Revista Viração - Edição 60 - Março/2010

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a r i V a z a f m e Veja qu

Sexo e Saúde

pelo Brasil

Associação Imagem Comunitária Belo Horizonte (MG)

Casa da Juventude Pe. Burnier Goiânia (GO)

Universidade Popular Belém (PA)

Ciranda – Curitiba (PR) Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência

União da Juventude Socialista Rio Branco (AC)

Catavento Comunicação e Educação Fortaleza (CE)

Centro Cultural Bájò Ayò João Pessoa (PB)

Avalanche Missões Urbanas Underground Vitória (ES)

Cipó Comunicação Interativa Salvador (BA)

Companhia Terra-Mar Natal (RN)

Agência Uga-Uga Manaus (AM)

Girassolidário Campo Grande (MS)

Rede Sou de Atitude Maranhão São Luís (MA)

Bemfam - Recife (PE)

Diretório Acadêmico Freitas Neto Maceió (AL)

Fundação Athos Bulcão Brasília (DF)

Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil (RR)

Centro Cultural Escrava Anastácia Florianópolis (SC)

Jornal O Cidadão Rio de Janeiro (RJ)

Grupo Cultural Entreface (Diversidade Juvenil, Comunicação e Cidadania) Belo Horizonte (MG)

Grupo Atitude - Porto Alegre (RS)

Centro de Refererência Integral de Adolescentes Salvador (BA)

Virajovem Vitória - Vitória (ES)

Taba - São Paulo (SP)


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! o h l e v a Vir

Conteúdo

cia de existên sete anos ta le p ação que m ic o n c u de com o a Vira rç to a je m ro e p d da e um este mês emorar. D movimento o que com como um o je it o u h te em 24 m n s o m se co et. Pre chegam , rn 3 te 0 in 0 2 a n m l lá e porta iciativas começou vista e do ipam de in re ic a rt a st p e d s n . ajove uito além ial do País nossos vir que vai m dança soc u o Federal, it m juventude tr os a is D m a o d o ais do c s e aju m o Brasil m contribuin momento s, a s m te n te a s Estados d rt o o p da de vári ntes em im ventude e na defesa nais de Ju emos prese io iv políticas, c st a e n , s chega de o ia p s c a sse tem erno. M conferên v o s g a o ra d a Durante e s p agem de grama ostas mo report ão de pro es de prop ç o õ c ru ç z st a ru n tr st o n c s o á na ali as, nas c ão ajudar mãos, que atro págin ção, que ir á em suas ha. Em qu n st o e c e a u m q Comunica a o ndem ou diçã ção d s que defe vamos à e riminaliza e te sc n e s a d te it a il fe : m n o o x e c listas omple l, além de ma bem c de especia ” no Brasi a te h ta m in is u v rd a e e p d v ca da “ pontos s. tar o uso diferentes os usuário regulamen e d você terá e d e trazer a a d id o il p ib es, is ss b lm o a fi p n r n a a baixa e a ca são contr efeitos qu ra acha de s le o a g a o a in sã g e á u is p ua ltima ber o q conferir q cebe na ú às ruas sa re s ê o c m o v fo , or fim Também internet. P o vros pela li e s pelo noss a c d si mú , assina a u g a P m ao a d g a homen e uma ilustra aes, como v o N itura! r o d a lher. Bo le colabora u M a d l a acion Dia Intern

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Quem somos A

Viração é um uma organização não governamental (ONG), de educomunicação, sem fins lucrativos, criada em março de 2003. Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo e da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas de capacitação em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.revistaviracao.org.br), contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 24 Estados, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses seis anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá'í. E mais: no ranking da Andi, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Veja, ao lado, nossos contatos nos Estados. Paulo Pereira de lima Coordenador Executivo da Viração – MTB 27.300

Copie sem moderação! Você pode: • Copiar e distribuir • Criar obras derivadas Basta dar o crédito para a Vira!

Apoio Institucional

Conheça os Virajovens em 24 Estados brasileiros Belém (PA) - pa@revistaviracao.org.br Belo Horizonte (MG) - mg@revistaviracao.org.br Boa Vista (RR) - rr@revistaviracao.org.br Brasília (DF) - df@revistaviracao.org.br Campinas (SP) - sp@revistaviracao.org.br Campo Grande (MS) - ms@revistaviracao.org.br Curitiba (PR) - pr@revistaviracao.org.br Florianópolis (SC) - sc@revistaviracao.org.br Fortaleza (CE) - ce@revistaviracao.org.br Goiânia (GO) - go@revistaviracao.org.br João Pessoa (PB) - pb@revistaviracao.org.br Lavras (MG) - mg@revistaviracao.org.br Maceió (AL) - al@revistaviracao.org.br Manaus (AM) - am@revistaviracao.org.br Natal (RN) - rn@revistaviracao.org.br Porto Velho (RO) - ro@revistaviracao.org.br Recife (PE) - pe@revistaviracao.org.br Rio Branco (AC) - ac@revistaviracao.org.br Rio de Janeiro (RJ) - rj@revistaviracao.org.br Sabará (MG) - mg@revistaviracao.org.br Salvador (BA) - ba@revistaviracao.org.br S. Gabriel da Cachoeira - am@revistaviracao.org.br São Luís (MA) - ma@revistaviracao.org.br São Paulo (SP) - sp@revistaviracao.org.br Serra do Navio (AP) - ap@revistaviracao.org.br Teresina (PI) - pi@revistaviracao.org.br Vitória (ES) – es@revistaviracao.org.br

A Revista Viração é publicada mensalmente em São Paulo (SP) pela ONG Viração Educomunicação, filiada ao Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas de São Paulo (Sindjore); CNPJ: 11.228.471/0001-78; Inscrição Municipal: 3.975.955-5

atendimento ao leitor Rua Augusta, 1239 - conj. 11 - Consolação 01305-100 - São Paulo - SP Tel./Fax: (11) 3237-4091 / 3567-8687 HoRáRio dE atEndimEnto Das 9h às 13h e das 14h às 18h E-mail da REdação E assinatuRa redacao@revistaviracao.org.br assinatura@revistaviracao.org.br

Revista Viração • Ano 8 • Edição 60 3


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9 Seleção consciente

Adolescentes em situação de ru a do Brasil participam de Copa do Mundo na África e de discussão sobr e os direitos da infância

13

oto Controle Rem estreia Mundo, na TV USP,

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Programa Quarto to a com nova forma terceira temporad

No Galera Repórter, a economista Sandra Quintela, fala sobre as consequências causadas pela ocupação da ONU no Haiti, país que sofreu com o terremoto em janeiro

Classificado

s Adolescentes da PCU rece bem secretár municipal do io trabalho de São Paulo pa discutirem pr ra opostas de em prego na juve ntude

18 Sempre na Vira

Manda Vê . . . . . . . . . . . . . 06 De Olho no ECA . . . . . . . . 08 Escuta Soh! . . . . . . . . . . . . 16 Que Figura . . . . . . . . . . . . 29 Rango da Terrinha . . . . . . 30 No Escurinho . . . . . . . . . . 31 Todos os Sons . . . . . . . . . 32 Sexo e Saúde . . . . . . . . . . 33 Parada Social . . . . . . . . . . 34 Rap Dez . . . . . . . . . . . . . . 35

O outro lado

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O fumo da discórdia

A Vira levanta o debate sob re a descriminalização da maconha e traz a visão de especialistas e militantes sobre os dois lados desse polêmico assunto

22 10 anos de FSM

e no 10º Fórum A Agência Jovem de Notícias estev Alegre (RS) e Porto em Social Mundial que rolou u! tece acon que o ira Conf (BA). Salvador

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26

da r, mas Conta zeera as para paga muitas cont Leia

a? Fim do mês trar sua gran ma mo adminis esse proble er lv não sabe co so re o m co de s algumas dica

Meio caminho andado?

Cursinhos pré-vestibulares cont inuam sendo um dos degraus para entrar na universidade

RG VÁLIDO EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL Conselho Editorial

Coordenação Executiva

Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

Paulo Lima e Lilian Romão

Conselho Fiscal Everaldo Oliveira, Renata Rosa e Rodrigo Bandeira

Conselho Consultivo Douglas Lima, Isabel Santos, Ismar de Oliveira e Izabel Leão

Equipe Ana Paula Marques, Camila Luz, Carol Lemos, Elisangela Nunes, Eric Silva, Giliane Queiroz, Gisella Hiche, Luciano Souza, Maria Rehder, Micaela Cyrino, Rafael Lira, Rafael Stemberg, Renata Trindade, Simone Nascimento, Vânia Correia e Vivian Ragazzi

Administração/Assinaturas

Presidente

Norma Cinara Lemos e Danilo Asevedo

Juliana Rocha Barroso

Mobilizadores da Vira

Vice-Presidente

Acre (Leonardo Nora), Alagoas (Jhonathan Pino), Amapá (Camilo de Almeida Mota), Amazonas (Cláudia Ferraz, Délio Alves e Lorena Bahia), Bahia (Isabel Brasileiro e Nilton Lopes), Ceará (Amanda Nogueira e Rones Maciel), Distrito Federal (Ionara Silva), Espírito Santo (Leandra Barros), Goiás (Érika Pereira e

Cristina Paloschi Uchôa

Primeiro-Secretário Eduardo Peterle Nascimento

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Sheila Manço), Maranhão (Sidnei Costa), Mato Grosso do Sul (Cibele Sodré), Minas Gerais (Daniel Rabello, Maria de Fátima Ribeiro e Pablo Abranches), Pará (AlexPamplona), Paraíba (Niedja Ribeiro), Paraná (Juliana Cordeiro), Pernambuco (Maria Camila Florêncio), Piauí (Anderson Ramos da Luz), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Rondônia (Luciano Henrique da Costa), Roraima (Cleidionice Gonçalves),Santa Catarina (Celina Sales e Ciro Tavares) e São Paulo (Luciano de Souza, Simone Nascimento e Virgílio Paulo).

Consultor de Marketing Thomas Steward

Projeto Gráfico Ana Paula Marques e Cristina Sayuri

Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTB 27.300

Divulgação Equipe Viração

E-mail Redação e Assinatura redacao@revistaviracao.org.br assinatura@revistaviracao.org.br

Colaboradores Anne-Sophie Lockner, Antônio Martins, Carolina Gutierrez, Emilia Merlini, Gabriel Vituri, Juliana Giron, Heloísa Sato, Lentini, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Novaes, Philipe Leonhardt, Sérgio Rizzo, Valérie Lengronne e Vitor Massao

Preço da assinatura anual Assinatura Nova Renovação De colaboração Exterior

R$ 58,00 R$ 48,00 R$ 70,00 US$ 90,00


Fale com a gente!

A Vira pela igualdade. Diga lá. Todas e todos Mudança, Atitude e Ousadia jovem.

Jailson Cruz, por e-mail

Diga lá Parabéns em até 140 caracteres! A Vira recebeu muitas mensagens via Twitter sobre os 7 anos de existência completados neste mês. Confira algumas delas:

Nós é que agradecemos, Jailson! Ficamos contentes em saber que utiliza as reportagens da Vira nos trabalhos com os alunos. Já podemos adiantar que, em breve, teremos um site totalmente novo, com muitas novidades. Enquanto isso, o www.viracao.org continua à disposição de todos. Aproveitem com abusos!

Sou educador do Projovem Urbano e gostei muito do site da Viração. Nas aulas de informática sempre trabalho com os alunos os assuntos publicado por lá. Gostaria de agradecer a todos da equipe. @juventudecut Parabéns pelos 7 anos de contribuição às lutas da nossa juventude!

@jornaldaMare

@edenvaladares Que sete se multiplique e resulte em setenta! Parabéns!

@Leo_familiamlk A Vira faz um trabalho maravilhoso que admiro muito!Que dure muitos e muitos anos essa caminhada!

Viração 7 anos!!! Parabéns a todos que fazem valer esta comunicação maravilhosa e verdadeira!

@danilomoreira65 Parabéns a toda turma da @viracao pelos 7 anos de contribuição à juventude brasileira. Sejam muito bem-vindos ao @conjuve!

Ops! Erramos! Siga a Vira no Twitter! Nosso perfil é http://twitter.com/viracao

No texto da reportagem de capa “A hora da virada”, da edição nº 59, ficou entendido que a Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil) e a Associação Brasileira de Radiodifusores (Abra) tentaram impedir a realização da Confecom. Foi engano nosso, já que elas participaram de todo o processo. Essa inviabilização foi tentada pelas outras seis organizações, representantes do setor empresarial, que se desligaram da Conferência. No Galera Repórter, o nome correto do documento internacional que busca a conscientização sobre a responsabilidade humana é “Carta das Responsabilidades Humanas”.

ponto G Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leia-se também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.

participE da vira! Gosta de escrever reportagens? Curte fotos? Ou seu lance são poesias, artigos, charges? Mande seu material pra gente! O endereço eletrônico é redacao@revistaviracao.org.br

Parceiros de Conteúdo

Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para nosso endereço: Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 Consolação - 0135-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: redacao@revistaviracao.org.br Aguardamos sua colaboração!


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Manda Vê Alex Pamplona e Sâmia Maffra, do Virajovem Belém (PA)*

Temporadas inteiras de séries, o filme favorito, o CD de determinado cantor... Tudo isso é possível “baixar” pela internet de forma rápida, com várias opções e sem ônus à sua conta bancária. O download de arquivos pela internet criou para algumas pessoas uma cultura free que aproximou ainda mais os consumidores de seus artistas favoritos. Os que defendem acreditam que baixar músicas, por exemplo, prejudica mais a indústria fonográfica do que a arrecadação sobre os direitos autorais do cantor, com o argumento de que eles não ganhavam bem mesmo. Já os que são contra, dizem que a prática representa um crime

que fere os direitos de propriedade intelectual do Brasil (Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998). Como forma de tentar controlar o uso na internet, tramita no Congresso, em Brasília, um projeto de lei de autoria do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) que pretende criar regras de acesso aos sites, como a proibição de download, com punição de dois a quatro anos de detenção. E você, já baixou arquivos pela internet ou acha que isso é crime? A galera do Conselho Virajovem Belém (PA) foi às ruas para saber:

O que você acha da ideia de baixar arquivos pela internet? Rodrigo Bittencourt, 20 anos, Belém (PA) “Sou a favor do download, pois existem pessoas que não têm condições de comprar um CD ou um DVD. Mas existem os que utilizam o download para obter lucro com a venda ilegal. Aí sou contra, porque a pessoa está usando de mau grado, sendo antiético com o artista e com a sociedade. A pirataria é crime”.

