus...” A visão de Deus expressa a verdadeira vida do homem que caminha morto pela existência se não encontrou Deus e mergulhou em seu amor, libertando-o das amarras mortais do tempo e das correntes dos desejos, abraçando o horizonte infinito da vida que vence a morte: ressurreição. Certamente a perspectiva da “visão de Deus” é extremamente escatológica, pois indica o destino final do humano na ressurreição. Contudo, também pode apontar para o núcleo central carismático que o Espírito inspira em Jordan: “Nossa vocação é esta: que nos empenhemos para que todos conheçam o Deus verdadeiro e aquele que Ele enviou, Jesus Cristo! Convém que preguemos como alguém que vem do alto, como mensageiros que descem do céu. Ou melhor, que provoquemos, que incitemos todos os seres humanos, todos sonolentos, quais anjos que com a trombeta convocam os mortos para o juízo!” (67, 02-03). Assim sendo, a glória de Deus se expressa na vida plena vivida por um homem/mulher que se encontrou com o único e verdadeiro Deus revelado em Jesus, que passa a ser refletido, como que em um espelho, no rosto transfigurado, pelo amor, de suas testemunhas no mundo. Deste modo, cada salvatoriano é chamado a ser salvo para se tornar fonte de salvação. A vida salvatoriana é

destinada à profunda experiência de caminhar pela história com o Jesus humano-divino, e subir ao alto com Ele ressuscitado para contemplar a verdadeira face de Deus, recebendo a missão de descer novamente à planície da história e do tempo para, como seu mensageiro/a, convocar e arrancar da sonolência da morte todo homem e mulher que caminha na história escravizado pela consequência do pecado adâmico.

Assim sendo, é absolutamente inquestionável a consciência da dimensão salvífica inerente ao carisma-missão salvatoriano para o Bemaventurado Francisco Jordan. Uma salvação expressa e vivida em dois níveis distintos e concomitantemente inseparáveis: a própria salvação e a salvação do próximo: nisto se reflete limpidamente a glória de Deus e a salvação do próximo, ao mesmo tempo em que se descortinam os parâmetros interpretativos para explorar o sentido mais profundo do sentidoespiritualidade do salvatoriano/a.

A vida salvatoriana, em si mesma, quando abraçada livre e plenamente, configura-se como um caminho salvífico para cada pessoa que aceita este chamado, em qualquer que seja o estado de vida: laical, religioso/a ou presbiteral. Este é um ponto primordial e de suma importância: ser salvatoriano/a é viver em “estado de salvação”.

Viver este “estado salvífico” significa ir aprofundando progressivamente, tanto na consciência quanto na existência, a abrangência do significado da experiência de vida eterna experimentada no encontrar o Deus único e verdadeiro, tal como revelado no ser-agir do divino-humano Jesus, o Salvador. Ao se deixar questionar e moldar por este revelador do Deus-Pai, como o barro nas mãos do oleiro, paulatinamente e vencendo nossas resistência e deformações, resplandecerá a máxima beleza da imagem-semelhança divina impressa em nossas existências (Jr 18, 1-6). Esta beleza, por sua vez, irradiará uma luz irresistível para muitos e ofuscante para outros tantos, provocando um transbordamento salvífico que se torna oferta a todos os humanos a viverem esta experiência de passagem da morte para a vida eterna = plena, única e verdadeira, pois é a vida com o Deus único e verdadeiro.

Portanto, caros irmãos e irmãs da Família Salvatoriana, poderíamos traçar uma tríade do caminho salvífico tal como deveria ser expresso pela vida salvatoriana plenamente vivenciada: maior glória possível de Deus (conhecer o Deus único e verdadeiro revelado em seu filho encarnado) + maior santificação própria possível (enquanto caminho de busca pela perfeição evangélica nascida do encontro com o revelador do Pai - experiência salvífica fundante) + salvação do maior número possível de seres humanos (transbordamento salvífico que abraça cada humano, para fazer transfigurar a imagem-semelhança de Deus que traz impressa e se encontra borrada pela força da queda de Adão. A partir desta recuperação-salvação alcançar todo o universo que geme e espera a revelação plena dos Filhos de Deus no Filho Jesus – Rm 8,20-23).

Assim podemos traçar o quadro dos fundamentos para a reflexão a ser feita. Esta agora, exige outros dois níveis, a saber: 1. Os fundamentos salvíficos da experiência do ser salvatoriano/a; 2. A perspectiva salvífica expressa no apostolado salvatoriano. Temas a serem aprofundados e que revelarão, seguramente, riquezas insondáveis que somente o Espírito de Deus poderia inspirar na vida e nos escritos de nosso Fundador. Estes esperam, escondidos como tesouro, que sejamos capazes de vender todos os bens acumulados até agora em nossa visão carismática-apostólica, para poder comprar este terreno e cavar para beber do manancial oculto na sua profundidade (Mt 13,44).

Pe. Paulo José Floriani, sds