Revista Viração - Edição 94 - Março/2013

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s o r i e c r a p s o s Nos

Sexo e Saúde

pelo Brasil

Auçuba - Comunicação e Educação Recife (PE) aucuba.org.br

Ciranda – Curitiba (PR) Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência www.ciranda.org.br

Catavento Comunicação e Educação Fortaleza (CE) www.catavento.org.br

Mídia Periférica - Salvador (BA) www.midiaperiferica.blogspot.com.br

Universidade Popular – Belém (PA) www.unipop.org.br

Gira Solidário Campo Grande (MS) www.girasolidario.org.br

Movimento de Intercâmbio de Adolescentes de Lavras – Lavras (MG)

Rede Sou de Atitude Maranhão São Luís (MA) www.soudeatitude.org.br

Casa da Juventude Pe. Burnier – Goiânia (GO) www.casadajuventude.org.br

Amadora – Portugal www.buefixe.org

Oi Kabum - Rio de Janeiro (RJ) www.oikabumrio.org.br

Avalanche Missões Urbanas Underground Vitória (ES) www.avalanchemissoes.org

Grupo Conectados de Comunicação Alternativa GCCA - Fortaleza (CE) www.taconectados.blogspot.com

Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil (RR) grupomakunaimarr.blogspot.com

Cipó Comunicação Interativa Salvador (BA) www.cipo.org.br

Agência Fotec – Natal (RN)

Lunos - Boituva (SP) www.lunos.com.br

Projeto Juventude, Educação e Comunicação Alternativa Maceió (AL)

União da Juventude Socialista – Rio Branco (AC) ujsacre.blogspot.com

Jornal O Cidadão – Rio de Janeiro (RJ) ocidadaonline.blogspot.com

Idesca - Manaus (AM) www.idesca.org.br

Coletivo Jovem - Movimento Nossa São Luís São Luís (MA)

Casa Pequeno Davi João Pessoa (PB)


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e e u u q q o o h h n n SSoo e e d d a a d i d i l l a a e e r r u u o o r i r vvi

Conteúdo

Copie sem moderação! Você pode:

Há dez especial. e u q ano o d mais eito hum Viração é os no dir d a d l ja a o g ã n iç e d jeto socia sta e dores a um pro s e educa io ta íc s in li a m rn a v a ente anos, jo ventude d rinhosam ação da ju que foi ca ic n lo u u m a lescentes P o o c o d à uitos a m ns em Sã e u v to jo is e u d rupo ente de a conq com um g rincipalm cos, a Vir p u o o s s p s a s m re o p , s A im çõe s mãos. r informa por muita as recebe n e p a cultivado o ã de n de outras desejosos eriências p x e ente a e e jovens -s ente pres omou à voz. m, atualm a revista s u direito e d e v s a jo r v a e ti ir a V rc ic ra e e ex ado que a Red educomun stituindo a transform c n o ti c A prática rá , p il s a s ra s B bre e adas pelo . ral. E é so a Viração ões espalh trito Fede is D o n ez anos d organizaç d e e il d s s a seção o ra o ã B m iç o a dos d desta ed o, estre ri a á p a rs r de c e e iv d n em 20 Esta sso a ir do olha agem ção do no ões a part ssa report ra iç o b d n e le a e 2 c 1 ta à a tr ira em . Para os início tória da V m a gente Para darm truir a his minho co s a n c o c e revista s re s e d e propõ a ideia a ilharam e u tr iu q e rg , ! u u 0 q s 1 o is Vale com tituciona toda conta rceiros ins a parada s s e alguns pa d r o d d@s os o idealiza o para to ã . v começar, m s e n v é b jo para vem pra Vira e os feita de jo sonho, ário é da rs e iv n m desse a ra O e z fi e u q iros coletivo. s e parce m sonho u , a im L virajoven lo ! te de Pau Juventude inicialmen ós! Viva a n ra a p s Parabén

e

quem somos a

Viração é um uma organização não governamental (ONG), de educomunicação, sem fins lucrativos, criada em março de 2003. Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo, da ANDI Comunicação e Direitos e Fundação Telefônica. Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.viracao.org),contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 20 Estados e no Distrito Federal, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses dez anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá'í. E mais: no ranking da Andi, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Paulo Pereira Lima Diretor Executivo da Viração – MTB 27.300

Conheça os Virajovens em 20 Estados brasileiros e no Distrito Federal Belém (PA) Boa Vista (RR) Boituva (SP) Brasília (DF) Campo Grande (MS) Curitiba (PR) Fortaleza (CE) Goiânia (GO) Lagarto (SE) Lavras (MG) Lima Duarte (MG) Maceió (AL) Manaus (AM) Natal (RN) Picuí (PB) Porto Alegre (RS) Recife (PE) Rio Branco (AC) Rio de Janeiro (RJ) Salvador (BA) S. Gabriel da Cachoeira (AM) São Luís (MA) São Mateus (ES) São Paulo (SP) Vitória (ES)

• Copiar e distribuir • Criar obras derivadas Basta dar o crédito para a Vira!

Apoio Institucional

Asso

ciazione Jangada

quem faz a vira Daniela Majori

Parceiros, colaboradores e equipe da Viração se reúnem em 28 de fevereiro para Assembleia Geral da Vira, que marca o início das comemorações de dez anos

Revista Viração • Ano 11 • Edição 94 03


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09 Pra celebrar!

Os dez anos da Viração serão contados a partir do olhar dos nossos parceiros em nova seção. Na estreia, Paulo Lima conta como surgiu a ideia da revista

14

16 Escola ideal

Fugindo à regra do autoritarismo, escolas apostam na construção coletiva do conhecimento e na valorização dos estudantes

18

Norte na música

Vocalista e guitarrista da banda Tucumanus, de música popular amazonense, fala sobre o destaque internacional que o grupo teve fora do Brasil

Educomunicar o Brasil

s práticas que Pra celebrar os dez anos da Vira, destacamo o uso das ferramentas para ude juvent a sensibilizam e empoderam nia cidada ruir const de forma como o nicaçã da comu

24 Quem é quem

Sempre na Vira

Nesta edição de dez anos, conheça a atual equipe da Viração nas charges do cartunista Novaes

Manda Vê . . . . . . . . . . . . . 06 Quadrim . . . . . . . . . . . . . . 08 Imagens que Viram . . . . . 10 Como se Faz . . . . . . . . . . 12 No Escurinho . . . . . . . . . . 30 Que Figura . . . . . . . . . . . . 31 Sexo e Saúde . . . . . . . . . . 32 Rango da Terrinha . . . . . . 33 Parada Social . . . . . . . . . . 34 Rap Dez . . . . . . . . . . . . . . 35

26 Pelo direito ao esporte

Adolescentes e Jovens da Rejupe pautam o direito ao esporte seguro e lazer no contexto dos megaeventos esportivos que acontecem no Brasil a partir deste ano

28

Mês da Mulher Saiba mais sobre as lutas e conquistas do Movimento Feminista de ontem e de hoje no mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher

RG VÁLIDO EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL Revista Viração - ISSN 2236-6806

Primeiro-Secretário

Conselho Editorial

Eduardo Peterle Nascimento

Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

Diretoria Executiva

Conselho Fiscal

Anais Quiroga, Bruno Ferreira, Elisangela Nunes, Eric Silva, Evelyn Araripe, Gutierrez de Jesus Silva, Ingrid Evangelista, Manuela Ribeiro, Rafael Stemberg, Sonia Regina e Vânia Correia

Everaldo Oliveira, Renata Rosa e Rodrigo Bandeira

Conselho Pedagógico Alexsandro Santos, Aparecida Jurado, Isabel Santos, Leandro Nonato e Vera Lion

Paulo Lima e Lilian Romão

Equipe

Administração/Assinaturas

Presidente

Douglas Ramos e Norma Cinara Lemos

Juliana Rocha Barroso

Mobilizadores da Vira

Vice-Presidente

Acre (Leonardo Nora), Alagoas (Jhonathan Pino), Amazonas (Jhony Abreu e Claudia Maria Ferraz), Bahia (Everton Nova e

Cristina Paloschi Uchôa

Enderson Araújo), Ceará (Alcindo Costa e Rones Maciel), Distrito Federal (Mayane Vieira e Webert da Cruz), Espírito Santo (Filipe Borges), Goiás (Érika Pereira e Sheila Manço), Maranhão (Nikolas Martins e Maria do Socorro Costa), Mato Grosso do Sul (Fernanda Pereira), Minas Gerais (Emília Merlini, Reynaldo Gosmão e Silmara Aparecida dos Santos), Pará (Diego Souza Teofilo), Paraíba (Manassés de Oliveira), Paraná (Juliana Cordeiro e Vinícius Gallon), Pernambuco (Edneusa Lopes), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Rio Grande do Sul (Roberta Darkiewicz e Joaquim Moura), Roraima (Graciele Oliveira dos Santos), Sergipe (Grace Carvalho) e São Paulo (Luciano Frontelle, Verônica Mendonça e Vinícius Balduíno).

Colaboradores Antônio Martins, Heloísa Sato, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Novaes e Sérgio Rizzo.

Projeto Gráfico Ana Paula Marques e Cristina Sayuri

Revisão Izabel Leão

Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTb 27.300

Divulgação Equipe Viração

E-mail Redação redacao@viracao.org


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A Vira pela igualdade. Diga lá. Todas e todos Mudança, Atitude e Ousadia jovem.

Fale com a gente!

Diga lá

Via E-mail Bom dia! Me chamo Paula, tenho 23 anos, sou professora em uma instituição particular de São Luís (MA). Envio este e-mail porque tenho muito interesse em participar do quadro de colaboradores da Viração, para trocar experiências e principalmente aprender bastante! Aguardo retorno!

A Viração Educomunicação recuperou o seu perfil original no Twitter. Volte a nos seguir pelo @viracao.

Atenciosamente, Paula Daniele

Via E-mail Caríssimos, entro em contato para propor a articulação de um conselho jovem em Santa Luzia (MG). Pertenço ao Instituto de Promoção e Desenvolvimento Social Tucum e quaisquer dúvidas podem me contatar. Sebastião

Oi, Paula e Sebastião! Será ótimo contar com a colaboração de vocês! Em breve, entraremos em contato para articular as parcerias!