Rafael Rudá, 23 anos, Belém (PA) “Eu costumo baixar arquivos. Mas dependendo do ponto de vista pode ser negativo ou positivo. Positivo pra quem usufrui, para quem baixa de graça. E negativo para as gravadoras de CDs, por exemplo, e para o artista que deixa de vender o produto original”.

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Diego Araújo, 27 anos, Belém (PA) “É uma tendência que só vai aumentar e se aprimorar. No início dessa febre por downloads, os vídeos eram de baixa resolução ou, quando tinham boa qualidade, o tamanho dificultava o acesso ao arquivo. Hoje você tem filmes de 300 mega com definição excelente”.

*Integrantes de um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (pa@revistaviracao.org.br).


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Daisa Passos, 22 anos, Belém (PA)

Pamela Pessoa, 22 anos, São Paulo (SP)

“Acho que não é crime. É uma coisa que não tem mais controle e sempre vão arrumar um jeito de fazer download. Alguns artistas ainda conseguem vender seus materiais fonográficos, outros não. E disponibilizar para download pode ser o diferencial desse artista. Estamos numa época em que qualquer um pode gravar seu trabalho e jogar em uma página na internet”.

“São alternativas que facilitam em partes. Eu, por exemplo, não vivo sem escutar música na internet durante o dia. Mas, em contrapartida, não tenho o menor prazer em assistir filmes ou ler livros no computador, porque para mim isso está muito ligado ao prazer. Gosto de folhear as páginas de um livro e ir ao cinema para assistir ao filme que gosto”.

Renan O. Santos, 18 anos, São Paulo (SP) “Acho que só não deve ser a única forma de adquirir cultura e informação, pois não podemos esquecer das bibliotecas e cinemas. Deve sim, ser uma fonte, aproveitando o dinamismo que a rede oferece”.

Flávia Lima, 20 anos, Belém (PA) “Eu não costumo fazer porque tenho medo de vírus. Mas não acho que seja crime, visto que os filmes demoram muito para ser exibidos (no cinema) aqui em Belém e puxar da internet é estar na frente. Já os livros são muito caros e para nós, universitários, que às vezes só precisamos de um capítulo, também é uma questão de economia fazer download”.

O governo federal mantém no site www.dominiopublico.gov.br uma biblioteca digital em que se pode ter acesso a inúmeras obras literárias de escritores como Machado de Assis e Joaquim Nabuco, totalmente de graça e sem o “peso” na consciência de ter violado alguma lei de direito autoral. O espaço, desenvolvido em software livre, é composto por materiais (áudios, vídeos, textos e imagens) que estão em domínio público ou que tenham autorização para serem compartilhados.

Bruna Agra Melo, 18 anos, São Paulo (SP) “Se for um arquivo com conteúdo educativo, é ótimo! Mas se não houver interesses de boa índole, é uma péssima ideia. É como praticar um crime: pirataria”.

Faz Parte

CD Cansei de ser Sexy pode ser encontrado no “Álbum Virtual”

Uma alternativa encontrada pela gravadora de CDs Trama para continuar faturando com o mercado fonográfico foi disponibilizar álbuns inteiros e gratuitos de seus músicos, e sem que eles percam dinheiro com isso. Os projetos “Álbum virtual”e “Download remunerado”oferecem ao público músicas que podem ser baixadas legalmente e, com a ajuda de patrocinadores, remuneram o artista de acordo com a quantidade de downloads realizados pelos usuários: http://albumvirtual.trama.uol.com.br


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Ivo S sa ou

A C E o n o De olh Equipe do Portal Pró-Menino*

Como deve acontecer o abrigamento de adolescentes? O que acontece quando eles e elas completam 18 anos?

A

adolescência é uma fase da vida bastante delicada pra todo mundo. Se isso é verdade para adolescentes que moram com suas famílias, imagine aqueles que moram em abrigos. Para estes, existe um desafio especial: a obrigatoriedade de se desligarem da instituição ao completar 18 anos. É que o “abrigo” ou “acolhimento institucional”, como passou a ser chamada no ano passado, é uma medida protetiva prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente e que não deve valer para os maiores de 18. Assim, é muito importante que esses adolescentes tenham autonomia e independência quando atingem a maioridade. Mas isso significa que eles devem ser preparados para a vida após o abrigo. Rodas de conversa, apoio psicológico, fortalecimento dos estudos, preparação para a vida profissional e inserção em programas de moradia em repúblicas são algumas das atividades que os abrigos devem oferecer para apoiar o jovem a dar este importante passo que é o de conduzir sua vida de modo independente. Entretanto, a diretriz mais importante nos programas que executam o acolhimento institucional é o da reinserção do adolescente, como da criança, na vida em família. A Nova Lei da Adoção, aprovada em 2009, veio dar uma força ainda maior para que a inclusão familiar seja priorizada: a partir de agora é obrigatório restringir a, no máximo, dois anos o tempo de abrigamento, incentivandose a volta ao lar ou a adoção. Durante o tempo de abrigamento, é importante que se faça um trabalho com as famílias para que elas possam criar estrutura para receber os meninos e meninas de volta. E aqui a nova lei tem uma abordagem bastante contemporânea, o moderno conceito de família extensa: ela considera que a família que pode acolher os meninos e meninas seja composta não só pelos seus pais e mães,

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mas também por seus avós, tios, madrinhas, primos, irmãos mais velhos, ou seja, todos aqueles com quem eles tenham vínculos de afinidade e intimidade. Assim, o pessoal do abrigo deve estudar cada caso com a perspectiva de proporcionar esse retorno o mais rápido possível. A ideia principal é que crescer em uma instituição não é coisa boa para ninguém e deve acontecer apenas por um período de transição. Na época da Funabem, no período do Regime Militar (1964-1985), a institucionalização Lentini era prática corriqueira e algumas crianças passavam toda a infância e adolescência sem saber o que era a vida em família. O Estatuto, felizmente, rompeu radicalmente com esse modelo e hoje o acolhimento institucional é uma medida que, apesar de muito necessária em alguns momentos da vida familiar de crianças e adolescentes, já vem com prazo de validade.

V

O Portal Pró-Menino, parceiro da Vira, é uma iniciativa da Fundação Telefônica em conjunto com o Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (Ceats/FIA).

Para aprofundar ainda mais esse debate, vale conferir l Nova Lei da Adoção (lei 12.010/2009) l Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária (documento construído pelo Conama) Os documentos estão disponíveis na seção “legislação” do Portal Pró-Menino (www.promenino.org.br).


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Gol de mudança Divulgaç

ão

de de oito países, participam a, ru de o çã ua sit em s scente Na África, joven os da criança e do adole eit dir s do a fes de a ra pa copa de futebol

Camila Andrade Vaz, do Virajovem São Paulo (SP)*

E

les não levam os nomes nem a fama de jogadores como Kaká, Cristiano Ronaldo e Messi, mas gostam de futebol da mesma maneira. E essa motivação pelo esporte fez com que meninas e meninos em situação de rua e participantes do projeto Quixote, em São Paulo, fossem convidados para disputar a Deloitte Street Child World Cup, a primeira Copa do Mundo de Criança de Rua. Com abertura prevista para março, os jogos acontecerão em Durban, na África do Sul, que irá sediar a Copa do Mundo de Futebol este ano. O campeonato terá a participação de nove jovens de cada seleção. O time brasileiro – com jovens que já viveram em situação de rua e hoje estão em abrigos – está afiado no futebol e na defesa de seus direitos. A Copa contará com dois momentos: o primeiro em que os times dos oito países (Brasil, África do Sul, Índia, Ucrânia, Nicarágua, Filipinas, Reino Unido e Tanzânia) disputarão os jogos em times mistos, e o segundo quando todas essas nações participarão de uma Conferência para debater os direitos dos jovens. Durante a Conferência, os participantes produzirão o “Manifesto da Criança de Rua”, que terá ações definidas para cada país a serem rojeto

s/P a Lele

te

Quixo

sugeridas como complementos de políticas públicas para os jovens em situação de rua. A jovem C. R. não esconde a ansiedade de participar do evento, pois compreende a importância de discutir com moradores de outras localidades os direitos juvenis. “Quero muito estar nos jogos, mas acredito que a Conferência será a melhor parte”, diz. A organização do evento foi formada pelas instituições Amos Trust, Consortium for Sreet Children, Street Action, Global Goals e a sul-africana Umthombo Street Children, além da colaboração de organizações locais dos países participantes. Para a viagem, os jovens brasileiros montaram uma personagem chamada Gabriela, que carrega parte da história de cada um, mostrando como todas as histórias possuem pontos de identificação. Eles ficaram surpresos quando viram como a Gabriela parecia real e o quanto tinha um pouquinho de todos. Os estudantes tiveram aulas introdutórias de educação patrimonial. Simularam um julgamento com dois grupos: um que defendia a mineradora que queria se instalar no bairro, e o outro, a comunidade. A comunidade venceu.“Mesmo sendo brincadeira, levamos como se fosse real”, disse G. L., de 14 anos, do grupo vencedor.Para quem está por aqui, um blog

Os oito países participantes disputarão os jogos em times mistos

(http://copadomundodecriancaderua. wordpress.com) foi criado pelos adolescentes para ser uma ferramenta de mobilização para todos os jovens, fazendo com que a discussão e ações para os direitos das crianças e dos adolescentes sejam permanentes, como ressalta o jovem Alan: “Temos que continuar batalhando pelos nossos direitos aqui no Brasil”. A ONG Cidade Escola Aprendiz auxiliou o projeto Quixote na formação comunicativa dos jovens, mostrando como poderiam utilizar blogs, fotografia, vídeo, gravações de áudio para a cobertura do evento. V

len

Mada

*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (sp@revistaviracao.org.br)

Confira todas as novidades e notícias sobre a Copa em: http://streetchildworldcup.org/

Equipe brasileira está em Durban para a criação do “Manifesto da Criança de Rua”

Revista Viração • Ano 8 • Edição 60 09


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a r e l a G

r e t r Repó

l a i c n e g r e m Situação e A economista Sandra Quintela fala sobre a ocupação internacional no Haiti

Alex Ferreira e Gizele Martins, do Virajovem Rio de Janeiro (RJ)*

C

om um saldo superior a 200 mil mortos, o terremoto de 7 graus de magnitude que devastou, em janeiro, a capital do Haiti, Porto Príncipe, só veio para complementar o problema social que já enfrentava há tempos. Considerado o país mais empobrecido das Américas, o Haiti, com 9 milhões de habitantes, tem uma taxa de mortalidade infantil alta: para cada mil nascimentos, 60 morrem. Ex-colônia da França, em 1957 o país entrou numa ditadura militar comandada pelo então presidente e médico François Duvalier, conhecido como Papa Doc. O regime durou até 1986, quando a população tirou o filho de François do poder, que havia assumido após a morte do pai, quinze anos antes. Mas mesmo assim, o Haiti continuou a viver com corrupção política e baixo desenvolvimento. Eleições livres aconteceram em 1990, mas outro golpe militar assombra o país por mais quatro anos. Em 2004, uma missão da Organização das Nações Unidas (ONU), a Minustah (Missão de Paz da ONU no Haiti), teve de intervir no andamento da região por conta do aumento da violência que só fez subir o número de mortes. A Minustah é liderada pelo Brasil, que conta com cerca de 1300 soldados intervindo no país. Para entender melhor toda essa situação, a economista Sandra Quintela nos concedeu uma entrevista e falou sobre o trabalho

que realiza no Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS), sediada no Rio de Janeiro, que surgiu em 1986 atuando em dois campos: o de educação popular e o de pesquisa socioeconômica. O PACS tenta pressionar o governo brasileiro a retirar suas tropas militares do Haiti por ter presenciado cenas de opressão cometidas pela Minustah. Viração: Como é feito o trabalho do PACS no Haiti? Sandra Quintela: Estivemos no Haiti em 2005 em uma missão de solidariedade. Uma missão com representantes de mais de 20 organizações continentais e coordenada pela Rede Jubileu Sul. Esta missão foi dirigida pelo prêmio Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel e por Nora Cortinas - uma das fundadoras das mães da Praça de Maio na Argentina. Nosso trabalho se desenvolve no sentido de pressionar no Brasil, no Haiti e nos espaços internacionais a retirada das tropas de ocupação no país e o cancelamento da dívida externa do Haiti. O que acha da interferência das tropas brasileiras no Haiti? As tropas brasileiras estão subordinadas à missão da ONU para o país, a Minustah. O Estado brasileiro lidera essas tropas e com certeza lhe recai maiores responsabilidades. Acreditamos que a presença de brasileiros no país não atende os objetivos propostos da missão, Não é de solidariedade com o povo haitiano, mas de

Linha do Tempo Cristóvão Colombo chega à então ilha Ayiti, que passou a ser colonizada pela Espanha. Os indígenas do lugar foram forçados a trabalhar juntando-se, em 1517, a outros escravos que foram trazidos da África.

1492 10 Revista Viração • Ano 8 • Edição 60

A França ocupa parte do território em 1665, quando traz mais escravos. Em 1794, é assinada a abolição da escravatura.

1665

No ano de 1802, numa tentativa de escravizar novamente a população, a França entra em conflito com os moradores da ilha e é derrotada. A primeira independência foi dada em janeiro de 1804.

1802


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Arquivo pessoal

A situação é alarmante e o país precisa mais do que nunca de solidariedade internacional

contenção militar de sua população e que viola os direitos humanos, principalmente o das mulheres, que no Haiti representam a luta e resistência contra ditaduras e ocupações militares, (que foram muitas por lá). As tropas brasileiras estão fazendo do Haiti um campo de treinamento. Esses treinamentos servem ao processo de militarização de diversas periferias urbanas. Não é a toa que há treinamentos dessas tropas em favelas do Rio de Janeiro. Elas vão ao Haiti e depois retornam à cidade carioca, como foi o caso da ocupação do Morro da Providência pela Guarda Nacional, em 2008. E quais são as maiores dificuldades daquele país? Antes mesmo do terremoto, o Haiti já era um dos países mais empobrecidos de recursos e com um dos índices de desenvolvimento humano mais baixos do mundo (IDH índice que mede o desenvolvimento do país com base na expectativa de vida. O Haiti é o 153º país da lista; o Brasil está na posição 63). A ausência de condições mínimas de saúde, educação, saneamento, emprego e salários dignos afligem a maior parte da população. Com um Estado debilitado historicamente e sem condições de realizar investimentos sociais, a situação é alarmante e o país precisa mais do que nunca da solidariedade internacional para se reerguer. Quais tipos de ajuda são realmente necessárias por lá? Após o terremoto o Haiti passou a necessitar de recursos básicos como alimentos, água, vestimenta etc. Outras necessidades importantes agora se referem à reconstrução do país, tanto no que se refere a recursos

Os EUA tomam o controle em 1915. De 1957 a 1986, vive uma ditadura com François Duvalier, o Papa Doc, após eleição fraudada.

