Revista Marketing Católica - Edição 22

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Oratória

Todas as decisões podem ser boas, desde que o objetivo seja o de pregar da melhor maneira possível a palavra de Deus. Para que a pregação seja eficiente alguns aspectos da arte de falar em público devem ser observados. Vamos refletir sobre dois dos atributos essenciais para que o pregador seja bem-sucedido: a voz e a emoção. Embora a emoção na palavra do pregador dependa de vários fatores, como a expressão corporal e a linguagem, não há dúvida de que a voz é dos ingredientes mais relevantes para que a pregação envolva e persuada os fiéis. Vamos analisar como Antonio Vieira tratou desse tema. Vieira ministrou a mais importante aula de oratória para os pregadores. No Sermão da Sexagésima, pregado na Capela Real em 1655 revela tudo o que o pregador deve saber sobre o orador, o público e a mensagem. Vejamos quais são suas considerações sobre a voz do pregador (VIEIRA, Antonio. Sermões. São Paulo, Hedra, 2000, p. 45 e 46.): “Antigamente pregavam bradando, hoje pregam conversando. Antigamente a primeira parte do pregador era boa voz e bom peito. E verdadeiramente, como o mundo se governa tanto pelos sentidos, podem às vezes mais os brados que a razão”. Suas observações são apoiadas nos próprios exemplos deixados por Cristo: “Diz o Evangelho que começou o Senhor a bradar. Bradou o Senhor, e não arrazoou sobre a parábola, porque era tal o auditório, que fiou mais dos brados que da razão”. E reforça dizendo: “Perguntaram ao Batista quem era? Respondeu ele: Eu sou uma voz que anda bradando neste deserto Jo 1,23”. Vieira foi além, e enfatiza como os brados são poderosos: “Pois por que se definiu o Batista pelo bradar e não pelo arrazoar; não pela razão, senão pelos brados? Porque há muita gente neste mundo com quem podem mais os brados que a razão”. Sua argumentação é cada vez mais contundente: “Depois que Pilatos examinou as acusações que contra ele se davam, lavou as mãos e disse: Eu nenhuma causa acho neste homem

Conclui Vieira: “E como os brados no mundo podem tanto, bem é que bradem alguma vez os pregadores, bem é que gritem”. “Há de ser a voz do pregador, um trovão do Céu, que assombre e faça tremer o Mundo”. A emoção do pregador pode, portanto, ser apresentada pela forma como prega bradando. Será que somente bradando é que o pregador emocionará os fiéis e atingirá o sucesso em suas pregações? O próprio Vieira nos dá a resposta: “Mas que diremos à oração de Moisés? Desça minha doutrina como chuva do céu, e a minha voz e as minhas palavras como orvalho que se destila brandamente e sem ruído Dt 32,2”. Vieira busca apoio em Isaias para reforçar seus argumentos: “Não clamará, não bradará, mas falará com uma voz tão moderada que se não possa ouvir fora Is 42,2. E não há dúvida que o praticar familiarmente, e o falar mais ao ouvido que aos ouvidos, não só concilia maior atenção, mas naturalmente e sem força se insinua, entra, penetra e se mete na alma. Assim deve agir o pregador para emocionar e envolver os ouvintes. Em certos momentos bradando, para fazer tremer aqueles que ouvem por seu intermédio a palavra de Deus. Em outros arrazoando, para que sua palavra se insinue e penetre na alma dos fiéis.

Lc 23,14. Neste tempo todo o povo e os escribas bradavam de fora, que fosse crucificado Mt 27,23. De maneira que Cristo tinha por si a razão e tinha contra si os brados. E qual pode mais? Puderam mais os brados que a razão”.

blico, entre eles “Oratória para pregadores” em coautoria com Rachel Polito.

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, palestrante, professor de oratória nos cursos de pós-graduação da ECA-USP e escritor. Publicou 28 livros sobre a arte de falar em pú-

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