E também confira a página da Viração Educomunicação no Facebok.

Ponto G Perdeu alguma edição da Vira? Não esquenta! Agora você pode acessar, de graça, as edições anteriores da revista na internet: www.issuu.com/viracao

Ops! Erramos! Na edição nº91, de dezembro de 2012, publicamos o balaço anual da Viração. No entanto, o balanço publicado refere-se ao ano de 2011 e não ao de 2012, conforme divulgado. E na última edição, de janeiro de 2013, publicamos na seção Rango da Terrinha que o pé-de-moleque deve ser cozido em forno pré-aquecido. Mas o termo correto é “assado”. Pedimos desculpas pelos equívocos.

Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 - Consolação - 01305-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: redacao@viracao.org Aguardamos sua colaboração!

Parceiros de Conteúdo

Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leia-se também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.


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Manda Vê Igor Alves e Lee Bueno, do Virajovem Curitiba (PR); Joaquim Moura, do Virajovem Porto Alegre (RS); e Yuri Francisco, Virajovem de Boa Vista (RR)*

Cada vez mais a mídia pressiona a sociedade para cobrar providências do Estado no combate à violência. Se por um lado, sempre existe alguém que relata ter medo de ser assaltado, por outro, ninguém espera que seu filho seja morto junto com outras crianças, num tiroteio dentro da sala de aula. A violência se tornou algo preocupante, principalmente se a pessoa que a comete tem um histórico de solidão, habilidade e preferência por jogos violentos. Mas será que os jogos disponíveis na internet ou de videogames realmente contribuem para o desenvolvimento de comportamento violento? A questão ainda é polêmica, a princípio o que existe é somente a coincidência entre o perfil dos assassinos. Mas, o que você acha?

Os jOgOs estimulam um cOmpOrtamentO viOlentO?

Pedro Henrique Chagas, 15 anos, Vitória da Conquista (BA) “Os jogos não necessariamente deixam as pessoas violentas. O que deixa as pessoas mais violentas é o vício que, consequentemente, leva ao isolamento e à intolerância com os outros. Alguns jogos fazem apologia à violência, que apenas se inicia quando o ato de jogar se torna um vício. Cabe aos jovens, ao iniciar um jogo, ter maturidade para saber o que estão fazendo e por quanto tempo.”

06 Revista Viração • Ano 11 • Edição 94

Clara Guimarães, 14 anos, Porto Alegre (RS) “Na minha opinião, os jogos violentos podem influenciar um comportamento agressivo, mas isso depende do público que joga. Por exemplo, o público infantil é muito influenciável, então os jogos violentos podem influenciar um comportamento mais agressivo nesse público. Já o jovem é mais maduro e capaz de saber que alguns comportamentos não são apropriados.”

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal


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Leoncio Monteiro, 23 anos, Boa Vista (RR) “Quando jogamos, nos transportamos para dentro do jogo, o que nos faz sentir o que os personagens sentem. Quero dizer que, quando jogamos um jogo violento, entramos num clima de violência, querendo matar o personagem para passar de fase, embora tenha uma grande diferença entre o jogo e a vida real.”

Isadora Thais de Oliveira, 18 anos, Curitiba (PR)

“Os jogos que possuem temas que estimulam e até mesmo incentivam a violência podem levar à prática da violência, porém não podemos dizer que isso é determinante. O jogo é apenas uma parcela de um todo. Logo, existem outros fatores que somados levam ao desenvolvimento de comportamentos violentos.”

Shayze Souza, 18 anos, Porto Alegre (RS)

Rafael Dranoff, 14 anos, Porto Alegre (RS) "O que influencia é a má educação que a pessoa recebeu. Um jogo não mexe com o psicológico de uma pessoa. Se uma pessoa tem problemas psicológicos ou é muito influenciável, os jogos podem acabar ajudando. Mas isso não é culpa dos jogos, isso é só uma desculpa das pessoas que não têm a quem culpar.”

“O mercado dos jogos nos traz um leque muito variado de opções cada vez mais agressivas, mas isso não quer dizer que seremos influenciados por elas. Cabe às nossas famílias, no momento de nossa formação, decidir qual é a melhor opção para que, quando estivermos sem sua proteção, façamos nossas escolhas com sabedoria.”

Matteus Chaves, 18 anos, Curitiba (PR) “Uns jogos até podem influenciar uma pessoa, assim como uma novela também pode, um filme ou até mesmo um telejornal, o jogo não caracteriza a pessoa. O que influencia o comportamento da pessoa é a criação e o ambiente onde ela cresceu.”

Não é de hoje! O questionamento se jogos violentos podem influenciar no comportamento das crianças ainda é feito por muitos pais e pessoas que se interessam pelo assunto. Alguns jogos já geraram muita polêmica e problemas. Um grande exemplo ocorreu nos Estados Unidos, no Condado de Jefferson, no colégio Columbine, em 20 de abril de 1999, onde dois jovens mataram 12 estudantes e um professor. Após a prisão dos jovens, foi revelado que eles eram viciados nos jogos Doom e Quake. É importante lembrar que não é provado que os jogos possam influenciar no comportamento dos adolescentes e que depende muito do pensamento e do comportamento da pessoa.

Homo Zappiens: Educando na Era Digital Apesar de não questionar se os jogos eletrônicos tornam o jogador violento, o livro de autoria de Wim Veen e Ben Vrakking aborda como aproveitar os recursos digitais, inclusive os jogos e videogames, em processos educativos. O livro alerta para uma necessidade de mudança na educação, sugerindo que o conhecimento não se restringe à escola e que deve ser construído com criatividade.


b

kOndei os dramas quadrim_94:Layout 1 20/3/2013 15:12 Page 9

Quadrim

humanos se cruzam

Nobu Chinen, crítico de quadrinhos

L

ogo na capa do álbum Encruzilhada, do artista Marcelo D’Salete, lançado pela editora Barba Negra, já dá para notar que as narrativas nele contidas são ambientadas num cenário urbano. O título está escrito com o tipo de letras usado pelos pichadores e fazem parte da paisagem das grandes cidades. São cinco histórias que retratam o drama de pessoas comuns que vivem um cotidiano cheio de dificuldades e, ainda por cima, sofrem os problemas como a violência, o envolvimento com drogas e a discriminação. A vendedora de DVDs piratas, totalmente frágil diante de um freguês que rouba seus produtos. Pequenos delitos, como o roubo de um celular, que levam a grandes tragédias. Histórias que não chegam a virar notícia nos jornais de tão banais, mas que afligem as pessoas todos os dias. Aparentemente não há vínculos entre as histórias, mas existe um certo tom de melancolia e de urgente realidade que perpassa e costura todas elas num único tecido. Nelas, o autor explora o limite entre a sobrevivência e a criminalidade e mostra como o conflito entre autoridade e cidadania é quase sempre marcado por equívocos, intencionais ou não. Na última história, que dá nome ao álbum, Marcelo relata um caso real ocorrido no estacionamento de um grande hipermercado da Grande São Paulo. Um senhor foi brutalmente espancado pelos seguranças do estabelecimento simplesmente por terem suspeitado que ele estava tentando roubar um carro. O detalhe grave é que o carro era do próprio sujeito e a única razão para que ele fosse tratado como suspeito era o fato de ser negro. Um

episódio de racismo que ganhou as páginas dos jornais e que, segundo o próprio Marcelo, o indignou a tal ponto que ele não podia deixar de se expressar. Adicionando alguns elementos ficcionais, criou um manifesto contundente contra um ato absolutamente inaceitável. V

Por que é legal ler?

A narrativa de Marcelo é uma espécie de jogo de imagens com poucos diálogos e muitas cenas, numa composição rica e dinâmica que mais insinua do que explica. O fundo preto das páginas dá uma sensação de que somos espectadores numa sala escura de cinema.

08 Revista Viração • Ano 11 • Edição 94

Por que é importante ler? As histórias contam dramas de pessoas comuns com os quais podemos nos identificar. Situações que poderiam acontecer com um amigo, um vizinho ou com qualquer um de nós.

Para ler e refletir A história que dá nome ao álbum mostra que, em pleno século 21, o preconceito, resquício de um modo de pensamento arcaico e ultrapassado, ainda é uma chaga presente na nossa sociedade.


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Vale

10

É tempo de colher Paulo Lima*

*Paulo Lima é fundador da Viração, jornalista, educomunicador e empreendedor social da Ashoka Empreendedores Sociais

U

ma palavra, uma página, uma revista. Tudo começou por aqui, por um “projeto social impresso”, em março de 2003. Uma proposta de revista feita para, com e a partir de adolescentes e jovens de todo o Brasil, e não apenas do eixo Rio-São Paulo. E essas primeiras palavras ganharam vida a partir do slogan: mudança, atitude e ousadia jovem. A Viração nasceu como uma iniciativa pessoal e logo foi se tornando obra coletiva, trabalho de rede, movimento. Primeiro, como revista, com o apoio jurídico dos Missionários Combonianos e da Associação de Apoio às Meninas e Meninos da Região Sé. Depois, o projeto foi crescendo, várias organizações foram pedindo para a gente irradiar nosso jeito de fazer educomunicação em outras paradas: escolas, ONGs, Igrejas, associações, secretarias de governos e ministérios. Ao longo desses dez anos de semeadura, passamos a fazer pequenas colheitas: orgânicas, é preciso dizer e ressaltar. Porque sempre acreditamos na força do “colaborativo” e do “cooperativo”. Por isso, fomos tecendo parcerias com outras organizações que também passaram a assumir a causa de uma comunicação livre, a partir e com adolescentes e jovens, fazendo valer o Direito Humano à Comunicação. Desde a sua fundação, em março de 2003, a Viração já fez parceria com 153 organizações da sociedade civil organizada, ministérios, prefeituras e secretarias de governo em todas as esferas, orgãos internacionais do sistema ONU, empresas e fundações nacionais e internacionais na América Latina, África e Europa. Nesses dez anos de movimento, impactamos na vida de mais de quatro milhões de adolescentes, jovens e educadores que diretamente ou indiretamente participaram de mais de 50 projetos realizados no Brasil e no exterior. Isso tudo só aumenta nossa responsabilidade para os próximos dez anos. Certamente continuaremos acreditando e tendo como base de nossos valores essa mesma visão: de que adolescente ou jovem é sempre um sujeito de direitos que precisa ser considerado em sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, com potencialidades e vulnerabilidades específicas, mas que representa uma grande oportunidade de desenvolvimento para sua família, comunidade, escola, governo e para si próprios. V