1915

Jean-Bertrand Aristide é eleito presidente do Haiti em 1990. Em 1995, A ONU passa a intervir no comando do Haiti, que vem tentando se organizar politicamente.

1995

financeiros como de solidariedade e cooperação técnica na área de construção, eletricidade, agricultura e pecuária para que o país volte a produzir com autonomia suas condições de vida. Ou seja, o Haiti não precisa de armas e tropas, mas sim de eletricistas, enfermeiros, médicos e agrônomos. Os governantes são os maiores culpados por tamanho abandono? Por mais que os governantes do país contribuam para a manutenção da situação de exclusão e miséria em que vive a maioria da população, boa parte das dificuldades do povo haitiano hoje devem-se ao papel de dominação e colonialismo exercido tanto pela França, quanto pelos EUA no Haiti. Cabe lembrar que o Haiti foi o primeiro país a se tornar independente por uma revolta de escravos e as grandes potências parecem nunca ter esquecido esse "pecado capital". Ocupações e golpes militares patrocinados por essas duas potências são uma constante na história haitiana. E a interferência da mídia, o que é real e o que é mito? A mídia brasileira sempre se caracterizou pelo silêncio em relação ao papel cumprido pelas tropas brasileiras no Haiti, ou adotando um tom ufanista, ou ignorando boa parte dos aspectos críticos da Minustah. Mesmo com o que vem se sucedendo após o terremoto, a cobertura é superficial, pois mostra a tragédia humana e social, mas não lida criticamente com as questões políticas realmente em jogo, como por exemplo, a ocupação militar dos EUA logo após o terremoto ou a questão da dívida externa. A mídia, ao se ater ao imediato, não dá conta do fato de que os problemas sociais do Haiti são históricos e de sua colonização brutal, o que demanda ações políticas mais ousadas, que questionem a ilegitimidade da ocupação, da opressão por dívida etc. V

Se você puder colaborar com doações ao Haiti, o Unicef mantém uma conta para depósito que podem ser feitas em favor do Fundo das Nações Unidas para a Infância, no Banco do Brasil; agência 3382-0; conta-corrente nº 404700-1. O CNPJ do Unicef é 03744126/0001-69 *Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (rj@revistaviracao.org.br)

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No ar: Comunidade da Quadra rádio comunitária e am iliz ut á, ar Ce no o, ul Pa de e Moradores de São Vicent s de participação popular to en m ru st in o m co o irr ba de jornal André Thé, André Ítalo, Camille Viana, Carlos Mazza, Caroline Brito, Hayanne Narlla, Isadora Rodrigues, Maurício Moreira, Marina Fernandes, Raiana Soraia e Rones Maciel, do Virajovem Fortaleza (CE)*

J

ovens do projeto Agência Torpedo de Notícia, projeto da ONG Catavento, visitaram a comunidade São Vicente de Paulo, conhecida como Comunidade da Quadra, em Fortaleza (CE). O objetivo era conhecer de perto tudo o que eles pesquisaram sobre o local durante as oficinas de formação da Agência, que utiliza torpedo SMS como ferramenta de comunicação social. A comunidade possui atividades de comunicação próprias, como a produção de um jornal comunitário e a elaboração de programas alternativos de rádio, que contam com a participação dos moradores. Atualmente, a comunidade é habitada por cerca de 600 famílias, na sua maioria pessoas de baixa renda que dividem espaços de moradia pequenos. O crescimento desordenado das construções se dá de forma vertical, com casas de segundo e até terceiro andar.

Divulgação

Jornal iniciado em 2005 é produzido por jovens da comunidade

Cidadania em rádio Era 1993, quando Chico Cambista e Zequinha criaram a rádio comunitária Latitude 40º, sempre com grandes dificuldades. Hoje, com quase dois mil ouvintes, a rádio movimenta a comunidade São Vicente de Paulo com serviços de utilidade pública ou mesmo programas de entretenimento, sempre com mensagens políticas que buscam conscientizar a população. O comprometimento com a rádio sempre fez parte da vida de seu Francisco Geraldo da Silva, o Chico Cambista. Ao lado de seu “sócio”, o Zequinha, Francisco também ajudou a construir a programação da emissora que inicialmente teve a rejeição dos ouvintes. Após a ameaça de fechamento, foi feita a reformulação dos programas e, desde então, não parou mais. “Começamos a estudar pensando em um programa que fosse do gosto da maioria e que ao mesmo tempo servisse como instrumento de comunicação para alertar sobre as necessidades da região. Nosso sistema de comunicação é real”, afirma Chico Cambista.

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Por meio das palavras Outra iniciativa é o jornal Voz da Quadra, projeto iniciado em 2005, com o apoio da ONG Catavento Comunicação e Educação e de jovens da própria comunidade. A primeira edição saiu após a realização de oficinas sobre comunicação. Em seguida, a própria comunidade passou a dar continuidade à iniciativa. Diferente dos jornais tradicionais, ele traz um estilo bem característico da comunidade e é distribuído sem nenhum custo aos moradores. O jornal tem um espaço reservado para o perfil do morador que traz suas opiniões, além de informações sobre os problemas locais e as festas da comunidade. A vontade de incentivar a comunidade a se conhecer melhor é o maior estímulo para os jovens que participam do jornal. Muitos desses colaboradores não são estudantes nem graduados em jornalismo, mas buscam por meio de suas palavras dar voz à comunidade em que moram.

*Um dos conselhos Jovens da Vira presentes em 24 Estados e no Distrito Federal (ce@revistaviracao.org.br)


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Sintonia em capítulos

Rafael Stemberg

Mundo estreia Em formato de seriado, programa Quarto pública terceira temporada ambientado em escola

Simone Nascimento, do Virajovem São Paulo (SP)*

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m novembro de 2008, esta revista trouxe uma reportagem (Mude de canal, edição nº 47) sobre um programa de TV feito por adolescentes e jovens, realizado numa parceria da TV USP e a Viração. Na época, tudo era muito novo e esse projeto, chamado Quarto Mundo, ainda estava em sua primeira temporada. Com formato de entrevista, o programa recebeu inúmeros representantes de movimentos sociais e personalidades da música e da arte para discutir assuntos que permeiam o universo jovem. Pois bem, um ano e meio depois, a equipe do projeto sentiu-se preparada para um novo desafio: produzir um seriado, em cinco capítulos, sobre os temas mais cabeludos que surgiram ao longo da produção. E o cenário escolhido para essa produção foi uma escola pública em São Paulo (SP), com roteiro, produção e gravação feitos por essa galera. Mas para que tudo isso desse certo, foram mobilizados para as gravações 36 adolescentes e jovens, 20 colaboradores da TV USP, 10 pessoas como apoio institucional e 20 prestadores de serviço. A equipe, durante dois meses, teve de trabalhar nos finais de semana, em alguns casos, das 5 da matina até as 23h, já que ninguém podia faltar na escola. Participante desde o primeiro programa, Camila Andrade Vaz, de 18 anos, gostou tanto da experiência televisiva que tem planos de trabalhar na área. “Quero trabalhar com audiovisual no terceiro setor. Não penso em projetos grandes, mas de qualidade”, conta a estudante que atua na ONG Rede Interferência, que luta pela democratização da comunicação atuando principalmente em espaços escolares. O primeiro episódio, que estreia em março, traz para o debate o surgimento das chamadas “famílias” em escolas, grupo de jovens que seguem as mesmas tendências musicais, estilos ou ideais e que, algumas vezes, quando há mais de uma família no mesmo local, disputam uma visibilidade maior na escola. Em seguida à série, os participantes vão para o estúdio da emissora discutir o tema do programa entre eles. *Integrante de Conselho Jovem da Vira presente em 22 Estados do País e no Distrito Federal (sp@revistaviracao.org.br)

Elenco do programa em festa de lançamento de nova temporada

Formação Por trás das câmeras, outra temporada já está em andamento. Novos adolescentes de diversas regiões de São Paulo, participantes de projetos da Vira, irão integrar a nova equipe do programa. Eles terão formação sobre a história da televisão, o passo a passo da criação de um programa de TV e seus formatos, além da operação de câmeras, regulagem de áudio, ajuste de luz e técnicas de jornalismo. Segundo a diretora de jornalismo da TV USP, Ana Paula Chinelli, a experiência de compartilhar com os adolescentes a linguagem televisiva, permitiu a eles entender melhor o processo de produção de mídia audiovisual. “Foi um desafio trabalhar com os jovens, pois eles têm uma energia difícil de acompanhar. Mas como resultado, conseguimos desenvolver um produto em que os participantes puderam fazer mídia do ponto de vista deles”, diz a jornalista. V

Você pode assistir à série Quarto Mundo na Escola na TV USP (canais 11 da NET, 71 da TVA e 187 da TVA digital), dentro do território de São Paulo, todas as quintas-feiras às 22 horas!

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Primeiro Emprego sem susto Adolescentes da Plataforma dos Centros Urbanos realizam roda de conversa sobre mercado de trabalho na Viração, em São Paulo

Estefania Souza Silva, Lucas da Silva Pontes, Nayara Souza Lima, Luana Teixeira, Jéssica Idalina Ribeiro e Silvia Ariel Carvalho, adolescentes comunicadores da Plataforma dos Centros Urbanos (PCU) e Vânia Correia, da Redação

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e o aumento de vagas em cursos de capacitação para o mercado de trabalho. As expectativas do encontro foram superadas. Além da discussão das propostas, os adolescentes fizeram perguntas e estabeleceram um diálogo aberto com o secretário. Eles inclusive conseguiram influenciar nos moldes do programa ProJovem (programa de preparação do jovem para o mercado de trabalho) no município, fazendo o secretário considerar alteração nas capacitações previstas no programa, dando ênfase para a formação específica por faixa etária para atender as demandas específicas dos adolescentes de 16 anos que enfrentam muitas dificuldades para ingressar no mercado de trabalho. “Nós já vamos

reative

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Marcos Cintra ouviu propostas dos adolescentes para a área de trabalho

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a tarde quente do dia 5 de fevereiro, cerca de 20 adolescentes comunicadores da Plataforma dos Centros Urbanos (PCU) se reuniram na Viração para receber o Secretário Municipal do Desenvolvimento Econômico e do Trabalho da cidade de São Paulo, Marcos Cintra. O encontro começou num clima descontraído: os adolescentes sentados nos pufes coloridos da Vira e o secretário ali, bem em frente, escutando tudo o que tinham a dizer. Quem via a desenvoltura da galera, não podia imaginar que há pouco havia nervosismo e insegurança com a visita. Mas tão logo o secretário chegou, quebrou o gelo, enchendo os adolescentes de perguntas e, o mais importante, deixandoos à vontade para respondê-las. O objetivo do encontro era abordar temas da Agenda 2012 discutidos no primeiro encontro dos adolescentes comunicadores da PCU com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, em junho de 2009, além de apresentar propostas elaboradas por eles para a área do trabalho, como a extensão da Lei do Jovem Aprendiz para os órgãos públicos

Adolescentes pedem ênfase para formação específica


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sair daqui com uma medida prática, resultado dessa conversa. Eu não tinha pensado em fazer projetos específicos pra essa faixa de idade”, disse o secretário. Outra proposta foi a de implantação do Jovem Aprendiz na Secretaria do Trabalho, embora não seja obrigatório por lei a contratação de aprendizes pelo setor público. Tudo foi tão envolvente que o encontro se estendeu e o secretário acabou ficando além do tempo combinado. “Essa é a primeira vez que eu tenho a oportunidade de conversar com vocês, gostaria de no futuro voltar a ter esta oportunidade, quem sabe daqui a seis meses, pra saber o que aconteceu, como é que a coisa evoluiu depois dessa conversa”, disse no encerramento do encontro. A Plataforma dos Centros Urbanos é uma iniciativa do Unicef, desenvolvida com diferentes parceiros, que tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida das crianças e adolescentes que vivem nas grandes cidades. V

Pergunta rápida O secretário municipal do Desenvolvimento Econômico e do Trabalho da cidade de São Paulo, Marcos Cintra, respondeu aos adolescentes sobre como deve ser a preparação do jovem para o primeiro emprego.

Você sabia que existe a lei do Jovem Aprendiz?

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A Lei 10.097, criada no ano 2000, conhecida como Lei do Jovem Aprendiz, proíbe que adolescentes menores de 16 anos trabalhem. A exceção é para aqueles que trabalham na condição de jovem aprendiz, entre os 14 e 24 anos. A carga horária de trabalho não pode atrapalhar os estudos do jovem e a empresa contratante deve ainda garantir a ele uma formação profissional, como parte das atividades exercidas na empresa. A Lei estabelece que empresas com mais de cem funcionários tenham entre cinco e 15% de jovens aprendizes, com exceção de entidades sem fins lucrativos, como as ONG's.

Como o adolescente deve se portar diante das exigências do mercado de trabalho? O jovem tem que conviver com o mercado de trabalho, com a ideia de que ele vai ter que trabalhar. Outro ponto é a empregabilidade, a questão da atitude que o jovem deve ter e da experiência versus idade. Há também a questão do preconceito, que é muito diferente da “exigência de mercado”. Dou um exemplo: você pega uma atividade como auxiliar de enfermagem que exige experiência, por isso não pode contratar alguém sem nenhum conhecimento e involuntariamente fazer com que ela cometa um erro e comprometa a saúde de outra pessoa. Ou seja, pedir experiência é uma coisa, mas exigir um certo conhecimento para a execução de uma atividade é necessário. Os jovens não devem interpretar isso como uma maneira de barrar a entrada no mercado de trabalho, de jeito nenhum.

Na sua opinião, o trabalho edifica ou modifica? Trabalho humano é que constrói tudo, desde as coisas físicas materiais pra fazer o papel, o tapete e qualquer coisa, até o trabalho intelectual também. Ou seja, o trabalho edifica, constrói. Ele destrói também, quando o processo de produção é predatório. O trabalho é uma oportunidade que você tem para conviver e ver as necessidades de outras pessoas, o que você pode dar pra coletividade. Isso muda a pessoa. Quanta coisa a gente não aprende com o trabalho? O investimento que vocês fazem na cabeça, por meio do estudo, da leitura, da criatividade, sempre acompanhará vocês. Nunca ninguém vai tirar isso, e sempre valerá muito. Por isso, busquem sempre oportunidades de estudo, dediquem duas horas por dia, não importa a idade.