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IMAGENS QUE VIRAM

Simplicidade e Ousadia Texto: Manassés de Oliveira, do Virajovem Picuí (PB)* Imagens: Vicente Cândido

A

fotografia é muito mais um insumo da criatividade do que o resultado de um equipamento caro e ultramoderno. O fotógrafo Vicente Cândido, de Picuí, Paraíba, é a prova do que se pode fazer com uma pequena câmera compacta na mão. O registro de um par de moscas acasalando só foi possível com certa dose de paciência. No momento exato, o clique certeiro aproxima Vicente das imagens de Henri Cartier Bresson e das cores de Sebastião Salgado. As silhuetas dos insetos são carregadas de variados sentidos: a oportunidade, a documentação do processo, a sorte, o êxito. Luz e penumbra. A chama da vela simboliza uma vida que passa num certo espaço de tempo. O relógio do avô sobre a mesa, tanto pode indicar o imperativo cartesiano, a estética rebuscada de um tipo de arte cheia de elementos gráficos ou mesmo a ausência de um familiar que se comunica com o neto através da memória. Vicente Cândido fotografa seu cotidiano. As coisas invisíveis aos olhos da carne. A folha desfocada de uma planta, o hotel que teima em invadir o Oceano Atlântico, a solidez das linhas de Niemeyer e o jovem escritor com um livro ao pôr do sol... V

10 Revista Viração • Ano 11 • Edição 94


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*Um dos Virajovens presentes em 20 Estados do PaĂ­s e no Distrito Federal


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Como se faz

Cortina Mídia Uma cortina criativa pode chamar a atenção para uma questão ou causa social

Elisangela Nunes Cordeiro, da Redação

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=

Minha internet caiu... Nas mãos das teles . Foi com essa tag que a turma da Viração realizou sua primeira cortina mídia. Todos estavam envolvidos na campanha Banda Larga é um Direito Seu e era preciso dar visibilidade à ela. Na época, estava sendo organizando um grande twitaço com o objetivo de popularizar e trazer maior transparência às discussões que envolviam o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). A turma da Vira realizou uma chuva de ideias, da qual surgiu a proposta de se usar as janelas da sede da organização como uma espécie de outdoor na Rua Augusta, um local bastante conhecido e badalado de São Paulo. O objetivo da cortina mídia é transmitir mensagens para o público externo. É ideal para uma ação de mobilização e sensibilização para uma causa. Para a produção de uma cortina mídia, você pode usar tecidos ou até mesmo cartolina, dependendo da janela em que você pretende expor a sua mensagem. V

Arquivo Viração

Passo a passo 1. Defina o tema e local: converse com seu grupo e escolha o tema e uma janela que tenha visibilidade ao público de interesse de vocês. Vale a janela do seu quarto, de sua casa, da escola. 2. Escolha frases de impacto: pesquise sobre o tema escolhido e, com o seu grupo, faça uma chuva de ideias para escolher uma frase que chame a atenção das pessoas. Lembre-se de que a frase precisa ser escrita de forma criativa e bem destacada na janela para ser vista pelas pessoas que passam na rua. 3. Produção da cortina: vocês podem usar tintas fáceis de limpar para escrever a frase no vidro da janela, ou então produzir a arte em um tecido ou cartolinas que serão afixadas no lugar de uma cortina convencional. Lembre-se que a sua mensagem deve ficar do lado de dentro da janela. Se seu grupo decidir fazer um cartaz ou uma produção com colagem, tenha cuidado para fixá-la com uma fita firme. Lembre-se das cores para causar impacto visual. 4. Divulgue: tire uma foto de sua janela, poste nas redes sociais e convide sua rede de amigos para divulgar a sua cortina mídia.


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Parabéns,

Vencedora do Prêmio Internacional da Fundação Alexander Bodini, de San Marino O reconhecim mento internac cional da Renajoc ajud da a ch hamar a atençã ão para a im mportân ncia da particip pação de adollescentes na democratiz zação dos meiios de comun nicação --Márrio Vo Má olp lpi, coord den e ador do Programa ma Cidadania dos Ad dolescentes do UNIC CEF no Brasil

Em jjan anei e ro de 2013, a Re Ren najoc foii vencedora do d Prêêmi mio o Inte ternacional da FFundaçãão Alexander Bodini, dee SSan Marino, quee reeco qu conhece e incen! !va ações lideradas porr adolesc scen ente tes e jovens p pel elo mund do. Além disso, a Rede ta t mbém foi cont co ntem nt empl p ada pelo edi d taal de Redes e Alianças do o Ins!tut uto o C& C&A e, ao lo long ngo do ano n , vai promover ações es de direito h mano à ccomunicaçção eem escolas dee todo o Brasill. hu


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r e t r ó Rep

a r e l a G

Música que vem da floresta A banda de música popular amazonense Tucumanus co nta sua trajetória até alcançar espaç o nos palcos do Brazillian Da y

Jhony Abreu e Elizabeth Lucena, do Virajovem Manaus (AM)*

A

equipe virajovem de Manaus conversou com o guitarrista Denilson Novo e o vocalista Clóvis Rodrigues, da banda amazonense Tucumanus, que representou o Estado do Amazonas no Brazillian Day, maior festival de música brasileira fora do País. Acontece em Nova York, nos Estados Unidos. Em 28 anos de festival, esta é a primeira vez que uma banda de Manaus consegue esse feito. Os músicos contaram sobre a trajetória da banda, que surgiu ainda na década de 1990, com o filósofo Maurício Pardo. O projeto não era necessariamente musical, mas sim uma ideia de valorização do cantor e da cultura regional que, a pedido do filósofo, foi reforçada pelo quadrinheiro e desenhista Adriano Furtado, criando assim o Universo dos Tucumanos – desenhos de seres com corpo de homem e cabeça de tucumã. Tucumã é uma fruta regional do Norte do País, muito comum nas feiras de Manaus. É encontrada com facilidade na floresta amazônica. Nessa época, a fruta estava explodindo na cidade com suas várias utilidades, que variam desde o sanduíche (conhecido na cidade como X-caboquinho) até o sorvete, e Maurício vislumbrou uma nova utilidade para ela. Desde então, começou a tratar os caroços e, com três em cada uma das

mãos, saía pelos corredores da Universidade Federal do Amazonas fazendo um som que parecia uma matraca. Em 2001, surgiram as primeiras músicas, tocadas apenas em churrascos de fins de semana. A formação oficial da banda aconteceu mesmo em 2006, depois que Clóvis Rodrigues assumiu os vocais do grupo e a banda fez sua primeira apresentação no Teatro Chaminé, em setembro deste mesmo ano. Confira a entrevista: Como surgiu a idealização do projeto? O conceito surgiu com a ideia de valorizar a cultura regional. O Maurício estava no interior do Ceará e o dono de um bar, depois de saber que ele era amazonense, pôs para tocar um disco do Teixeira de Manaus. Quando ele voltou, começou a delimitar o olhar dele para essa questão da valorização do que é regional. Na época ele começou a escrever sobre a decadência da Zona Franca de Manaus e foi justamente o momento em que os produtos da nossa terra começaram a sair dos muros do Mercado Municipal e ganharam espaço nas ruas. Começaram a aparecer as barraquinhas de café da manhã, o x-caboquinho (sanduíche regional a base de tucumã) e as banquinhas de camelôs davam mais espaço para os produtos daqui. Nessa época, o

Linha do Tempo Surge a ideia de valorização da música e da cultura amazonense.

As primeiras músicas são compostas por Denilson Novo e Maurício Pardo, se apresentando em casas de amigos em churrascos de fins de semana.

1990

2001

14 Revista Viração • Ano 11 • Edição 94

Formação da banda Tucumanus e suas primeiras apresentações profissionais. Tucumã é uma fruta regional do norte do País, muito comum nas feiras de Manaus. É encontrada com facilidade na floresta amazônica.

2006


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tucumã ganhava espaço na cidade, então ele investiu na ideia de fazer algo novo com a fruta, e assim surgiu o som que ele fazia com os caroços e ainda O Universo dos Tucumanus. E a ideia de montar uma banda? Depois de ter criado O Universo dos Tucumanus, ele começou a desenvolver frases e textos e me chamou para musicar isso. Na época eu já tocava em algumas bandas e ele acompanhava esses shows e conversava com os músicos sobre os projetos dele. Como nós sempre nos encontrávamos em churrasco nos fins de semana, um dia sentamos juntos e conseguimos fazer, de cara, umas três ou quatro músicas, que ficaram muito legais, e a partir daí, os churrascos, que eram frequentes, começaram a ter um público maior. O pessoal ia e pedia pra gente tocar as nossas músicas. Isso aconteceu em meados de 2001 e teve essa repercussão. Com o tempo, o projeto foi amadurecendo. Nós não tínhamos voz para cantar, mas queríamos montar uma banda, então, depois da chegada do Clóvis e dos outros integrantes, em 2006, começamos a nos apresentar.

restrito para cada apresentação. Como ela estava gostando, pediu pra gente tocar mais uma música e começou a chorar porque, naquele momento, ela sabia que tinha feito a aposta correta em ter nos levado para tocar lá. Nessa viagem, a gente também conseguiu fazer um show no Subs, que é uma das principais casas de shows de world music em Nova York, e tivemos o mesmo feedback, a casa estava lotada. A gente pôde perceber que o nosso som é muito diferente de tudo o que toca por lá, então a aceitação por conta disso é muito grande. A gente tocou na rua, no metrô, no Central Park, na Times Square e as pessoas paravam para ouvir, dançar. Fizemos imagens de tudo isso e essas imagens estão no clipe Churrasco de gato. Tudo isso deu um histórico muito legal pra banda.

Como foi a receptividade fora do País? A receptividade lá foi muito boa, a gente saiu como destaque do palco alternativo. A coordenadora do palco onde nós tocamos estava junto com a gente e pediu para que prolongássemos o show, pois o tempo era muito

Divulgação

E quanto à receptividade no Brasil? Em 2012, tivemos muitas conquistas. Começamos participando do festival de música do Sesc com mais dez bandas, todas com estilos muito diferentes do nosso. Só de termos participado já estava bom. Aí, E como surgiu a oportunidade para tocar no Brazilian Day? ganhamos o festival e fomos representar o Amazonas O Brazilian Day foi uma surpresa pra gente. Tudo começou no sul do País, em Maringá (PR), no Festival de Música com o Gláucio Penalbert, que trabalhava aqui com Cidade Canção (Femucic). Quando surgiu a proposta merchandising de marketing e foi morar em Nova York. Lá, ele para Nova York, a gente precisava tirar o visto. Fomos conheceu os organizadores do Brazilian Day e falou do nosso para São Paulo, porque as oportunidades de shows trabalho. O diretor geral do eram maiores também. Então, entramos em evento se interessou em ver o contato com o pessoal da casa Fora do Eixo da nosso material, até porque Amazônia e eles articularam um show em uma “A gente pôde perceber que o nunca havia levado ninguém excelente casa, que é o Studio SP, a casa lotou nosso som é muito diferente do Amazonas para tocar lá. de amazonenses residentes na cidade, que de tudo o que toca por lá. A Enfim, eles adoraram o estavam com saudades da banda. O pessoal gente tocou na rua, no metrô, material e estavam estreando ficou surpreso com o tamanho do público no Central Park, na Times um palco alternativo no reunido para ver uma banda amazonense Square e as pessoas paravam evento, daí houve o convite tocar e dessa forma os nossos laços para ouvir, dançar.” para a banda. foram se estreitando. V

A banda experimenta o gosto do sucesso com convites para festivais nacionais e o Brazilian Day, em Nova York

2012

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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Escola como tem que ser o aprendizado o autoritarismo na escola e melhoram Novos modelos de educação acabam com

Emilia de Mattos Merlini, Jairo Jean e Sandro Reis Silva, do Virajovem Lima Duarte (MG)*

“E

i, professor, deixe as crianças em paz”, diz a música Another brick in the wall. Assim a banda Pink Floyd fez sua crítica ao rígido sistema educacional inglês, principalmente o de internatos. Segundo o filme Educação Proibida, lançado em agosto de 2012 e disponível para download na internet, nosso modelo de escola surgiu no final do século 18 e início do 19, na Prússia. O objetivo era evitar revoluções populares como as que culminaram com a Revolução Francesa e a derrubada do regime absolutista naquele país. Desse modo, os governantes inseriram nesta escola um pouco das ideias iluministas, mas mantendo o absolutismo que privilegiava a obediência e a divisão de castas. Essa escola se espelhava ainda no modelo espartano, fortemente militarizado e com castigos físicos. A escola prussiana teve sucesso e rapidamente se espalhou pelo mundo. No mesmo período, dava-se a 1ª

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Revolução Industrial que necessitava de trabalhadores alfabetizados que obedecessem ao regime das fábricas. Assim, a escolarização obrigatória foi financiada pelos industriais e, o modelo, aprimorado com as descobertas comportamentais e o taylorismo, com sua cadeia de montagem. Não é à toa que a escola se organiza pela seriação e pelo toque do sinal, entre outras características. Essa escola não foi pensada por educadores, mas por administradores que buscavam a obediência e a repetição de um modelo de sociedade, dividido em classes sociais, em que as pessoas não deveriam ter autonomia e independência para transformá-la. Nessa escola, todos precisavam fazer o mesmo igualmente bem, havia pouca

Taylorismo é o modelo de administração desenvolvido pelo engenheiro norteamericano Frederick Taylor (1856-1915). Caracteriza-se pela ênfase nas tarefas, objetivando o aumento da eficiência ao nível operacional. (Informação da Wikipédia)


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capacidade de responder a necessidades individuais, havia divisão hierárquica, gratificações e punições, além do afastamento da comunidade que pouco interagia com ela... Características que, infelizmente, persistem na escola do século 21. De acordo com Rafael de Paula, membro do Instituto Candeia de Cidadania, “a estrutura da escola transmite a ideia de que uma pessoa que tem títulos – como o professor – é mais inteligente ou pode mandar em quem não tem, como o aluno”. Para ele, “alguém que tem conhecimento de algo não precisa possuir um certificado para demonstrar que sabe alguma coisa”. Como exemplo, o índio possui um saber que o permite viver na floresta, enquanto muitos de nós não conseguíramos sobreviver neste ambiente nem por um dia. Às vezes, pais e professores são autoritários querendo o melhor para seus filhos e alunos, sem perceber que cada um deve escolher o seu caminho na vida, tendo como referência seus próprios sentimentos e desejos. Quando as escolhas são feitas com base em um referencial externo, corre-se o risco de não ser feliz e de adquirir vários problemas emocionais e até físicos. Segundo Welliton Souza, membro do Instituto Candeia, a escola tradicional deveria dar valor a todos, independente do posto que se ocupa, as regras deveriam ser construídas por todos os seus membros e pela comunidade onde a escola está inserida. Desse modo, elas serias mais respeitadas e as pessoas aprenderiam a cidadania colocando-a em prática, não decorando regras.

Alternativa ao autoritarismo Pensando na frase de Paulo Freire: “mudar é difícil, mas é possível”, contaremos sobre o modelo da Escola da Ponte, onde a construção coletiva do conhecimento e das regras acontecem de maneira mais democrática e com melhores resultados. Sabemos que há também a Summer Hill School e a Sudbury Valley School, entre outras no Brasil e na América Latina. A Escola Estadual Amorim Lima, no bairro do Butantã, em São Paulo (SP) é uma delas.

A Escola da Ponte, de Portugal, recebia os piores alunos de todas as escolas do país. Havia alunos batendo em professores quase todos os dias, quando há cerca de 30 anos o jovem professor Zé Pacheco convidou alguns colegas da instituição a repensarem aquele modelo educacional. Hoje os alunos da Ponte tiram as melhores notas no exame nacional de educação, têm autonomia, responsabilidade, sabem pesquisar e expressar-se com facilidade. O aprendizado se dá por projetos de modo que os alunos veem sentido no que fazem. Zé Pacheco explica que não devemos todos seguir esse modelo, mas criar nossas escolas com a participação da comunidade e de seus membros. A seguir, relataremos um pouco do que nos contou Zé Pacheco em um encontro que aconteceu em Belmiro Braga (MG), no primeiro feriado de novembro de 2012: “Numa ocasião recebemos sete jovens presidiários, ninguém os queria. Eles estudavam durante o dia e iam para a cadeia à noite. Nós perguntamos o que eles queriam fazer e eles ficaram impressionados com isso. Um deles havia matado uma pessoa durante um assalto. Eles queriam trazer seus pássaros para a escola, porque os policiais queriam matálos por conta da sujeira. Nós dissemos que sim e perguntamos onde os colocaríamos. Depois de conversarem entre eles, decidiram que construiriam um viveiro. Então perguntei sobre o projeto do viveiro, quantos metros de madeira seriam necessários, quantos metros quadrados de tela, de que tipo eram os pássaros e qual era seu habitat natural. Com isso, em dez dias, eles tiveram que pesquisar e aprender sobre 75 itens do currículo escolar incluindo matemática, biologia, história, geografia e português”. Zé Pacheco acrescenta que, ao final dos dez dias, os jovens apresentaram seu projeto para a escola, como todos costumam fazer. Eles foram aplaudidos e abraçados pelos alunos, eles já não eram mais presidiários...

V

Veja a tradução e o clipe da música Another brick in the wall: http://migre.me/d1v2W Visite o site do Instituto Candeia de Cidadania: www.institutocandeia.org.br Veja o vídeo sobre a Escola da Ponte no link: http://migre.me/d1vbY

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Capa

Virando o Brasil icionalismo em práticas que envolvem A educação encontra alternativas ao trad ução de linguagens midiáticas crianças, adolescentes e jovens na prod

Emília de Mattos Merlini, do Virajovem Lima Duarte (MG); Diego Teófilo, do Virajovem Belém (PA); Alessandro Muniz, do Virajovem Natal (RN); Bruno Ferreira e Rafael Stemberg, da Redação

A

comunicação não é um privilégio de poucos que estudaram Jornalismo, Publicidade ou Radialismo. A elaboração de símbolos faz parte da condição humana e se traduz na produção de mensagens em variadas linguagens. Palavras, sons e imagens são criadas livremente, de acordo com o repertório de cada indivíduo ou grupo. A educomunicação, campo conhecido e divulgado como interface entre a educação e a comunicação, estimula o exercício do direito humano à comunicação de grupos antes acostumados a apenas receberem informações. Dessa forma, permite que grupos distintos promovam o intercâmbio de linguagens,

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incorporadas ao repertório de cada um deles, graças ao seu caráter prático. Imersa em atividades educativas que envolvem a produção de mídia, a juventude passa a enxergar a vida em sociedade e os meios de comunicação de forma mais crítica e sensível, de acordo com inúmeras pesquisas já publicadas sobre as práticas educomunicativas. De acordo com o Ministério da Educação, entre 1999 e 2012 foram produzidas 95 teses sobre Educomunicação no Brasil. No continente Latino-americano, a partir de 2000, foram publicadas pesquisas em diferentes abordagens relacionadas à educação para os meios de comunicação e também sobre tecnologias digitais. Àquela época, a Universidade de São Paulo resolveu focar sua atenção. “O Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE/USP) preferiu analisar os sinais que apontavam que já está surgindo uma terceira via, um campo de conhecimento na interface entre as áreas da comunicação e da educação, ao qual denominou de educomunicação”, explica Ismar de Oliveira Soares, coordenador do NCE e da Licenciatura em Educomunicação da Escola de Comunicação e Artes da USP, uma das principais referências acadêmicas do campo, reconhecido internacionalmente.