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Mulheres e HIV: um encontro pela vida ne mulheres Evento no Rio de Janeiro reú equidade de gênero

para discutir

Camila Pinho, de Belo Horizonte (BH) e Micaela Cyrino, de São Paulo (SP), da Escuta Soh! Colaborou o Grupo de Mulheres da ONG Pela Vidda Rio

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do um A conversa foi toman bastante significativa. em am então pensadas rumo diferente e for que é o para mudar a ideia do conjunto propostas universo feminino. bém de propostas foi tam Após o levantamento a bre so ximos bate-papos acordado que nos pró r e, ipa rtic pa dos homens para mulher, serão convida debate. V assim, enriquecer o

, a ONG Pela m outubro de 2009 encontro com Vidda Rio realizou sada em uma turma interes e cias. Eram jovens compartilhar vivên ia nc riê com uma expe adultos, cada um uma mulheres, ocorreu diferente. Entre as do an qu o da equidade discussão em torn ta, jus a rm os direitos, de fo são assegurados duais das pessoas. às condições indivi s e cargos de nquista de espaço Mesmo com a co m imaginadas, lheres jamais seria trabalho em que mu universo feminino tir alguns temas do ainda é difícil discu infelizmente, essa estão por perto. E, s quando os homens aumento de caso r responsável pelo r lhe mu a , resistência pode se r exemplo /aids, quando, po o tiv va er es de pessoas com HIV eiro use pr sugerir que o parc tem vergonha de al. numa relação sexu com uma dinâmica cussão começou dis a Em círculo, ntou. Após as cipante se aprese s na qual cada parti da, abordando tema conversa foi inicia . e” ad lid apresentações, a ua e “sex “mulher com HIV” sobre “ser mulher”, s, dos 20 aos da ria va s de s de ida Havia participante situações tórias, vivências e 60 anos. Várias his r isso o debate do soluções. E po complexas, buscan os de vista. r de diversos pont aconteceu a parti istas: os ões um tanto mach No início, colocaç ão sobre o uso ou os donos da decis homens se diziam xual. As mulheres em uma relação se não da camisinha pontos de vista es, expressavam com mais idade, mã tigas e que não em moralidades an ainda enraizados lher: “minha filha os direitos da mu levavam em conta é muito nova”, m namorar, pois ela não pode sair, ne ir em casa”, “se eu namorada pra dorm a “meu filho leva a har que eu sou um de fazer, ele vai ac e qu r ha ac falar o que gosto i va , ele iser usar camisinha safada”, “se eu qu garotas mais as to an qu lação.” En estou traindo a re e mostrar onde laro que temos qu novas rebatiam: “c relação a dois. Ou construímos uma temos prazer, assim rmos”. com quantos quise a para transformar idade foi muito bo de ça foi A diferen is homens também A presença de do os pensamentos.

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Nossos ideais

s pessoas,

cipação de outra

4Contar com a parti

de outras lutas; e onde ecer nosso corpo 4Que devemos conh temos prazer; ersar mais; as precisam conv 4Que jovens e adultuiremos mais mudanças e 4Que juntas conseg es independentes. 4Que somos mulher

Não tem mais desculpa isinha estava que o uso da cam Foi-se o tempo em pois já circula no itude do parceiro, at à o ad on ici nd co de poliuretano, é o feminino. Feito tiv va er es pr o o il Bras de ser introduzid raceptivo que po nt co o od ét m al. um lação sexu horas antes da re dentro da vagina m anel, e o da co s tremidade a Ele possui duas ex ra do uso, basta r é aberta. Na ho aio m de o r ida m ta er tre ex nfortável, ap r uma posição co ra nt co do en el er nív o ulh m é alcançar eri-lo na vagina at ins e or en m el an osso do púbis. strações sobre o do produto há ilu inino Nas embalagens preservativo fem isinha comum, o m ca a o m Co o. us xuais s, dst (doenças se protege contra aid a gravidez não um de m hepatites, alé e is) íve e iss m ns tra -la em farmácias é difícil encontrá a nd Ai a. a não tiv jad na ne er pla a nova alt mas aos poucos e, úd sa de os st po es. bolsas das mulher poderá faltar nas


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Vidas Reconstruídas levar to social foi criado para Em Belo Horizonte, proje manização às crianças em atividades e cursos de hu situação de risco Filipe Campos Borges, do Virajovem Vitória (ES)*

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ma rua cheia de lixo, ameaças de confrontos entre grupos de traficantes, e um prédio utilizado para o uso de drogas no Morro das Pedras, um dos maiores aglomerados de vilas e favelas de Belo Horizonte. Este foi o cenário encontrado por um grupo de jovens que, há cinco anos, decidiu fazer uma intervenção no local. Tudo começou com um prédio residencial que não conseguira vender nenhum de seus apartamentos por conta da violência na região. O proprietário, bastante frustrado, decidiu emprestar o imóvel para alguma instituição filantrópica. Nasceria assim o Projeto Reconstruir, uma prova de que, a partir da disposição e boa vontade, é possível transformar a realidade de muitas pessoas em situação de risco. O início do trabalho foi quase surreal: eram tantas as necessidades da população local, que era difícil entender em que áreas agir. As pessoas solicitavam alimentos, visitas a seus filhos privados de liberdade, encaminhamento para consultas médicas, alfabetização de adultos, visitas hospitalares etc. Enquanto isso, via-se o círculo vicioso das adolescentes grávidas e dos meninos entrando para o tráfico de drogas. Essa experiência inicial levou o grupo a concentrar seus esforços no trabalho com as crianças. Por meio de um trabalho de prevenção, foi feito um trabalho de conscientização ao não uso de drogas e de precaução à violência. Assim, todas as atividades passaram a ter, como pano de fundo, ensinamentos de valorização da vida, de respeito ao próximo, de dignidade e de direitos humanos. Do reforço escolar ao futebol, da literatura ao jiu-jitsu, da informática ao balé, todas essas e outras atividades, orientadas por voluntários que ensinam o valor da amizade, a importância da dedicação e da perseverança. V

O Projeto Reconstruir funciona na Rua 11 de Setembro, 300 Vila Leonina – Belo Horizonte (MG) - Tel. (31) 3373-4557 ou contato@projetoreconstruir.org.br - www.reconstruir.org *Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (es@revistaviracao.org.br)

No projeto, crianças participam de oficinas lúdicas com temas educativos

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Kyrill Poole - Flickr Creative Commons

Capa menos uma vez no mês. Outro levantamento do Cebrid diz que a idade média de brasileiros que começam a usar a droga está entre 13 e 14 anos. Descriminalizar é diferente de legalizar. Esse último pressupõe a produção, distribuição e comercialização da maconha em território nacional, transformando a maconha em produto comum, com impostos e fiscalização. Já a descriminalização pede que não haja nenhum tipo de punição ou processo judicial a quem for flagrado consumindo a droga. Quem defende a descriminalização argumenta que o uso de drogas deve ser tratado como questão de saúde pública e não criminosa, e dessa forma seria possível dar maior apoio a quem necessita de ajuda, em caso de dependência química. Essa diferenciação na lei ajudaria a acabar com o fato de os usuários contribuírem com o comércio ilegal, pois poderiam cultivar a maconha que irão fumar. Os contrários dizem que descriminalizar a maconha só ajudaria a aumentar o número de usuários, pois o acesso ao fumo seria ampliado, e não ajudaria a resolver o problema do tráfico. O cientista social Marco Magri participa da Marcha da Maconha em São Paulo. Ele fala que o Brasil perde por não explorar a planta da maconha e prefere utilizar o termo “regulamentação”. “A regulamentação da Cannabis pode ser útil nos campos medicinal e têxtil. Ajudaria em tratamentos como câncer e o HIV, produção de papel e respeitaria algumas religiões que utilizam a planta”, conta Marco.

inalizar o uso Quando o assunto é descrim ide sobre o que da maconha, o Brasil se div poderia trazer de fato uma mudança na lei

Alex Ferreira, do Virajovem Rio de Janeiro (RJ)*, Daniel Libardi, do Virajovem Vitória (ES), Gabriel Vituri, colaborador da Vira em São Paulo (SP) e Rafael Stemberg, da Redação

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No Brasil, até 1905, era possível comprar um cigarro chamado “Índios”, uma mistura de tabaco com maconha que continha no rótulo a mensagem: “serve para combater asma, insônia e catarros”. Atualmente, a produção, o consumo e o comércio da maconha são ilegais no Brasil. Maconha na berlinda As pesquisas apontam que o fumo pode trazer ao usuário efeitos psíquicos ou físicos causados por uma substância química produzida pela maconha, o THC (tetraidrocanabinol). Ele pode ser responsável por ações que podemos classificar como instantâneas (agudas) ou de longo prazo (crônicas). Entre os efeitos agudos, estão o avermelhamento dos olhos, aumento no ritmo dos batimentos cardíacos e secura na boca. Há também os efeitos de alucinação e delírio, como risos incontroláveis, visões, sensação de relaxamento para alguns ou crises de choro e angústia para outros. Como efeitos crônicos, podem acontecer problemas respiratórios, redução de 50% a 60% da testosterona nos homens, que aumentam as chances de infertilidade e a perda de memória. A droga, assim como a bebida alcoólica e o cigarro comum, também causa dependência. Uma pesquisa realizada em 2005 pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostra que 8,8% dos quase oito mil entrevistados já usaram maconha alguma vez na vida. Desses, 1,9% diz usar o fumo pelo

Inspirado num movimento internacional, o Coletivo Marcha da Maconha acontece no Brasil desde 2002. Ou pelo menos tenta acontecer. A partir de 2008, capitais como São Paulo (SP), João Pessoa (PB) e Salvador (BA) brigam todos os anos na Justiça contra uma ação que proíbe a realização da passeata que pede, segundo os organizadores, a “discussão” sobre as possibilidades de descriminalizar a Cannabis no País. Em São Paulo, a liminar assinada pela desembargadora Maria Tereza do Amaral, que impede a passeata e traz o argumento de que a marcha faz apologia ao uso das drogas, precisa ser julgada. Até o fechamento desta edição, segundo a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, não havia previsão para julgamento do processo. Marco conta que, ao contrário do que muitos pensam, a Marcha da Maconha não faz apologia ao uso da maconha e nem incentiva qualquer atividade criminosa. Segundo ele, a Marcha foi criada com a intenção de ampliar o debate entre interessados no assunto e estimular a reforma das leis sobre a maconha e seus diversos usos. Em 2009, o Rio de Janeiro realizou a marcha sob a garantia de um habeas corpus preventivo. Para o mês de maio, cinco cidades brasileiras já estão com datas marcadas para a passeata. Entre elas, está São Paulo, que corre contra o tempo para conseguir realizar a manifestação sem impedimento, por meio de assinaturas para uma petição online, com base nos princípios constitucionais de livre manifestação do pensamento (Artigo 5º, parágrafo IV da Constituição) e direito de reunião (Artigo 5º, parágrafo XVI da Constituição e Artigo XX da Declaração Universal dos Direitos Humanos). Fora da lei

Fiona Bearclaw - Flickr Creative Commons

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ma curiosa reportagem, que pode ser vista no You Tube (http://tinyurl.com/yg5etqm), apresenta moradores da cidade de Cruzeta (RN), de oito mil habitantes, com índices de criminalidade zero e um hábito aparentemente inocente: o cultivo de uma planta para fins medicinais que chamam de “diamba”. A planta, facilmente encontrada na casa de muitas pessoas, trata-se, na verdade, da Cannabis sativa, nome científico da maconha. Mas eles juram que não sabiam disso. Descoberta pelo delegado da cidade, a “diamba” era usada para tratar dores de cabeça, enjoos e náuseas. Por ser proibida no Brasil, deve ser excluída dos vasos e jardins dos habitantes, acabando com uma tradição local. Mas os cruzetenses não foram os primeiros, e nem serão os últimos, a utilizar a maconha como erva de cura. A humanidade utiliza substâncias alucinógenas derivadas das mais variadas espécies de plantas há cinco mil anos. Os efeitos do uso foram tradicionalmente cultuados por diversos grupos, com representações sagradas ou fins medicinais. E a maconha se inseriu nesse contexto. A planta passou a ser utilizada a 2300 a.C., na China, para problemas menstruais e prisão de ventre. Os indianos descobriram seu uso a 2000 a.C. e a consideravam uma entidade sagrada, assim como os africanos, que utilizavam-na em ritos religiosos. Já os romanos usavam a planta da maconha para queimar em saunas, a fim de relaxar e promover prazer às pessoas.

Liberdade de expressão

Um caso ocorrido na Argentina, no ano passado, ganhou repercussão internacional quando a Suprema Corte de Justiça declarou inconstitucional a pena para adultos que forem flagrados portanto “pouca quantidade” de maconha para uso pessoal, não trazendo riscos para outras pessoas. No entanto, esse consumo deve ocorrer em locais privados e os poderes públicos devem continuar se preocupando com a busca e a apreensão dos traficantes de drogas. Antes, a lei previa prisão de dois anos a quem estivesse com a droga. Países membros da ONU firmaram acordo em 1961 para concentrar esforços para prevenir o consumo de drogas e acabar com o tráfico. Mas o

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Capa menos uma vez no mês. Outro levantamento do Cebrid diz que a idade média de brasileiros que começam a usar a droga está entre 13 e 14 anos. Descriminalizar é diferente de legalizar. Esse último pressupõe a produção, distribuição e comercialização da maconha em território nacional, transformando a maconha em produto comum, com impostos e fiscalização. Já a descriminalização pede que não haja nenhum tipo de punição ou processo judicial a quem for flagrado consumindo a droga. Quem defende a descriminalização argumenta que o uso de drogas deve ser tratado como questão de saúde pública e não criminosa, e dessa forma seria possível dar maior apoio a quem necessita de ajuda, em caso de dependência química. Essa diferenciação na lei ajudaria a acabar com o fato de os usuários contribuírem com o comércio ilegal, pois poderiam cultivar a maconha que irão fumar. Os contrários dizem que descriminalizar a maconha só ajudaria a aumentar o número de usuários, pois o acesso ao fumo seria ampliado, e não ajudaria a resolver o problema do tráfico. O cientista social Marco Magri participa da Marcha da Maconha em São Paulo. Ele fala que o Brasil perde por não explorar a planta da maconha e prefere utilizar o termo “regulamentação”. “A regulamentação da Cannabis pode ser útil nos campos medicinal e têxtil. Ajudaria em tratamentos como câncer e o HIV, produção de papel e respeitaria algumas religiões que utilizam a planta”, conta Marco.

inalizar o uso Quando o assunto é descrim ide sobre o que da maconha, o Brasil se div poderia trazer de fato uma mudança na lei

Alex Ferreira, do Virajovem Rio de Janeiro (RJ)*, Daniel Libardi, do Virajovem Vitória (ES), Gabriel Vituri, colaborador da Vira em São Paulo (SP) e Rafael Stemberg, da Redação

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No Brasil, até 1905, era possível comprar um cigarro chamado “Índios”, uma mistura de tabaco com maconha que continha no rótulo a mensagem: “serve para combater asma, insônia e catarros”. Atualmente, a produção, o consumo e o comércio da maconha são ilegais no Brasil. Maconha na berlinda As pesquisas apontam que o fumo pode trazer ao usuário efeitos psíquicos ou físicos causados por uma substância química produzida pela maconha, o THC (tetraidrocanabinol). Ele pode ser responsável por ações que podemos classificar como instantâneas (agudas) ou de longo prazo (crônicas). Entre os efeitos agudos, estão o avermelhamento dos olhos, aumento no ritmo dos batimentos cardíacos e secura na boca. Há também os efeitos de alucinação e delírio, como risos incontroláveis, visões, sensação de relaxamento para alguns ou crises de choro e angústia para outros. Como efeitos crônicos, podem acontecer problemas respiratórios, redução de 50% a 60% da testosterona nos homens, que aumentam as chances de infertilidade e a perda de memória. A droga, assim como a bebida alcoólica e o cigarro comum, também causa dependência. Uma pesquisa realizada em 2005 pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostra que 8,8% dos quase oito mil entrevistados já usaram maconha alguma vez na vida. Desses, 1,9% diz usar o fumo pelo

Inspirado num movimento internacional, o Coletivo Marcha da Maconha acontece no Brasil desde 2002. Ou pelo menos tenta acontecer. A partir de 2008, capitais como São Paulo (SP), João Pessoa (PB) e Salvador (BA) brigam todos os anos na Justiça contra uma ação que proíbe a realização da passeata que pede, segundo os organizadores, a “discussão” sobre as possibilidades de descriminalizar a Cannabis no País. Em São Paulo, a liminar assinada pela desembargadora Maria Tereza do Amaral, que impede a passeata e traz o argumento de que a marcha faz apologia ao uso das drogas, precisa ser julgada. Até o fechamento desta edição, segundo a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, não havia previsão para julgamento do processo. Marco conta que, ao contrário do que muitos pensam, a Marcha da Maconha não faz apologia ao uso da maconha e nem incentiva qualquer atividade criminosa. Segundo ele, a Marcha foi criada com a intenção de ampliar o debate entre interessados no assunto e estimular a reforma das leis sobre a maconha e seus diversos usos. Em 2009, o Rio de Janeiro realizou a marcha sob a garantia de um habeas corpus preventivo. Para o mês de maio, cinco cidades brasileiras já estão com datas marcadas para a passeata. Entre elas, está São Paulo, que corre contra o tempo para conseguir realizar a manifestação sem impedimento, por meio de assinaturas para uma petição online, com base nos princípios constitucionais de livre manifestação do pensamento (Artigo 5º, parágrafo IV da Constituição) e direito de reunião (Artigo 5º, parágrafo XVI da Constituição e Artigo XX da Declaração Universal dos Direitos Humanos). Fora da lei

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U

ma curiosa reportagem, que pode ser vista no You Tube (http://tinyurl.com/yg5etqm), apresenta moradores da cidade de Cruzeta (RN), de oito mil habitantes, com índices de criminalidade zero e um hábito aparentemente inocente: o cultivo de uma planta para fins medicinais que chamam de “diamba”. A planta, facilmente encontrada na casa de muitas pessoas, trata-se, na verdade, da Cannabis sativa, nome científico da maconha. Mas eles juram que não sabiam disso. Descoberta pelo delegado da cidade, a “diamba” era usada para tratar dores de cabeça, enjoos e náuseas. Por ser proibida no Brasil, deve ser excluída dos vasos e jardins dos habitantes, acabando com uma tradição local. Mas os cruzetenses não foram os primeiros, e nem serão os últimos, a utilizar a maconha como erva de cura. A humanidade utiliza substâncias alucinógenas derivadas das mais variadas espécies de plantas há cinco mil anos. Os efeitos do uso foram tradicionalmente cultuados por diversos grupos, com representações sagradas ou fins medicinais. E a maconha se inseriu nesse contexto. A planta passou a ser utilizada a 2300 a.C., na China, para problemas menstruais e prisão de ventre. Os indianos descobriram seu uso a 2000 a.C. e a consideravam uma entidade sagrada, assim como os africanos, que utilizavam-na em ritos religiosos. Já os romanos usavam a planta da maconha para queimar em saunas, a fim de relaxar e promover prazer às pessoas.

Liberdade de expressão

Um caso ocorrido na Argentina, no ano passado, ganhou repercussão internacional quando a Suprema Corte de Justiça declarou inconstitucional a pena para adultos que forem flagrados portanto “pouca quantidade” de maconha para uso pessoal, não trazendo riscos para outras pessoas. No entanto, esse consumo deve ocorrer em locais privados e os poderes públicos devem continuar se preocupando com a busca e a apreensão dos traficantes de drogas. Antes, a lei previa prisão de dois anos a quem estivesse com a droga. Países membros da ONU firmaram acordo em 1961 para concentrar esforços para prevenir o consumo de drogas e acabar com o tráfico. Mas o

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Erva polêmica

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O jornalista Mauro Borges coordena há 17 anos uma das mais conhecidas campanhas de conscientização contra o uso de drogas no Brasil, o projeto Droga Mata. Segundo Mauro, a ideia de criar esse mutirão surgiu quando seu irmão mais velho tornou-se dependente de

drogas durante a juventude. "O drama que atingiu meu irmão e toda a família me fizeram descobrir que no Brasil é mais fácil alguém ganhar sozinho na loteria do que se conseguir tratamento especializado e gratuito para drogados e alcoólatras", destaca o jornalista que, em 1999, levou a campanha para os detentos da penitenciária do Carandiru, por meio de atividades esportivas e culturais. Mauro afirma ser uma “utopia acreditar que a descriminalização irá diminuir o número de usuários e o tráfico”. Ele acredita que sempre haverá algum traficante querendo tirar vantagem da situação. O jornalista defende inclusive uma pena mais severa aos usuários da maconha, por também considerá-los culpados por ajudar a financiar o tráfico internacional de drogas, que movimenta por ano cerca de US$ 500 bilhões. Cientista político e antropólogo, Luiz Eduardo Soares é um dos defensores públicos da “legalização” das drogas no Brasil. Ele, que ocupou cargos como a coordenação da área de segurança pública do Rio de Janeiro, entre 1999 e 2000, e de Secretário Nacional de Segurança Pública, em 2003, reconhece que o consumo de drogas pode aumentar com a descriminalização. Mas apenas “no início”, ressalta, baseando-se em estudos internacionais que mostram quedas no consumo a médio prazo. “A atual política de drogas, que não tem diminuído o consumo, apenas tem servido para criminalizar jovens pobres, os quais, envolvidos no comércio ilegal, são encarcerados e induzidos a uma carreira criminal”, diz. À Vira, Luiz Eduardo cita os Estados Unidos com país em que as drogas não foram regularizadas como exemplo de “fracasso” no combate ao tráfico. “Os Estados Unidos gastaram 500 bilhões de dólares na guerra às drogas nos últimos 10 anos, têm polícias

muito mais bem equipadas e treinadas do que as nossas, e, no entanto, o fracasso é retumbante. O consumo não caiu, pois onde há demanda, há consumo, porque atores sociais se movimentam, corrompem, inventam meios e modos. Não há como impedir”, destaca ele, que também é autor de livros como Elite da tropa (co-autoria, editora Objetiva) e Segurança tem saída (editora Sextante), e atualmente coordena o curso de especialização em segurança pública da Universidade Estácio de Sá. Morador da comunidade da Maré, no Rio de Janeiro, Aroldo Gomes da Silva diz presenciar diariamente o drama de famílias que têm filhos dependentes químicos. E esse convívio o faz ser contra qualquer tipo de mudança na lei de drogas. “Não existem tratamento adequados que os atendam, nem hospitais que cuidem de pessoas viciadas. Sou contra a descriminalização. Os adolescentes, por exemplo, estariam vulneráveis demais”, conclui. Já Luiz Paulo Guanabara acredita que a proibição do uso das drogas seja responsável por agravar ainda mais a violência, corrupção e mercado ilícito. Psicólogo e sócio-fundador da Psicotropicus, ONG que defende a criação de uma política mais branda para o uso de drogas, Paulo afirma que existem interesses

Se Lig

empresariais que impedem a discussão do tema no Brasil. “Como a maconha pode ser usada para uso medicinal e tem um preço muito baixo, as empresas farmacêuticas, temendo perder dinheiro, pressionam para que a regulamentação não aconteça”. A Psicotropicus também atua em ações para a redução de danos entre os usuários de drogas ilícitas. No caso da maconha, Paulo diz ser necessário o Brasil descriminalizá-la, pois dessa forma seria possível identificar e reconhecer com maior facilidade as pessoas que precisam de ajuda por estarem em situação de dependência. “Punir usuários porque eles fazem uso da Cannabis não resolve. Sem contar que quando se proíbe o uso de uma substância ilícita, você a torna mais atrativa, pois ela não deixa de existir”. A redução de danos refere-se a programas que buscam reduzir os males decorrentes do consumo de drogas, sem a exigência de parar com o uso imediatamente. Nesse polêmico assunto, uma coisa é certa: buscar informações e discutir o tema continuam sendo dalternativas enquanto o Brasil não inicia um amplo debate sobre o uso da maconha. A realidade não pode continuar sendo ignorada, independentemente de posição contrária ou favorável à descriminalização.

a!

Na enquete feita pelo portal da Vira em março, sem valor de amostragem científica, 57% dos leitores disseram ser a favor da descriminalização da maconha; 33% acham que o Brasil precisa debater melhor este assunto e 9% é contra descriminalizar a droga.

O assunto continua no portal da Vira na internet. Lá você encontra informações sobre a droga no mundo, entrevistas com outros especialistas e a cobertura da Marcha em São Paulo. Acesse: www.viracao.org

*Integrantes de Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País (rj@revistaviracao.org.br e es@revistaviracao.org.br)

Revista Viração • Ano 7 • Edição 59 21

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consumo da maconha é tolerado em muitos países, como Holanda, Alemanha e, recentemente, Portugal. No Brasil, desde 2006, a legislação que fala sobre drogas considera crime tanto o consumo quanto a comercialização da maconha, mas com ressalvas distintas. A Lei 11.343 diz que quem for pego como usuário deve cumprir penas que vão de advertência sobre o uso e seus efeitos, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Na outra ponta, quem produz ou comercializa, pode pegar pena de 5 a 15 anos de cadeia e pagamento de multa de até R$ 1.500. O problema é que a lei não define o que considera como pequena quantidade para consumo pessoal. Em dezembro, o juiz Mário Henrique Mazza, da 32º Vara Criminal do Rio de Janeiro, decretou o fim da prisão do agricultor Fábio dos Santos, que estava detido por cultivar no terraço de casa dez vasos de maconha. O entendimento do Ministério Público, que concordou com a defesa de Fábio, era de que a plantação seria utilizada para consumo próprio. Em Brasília, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) participa da construção de um projeto de lei que propõe mudanças em artigos da atual lei sobre as drogas. Entre as alterações, está a pena diferenciada para pequenos traficantes, personagens que, segundo o Ministério da Justiça, configuram 90% dos detentos nos presídios do País.


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Erva polêmica

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O jornalista Mauro Borges coordena há 17 anos uma das mais conhecidas campanhas de conscientização contra o uso de drogas no Brasil, o projeto Droga Mata. Segundo Mauro, a ideia de criar esse mutirão surgiu quando seu irmão mais velho tornou-se dependente de

drogas durante a juventude. "O drama que atingiu meu irmão e toda a família me fizeram descobrir que no Brasil é mais fácil alguém ganhar sozinho na loteria do que se conseguir tratamento especializado e gratuito para drogados e alcoólatras", destaca o jornalista que, em 1999, levou a campanha para os detentos da penitenciária do Carandiru, por meio de atividades esportivas e culturais. Mauro afirma ser uma “utopia acreditar que a descriminalização irá diminuir o número de usuários e o tráfico”. Ele acredita que sempre haverá algum traficante querendo tirar vantagem da situação. O jornalista defende inclusive uma pena mais severa aos usuários da maconha, por também considerá-los culpados por ajudar a financiar o tráfico internacional de drogas, que movimenta por ano cerca de US$ 500 bilhões. Cientista político e antropólogo, Luiz Eduardo Soares é um dos defensores públicos da “legalização” das drogas no Brasil. Ele, que ocupou cargos como a coordenação da área de segurança pública do Rio de Janeiro, entre 1999 e 2000, e de Secretário Nacional de Segurança Pública, em 2003, reconhece que o consumo de drogas pode aumentar com a descriminalização. Mas apenas “no início”, ressalta, baseando-se em estudos internacionais que mostram quedas no consumo a médio prazo. “A atual política de drogas, que não tem diminuído o consumo, apenas tem servido para criminalizar jovens pobres, os quais, envolvidos no comércio ilegal, são encarcerados e induzidos a uma carreira criminal”, diz. À Vira, Luiz Eduardo cita os Estados Unidos com país em que as drogas não foram regularizadas como exemplo de “fracasso” no combate ao tráfico. “Os Estados Unidos gastaram 500 bilhões de dólares na guerra às drogas nos últimos 10 anos, têm polícias

muito mais bem equipadas e treinadas do que as nossas, e, no entanto, o fracasso é retumbante. O consumo não caiu, pois onde há demanda, há consumo, porque atores sociais se movimentam, corrompem, inventam meios e modos. Não há como impedir”, destaca ele, que também é autor de livros como Elite da tropa (co-autoria, editora Objetiva) e Segurança tem saída (editora Sextante), e atualmente coordena o curso de especialização em segurança pública da Universidade Estácio de Sá. Morador da comunidade da Maré, no Rio de Janeiro, Aroldo Gomes da Silva diz presenciar diariamente o drama de famílias que têm filhos dependentes químicos. E esse convívio o faz ser contra qualquer tipo de mudança na lei de drogas. “Não existem tratamento adequados que os atendam, nem hospitais que cuidem de pessoas viciadas. Sou contra a descriminalização. Os adolescentes, por exemplo, estariam vulneráveis demais”, conclui. Já Luiz Paulo Guanabara acredita que a proibição do uso das drogas seja responsável por agravar ainda mais a violência, corrupção e mercado ilícito. Psicólogo e sócio-fundador da Psicotropicus, ONG que defende a criação de uma política mais branda para o uso de drogas, Paulo afirma que existem interesses

Se Lig

empresariais que impedem a discussão do tema no Brasil. “Como a maconha pode ser usada para uso medicinal e tem um preço muito baixo, as empresas farmacêuticas, temendo perder dinheiro, pressionam para que a regulamentação não aconteça”. A Psicotropicus também atua em ações para a redução de danos entre os usuários de drogas ilícitas. No caso da maconha, Paulo diz ser necessário o Brasil descriminalizá-la, pois dessa forma seria possível identificar e reconhecer com maior facilidade as pessoas que precisam de ajuda por estarem em situação de dependência. “Punir usuários porque eles fazem uso da Cannabis não resolve. Sem contar que quando se proíbe o uso de uma substância ilícita, você a torna mais atrativa, pois ela não deixa de existir”. A redução de danos refere-se a programas que buscam reduzir os males decorrentes do consumo de drogas, sem a exigência de parar com o uso imediatamente. Nesse polêmico assunto, uma coisa é certa: buscar informações e discutir o tema continuam sendo dalternativas enquanto o Brasil não inicia um amplo debate sobre o uso da maconha. A realidade não pode continuar sendo ignorada, independentemente de posição contrária ou favorável à descriminalização.

a!