Adolescentes da Viração participam de dinâmica de integração em dia de formação

Refletindo sobre o campo

Adolescentes de Belém produzem jornal mural em escola

Divulgação

Mariana Sebastião

Novas tecnologias favorecem a produção midiática de adolescentes e jovens

O Brasil e a América Latina sofreram, nas décadas de 1960 e 70 com as ditaduras militares, que se utilizavam da comunicação e da expansão do acesso à televisão para difundir suas ideias. Para fazer frente a isso, associações ligadas à igreja, aos movimentos camponeses e à União Nacional dos Estudantes (UNE) promoviam a comunicação popular, a alfabetização de adultos, e os grupos de leitura crítica dos meios de comunicação, buscando a transformação da sociedade e do status quo. O método Paulo Freire inspirava a maioria desses movimentos e falava da importância do diálogo e da construção do conhecimento por professores e alunos: o professor não detinha o conhecimento, precisava considerar os saberes dos alunos e todos aprendiam juntos. O argentino Mario Kaplún também tomou conhecimento desse método e, no Uruguai, onde viveu, desenvolveu o método do cassete-foro, onde gravava as opiniões de comunidades rurais em fitas K7, de modo que todas se ouvissem e todas também falassem. Ele conseguiu que as dificuldades de acesso e comunicação nessas regiões fossem rompidas, que todos pudessem participar e dar seu ponto de vista sobre as questões que os afetavam. Foi em 1987 que ele utilizou pela primeira vez o termo “Edu-comunicador” referindo-se ao profissional que atuava na relação da comunicação com a educação. Existem muitos termos para se referir a esta relação. O educomunicador Cláudio Messias, em sua pesquisa de mestrado recém finalizada, detectou 12 deles só no Brasil, mas a educomunicação é a que mais se preocupa com os ecossistemas comunicativos construídos, com o processo participativo e os fluxos de comunicação, não apenas com a produção de mídia. Ismar de Oliveira Soares também participou dos projetos de leitura crítica dos meios de comunicação e, quando da fundação do Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (NCE-ECA/USP), em 1997,

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Arquivo Viração

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Professor Ismar de Oliveira Soares investigou a relação da comunicação com a educação em 12 países da América Latina

Ismar é entrevistado por estudante do Projeto Educom.Rádio

Divulgação

investigou, junto a outros pesquisadores, a relação da comunicação com a educação em 12 países da América Latina. Eles concluíram que havia um novo campo emergente em formação, que recebeu o nome de educomunicação, ressemantizando o termo originalmente utilizado por Kaplún. A prática educomunicativa por parte da sociedade civil organizada chamou a atenção de pesquisadores do universo acadêmico. “Os primeiros estudos descreveram as práticas das ONGs. Outros se voltaram para as políticas públicas, como os projetos Educom.TV e Educom.rádio, este último junto a 455 escolas do município de São Paulo.Temos também teses voltadas para os referenciais teóricos que sustentam o conceito”, afirma o professor Ismar. Ele ainda afirma que a Viração tem auxiliado pesquisadores da área, que visitam a organização e elaboram suas teses a partir de visitas e observações das nossas práticas. “O que faz a diferença é o fato da organização adotar os paradigmas da educomunicação de uma forma explícita, promovendo a prática e refletindo sobre ela, definindo coletivamente normas de procedimento”, afirma. O Educom.Rádio, citado por Ismar, mobilizou professores, alunos e a comunidades educativa de escolas da Secretaria de Educação da Prefeitura de São Paulo para produzirem programas de rádio sob a perspectiva de construírem um ambiente favorável à cultura de paz na escola. O projeto, iniciado em 2001, foi continuado por outras escolas da Grande São Paulo e até mesmo serviu de base para projetos em escolas privadas, que têm apostado

Divulgação

Os pensadores Mario Kaplún e Paulo Freire

cada vez mais em espaços dedicados ao uso de ferramentas da comunicação nas aulas. Mas essa crescente demanda de inserir metodologias educomunicativas em trabalhos coletivos sai das fronteiras brasileiras. Nos últimos anos, a África tem desenvolvido atividades constantes com o intuito de estimular jovens a cobrarem seus direitos por meio da comunicação. Em GuinéBissau existe a Rede de Crianças e Jovens Jornalistas da Guiné-Bissau (RCJJ), criada em 22 de março de 2006, com o apoio do UNICEF, para promover um trabalho constante de Educomunicação para a defesa dos direitos das crianças e adolescentes. “Hoje, a RCJJ conta com mais de 50 integrantes fixos em Bissau, capital do país. As crianças e adolescentes se reúnem semanalmente, aos sábados ou domingos, em uma sala de uma escola pública. Semanalmente, eles têm um programa feito por eles na rádio Bombolom e participam em diferentes iniciativas de mobilização infantojuvenil para a promoção e luta pela garantia de seus direitos”, conta a educomunicadora Maria Rehder, que participou de algumas ações no País.


Desde o início da Vira, lá em 2003, a aproximação com outras organizações que atuam com as bandeiras das juventudes, direitos humanos e comunicação tem sido um dos principais motivos que ajudou a viabilizar uma atuação nacional e internacional. Em dez anos de atividades, muitos grupos, coletivos, organizações, fundações e instituições contribuíram e atuaram no processo de articulação, mobilização, e produção de conteúdos em praticamente todos os Estados do Brasil, a chamada Rede Virajovem. Essas parcerias foram e são costuradas em encontros de militância política e espaços de debate social, momentos dos quais são ocasionados a identificação de objetivos comuns entre os participantes. E um desses namoros aconteceu com a Catavento Comunicação e Educação, surgido durante o Fórum Social Mundial ocorrido em Porto Alegre (RS), em 2003. Estar em rede, além de potencializar uma Rones Maciel, que é da ONG Catavento causa em comum, Comunicação e Educação, de Fortaleza, também permite que colabora com a Viração desde o seu início determinada ação, inicialmente com foco local, ganhe maior dimensão e cause a expansão da atividade para outros lugares. “O nosso trabalho acontece porque acreditamos que o aprendizado se faz em conjunto, em rede. E isso faz com que possamos aprender no coletivo e aplicar localmente, mesmo com certas limitações, mas que podem ser superadas se contarmos com as parcerias realizadas”, diz Rones Maciel, educomunicador da Catavento. Em Curitiba (PR), a criação do conselho aconteceu com um grupo de jovens independentes, em 2004, que depois buscou o apoio da Artemísia Negócios Sociais. A Ciranda – Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência, em Curitiba (PR), é quem hoje toca o barco na cidade. Ou melhor, está na parada desde 2005, quando foi procurada para colaborar com a mobilização do Conselho. Segundo Vinícius Gallon, educomunicador da Ciranda, o fato da experiência do trabalho em rede colabora na expansão do olhar dos envolvidos e auxilia na criação de um senso de responsabilidade coletivo. “Dessa forma conseguimos otimizar esforços, potencializar ações,

O jornalista Vinícius Gallon é um dos mediadores do conselho editorial jovem de Curitiba, um dos mais antigos da Vira

fortalecer os atores envolvidos, dar visibilidade a diversas causas e, assim, qualificar nossas informações e experiências”, afirma. Para a produção da Revista Viração, por exemplo, o processo é totalmente colaborativo, das sugestões de pauta à edição final. Para isso, mensalmente é agendada uma data para uma reunião virtual, da qual ao menos um integrante de cada organização ou Estado participa. “Desde os sotaques às sugestões de pautas a gente consegue aprender um pouco mais sobre o nosso próprio País, cultura, e até mesmo ter conhecimento de problemas que, às vezes, parecem ser tão únicos pra gente no nosso espaço de moradia, mas que ao compartilhar com a galera num simples email, a gente percebe o quanto um determinado problema atinge a todos”, comenta a educomunicadora Gizele Martins, que atua no conjunto de favelas da Maré com o jornal O Cidadão, no Rio de Janeiro (RJ). Coordenadora-geral de Relações Institucionais da Secretaria Nacional de Juventude, Fernanda Papa sempre está em contato com diferentes redes de juventudes e destaca a importância desses movimentos incidirem politicamente. Ela diz que apesar das organizações integrantes de uma rede serem de diferentes realidades, a possibilidade de atuarem juntas permite o fortalecimento de ações. Como exemplo, Fernanda cita a Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Comunicadores, a Renajoc, movimento que possui objetivos comuns (direitos da juventude, direito humano à comunicação, democratização da comunicação, participação pela comunicação etc.) com a conexão de realidades muito distintas dentro do Brasil. O grupo foi criado para acompanhar e incidir politicamente no processo de democratização da comunicação no Brasil. Com Arquivo pessoal