Na enquete feita pelo portal da Vira em março, sem valor de amostragem científica, 57% dos leitores disseram ser a favor da descriminalização da maconha; 33% acham que o Brasil precisa debater melhor este assunto e 9% é contra descriminalizar a droga.

O assunto continua no portal da Vira na internet. Lá você encontra informações sobre a droga no mundo, entrevistas com outros especialistas e a cobertura da Marcha em São Paulo. Acesse: www.viracao.org

*Integrantes de Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País (rj@revistaviracao.org.br e es@revistaviracao.org.br)

Revista Viração • Ano 7 • Edição 59 21

Denis Egan - Flickr Creative Commons

consumo da maconha é tolerado em muitos países, como Holanda, Alemanha e, recentemente, Portugal. No Brasil, desde 2006, a legislação que fala sobre drogas considera crime tanto o consumo quanto a comercialização da maconha, mas com ressalvas distintas. A Lei 11.343 diz que quem for pego como usuário deve cumprir penas que vão de advertência sobre o uso e seus efeitos, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Na outra ponta, quem produz ou comercializa, pode pegar pena de 5 a 15 anos de cadeia e pagamento de multa de até R$ 1.500. O problema é que a lei não define o que considera como pequena quantidade para consumo pessoal. Em dezembro, o juiz Mário Henrique Mazza, da 32º Vara Criminal do Rio de Janeiro, decretou o fim da prisão do agricultor Fábio dos Santos, que estava detido por cultivar no terraço de casa dez vasos de maconha. O entendimento do Ministério Público, que concordou com a defesa de Fábio, era de que a plantação seria utilizada para consumo próprio. Em Brasília, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) participa da construção de um projeto de lei que propõe mudanças em artigos da atual lei sobre as drogas. Entre as alterações, está a pena diferenciada para pequenos traficantes, personagens que, segundo o Ministério da Justiça, configuram 90% dos detentos nos presídios do País.


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Gizele Mar tins

Para relembrar e ser lembrado tudes brasileiras

10ª edição do Fórum Social Mundial tem forte presença de juven

Gizele Martins

Filipe Correia, do Virajovem Vitória (ES)*, Gizele Martins, do Virajovem Rio de Janeiro (RJ), Leonardo Nora, do Virajovem Rio Branco (AC), Rones Maciel, do Virajovem Fortaleza (CE), Luciano de Sálua e Simone Nascimento, da Redação

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pós dez anos do primeiro Fórum Social Mundial (FSM), realizado em janeiro de 2001, Porto Alegre (RS) e Salvador (BA) realizaram o evento que se tornou conhecido por proporcionar aos participantes um espaço para a troca de ideias, experiências e formulação de propostas e articulações de ONGs e movimentos sociais. Em Porto Alegre, cidade que sediou o primeiro FSM, 35 mil pessoas estiveram presentes nesta edição, segundo dados dos organizadores. Só que em 2010, o Fórum não foi centralizado em um único país, como acontecia nos anos anteriores. Além do Brasil, Benin, Espanha, El Salvador, República Tcheca, Japão e Alemanha receberam eventos e atividades para garantir a “busca e a construção permanente de alternativas às políticas neoliberais”, como consta na Carta de Princípios, principal documento do Fórum, construída em 2001. A Agência Jovem de Notícias esteve presente nos principais momentos do Fórum para realizar a cobertura juvenil do evento, em que tudo foi registrado para o site. A seguir, você confere dois textos produzidos pelos jovens que estiveram em Porto Alegre e em Salvador. Mais notícias podem ser lidas em www.revistaviracao.org.br/fsm.

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Participantes saíram às ruas em solidariedade ao Haiti

Na terra de todos os santos O Fórum Social Mundial da Bahia rolou entre os dias 29 a 31 de janeiro, e teve como tema Diálogos, diversidade cultural e crise civilizatória. As atividades aconteceram em universidades federais, hotéis e na própria orla baiana. A programação do evento foi bem diversificada, com debates sobre diversidade étnico-racial, políticas publicas para comunidades quilombolas e ribeirinhas, direito à terra e moradia e questões educacionais como a qualidade do ensino médio e acesso ao ensino superior.

* Um dos conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (es@revistaviracao.org.br, rj@revistaviracao.org.br, ac@revistaviracao.org.br, ce@revistaviracao.org.br)


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Gizele Mar tins

Mesmo com o efervescer do encontro, dos movimentos e de suas temáticas, os moradores da cidade mal sabiam o que estava acontecendo ali, em seus quintais. A divulgação foi feita por meio de propagandas espalhadas em diversos locais, mas grande parte da população não se sentiu inserida no processo. Foi somente no dia 29, quando cerca de 800 pessoas saíram em passeata num ato solidário ao Haiti, pedindo o fim da ocupação brasileira que, em poucos minutos, foi possível mobilizar além dos participantes do FSM também a comunidade local. Já no espaço do Fórum, a comunidade indígena teve muita participação nas atividades do evento. “Sou livre, sou livre!”, ressaltava constantemente a indígena Tainá ao fim de seu discurso, que durou 15 minutos, sobre a criminalização dos povos tradicionais. “Estão matando os povos indígenas. Estão matando o pouco que restou do meu povo Tuminambá!”. Depois disso, Tainá levou os mais de 50 jovens presentes na Tenda da Juventude – erguida em Salvador – a uma breve reflexão sobre a separação que estudiosos, governantes e a própria sociedade fazem em relação aos indígenas mais empobrecidos. “Reflitam estudantes, quais são os direitos dos nativos? Eu não vejo diferença entre nossas aldeias e as periferias. Vocês fazem separação, vocês nos excluem. Aprendam, lutem! Cadê o Fórum Social, cadê os temas sociais, cadê o nosso povo aqui falando sobre a criminalização, cadê o

Pela primeira vez, Fórum é realizado em diversos locais no mesmo ano nosso povo para falar de experiências de vida, cadê o nosso povo aqui discutindo com vocês?”, questionou a jovem. De um espaço de debate e discussão espera-se todos os tipos de manifestações, por isso não é de mobilização e articulação política que o FSM se enriquece, mas de sensibilização sobre o que acontece na sociedade, seja ela indígena ribeirinha, urbana caiçara, caipira ou quilombola. E foi nesse misturado junto ao gingado baiano que o Fórum aconteceu, marcando presença nesse grande circuito de diálogo. V

Será que “Outro mundo acontece”? Leandra Barros, do Virajovem Vitória

(ES)*

tive que pagar oito acampamento. Fizemos isso, só que e ano, Outro mundo O tema do Fórum Social Mundial dest a estava por vir. aind pior o miojos para ir e voltar. Mas sonha e trabalha para nossos humildes acontece, empolgava qualquer um que que os obrim Depois do esforço feito, desc cientes, uma economia os nas sublimes viver essa verdade. Pessoas mais cons -vind bem eram macarrões instantâneos não entável, respeito ao a regra dizia ue mais solidária, um consumo mais sust Porq s. reba natu cozinhas comunitárias dos amor e alegria. E foi que m próximo como princípio de todos, paz, teria mas nha, que todos podiam usar a cozi ento Intercontinental da ida com eles, nessa vibe que cheguei ao Acampam ndo segu E, s. compartilhar seus alimento cidade da Grande Porto ade. unid com da Juventude (AIJ), em Novo Hamburgo, uém ning a ria industrializada não interessa a Salvador, a décima que cia ciên cons da Alegre, onde aconteceu, paralelamente l níve o via se Nos banheiros também edição do evento. eza. limp da a galera tinha. Pobres tias ar a semana. Apesar Fui com R$ 30 na carteira para pass a (CE), também foi Rones Maciel, virajovem de Fortalez por to não tanto quan muito “fora de si” na de apreensiva pela pouca grana (mas ha carin um visitado em sua barraca por os nos roub e pro estu de e índic o que ir, de saber, dias antes aca e as malas eram primeira noite, que jurava que a barr s) fui confiante de que AIJ’s foi bem alto nos anos anteriore u. tece dele. Mas nada de grave acon ue, afinal, num outro i bem todos os não passaria grandes perrengues, porq Consegui passar toda a semana, com Ledo o?! reina,cert no bolso. Foi 2,30 mundo, o “capetalismo” selvagem não R$ com i volte a dias, pude ofertar e aind ento pam acam o todo em to bara mais engano. O rango do ainda não está uma milagre! O que prova que o mun r de pensar que com o pra podermos custava 4 pilas. Eu não conseguia para muit falta a aind totalmente perdido. Mas sobremesa e a to direi com dias, ro quat por R$ 4 eu almoçaria . Sendo assim: fé em dizer que um outro mundo acontece o governo da minha suco, nos restaurantes populares que Deus e mão na massa! cidade oferece. R$ por ão mioj um Qual seria a outra alternativa? Comprar e meia do hora uma a re, Aleg o Port em 0,39 no mercado

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Geração endividada se ande”. Es r g e t n e g e“ m dívida d o Brasil Jovens co ez mais n v a d a c e repet cenário se

Vânia Correia, da Redação

A

juventude é público-alvo da maior parte do marketing publicitário no mundo. Milhares de jovens são bombardeados, diariamente, por mensagens com apelos consumistas, na maioria das vezes em contraste com a realidade econômica deles. É difícil manter o equilíbrio das contas quando o dinheiro que se tem não é suficiente para o que se deseja comprar. Fernanda Ziza de Lima, de 18 anos, sabe bem o que é isso. Não conseguia resistir às tentações das vitrines: roupas, acessórios, presentes, gastava muito mais do que o salário que recebia como auxiliar de departamento pessoal. E se o bolso estava vazio, o cartão de crédito entrava em cena e só quando a fatura chegava é que se dava conta de que havia gasto demais. Resultado: perdeu o controle das suas finanças e, apesar da pouca idade, quase teve o nome incluso no Cadastro de Proteção ao Crédito (SPC). “Não tinha muita noção do que gastava, fiquei desempregada e ai virou uma bola de neve”, conta. Foi assim que Fernanda entrou para as estatísticas de jovens endividados no Brasil, número que vem aumentando a cada dia. As inúmeras opções de crédito oferecidas pelos bancos incentivam os jovens a tornarem mais comum o hábito de comprar primeiro e pagar depois. Segundo pesquisa da Credicard Itaú, 20% dos cartões de crédito do Brasil estão nas mãos de jovens de 18 a 29 anos. Muitos

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se veem em apuros na hora de pagar as contas: mais de 43% dos endividados têm até 30 anos de idade e, de acordo com a Telecheques, esse público representa também quase metade das assinaturas de cheques sem fundo no País. Para o educador e terapeuta financeiro Reinaldo Domingos, a facilidade de crédito associado ao marketing publicitário compõe um cenário perigoso para os jovens. “Isso faz com que as pessoas comprem coisas que não querem com dinheiro que não possuem”, afirma. Soma-se a isso a inexperiência no trato com o dinheiro e a falta de educação financeira tanto em casa, quanto na escola. “A família é fundamental, ela é o principal exemplo que o jovem irá seguir, além disso, é importante também a inclusão da educação financeira na proposta educacional das escolas”, defende Domingos. Segundo o especialista em finanças Gustavo Cerbasi, o consumo impulsivo é também uma das principais razões para o endividamento dos mais jovens. Para ele, é uma questão de conscientização: “Um jovem só entra no vermelho se quiser, uma vez que pode fazer escolhas sobre um orçamento que é só seu”, afirma.


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Planejar é o caminho Para Cerbasi o segredo é planejar, “colocar tudo na ponta do lápis ao menos uma vez por mês e pensar dez vezes antes de parcelar qualquer compra – afinal, é aí que começa o problema”. Comprar tudo à vista é uma saída. Isso evita a tentação do crédito, e o jovem só gasta o dinheiro que, realmente, tiver no bolso. Mas essas dicas não servem somente para os jovens. Os adultos também costumam exagerar nas compras. Gastar bem e com consciência é uma lição que também se aprende em casa. Autor do livro Filhos Inteligentes Enriquecem Sozinhos (editora Gente), Cerbasi também chama a atenção para a importância da família na construção de uma consciência financeira para os jovens. “Na verdade, todo o mau exemplo costuma vir dos pais, que também não sabem lidar com o dinheiro”. Para ele, quando os pais forem um bom modelo, a “cultura de equilíbrio financeiro será passada de geração em geração, naturalmente”. Fernanda aprendeu a lição. Precisou do socorro dos pais para negociar a dívida que hoje está em cerca de 4 mil reais, dividida em parcelas que comprometem mais de 50% do seu salário atual. Agora mais cautelosa com as contas e mais consciente, não quer nem saber de gastos desnecessários. “Aprendi a me controlar, penso antes de comprar e só compro se eu realmente precisar”, conclui ela, que não faz bem só para o seu bolso. Consumir com responsabilidade também é fundamental para o planeta. Aliás, ele já tem dado muitos sinais que não suporta mais a ação predatória do homem, que sustenta o atual padrão de consumo. Por isso, antes de comprar algo, a crédito ou não, vale se perguntar: “Preciso mesmo de tanta coisa? Será que não é possível adotar um modelo de vida mais simples, consciente e sustentável?” Fernanda, e muitos outros mundo afora, estão provando que sim. O planeta agradece. V

Cuide bem do seu dinheiro “Ganhei o primeiro salário do meu primeiro emprego! Vou comprar um monte de coisas e fazer uma balada muito legal!!!” Esse é o pensamento da maioria dos jovens logo que recebem pela primeira vez o seu salário. Contudo, apesar dessa ideia parecer muito boa, ela traz grandes problemas para o jovem. A Vira conversou com o educador e terapeuta financeiro Reinaldo Domingos, autor dos livros Terapia Financeira e O Menino do Dinheiro, ambos da editora Gente, e separou uma série de dicas pra você cuidar melhor do seu dinheiro:

4Antes de começar qualquer controle financeiro, o jovem deve ter noção de sua situação atual e estabelecer as metas que deseja alcançar (fazer um curso, uma viagem, comprar algo etc).

4A partir disso, deve iniciar um controle diário de todos os gastos. É importante que sejam inclusos até mesmo os gastos que consideram irrelevantes, como cinema, um suco ou um salgado antes da aula. São nessas pequenas ações que ocorre o desequilíbrio financeiro.

4Outro alerta muito importante é a necessidade de evitar gastos desnecessários. A questão não é se privar de prazeres como festas, cinema, passeios e sim de controlá-los.

4Nunca compre por impulso. Sempre pense: posso deixar esse desejo para depois? Se não for relevante, não faça. Se for, o jovem deve sempre realizar uma pesquisa de preços e negociar para abaixá-los o máximo possível.

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arar

ões particulares podem ajudar a prep Cursinhos comunitários e bolsas em instituiç melhor os vestibulandos para as provas

Emanuelly Batista, do Virajovem Maceió (AL)*, Adriana Martins, do Virajovem SP (SP), Maria Camila da Silva, colaboradora da Vira em Recife (PE), Maria Rehder, Luciano de Sálua e Simone Nascimento, do Virajovem São Paulo e Vivian Ragazzi, da Redação

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porcentagem de jovens universitários no Brasil hoje é de 13%. Os índices ainda são baixos. Perdemos para nossos hermanos da Bolívia, Colômbia e Argentina, por exemplo, que ultrapassam os 30% dos jovens na faculdade – meta perseguida pelo Ministério da Educação (MEC). Para alcançarmos essa marca, precisaríamos ter mais 2 milhões de alunos matriculados. Mas como garantir a entrada desse grande contingente de jovens nas faculdades? Passar em uma universidade pública nunca foi tarefa fácil. Os motivos são bem conhecidos: além de o número de candidatos ser sempre bem maior que o de vagas oferecidas, as provas exigem conhecimentos aprofundados, o que,

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infelizmente, dificulta a entrada de estudantes egressos de escolas públicas. Enquanto isso, as faculdades particulares crescem vertiginosamente, mas muita gente ainda fica de fora devido ao custo das mensalidades. Camila Fernanda Pinto Salvador, que passou no concorrido curso de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) depois de estudar em escola pública, diz que seu método foi o tradicional: estudar muito. “Eu me debruçava nas apostilas cinco horas por dia e nos finais de semana também”. Era uma rotina intensa e bastante cansativa. “Às vezes saía do cursinho em São Paulo no sábado às 18h para chegar à minha casa em São Vicente (litoral de São Paulo, distante 70 quilômetros da capital).” O esforço valeu a pena. Para quem ainda não conseguiu entrar na faculdade, Camila diz que o

importante é não perder a esperança. Esse é também o lema do paranaense André Vinícius Kaled Segato, que continua firme, mesmo sem ter passado no curso de Odontologia na Universidade Federal do Paraná. “Eu e minha mãe ficamos chateados. Ela disse que eu deveria ter estudado mais, e é verdade”, admite. Cursinhos populares são opção Se analisarmos o perfil das faculdades públicas, notaremos a forte presença dos estudantes de escolas particulares. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 60% dos que ingressam nessas instituições de ensino superior pertencem à camada dos 20% mais ricos da população, enquanto entre os 20% mais pobres, apenas 3,4% vêm de escolas públicas. Ou seja: os estudantes provenientes de escolas públicas


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No Brasil, 737 mil universitários estudam em estabelecimentos reprovados

enfrentam dificuldades por não terem base necessária para enfrentar o vestibular de universidades públicas. Falta de investimentos do governo, professores desestimulados, com salários baixos, pouca estrutura para pesquisa, evasão escolar, entre outros problemas, fazem com que a realidade educacional brasileira esteja entre as piores do mundo. Porém, apesar dos atuais índices desanimadores, o estudante que sai do 3º ano do ensino médio de uma escola pública pode se entusiasmar com os cursinhos pré-vestibular comunitários ou populares, que informam, estimulam e acabam suprindo anos de ensino deficitário. A intenção desses cursinhos é democratizar as universidades, dando condições àqueles que não conseguem, sozinhos, lutar contra o sistema. Deives da Silva Cidrim, de 19 anos, foi aprovada no processo seletivo do Instituto Federal de Alagoas (IFAL) para o curso Edificações, depois de estudar em um pré-vestibular comunitário. Ela também passou em Matemática. Outra alternativa para se preparar sem prejudicar tanto o bolso são as provas de bolsa em cursos particulares. A estudante Yarla Alves dos Santos, de 17 anos, mora em São Paulo, e em 2009 concorreu a bolsas de estudo em um curso pré-vestibular. Só que, mesmo com o desconto que recebeu, o valor não estava dentro das suas possibilidades financeiras. Sua mãe conversou com a instituição particular, que estudou seu caso e criou parcelas mais adequadas à renda da estudante.”Não culpo o conteúdo da prova e sim o ensino que tive durante 11 anos na escola pública. O que eles pediam nas questões daquela prova de bolsa eu nunca tinha visto”, lamenta. Já na universidade, caso a escolha recaia para as particulares, existem algumas que oferecem mensalidades mais acessíveis. Nem sempre, porém, há como garantir a qualidade do ensino. Só em

2009 o MEC ameaçou fechar cinco cursos de Medicina, cinco de Teologia e 100 de Direito, entre outros. Ao todo, 588 faculdades estão ameaçadas por falta de excelência. Atualmente, 737 mil universitários estudam em estabelecimentos reprovados. Das 2 mil instituições avaliadas, apenas 21 conseguiram atingir a pontuação máxima na escala, que vai de 1 a 5. A maioria delas obteve nota 3, que é considerada satisfatória. Aquelas que conquistaram pontuações inferiores serão submetidas a visitas dos avaliadores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), órgão ligado ao MEC. As instituições que mantiverem a nota baixa não poderão abrir novos campi, cursos ou ampliar vagas em programas já existentes. Para João Cardoso Palma Filho, professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), o MEC deveria controlar a abertura de vagas para evitar que os estudantes entrem em instituições de má qualidade. “Só deveriam ser autorizadas vagas em instituições que comprovassem qualidade de corpo docente e infraestrutura. E em áreas com demanda no mercado de trabalho”, disse. Escolher um curso superior com qualidade duvidosa pode ser problemático. Outra preocupação é a aceitação do curso no mercado de trabalho. Recém-formados constituem uma grande leva de desempregados devido tanto à não aceitação de seus currículos acadêmicos quanto pela concorrência, causada pela abundância de profissionais que entram no mercado a cada ano. O único jeito de confiar na qualidade dos cursos é analisando os dados que o MEC disponibiliza todos os anos. A lista desenha um bom cenário sobre os cursos oferecidos, servindo de referência para uma escolha que não coloque em risco sua vida profissional. V Reportagem publicada originalmente na revista Sem Terra (edição nº 54). Saiba mais em: http://www.mst.org.br/

No site da Vira, Sérgio José Custódio, presidente nacional do Movimento dos Sem Universidade (MSU), comenta sobre o assunto: http://tinyurl.com/yegtop8

*Integrantes de Conselhos Jovens da Vira presentes em 24 Estados e no Distrito Federal (al@revistaviracao.org.br e sp@revistaviracao.org.br)

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Comunicação l a i c o s e t n e m l a re e jovens rtugal adolescentes Descobrimos em Po a: por, revista como a noss que produzem uma ns para e com os jove

Arquivo

Dynka idealizou a Bué Fixe em S.Tomé e Príncipe e hoje está com o projeto em Portugal

anhando. quem estava me acomp país europeu, junto com tinção dis sem s, soa que pes ens as jov as tod envolver outros vírus HIV pode atingir a Em seguida, resolvemos aborar raça. E a melhor forma de ou ial soc ão ais e que gostariam de col diç loc con Gs o, ON de sex participavam de ção rela a um de os risc os re alertar a população sob ital na produção da revista. rmação. Em Lisboa, cap info com é ha isin cam sexual sem s sobre a revista? e, trabalho Quais têm sido as reaçõe revista chamada Bué Fix de Portugal, existe uma s por parte dos jovens. do liza ções têm sido muito boa scutasoh.com.br), rea rea w.e As (ww ! Soh uta Esc à próximo ões e críticas, que ajudam mos comentários, sugest Adolescentes e Jovens de ebe al Rec ion Nac e Red a pel no Brasil público é bem variado, e da ) com o apoio do Unicef scimento da revista. Nosso HA cre AJV no (RN ds /ai HIV com Vivendo e falamos sobre música, por adolescentes e jovens além do HIV/aids, também ida s duz poi pro é e Fix Bué A Viração. s de às notícias sobre as forma esporte, tecnologia... tem seu espaço dedicado HIV? . dst das jovens na prevenção do prevenção e tratamento Qual deve ser o papel dos e Fix ade Bué ilid da sab pam pon tici res par nde que os uma gra Nesta edição, os jovens Acho que todos nós tem revista, da nça dor doe cria a o de com sar ape Vira aa No entanto, fizeram uma entrevista par quanto a esse assunto. devem s e natural de S. Tomé e ano 25 s, jovens e adolescentes com je nça Ho . cria as orim os, tod a Dynka Am gir atin m luta s. milita em organizações que de saúde específicas a ela Príncipe, na África, Dynka cobrar políticas públicas u. fico o com ixo aba fira pelo combate à aids. Con ses. Conte-nos um pouco ê já viajou por muitos paí Voc o com re sob co gente um pou Bué Fixe: Dynka, conte pra dessa experiência. prevenção ao HIV. opeus, onde pude de ho bal i cerca de 16 países eur começou o seu tra hec Con em HIV do a áre na inários e cursos de i o meu percurso par de conferências, sem Dynka Amorim: Comece tici par eu Lic no va re vários temas, mas ndo ainda estuda S. Tomé e Príncipe, qua mação para os jovens sob for da s ade vid meio das ati pre procurei conciliar Nacional (faculdade). Por cipalmente sobre HIV. Sem prin de es açõ em , envolvi-me ho que realizo. Associação de Estudante minhas viagens ao trabal io do HIV. Em 2003, tág con de igo per o re sensibilização sob tempos livres? pois O que costuma fazer nos Fixe com alguns jovens, ão, sair à noite para resolvi criar a revista Bué rmações sobre HIV ir música, assistir televis info ouv de de e sto dad Go nti qua ca percebíamos a pou itar os familiares. ajuda de estar com os amigos e vis época contamos com a para esse público. Nessa muitas pessoas. ção? ão da revista desde a cria Como tem sido a evoluç jeto, que pro ntido a ideia inicial do Tem sido boa. Temos ma nos bém e para os jovens e tam é ter uma revista feita por eber rec sem o mos desistido, mesm orgulhamos por nunca ter os, cas uns este trabalho. Em alg qualquer pagamento por prios bolsos. pagamos de nossos pró Portugal, S. Tomé e Príncipe para A revista se transferiu de Fixe”: como isso ocorreu? Baixe na internet o PDF da revista “Bué r em Portugal e não uda est ava cis pre eu o nj9r http://tinyurl.com/yak Foi simples. Com para o rrer, resolvi levar a ideia queria deixar o projeto mo

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Que Figura!

Solidariedade inspiradora Indicada ao prêmio Nobel da Paz, Zilda Arns dedicou sua vida à luta pelo fim da mortalidade infantil no Brasil

Honislaine Rubik, Juliana Cordeiro e Vinícius Gallon, do Virajovem Curitiba (PR)*

*Um dos conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (pr@revistaviracao.org.br)

Novaes

“E

u a acompanhei durante 23 anos e nunca a vi sendo boazinha. Às vezes a gente até brincava, dizendo que de pessoas boazinhas o inferno está cheio, mas os que se salvam são as pessoas reais, positivas, que lutam pelo que gostam e acreditam”. Esse é o depoimento pessoal de Maria da Conceição Hamester, a Ceiça, voluntária da Pastoral da Criança e amiga de uma das personalidades mais importantes e influentes do Brasil: doutora Zilda Arns Neuman. Um relato surpreendente, se lembrarmos da imagem sempre tranquila, sorridente e que transbordava amor e carinho por onde passava. Nascida em Forquilhinha (SC) no dia 25 de agosto de 1934, era a 12ª filha do casal brasileiro de origem alemã Gabriel Arns e Helene Steiner. A menina que teve uma infância serena na parte rural da cidade, relatou em entrevistas que os ensinamentos de sua mãe tiveram grande importância para sua vida. Isso porque a falta de médicos na região fez com que Helena Steiner lesse muito sobre medicina caseira e aplicasse o que aprendia nos filhos. Talvez isso a tenha motivado a se formar em medicina pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e fazer de sua profissão um instrumento de mudança social ao longo dos seus 75 anos de vida. Aos 25 anos, Zilda troca alianças com Aloísio Bruno Neumann, com quem teve seis filhos. Passados 19 anos de uma união feliz, a médica fica viúva e decide dedicar sua vida à profissão, aos filhos e aos 9 netos. Quatro anos mais tarde, surge a ideia que a tornaria conhecida no mundo todo, tendo indicação ao prêmio Nobel da Paz: a criação da Pastoral da Criança, organismo ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A possibilidade de levar a Igreja Católica a assumir um papel na luta contra a mortalidade infantil e a pobreza surgiu em 1982, num debate sobre a miséria, em Genebra, na Suíça. Durante uma conversa informal, James Grant, secretário executivo do Unicef na época, sugeriu ao cardeal dom Paulo Evaristo, irmão de Zilda, que a igreja atuasse para reverter a

situação da mortalidade infantil no Brasil. Ao voltar, dom Paulo contou sobre a conversa. Contagiada pelos relatos do irmão, Zilda funda a Pastoral, que com a ajuda de voluntários, desenvolve ações de saúde, nutrição, educação, cidadania e espiritualidade de forma ecumênica nas comunidades empobrecidas. As atividades visam promover o desenvolvimento integral das crianças, desde a concepção até os seis anos de idade, assim como a melhoria da qualidade de vida das famílias. No início deste ano, Zilda viajou para Porto Príncipe, no Haiti, com o objetivo de levar a Pastoral ao país. Este seria o 22º ano em que o projeto seria desenvolvido. Mas antes mesmo de conseguir alcançar esse objetivo, no dia 12 de janeiro, um terremoto considerado uma das piores catástrofes da história, atinge o lugar e destrói a região matando a médica e outras 200 mil pessoas. A mulher de pulso firme, personalidade forte e alma abençoada morreu, mas deixou registrado para sempre a principal mensagem que guiou seus caminhos: o amor, expressado na solidariedade fraterna, capaz de mover montanhas. V

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Rango da terrinha

Brasília: todos os rangos e nenhum Glauber Coradesqui, do Virajovem Brasília (DF)*

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produção desta matéria teve início com uma pesquisa de opinião controversa. Perguntei a vários amigos, colegas de trabalho, mãe e irmãos o que poderia ser mais representativo para figurar aqui, no Rango da Terrinha. – “Arroz com pequi?” Não, isso é de Goiás! – “Carne de sol com mandioca?” Não, isso é do Nordeste! – “Pizza?” Não, isso nem é brasileiro. Ao final da improvisada pesquisa, percebi que Brasília não serve para esta coluna. A conclusão fatídica veio com a constatação de que todos os nossos rangos são originários de outras terrinhas, pois nossa história gastronômica se confunde com a história do nosso desenvolvimento. Ao longo da construção de Brasília - que continua acontecendo milhares de pioneiros, de vários Estados do País, deixaram suas terrinhas e seus rangos para viver no que seria a cidade do futuro, a capital da esperança. E como o País é grande e as estradas longas, matava-se a saudade comendo. Pouco a pouco, naturalmente, as mais distintas culinárias foram incorporadas ao nosso cardápio. E mesmo sendo um pólo gastronômico, nunca se criou um restaurante de comida brasiliense. Antes, ao contrário, somos conhecidos exatamente pela qualidade e quantidade de nossos restaurantes típicos; de outros Estados. Portanto, após muito pensar, achei que uma forma de honrar a coluna seria compartilhar com vocês nossos hábitos alimentares.