Entrelaçando ações

Arquivo pessoal

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Arquivo pessoal

Capa parte da estrutura de comunicação, como telefone, computador e internet, para o adolescente ou jovem se conectar com os demais conselhos. Essas organizações, por sua vez, poderiam buscar por editais de apoio na área de comunicação e mobilização, de forma a fortalecer o grupo e o próprio espaço. “Seria muito legal se todas as organizações conseguissem apoios, parcerias ou patrocínios que viabilizassem essas atividades, inclusive, pagando um viramidiador para encaminhar as ações. Enquanto encararmos o trabalho social como uma ajuda, um favor, uma caridade, as instâncias ‘maiores’ vão nos ver da mesma maneira, desvalorizando o que fazemos”, acredita Vinicius. Outro ponto a ser pensando no momento da criação de uma rede, é como serão viabilizados os encontros presenciais, importantes para costurar e pactuar decisões de maior impacto. Na Rede Virajovem, Vinícius destaca justamente o fato de esse grupo possibilitar encontros presenciais. “São raras as vezes em que se consegue reunir gente do País todo e garantir harmonia, paz e união, sem que haja favorecimentos ou segregação”. “Não consigo imaginar o nosso mundo, o nosso campo das políticas públicas de Desafios que fortalecem juventude, por exemplo, sem redes e Como em qualquer espaço coletivo, coletivos atuantes, que se relacionam com desafios surgem cotidianamente. E essas outros tantos, e seguem tecendo a cara da redes educomunicativas não fogem à regra. nossa democracia atual. Eles agregam muito A dificuldade para conseguir recursos a este processo de consolidação da financeiros para auxiliar nos gastos de participação como pilar importante para a transporte e alimentação dos integrantes democracia, por exemplo. Eles permitem o dos grupos, por exemplo, é sempre citado A jornalista Gizele Martins, do jornal colocar-se no lugar do outro com maior nos momentos de “DR” (discussão de O Cidadão, do Rio de Janeiro, atua com despreendimento e compreensão, isso é genial comunicação comunitária no Complexo da relação) da rede. e necessário”, finaliza Fernanda Papa. Maré e colabora com a Vira desde 2005 Para Fernanda Papa isso não deve ser encarado de forma a enfraquecer o movimento, justamente por ser mais um dos pontos vantajosos para se estar em rede, pois conectados é possível buscar alternativas à situação.“Vejo que as redes e coletivos que atuam nacionalmente, sobretudo de jovens que ainda não têm recursos próprios, garantidos por situação laboral estável e que permita um ir e vir com maior autonomia, têm o desafio de transpor limites materiais para se manter conectada e producente de forma coletiva”, ressalta. Uma forma de amenizar a questão da grana para quem deseja participar, de forma independente da Rede Virajovem, é mapear alguma organização que possa apoiar essa participação, oferecendo o espaço da instituição e alguma integrantes espalhados por todo o País, eles promovem debates e mobilizam ações, Fernanda Papa, parceira da Vira de muitas como o “Dia C – caminhadas, fala em encontro de mulheres Dia da Juventude Comunicativa", que no ano passado fez barulho em mais de 15 cidades com passeatas e intervenções em escolas e praças, em 17 de outubro. “A possibilidade de estar em espaços nacionais com uma diversidade de visões e experiências que fazem destes encontros muito ricos em vivências, trocas, inspiração para seguir nas nossas lutas”, diz Fernanda, que é parceira da Vira de muitas caminhadas.

Adolescentes da Viração participam de dinâmica de integração em dia de formação

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O blogueiro Eduardo da Amazônia, faz educomunicação na internet, sensibilizando jovens para temáticas relevantes

Presencial e virtualmente

O educador popular Augusto Ramos acredita que a comunicação fortalece processos educativos

Arquivo pessoal

Educom na Escola

l

O trabalho educomunicativo desenvolvido na zona rural de Lima Duarte (MG) também é um exemplo de que a educomunicação pode ser aplicada em diversos contextos. Jovens da Escola Estadual Tiago Delgado produziram mídia, em 2011 e 2012, durante as aulas de português, com a facilitação de Emilia Merlini (mediadora do conselho da Vira) e das professoras de português Tanuse de Paula e Isabel Evangelista. A experiência foi chamada de Ousadia Jovem inspirada na Viração, que adoraram conhecer! Os jovens produziram dois curtas (sobre DST e a proibição dos bailes funks no município); fizeram dois programas de rádio (sobre DST e profissões); além de um jornal com temas diversos. Os 17 participantes e os educadores da escola consideram que eles se uniram mais, passaram a se ouvir, se entender e se comunicar melhor. Hoje, os adolescentes se preocupam mais com a grafia das palavras, as pontuações, a organização dos textos e desenvolveram mais senso crítico com a mídia. A autoestima aumentou e acreditam que aprenderam mais do que na aula convencional. “Minha vida mudou muito”, conta Maria Alice Sales, de 17 anos, “percebi que a nossa capacidade está dentro de nós, basta a gente acreditar e correr atrás. E, mais que tudo, fez eu perder a timidez”. Para Pablo Fonseca, de 18 anos, o projeto educomunicativo “deu uma autoestima que eu já havia perdido, me ajudou a superar problemas e a ver as pessoas com outros olhos”. Ele finaliza dizendo que sente saudades. Em Natal, o Grupo de Comunicadores Adolescentes e Jovens da Vila de Ponta Negra (Vir-a-Vila) é um projeto de extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que desde 2012 atua na Escola Estadual José Fernandes Machado, na capital potiguar. Em parceria com os professores de artes e filosofia, atua em sala de aula, refletindo sobre comunicação, identidades, as representações sociais feitas pela mídia, sobre os adolescentes e jovens e a comunidade, além da relação com o conhecimento, entre tantas outras coisas, fazendo uma leitura crítica da mídia. Por meio da Educomunicação, os adolescentes e jovens participantes do projeto passam a apropriar-se das várias mídias e também a refletir sobre seu papel nos espaços em que vivem, reforçando as práticas de cidadania. Podem assim tornar-se sujeitos de transformação de suas realidades. Mas, antes de tudo, é preciso valorizar a própria voz, a identidade, a autoestima, na construção da autonomia de cada um. Arquivo pessoa

As práticas educomunicativas vêm promovendo transformações sociais significativas, sensibilizando crianças, adolescentes, jovens e adultos não apenas para a apropriação das ferramentas da comunicação, mas principalmente para um novo modelo de vida, em que o exercício da cidadania e da solidariedade marcam as relações interpessoais. A partir de ações individuais e coletivas, adolescentes, jovens e adultos utilizam a prática como importante mecanismo de democratização da comunicação. Augusto Ramos, de 30 anos, é educador popular e já atuou em diversos espaços institucionais, governamentais e não governamentais, mas iniciou sua militância como muitos outros jovens a partir da participação em grupos juvenis na comunidade de seu bairro e também em ONGs. “Percebi que a comunicação oportuniza um rico processo de educação para o desenvolvimento social a partir das comunidades e seus agentes juvenis. Em todo caso, a educomunicação colaborou para que eu a utilizasse como uma importante aliada estratégica para o enfretamento à cultura da não participação.” Eduardo Soares, de 28 anos, educomunicador e membro da Rede Jovens+Pará, mais conhecido como Eduardo da Amazônia, utiliza sua página na internet como uma ferramenta de sensibilização, sempre abordando temas relevantes para a sociedade e a educomunicação é sua grande aliada nesse processo. “Escrevi um texto sobre Aids e inquietações juvenis no contexto do descaso da política de Aids no Brasil. A proposta era provocar os jovens da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo e Convivendo com HIV e Aids a somar com o movimento social no enfrentamento a esta questão”, exemplifica Eduardo que percebeu com a educomunicação que as ferramentas virtuais são importantes estratégias de troca de conhecimento.

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equipe da em caricaturas feitas por Novaes

A galera que assume a bronca...

Juliana

Cris

Edu

Lilian

Paulo

Os que piram administrando a grana e o espaco... ,

v

Sonia

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Douglas

Norma


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Turma que educomunica Brasil afora... Eric

Bruno

Evelyn

Elis

Rafa

Guti

Ingrid

Manu

O responsável por essa brincadeira...

Novaes Vania Revista Viração • Ano 11 • Edição 94 25


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Por um legado positivo a que governo e sociedade se utilizem Rede de Jovens, pelo esporte seguro, cobr s como promoção do direito ao esporte do legado dos megaeventos esportivo

Webert da Cruz Elias, do Virajovem Brasília (DF)* preocupante é a remoção de moradores e comunidades tradicionais”, afirma Daniel Macêdo, integrante da Rejupe no Ceará. Situações de vulnerabilidade e violação de direitos acontecem cotidianamente nas grandes capitais que vão sediar os jogos da Copa. Às margens do Estádio do Castelão (CE), por exemplo, uma das primeiras arenas da Copa a ser inaugurada, jovens se expõem a situações de risco por alimento ou qualquer trocado. Frente a essa realidade, os participantes da Rejupe buscam dialogar com o poder público para incidir na tomada de decisões que garantam a implementação de estratégias de proteção integral às crianças e adolescentes no contexto desses megaeventos. Entre outras questões, a Rejupe tenta pautar a promoção que parte do legado social dos megaeventos esteja na promoção da prática do esporte, seguro e inclusivo, para todas as crianças e adolescentes do Brasil.

Integrantes da Rejupe de Minas Gerais organizaram Campeonato pelo Esporte Seguro e Inclusivo para incentivar que professores e estudantes participem de mobilizações

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Arquivo Rejupe

E

m junho deste ano, começa no Brasil a maratona dos megaeventos esportivos com a Copa das Confederações. Ela é apenas o início dos eventos que vêm na sequência e terão o nosso País como sede até 2016: Copa do Mundo (2014) e Olimpíadas e Paralímpiadas (2016). A reportagem de capa da Viração de janeiro abordou a questão do legado que os investimentos na construção de estádios e reorganização de algumas cidades vai deixar para o País. A Rede de Adolescentes e Jovens pelo Direito ao Esporte Seguro e Inclusivo (Rejupe) também está nessa, promovendo a discussão entre adolescentes e jovens de diversas Regiões brasileiras. A ideia é estimular a juventude a incidir diretamente no planejamento e construção de um legado social positivo para os megaeventos esportivos que o Brasil sediará a partir deste ano. Atualmente, a rede atua nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, fortalecendo e ampliando esforços com adolescentes, jovens, grupos e organizações que também se dedicam para que o Brasil faça diferença nesta década dos megaeventos esportivos. A mobilização juvenil sobre a situação do esporte neste cenário é uma das principais articulações da rede. Com o debate preexistente, a juventude ganha propriedade e força na voz pela garantia de seus direitos. Com a chegada da Copa das Confederações em junho deste ano, a Rejupe pretende aprimorar o diálogo entre sociedade civil e o governo sobre os riscos e oportunidades que os eventos podem proporcionar. “O legado positivo estará presente assim como o negativo. Há o risco de recebermos pessoas interessadas em turismo sexual e exploração infantil. Outra questão


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Webert Cruz

Carolina Li ma

Rejupe dialoga com poder público e sociedade civil para que a garantia do esporte seguro e inclusivo faça parte do legado dos megaeventos

Em cenário de Copa e Olimpíadas, uma parcela da sociedade brasileira também enxerga pontos positivos. O aumento das oportunidades de emprego, da economia, do turismo e maiores investimentos em mobilidade urbana e infraestrutura são alguns dos avanços que o Brasil poderá experimentar. No entanto, esses ganhos implicam em investimento público, uma verba que deve ser destinada a garantir melhorias efetivas para a população.

Arquivo Rejupe

Campanha Ao longo de 2012, a Rejupe participou ativamente de reuniões junto a gestores públicos dos Estados e municípios que irão receber os grandes eventos esportivos. Os adolescentes estão cientes da relevância do investimento realizado, dos gastos públicos em grandes obras e estádios. Em janeiro de 2013, a Rejupe lançou a Campanha Onde Eu Jogo com o intuito de dar visibilidade e socializar informações sobre a realidade dos locais destinados ao esporte no Brasil, seja na escola, no bairro, ou em associações esportivas. “Os espaços destinados à prática esportiva no Ceará, na maioria dos casos, são inadequados. Assim, todo espaço livre se torna palco para esporte, seja adequado ou não. A questão que fica: Um orçamento tão alto para a reforma do Castelão e um orçamento praticamente inexistente para o desenvolvimento do lazer e cidadania”, afirma Daniel Macêdo. V

Galera da Rejupe do Amazonas apresenta seu plano de ação em reunião do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

Para participar da Campanha, mande as fotos ou vídeos do lugar onde você pratica esporte por inbox na página da Rejupe no Facebook ou pelo endereço de e-mail rejupe@rejupe.org.br. Facebook: http://www.facebook.com/rejupe http://rejupe.org.br/

*Um dos Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Revista Viração • Ano 11 • Edição 94 27


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Entre MARCHAS, PROTESTOS e CONQUISTAS to nacional da Mulher. Graças ao Movimen No dia 8 de março celebra-se o Dia Inter políticas e sociais ao longo da história Feminista, muitas foram as conquistas

Maria de Fátima Ribeiro e Silmara Aparecida dos Santos, do Virajovem Lavras (MG); José Carlos Santos Lima e Joelma Oliveira, do Virajovem João Pessoa (PB)*

28 Revista Viração • Ano 11 • Edição 94

Fotos: Arquivo Cunhã

E

ntre lutas, revoluções, marchas, manifestações, lá está ela, a mulher. Sim! É nesse ambiente que mulheres vêm desde o século 13, lutando e conquistando direitos. Marchas em defesa do desejo de igualdade, revoluções e manifestações para frequentar lugares que antes não lhes era permitido e até mesmo para terem o direito de trabalhar e votar. Direitos conquistados, mas sem qualquer facilidade. Muitos foram os anos e diversas as mulheres que entraram nesse movimento a favor de uma equidade entre homens e mulheres. Contudo, foi nesse “reboliço” que surgiram vários movimentos que continuam lutando para que cada vez mais mulheres tenham seus direitos conquistados e garantidos. Uma das lutas que marcaram a conquista desses direitos foi um marco na história do movimento feminista, denominado a Queima de Sutiã, um protesto que reuniu cerca de 400 mulheres, em 1968, protestando contra a realização do concurso de Miss América nos Estados Unidos. As mulheres eram contra o padrão de beleza e à exploração da imagem da mulher, além das situações de opressão. Na verdade, não houve uma queima de sutiãs efetivamente. Maquiagens, cílios postiços, saltos altos e outros artigos que simbolizam o estereótipo da beleza foram reunidos em sinal de protesto. A ideia inicial era queimá-los, mas de acordo com dados históricos, as manifestantes não puderam realizar a queima por não estarem em um espaço público. Protestos como esse, no entanto, não se restringiram à década de 1960. Pelo contrário, evoluíram e inspiraram a ocupação de outros

Rede de domésticas realiza reunião

espaços. Nos dias atuais, o movimento feminista, que durante anos veio ganhando força e se modificou, fez com que mudassem as posturas políticas e mesmo afetivas das e nas mulheres. E neste início de século mais direitos foram conquistados. No Brasil, a Lei Maria da Penha é um deles, que defende mulheres contra as violências praticadas por seus parceiros. O próprio dia 8 de março, data em que se celebra o Dia Internacional da Mulher.

Dia Internacional da Mulher Em 8 de março de 1917, operárias grevistas russas da indústria têxtil saem às ruas para protestar contra a fome, o czar Nicolau II e à adesão do país à Primeira Guerra Mundial. No entanto, outros países do mundo celebram esse dia em diferentes momentos, de acordo com episódios protagonizados por mulheres em seus territórios.


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Além das relações de gênero O movimento feminista continua ativo. Um exemplo contemporâneo dessa atuação pode ser verificado no mundo todo e também no território nacional. Em João Pessoa, por exemplo, desde 1990, a ONG Cunhã Coletivo Feminista, atua na defesa dos direitos da mulher e fortalecimento de grupos em âmbito municipal, estadual e nacional, lutando pela justiça social, democracia e igualdade de gênero. A principal motivação da Cunhã é contribuir com a mudança nas relações de gênero, elaborando propostas de intervenção nas políticas públicas voltadas para as mulheres. A instituição também colabora na formação de grupos de mulheres populares urbanas e rurais, e de profissionais e instituições envolvidas em trabalhos sobre a questão da mulher. De acordo com Cristina Lima, assessora de comunicação do coletivo, nesses 23 anos de trabalho da Cunhã, um dos maiores desafios tem sido o enfrentamento do machismo pelas mulheres e a inserção nos espaços públicos de garantia de direitos. Outro aspecto desafiador para a garantia dos direitos da mulher e de gênero é a efetivação das políticas públicas para as mulheres, em especial para as mulheres negras que sofrem dupla discriminação. “Os homens ainda enxergam a mulher como um patrimônio, que não tem direito sobre o seu próprio corpo”, explica Cristina Lima. Genericamente, um avanço significativo tem sido o aumento do número de denúncias das violações sofridas. Segundo Soraya Jordão,coordenadora do movimento Cunhã,

as mulheres de hoje denunciam mais os casos de violência e reconhecem que têm onde buscar auxílio para esses casos. Por outro lado, a expressão do machismo, com essas possibilidades, acaba sendo ainda mais violenta. Além disso, as mulheres conseguem ter outra postura dentro de suas próprias casas, na criação dos filhos e também estão ocupando mais cargos e espaços públicos. Na sociedade civil, o Movimento Feminista está bem articulado e consegue mobilizar várias outras redes, como as mulheres negras, domésticas e mulheres da zona rural.

Integrante do Movimento Cunhã fala em evento feminista em João Pessoa

Feministas realizam passeata no interior da Paraíba


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No Escurinho

TERROR NA ADOLESCÊNCIA Sérgio Rizzo, crítico de cinema*

A

Princesinha (1995), baseado em romance de Frances Hodgson Burnett (a mesma autora de O Jardim Secreto), Ponte para Terabítia (2007), Sedução (2009) e a série Diário de um Banana (2010/2012) estão entre os diversos exemplos de filmes que tratam, com drama ou humor, do bullying escolar. Nenhum deles, contudo, foi capaz de uma abordagem tão original, de meninos, de meninas e dos tormentos do bullying quanto a da produção sueca Deixa Ela Entrar (2008). Muita gente torceu o nariz para o longa por preconceito cinematográfico, ao descobrir que é um filme de terror e julgar que esse seria um gênero "menor". Bobagem. Carrie, a Estranha (1976), por exemplo, tornou-se um clássico do terror ao contar a história – inspirada em romance de Stephen King – de uma adolescente (Sissy Spacek) que sofre abusos em casa e na escola. Sua vingança ocorre em uma cena longa e sangrenta, mas catártica, para ela e para o espectador. Embora Deixa Ela Entrar seja um drama com muito sangue, esse elemento está plenamente justificado pela trama. Não há gratuidade ou espetacularização da violência. Mas atenção: não confunda com a versão norte-americana do mesmo romance, Deixe-me Entrar (2010). Aqui, o diretor Tomas Alfredson (que depois faria O Espião que Sabia Demais) e o roteirista John Ajvide Lindqvist (que adaptou o romance homônimo de sua autoria, já publicado no Brasil) investem no lirismo das situações, sempre debaixo de muito frio, com uso fotogênico da neve.

* www.sergiorizzo.com.br

30 Revista Viração • Ano 11 • Edição 94

O filme também é muito feliz em seu tratamento poético da solidão, ao contar a história de amor e amizade entre um frágil menino de 12 anos, perseguido por colegas de escola, e uma nova vizinha da mesma idade, um tanto misteriosa. A relação entre os dois pode lembrar inicialmente a de outros filmes, mas se revela, com o andamento da trama, muito original. E verdadeira, mesmo com todos os ingredientes de fantasia. V

Deixa Ela Entrar, filme de terror escocês, aborda o bullying e o amor na pré-adolescência


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Que Figura!

Música que denuncia o racismo

Nina Simone cantou o preconceito e as injustiças sociais de sua época em diversos blues de sua autoria

T

alento, fibra, raça e luta são características que compõem a atemporal cantora estadunidense Nina Simone. Com carisma e verdade, expressou com sua música as adversidades que viveu, conquistando uma enorme quantidade de admiradores pelo mundo. Eunice Waymon é o seu verdadeiro nome. Nascida na Carolina do Norte em 21 de fevereiro de 1933, criou-se em família religiosa. Seu nome artístico foi inspirado na atriz francesa Simone Signoret, além da palavra niña, que em espanhol quer dizer “criança”. A criação de um nome artístico também servira para omitir suas apresentações em cabarés, que a família conservadora não aprovaria. Desde cedo, Eunice lutou contra o racismo. Logo aos 11 anos negou-se a se apresentar sem que os pais estivessem na parte da frente da plateia, contrapondo-se à imposição da época, em que negros sentavam-se sempre ao fundo. Essa experiência de segregação de seus pais foi o ponto de partida do compromisso de sua luta pelos direitos civis. Quando jovem, Nina Simone contou com

apoio financeiro da comunidade em que morava. Em 1950, estudou piano clássico, em Nova York. Mais tarde, sua família mudou-se para a Filadélfia, onde não foi aceita no conservatório de música clássica Curtis Institute of Music, por ser negra. Desde então, a cantora começou a ser conhecida e, após a apresentação em vários clubes da Filadélfia, conquistou o mundo. Muitas de suas músicas imortalizaram-se no movimento negro. Mississippi Goddam levanta reflexões sobre o bombardeio em uma igreja no Alabama onde mulheres negras morreram friamente e também sobre o espancamento do ciclista negro Medgar Evers, que foi morto por racistas. O ativismo sempre esteve presente em suas letras. Outro exemplo é Four Women (Quatro Mulheres), música que retrata a vida de quatro mulheres distintas que sofrem. Nina deu voz a essas mulheres e à dor de cada uma delas. Ain't Got No / I Got Life (Não tenho nada/ Tenho Vida) também uma letra significativa. Nela, a cantora afirma que, apesar de não ter nada, possui tudo: a si mesmo e a vida. E em I Want a Little Sugar In My Bowl (Um pouco de açúcar na minha tigela), Nina imagina uma vida melhor, mais doce, sem dissabores. Leal à luta contra o racismo, Nina Simone fez-se militante com música. Suas temáticas estão totalmente enraizadas nas tradições afroamericanas. Um repertório tão rico que compreende desde canções melódicas, blues, cantos espirituais até folclore africano e canções de protesto por um mundo mais justo. Nina foi uma artista difícil de classificar. Como já disseram sobre ela: “Foi um espírito independente e temperamental, único e inigualável”. Nina Simone morreu dormindo, em 21 de abril de 2003, aos 70 anos, em um balneário próximo a Marselha, no sul da França.