Como na maioria dos cardápios brasileiros, almoçamos arroz, feijão e carne (boi e frango), geralmente acompanhados por legumes, farofa ou mesmo uma saladinha simples de alface e tomate. Pela distância da praia, não se cozinham muitos frutos do mar em casa; mas peixe aparece vez ou outra. No jantar, almoço esquentado ou sanduíche. Se for comer na rua, os restaurantes mais populares são as churrascarias e as pizzarias e, para os mais abastados, os japoneses. Alguns campeões de audiência – que servem para um final de tarde ou mesmo um almoço apressado – merecem destaque: o churrasquinho e o pastel com caldo de cana. O churrasquinho, servido com vinagrete (tomate, pimentão verde e cebola cortados em cubinhos) e farofa, faz sucesso tanto no Plano Piloto como nas cidades satélites e pode ser de carne, de frango, de carne ou frango enrolado no bacon, de linguicinha (com pimenta ou sem) e de queijo coalho. Caso queira arriscar e fazer em casa, basta cortar os ingredientes em cubos, espetar no palitinho de madeira e colocar para assar na brasa. Já o pastel com caldo de cana é cardápio quase obrigatório de quem frequenta a rodoviária, no centro da cidade, onde se cruzam as duas asas. No entanto, é popular também em outras redondezas. Os sabores variam e só precisa usar a criatividade: frango, palmito, queijo, carne, tudo isso junto, banana. Nosso rango é parte da nossa identidade. E nessa multiplicidade de sabores, sons e rebeldias, Brasília vai construindo a sua. V

*Integrante de um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (df@revistaviracao.org.br)

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Divulgação

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A capital federal oferece pratos típicos de todas as regiões do País


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No Escurinho

O encanto da palavra Sérgio Rizzo, crítico de cinema Fotos: Divulgação

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odos já assistimos a inúmeros documentários e programas de TV no formato apelidado de “cabeças falantes”. Neles, quase todo o trabalho consiste em colher depoimentos de personagens relacionados ao tema. Eles falam, falam, falam, e nós ouvimos. Filmes que limitam a fazer isso são, no fundo, um pouco preguiçosos. Basta assistir ao brasileiro Santiago (2007) ou ao britânico-norteamericano O Equilibrista (2008), por exemplo, para notar como documentários podem ser atraentes e complexos, sem dever nada a filmes de ficção. A natureza do tema, no entanto, possibilita que alguns documentários sejam feitos a partir de “cabeças falantes” e, ainda assim, despertem o interesse do espectador. É o caso do brasileiro Palavra (En)Cantada (2008), que explora a presença da poesia na tradição musical brasileira. Seu elenco de entrevistados compensa o que há de mais convencional no formato. Além disso, a palavra está mesmo no centro das atenções, e as tais cabeças também são “cantantes”. Dirigido por Helena Solberg (que assinou o documentário Carmen Miranda: Bananas is My Business e o longa de ficção Vida de Menina), Palavra (En)Cantada reúne Chico Buarque, Tom Zé, Martinho da Vila, Maria Bethânia, Adriana Calcanhotto, Zélia Duncan, Lenine, Ferréz e BNegão, entre outros. Quase todos dão pequenas “canjas” para a câmera. Há depoimentos que contribuem também para o caráter histórico e didático do documentário, mas seu ponto forte são as reflexões e confidências de compositores e intérpretes. Chico Buarque, por exemplo, diz que suas letras não são o suficiente para caracterizá-lo como poeta; algumas palavras foram parar em suas canções apenas porque “a música pede”, explica. Tom Zé, por sua vez, demonstra como funciona seu processo criativo enquanto interpreta a canção Jimmy Renda-se. Atenção, professores e mediadores: os extras da versão em DVD trazem módulos para uso em sala de aula ou em debates. V

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Todos os Sons

Game e musica: ´ uma coisa so ´ Tentaremos explicar qual o tipo de som que a banda alagoana My Midi Valentine toca; para quem curte jogos antigos, a nostalgia é total

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iolão, guitarra, baixo, escaleta, trompete, teclado Casio SK-10, controlador e bateria eletrônica portátil: são esses os instrumentos tocados pela banda My Midi Valentine. Impressionado? Ficará ainda mais quando dissermos que apenas duas pessoas tocam quase tudo em uma só música. “A banda só existe há cinco meses, mas antes disso ela sempre foi um projeto one man band (banda formada por apenas uma pessoa)”, diz Marcos Cajueiro, um dos integrantes. Marcos e Tales Maia, seu companheiro sonoro experimental, são de Arapiraca, município de 210 mil habitantes localizado no agreste de Alagoas, conhecido como “terra do fumo” devido a grande produção de tabaco na região. Como é de se imaginar, a terra é tradicional no “rala buxo” do forró, mas eis que surge Valentine, com seu indie pop. Quer dizer que eles não tocam forró? Na verdade não é possível definir com precisão qual o gênero deles, mas a definição do Marcos sobre o indie pop, já dá um nó na cuca de qualquer “cabra da peste”: “É que tem toda essa tag 8 bit, chiptune e talz, mas como a gente foca no formato canção pop a nossa referência nisso é o indie pop, que no caso seria o pop independente ou pop alternativo”, tentou esclarecer Cajueiro. Se você não entendeu, podemos acrescentar que eles fazem um som que muitas vezes parece tirado de trilhas sonoras de vídeo game. A Vira

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Na terra tradicional pelo forró, a banda Valentine traz batida eletrônica como opção aos jovens

pergunta sobre suas influências e olhe só a resposta que eles deram: “Mega Man X, Super Mario Bros 3, Top Gear + Radiohead, Grandaddy, Flaming lips, Super Amarelo e Casio pop”. Experimentação é a palavra. Já é possível ter uma ideia do som do Valetine? Pelo menos em Alagoas eles são únicos. Enquanto tocam, seu público fica sem saber o que fazer: “será que danço? Será que devo ficar parado? Quando devo aplaudir? Que som esquisito!” Como as definições não ajudaram muito, dá uma olhada no Myspace deles que o maior risco é ficar viciado no som enquanto você curti um game. Inclusive por lá está escrito: “O tipo de som que realmente te transporta para outro plano, ora te impressionando com as experimentações eletrônicas, ora te fazendo chorar e lembrar de uma vida que um dia foi tua”. Pura nostalgia aos aficionados por games. V

http://www.myspace.com/mymidivalentine

* Um dos Conselhos da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (al@revistaviracao.org.br)

Arquivo pessoal

Jhonathan Pino, do Virajovem Maceió (AL)*


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Sexo e Saúde vidas dos mês, quem responde às dú No “Sexo e Saúde” deste (Equipe de ac Teixeira, psicologa da Ed leitores é a psicóloga Kátia sobre o), em São Paulo. Ela fala nic Clí to en im nd Ate e o tic Diagnós lidade com os ciar uma conversa de sexua como os jovens podem ini viver sem sexo. Confira! pais e se é possível alguém Rafael Stemberg, da Redação Por que os meninos têm tanto receio pelo tamanho do pênis? Isso pode prejudicar o desempenho deles no sexo? J.M.T., 20 anos

É possível ter uma vida sem sexo? A pessoa assexuada não sente nenhum tipo de prazer?

Dos assuntos da sexualidade, o pênis é o campeão de dúvidas entre os meninos. Se questionam quanto à forma e o tamanho, desde a infância e carregam essas dúvidas muitas vezes até a fase adulta. Simbolicamente o pênis representa força, poder, logo a associação é que quanto maior melhor, mais condições de oferecer prazer à parceira. Essa preocupação com o tamanho do pênis favorece a ansiedade do menino na hora da transa, consequentemente pode prejudicar o seu desempenho. O que os meninos precisam entender é que o prazer está relacionado com a cabeça e as emoções, e não com o tamanho do pênis.

De acordo com as escolhas da pessoa, a partir de seus interesses e convicções, é possível ter uma vida sem sexo. Sabe-se que algumas religiões prezam o celibato, ou seja, a pessoa se abstém de atividades sexuais. No entanto, o ser humano busca prazeres o tempo todo: nos relacionamentos, nos alimentos, no trabalho, na doação ao próximo, enfim, não só no sexo. Não ter prazer em nada deve ser um sinal de alerta que algo pode não estar muito bem. É adequado que se busque ajuda médica para investigar se a saúde física está boa. Se o médico constatar que não há nenhum problema clínico, é provável que questões emocionais precisem ser cuidadas. Nesse momento a ajuda de um psicólogo pode ser necessária. V

Como eu posso iniciar uma conversa sobre sexo com os meus pais, existe algum momento ideal? D. A.S., 17 anos Falar sobre sexo com os pais continua sendo um tabu para a maioria dos jovens. Que tal você iniciar a conversa tentando esclarecer suas dúvidas, mostrando a seus pais que confia neles? Procure deixar a vergonha de lado e encarar o assunto com a naturalidade que ele merece, mostrando a eles que está se importando com a sua saúde . É sempre hora de falar sobre assuntos que são importantes para a gente, e a questão sexual na juventude merece muita atenção.

Mande suas dúvidas sobre Sexo e Saúde, que a galera da Vira vai buscar as respostas pra você! O e-mail é redacao@revistaviracao.org.br!

L.P.S., 17 anos

Natalia Forcat

CUPOM DE ASSINATURA anual e renovação 10 edições É MUITO FÁCIL FAZER OU RENOVAR A ASSINATURA DA SUA REVISTA VIRAÇÃO Basta preencher e nos enviar o cupom que está no verso junto com o comprovante (ou cópia) do seu depósito. Para o pagamento, escolha uma das seguintes opções: 1. CHEQUE NOMINAL e cruzado em favor da VIRAÇÃO. 2. DEPÓSITO INSTANTÂNEO numa das agências do seguinte banco, em qualquer parte do Brasil: • BANCO DO BRASIL – Agência 2947-5 Conta corrente 14712-5 em nome da VIRAÇÃO OBS: O comprovante do depósito também pode ser enviado por fax. 3. VALE POSTAL em favor da VIRAÇÃO, pagável na Agência Augusta – São Paulo (SP), código 72300078 4. BOLETO BANCÁRIO (R$2,95 de taxa bancária)


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Parada Social

Por uma cultura da justiça Campanha da Fraternidade discute o consumismo na sociedade

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Vanessa Correia, colaboradora da Vira em São Paulo (SP)

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éculo XXI adentro, com mais ou menos otimismo, assistimos ainda ao sofrimento das massas de despossuídos e a agonia da natureza. Nesse contexto, a Campanha da Fraternidade (CF) convoca a todos as pessoas a refletir o tema deste ano: "Fraternidade e economia - Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro". A campanha passa por questões como desemprego, preservação ambiental, lucro, consumo, direitos sociais, dívidas, poder e participação popular. Sem lugar de vida e emprego, um exército de empobrecidos, não absorvidos pelo mercado de trabalho, é incorporado marginalmente pela economia, aprofundando a miséria e o sofrimento. Ao mesmo tempo, o meio ambiente dá sinais evidentes do limite ao qual o modelo de desenvolvimento vigente levou a todos. Esses são fenômenos observados no Brasil, apesar de uma melhora de vida sensível nos últimos anos, e em toda a América Latina, em maior ou menor grau. A CF se propõe como uma ação articulada das várias igrejas cristãs para dar visibilidade a essas grandes causas de sofrimento humano e planejar com sociedade a construção de novas relações, orientadas pelo princípio da justiça e do bem comum. A discussão desafiadora para os que desejam outro mundo possível é a

realização de um novo modelo de desenvolvimento econômico para o campo e cidade, comprometido com um processo de expansão dos direitos sociais. A viabilização de uma política econômica e social que se converta em produtora de justiça e direito e não de desigualdades e privilégios. Essa é tarefa para se realizar desde as experiências locais, como a economia solidária nas diversas associações, até a participação cidadã ativa de interferência nas decisões políticas. A campanha nos ajuda a olhar a realidade a partir dos excluídos, reivindicar o pagamento das dívidas históricas com os empobrecidos deste País; repensar o modelo de propriedade que gera desigualdades e privilégios e atrasa o desenvolvimento sustentável do Brasil; assumir a questão ambiental; romper o compromisso político entre as elites por uma aliança em nome do bem comum. Enfim, uma economia a serviço da vida, fundamentada no ideal da cultura da paz, que é a cultura da justiça!

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Roteiro de Maria Camila FlorĂŞncio, colaboradora da Vira em Recife (PE)


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“Um anjo anárquico que veio ao mundo para nos inquietar”, palavras do dramaturgo Plínio Marcos sobre a escritora, atriz e militante do Partido Comunista (PC) Patrícia Rehder Galvão, ou simplesmente Pagu. Em 1962, um câncer arrebatou a vanguardista, que deixou um extenso exemplo anticonservador para mulheres e homens brasileiros. Pagu (1910 - 1962)


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