V

"Toda a minha vida desejei exprimir meu sentimento de prisioneira, esse silêncio atroz que transforma todos os negros em encarcerados."

Nina Simone *virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Revista Viração • Ano 11 • Edição 94 31


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Sexo e Saúde

P

esquisas mostram que jovens consomem álcool em quantidade e com frequência maior do que qualquer outra droga. O álcool é considerado uma droga lícita, permitido para pessoas com mais de 18 anos. Há diferentes níveis de consumo, desde os que bebem apenas ocasionalmente, até a pessoa que não consegue mais ficar sem o álcool nenhum dia. Contudo, seu uso abusivo leva a problemas sérios, com consequências físicas, psicológicas e sociais. Pensar na relação do uso de álcool com a atividade sexual, em especial do adolescente e do jovem, implica em considerar esses aspectos, e as especificidades do uso para cada pessoa, conforme trataremos nas questões a seguir. V

Jaqueline Magalhães e José Carlos Bimbatte, colaboradores da Vira em São Paulo (SP)*, Elisangela Nunes Cordeiro e Bruno Ferreira, da Redação Que tipo de consequência o uso constante de álcool pode ter na vida sexual? Em doses pequenas, e não frequentes, é uma substância que tem pouco ou nenhum efeito sobre a atividade sexual do jovem. Mas, com uso frequente e doses elevadas, as bebidas alcoólicas podem causar problemas como dificuldade de ereção, ejaculação precoce e redução do desejo sexual. É importante lembrar também que os efeitos variam muito de uma pessoa para outra, ou seja, é uma "roleta russa", onde não se sabe com antecedência quais serão as consequências do uso constante do álcool na vida sexual.

Se uma menina ou menino embriagado, no contexto de uma festa, faz sexo com outra pessoa, isso pode ser considerado violência sexual? Tanto meninas, quanto meninos podem sofrer violência sexual, facilitada pelo uso de álcool. Mas cada situação deve ser avaliada com cuidado, para que se compreenda o contexto em que se deu: a bebida foi utilizada como artifício para sedução? A menina ou menino, embriagados, disseram não no momento do ato sexual e não foram respeitados? Ou a relação aconteceu por vontade de ambos? Perguntas como estas, entre outras, devem ser respondidas antes de se poder concluir se houve ou não violência sexual.

Natália Forcat

O uso de álcool pode dificultar a sensação de prazer e chegar ao orgasmo? Sim. Tanto para homens, quanto para mulheres, o uso abusivo de álcool pode reduzir a sensação de prazer e mesmo o desejo sexual. Existe algum dado que indique que as pessoas que bebem antes de transar estão mais vulneráveis à pratica de sexo sem segurança? Muitos jovens fazem uso de bebidas alcoólicas para diminuir a timidez, para se sentirem mais sociáveis, para conhecer novas pessoas com mais facilidade. Da mesma forma que o álcool pode produzir esses efeitos, ele também diminui a capacidade crítica, o nível de consciência da pessoa, ou seja, pode-se correr maiores riscos de transar sem a proteção da camisinha, por exemplo.

Mande suas dúvidas sobre Sexo e Saúde, que a galera da Vira vai buscar as respostas para você! O e-mail é redacao@viracao.org

*Psicólogos e educadores da ONG BemVindo (www.bemvindo.org.br)

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Rango da terrinha

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Delicia da Bahia

a, Um dos pratos mais conhecidos da Bahi da o Vatapá representa uma das riquezas s mesa e da cultura brasileira

Emilae Sena, Izabela Paixão e Evelyn Karine, do Virajovem Salvador (BA)*

O

vatapá é um prato tipicamente baiano, criado pelos africanos escravizados no século 16. Ele foi inventado para dar “sustância” aos escravos, que não tinham uma boa alimentação. O prato típico, presente em toda boa cozinha baiana, é feito com óleo de dendê. Pão ou farinha de trigo também são utilizados. Outros Estados também incorporaram essa delícia ao seus cardápios, sofrendo algumas adaptações no seu modo de preparo. O vatapá é um acompanhamento fundamental do patrimônio imaterial da Bahia, do “acarajé” e da culinária baiana. Laiana Souza

Ingredientes 10 pães dormidos; 150g de castanhas; 150g de amendoim torrado e moído; 200g de camarão seco moído; 300ml de leite de coco; 200ml de óleo de dendê; 4 cebolas raladas ou batidas no liquidificador; 1 colher de chá de gengibre ralado.

CUPOM DE ASSINATURA anual e renovação 12 edições ++ newsletter É MUITO FÁCIL FAZER OU RENOVAR A ASSINATURA DA SUA REVISTA VIRAÇÃO Basta preencher e nos enviar o cupom que está no verso junto com o comprovante (ou cópia) do seu depósito. Para o pagamento, escolha uma das seguintes opções: 1. CHEQUE NOMINAL e cruzado em favor da VIRAÇÃO.

Modo de preparo Divida os pães ao meio e os coloque numa panela. Acrescente dois litros de água e deixe de molho durante 80 minutos. Logo em seguida, tire toda a água espremendo bem o pão e repita o processo. Coloque 100ml de leite de coco no liquidificador com o pão até a massa ficar homogênia . Numa panela coloque a massa, a castanha, o camarão, o amendoim, as cebolas e o gengibre. E com uma colher de pau mecha bem. Em seguida, leve ao fogo médio até que a massa engrosse e acrescente o leite de coco. Quando começar a fervura, vá adicionando o dendê aos poucos. Faça a correção do sal e quando a massa começar soltar do fundo da panela, estará pronta. O vatapá é um ótimo acompanhamento para moquecas de peixe com arroz branco. Aproveite e delicie-se! V

Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

2. DEPÓSITO INSTANTÂNEO numa das agências do seguinte banco, em qualquer parte do Brasil: • BANCO DO BRASIL – Agência 2947-5 Conta corrente 14712-5 em nome da VIRAÇÃO OBS: O comprovante do depósito também pode ser enviado por fax. 3. VALE POSTAL em favor da VIRAÇÃO, pagável na Agência Augusta – São Paulo (SP), código 72300078 4. BOLETO BANCÁRIO (R$2,95 de taxa bancária)


Parada Social

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Favorecendo o recomeço FONE(COM.) E-MAIL

EST. CIVIL BAIRRO SEXO

Assinatura nova Renovação De colaboração Exterior /

PREÇO DA ASSINATURA

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Projeto social em Belém defende direitos de jovens egressos do sistema socioeducativo

DATA DE NASC.

A

dos adolescentes e jovens na Região pesar de estar entre as principais Metropolitana de Belém. economias do mundo, o Brasil continua Ao todo, o projeto trabalhará com 60 sendo um País de grandes desigualdades adolescentes e jovens egressos do sistema sociais. Problemas antigos ainda fazem parte educativo e seus familiares. Para isso, busca da vida dos brasileiros. Entre eles, a violência, contar com o apoio de organizações da sobretudo envolvendo adolescentes e jovens, ganha destaque nas manchetes de jornais e nas sociedade civil que atuam na área da infância e da juventude. Ao longo de dois anos, serão estatísticas oficiais. realizadas rodas de conversa, debates e “Hoje, infelizmente, o que vemos é a oficinas voltadas a diversos temas como maioria das unidades socioeducativas do País letramento, inclusão digital, orientação para reproduzirem uma cultura de cárcere e o mundo do trabalho e atividades artísticas. violação, em flagrante desrespeito ao Estatuto O objetivo é permitir aos envolvidos a da Criança e do Adolescente (ECA) e à Lei reflexão sobre novos caminhos e 12.594/2012, que instituiu o Sistema Nacional possibilidades. V de Atendimento Socioeducativo”, afirma Max Costa, coordenador do Programa de Promoção e Defesa dos Direitos de Crianças e Jovens do projeto se envolvem em atividades Adolescentes (Pró-DCA), do Instituto que possibilitam a Universidade Popular (Unipop). Segundo pesquisa realizada pela Unipop reflexão sobre o futuro (2010/2011), 61% dos jovens que passam pelas unidades de internação voltam a praticar atos infracionais. Além da falta de eficiência do sistema socioeducativo, os dados revelam a insuficiência de políticas públicas que combatam as causas da violência. Diante desta realidade, a Unipop começou em fevereiro deste ano, com o financiamento da União Europeia, o Projeto Apoio à Reintegração de Adolescentes e Jovens Egressos do Sistema Socioeducativo, que busca contribuir para o fortalecimento das redes de serviços voltadas para a promoção da cidadania

Divulgação

NOME ENDEREÇO CEP CIDADE REVISTA VIRAÇÃO Rua Augusta, 1239 – Cj. 11 Consolação – 01305-100 São Paulo (SP) Tel./Fax: (11) 3237-4091 / 3567-8687

Cheque nominal Depósito bancário no banco Vale Postal Boleto Bancário Assinatura nova Renovação De colaboração Exterior

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em

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Breno Mendes, Diego Teófilo, Jorge Anderson e Leonardo Dias do Virajovem Belém (PA)*

*Virajovem presente em 20 Estados do País e no Distrito Federal


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